ANA CAROLINA FANTON PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE DISPERSÕES SÓLIDAS DE GENFIBROZILA POR LIOFILIZAÇÃO: ESTUDO DE COMPATIBILIDADE COM OS EXCIPIENTES E CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS JOINVILLE – SC 2015 ANA CAROLINA FANTON PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE DISPERSÕES SÓLIDAS DE GENFIBROZILA POR LIOFILIZAÇÃO: ESTUDO DE COMPATIBILIDADE COM OS EXCIPIENTES E CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS Dissertação de mestrado apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Processos, na Universidade da Região de Joinville - Univille. Professora Orientadora: Abatti Kasper Silva. Dra. Denise Professora co-Orientadora: Dra. Bianca Ramos Pezzini. JOINVILLE – SC 2015 Dedicada a Deus, aos meus pais, Antonio e Zilma, à minha irmã, Ana Paula e ao meu noivo, Rodrigo, que foram imensamente compreensivos e amorosos em toda minha trajetória. “O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio”. José Saramago AGRADECIMENTOS A Deus, por estar sempre a minha frente, ser meu porto seguro, me conduzir e me dar forças nas horas mais difíceis do meu dia. Aos meus pais, Antonio Sergio Fanton e Zilma Fanton, que sempre me incentivaram e me deram todo apoio necessário para chegar ao fim desta caminhada. À minha irmã, Ana Paula Fanton, pelo carinho e palavras de incentivo, mesmo estando longe. Ao meu noivo, Rodrigo Junkes, que teve todo amor, carinho, compreensão e paciência comigo não só durante estes dois anos, mas em todo nosso relacionamento. Às professoras Dra. Denise Abatti Kasper Silva e Bianca Ramos Pezzini, pela orientação, por compartilharem seus conhecimentos, me apoiarem sempre que necessário e estarem sempre dispostas a me auxiliar. Às alunas do curso de Farmácia Bárbara Bona e Jackeline Schmucker pela ajuda com os ensaios, apoio, incentivo e palavras de carinho. Às técnicas dos laboratórios da Univille Cláudia Hack Gumz Correia e Aline Scheller pelas análises de DSC, FTIR e TG e por sempre estar disposta em ajudar. À doutoranda Cassiana Mendes e ao professor Dr. Marcos Segatto da UFSC por compartilharem seus conhecimentos e auxiliarem nos ensaios preliminares. Ao gerente farmacêutico Walter Stulzer Jr pela compreensão, incentivo e por todas as vezes que me ajudou no ambiente de trabalho. À minha equipe de trabalho, que em todas as madrugadas esteve comigo, sempre disposta em ajudar e realizar seu trabalho da melhor forma possível. Às queridas amigas farmacêuticas Gerrana Portugal Rodrigues, Débora Adriana Fischer, Thaisa Noceti Carvalho, Larissa Delmônego e Ana Carolina da Rosa, que apoiaram, incentivaram e me fizeram rir nos momentos mais difíceis. Aos professores do Mestrado em Engenharia de Processos, por todo conhecimento compartilhado durante o curso. À CAPES, pelo apoio financeiro durante o mestrado Aos membros da banca examinadora, por aceitarem o convite de avaliar este trabalho, contribuindo com valiosas sugestões. A todos que contribuíram de forma direta e indireta para realização deste trabalho, meu muito obrigada! RESUMO As doenças cardiovasculares são as principais causas de óbitos no mundo. Entre os fatores de risco para essas doenças, está a dislipidemia, caracterizada por concentrações sanguíneas elevadas de lipídios ou lipoproteínas. A genfibrozila (GFB) é um fármaco antilipêmico, que pertence à classe II do Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SCB), o que significa que possui alta permeabilidade na membrana intestinal, baixa solubilidade e taxa de dissolução lenta em meio aquoso. A formulação de dispersões sólidas, é considerada uma das estratégias mais eficazes para melhorar o perfil de dissolução de fármacos com baixa solubilidade aquosa. A técnica de secagem por liofilização, é um método alternativo para a produção destas formulações, uma vez que a incorporação do fármaco na matriz polimérica ocorre com stress térmico mínimo durante a fase de secagem. Neste contexto, os objetivos deste trabalho foram compor uma dispersão sólida contendo GFB, pelo método de liofilização, visando aumentar a solubilidade em meio aquoso e reduzir a cristalinidade do fármaco, assim como avaliar a compatibilidade deste fármaco com os excipientes selecionados para o desenvolvimento de tais formulações. As misturas binárias entre GFB e os excipientes selecionados apresentaram-se compatíveis. Um método espectrofotométrico UV-Vis foi validade para quantificar a GFB nas formulações. As quatro formulações desenvolvidas apresentaram perfil de dissolução superior ao do fármaco isolado. Observou-se que a presença de Aerosil® 200 tem influência na dissolução do fármaco. i ABSTRACT Cardiovascular diseases are the leading causes of deaths worldwide. Among the risk factors for these diseases, dyslipidemia is characterized by high blood concentrations of lipids or lipoproteins. The gemfibrozil (GFB) is a antilipemic drug belonging to class II in Biopharmaceutics Classification System (BCS), which means that it has high permeability in intestinal membrane, low solubility and slow dissolution rate in aqueous media. The formulation of solid dispersions, is considered one of the most effective strategies for improving drug dissolution profile with low aqueous solubility. The by freeze drying technique, is an alternate method for producing these formulations, since the incorporation of the drug in the polymer matrix occurs with minimal thermal stress during the drying phase. In this context, the objectives were to compose a solid dispersion containing GFB, by freeze-drying method, to increase the aqueous solubility and reduce the crystallinity of the drug, as well as assess the compatibility of the drug with the selected excipients to the development of such formulations. The binary mixtures of GFB and selected excipients were compatible. A UV-Vis spectrophotometric method was validated to quantify GFB in the formulations. The four formulations had developed above the dissolution profile of the drug alone. It was observed that the presence of Aerosil® 200 influences the dissolution of the drug ii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Fluxograma experimental da metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho............................................................................................................ 15 Figura 2: Curvas de DSC do fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68 ....................................................................... 24 Figura 3: Curvas de DSC da GFB pura e das misturas GFB/excipientes. ................ 25 Figura 4: Curvas de TG/DTG da GFB isolada. .......................................................... 27 Figura 5: Curvas de TGA dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria derivada (DTG).......................................................................................................... 28 Figura 6: Curvas de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria derivada (DTG). ............................................................. 30 Figura 7: Espectrograma da GFB isolada. ................................................................ 35 Figura 8: Espectrograma do Aerosil® 200. ............................................................... 36 Figura 9: Espectrograma do Kollidon® CLSF. .......................................................... 37 Figura 10: Espectrograma do Kollidon® VA64. ......................................................... 38 Figura 11: Espectrograma do Lutrol® F68. ............................................................... 39 Figura 12: Espectrogramas dos componentes isolados e das misturas. (A) GFB Aerosil® 200; (B) GFB Kollidon® CLSF; (C) Kollidon® VA64; (D) Lutrol® F68......... 40 Figura 13: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução contendo dispersão sólida placebo em solvente etanol. ........................................... 41 Figura 14: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução contendo dispersão sólida placebo em solvente tampão fosfato. ............................. 42 Figura 15: Perfil de dissolução das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada .... 48 Figura 16: Curvas de DSC da GFB isolada e das formulações FA, FB, FC e FD. .... 49 Figura 17: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada. ........ 50 Figura 18: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD. ..................................... 51 Figura 19: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (4000 600 cm-1). .................................................................................................................. 52 iii Figura 20: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (ampliação 2000 - 600 cm-1)...................................................................................... 52 iv LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela 1: Dados de análise de DSC do fármaco GFB e das misturas GFB/excipiente. ......................................................................................................... 26 Tabela 2: Dados de análise das curvas de TG/DTG dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). ............................................. 29 Tabela 3: Tabela 3: Dados de análise de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68) ........................................................................................................................... 31 Tabela 4: Fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68 com respectivas estruturas moleculares de cada composto, bem como principais bandas presentes no espectrograma e grupos funcionais correspondentes........................................................................................................ 33 Tabela 5: Dados referentes à linearidade do método utilizando solvente etanol PA . 43 Tabela 6: Dados referentes à linearidade do método utilizando tampão fosfato pH 6,8 .................................................................................................................................. 43 Tabela 7: Dados referentes à repetibilidade (precisão inter-dia) do método para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8............................................................ 44 Tabela 8: Tabela 8: Dados referentes à precisão intermediária (precisão intraanalista) do método para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8. ............. 45 Tabela 9: Dados referentes ao percentual equivalente à exatidão do método proposto para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8 ................................ 45 Tabela 10: Média, desvio padrão e CV do estudo de solubilidade da GFB em tampão fosfato pH 6,8. ........................................................................................................... 46 Tabela 11: Formulações e respectivos teores médios de fármaco, DP e CV. .......... 47 v LISTA DE QUADROS Quadro 1: Materiais e equipamentos utilizados no desenvolvimento deste trabalho. .................................................................................................................................. 14 Quadro 2: Composição das formulações FA, FB, FC e FD e respectivas fases da emulsão nas quais os componentes estão inseridos. ............................................... 