Bactérias atacam a soja atacam a sojaLéo Ferreira

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Bactérias
Bactérias
atacam a soja
Léo Ferreira
Sintomas de Crestamento Bacteriano,
doença comum em folhas de soja e que
pode causar consideráveis prejuízos
D
oenças causadas por bactérias são
comuns em todos os lugares onde
se cultiva soja. As perdas decorrentes da sua ação não costumam ser altas, geralmente agregadas aos 20% de perdas causadas
por um grupo de doenças, mas se recomenda
que não se perca de vista a possibilidade de problemas na lavoura.
CRESTAMENTO BACTERIANO
O Crestamento Bacteriano (Pseudomonas
savastanoi pv glycinea ) é uma doença comum
em folhas, mas pode ser encontrada atacando
outros órgãos da planta, como hastes, pecíolos e
vagens. Os sintomas nas folhas surgem como
pequenas manchas, de aparência translúcida
(anasarca), circundadas por um halo de coloração amarelada. Essas manchas, mais tarde, necrosam, com contornos aproximadamente angulares, e podem aglutinar-se, formando extensas áreas de tecido morto, dispostas entre as nervuras secundárias. Freqüentemente, apresentam
halos amarelados circundando as áreas necrosadas. A maior ou menor largura do halo está
diretamente ligada à temperatura ambiente; largo sob temperaturas amenas ou estreito ou quase inexistente sob temperaturas mais altas.
A observação das manchas pela face inferior da folha (face abaxial) permite fazer deter12
Cultivar
minações geralmente exatas da presença desta
bactéria; as manchas são de coloração quase
negra e apresentam, nas horas úmidas da manhã, uma película brilhante que é formada pelo
exudato da bactéria. Infecções severas, nos estádios jovens da planta, conferem aparência
enrugada às folhas, como se houvessem sido
infectadas por vírus. A diferença é que as lesões são aquosas, semi-transparentes e apresentam exudato (superfície brilhante) na face inferior da folha.
A bactéria penetra na planta pelos estômatos ou através de ferimentos. A infecção primária pode ter origem em duas fontes; sementes
infectadas e restos da cultura da soja anterior.
No primeiro caso, as sementes não apresentam
sintomas aparentes da presença da bactéria; os
cotilédones provenientes dessas sementes podem apresentar lesões necrosadas, a partir das
bordas, logo após a emergência. A infecção evolui através das folhas unifolioladas para as trifolioladas. No segundo caso, os restos de cultura servem como fonte inicial do inóculo, que
pode passar para as folhas unifolioladas (primárias) e destas para as demais ou diretamente para as primeiras trifolioladas; neste caso, os
cotilédones apresentam-se sadios.
Durante o ciclo da cultura podem ocorrer
infecções e disseminações secundárias, que são
favorecidas pela ocorrência de alta umidade,
principalmente chuvas em dias ventosos e temperaturas médias amenas (20o a 26oC). Dias
secos permitem que finas escamas dos exudatos da bactéria se disseminem dentro da lavoura, das plantas infectadas para as sadias. Mas
para haver infecção o organismo necessita de
um filme de água na superfície da folha, o que
ocorre em manhãs orvalhadas ou durante períodos chuvosos.
Os métodos de controle mais indicados são
o uso de cultivares resistentes, um bom preparo do solo, ou seja, aração profunda para cobrir os restos da cultura anterior logo após a
colheita e o uso de semente proveniente de lavoura indene. Com base na série diferenciadora (Acme, Chippewa, Flambeau, Harosoy, Lindarin, Merit e Norchief), nos Estados Unidos,
foram descritas oito raças fisiológicas (1 a 8);
no Canadá foi descrita a raça 9 ; e no Brasil,
foram descritas oito raças; cinco similares às
raças 2, 3, 4, 6 e 7 descritas nos Estados Unidos e três raças novas (10,11 e 12). Raças adicionais, mas não numeradas, foram descritas
na Colômbia.
