A Realidade Socialmente Construída e Suas Relações com

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A Realidade Socialmente Construída e Suas Relações com a
Fenomenologia: Contribuição para Novas Abordagens em Pesquisas de
Administração
Autoria: Marianne Viana Borges, Eloisio Moulin de Souza, Susane Petinelli Souza
Propósito Central do Trabalho
Nesse estudo, pretende-se demonstrar a relevância dos estudos que consideram os aspectos
simbólicos em suas análises, através da inserção das características conceituais e teóricas
desse enfoque nos estudos epistemológicos. Será também abordada a perspectiva
fenomenológica, como sendo a orientação teórica, através da qual é possível a compreensão
da construção da realidade e das estruturas essenciais que a constituem. Há uma crescente
tendência na utilização da fenomenologia como metodologia nas pesquisas em administração,
todavia ainda falta um melhor esclarecimento do uso do adjetivo” fenomenológico”, pois este
tem sido empregado com diferentes sentidos nas pesquisas, gerando confusões entre ser uma
metodologia ou ser um ponto de vista. Não é proposta deste estudo aprofundar-se na
discussão de técnicas de pesquisas baseadas no método fenomenológico, apenas será
abordada a relação dele com o simbolismo da realidade socialmente construída. A
fenomenologia é antes uma atitude do que uma filosofia, assim como, o seu método é antes
uma forma de pensar do que um sistema rígido de dispositivos e indicações. Desta forma,
objetiva-se neste trabalho evidenciar a relevância dos estudos simbólicos nas organizações,
por meio de uma análise epistemológica fundamentada na fenomenologia. Para tanto fez-se
uma análise das teorias relacionadas a sociologia do conhecimento, construção social da
realidade, simbolismo e fenomenologia.
Marco Teórico
O processo de socialização do homem depende do ambiente em que vive e onde se relaciona,
não sendo possível desvincular o homem do seu campo cotidiano, e para que seja factível o
estudo sociológico da realidade do dia a dia, faz-se imprescindível considerar o homem como
um ser produtor do constituir-se humano. Cavalcante (2008) declara que a Sociologia do
Conhecimento se posicionou em consonância com o pensamento fenomenológico de Alfred
Schutz, pensador austríaco que primeiramente reconheceu a construção social da realidade
como objeto central da Sociologia do Conhecimento.
Devido a críticas que foram imputadas às limitações das teorias organizacionais com foco
mecanicista e organicista, que consideram as organizações numa ótica simplista e sem
interferência humana, no início da década de 80, alguns autores, como por exemplo Morgan,
Frost e Pondy (1983), entre outros, atribuíram importância aos estudos que consideravam o
simbolismo dentro das organizações, e com isso ser possível interpretar o cotidiano humano e
suas implicações nos estudos organizacionais.(CARRIERI; LEITE-DA-SILVA, 2007). A
consideração e compreensão dos símbolos humanos, através da cultura, da linguagem, das
crenças, etc., potencializa o entendimento das organizações, legitimando essa abordagem.
Para a melhor compreensão do simbolismo nas organizações, é importante conceituar e
diferenciar sinais e símbolos. De acordo com Morgan, Frost e Pondy (1983), o termo sinal
refere-se a um objeto, uma ação, uma expressão, um evento, uma imagem, enquanto que
símbolo é a interpretação subjetiva do sinal, podendo ser consciente ou não. Enquanto todos
os símbolos possam ser considerados sinais, nem todos os sinais podem da mesma foram ser
considerados como símbolos. Os símbolos permeiam a esfera secular e influenciam cada
aspecto da existência humana.
Analisar sociologicamente a realidade da vida cotidiana significa aprofundar-se no
conhecimento que guia a conduta na vida diária. Para melhor compreensão dessa realidade, é
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necessário considerar seu caráter intrínseco, pelo qual a vida cotidiana apresenta-se como uma
realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida
em que forma um mundo coerente. É preciso ainda entender que a vida cotidiana se origina no
pensamento e na ação dos homens comuns, sendo afirmados por eles como real, através da
consciência, que é sempre intencional, o que significa que a consciência sempre tende para os
objetos ou então que ela é dirigida para tais (BERGER; LUCKMANN, 1978).
Johnson (1997) afirma que Schutz estava interessado no estudo das relações entre consciência
humana e vida social, entre as formas assumidas pela vida social e a maneiras pela qual as
pessoas percebem essas formas. Ele baseia seu estudo na concepção de construção social da
realidade por meio da interação entre as pessoas. Pessoas estas que utilizam símbolos para
interpretar e se interpretarem reciprocamente, num processo de atribuição de significados.
Schutz chamou de “o mundo da vida” o encadeamento de rotinas, eventos e interações aceitos
como coisas naturalizadas e que servem como ponto de partida para as experiências em
diversas instâncias: indivíduo, grupo e sociedade.