17 vi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Aerosil – Dióxido de silício coloidal (Aerosil 200) Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA Análise de variância - ANOVA Análise termogravimétrica – TGA Calorimetria exploratória diferencial – DSC Coeficiente de variação – CV Cromatografia gasosa – GC Cromatografia líquida de alta eficiência – HPLC Desvio padrão - DP Temperatura na qual a degradação é máxima – Tpico Espectroscopia por difração de raios-X – DRX Entalpia de fusão – ∆Hm Entalpia de fusão teórica, considerando fármaco 100% cristalino – ∆Hmt Espectroscopia na região do infravermelho com transformada Fourier – FTIR Farmacopeia Americana - USP Farmacopeia Britânica – BP Genfibrozila - GFB Grau de cristalinidade – Xc Kollidon CLSF – CLSF Kollidon VA64 – VA64 Lipoproteína de baixa densidade – LDL Lipoproteína de alta densidade – HDL Lutrol F68 – F68 Microscopia eletrônica de varredura – MEV Para análise - PA Rotações por minuto - rpm Sistema de Classificação Biofarmacêutica - SCB Temperatura de fusão – Tm vii Temperatura de início de degradação extrapolada – Tonset Termogravimetria – TG Termogravimetria derivada – DTG Ultravioleta visível – UV-Vis viii SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3 1. OBJETIVOS ......................................................................................................... 6 1.1 Geral .................................................................................................................. 6 1.2 Específicos ........................................................................................................ 6 2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 7 2.1 GFB ....................................................................................................................... 7 2.2 Técnicas de caracterização de fármacos – Termogravimetria, calorimetria diferencial exploratória e espectroscopia de absorção no infravermelho .................... 8 2.3 Excipientes e polímeros ...................................................................................... 10 2.4 Técnicas para obtenção de dispersões sólidas - Liofilização .............................. 12 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 14 3.1 Materiais .............................................................................................................. 14 3.2 Organização experimental da pesquisa .............................................................. 15 3.3 Ensaios de compatibilidade entre excipientes e fármaco .................................... 16 3.3.1 Análises térmicas ............................................................................................. 16 3.3.2 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) ........... 16 3.4 Preparação das emulsões para secagem em liofilizador .................................... 17 3.5 Liofilização das emulsões.................................................................................... 18 3.6 Validação de método analítico espectrofotométrico na região do UV-Vis para caracterização das dispersões sólidas obtidas ......................................................... 18 3.6.1 Especificidade .................................................................................................. 19 3.6.2 Linearidade....................................................................................................... 19 3.6.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD) ................................................ 20 3.6.4 Precisão ........................................................................................................... 20 3.6.5 Exatidão ........................................................................................................... 20 3.7 Estudo de solubilidade do fármaco ..................................................................... 21 3.8 Caracterização das dispersões sólidas obtidas................................................... 21 3.8.1 Determinação do teor de fármaco nas amostras .............................................. 21 3.8.2 Perfil de dissolução .......................................................................................... 21 3.8.3 Calorimetria diferencial exploratória (DSC) ...................................................... 22 3.8.4 Difração de Raio-X (DRX) ................................................................................ 22 3.8.5 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)............. 22 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 23 4.1 Seleção dos excipientes utilizados nas emulsões ............................................... 23 4.2 Estudo de compatibilidade entre GFB e excipientes ........................................... 23 4.2.1 Análises térmicas ............................................................................................. 24 4.2.2 FTIR ................................................................................................................. 32 4.3.1 Especificidade .................................................................................................. 41 4.3.2 Linearidade....................................................................................................... 42 4.3.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD) ................................................ 43 4.3.4 Precisão ........................................................................................................... 44 4.3.5 Exatidão ........................................................................................................... 45 4.4 Caracterização das dispersões sólidas obtidas................................................... 46 4.4.1 Estudo de solubilidade do fármaco .................................................................. 46 4.4.2 Determinação do teor de fármaco nas amostras .............................................. 46 4.4.3 Perfil de dissolução .......................................................................................... 47 4.4.4. DSC ................................................................................................................. 49 4.4.5 DRX .................................................................................................................. 50 4.4.6 FTIR ................................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 56 2 INTRODUÇÃO As doenças cardiovasculares são as principais causas de óbitos no mundo. Entre os fatores de risco para essas doenças, está a dislipidemia, ou hiperlipidemia, caracterizada por concentrações sanguíneas elevadas de lipídios ou lipoproteínas (SILVA et al., 2012; SANTOS et al. 2013). O tratamento da hiperlipidemia pode ser realizado por meio de medidas terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas. Os medicamentos disponíveis para essa finalidade podem apresentar maior atuação sobre os níveis de colesterol total e frações ou de triglicerídeos (BRAGA et al., 2008). Nas situações em que há predomínio de elevação dos níveis de triglicerídeos, recorre-se com frequência à classe dos fibratos, tais como a genfibrozila (GFB), que apresenta maior eficácia sobre essa categoria de dislipidemia (ELIKIR, 2010). A GFB, assim como outros derivados do ácido fíbrico (fibratos), atua na redução dos níveis de triglicerídeos e colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade), inibindo a lipólise periférica e diminuindo a captação hepática de ácidos graxos livres (MILLER et al., 2002). Em termos farmacocinéticos, a GFB pertence à classe II do Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SCB), o que significa que possui alta permeabilidade na membrana intestinal, baixa solubilidade e taxa de dissolução lenta em meio aquoso (VO; PARK; LEE, 2013). Em virtude disso, torna-se necessário administrá-la em quantidades elevadas, entre 600 a 900 mg, em dose única ou divididos em duas doses (MUKHARYA et al., 2010). Tais características resultam em um fator limitante para a biodisponibilidade no uso oral da GFB (VILLAR et al., 2012). Diferentes métodos tem sido explorados para melhorar a dissolução de fármacos fracamente solúveis em água, tais como reações químicas que convertem a estrutura do fármaco na forma salina, a qual geralmente é mais solúvel (TRAPANI et al., 1998); redução do tamanho de partícula, aumentando a área superficial do fármaco e, consequentemente, a taxa de dissolução em meio aquoso (CHEN et al., 2010); redução da cristalinidade do fármaco (GUO; SHALAEV; SMITH, 2013); formulação de dispersões sólidas contendo o fármaco (ADIBKIA et al., 2013). 3 Dentre os métodos citados como exemplo, destaca-se a formulação de dispersões sólidas, que é considerada uma das estratégias mais eficazes para melhorar o perfil de dissolução de fármacos com baixa solubilidade aquosa (ADIBKIA et al., 2013). Numerosos estudos em dispersões sólidas foram publicados e mostraram muitas propriedades vantajosas destas formulações em melhorar a taxa de solubilidade e de dissolução de substâncias ativas pouco solúveis em água (AGRAWAL et al., 2013; BETAGERI, 1995; DJURIS et al., 2013; PAUDEL et al., 2013). Estas vantagens incluem a redução do tamanho das partículas, possivelmente a nível molecular, aumentando a molhabilidade e porosidade da forma farmacêutica final, bem como alterando o estado cristalino do fármaco para o estado amorfo (CHADHA; BHANDARI, 2014). De modo geral, as formas amorfas são mais solúveis que as formas cristalinas e possuem maior velocidade de dissolução (ADIBKIA et al., 2013). A produção de dispersões sólidas, pode ser realizada por diferentes métodos, dentre os quais a técnica de spray drying (ADIBKIA et al., 2013) e hot melt extrusion (AGRAWAL et al., 2013) são mais recentes e já utilizadas pela indústria farmacêutica para esta finalidade. A técnica de secagem por liofilização, mesmo não sendo desenvolvida com a finalidade de produção de dispersões sólidas (KASPER; WINTER; FRIESS, 2013) é um método alternativo para a produção destas formulações, uma vez que a incorporação do fármaco na matriz polimérica ocorre com stress térmico mínimo durante a fase de secagem, o que auxilia na estabilidade da substância ativa (VO; PARK; LEE, 2013). Para obtenção de dispersões sólidas pelo método de liofilização, o fármaco e o veículo são co-dissolvidos em um solvente, congelados e submetidos a um processo de sublimação sob vácuo (KASPER; FRIESS, 2011). A desvantagem deste método é que a maioria dos solventes orgânicos, muitas vezes utilizados para o desenvolvimento das dispersões sólidas, possui temperatura de solidificação baixa, e não permanecem congelados durante o processo de sublimação, no entanto a técnica de liofilização não precisa, necessariamente, ser desenvolvida com o uso destes solventes (VO; PARK; LEE, 2013). Embora o uso destas substâncias seja ainda muito corriqueiro nas indústrias química e farmacêutica, a atual preocupação com o meio ambiente está reduzindo este uso com a busca de novas alternativas substitutivas, uma vez que, além de serem compostos que prejudicam a 4 camada de ozônio, podem ainda levar a danos à saúde, principalmente da mão de obra envolvida na produção. Outro aspecto importante para ser avaliado durante a fase de desenvolvimento de formas farmacêuticas sólidas de uso oral, é a presença de incompatibilidades entre o fármaco e os excipientes utilizados (TIŢA et al., 2011). Para que a formulação final desenvolvida seja bem sucedida, é necessária uma seleção cuidadosa dos excipientes, uma vez que não há uma padronização universal que avalie a compatibilidade entre o fármaco e os outros componentes da formulação (BORBA et al., 2014). Esta avaliação é essencial para garantir que o fármaco não sofrerá influências físicas e/ou químicas dos excipientes, as quais poderão alterar a estabilidade e biodisponibilidade e, consequentemente, a eficácia e segurança terapêutica deste medicamento (TITA et. al., 2011) Neste contexto, o objetivo principal deste trabalho foi compor uma dispersão sólida contendo GFB visando aumentar a solubilidade em meio aquoso e reduzir a cristalinidade do fármaco. 