ana carolina fanton produção e avaliação de dispersões sólidas de

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ANA CAROLINA FANTON
PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE DISPERSÕES SÓLIDAS DE GENFIBROZILA
POR LIOFILIZAÇÃO: ESTUDO DE COMPATIBILIDADE COM OS EXCIPIENTES E
CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS
JOINVILLE – SC
2015
ANA CAROLINA FANTON
PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE DISPERSÕES SÓLIDAS DE GENFIBROZILA
POR LIOFILIZAÇÃO: ESTUDO DE COMPATIBILIDADE COM OS EXCIPIENTES E
CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS
Dissertação de mestrado apresentada
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Engenharia de
Processos, na Universidade da Região de
Joinville - Univille.
Professora Orientadora:
Abatti Kasper Silva.
Dra.
Denise
Professora co-Orientadora: Dra. Bianca
Ramos Pezzini.
JOINVILLE – SC
2015
Dedicada a Deus, aos meus pais,
Antonio e Zilma, à minha irmã, Ana Paula
e ao meu noivo, Rodrigo, que foram
imensamente compreensivos e amorosos
em toda minha trajetória.
“O espelho e os sonhos são coisas
semelhantes, é como a imagem do
homem diante de si próprio”.
José Saramago
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre a minha frente, ser meu porto seguro, me conduzir
e me dar forças nas horas mais difíceis do meu dia.
Aos meus pais, Antonio Sergio Fanton e Zilma Fanton, que sempre me
incentivaram e me deram todo apoio necessário para chegar ao fim desta
caminhada.
À minha irmã, Ana Paula Fanton, pelo carinho e palavras de incentivo, mesmo
estando longe.
Ao meu noivo, Rodrigo Junkes, que teve todo amor, carinho, compreensão e
paciência comigo não só durante estes dois anos, mas em todo nosso
relacionamento.
Às professoras Dra. Denise Abatti Kasper Silva e Bianca Ramos Pezzini, pela
orientação, por compartilharem seus conhecimentos, me apoiarem sempre que
necessário e estarem sempre dispostas a me auxiliar.
Às alunas do curso de Farmácia Bárbara Bona e Jackeline Schmucker pela
ajuda com os ensaios, apoio, incentivo e palavras de carinho.
Às técnicas dos laboratórios da Univille Cláudia Hack Gumz Correia e Aline
Scheller pelas análises de DSC, FTIR e TG e por sempre estar disposta em ajudar.
À doutoranda Cassiana Mendes e ao professor Dr. Marcos Segatto da UFSC
por compartilharem seus conhecimentos e auxiliarem nos ensaios preliminares.
Ao gerente farmacêutico Walter Stulzer Jr pela compreensão, incentivo e por
todas as vezes que me ajudou no ambiente de trabalho.
À minha equipe de trabalho, que em todas as madrugadas esteve comigo,
sempre disposta em ajudar e realizar seu trabalho da melhor forma possível.
Às queridas amigas farmacêuticas Gerrana Portugal Rodrigues, Débora
Adriana Fischer, Thaisa Noceti Carvalho, Larissa Delmônego e Ana Carolina da
Rosa, que apoiaram, incentivaram e me fizeram rir nos momentos mais difíceis.
Aos professores do Mestrado em Engenharia de Processos, por todo
conhecimento compartilhado durante o curso.
À CAPES, pelo apoio financeiro durante o mestrado
Aos membros da banca examinadora, por aceitarem o convite de avaliar este
trabalho, contribuindo com valiosas sugestões.
A todos que contribuíram de forma direta e indireta para realização deste
trabalho, meu muito obrigada!
RESUMO
As doenças cardiovasculares são as principais causas de óbitos no mundo.
Entre os fatores de risco para essas doenças, está a dislipidemia, caracterizada por
concentrações sanguíneas elevadas de lipídios ou lipoproteínas. A genfibrozila
(GFB) é um fármaco antilipêmico, que pertence à classe II do Sistema de
Classificação Biofarmacêutica (SCB), o que significa que possui alta permeabilidade
na membrana intestinal, baixa solubilidade e taxa de dissolução lenta em meio
aquoso. A formulação de dispersões sólidas, é considerada uma das estratégias
mais eficazes para melhorar o perfil de dissolução de fármacos com baixa
solubilidade aquosa. A técnica de secagem por liofilização, é um método alternativo
para a produção destas formulações, uma vez que a incorporação do fármaco na
matriz polimérica ocorre com stress térmico mínimo durante a fase de secagem.
