Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 PERCEPÇÕES DOS DISCENTES DA REDE ESTADUAL SOBRE O ENSINO DE GENÉTICA NO MUNICÍPIO DE CHAPADINHA-MA Franciane Silva Lima (Mestranda do PPECEM-UFMA) Andréa Martins Cantanhede (Universidade Federal do Maranhão-UFMA) RESUMO O ensino de genética é considerado mecânico e complexo por apresentar termos difíceis. Objetivou-se conhecer as percepções dos discentes da rede estadual sobre o conteúdo genética no município de Chapadinha-MA. A pesquisa quali-quantitativa foi realizada em três escolas estaduais com aplicação de questionário com questões abertas e analisadas com base na frequência e percepções identificadas a partir da análise das respostas. Percebeu-se que os alunos não compreendem a importância da genética, apenas memorizam os conteúdos sem interligá-los a vida, demonstrando dificuldade e insatisfação. As metodologias de ensino utilizadas e o livro didático precisam ser revistos. É necessário uso de aulas dinâmicas e estratégias que associe teoria à prática contribuindo para a aprendizagem dos alunos. Palavras-chave: Aprendizagem. Dificuldades. Ensino. INTRODUÇÃO A educação é um processo que ao longo das décadas vem se transformando, mas infelizmente ainda não se pode dizer que há um ensino de qualidade para todos. No Brasil, altos índices de analfabetismo continuam presentes, existindo grande porcentagem de pessoas, que na adolescência, não conseguem sequer produzir um simples bilhete (IPEA, 2010). O ensino de biologia é amplo, requer a participação ativa dos alunos sobre questões que variam das mais simples do dia-dia até as mais complexas indagações contemporâneas de caráter biológico. Contudo, o que acontece nas escolas é um ensino mecânico e “decoreba”, formando um aluno sem criticidade diante de situações problemas (PCNEM, 2006). Ensinar biologia e iniciar o conteúdo de genética é uma tarefa complexa para professores. Normalmente, a maioria começa o conteúdo com os experimentos e suas contribuições de Mendel. Porém, o que se precisa entender é que deve haver uma contextualização e desmitificação de informações errôneas sobre a origem da disciplina (BRANDÃO; FERREIRA, 2009). 7110 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 A genética é uma disciplina que não é bem vista pelos alunos devido a problemas diversos relacionados a problemas na formação do professor, nível complexo de termos e conteúdos, abstração nos livros didáticos sem estabelecer relação com a realidade, onde os alunos concluem o ensino médio sem saber integrar os conceitos de gene, hereditariedade, leis de Mendel ao mundo, não compreendendo os temas abordados na disciplina a situações presentes no seu cotidiano (MOURA et al, 2013). Questões genéticas estão cada vez mais presentes no cotidiano devido à quantidade de informações de pesquisas desenvolvidas nesta área, deixando às vezes, o professor inseguro diante de tal situação (PRIMON, 2005). Diante de tantas informações, o professor tem um papel fundamental na formação dos alunos, com a função de desmitificar as concepções errôneas e alienadas, proporcionando fundamentos pautados no científico, por isso precisa manter-se informado e ter uma visão holística e crítica, proporcionando discussões sobre os temas complexos diversos (PRIMON, 2005; LORETO e SEPEL, 2006). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo conhecer as percepções dos discentes da rede estadual sobre o conteúdo genética no município de Chapadinha-MA. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada no município de Chapadinha–MA, sendo de cunho qualiquantitativo. Oliveira (2010) define como qualitativa por buscar informações legítimas de um contexto em prol de entender com profundidade as características e o significado de um grupo de pessoas, objeto, ou fenômeno da realidade em que situa o objeto em que esta sendo estudado na pesquisa. E quantitativa por “quantificar dados obtidos através de informações coletadas através de questionários, entrevistas, observações e utilização de técnicas estatísticas” (OLIVEIRA, 2010, p. 62). Questionários abertos foram utilizados como instrumento de coleta de dados aplicados aos alunos do terceiro ano do ensino médio (n=277), de três escolas estaduais de nível