O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA TRANSIÇÃO DO

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O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA TRANSIÇÃO DO PENSAMENTO MÍTICO
PARA O PENSAMENTO FILOSÓFICO NA GRÉCIA
Fernanda Nerone Turok (ICV-UNICENTRO),Paulo Guilhermeti (Orientador),
e-mail: [email protected]
Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências, Letras e Artes.
Departamento de Pedagogia. Guarapuava, Paraná.
Palavras-chave: Filosofia da Educação, Gregos, Mitologia.
Resumo:
Este trabalho trata-se de uma pesquisa realizada a título de Iniciação
Científica, desenvolvida no período de agosto de 2011 a julho de 2012.
O objetivo foi investigar historicamente, por meio de obras clássicas da
Grécia Arcaica e das epopéias homéricas, como era a educação dos gregos
no pensamento mítico e como passou a ser concebida com o nascimento da
filosofia.
Introdução
Há cerca de 2.500 anos atrás os gregos mudaram de forma radical todo o
pensamento da humanidade. Destacaram-se entre os povos ocidentais
como aqueles que estavam à frente de seu tempo, pois não se limitaram
somente a atividades práticas eles foram, além disso, quando os primeiros
filósofos e pensadores gregos em determinado momento histórico puseramse a indagar e a questionar, buscando compreender o mundo à sua volta.
O fascínio em estudar os gregos antigos se deve em grande parte ao fato
de que, mesmo antes do nascimento do pensamento filosófico, os homens
gregos já haviam criado uma forma de pensamento, por meio da qual
explicavam seu mundo e educavam seus jovens: os mitos.
A filosofia tem sua origem no século IV a.C. Na medida em que se
consolidava enquanto nova forma de pensar baseada na racionalidade, foi
superando os mitos e ganhando força entre os gregos.
Durante a transição de um modo de pensar a outro, as formas de
organização da sociedade grega tomaram novos rumos diante do cenário
que se estabelecia e que contribuiu para a transformação da educação
enquanto instrumento de conservação e transmissão da herança cultural do
povo.
Tendo em vista o desafio de se fazer pesquisa em filosofia da educação,
dados os impasses em analisar um momento histórico tão longínquo de nós,
este estudo objetiva fazer uma breve análise da educação na passagem do
mito para a filosofia, buscando compreender por meio das obras clássicas
da antiguidade grega, como os homens educavam-se com base nos mitos e
as influências que afetaram a educação durante a transição de um período
ao outro.
Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO
11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX
Metodologia
A metodologia utilizada foi bibliográfica, de cunho qualitativo e exploratório,
envolvendo o levantamento, a revisão e a análise de obras que discutem a
passagem do pensamento mítico para o pensamento racional filosófico na
Grécia Antiga e suas conseqüências culturais.
Resultados e Discussão
Os mitos estão na origem do pensamento grego. São sobre deuses, heróis e
forças sobrenaturais que agem no universo e dão origem a tudo o que se
conhece.
Uma característica marcante dos mitos é a veracidade com que eram
aceitos pelos homens gregos. Eles respondiam a todos os questionamentos
e explicavam por si sós a realidade. O anonimato das histórias lendárias
constitui outra característica importante para a compreensão do pensamento
mitológico.
O anonimato se justifica tendo em vista que a população grega entre os
séculos VIII e VI ainda não era letrada. Segundo HAVELOCK (1996) uma
cultura não-letrada não é necessariamente primitiva, e a grega não o era.
Entretanto, na ausência da escrita enquanto representação do pensamento,
a forma com que os homens encontraram para transmitir suas idéias e
saberes construídos socialmente, foi pela transmissão oral das informações,
a fim de que mantivesses vivas as memórias do povo para as gerações
futuras.
Não se sabe exatamente quando os mitos surgiram, nem que os criou. A
maior preocupação era com que fossem divulgados entre os homens e
continuassem presentes na sociedade, transmitindo valores e idéias
consideradas relevantes para a formação do homem naquele período.
Cabia aos aedos e rapsodos o papel de transmitir os mitos enquanto
narrativas orais. Conforme PRADO (2000), estes poetas-cantores
compunham seus poemas baseando-se no rico repertório de lendas de seu
povo e cantavam seus versos com o acompanhamento de um instrumento
musical (lira ou cítara). Eram eles que perpetuavam a fama dos guerreiros e
heróis lendários, quando cantavam histórias dos antepassados dos homens
e dos deuses, e as recitavam nas praças públicas para todo o povo.
Os poemas de Homero são fundamentais para compreender a educação
grega na época mitológica, devido ao seu valor pedagógico que resiste até
os dias atuais.
Por volta do século VII a.C Homero (poeta e educador grego) mudou para
sempre a história do pensamento e da educação com as primeiras obrasprimas da poesia épica grega: Ilíada e Odisséia. Segundo o historiador
alemão Werner Jaeger (2010) os personagens de Homero serviram de base
para educar os jovens gregos, com um ideal de educação heróica que
priorizava a força, a valentia, a coragem e acima disso a heroicidade.