Neste contexto, os objetivos deste trabalho foram compor uma dispersão sólida
contendo GFB, pelo método de liofilização, visando aumentar a solubilidade em
meio aquoso e reduzir a cristalinidade do fármaco, assim como avaliar a
compatibilidade
deste
fármaco
com
os
excipientes
selecionados
para
o
desenvolvimento de tais formulações. As misturas binárias entre GFB e os
excipientes
selecionados
apresentaram-se
compatíveis.
Um
método
espectrofotométrico UV-Vis foi validade para quantificar a GFB nas formulações. As
quatro formulações desenvolvidas apresentaram perfil de dissolução superior ao do
fármaco isolado. Observou-se que a presença de Aerosil® 200 tem influência na
dissolução do fármaco.
i
ABSTRACT
Cardiovascular diseases are the leading causes of deaths worldwide. Among
the risk factors for these diseases, dyslipidemia is characterized by high blood
concentrations of lipids or lipoproteins. The gemfibrozil (GFB) is a antilipemic drug
belonging to class II in Biopharmaceutics Classification System (BCS), which means
that it has high permeability in intestinal membrane, low solubility and slow
dissolution rate in aqueous media. The formulation of solid dispersions, is considered
one of the most effective strategies for improving drug dissolution profile with low
aqueous solubility. The by freeze drying technique, is an alternate method for
producing these formulations, since the incorporation of the drug in the polymer
matrix occurs with minimal thermal stress during the drying phase. In this context, the
objectives were to compose a solid dispersion containing GFB, by freeze-drying
method, to increase the aqueous solubility and reduce the crystallinity of the drug, as
well as assess the compatibility of the drug with the selected excipients to the
development of such formulations. The binary mixtures of GFB and selected
excipients were compatible. A UV-Vis spectrophotometric method was validated to
quantify GFB in the formulations. The four formulations had developed above the
dissolution profile of the drug alone. It was observed that the presence of Aerosil®
200 influences the dissolution of the drug
ii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Fluxograma experimental da metodologia utilizada para o desenvolvimento
deste trabalho............................................................................................................ 15
Figura 2: Curvas de DSC do fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon®
CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68 ....................................................................... 24
Figura 3: Curvas de DSC da GFB pura e das misturas GFB/excipientes. ................ 25
Figura 4: Curvas de TG/DTG da GFB isolada. .......................................................... 27
Figura 5: Curvas de TGA dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF,
Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria
derivada (DTG).......................................................................................................... 28
Figura 6: Curvas de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes
(Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria
(TG) e b) termogravimetria derivada (DTG). ............................................................. 30
Figura 7: Espectrograma da GFB isolada. ................................................................ 35
Figura 8: Espectrograma do Aerosil® 200. ............................................................... 36
Figura 9: Espectrograma do Kollidon® CLSF. .......................................................... 37
Figura 10: Espectrograma do Kollidon® VA64. ......................................................... 38
Figura 11: Espectrograma do Lutrol® F68. ............................................................... 39
Figura 12: Espectrogramas dos componentes isolados e das misturas. (A) GFB
Aerosil® 200; (B) GFB Kollidon® CLSF; (C) Kollidon® VA64; (D) Lutrol® F68......... 40
Figura 13: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução
contendo dispersão sólida placebo em solvente etanol. ........................................... 41
Figura 14: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução
contendo dispersão sólida placebo em solvente tampão fosfato. ............................. 42
Figura 15: Perfil de dissolução das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada .... 48
Figura 16: Curvas de DSC da GFB isolada e das formulações FA, FB, FC e FD. .... 49
Figura 17: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada. ........ 50
Figura 18: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD. ..................................... 51
Figura 19: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (4000 600 cm-1). .................................................................................................................. 52
iii
Figura 20: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada
(ampliação 2000 - 600 cm-1)...................................................................................... 52
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tabela 1: Dados de análise de DSC do fármaco GFB e das misturas
GFB/excipiente. ......................................................................................................... 26
Tabela 2: Dados de análise das curvas de TG/DTG dos excipientes puros (Aerosil®
200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). ............................................. 29
Tabela 3: Tabela 3: Dados de análise de TGA da GFB e das misturas entre este
fármaco e os excipientes (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol®