5 1. OBJETIVOS 1.1 Geral Preparar e caracterizar dispersões sólidas contendo GFB por meio da técnica de liofilização. 1.2 Específicos ₋ Analisar a compatibilidade da GFB com excipientes selecionados para o desenvolvimento das formulações. ₋ Obter dispersões sólidas poliméricas contendo GFB; ₋ Validar metodologia analítica espectrofotométrica para caracterização das dispersões sólidas obtidas; ₋ Caracterizar as dispersões sólidas obtidas quanto ao teor de fármaco e ao perfil de dissolução. 6 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 GFB A GFB, ácido 5-(2-5-dimetilfenóxi)-2,2-dimetilpentanóico, apresenta-se na forma de pó cristalino, branco ou quase branco, ceroso e com faixa de fusão entre 58 e 61 ºC. É praticamente insolúvel em água, facilmente solúvel em metanol e etanol (BP, 2013), e apresenta pKa aparente de 4,7 (HUANGA et al., 2008). Os fibratos, tais como a GFB, diminuem os níveis de triglicerídeos e tem sido utilizados para diminuir o risco de eventos cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais em pacientes com altos níveis de triglicerídeos e baixos níveis de colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) (MILLER et al., 2002). A GFB tem atividade agonista sobre os receptores ativados por proliferadores peroxissomais alfa (PPARα), os quais, dentre outras funções, desempenham importante papel no metabolismo de carboidratos e lipídios (MILLER et al., 2002). Os PPARs são fatores de transcrição ligantes dependentes que regulam a expressão do gene-alvo pela ligação com elementos específicos responsivos aos proliferadores de peroxissoma (PPREs) situados em sítios regulatórios de cada gene. Sob atuação de agonistas, a conformação do PPAR é alterada e estabilizada, criando um sítio de ligação, com posterior recrutamento de coativadores transcricionais, resultando em aumento na transcrição gênica. (TAVARES; HIRATA; HIRATA, 2007). Os PPARα são predominantemente expressos em tecidos em que há catabolismo de ácidos graxos, como fígado, rins, coração e músculos, e são estimulados por ligantes naturais, como ácidos graxos e eicosanoides, (ex. leucotrienos B4), ou sintéticos, como os fibratos (CLAUSELL; TAVARES, 2004). Os fibratos possuem ainda vários efeitos pleiotrópicos, os quais incluem propriedades cardioprotetoras, como a melhora da sensibilidade à insulina, protegendo assim contra o diabetes tipo II, e o aumento da adiponectina circulante, a qual modula vários efeitos metabólicos, incluindo a regulação da glicemia e o catabolismo de ácido graxos (SAHEBKAR; WATTS, 2013). Por ser um fármaco com características lipofílicas e baixa solubilidade nos fluidos gastrointestinais, a GFB tem sido objeto de alguns estudos que têm como objetivo o aumento da biodisponibilidade deste fármaco por via oral. As estratégias 7 propostas na literatura para melhorar o perfil de dissolução da GFB incluem a micronização (HUANG et al., 2008), a obtenção de dispersões sólidas pelo método de fusão (SZÜTS et al., 2011), a sonocristalização (AMBRUS et al., 2012) e a obtenção de nanoemulsões (VILLAR et al., 2012). 2.2 Técnicas de caracterização de fármacos – Termogravimetria, calorimetria diferencial exploratória e espectroscopia de absorção no infravermelho A caracterização completa de um fármaco e dos outros componentes da formulação é parte fundamental da fase de desenvolvimento de novos medicamentos, uma vez que estes ensaios auxiliam na garantia da eficácia, segurança e estabilidade do produto finalizado (CHADHA; BHANDARI, 2014; OLIVEIRA; YOSHIDA; GOMES, 2011). Muitas são as técnicas analíticas utilizadas para estas caracterizações, as quais podem ter como objetivos a avaliação da compatibilidade entre o fármaco e os outros componentes da fórmula, da estrutura do fármaco (amorfa ou cristalina), da superfície, da morfologia e da estabilidade térmica. Dentre estas técnicas usadas com frequência para estudos de rastreio de incompatibilidade podem ser citados métodos térmicos, tais como calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG/DTG) e microcalorimetria isotérmica de análise da estrutura. Para identificação de grupos funcionais pode ser citado o método de espectroscopia de absorção no infravermelho, registrado muitas vezes em espectrômetros com transformada de Fourier (FTIR). A microscopia eletrônica de varredura (MEV) tem como objetivo verificar a morfologia de partículas ou formas farmacêuticas contendo o fármaco. Já as técnicas cromatográficas como a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e a cromatografia gasosa (GC) permitem quantificar os componentes presentes e de interesse nas formulações (CHADHA; BHANDARI, 2014). Existem na literatura vários estudos relacionados à aplicação das técnicas termogravimétricas TG/DTG e DSC na caracterização, avaliação de pureza, compatibilidade de formulação farmacêutica, identificação de polimorfismo, estabilidade e decomposição térmica de fármacos e medicamentos (BORBA et al., 2014; CHADHA; BHANDARI, 2014; MURA et al., 1995; TIŢA et al., 2011). 8 A TGA é utilizada para medir a variação de massa em função da temperatura em uma atmosfera controlada sob um programa de aquecimento. Para fins farmacêuticos, este uso é descrito na caracterização, determinação de pureza e de umidade, na avaliação da estabilidade de fármacos e medicamentos e em estudos de cinética de degradação (BORBA et al., 2014; CHADHA; BHANDARI, 2014). A DSC é utilizada para medir a diferença de fluxo de calor entre uma substância e um material de referência em função de um programa de aquecimento ou resfriamento. Na área farmacêutica é utilizada na caracterização térmica e determinação da pureza de fármacos, estudos de compatibilidade entre os constituintes da formulação e identificação de polimorfismo com determinação das entalpias de cada forma cristalina (GUO; SHALAEV; SMITH, 2013). A DSC é uma técnica térmica utilizada para a caracterização de dispersões sólidas, pois fornece informações precisas sobre a temperatura de fusão, temperatura de transição vítrea, bem como as mudanças de energia associadas com as transições de fase, incluindo cristalização e processo de fusão. A ausência de um pico de fusão do fármaco na curva de DSC de uma dispersão sólida indica que este fármaco encontra-se na forma amorfa (VO; PARK; LEE, 2013). Como vantagens dos métodos de TG/DTG e DSC podem ser citadas: a pequena quantidade de amostra necessária; a fácil detecção de interações físicas (como a conversão da fase cristalina em amorfa); e como desvantagens as de que estas técnicas não são úteis para variações térmicas muito pequenas; e que são métodos destrutivos para a amostra (CHADHA; BHANDARI, 2014). A espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), é uma ferramenta analítica eficiente para investigar a natureza e a extensão de interações entre moléculas de fármaco e de excipientes, ou ainda avaliar modificações ou características moleculares inerentes à substância ativa (CHADHA; BHANDARI, 2014). As alterações no dipolo oscilante das moléculas, devido às interações, se apresentam como alterações no número de ondas e na largura de bandas de grupamentos químicos específicos, em comparação com as dos componentes individuais (GUO; SHALAEV; SMITH, 2013). Podem-se citar como vantagens das análises por FTIR a fácil detecção de incompatibilidade devido à presença de faixas exclusivas para cada molécula; pequena quantidade de amostra; obtenção rápida dos dados de análise; disponibilidade de bibliotecas espectrais. Como desvantagens 9 podem ser citadas a necessidade de preparo da amostra (exceto para modo ATR – refletância total atenuada); interferência da umidade do ambiente (CHADHA; BHANDARI, 2014). 2.3 Excipientes e polímeros Os excipientes, por definição, são substâncias farmacêuticas auxiliares que, do ponto de vista farmacológico, são inativos, permitem que o princípio ativo tenha uma determinada forma farmacêutica e são inclusos nas formulações intencionalmente (CHAUDHARI et al., 2012). Estes materiais podem ter diferentes funções, algumas delas relacionadas com as características organolépticas, como os agentes edulcorantes e aromatizantes, outros relacionados à estabilidade do fármaco, como os antioxidantes ou ainda relacionados à aparência, como corantes e agentes de revestimento. Há excipientes que contribuem para liberação do fármaco, como os agentes desintegrantes, presentes em comprimidos, ou para o processamento do fármaco durante a fabricação, como os deslizantes e lubrificantes. Os fármacos com baixa solubilidade, na maioria das vezes, requerem excipientes como tensoativos ou agentes molhantes a fim de facilitar ou acelerar a liberação da substância ativa e melhorar o perfil de dissolução, o qual é essencial para a absorção adequada e eficácia do medicamento (GARCÍA-ARIETA, 2014). Atualmente, o conceito de “substância inativa” utilizado para os excipientes está em desuso, uma vez que, do ponto de vista biofarmacêutico e tecnológico, há funcionalidade destas substâncias no produto final (CHAUDHARI et al., 2012). Os polímeros fazem parte do cotidiano e representam uma das classes de materiais mais versáteis que existem, apresentando inúmeras aplicações, entre as quais, no setor farmacêutico (VILLANOVA; ORÉFICE; CUNHA, 2010). Os polímeros naturais, naturais modificados e sintéticos são empregados como excipientes farmacêuticos para a formulação de cosméticos e medicamentos de liberação convencional e de liberação modificada. Os polímeros biodegradáveis, bioadesivos, biomiméticos e hidrogéis responsivos têm sido amplamente incluídos em formulações farmacêuticas (VILLANOVA; ORÉFICE; CUNHA, 2010). 10 As copovidonas são polímeros de cor branca ou levemente amarelados, com partículas de tamanho fino e excelentes propriedades deslizantes e desintegrantes. Geralmente são utilizadas em formulações de comprimidos processados por compressão direta ou indireta, pastilhas e granulados (CHAUDHARI et al., 2012). O Kollidon® VA64 é uma copovidona, denominada quimicamente como vinilpirrolidona-co-acetato de vinila, é um polímero utilizado na área farmacêutica como carreador hidrofílico em formulações de dispersões sólidas, como aglutinante e desintegrante na granulação por via seca e úmida, ou na compressão direta de comprimidos. Também atua como agente formador de película para revestimento de comprimidos, com o intuito de melhorar a aparência e mascarar o sabor desta forma farmacêutica (BASF, 2014). A crospovidona ou Kollidon® CL-SF, denominado quimicamente polivinilpirrolidona reticulada, tem como principal função na área farmacêutica a ação super-desintegrante, em especial para comprimidos convencionais e sublinguais. Este componente melhora a biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis e pode ser utilizado em processos de granulação seca ou granulação úmida seguida de compressão para produção de comprimidos (BASF, 2014). O dióxido de silício coloidal, comercialmente denominado Aerosil® 200, apresenta fórmula molecular composta por dois átomos de oxigênio ligadas a um átomo de silício (SiO2), cor branca, característica muito fina, amorfa e higroscópica (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). Este excipiente é amplamente utilizado em produtos farmacêuticos, cosméticos e produtos alimentícios, com diferentes finalidades e concentrações (ROWE; SHESKEY; OWEN, 2009). Por apresentar tamanho de partícula pequeno e grande área superficial específica concede características de fluxo desejáveis, as quais são exploradas para melhorar as propriedades de escoamento de pós em processos de produção de comprimidos, cápsulas e outras formas farmacêuticas sólidas (SCHAFFAZICK, 2003). É também utilizado para estabilização de emulsões, como espessante ou agente de suspensão em géis e preparações semi-sólidas, como desintegrante na formulação de comprimidos e adjuvante no processo de liofilização de nanocápsulas e nanoesferas (ROWE; SHESKEY; OWEN, 2009). 