A herança da resistência foi estudada, indicando que a resistência à raça 1 da bactéria é
devida a um gene dominante das cultivares
Harosoy e Norchief e na linhagem PI 132207,
enquanto a resistência à raça 2 aparentemente
envolvia mais do que um gene. No Brasil, foi
determinado que a herança da resistência, para
o cruzamento de dois pais resistentes (Chippewa x BR 80 – 19913), é devida a dois pares de alelos recessivos e, para o cruzamento de
um pai resistente e um pai suscetível (Chippewa
x Cristalina), é devida a um par de alelos recessivos e que basta a presença de um par homozigoto recessivo para que a resistência seja evidenciada.
PÚSTULA BACTERIANA
Já a Pústula Bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines) é típica de folhas, mas pode
atacar outros órgãos da planta, como pecíolos,
hastes e vagens; nestes os sintomas são menos
evidentes. Os sintomas da pústula bacteriana são
Janeiro de 2001
semelhantes aos do crestamento, podendo causar confusão nas pessoas menos treinadas. Inicia-se por pequenas manchas, nunca de aparência translúcida, de coloração verde-amarelada e com centro elevado de cor amarelo-palha,
que se tornam necróticas em pouco tempo, geralmente com estreito halo amarelo circundante, que pode alargar-se nas lesões mais velhas.
As manchas, dispostas irregularmente na superfície da folha, aumentam de tamanho com a
evolução da doença. Em ataques intensos desta
bacteriose pode ocorrer grande número de lesões que coalescem, tornando a superfície da
folha quase totalmente necrosada.
Nos estádios iniciais é possível diferenciar
sintomatologicamente a pústula do crestamento
pela existência de uma pequena elevação de cor
esbranquiçada (pústula), no centro da mancha,
na face abaxial da folha (face das nervuras salientes); a pústula pode estar presente também
na face superior da lesão. A coloração das lesões
necróticas da pústula bacteriana é parda, contornos arredondados e não apresenta brilho, enquanto que a lesão necrótica do crestamento bacteriano é de contornos angulares, de coloração
pardo-escura a negra, com brilho na face inferior. Em estádios mais avançados, com base apenas nos sintomas, as duas doenças podem ser
confundidas.
O patógeno é transmitido pelas sementes,
as quais não apresentam diferença visível entre
as sadias e as infectadas. Os restos de cultura
também são fonte de transmissão dos propágulos para as plantas jovens sadias. Esses dois processos dão origem às infecções primárias. A bactéria penetra na planta pelas aberturas naturais e
por ferimentos. As infecções secundárias são favorecidas por chuva e vento, que transportam a
bactéria das plantas doentes para as sadias. Essa
condição é favorecida pela ocorrência de umidade de ar elevada e temperatura ambiental alta
(normal de verão). Nas condições climáticas da
região sul do Brasil, o patógeno pode sobreviver
em plantas invasoras comuns nas lavouras.
Quando a infecção é intensa, a coalescência das
lesões causa rupturas no limbo foliar e queda
prematura de folíolos.
O uso de cultivares resistentes é o principal
método de controle desta doença. Hoje, no Brasil, a quase totalidade das cultivares recomendadas para cultivo são resistentes à pústula bacteriana. Essa resistência foi descoberta na cultivar
CNS, sendo governada por um gene recessivo.
Informes de Taiwan (AVRDC 1987, 1990 e
1990) demonstram que algumas linhagens AGS
da Asian Vegetable Research and Development
Center apresentam mais alto grau de resistência
do que CNS, o qual, em Taiwan, é considerado
Cultivar
Soja
Léo Ferreira explica quais as principais
doenças causadas ´por bactérias em soja
e como evitá-las
apenas como moderadamente resistente. Isto
pode indicar alguma variabilidade nesta bactéria, mas embora haja, nos Estados Unidos e no
Brasil, uma forte pressão de seleção sobre o patógeno, até o momento não há citação da existência de raças fisiológicas nesta bactéria.