F68) ........................................................................................................................... 31
Tabela 4: Fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon®
VA64 e Lutrol® F68 com respectivas estruturas moleculares de cada composto, bem
como principais bandas presentes no espectrograma e grupos funcionais
correspondentes........................................................................................................ 33
Tabela 5: Dados referentes à linearidade do método utilizando solvente etanol PA . 43
Tabela 6: Dados referentes à linearidade do método utilizando tampão fosfato pH 6,8
.................................................................................................................................. 43
Tabela 7: Dados referentes à repetibilidade (precisão inter-dia) do método para os
solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8............................................................ 44
Tabela 8: Tabela 8: Dados referentes à precisão intermediária (precisão intraanalista) do método para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8. ............. 45
Tabela 9: Dados referentes ao percentual equivalente à exatidão do método
proposto para os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8 ................................ 45
Tabela 10: Média, desvio padrão e CV do estudo de solubilidade da GFB em tampão
fosfato pH 6,8. ........................................................................................................... 46
Tabela 11: Formulações e respectivos teores médios de fármaco, DP e CV. .......... 47
v
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Materiais e equipamentos utilizados no desenvolvimento deste trabalho.
.................................................................................................................................. 14
Quadro 2: Composição das formulações FA, FB, FC e FD e respectivas fases da
emulsão nas quais os componentes estão inseridos. ............................................... 17
vi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Aerosil – Dióxido de silício coloidal (Aerosil 200)
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA
Análise de variância - ANOVA
Análise termogravimétrica – TGA
Calorimetria exploratória diferencial – DSC
Coeficiente de variação – CV
Cromatografia gasosa – GC
Cromatografia líquida de alta eficiência – HPLC
Desvio padrão - DP
Temperatura na qual a degradação é máxima – Tpico
Espectroscopia por difração de raios-X – DRX
Entalpia de fusão – ∆Hm
Entalpia de fusão teórica, considerando fármaco 100% cristalino – ∆Hmt
Espectroscopia na região do infravermelho com transformada Fourier – FTIR
Farmacopeia Americana - USP
Farmacopeia Britânica – BP
Genfibrozila - GFB
Grau de cristalinidade – Xc
Kollidon CLSF – CLSF
Kollidon VA64 – VA64
Lipoproteína de baixa densidade – LDL
Lipoproteína de alta densidade – HDL
Lutrol F68 – F68
Microscopia eletrônica de varredura – MEV
Para análise - PA
Rotações por minuto - rpm
Sistema de Classificação Biofarmacêutica - SCB
Temperatura de fusão – Tm
vii
Temperatura de início de degradação extrapolada – Tonset
Termogravimetria – TG
Termogravimetria derivada – DTG
Ultravioleta visível – UV-Vis
viii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3
1. OBJETIVOS ......................................................................................................... 6
1.1
Geral .................................................................................................................. 6
1.2
Específicos ........................................................................................................ 6
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 7
2.1 GFB ....................................................................................................................... 7
2.2 Técnicas de caracterização de fármacos – Termogravimetria, calorimetria
diferencial exploratória e espectroscopia de absorção no infravermelho .................... 8
2.3 Excipientes e polímeros ...................................................................................... 10
2.4 Técnicas para obtenção de dispersões sólidas - Liofilização .............................. 12
3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 14
3.1 Materiais .............................................................................................................. 14
3.2 Organização experimental da pesquisa .............................................................. 15
3.3 Ensaios de compatibilidade entre excipientes e fármaco .................................... 16
3.3.1 Análises térmicas ............................................................................................. 16
3.3.2 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) ........... 16
3.4 Preparação das emulsões para secagem em liofilizador .................................... 17
3.5 Liofilização das emulsões.................................................................................... 18
3.6 Validação de método analítico espectrofotométrico na região do UV-Vis para
caracterização das dispersões sólidas obtidas ......................................................... 18
3.6.1 Especificidade .................................................................................................. 19
3.6.2 Linearidade....................................................................................................... 19
3.6.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD) ................................................ 20