11 2.4 Técnicas para obtenção de dispersões sólidas - Liofilização Várias técnicas para melhorar a solubilidade aquosa de fármacos pouco solúveis vêm sendo investigadas na pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. Dentre elas, podem ser citadas a formação de pró-drogas (RAUTIO et al., 2008), a redução do tamanho das partículas (RABINOW, 2004), a complexação com estruturas polares, como as dextrinas (LOFTSSON; DUCHENE, 2007), a formação de micelas (LAVASANIFAR; SAMUEL; KWON; 2002), a formulação de micro emulsões (MUELLER et al., 1994), de nanoemulsões (FATOUROS et al., 2007), de nanossuspensões (MÛLLER; PETTERS, 1998), ou de nanopartículas (POTTA, 2010) e a formulação de dispersões sólidas (PAUDEL et al., 2013) que é considerada uma das estratégias mais eficazes para melhorar o perfil de dissolução destas substâncias ativas pouco solúveis (VO; PARK; LEE, 2013). Em comparação com outras técnicas utilizadas para melhorar a biodisponibilidade de fármacos, as dispersões sólidas apresentam muitas vantagens importantes. O processo de preparação destas formulações, por exemplo, é mais simples e aplicável do que outras técnicas, tais como a formação de sal ou preparo de nanopartículas e nanoemulsões, as quais envolvem processos mais longos e, consequentemente, com maior tempo produção (VO; PARK; LEE, 2013). Deste modo, as dispersões sólidas representam uma técnica farmacêutica útil para aumentar a dissolução, absorção, biodisponibilidade e, consequentemente, a eficácia terapêutica de fármacos fracamente solúveis em água. Os mecanismos envolvidos que levam ao aumento da solubilidade do fármaco incluem a redução do tamanho de partícula e, como resultado, o aumento de superfície de contato do fármaco com o meio; e a conversão de formas cristalinas do fármaco para formas parcial ou totalmente amorfas (ADIBKIA et al., 2013). A técnica de liofilização, de forma geral, é amplamente utilizada na indústria farmacêutica e de alimentos para secagem de produtos de origem biológica. Cerca de 50% dos produtos biofarmacêuticos, como culturas bacterianas e proteínas, atualmente comercializados são liofilizados com o intuito de aumentar a estabilidade, pois esta técnica representa uma estratégia de formulação comum para esta finalidade, uma vez que no estado sólido liofilizado as reações químicas e a 12 degradação física são inibidas ou desaceleradas e as características bioquímicas e nutricionais são mantidas (KASPER; FRIESS, 2011). Segundo descrito por VO, PARK & LEE (2013), a técnica de liofilização pode ser aplicada para outras finalidades na área farmacêutica, como a produção de comprimidos sublinguais e comprimidos dispersíveis. Além de ser uma metodologia já empregada para formulações de produtos injetáveis para reconstituição, a liofilização de fármacos pode ser utilizada também para a formulação de micro e nanopartículas para sistemas de liberação modificada, uma vez que esta técnica é realizada sem o uso de aquecimento, protegendo fármacos termolábeis da degradação térmica que pode ser ocasionada pelo uso de outras metodologias de secagem aplicadas à produção de sistemas particulados (KASPER; WINTER; FRIESS, 2013). Segundo Kasper (2011), a técnica de liofilização para obtenção de dispersões sólidas possui um grande potencial para melhorar significativamente a solubilidade e a taxa de dissolução de fármacos pouco solúveis. 13 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais Os materiais e equipamentos utilizados neste trabalho estão dispostos no Quadro 1 com os respectivos fornecedores/fabricantes e os modelos, quando necessários: Quadro 1: Materiais e equipamentos utilizados no desenvolvimento deste trabalho. Fármaco GFB Fornecedor Henrifarma Produtos Químicos e Farmacêuticos Excipientes Aerosil 200 (Dióxido de silício coloidal) Fornecedor Pharmaspecial Especialidades Kollidon® CL-SF BASF S.A (Crospovidona) Kollidon® VA64 BASF S.A Lutrol® F68 (Poloxamer 188) BASF S.A Óleo essencial de alecrim Herbia Cosméticos Naturais e Orgânicos Polissorbato 80 (Spam 80) Sigma Aldich Equipamentos Chapa aquecedora com agitação magnética Modelo e Fabricante Q261 - Quimis Equipamentos Dissolutor de cápsulas e 299/6 - Nova Ética comprimidos Calorímetro de varredura Q20 - TA Instruments diferencial Difratômetro de Raio-X XDR6000 - Shimadzu 14 1603 – Shimadzu Espectrofotômetro de absorção no ultravioleta visível (UV-Vis) Espectrofotômetro de absorção no infravermelho Perkin-Elmer - Spectrum One B por transformada de Fourier Liofilizador Shaker rotativo Fauvel LT 1000/8 – Terroni equipamentos científicos 25D – New Brunswick Scientific CO Termobalança TGA Q50 - TA Instruments 3.2 Organização experimental da pesquisa Na Figura 1, pode-se observar um fluxograma experimental das etapas que compuseram este trabalho: Figura 1: Fluxograma experimental da metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho. 15 3.3 Ensaios de compatibilidade entre excipientes e fármaco As misturas físicas de GFB com cada um dos excipientes sólidos selecionados (Aerosil® 200, Kollidon® CL-SF, Kollidon® VA64, Lutrol® F68) foram preparadas nas proporções de 1:1 (m:m) por simples homogeneização dos componentes em recipiente fechado sob agitação manual por cerca de dois minutos. A razão de 1:1 foi escolhida, a fim de maximizar a possibilidade de observar quaisquer interações (TIŢA et al., 2011). A GFB, os excipientes puros, e as misturas entre fármaco e excipientes foram submetidos às análises de DSC, TGA e FTIR. 3.3.1 Análises térmicas As curvas de DSC foram obtidas sob atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1), empregando-se cadinhos de alumínio hermeticamente fechados, contendo 4-5 mg de amostra. A faixa de temperatura utilizada foi de 25 a 500 °C, a uma razão de aquecimento de 10 °C min-1. A célula DSC foi calibrada com índio utilizando as mesmas condições das amostras. O grau de cristalinidade das amostras (Xc) foi calculado utilizando-se a Equação 1: Equação 1 Na qual: ∆Hm = entalpia de fusão experimental (J g-1) ∆Hmt = entalpia de fusão teórica considerando o fármaco 100% cristalino (Jg-1) As curvas TG/DTG foram obtidas na faixa de temperatura de 25-350 °C, sob atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1), a uma razão de aquecimento de 10 °C min-1, utilizando cadinho de platina contendo aproximadamente 3 mg da amostra. O equipamento TGA foi calibrado utilizando níquel. Os resultados obtidos das análises de DSC e TGA foram avaliados em software TA Universal Analysis. 3.3.2 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) Os espectros de FTIR foram obtidos utilizando-se pastilhas de brometo de potássio (KBr) contendo cada uma das amostras (fármaco, excipientes puros e 16 misturas 1:1 fármaco/excipiente). Para o preparo das pastilhas, triturou-se 300 mg de KBr e 1 mg de amostra até a mistura tornar-se homogênea e opaca. Esta mistura foi prensada com força de compressão de 10 t. As pastilhas foram inseridas no espectrofotômetro e submetidas a 12 varreduras na região de 4000 a 400 cm-1, utilizando uma resolução de 4 cm-1. Os espectros foram agrupados utilizando GraphPad Prism 6.0. 3.4 Preparação das emulsões para secagem em liofilizador Após a realização de alguns ensaios preliminares, observou-se que a presença de Aerosil 200 e os teores de óleo de alecrim (Rosmarinus officinalis) e fármaco influenciavam o comportamento do perfil de dissolução da genfibrozila. Com base nestas informações, foram preparadas quatro formulações, denominadas FA, FB, FC e FD, cujas composições podem ser observadas no Quadro 2: Quadro 2: Composição das formulações FA, FB, FC e FD e respectivas fases da emulsão nas quais os componentes estão inseridos. Componentes Fase FA (%)* FB (%)* FC (%)* FD (%)* Genfibrozila Oleosa 2 2 2 4 Óleo de alecrim Oleosa 5 5 2 2 Spam 80 Oleosa 1,025 1,025 1,025 1,025 Aerosil® Aquosa 0 2,5 2,5 2,5 Kollidon® VA64 Aquosa 2 2 2 2 Kollidon® CL-SF Aquosa 0,25 0,25 0,25 0,25 Lutrol® F68 Aquosa 1,425 1,425 1,425 1,425 (Rosmarinus officinalis) * Percentuais em massa (m:m). As quatro formulações foram preparadas empregando o mesmo procedimento, para um volume total de 100 mL, utilizando água como veículo. Todos os componentes da fase oleosa foram aquecidos a 40 °C sob agitação de 50 rpm até completa solubilização. Para compor a fase externa da emulsão (aquosa) os componentes foram misturados em quantidade suficiente de água destilada, até formação de uma suspensão homogênea. A fase oleosa foi vertida sobre a fase 17 aquosa, sob agitação em agitador magnético a 50 rpm. O volume final foi completado com água destilada. 3.5 Liofilização das emulsões As emulsões preparadas foram congeladas a uma temperatura de – 8 °C em congelador, por 24 horas. Após congeladas foram submetidas ao liofilizador para secagem por 8 – 12 horas até completa sublimação da água presente nas amostras. Estas amostras foram coletadas e determinou-se o rendimento de cada uma delas, por meio da relação entre a massa total prévia à liofilização (descontando-se a água) e a massa total após o processo de liofilização. Para ser convertido em porcentagem, o valor foi multiplicado por 100. 3.6 Validação de método analítico espectrofotométrico na região do UV-Vis para caracterização das dispersões sólidas obtidas Para validação do método analítico foram avaliados os parâmetros de linearidade, especificidade, precisão e exatidão, de acordo com a Resolução R n 899, de 29 de Maio de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e seguindo as recomendações da The International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for Registration of Pharmaceuticals for Human Use (ICH). A validação realizada refere-se aos métodos de quantificação do fármaco GFB por espectrofotometria UV-Vis, utilizados para o doseamento e para a etapa quantitativa do ensaio do perfil de dissolução das formulações. Os solventes utilizados foram etanol PA para o ensaio de doseamento, selecionado devido à alta solubilidade do fármaco GFB no mesmo (Farmacopéia Brasileira, 2010) e tampão fosfato pH 6,8 para o ensaio de dissolução. Este meio foi preparado conforme a formulação descrita na United States Pharmacopeia (2013) e selecionado por ter pH semelhante ao dos fluidos intestinais. Para a realização dos ensaios de especificidade e exatidão foi preparada uma formulação denominada “dispersão sólida placebo”, a qual foi produzida nas mesmas condições em que dispersões sólidas contendo o fármaco foram preparadas, porém sem a presença da GFB. As concentrações utilizadas foram as 18 mesmas das formulações FC, uma vez que esta contém os maiores teores de todos os excipientes empregados. A análise estatística dos dados foi realizada por meio da análise de variância ANOVA unifatorial, na qual os resultados são considerados significativos quando a probabilidade é inferior a 5% (p < 0,05, intervalo de confiança de 95%). A avaliação estatística dos resultados foi realizada através do software Microsoft Office Excel®, versão 2013. 