médio, descritas no trabalho como escolas A, B e C, nos turnos diurno e noturno, para obter informações sobre o perfil dos alunos e a aprendizagem do conteúdo genética, no segundo semestre de 2013. Os dados foram apresentados em formato de tabela para melhor visualização, sendo elencadas as falas dos entrevistados, a partir de uma unitarização, onde as produções foram separadas por unidades de significado e depois os significados semelhantes foram articulados (MORAES; GALLIAZZI, 2006), dando suporte a pesquisa de forma a fundamentar as análises dos resultados. Os dados obtidos foram analisados e tabulados no 7111 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 programa Microsoft Excel para fazer a estatística com base na frequência das respostas e os conteúdos das respostas abertas analisados para identificar a percepção dos alunos sobre genética. Os resultados foram fundamentados e discutidos a base da fundamentação teórica subsidiada neste trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram aplicados 277 questionários com alunos de três escolas de rede estadual de Chapadinha, sendo a escola A 37,91% (n=105), B 37,91% (n=105) e C 23,83% (n=66). A diferença entre o número de alunos na escola C foi devido à ausência dos alunos na escola, no dia da aplicação do questionário, por conta de um prolongamento de feriado nacional. A idade dos participantes da pesquisa variou de 16 a 60 anos, sendo 63,54% do sexo feminino e 33,94% masculino, a maioria solteira (81,51%). Percebe-se que há uma distorção idade-série no ensino médio revelando uma porcentagem de 15,5% dos alunos, sendo um dos principais problemas da educação. Pode ser desencadeado por repetência; entrada tardia na escola; abandono e retorno do aluno evadido (SARAIVA, 2010). Aspectos relacionados ao ensino de genética Cerca de metade dos alunos das escolas pesquisadas, A (49%), B (58%) e C (55%), reconhece a importância da disciplina genética para a sua vida. Foi possível perceber que os alunos adquiriram certos conhecimentos de temas abordados pelo professor sobre genética (Tabela 1), porém voltado à memorização de conceitos, sem conseguir compreendêlos e intercalá-los ao dia a dia. É necessário que os alunos construam conhecimentos de forma a agir ativa e efetivamente na sociedade e colocar em prática seus conhecimentos diante de questões que requeiram reflexão sobre preceitos éticos e morais, sociais e individuais (CASAGRANDE, 2006; BARNI, 2010). Tabela 1- Visão dos entrevistados sobre a importância de genética. A B Ter conhecimentos dos ancestrais e definir as características próprias; aprender as características e os traços humanos; saber o passado, hereditariedade e descobrir heranças; Identificar os genes albinos; descobrir a cor de uma pessoa; mostrar que através de cruzamentos pode haver indivíduos albinos e negros; aprender conhecimentos sobre hereditariedade; C Aprender sobre como uma pessoa pode ter uma anomalia ou doença genética; mostrar diferenças humanas e aprender sobre mutações que ocorre no corpo; explicar a importância do genótipo e 7112 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 conhecer a origem humana e identificar seu DNA; descobrir características que herdamos; identificar os genes albinos. VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 manter informado sobre nossa origem; importância de transmitir características de pais para filhos ao longo das gerações. fenótipo para a genética; função de explicar como são passadas as características hereditárias; estudar a origem do ser humano. Fonte: Entrevistados da pesquisa. Parafraseando Sobrinho (2009, p.12), Isso ocorre devido à sobrecarga de conteúdo, o exíguo tempo destinado a cada um deles, a seleção descontextualizada, o desconhecimento de como ocorre à aprendizagem, a falta de valorização dos conhecimentos prévios e dos questionamentos, a inexistência de aulas de experimentação, o desuso da pesquisa em sala de aula. Tudo isso acarreta um ensino estático, desinteressante, desvinculado do cotidiano, dificultando que o aluno seja sujeito em seu próprio aprendizado. Quanto às dificuldades na aprendizagem nos conteúdos de genética, os alunos das escolas não responderam: A (34%), B (43%) e C (45%), porém os