3.6.4 Precisão ........................................................................................................... 20
3.6.5 Exatidão ........................................................................................................... 20
3.7 Estudo de solubilidade do fármaco ..................................................................... 21
3.8 Caracterização das dispersões sólidas obtidas................................................... 21
3.8.1 Determinação do teor de fármaco nas amostras .............................................. 21
3.8.2 Perfil de dissolução .......................................................................................... 21
3.8.3 Calorimetria diferencial exploratória (DSC) ...................................................... 22
3.8.4 Difração de Raio-X (DRX) ................................................................................ 22
3.8.5 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)............. 22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 23
4.1 Seleção dos excipientes utilizados nas emulsões ............................................... 23
4.2 Estudo de compatibilidade entre GFB e excipientes ........................................... 23
4.2.1 Análises térmicas ............................................................................................. 24
4.2.2 FTIR ................................................................................................................. 32
4.3.1 Especificidade .................................................................................................. 41
4.3.2 Linearidade....................................................................................................... 42
4.3.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD) ................................................ 43
4.3.4 Precisão ........................................................................................................... 44
4.3.5 Exatidão ........................................................................................................... 45
4.4 Caracterização das dispersões sólidas obtidas................................................... 46
4.4.1 Estudo de solubilidade do fármaco .................................................................. 46
4.4.2 Determinação do teor de fármaco nas amostras .............................................. 46
4.4.3 Perfil de dissolução .......................................................................................... 47
4.4.4. DSC ................................................................................................................. 49
4.4.5 DRX .................................................................................................................. 50
4.4.6 FTIR ................................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 56
2
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares são as principais causas de óbitos no mundo.
Entre os fatores de risco para essas doenças, está a dislipidemia, ou hiperlipidemia,
caracterizada por concentrações sanguíneas elevadas de lipídios ou lipoproteínas
(SILVA et al., 2012; SANTOS et al. 2013). O tratamento da hiperlipidemia pode ser
realizado por meio de medidas terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas.
Os medicamentos disponíveis para essa finalidade podem apresentar maior atuação
sobre os níveis de colesterol total e frações ou de triglicerídeos (BRAGA et al.,
2008).
Nas situações em que há predomínio de elevação dos níveis de triglicerídeos,
recorre-se com frequência à classe dos fibratos, tais como a genfibrozila (GFB), que
apresenta maior eficácia sobre essa categoria de dislipidemia (ELIKIR, 2010).
A
GFB, assim como outros derivados do ácido fíbrico (fibratos), atua na redução dos
níveis de triglicerídeos e colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade), inibindo a
lipólise periférica e diminuindo a captação hepática de ácidos graxos livres (MILLER
et al., 2002).
Em termos farmacocinéticos, a GFB pertence à classe II do Sistema de
Classificação Biofarmacêutica (SCB), o que significa que possui alta permeabilidade
na membrana intestinal, baixa solubilidade e taxa de dissolução lenta em meio
aquoso (VO; PARK; LEE, 2013). Em virtude disso, torna-se necessário administrá-la
em quantidades elevadas, entre 600 a 900 mg, em dose única ou divididos em duas
doses (MUKHARYA et al., 2010). Tais características resultam em um fator limitante
para a biodisponibilidade no uso oral da GFB (VILLAR et al., 2012).
Diferentes métodos tem sido explorados para melhorar a dissolução de
fármacos fracamente solúveis em água, tais como reações químicas que convertem
a estrutura do fármaco na forma salina, a qual geralmente é mais solúvel (TRAPANI
et al., 1998); redução do tamanho de partícula, aumentando a área superficial do
fármaco e, consequentemente, a taxa de dissolução em meio aquoso (CHEN et al.,
2010); redução da cristalinidade do fármaco (GUO; SHALAEV; SMITH, 2013);
formulação de dispersões sólidas contendo o fármaco (ADIBKIA et al., 2013).
3
Dentre os métodos citados como exemplo, destaca-se a formulação de
dispersões sólidas, que é considerada uma das estratégias mais eficazes para
melhorar o perfil de dissolução de fármacos com baixa solubilidade aquosa
(ADIBKIA et al., 2013). Numerosos estudos em dispersões sólidas foram publicados
e mostraram muitas propriedades vantajosas destas formulações em melhorar a
taxa de solubilidade e de dissolução de substâncias ativas pouco solúveis em água
(AGRAWAL et al., 2013; BETAGERI, 1995; DJURIS et al., 2013; PAUDEL et al.,
2013).