3.6.1 Especificidade A especificidade do método foi avaliada por meio de análises comparativas entre soluções contendo a dispersão sólida placebo e soluções de GFB. Para tal, preparou-se uma solução com o fármaco na concentração de 50 mg L-1 e uma solução composta pela dispersão sólida placebo. A solução placebo foi preparada na concentração de 190 mg L-1, que corresponde à faixa de concentração de excipientes utilizadas nos ensaios de caracterização das formulações. Este procedimento foi realizado empregando-se etanol PA e tampão fosfato como solventes, a fim de avaliar este parâmetro tanto para o doseamento quanto para o perfil de dissolução. As soluções padrão e placebo foram centrifugadas por 10 minutos a 3000 rpm; os sobrenadantes foram coletados e submetidos às varreduras espectrais na faixa de 200-400 nm do UV-Vis. 3.6.2 Linearidade A linearidade foi determinada por meio do preparo de soluções de GFB em etanol PA, nas concentrações de 25, 50, 75, 100, 125 e 150 mg L-1, em triplicata. As respectivas absorbâncias destas soluções foram determinadas em espectrofotômetro UV-Vis, no comprimento de onda de 276 nm. O mesmo procedimento foi executado utilizando-se tampão fosfato pH 6,8 como solvente. A construção das curvas analíticas foi realizada relacionando-se os valores de concentração em mg L-1 no eixo das abscissas com a média dos valores das absorbâncias respectivas a cada concentração no eixo das ordenadas. A linearidade foi estimada por regressão linear. 19 3.6.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD) Os limites de quantificação (LQ) e de detecção (LD) foram calculados a partir das curvas de calibração. Calculou-se LD e LQ a partir das equações 3,3σ/S e 10σ/S, respectivamente, na qual σ é o desvio padrão da resposta e S é o coeficiente angular da curva (ICH, 2005) 3.6.4 Precisão Para avaliação da repetibilidade (precisão intra-corrida) foram preparadas amostras do fármaco solubilizado em etanol PA, nas concentrações de 25, 50 e 75 mg L-1, em triplicata, totalizando nove amostras, em diferentes períodos do dia (manhã, tarde e noite) sob as mesmas condições experimentais. O procedimento foi repetido utilizando-se tampão fosfato pH 6,8 como solvente, nas mesmas concentrações. A precisão intermediária (precisão inter-corrida) foi avaliada por meio dos resultados obtidos pelas análises das amostras nas mesmas concentrações de 25, 50 e 75 mg L-1, em triplicata, em dias seguidos e distintos, por analistas diferentes, com os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8. As absorbâncias das soluções foram quantificadas a 276 nm. Após as leituras, foram calculados o desvio padrão e o coeficiente de variação das absorbâncias das amostras com cada um dos solventes. 3.6.5 Exatidão A exatidão foi avaliada pelo método de recuperação do analito, no qual foram preparadas soluções de GFB em três concentrações diferentes: 25, 50 e 75 mg L-1, em triplicata, utilizando etanol PA como solvente, totalizando nove amostras. O procedimento foi repetido utilizando-se tampão fosfato pH 6,8 como solvente, nas mesmas concentrações. Estas amostras foram contaminadas com quantidades conhecidas e iguais da dispersão sólida placebo. Após o preparo das soluções, estas foram centrifugas por 10 minutos a 3000 rpm. O sobrenadante foi coletado e as absorbâncias destas amostras foram quantificadas a 276 nm. Os valores de recuperação foram determinados a partir das respostas analíticas obtidas das 20 soluções finais em função da quantidade teórica de padrão adicionado, conforme a Equação 2. Equação 2 3.7 Estudo de solubilidade do fármaco Foram preparadas, em triplicata, soluções contendo 50 mg de GFB em 10 mL de tampão fosfato pH 6,8, as quais foram submetidas à agitação de 100 rpm, em shaker rotativo, à 37 °C, por 48 h. Duas coletas foram realizadas, nos tempos de 24 h e 48 h, as quais foram centrifugas à 3000 rpm, por 10 minutos. As absorbâncias destas amostras foram quantificadas em 276 nm. 3.8 Caracterização das dispersões sólidas obtidas 3.8.1 Determinação do teor de fármaco nas amostras Para a determinação do teor de fármaco das amostras, foi utilizado o método de espectrofotometria UV-Vis, previamente validado para esta finalidade, conforme descrito no item 3.6.1. Foram utilizadas alíquotas das formulações FA, FB, FC e FD, correspondentes a uma massa conhecida de ativo, as quais foram posteriormente solubilizadas em etanol PA e diluídas até a concentração teórica de 50 mg L-1 de GFB. O procedimento foi realizado em triplicata. As absorbâncias de cada uma das soluções foram quantificadas a 276 nm. A equação da reta proveniente da curva de calibração utilizada para o cálculo do teor de cada uma das formulações foi a mesma descrita no item 3.6.1. 3.8.2 Perfil de dissolução Amostras de cada uma das formulações, equivalentes a 50 mg de genfibrozila, foram submetidas ao ensaio de dissolução, no qual foi utilizado aparato 21 2 (pá), nas condições experimentais de 50 rpm, com 900 mL de meio de dissolução (tampão fosfato pH 6,8) e temperatura de 37 ± 0,5 ºC. As condições sink foram mantidas. Alíquotas de 5 mL foram coletadas em 10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos, submetidas à centrifugação por 10 minutos a 3000 rpm, e então à leitura (sobrenadante) por meio de método espectrofotométrico, no comprimento de onda de 276 nm. O ensaio foi realizado em triplicata. A porcentagem de fármaco dissolvido foi calculada utilizando-se a curva de calibração obtida para o meio tampão. 3.8.3 Calorimetria diferencial exploratória (DSC) As curvas de DSC das formulações FA, FB, FC e FD foram obtidas sob as mesmas condições descritas no item 3.3.1. Os resultados obtidos foram analisados em software TA Universal Analysis. O grau de cristalinidade das amostras foi calculado utilizando-se a equação 1, descrita no item 3.3.1. 3.8.4 Difração de Raio-X (DRX) Os difratogramas das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada foram obtidos em um difratômetro de Raio-X modelo XRD 600, Shimadzu. A fonte de radiação utilizada foi CuKα, com 2θ, voltagem de 40 KV e corrente de 30 mA. Os resultados das análises foram agrupados em software GraphPad Prism 6.0. 3.8.5 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) Os espectros de FTIR das formulações FA, FB, FC e FD foram obtidos utilizando-se pastilhas de brometo de potássio (KBr) contendo cada uma das amostras. Para o preparo das pastilhas, procedeu-se utilizando o mesmo procedimento descrito no item 3.3.2. Os espectros foram agrupados utilizando GraphPad Prism 6.0. 22 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Seleção dos excipientes utilizados nas emulsões Os excipientes utilizados foram selecionados de acordo com a função que desempenham na formulação final, sugerindo que a partir das dispersões sólidas obtidas poderão ser produzidos comprimidos. Deste modo, o Kollidon® CLSF foi escolhido com o intuito de atuar como super-desintegrante da formulação, auxiliando não só na desintegração, mas também na molhabilidade e dissolução do fármaco nos fluidos gastrointestinais. O Kollidon® VA64, possui função semelhante e, além de atuar na desintegração, auxilia também no processo de compressão de comprimidos, característica que facilitaria o uso das dispersões sólidas para a produção desta forma farmacêutica. O óleo essencial de alecrim (Rosmarinus officinalis L.) foi selecionado para solubilizar a GFB na fase oleosa da emulsão, uma vez que este fármaco possui características moleculares lipofílicas. Villar e colaboradores (2012) utilizaram óleos essenciais de limão, anis e hortelã para a produção de sistemas auto-emulsionantes contendo GFB e obtiverem bons resultados na solubilização do fármaco. Além disso, o óleo de alecrim (Rosmarinus officinalis L.) apresenta baixa temperatura de ebulição e alta volatilidade, o que permite que o mesmo seja carreado junto à água no processo de liofilização. O spam 80, assim como o Lutrol® F68, foram selecionados com a finalidade de estabilizar a interface água/óleo da emulsão, tornando-a homogênea a fim de que os componentes não se separem durante o processo de liofilização, o qual leva cerca de 12 horas para ser finalizado. Por fim, o Aerosil® 200 foi adicionado às formulações com o intuito de adsorver possíveis quantidades residuais de óleo de alecrim (Rosmarinus officinalis L.), auxiliar como dessecante, reduzindo a umidade das formulações e como desintegrante. 4.2 Estudo de compatibilidade entre GFB e excipientes 23 4.2.1 Análises térmicas As curvas DSC da GFB pura e de cada um dos excipientes avaliados estão representadas na Figura 2. Figura 2: Curvas de DSC do fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68 Por meio da análise das curvas de DSC relacionadas na Figura 2, observa-se que a GFB apresenta valor de T m de 61,8 °C e ∆Hm de 115 J g-1, valores correspondentes aos descritos na literatura por Villar (2012). A presença do evento endotérmico que caracteriza a fusão do material é indicativa de que a GFB apresenta estrutura molecular cristalina, o que também é condizente com a literatura (AIGNER et al., 2012). Assim como a GFB, o Lutrol® F68 também apresenta evento endotérmico, no qual Tm = 53 °C, valor compatível com a faixa de fusão descrita na literatura (KOLAŠINAC et al., 2012) e ∆Hm = 160 J g-1, aproximado ao valor de 156,8 J g-1, descrito por Schubert & Müller-Goymann (2003). A ausência do evento endotérmico, característico à fusão, é inerente a materiais com estrutura molecular amorfa, a qual é comum a todos os outros 24 excipientes avaliados (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF e Kollindon® VA64). O Aerosil® 200, apresenta característica estrutural amorfa e, em decorrência disto, não apresenta temperatura de fusão fixa, a qual ocorre em torno de 1600 °C e não permanece constante durante o processo de passagem do estado sólido para o estado líquido (ROWE; SHESKEY; OWEN, 2009). A Figura 3 apresenta as curvas de DSC obtidas para a GFB pura e para as misturas 1:1 (m/m) de GFB com os excipientes avaliados. Figura 3: Curvas de DSC da GFB pura e das misturas GFB/excipientes. De acordo com as curvas de DSC exibidas, todas as misturas binárias apresentam o evento endotérmico característico de fusão da GFB e, no caso da mistura binária GFB/Lutrol® F68, além do evento endotérmico de fusão do fármaco, há também o pico característico da fusão do Lutrol® F68. Em outras palavras, os valores de Tm das misturas entre GFB e cada um dos excipientes, permanece praticamente inalterado, quando comparado ao valor de Tm da GFB pura. Neste sentido, as curvas térmicas das misturas binárias podem ser consideradas como 25 uma sobreposição das curvas de GFB e excipientes isolados, evidenciando a ausência de interações entre estes componentes. Os valores de Tm e ∆Hm extraídos das curvas de DSC obtidas, bem como os valores de Xc calculados estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1: Dados de análise de DSC do fármaco GFB e das misturas GFB/excipiente. Tm (°C) ∆Hm (J g-1) Xc (%) 61,8 - 115 98,7 GFB Aerosil 60,6 - 16,6 - GFB Kollidon CLSF 60,0 - 19,1 - GFB Kollidon VA64 60,0 - 23,8 - GFB Lutrol F68 61,3 - 9,0 - Amostras Fármaco GFB Mistura fármaco/excipiente O valor de cristalinidade (Xc) do fármaco GFB foi calculado utilizando-se o valor de entalpia de fusão teórico (∆Hmt) do fármaco puro, o qual foi determinado por Chen e colaboradores (2010), e equivalente a 116,49 J g-1. A entalpia de fusão das misturas binárias entre GFB e excipiente, considerando que as mesmas estão na proporção de 1:1 (m:m), deve corresponder, teoricamente, à metade do valor de ∆Hm da GFB isolada, o que não ocorreu, provavelmente em função da pequena quantidade de amostra utilizada (4 – 5 mg). Outro fator que deve ser levado em consideração, além da massa das amostras, é a diferença de densidade entre os pós, pois mesmo as misturas tendo sido previamente homogeneizadas, o volume e o peso de cada uma das partículas impede que a amostragem ocorra de forma a ter exatos 50 % do fármaco e do excipiente (TIŢA et al., 2011). A técnica de DSC foi proposta por ser um método rápido para avaliar interações físico-químicas entre os componentes da formulação, por meio da comparação das curvas térmicas das substâncias puras com a curva obtida a partir de uma mistura física 1:1 (m:m) entre o fármaco e os outros componentes da formulação. (TIŢA et al., 2011). Por meio das análises das curvas de DSC obtidas, verificou-se que não houve deslocamento do pico de fusão do fármaco na presença dos componentes avaliados. 