Resultados e contribuições do trabalho para a área
Inicialmente é importante considerar que existem estudiosos que consideram existir um
desalinho entre a Epistemologia e a Sociologia do Conhecimento, pois supondo ser esta
última a ciência que identifica e analisa os nexos existentes entre os contextos sociais
vinculados ao tempo e espaço, às circunstâncias e às diferentes culturas, os conhecimentos
gerados além de diferentes entre as distintas condições sociais, também não podem ser
considerados válidos, por serem individualizados e particularizados. Questiona-se então a
autoridade de estabelecimento do conhecimento científico nas instâncias do que seja verdade
e objetividade, podendo-se admitir que a Sociologia do Conhecimento impor-se-ia como uma
epistemologia empírica e realista.
O conceito de abordagem fenomenológica é complexo, pois possui diferentes significados
para diferentes autores, podendo esta ser considerada como filosofia, epistemologia ou
método, ou ainda as três simultaneamente. Faz-se importante considerar que a fenomenologia
como método nasceu do contexto da especulação filosófica, motivo pelo qual ainda existam
problemas a serem superados. A falta de entendimento sobre o método fenomenológico pode
ser atribuída à ausência da exploração do mesmo, além da dificuldade de correta
compreensão, todavia tem havido esforço maciço, incremento de atenção e disposição de
estudiosos em Administração, a fim de superar tais dificuldades, reconhecendo a adequação
desse método para pesquisas qualitativas, revelando assim notável interesse de pesquisadores
em se chegar à essência, ao âmago dos fenômenos analisados.
A abordagem fenomenológica da pesquisa deve ser entendida como “pessoal”, ou seja, o dado
é dado, fornecido àquele que o apreende, e este, deve desvincular-se de teorias, hipóteses
explicativas ou qualquer tipo de pressuposições para analisá-lo. Essa abordagem deve ser
utilizada em pesquisa de fenômenos subjetivos, acreditando-se que as verdades admitidas na
realidade são baseadas em experiências de vida.
Neste sentido, o Tratado de Sociologia do Conhecimento foi admiravelmente formulado por
dois conceituados estudiosos europeus, o austríaco Peter Berger e o esloveno Thomas
Luckmann, influenciados por Max Scheler, que afirmaram de forma veemente que a realidade
é construída socialmente, dia a dia, através das práticas individuais e sociais, perspectiva essa
que dá origem à Sociologia do Conhecimento que deve ter como foco central o conhecimento
do senso comum e não as idéias, e deve ocupar-se com tudo aquilo que venha a ser
considerado conhecimento na sociedade, tratando as relações entre o pensamento humano e o
contexto social do qual tal pensamento surge.
A partir das perspectivas explanadas, supõem-se a utilização das abordagens na colaboração
do entendimento e compreensão da realidade das organizações e da sociedade e de suas
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relações sócio-comunicativas, não sendo as mesmas limítrofes, pois os fundamentos da
sociologia do conhecimento não estão sozinhos no processo de compreensão da realidade e
atuam em conjunto com demais abordagens de base fenomelógica, como o interacionismo
simbólico e o interpretativismo.
Atividades relacionais como aquelas ligadas à gestão, a partir de uma orientação
fenomenológica, são investigadas levando em consideração os significados da experiência
humana. O que se pretendeu com este estudo foi mostrar, no transcurso das exposições
apresentadas, a possibilidade da utilização da fenomenologia em pesquisas de administração,
para investigar fenômenos organizacionais ligados ao simbolismo na construção social da
realidade. A contribuição da fenomenologia é permitir que a realidade seja analisada e
compreendida. Em momento algum, intentou-se considerar a fenomenologia como detentora
da razão absoluta, inequívoca, pelo contrário, apenas apresentou-a como um método em
ascensão na administração, que pode representar uma possibilidade para o avanço da ciência,
através de incentivos a pesquisas futuras sobre o tema, e utilizando-se de tal.
Referências bibliográficas
BERGER, P. L.; LUCKMANN, T.. A Construção Social da Realidade: Tratado de Sociologia
do Conhecimento. 4ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1978. ; CARRIERI, A.P.; LEITE-DASILVA, A. R. Aspectos Simbólicos da Gestão Organizacional. In: JUNQUILHO, G.;
BIANCO, M.; BEHR, R.; PETINELLI-SOUZA, S. (Orgs.). Tecnologias de gestão: por uma
abordagem multidisciplinar. Vitória: EDUFES, 2007. ; CAVALCANTE; R. C. Comunicação
e realidade: contribuições da sociologia do conhecimento à comunicação organizacional. Em:
XXXII ENANPAD, 2008, Rio de Janeiro. Trabalhos Apresentados, Rio de Janeiro, 2008. ;
JOHNSON, A. G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1997. ;
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