Estas vantagens incluem
a
redução
do
tamanho das partículas,
possivelmente a nível molecular, aumentando a molhabilidade e porosidade da
forma farmacêutica final, bem como alterando o estado cristalino do fármaco para o
estado amorfo (CHADHA; BHANDARI, 2014). De modo geral, as formas amorfas
são mais solúveis que as formas cristalinas e possuem maior velocidade de
dissolução (ADIBKIA et al., 2013).
A produção de dispersões sólidas, pode ser realizada por diferentes métodos,
dentre os quais a técnica de spray drying (ADIBKIA et al., 2013) e hot melt extrusion
(AGRAWAL et al., 2013) são mais recentes e já utilizadas pela indústria
farmacêutica para esta finalidade. A técnica de secagem por liofilização, mesmo não
sendo desenvolvida com a finalidade de produção de dispersões sólidas (KASPER;
WINTER; FRIESS, 2013) é um método alternativo para a produção destas
formulações, uma vez que a incorporação do fármaco na matriz polimérica ocorre
com stress térmico mínimo durante a fase de secagem, o que auxilia na estabilidade
da substância ativa (VO; PARK; LEE, 2013).
Para obtenção de dispersões sólidas pelo método de liofilização, o fármaco e
o veículo são co-dissolvidos em um solvente, congelados e submetidos a um
processo de sublimação sob vácuo (KASPER; FRIESS, 2011). A desvantagem
deste método é que a maioria dos solventes orgânicos, muitas vezes utilizados para
o desenvolvimento das dispersões sólidas, possui temperatura de solidificação
baixa, e não permanecem congelados durante o processo de sublimação, no
entanto a técnica de liofilização não precisa, necessariamente, ser desenvolvida com
o uso destes solventes (VO; PARK; LEE, 2013). Embora o uso destas substâncias
seja ainda muito corriqueiro nas indústrias química e farmacêutica, a atual
preocupação com o meio ambiente está reduzindo este uso com a busca de novas
alternativas substitutivas, uma vez que, além de serem compostos que prejudicam a
4
camada de ozônio, podem ainda levar a danos à saúde, principalmente da mão de
obra envolvida na produção.
Outro
aspecto
importante
para
ser
avaliado
durante
a
fase
de
desenvolvimento de formas farmacêuticas sólidas de uso oral, é a presença de
incompatibilidades entre o fármaco e os excipientes utilizados (TIŢA et al., 2011).
Para que a formulação final desenvolvida seja bem sucedida, é necessária uma
seleção cuidadosa dos excipientes, uma vez que não há uma padronização
universal que avalie a compatibilidade entre o fármaco e os outros componentes da
formulação (BORBA et al., 2014). Esta avaliação é essencial para garantir que o
fármaco não sofrerá influências físicas e/ou químicas dos excipientes, as quais
poderão alterar a estabilidade e biodisponibilidade e, consequentemente, a eficácia
e segurança terapêutica deste medicamento (TITA et. al., 2011)
Neste contexto, o objetivo principal deste trabalho foi compor uma dispersão
sólida contendo GFB visando aumentar a solubilidade em meio aquoso e reduzir a
cristalinidade do fármaco.
5
1. OBJETIVOS
1.1 Geral
Preparar e caracterizar dispersões sólidas contendo GFB por meio da técnica
de liofilização.
1.2 Específicos
₋
Analisar a compatibilidade da GFB com excipientes selecionados para o
desenvolvimento das formulações.
₋
Obter dispersões sólidas poliméricas contendo GFB;
₋
Validar metodologia analítica espectrofotométrica para caracterização das
dispersões sólidas obtidas;
₋
Caracterizar as dispersões sólidas obtidas quanto ao teor de fármaco e ao
perfil de dissolução.
6
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 GFB
A GFB, ácido 5-(2-5-dimetilfenóxi)-2,2-dimetilpentanóico, apresenta-se na
forma de pó cristalino, branco ou quase branco, ceroso e com faixa de fusão entre
58 e 61 ºC. É praticamente insolúvel em água, facilmente solúvel em metanol e
etanol (BP, 2013), e apresenta pKa aparente de 4,7 (HUANGA et al., 2008).