26 A Figura 4 apresenta as curvas de TG/DTG da GFB isolada. Figura 4: Curvas de TG/DTG da GFB isolada. A decomposição térmica da genfibrozila em atmosfera dinâmica de nitrogênio apresenta um único evento, sendo a Tonset em 142,3 °C, a qual indica a temperatura em que ocorre o início da perda de massa do fármaco. A DTG indica que a Tpico ocorre em 180 °C, temperatura na qual praticamente toda massa do fármaco foi decomposta (resíduo inferior a 5%). Os valores de Tonset e Tpico obtidos nas curvas da GFB correspondem aos valores apresentados na literatura (AIGNER et al., 2005). A Figura 5 apresenta as curvas de TGA dos excipientes isolados, enquanto a Tabela 2 relaciona os dados determinados a partir destas curvas. 27 Figura 5: Curvas de TGA dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria derivada (DTG). 28 Tabela 2: Dados de análise das curvas de TG/DTG dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). Amostras Aerosil® 200 Estágio de perda de massa Tonset (°C) Tpico (°C) Perda de massa (%) - - - 0 Kollidon® CLSF Único 346,8 381,2 59,7 Kollidon® VA64 1° 286,9 308,9 27,4 2° 406,0 408,0 27,8 1° 218,5 255,1 41,6 2° 319,0 361,6 45,7 Lutrol® F68 Por meio dos dados obtidos a partir da avaliação da Figura 5 observa-se que o Aerosil® 200 não sofre degradação durante o processo de aquecimento até 500 °C, temperatura na qual foram realizadas as análises termogravimétricas. Estes resultados estão em concordância com estudo realizado por Grangeiro e colaboradores (2006), o qual demonstrou que esse excipiente apresentou estabilidade térmica quando submetido ao aquecimento de 600 °C. O polímero Kollidon® CLSF apresenta um estágio único de perda de massa, o qual ocorre com Tonset em 346,8 °C, Tpico em 381,2 °C, e perda de massa de 59,7%. Já o Kollidon® VA64 apresenta três estágios de perda de massa, cujos valores de Tonset, Tpico e o percentual desta perda estão descritos para cada um dos estágios na Tabela 2. Os valores observados para o Kollidon® VA64, bem como o resíduo de decomposição após o último estágio de perda de massa estão coerentes com os valores descritos por Shin e colaboradores (1998). O Lutrol® F68 apresenta dois estágios de perda de massa, o primeiro ocorre com T onset em 218,5 °C, Tpico em 255,1 °C e perda de massa de 41,6%, enquanto o segundo ocorre com T onset em 319,0 °C, Tpico em 361,6 °C e perda de massa de 45,7 %. Embora todos os excipientes selecionados para as formulações sejam utilizados em larga escala na indústria farmacêutica (CASTELLANOS GIL et al., 2008), há poucos dados na literatura com relação a estudos térmicos e de compatibilidade destes materiais, tornando mais difícil a comparação dos dados obtidos com dados de outros estudos. 29 A Figura 6 apresenta as curvas de TG e DTG da GFB isolada e da mistura entre este fármaco e cada um dos excipientes, enquanto a Tabela 3 relaciona os dados determinados a partir destas curvas. Figura 6: Curvas de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria derivada (DTG). 30 Tabela 3: Dados de análise de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68) Amostras Estágio de perda Perda de Tonset (°C) Tpico (°C) Único 158,0 180,0 96,9 Único 154,1 180,9 43,4 1° 158,2 185,1 40,2 2° 352,2 376,1 30,9 1° 156,6 185,3 22,6 2° 281,6 305,2 25,9 3° 396,2 414,5 17,8 1° 212,4 254,9 48,5 2° 350,2 361,5 41,9 de massa massa (%) Fármaco GFB Mistura fármaco/excipiente GFB Aerosil® 200 GFB Kollidon® CLSF GFB Kollidon® VA64 GFB Lutrol® F68 A mistura GFB Aerosil® 200, diferentemente da curva deste excipiente isolado, passa a ter um estágio de perda de massa, o qual ocorre com T onset em 154,1 °C e Tpico em 180,9 °C, valores muito próximos aos observados para o fármaco isolado. A perda de massa deste estágio foi de 43,4 % que corresponde à cerca de metade do percentual de perda de massa da GFB pura, fato justificado pela proporção deste material na amostra (1:1). Estas análises permitem concluir que a estabilidade térmica da GFB não é afetada pela presença de Aerosil® 200. Os excipientes Kollidon® CLSF e Kollidon® VA64 quando misturados à GFB apresentaram um estágio de perda de massa adicional, ou seja, a mistura GFB Kollidon® CLSF passou a apresentar dois estágios, enquanto a mistura GFB Kollidon® VA64 passou a apresentar três. Assim como no caso da mistura GFB Aerosil® 200, a adição de um estágio de perda de massa ao termograma da amostra, deve-se ao fato de as curvas de cada um dos componentes se sobreporem. Deste modo, o primeiro estágio de perda de massa da amostra GFB Kollidon® CLSF apresentou Tonset em 158,2 °C e Tpico em 185,1 °C, valores muito próximos aos apresentados no termograma do fármaco isolado. A perda de massa neste primeiro estágio foi de 40,2 %, valor inferior ao equivalente à metade da perda 31 de massa do fármaco puro, no entanto este fato pode ser justificado pela pequena quantidade de amostra utilizada que, associada à diferença na densidade dos pós, pode levar a pequenas diferenças na proporção entre os componentes da mistura. O segundo estágio de perda de massa que ocorreu no termograma da amostra GFB Kollidon® CLSF é proveniente da decomposição do polímero, uma vez que os valores de Tonset e Tpico encontram-se muito próximos aos valores apresentados para o termograma deste excipiente isolado. Com a avaliação destes resultados pode-se afirmar que a estabilidade térmica da GFB não foi afetada pela presença do Kollidon® CLSF. A mistura GFB Kollidon® VA64 apresenta no primeiro estágio de perda de massa Tonset em 156,6 °C, Tpico em 185,3 °C, característicos do fármaco GFB, com perda de massa 22,6%. Com base nestes resultados, verificou-se uma pequena redução na estabilidade térmica da GFB na presença deste polímero e que a mistura entre o fármaco e o excipiente possivelmente não encontravam-se na razão de 1:1, uma vez que o valor do percentual de perda de massa não corresponde à metade do valor total da perda de massa do fármaco isolado. A amostra GFB Lutrol® F68 não apresentou alteração no número de estágios de perda de massa, bem como os valores de T onset, Tpico e porcentagem de perda de massa mantiveram-se semelhantes aos da amostra isolada. Estes resultados indicam que os eventos térmicos de degradação, característicos da GFB, ficaram encobertos pela curva do excipiente Lutrol® F68 ou ainda que, devido à pequena amostragem e diferenças nas densidades das partículas das amostras houve predominantemente maior concentração de Lutrol® F68 do que do fármaco GFB. Deste modo, não é possível avaliar se houve aumento da estabilidade térmica da GFB na presença deste excipiente. 4.2.2 FTIR As análises de FTIR foram realizadas com a GFB pura, com os excipientes isolados e com as misturas binárias entre estes componentes (GFB/excipiente). Com base nos dados obtidos por meio da avaliação dos espectrogramas das substâncias puras foi formulada a Tabela 4, a qual contempla os números de onda correspondentes às principais bandas presentes em cada um dos materiais, bem 32 como a estrutura molecular o que permite a correlação dessas bandas com os grupamentos funcionais presentes em cada molécula. Para facilitar a visualização os nomes dos componentes foram dispostos com as mesmas cores utilizadas nos espectrogramas, bem como as numerações das bandas foram dispostas com as mesmas cores utilizadas nas demarcações destas bandas nas respectivas figuras de cada um dos componentes. Tabela 4: Fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68 com respectivas estruturas moleculares de cada composto, bem como principais bandas presentes no espectrograma e grupos funcionais correspondentes Principais bandas Substância Estrutura molecular presentes e ligações e grupos funcionais correspondentes 3500: Estiramento ligações O-H de de ácido carboxílico; 3000: Estiramento de ligações C-H em cadeias aromáticas; 1760: Ácido livre – ligações C=O; 1700: Estiramento de ligações C=O com H; GFB 1430: Flexão de ligações O-H no plano; 1240: Estiramento de ligações C-O; 1100: Ligações C-O-C de éteres 930: Flexão de ligações OH fora do plano; 800: Estiramento ligações aromático. 33 C=C em de anel 3500: Ligações possível O-H, indicador de umidade na amostra. Aerosil® 200 1100: Estiramento assimétrico de ligações SiO-Si. 3500: Estiramento de ligações O-H; 2900: Estiramento de ligações C-H alifáticas; Kollidon® CLSF 1700: Estiramento de ligações C=O de cetonas de cadeia aromática; 1300: Estiramento de ligações C-N. 3450: Bandas OH – possível indicador de água na amostra. 2780: Estiramento de ligações CH2; 1750: Estiramento de ligações C=O de cadeia alifática; Kollidon® VA64 1705: Estiramento de ligações C=O de cadeia aromática; 1360: Estiramento de ligações C-N; 1100: Estiramento de cadeia C-O-C. 3600: Estiramento de ligações O-H; Lutrol® F68 2900: Estiramento ligações C-H; 34 de 1430: Ligações C-O-H fora do plano; 1240: Estiramento de ligações C-O; 1100: Estiramento de ligações C-O-C; 930: Ligações C-OH fora do plano. O espectrograma da GFB isolada com as principais bandas já identificadas é apresentado na Figura 7. Figura 7: Espectrograma da GFB isolada. Observa-se neste espectrograma o conjunto de bandas na região de 3000 cm-1, as quais são indicativas da presença de ligações carbono-hidrogênio (C-H), principalmente de cadeia alifática (entre 3000 cm -1 e 2850 cm-1) e uma banda discreta acima de 3000 cm-1 característica de ligação C-H de composto aromático. Estas informações estão adequadas à fórmula estrutural do fármaco. 