Léo Pires Ferreira,
Embrapa Soja
Bactérias
Bactérias
atacam a soja
Léo Ferreira
Sintomas de Crestamento Bacteriano,
doença comum em folhas de soja e que
pode causar consideráveis prejuízos
D
oenças causadas por bactérias são
comuns em todos os lugares onde
se cultiva soja. As perdas decorrentes da sua ação não costumam ser altas, geralmente agregadas aos 20% de perdas causadas
por um grupo de doenças, mas se recomenda
que não se perca de vista a possibilidade de problemas na lavoura.
CRESTAMENTO BACTERIANO
O Crestamento Bacteriano (Pseudomonas
savastanoi pv glycinea ) é uma doença comum
em folhas, mas pode ser encontrada atacando
outros órgãos da planta, como hastes, pecíolos e
vagens. Os sintomas nas folhas surgem como
pequenas manchas, de aparência translúcida
(anasarca), circundadas por um halo de coloração amarelada. Essas manchas, mais tarde, necrosam, com contornos aproximadamente angulares, e podem aglutinar-se, formando extensas áreas de tecido morto, dispostas entre as nervuras secundárias. Freqüentemente, apresentam
halos amarelados circundando as áreas necrosadas. A maior ou menor largura do halo está
diretamente ligada à temperatura ambiente; largo sob temperaturas amenas ou estreito ou quase inexistente sob temperaturas mais altas.
A observação das manchas pela face inferior da folha (face abaxial) permite fazer deter12
Cultivar
minações geralmente exatas da presença desta
bactéria; as manchas são de coloração quase
negra e apresentam, nas horas úmidas da manhã, uma película brilhante que é formada pelo
exudato da bactéria. Infecções severas, nos estádios jovens da planta, conferem aparência
enrugada às folhas, como se houvessem sido
infectadas por vírus. A diferença é que as lesões são aquosas, semi-transparentes e apresentam exudato (superfície brilhante) na face inferior da folha.
A bactéria penetra na planta pelos estômatos ou através de ferimentos. A infecção primária pode ter origem em duas fontes; sementes
infectadas e restos da cultura da soja anterior.
No primeiro caso, as sementes não apresentam
sintomas aparentes da presença da bactéria; os
cotilédones provenientes dessas sementes podem apresentar lesões necrosadas, a partir das
bordas, logo após a emergência. A infecção evolui através das folhas unifolioladas para as trifolioladas. No segundo caso, os restos de cultura servem como fonte inicial do inóculo, que
pode passar para as folhas unifolioladas (primárias) e destas para as demais ou diretamente para as primeiras trifolioladas; neste caso, os
cotilédones apresentam-se sadios.
Durante o ciclo da cultura podem ocorrer
infecções e disseminações secundárias, que são
favorecidas pela ocorrência de alta umidade,
principalmente chuvas em dias ventosos e temperaturas médias amenas (20o a 26oC). Dias
secos permitem que finas escamas dos exudatos da bactéria se disseminem dentro da lavoura, das plantas infectadas para as sadias. Mas
para haver infecção o organismo necessita de
um filme de água na superfície da folha, o que
ocorre em manhãs orvalhadas ou durante períodos chuvosos.
Os métodos de controle mais indicados são
o uso de cultivares resistentes, um bom preparo do solo, ou seja, aração profunda para cobrir os restos da cultura anterior logo após a
colheita e o uso de semente proveniente de lavoura indene. Com base na série diferenciadora (Acme, Chippewa, Flambeau, Harosoy, Lindarin, Merit e Norchief), nos Estados Unidos,
foram descritas oito raças fisiológicas (1 a 8);
no Canadá foi descrita a raça 9 ; e no Brasil,
foram descritas oito raças; cinco similares às
raças 2, 3, 4, 6 e 7 descritas nos Estados Unidos e três raças novas (10,11 e 12). Raças adicionais, mas não numeradas, foram descritas
na Colômbia.