Os fibratos, tais como a GFB, diminuem os níveis de triglicerídeos e tem sido
utilizados para diminuir o risco de eventos cardiovasculares e acidentes vasculares
cerebrais em pacientes com altos níveis de triglicerídeos e baixos níveis de
colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) (MILLER et al., 2002).
A GFB tem atividade agonista sobre os receptores ativados por proliferadores
peroxissomais alfa (PPARα), os quais, dentre outras funções, desempenham
importante papel no metabolismo de carboidratos e lipídios (MILLER et al., 2002).
Os PPARs são fatores de transcrição ligantes dependentes que regulam a
expressão do gene-alvo pela ligação com elementos específicos responsivos aos
proliferadores de peroxissoma (PPREs) situados em sítios regulatórios de cada
gene. Sob atuação de agonistas, a conformação do PPAR é alterada e estabilizada,
criando um sítio de ligação, com posterior recrutamento de coativadores
transcricionais, resultando em aumento na transcrição gênica. (TAVARES; HIRATA;
HIRATA, 2007). Os PPARα são predominantemente expressos em tecidos em que
há catabolismo de ácidos graxos, como fígado, rins, coração e músculos, e são
estimulados por ligantes naturais, como ácidos graxos e eicosanoides, (ex.
leucotrienos B4), ou sintéticos, como os fibratos (CLAUSELL; TAVARES, 2004).
Os fibratos possuem ainda vários efeitos pleiotrópicos, os quais incluem
propriedades cardioprotetoras, como a melhora da sensibilidade à insulina,
protegendo assim contra o diabetes tipo II, e o aumento da adiponectina circulante, a
qual modula vários efeitos metabólicos, incluindo a regulação da glicemia e o
catabolismo de ácido graxos (SAHEBKAR; WATTS, 2013).
Por ser um fármaco com características lipofílicas e baixa solubilidade nos
fluidos gastrointestinais, a GFB tem sido objeto de alguns estudos que têm como
objetivo o aumento da biodisponibilidade deste fármaco por via oral. As estratégias
7
propostas na literatura para melhorar o perfil de dissolução da GFB incluem a
micronização (HUANG et al., 2008), a obtenção de dispersões sólidas pelo método
de fusão (SZÜTS et al., 2011), a sonocristalização (AMBRUS et al., 2012) e a
obtenção de nanoemulsões (VILLAR et al., 2012).
2.2 Técnicas de caracterização de fármacos – Termogravimetria, calorimetria
diferencial exploratória e espectroscopia de absorção no infravermelho
A caracterização completa de um fármaco e dos outros componentes da
formulação
é parte fundamental da fase
de
desenvolvimento
de
novos
medicamentos, uma vez que estes ensaios auxiliam na garantia da eficácia,
segurança e estabilidade do produto finalizado (CHADHA; BHANDARI, 2014;
OLIVEIRA; YOSHIDA; GOMES, 2011). Muitas são as técnicas analíticas utilizadas
para estas caracterizações, as quais podem ter como objetivos a avaliação da
compatibilidade entre o fármaco e os outros componentes da fórmula, da estrutura
do fármaco (amorfa ou cristalina), da superfície, da morfologia e da estabilidade
térmica.
Dentre estas técnicas usadas com frequência para estudos de rastreio de
incompatibilidade podem ser citados métodos térmicos, tais como calorimetria
exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG/DTG) e microcalorimetria
isotérmica de análise da estrutura. Para identificação de grupos funcionais pode ser
citado o método de espectroscopia de absorção no infravermelho, registrado muitas
vezes em espectrômetros com transformada de Fourier (FTIR). A microscopia
eletrônica de varredura (MEV) tem como objetivo verificar a morfologia de partículas
ou formas farmacêuticas contendo o fármaco. Já as técnicas cromatográficas como
a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e a cromatografia gasosa (GC)
permitem quantificar os componentes presentes e de interesse nas formulações
(CHADHA; BHANDARI, 2014).