35 Por apresentar um ácido carboxílico em sua estrutura molecular, é possível observar também a larga banda correspondente à de ligação O-H prevista para a região entre 4000 e 3500 cm-1. O pico intenso na região de 1760 cm-1 é indicativo da presença de ácidos livres na cadeia, enquanto a banda presente em 1700 cm-1 é atribuída ao estiramento da ligação C=O de ácidos carboxílicos. Entre 1550 e 1430 cm-1 são observadas bandas normalmente atribuídas ao estiramento C=C em estruturas aromáticas e também bandas relacionadas à flexão de ligações O-H no plano. Essas informações conjuntamente com as bandas em 1240 cm-1 e a banda forte em 800 cm-1, correspondente a diferentes estiramentos da ligação C-O e C=C em estrutura aromática, respectivamente, descrevem o fármaco. As informações descritas estão de acordo com a estrutura do fármaco e também com a as informações relatadas na literatura (AIGNER et al., 2012). Figura 8: Espectrograma do Aerosil® 200. O Aerosil® 200, cujo espectrograma está representado na Figura 8, apresenta uma banda em 3500 cm-1 a qual é característica de ligações O-H, sugerindo a presença de umidade na amostra. Por ser um componente extremamente hidrofílico, é comum o surgimento destas bandas nesta região (EL-GIZAWY et al., 2015). As ligações entre silício e oxigênio com características assimétricas no plano podem ser verificadas na região de 1100 cm-1, enquanto estas mesmas ligações fora do plano são verificadas na região de 810 cm-1. O espectrograma deste componente está 36 coerente com a estrutura molecular correspondente e também com os dados citados por El-Gizawy e colaboradores (2015). Figura 9: Espectrograma do Kollidon® CLSF. Observa-se no espectrograma representado na Figura 9 a presença de uma banda acentuada na região de 3500 cm -1, a qual é característica do estiramento de ligações N-H. Na região de 2900 cm-1, é observada uma banda característica do estiramento de ligações C-H, enquanto na região de 1700 cm-1 é possível observar o estiramento de ligações C=O de cadeias aromáticas do mesmo grupo funcional. Na região de 1450 cm-1 é evidenciada novamente a presença de estiramentos de ligações N-H, características de grupos funcionais amina. Já a banda na região de 1300 cm-1 é sugestiva da presença de estiramentos de ligações C-N, características de grupos funcionais amida. As bandas apresentadas estão compatíveis com a molécula deste polímero e também com os dados encontrados na literatura (ALSHADEEDI; SAMEIN; SHEHAB, 2013). 37 Figura 10: Espectrograma do Kollidon® VA64. O Kollidon® VA64, representado pelo espectrograma da Figura 10, apresenta banda na região de 3500 cm-1, indicativa da presença de ligações O-H, provavelmente indicando umidade na amostra. Na região de 2780 cm -1 é observada uma banda relativa ao estiramento de ligações C-H. A região de 1750 cm-1 apresenta uma banda característica do estiramento de ligações C=O de cadeia alifáticas. Já a banda evidenciada na região de 1705 cm-1, caracteriza a presença do estiramento de ligações C=O, porém de cadeias cíclicas, neste caso relacionadas à presença de amidas. A região de 1360 cm-1 apresenta banda característica da presença de estiramentos de ligações C-N, enquanto a banda presente na região de 1100 cm -1 é comum de ligações C-O-C. Estas características são inerentes ao polímero representado e condizentes com a literatura (SARODE et al., 2014). 38 Figura 11: Espectrograma do Lutrol® F68. O espectrograma do Lutrol® F68, representado na Figura 11, apresenta banda na região de 3450 cm-1, a qual refere-se ao estiramento de ligações O-H, característica de grupos funcionais álcoois presentes na estrutura molecular deste material. Na região de 2900 cm-1, pode-se observar a presença de banda característica do estiramento de ligações C-H, enquanto na região de 1430 cm -1 é evidenciado o estiramento de ligações C-O-H, no mesmo plano, também característico de grupos funcionais álcoois, assim como a banda observada na região de 1240 cm-1, a qual indica a presença de estiramentos de ligações C-O da mesma função orgânica. Observa-se na região de 1100 cm-1 a presença de banda indicativa de estiramento de ligações C-O-C, inerentes aos ésteres presentes na molécula, enquanto a banda presente na região de 930 cm -1 caracteriza a presença de estiramentos de ligações C-O-H fora do plano. As características observadas no espectrograma representam a estrutura molecular do material em questão e estão de acordo com as características descritas na literatura por Kolašinac e colaboradores (2012). A Figura 12 apresenta um conjunto de espectrogramas das misturas entre a GFB e os excipientes avaliados, bem como de cada um dos materiais isolados. 39 Figura 12: Espectrogramas dos componentes isolados e das misturas. (A) GFB Aerosil® 200; (B) GFB Kollidon® CLSF; (C) Kollidon® VA64; (D) Lutrol® F68. Por meio da avaliação dos espectrogramas obtidos a partir das misturas binárias entre a GFB e cada um dos excipientes pode-se observar que as bandas correspondentes aos principais grupos funcionais da GFB permanecem presentes nas misturas o que torna possível afirmar que em todos os casos houve sobreposição dos espectros das substâncias isoladas. Isto significa que não houve surgimento de novas bandas e que o desaparecimento de algumas delas é, na verdade, o encobrimento por bandas mais intensas. As análises de FTIR, em conjunto com os dados obtidos por DSC evidenciam que não houve interações entre o fármaco e os excipientes avaliados, sugerindo assim que durante e após o processo de produção das dispersões sólidas os componentes da formulação não apresentarão incompatibilidades. 4.3 Validação da método analítico espectrofotométrico na região do UV-Vis para caracterização das dispersões sólidas obtidas 40 A validação é uma ferramenta capaz de demonstrar, por meio de estudos experimentais, que o método é apropriado para a finalidade a que se destina, garantindo a confiabilidade dos resultados obtidos (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). 4.3.1 Especificidade A especificidade é definida como a capacidade do método em medir exatamente um composto na presença de outros componentes que possam ser esperados em determinada amostra, tais como impurezas, produtos de degradação e componentes da matriz (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). Para que o método seja considerado específico as amostras placebo não devem apresentar nenhuma absorção no comprimento de onda selecionado para as quantificações do fármaco, que neste caso foi de 276 nm. Os espectros do fármaco e da dispersão sólida placebo em solvente etanol PA e tampão fosfato pH 6,8 estão apresentadas nas Figuras 13 e 14: Figura 13: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução contendo dispersão sólida placebo em solvente etanol. 41 Figura 14: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução contendo dispersão sólida placebo em solvente tampão fosfato. De acordo com os espectros apresentados nas Figuras 13 e 14, não ocorreu a sobreposição dos picos referentes ao fármaco e à solução contendo a dispersão sólida placebo na faixa de absorção máxima da GFB (276 nm), tanto em solvente etanol PA, quanto em tampão fosfato pH 6,8. Desta forma, assegura-se que o método é específico no comprimento de onda utilizado para as análises, não havendo, portanto, interferência dos demais componentes das dispersões sólidas na quantificação do fármaco. 4.3.2 Linearidade A linearidade é conceituada como a capacidade de um método analítico em obter resultados diretamente proporcionais à concentração do analito na amostra, dentro de um intervalo específico (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). Os resultados da avaliação da linearidade utilizando solvente etanol PA e tampão fosfato pH 6,8 estão descritos nas Tabelas 5 e 6, respectivamente. 42 Tabela 5: Dados referentes à linearidade do método utilizando solvente etanol PA Parâmetros Resultados Faixa de linearidade 25 – 150 mg L-1 Equação: y = ax + b y = 0,0077x + 0,0092 Intercepto (b) ± desvio padrão 0,0092 ± 0,0064 Inclinação (a) ± desvio padrão 0,0077 ± 0,6274 Coeficiente de correlação (r) 0,9997 Tabela 6: Dados referentes à linearidade do método utilizando tampão fosfato pH 6,8 Parâmetros Resultados Faixa de linearidade 25 – 150 mg L-1 Equação: y = ax + b y = 0,0062x + 0,0106 Intercepto (b) ± desvio padrão 0,00106 ± 0,0056 Inclinação (a) ± desvio padrão 0,0062 ± 0,5437 Coeficiente de correlação (r) 0,9993 O parâmetro linearidade foi mensurado por meio de análises estatísticas de variância, obtendo-se resultados significativos para a regressão linear e não significativos para o desvio da linearidade (p < 0,05) para ambos os solventes utilizados. O coeficiente de correlação encontrado para a curva utilizando solvente etanol PA foi de 0,9997, enquanto para o tampão fosfato pH 6,8 foi de 0,9993. O critério mínimo aceitável para o coeficiente de correlação (r) deve ser de 0,99, conforme preconizado pela ANVISA (BRASIL, 2003) e, deste modo, os dois valores encontrados enquadram-se nesta especificação. 4.3.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD) A sensibilidade do método foi analisada por meio da determinação dos limites de quantificação (LQ) e de detecção (LD). O LD é a menor quantidade do analito presente em uma amostra passível de detecção, embora não seja necessariamente quantificado sob as condições estabelecidas pelo método proposto. Em contrapartida, o LQ é a menor quantidade do analito que pode ser determinada com precisão e exatidão aceitáveis sob as condições estabelecidas (BRASIL, 2003; ICH, 43 2005; USP, 2013). Para esses parâmetros os valores calculados para a curva utilizando solvente etanol PA foram de 9,03 e 2,98 mg L-1, enquanto os valores calculados para a curva utilizando tampão fosfato pH 6,8 foram de 8,37 e 2,76 mg L 1 , LQ e LD, respectivamente. Os valores encontrados para os limites de quantificação e de detecção utilizando ambos os solventes foram semelhantes. Analisando-se os valores de LQ aproximadamente três vezes menor que a concentração mínima estabelecida no intervalo de quantificação (25 mg L-1), pode-se constatar que o método proposto apresenta excelente sensibilidade, visto que durante a dissolução/ liberação do fármaco se espera quantificar desde valores muito baixos de concentração até valores mais elevados. Desta forma, assegura-se que o método proposto é capaz de detectar e quantificar uma ampla faixa de concentrações com segurança. 4.3.4 Precisão A precisão do método avalia a proximidade dos resultados obtidos em uma amostragem múltipla referente a uma mesma amostra (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). Os resultados referentes à repetibilidade (precisão inter-dia) e à precisão intermediária (precisão intra-analista) para a GFB nos solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8 foram expressos em valores de coeficiente de variação e estão dispostos nas Tabelas 7 e 8, respectivamente. Tabela 7: Dados referentes à repetibilidade (precisão inter-dia) do método para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8. Etanol PA Conc. Analista teórica -1 (mg L ) 1 2 Média -1 (mg L ) -1 Tampão fosfato pH 6,8 DP (mg L ) CV (%) Média -1 (mg L ) -1 DP (mg L ) CV (%) 25 24,96 0,22 0,9 24,94 0,56 2,2 50 49,20 0,74 1,5 51,98 0,09 0,2 75 75,65 0,46 0,6 73,97 1,29 1,7 25 26,74 0,40 1,5 27,52 0,28 1,0 50 53,49 1,57 2,9 53,75 0,25 0,5 75 79,03 2,03 2,6 79,77 2,24 2,8 44 Tabela 8: Dados referentes à precisão intermediária (precisão intra-analista) do método para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8. Etanol PA Conc. Analista Média teórica -1 (mg L ) -1 (mg L ) 1+2 -1 Tampão fosfato pH 6,8 DP (mg L ) CV (%) Média -1 (mg L ) -1 DP (mg L ) CV (%) 25 25,85 1,01 3,9 26,61 1,25 4,7 50 51,35 2,59 5,0 52,87 0,99 1,9 75 77,34 2,27 2,9 76,87 3,58 4,7 Os valores obtidos contemplam o limite máximo aceito de 5,0%, conforme recomendação da RE 899, de 29/05/2003 (BRASIL, 2003). A análise estatística de ANOVA demonstrou que não há diferenças significativas entre as análises realizadas nos diferentes períodos para p < 0,05. 