demais relataram (Tabela 2). Tabela 2- Dificuldade de aprendizagem, sobre genética, comuns entre os alunos participantes da pesquisa. A B C “Construir heredograma; conteúdo recombinação gênica; cruzamentos; memorizar tudo que ensina; em todo conteúdo, não consegue lembrar de nada; não consegue diferenciar um conteúdo de outro; tipos sanguíneos”. “A biologia é complicada, tem assuntos que não são claros”; as gerações; “conteúdo dos genes; cruzamentos de 2 indivíduos; diferenciar genótipo de fenótipo”; “dificuldade em memorizar conteúdos; DNA, RNA, genes; “todos os conteúdos; “hereditariedade”; os nomes são muito complicados; problemas com gametas; tipos sanguíneos. “Cruzamentos; bases nitrogenadas; heredogramas; DNA e cromossomos; mutações e diferenças genéticas; em todos os conteúdos; fenótipo e genótipo; genes recessivos e dominantes; compreender os conteúdos; não entender como existe genes dominantes; organismos transgênicos; os cálculos; falta de aulas práticas e laboratório”. Fonte: Entrevistados da pesquisa. Grande parte dos alunos tem dificuldades em compreender os conteúdos de genética, alguns nem sequer sabem dizer quais são as dificuldades, confirmando o que diz Moreno (2007); Klautau-Guimarães; Pedreira; Oliveira (2013) que “a genética é uma ciência caracterizada pela composição de terminologias complicadas e abstratas, dificultando a compreensão dos alunos, assim não conseguindo correlacionar termos como DNA, 7113 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 cromossomos, genes, genoma, entre outros ao dia a dia, e isso atrapalha a compreensão e entendimento dos fenômenos biológicos que são relevantes na vida e no campo da genética”. Verifica-se que os alunos não estão apropriando o conhecimento científico discutido na escola, não conseguem compreender, questionar e utilizá-los na sociedade, destacando que boa parte dos estudantes relata que esquece rápido o que aprendeu, prevalecendo informações do senso comum ou ideias alternativas que permanecem até mesmo em estudantes de universidade (PEDRACINI et al., 2007). A maioria dos alunos considera genética uma disciplina difícil: A (84%), B (78%) e C (82%), mesmo assim, a maioria afirma que consegue relacionar os conteúdos ao dia a dia: A (68%), B (65%) e C (61%) (Gráfico 1 e 2). SIM NÃO 84% 16% A 82% 78% 22% A 68% 65% 61% 18% B C Gráfico 1- Compreensão dos alunos sobre os conteúdos de genética. SIM B C 82% 77% 80% 32% 35% 39% NÃO NÃO JUSTIFICOU Gráfico 2- Alunos que relatam relacionar os conteúdos sobre genética vistos na sala de aula com o dia- a- dia. Os alunos deram diversas justificativas por considerarem genética “difícil”, principalmente associada às terminologias, aos métodos de ensino usados pelo professor, os cálculos de frequência genotípica e fenotípica, e mesmo a falta de motivação para aprender, pois não reconhecem sua importância (Tabela 3). Tabela 3- Descrição dos motivos que os alunos consideram a disciplina genética “difícil”. A B C É difícil entender os assuntos; genética possui assuntos muito amplos; tem palavras enroladas que é difícil de explicar e entender; deveria ser adotado um método melhor para o ensino de genética; raramente encontra no dia a dia; não sabe alelos dominantes e recessivos. Estudar genética é ruim, principalmente estruturas humanas de animais; não consegue lembrar posteriormente do conteúdo; não consegue descobrir fatores importantes em relação a humanidade; mexe com o saber matemático e dificulta; tem muitos termos: alelos, genótipo e cada um tem função diferente. Conteúdo muito extenso; não consegue aprender nada; não consegue lembrar posteriormente do conteúdo; não entende o que o professor explica; não sabe de nada de genética; não tem paciência; por que são muitas espécies; precisa de esforço para compreender. Fonte: Entrevistados da pesquisa. 