Na Ilíada a figura do jovem Aquiles é um modelo educativo que colaborou
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para o desenvolvimento da educação grega baseada num modo de vida
virtuoso, e na formação de um tipo humano nobre, o qual nasce do cultivo
das qualidades próprias dos senhores e dos heróis.
Ao lado dos mitos, o povo guarda a sua
antiga sabedoria prática, adquirida pela
experiência
imemorial de
incontáveis
gerações
e
que
se
compõe
de
conhecimentos e conselhos profissionais, e
de normas morais e sociais, concentradas
em fórmulas breves, de modo a permitir
conservá-los na memória (JAEGER, 2010. p.
90).
A educação grega durante o predomínio do pensamento mítico baseouse, sobretudo nas epopéias homéricas para educar os jovens e as crianças,
que deveriam aprender desde pequenas os poemas que ensinavam a
história da civilização micênica e a luta de heróis pela pátria amada. Além do
respeito e também o temor aos deuses, tão presentes nas obras de Homero.
Durante muitos anos os gregos educaram-se com base nas histórias
míticas e com as lições que estas traziam. Tendo em vista que somente aos
deuses cabia decidir o rumo da vida dos homens, estes, por sua vez
aceitavam o seu destino e se conformavam com ele, sem jamais questionar
a veracidade dos mitos e o poder exercido pelos deuses.
O aparecimento da pólis (cidade-estado) constitui na história do
pensamento grego um acontecimento decisivo. (VERNANT, 2003.) Seu
advento entre os séculos VIII e VII marca o início de transformações sociais
e espirituais e promove o desenvolvimento da educação.
O surgimento do pensamento filosófico na Grécia pode ser considerado
uma ruptura com o pensamento mítico, a partir do momento em que a
realidade passa a ser explicada racionalmente pelos homens.
É importante salientar a influência exercida pelo nascimento da pólis,
concomitante ao surgimento da filosofia neste período na Grécia. Segundo
Jaeger (2010) é com o nascimento da pólis que a sociedade começa a
evoluir historicamente para o período mais importante de sua história. “A
polis é o marco social da história da formação grega”, endossa o autor.
A história da formação grega, aparecimento
da personalidade nacional helênica, tão
importante para o mundo inteiro- começa no
mundo aristocrático da Grécia primitiva com
o nascimento de um ideal definido de
homem superior, ao qual aspira ao escol da
raça (JAEGER, 2010. p. 25)
A partir da criação das cidades-estados a vida em sociedade ganha novos
papéis, os homens passam a organizar-se para viver em comunidade, em
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grupos com os mesmos valores e ideais comuns, e no meio disso, há a
criação de para permitir o bom convívio entre os homens.
Nesse sentido, a vida social e as relações entre os homens assumem
uma nova dinâmica, e o homem começa a ter uma nova visão de si mesmo
inserido nessa comunidade.
A educação neste momento está ligada às transformações sociais, de
modo que também sofre as influências advindas da criação da pólis e da
nova maneira de ordenar a vida comunitária.
Fazia-se necessário, portanto, uma educação que acompanhasse este
ritmo de desenvolvimento do espírito grego e buscasse a verdadeira
essência do homem provido de inteligência e racionalidade.
Neste cenário os mitos eram cada vez mais esquecidos na memória do
povo ao passo em que se criavam instrumentos fundamentais da educação
comunitária: o teatro, a tragédia e a comédia, os quais representavam os
problemas vividos pelos homens ao mesmo tempo em que serviam para
entreter e instruir o povo.
Conclusões
Durante o pensamento mítico os homens educavam-se tendo como base os
mitos e as histórias fantasiosas que eram transmitidas de geração a
geração. Porém, a partir do século V a.C a mentalidade dos homens os leva
à questionar à veracidade dos mitos e a colocar em questão a existência dos
deuses. Desta forma a educação sofre mudanças que se estabelecem
juntamente ao pensamento racional filosófico que os gregos criam neste
século.
Com o surgimento da filosofia e da pólis os mitos foram sendo superados
e o homem viu-se diante de um novo cenário educativo, o que só foi possível
devido ao papel pedagógico que os mitos desempenharam durante tantos
anos na antiguidade grega.
Agradecimentos
Agradeço ao Prof. Dr. Paulo Guilhermeti, meu orientador de Iniciação
Científica e quem me propôs pesquisar este tema, sabendo do meu gosto e
fascínio em estudar Filosofia da Educação.
Referências
PRADO, Caio Jr. O que é filosofia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 200.
HAVELOCK, Eric A. A revolução da escrita na Grécia e suas
conseqüências culturais. São Paulo. Editora UNESP, RJ: paz e Terra,
1996.
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. 5° Ed: São PauloEditora Martins Fontes, 2010.
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. 13° ed. – RJ.
Ed. Difel, 2003.
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