4.3.5 Exatidão A exatidão corresponde à proximidade dos resultados obtidos pelo método em estudo em relação ao valor verdadeiro (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). Este parâmetro foi avaliado por meio do método de adição de impurezas (dispersão sólida placebo) a soluções de fármaco em concentrações conhecidas. Os resultados das análises estão dispostos na Tabela 9: Tabela 9: Dados referentes ao percentual equivalente à exatidão do método proposto para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8 Etanol PA Conc. teórica -1 Média -1 Tampão fosfato pH 6,8 Exatidão (%) CV (%) Média Exatidão (%) CV (%) 24,67 98,67 2,4 1,7 51,01 102,02 1,3 1,1 73,81 98,41 1,3 (mg L ) (mg L ) 25 25,34 101,37 5,0 50 49,15 98,30 75 75,47 100,63 45 -1 (mg L ) Por meio da avaliação dos dados da Tabela 9, calculou-se a porcentagem média da exatidão, a qual foi de 100,1 % ± 3,05 %. A avaliação dos resutados da validação do método espectrofotométrico UVVis para quantificação de GFB nas formulações permite afirmar que o comprimento de onda selecionado para tal finalidade foi adequado, e também garante que essas determinações sejam realizadas de forma específica, com precisão e exatidão adequados para o estudo das dispersões sólidas. 4.4 Caracterização das dispersões sólidas obtidas 4.4.1 Estudo de solubilidade do fármaco A solubilidade do fármaco GFB foi estudada em meio tampão fosfato pH 6,8, a fim de garantir condições sink durante o ensaio de perfil de dissolução das dispersões sólidas produzidas. Os resultados obtidos estão descritos na Tabela 10. Tabela 10: Média, desvio padrão e CV do estudo de solubilidade da GFB em tampão fosfato pH 6,8. Tempo (h) 24 48 546,19 659,33 Desvio Padrão (mg L ) 64,36 79,38 CV (%) 11,78 12,04 -1 Média (mg L ) -1 Por meio da análise dos valores obtidos nos tempos de 24 e 48h pode-se afirmar que não houve saturação do meio no tempo de 48 h de análise, uma vez que houve aumento do valor de dissolução do fármaco quando comparado ao valor da primeira coleta no tempo de 24 h. Deste modo, pode-se garantir que as condições sink foram mantidas para a GFB em meio tampão fosfato pH 6,8. 4.4.2 Determinação do teor de fármaco nas amostras A determinação do teor de GFB presente nas amostras foi realizada por método espectrofotométrico UV-Vis, em triplicata, e os valores das médias estão descritos na Tabela 11. Os valores em concentração (mg L-1) foram calculados a partir dos valores das leituras de absorbância de cada uma das amostras por meio 46 das curvas de calibração construídas na validação da metodologia analítica deste trabalho. Tabela 11: Formulações e respectivos teores médios de fármaco, DP e CV. Formulação Média teor (%) DP CV (%) FA 108,88 2,57 2,4 FB 104,99 2,5 2,4 FC 101,35 0,69 0,7 FD 92,39 3,86 4,2 Por meio da avaliação dos resultados obtidos, observa-se que os teores calculados em cada uma das formulações apresentaram resultados diferentes entre si. A faixa de valores de aceitação sugerida como padrão pela Farmacopeia Brasileira (2010) para ensaios de doseamento de formulações contendo o fármaco é de 90 – 110 %. Todas as formulações apresentam valores inclusos na faixa especificada. 4.4.3 Perfil de dissolução O ensaio do perfil de dissolução das dispersões sólidas obtidas está representado na Figura 15. 47 Figura 15: Perfil de dissolução das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada Os valores das concentrações correspondentes a cada intervalo de tempo dos perfis de dissolução foram corrigidos com os valores de teor para cada formulação. Analisando a Figura 15, pode-se afirmar que todas as formulações apresentaram melhora na dissolução do fármaco, quando comparadas à GFB isolada a qual se reflete num aumento de, no mínimo, 60%, caso da FA. Ao se comparar as formulações, a formulação FA, apresentou perfil de dissolução inferior às demais formulações, enquanto que para as formulações FB e FD, a dissolução do fármaco se deu de forma semelhante. Por meio de análise estatística ANOVA, observou-se que não houve diferenças significativas na liberação do fármaco nas formulações FA, FB, FC e FD nos tempos de 10, 20 e 30 minutos, bem como das formulações FB, FC e FD em todos os tempos avaliados (10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos). Desta forma, pode-se afirmar por meio da Figura 15 e do Quadro 2, que a adição de Aerosil 200 é fundamental para uma rápida liberação do fármaco. A 48 concentração de óleo, bem como a proporção deste material em relação à GFB não intereferiram nos perfis de liberação deste fármaco. 4.4.4. DSC As curvas de DSC obtidas para cada uma das formulações e para a GFB isolada estão agrupadas na Figura 16: Figura 16: Curvas de DSC da GFB isolada e das formulações FA, FB, FC e FD. Por meio da avaliação das curvas de DSC da GFB isolada e das formulações, pode-se observar que o evento endotérmico característico da fusão do fármaco, que ocorre em torno de 60 °C não pode mais der visualizado em nenhuma das formulações nesta temperatura. As formulações FA, FB e FC apresentam discreto evento endotérmico em torno de 48 °C, o qual é característico da temperatura de fusão do Lutrol® F68 (KOLAŠINAC et al., 2012). Este material está presente em todas as formulações e, possivelmente manteve-se na forma cristalina. A formulação FD apresenta um evento endotérmico em torno de 53 °C, o qual provavelmente 49 ocorre em decorrência da presença de Lutrol® F68 na formulação, o qual apresenta faixa de fusão próxima a esta temperatura. De acordo com Villar e colaboradores (2013), a amorfização do fármaco ocorre possivelmente devido à pré-solubilização deste componente em óleo, neste caso de alecrim (Rosmarinus officinalis L.), o qual devido à alta volatilidade evapora da formulação durante a secagem, porém não faz com que o fármaco recristalize após a volatilização. 4.4.5 DRX Os difratogramas das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada estão dispostos nas Figuras 17 e 18. Figura 17: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada. 50 Figura 18: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD. Por meio da avaliação da Figuras 17, observa-se que a GFB se apresenta na forma cristalina, o que é caracterizado nas análises de DRX pela presença de picos longos e afilados. Ao contrário, a ausência destas características, também chamada de halos amorfos, é comum a estruturas com baixa cristalinidade. A formulação FA, a qual não possuía Aerosil 200 na composição, apresentouse no difratograma com menos picos do que a GFB isolada, o que caracteriza amorfização parcial do fármaco presente. Este mesmo fenômeno de redução de cristalidade foi observado nas demais formulações, no entanto, a formulação FC destaca-se por apresentar mais halos amorfos e menos picos, podendo-se assim afirmar que foi a formulação na qual a GFB teve maior redução de cristalinidade. No entanto, tal comportamento de amorfização não apresentou ampliação significativa no perfil de dissolução do fármaco quando comparado ao perfil de dissolução da GFB nas formulações FB e FD. 51 4.4.6 FTIR Os espectros das formulações e da GFB isolada estão agrupados na Figura 19 e 20. -1 Figura 19: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (4000 - 600 cm ). Figura 20: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (ampliação 2000 - 600 -1 cm ). 52 As formulações avaliadas apresentaram bandas muitos semelhantes às da GFB, no entanto em menor intensidade, uma vez que possuem outros componentes na formulação. Todas as formulações apresentam em seus espectros bandas intensas na região de 3500 cm-1, inerentes a ligações O-H terminais, as quais podem ser de ácidos carboxílicos, presentes na estrutura molecular do fármaco, álcoois, característicos da cadeia do Lutrol® F68, ou ainda indicativas da presença de umidade nas formulações. As dispersões sólidas são formulações muito sensíveis à umidade do ambiente (HUANG; DAI, 2014) e, mesmo armazenadas em recipientes fechados, podem adsorver esta umidade, uma vez que apresentam alguns componentes higroscópicos na composição. A formulação FD apresenta uma intensa banda na região de 1100 cm -1, a qual encobre a maioria das bandas inerentes à estrutura molecular da GFB nesta região. Estas características são inerentes a ligações Si-O, presentes no Aerosil® 200. Como o processo de liofilização ocorre de forma mais lenta do que outros processos de secagem, como spray drying, por exemplo, há possibilidade de haver separação de fases após a secagem, mesmo quando a emulsão/suspensão encontra-se estabilizada (KASPER; FRIESS, 2011). Devido à pequena quantidade de amostra utilizada para análise de FTIR, mesmo a amostra estando homogeneizada, há probabilidade de haver regiões com maior quantidade de determinadas matériasprimas, principalmente as que possuem densidades muito diferentes, o que justifica o surgimento da intensa banda na região de 1100 cm -1 na formulação FD. 53 CONCLUSÃO A avaliação de compatibilidade entre o fármaco GFB e os excipientes estudados não apresentou nenhuma evidência de incompatibilidade levando em consideração as técnicas para tal avaliação. O TGA das amostras demonstrou também que nenhum dos excipientes utilizados modifica a estabilidade térmica da GFB. As análises de FTIR das misturas binárias entre GFB e excipientes avaliados não demonstrou desaparecimento, alteração ou surgimento de novas bandas, sendo este mais um elemento que comprova a inexistência de incompatibilidades. O método analítico proposto para a quantificação da GFB por meio da técnica espectrofotométrica na região do UV-Vis, mostrou ser específica, linear, precisa e exata na faixa de quantificação de 25-150 mg L-1. Este também apresentou LQ e LD baixos, que permitem o seu emprego em ensaio de dissolução. Deste modo, o método validado no presente estudo destaca-se devido à sua rapidez, fácil interpretação, baixo custo operacional, elevada confiabilidade de resultados e aplicabilidade na quantificação de GFB. As quatro formulações evidenciaram o aumento da dissolução do fármaco GFB, sendo que por meio da avaliação dos difratogramas em conjunto com os termogramas, é possível afirmar que houve redução de cristalinidade do fármaco em todas as formulações. Entretanto, a formulação FC pode ser considerada a mais promissora dentre as quatro estudadas, pois, embora tenha apresentado perfil de dissolução sem diferenças significativas quando comparadas à FB e FD, em todos os intervalos avaliados, apresentou maior índice de amorfização com menor concentração de óleo de alecrim (comparado à FB) e mesma porporção de óleo/GFB (comparada à FD), o que acarreta em uma menor utilização de óleo essencial, reduzindo o custo final da formulação. Tendo em visto esse conjunto de resultados novos estudos utilizando outros óleos essenciais para a produção das dispersões sólidas, a fim de se verificar se há influência do tipo de óleo utilizado na amorfização do fármaco, bem como a continuidade deste estudo visando a produção de comprimidos a partir das dispersões sólidas aqui desenvolvidas, com posteriores ensaios in vivo, uma vez 54 que estas mostraram-se promissoras quanto ao perfil de dissolução deste fármaco quando comparados a esta substância isolada. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADIBKIA, K. et al. Physicochemical characterization of naproxen solid dispersions prepared via spray drying technology. Powder Technology, v. 246, p. 448–455, 2013. AGRAWAL, A. M. et al. Characterization and performance assessment of solid dispersions prepared by hot melt extrusion and spray drying process. International journal of pharmaceutics, v. 457, n. 1, p. 71–81, 2013. AIGNER, Z. et al. 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