A herança da resistência foi estudada, indicando que a resistência à raça 1 da bactéria é
devida a um gene dominante das cultivares
Harosoy e Norchief e na linhagem PI 132207,
enquanto a resistência à raça 2 aparentemente
envolvia mais do que um gene. No Brasil, foi
determinado que a herança da resistência, para
o cruzamento de dois pais resistentes (Chippewa x BR 80 – 19913), é devida a dois pares de alelos recessivos e, para o cruzamento de
um pai resistente e um pai suscetível (Chippewa
x Cristalina), é devida a um par de alelos recessivos e que basta a presença de um par homozigoto recessivo para que a resistência seja evidenciada.
PÚSTULA BACTERIANA
Já a Pústula Bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines) é típica de folhas, mas pode
atacar outros órgãos da planta, como pecíolos,
hastes e vagens; nestes os sintomas são menos
evidentes. Os sintomas da pústula bacteriana são
Janeiro de 2001
semelhantes aos do crestamento, podendo causar confusão nas pessoas menos treinadas. Inicia-se por pequenas manchas, nunca de aparência translúcida, de coloração verde-amarelada e com centro elevado de cor amarelo-palha,
que se tornam necróticas em pouco tempo, geralmente com estreito halo amarelo circundante, que pode alargar-se nas lesões mais velhas.
As manchas, dispostas irregularmente na superfície da folha, aumentam de tamanho com a
evolução da doença. Em ataques intensos desta
bacteriose pode ocorrer grande número de lesões que coalescem, tornando a superfície da
folha quase totalmente necrosada.
Nos estádios iniciais é possível diferenciar
sintomatologicamente a pústula do crestamento
pela existência de uma pequena elevação de cor
esbranquiçada (pústula), no centro da mancha,
na face abaxial da folha (face das nervuras salientes); a pústula pode estar presente também
na face superior da lesão. A coloração das lesões
necróticas da pústula bacteriana é parda, contornos arredondados e não apresenta brilho, enquanto que a lesão necrótica do crestamento bacteriano é de contornos angulares, de coloração
pardo-escura a negra, com brilho na face inferior. Em estádios mais avançados, com base apenas nos sintomas, as duas doenças podem ser
confundidas.
O patógeno é transmitido pelas sementes,
as quais não apresentam diferença visível entre
as sadias e as infectadas. Os restos de cultura
também são fonte de transmissão dos propágulos para as plantas jovens sadias. Esses dois processos dão origem às infecções primárias. A bactéria penetra na planta pelas aberturas naturais e
por ferimentos. As infecções secundárias são favorecidas por chuva e vento, que transportam a
bactéria das plantas doentes para as sadias. Essa
condição é favorecida pela ocorrência de umidade de ar elevada e temperatura ambiental alta
(normal de verão). Nas condições climáticas da
região sul do Brasil, o patógeno pode sobreviver
em plantas invasoras comuns nas lavouras.
Quando a infecção é intensa, a coalescência das
lesões causa rupturas no limbo foliar e queda
prematura de folíolos.
O uso de cultivares resistentes é o principal
método de controle desta doença. Hoje, no Brasil, a quase totalidade das cultivares recomendadas para cultivo são resistentes à pústula bacteriana. Essa resistência foi descoberta na cultivar
CNS, sendo governada por um gene recessivo.
Informes de Taiwan (AVRDC 1987, 1990 e
1990) demonstram que algumas linhagens AGS
da Asian Vegetable Research and Development
Center apresentam mais alto grau de resistência
do que CNS, o qual, em Taiwan, é considerado
Cultivar
Soja
Léo Ferreira explica quais as principais
doenças causadas ´por bactérias em soja
e como evitá-las
apenas como moderadamente resistente. Isto
pode indicar alguma variabilidade nesta bactéria, mas embora haja, nos Estados Unidos e no
Brasil, uma forte pressão de seleção sobre o patógeno, até o momento não há citação da existência de raças fisiológicas nesta bactéria.
Léo Pires Ferreira,
Embrapa Soja
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