7114 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Cid; Neto (2005); Klautau-Guimarães; Pedreira; Oliveira (2013) relatam que estudos realizados com diversos estudantes (ensino médio, vestibulandos e alunos de graduação em biologia) após abordagem de temas relacionados a genética a consideram muito difícil de aprender e que não conseguem associar conceitos básicos de genética e como há a transmissão de informação de célula a célula e entre as gerações, mostrando o despreparo que possuem para serem futuros cientistas ou mesmo cidadãos para conseguir associar ciência a sua vida pessoal e sociedade. Nas escolas A (82%), B (77%) e C (80%), grande dos alunos não explicaram como relacionam a genética ao dia a dia (Gráfico 2), entretanto, os que conseguiram, relataram as doenças genéticas, transgênicos, grupos sanguíneos, ou mesmo expressaram ideias confusas sobre herança (Tabela 4) Tabela 4: Grau de relação dos conteúdos da sala de aula ao dia a dia. A B Algumas doenças do dia a dia estão relacionadas a genética; professor fala sobre doenças, transgênicos são assuntos do dia a dia; encontra situações que são parecidas as aulas; acontece exemplos do professor parecidos no dia a dia. Professor explica relacionando ao dia a dia; aparece traços do conteúdo da sala no cotidiano, por isso consegue solucionar; tem vários exemplos da sala de aula que consegue ver em casa; genética está desde nas pessoas desde que nasce, como grupos sanguíneos. C Aquilo que a genética ensina vivemos no dia a dia com familiares e amigos; muitos assuntos são encontrados em casa; a genética faz parte da vida; quando ver algo parecido visto em casa, consegue explicar para as pessoas. Fonte: Entrevistados da pesquisa. Observa-se que a maioria dos alunos, independente da escola, relatou que consegue relacionar genética ao dia a dia (Gráfico 2), porém não responderam como o fazem (Tabela 4). Klautau-Guimarães; Pedreira; Oliveira (2013) descrevem isso como uma das principais barreiras no ensino de genética, onde os conhecimentos prévios dos alunos não são levados em consideração pelo professor, dificultando a compreensão dos conhecimentos científicos, pois a desvinculação da ciência com o cotidiano dos alunos impede a compreensão e a aprendizagem significativa. É importante ressaltar que muitos entrevistados sequer conseguiram compreender a pergunta: Na escola A: “Quando relaciona fica mais fácil; quando tem tempo livre, estuda em casa; são muitas disciplinas a estudar; faz atividades em sala de aula; ser alguém no futuro; Tempo curto para relacionar as aulas; o trabalho atrapalha muito”. Já na escola B: “na sala aprende melhor; na matemática usamos todos os dias; é o futuro; foca em outros 7115 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 assuntos. E na escola C: “na sala aprende o melhor; só vive para estudar; quando tem necessidade de aprender”. Percebe-se uma incoerência nas respostas, onde os alunos concluíram com respostas não condizentes a pergunta. Conseguem decodificar os sinais, mas ao término da leitura não conseguem compreender o enunciado da questão e consequentemente fornecerem uma resposta. Esse é um fato preocupante, já que pesquisas revelam que 68% dos brasileiros são analfabetos funcionais, sendo altos índices para um país que deseja tanto erradicar essa situação da educação (SCOTO, 2013). Sobre a forma de abordagem do conteúdo de genética, em geral, os alunos consideram “adequada” (Gráfico 3) e que os professores relacionam com exemplos cotidianos, contribuindo assim no processo ensino aprendizagem A (78%), B (77%) e C (61%). (Gráfico 4). SIM SIM NÃO 73% 64% 78% 53% 36% A 77% 61% 47% 39% 27% B NÃO 22% C Gráfico 3- Visão dos alunos sobre a abordagem dos conteúdos de genética pelo professor de forma adequada. A 23% B C Gráfico 4- Utilização de exemplos e problemas do cotidiano pelo professor dos conteúdos de genética. A abordagem dos conteúdos de genética realizada pelos professores, segundo os alunos pesquisados, ocorre de forma simples, com a utilização de exemplos relacionados ao cotidiano, expressando um sólido domínio de conteúdo com aulas dinâmicas (tabela 5). Tabela 5: Compreensão dos conteúdos de genética por meio de exemplos do cotidiano. A B C “Aborda com exemplos e interatividade; a explicação do professor é mais fácil de compreender; ensina de forma que os alunos não sentem dificuldade; Cita exemplos diversos do cotidiano; Faz de tudo para o aluno aprender; “A genética permite o conhecimento da humanidade com características selecionadas a atender as necessidades; Aborda os assuntos de forma simples; cita vários exemplos do cotidiano; Explica várias vezes o conteúdo; interage com questões cotidianas nas aulas; tenta mostrar que conteúdos vão “Professor explica muito bem; demonstra confiança no assunto; professor aborda principais característica da genética; as aulas dinâmicas e assim mais fáceis de aprender; conteúdo é transmitido muito bem; professor explica detalhadamente os assuntos 7116 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 professor explica servir para o futuro; professor detalhadamente os se esforça o máximo; torna as assuntos; explica e revisa aulas divertidas e dinâmicas”. os conteúdos”. da genética; professor dar aulas com slides e tira as dúvidas; explica por meio de exemplos do dia a dia”. Fonte: Entrevistados da pesquisa. Para Fonseca e Bida (2013), o professor tem o papel de mediar o conhecimento para o aluno, buscando inserir metodologias e recursos diversificados na sala de aula, sendo capaz de despertar o interesse nos alunos e principalmente haver uma aprendizagem significativa. São agentes responsáveis pelo ensino, por isso a metodologia e estratégia que utilizará em sala de aula vai depender das metas e objetivos que pretende alcançar. De acordo com Siervi (2010) na visão dos alunos, um bom professor é aquele que domina o conteúdo e gosta de ensinar; possui uma metodologia que faça os alunos aprender; é organizado e pontual; admite seus erros e tem compromisso no trabalho; tem boa relação com os alunos, e tem o papel de não seguir um modelo de ensino, mas adequar a realidade dos alunos para um ensino melhor e de conhecimento e isso pode ser encontrado na fala da maioria dos alunos. Deste modo, a necessidade de escolher metodologias que sejam coerentes ao que se quer ensinar é essencial para a aprendizagem dos alunos, caso contrário ocorre insatisfação por parte dos alunos como é possível observar nos seus relatos (Tabela 6) Tabela 6- Abordagem do conteúdo de genética com uso de metodologias inadequadas pelo professor. A B C “Não lembra do que é ensinado; os conteúdos são meio decorebas; o conteúdo é complexo e extenso e exige mais autenticidade no ensino, mas deixa a desejar; professor só ler, se usasse outras formas de ensino facilitaria o aprendizado; professor deveria abordar o assunto de forma mais simples, disciplina complicada; professor explica, mas fica muitas dúvidas; só tem aulas teóricas, falta práticas”. “Deveria usar uma linguagem menos complicada; é muito difícil de entender; deixa a desejar, pois deveria incentivar mais os alunos e levar tecnologias para a aula ficar mais prazerosa; não gosta de genética; professor tenta, mas dificilmente adota realmente o assunto; falta aulas práticas; alguns conteúdos deveria ser mais detalhado”. “O professor passa apenas um resumo quando é conteúdo visto pela primeira vez e acha que é o suficiente para o aluno aprender; deveria ter uma forma melhor de explicar; não entende nada; Assunto difícil e o professor deveria ensinar de uma maneira mais adequada para facilitar o aprendizado”. Fonte: Entrevistados da pesquisa. 7117 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 O conteúdo de genética é amplo e multidirecional, por isso o professor deve trabalhar de forma contextualizada para aperfeiçoar e aprofundar conhecimentos de temas diversos de forma a atrair a atenção do aluno, pois fica impossível o professor conseguir trabalhar todos os temas abordados na disciplina e os alunos obter uma visão integrada de todo o conteúdo (REICHMANN; SCHIMIN, 2013). Deste modo, exige-se um conhecimento atualizado e integral do que se pretende ensinar e para quem ensinar, tentando eliminar a forma tradicional de ensino que não permite o questionamento dos alunos, tirar dúvidas, não havendo um ensino dinâmico e proveitoso para os alunos na busca de conhecimentos (PCNEM, 2013). Quanto ao livro de biologia adotado pela escola, muitos alunos possuem dificuldades em compreendê-lo (Gráfico 5). SIM 51% 49% A NÃO 53% 47% B 58% 42% C Gráfico 5- Compreensão dos alunos sobre a linguagem utilizada no livro didático de biologia adotado pelo professor. Na escola B, os alunos não possuem livros didáticos, por causa da não devolução em anos anteriores, como sugere PNLD. O professor aborda os conteúdos por meio de uma apostila (de elaboração própria) que direciona as suas aulas. Na escola A (70%) e C (50%) não responderam se sentem dificuldades em compreender a linguagem do livro didático que os professores utilizam, e não houve um consenso entre os alunos como pode ser observado na Tabela 7. Tabela 7-Compreensão dos alunos sobre o livro de biologia adotado pelo professor. A C Linguagem é clara e objetiva; é fácil e gosta muito de biologia; professor explica e facilita aprendizagem e leitura do livro; Tem muito nome complicado e o professor tem que ajudar; livro é bem explicado e com exemplos; linguagem incompreensível; livro é muito complexo; prefere as aulas sem livros. Tem assuntos difíceis, mas também fáceis; livro bem explicado; livro é bom e os assuntos são ótimos para ler; professor explica e facilita aprendizagem e leitura do livro; muito confuso; muito complexo; não consegue entender mesmo que leia bastante; conteúdos difíceis de entender. Fonte: dados da pesquisa. 7118 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 O livro didático é um recurso bastante utilizado pelos professores e relevante para o ensino-aprendizagem do aluno. De acordo Rosa, Riba; Barazzutti (2012) o livro didático é um material do professor que possui toda uma organização estrutural dos assuntos que serão abordados, entretanto o professor deve selecionar e reestruturar sua forma de ensinar, adequando os conteúdos a realidade e necessidade dos alunos, conferindo significado, favorecendo situações de aprendizagem a partir das vivências dos alunos. Atualmente há uma diversidade de recursos que o professor pode inserir nas aulas, sendo essencial o uso do livro apenas como auxílio da prática do professor, pois o mesmo deve também utilizar informações de assuntos encontrados em jornais, revistas, vídeos, filmes, computadores como forma de discutir assuntos atuais e presentes na realidade do aluno. Infelizmente, na maioria das escolas, o livro é o único recurso disponível para o professor, e em muitos casos, a única fonte de pesquisa do estudante como menciona os PCN (1997, p. 67), O livro didático é um material de forte influência na prática de ensino brasileira. É preciso que os professores estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos. Além disso, é importante considerar que o livro didático não deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade de fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do conhecimento. A escolha do livro didático deve ser feita por professores capacitados, pois é um auxílio importante para os estudantes, uma vez que o aluno deve apropriar-se da linguagem, como também desenvolver valores éticos e críticos diante dos avanços da ciência conseguindo contextualizar teoria a sua prática. O livro é um recurso importante e facilitador na prática pedagógica do professor (FRISON et al, 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS O ensino de genética deve ser pautado num ensino que proporcione a capacidade do indivíduo a participar ativamente na sociedade, bem como na tomada de decisão, entretanto o que se pode observar neste estudo é que os alunos não compreendem os conhecimentos mínimos necessários de genética de forma a opinar nas situações de seu cotidiano e consideram esse conteúdo difícil e cheio de terminologias complexas. Os alunos não têm uma percepção da relevância do ensino de genética para a vida, apenas memorizando os temas sem interligá-los ao cotidiano, demonstrando dificuldade de compreensão dos assuntos e insatisfação quanto ao ensino. Os alunos consideram o livro didático com linguagem complexa, e apresentam dificuldade de compreendê-lo. Os professores precisam rever suas metodologias de forma a contextualizar a teoria e a prática, tornando as aulas dinâmicas e 7119 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 menos conteudistas, bem como relacioná-las a realidade do indivíduo de forma a facilitar a compreensão dos temas estudados e dar significado ao ensino, contribuindo no processo de ensino e aprendizagem. REFERÊNCIAS BARNI, G. S. A importância e o sentido de estudar genética para estudantes do terceiro ano do ensino médio em uma escola da rede estadual de ensino em Gaspar (SC), 2010. 184 f. 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