Existem na literatura vários estudos relacionados à aplicação das técnicas
termogravimétricas TG/DTG e DSC na caracterização, avaliação de pureza,
compatibilidade
de
formulação
farmacêutica,
identificação
de
polimorfismo,
estabilidade e decomposição térmica de fármacos e medicamentos (BORBA et al.,
2014; CHADHA; BHANDARI, 2014; MURA et al., 1995; TIŢA et al., 2011).
8
A TGA é utilizada para medir a variação de massa em função da temperatura
em uma atmosfera controlada sob um programa de aquecimento. Para fins
farmacêuticos, este uso é descrito na caracterização, determinação de pureza e de
umidade, na avaliação da estabilidade de fármacos e medicamentos e em estudos
de cinética de degradação (BORBA et al., 2014; CHADHA; BHANDARI, 2014).
A DSC é utilizada para medir a diferença de fluxo de calor entre uma
substância e um material de referência em função de um programa de aquecimento
ou resfriamento. Na área farmacêutica é utilizada na caracterização térmica e
determinação da pureza de fármacos, estudos de compatibilidade entre os
constituintes da formulação e identificação de polimorfismo com determinação das
entalpias de cada forma cristalina (GUO; SHALAEV; SMITH, 2013). A DSC é uma
técnica térmica utilizada para a caracterização de dispersões sólidas, pois fornece
informações precisas sobre a temperatura de fusão, temperatura de transição vítrea,
bem como as mudanças de energia associadas com as transições de fase, incluindo
cristalização e processo de fusão. A ausência de um pico de fusão do fármaco na
curva de DSC de uma dispersão sólida indica que este fármaco encontra-se na
forma amorfa (VO; PARK; LEE, 2013). Como vantagens dos métodos de TG/DTG e
DSC podem ser citadas: a pequena quantidade de amostra necessária; a fácil
detecção de interações físicas (como a conversão da fase cristalina em amorfa); e
como desvantagens as de que estas técnicas não são úteis para variações térmicas
muito pequenas; e que são métodos destrutivos para a amostra (CHADHA;
BHANDARI, 2014).
A espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), é uma
ferramenta analítica eficiente para investigar a natureza e a extensão de interações
entre moléculas de fármaco e de excipientes, ou ainda avaliar modificações ou
características moleculares inerentes à substância ativa (CHADHA; BHANDARI,
2014). As alterações no dipolo oscilante das moléculas, devido às interações, se
apresentam como alterações no número de ondas e na largura de bandas de
grupamentos químicos específicos, em comparação com as dos componentes
individuais (GUO; SHALAEV; SMITH, 2013). Podem-se citar como vantagens das
análises por FTIR a fácil detecção de incompatibilidade devido à presença de faixas
exclusivas para cada molécula; pequena quantidade de amostra; obtenção rápida
dos dados de análise; disponibilidade de bibliotecas espectrais. Como desvantagens
9
podem ser citadas a necessidade de preparo da amostra (exceto para modo ATR –
refletância total atenuada); interferência da umidade do ambiente (CHADHA;
BHANDARI, 2014).
2.3 Excipientes e polímeros
Os excipientes, por definição, são substâncias farmacêuticas auxiliares que,
do ponto de vista farmacológico, são inativos, permitem que o princípio ativo tenha
uma
determinada
forma
farmacêutica
e
são
inclusos
nas
formulações
intencionalmente (CHAUDHARI et al., 2012). Estes materiais podem ter diferentes
funções, algumas delas relacionadas com as características organolépticas, como
os agentes edulcorantes e aromatizantes, outros relacionados à estabilidade do
fármaco, como os antioxidantes ou ainda relacionados à aparência, como corantes e
agentes de revestimento. Há excipientes que contribuem para liberação do fármaco,
como os agentes desintegrantes, presentes em comprimidos, ou para o
processamento do fármaco durante a fabricação, como os deslizantes e
lubrificantes.
Os fármacos com baixa solubilidade, na maioria das vezes, requerem
excipientes como tensoativos ou agentes molhantes a fim de facilitar ou acelerar a
liberação da substância ativa e melhorar o perfil de dissolução, o qual é essencial
para a absorção adequada e eficácia do medicamento (GARCÍA-ARIETA, 2014).
Atualmente, o conceito de “substância inativa” utilizado para os excipientes está em
desuso, uma vez que, do ponto de vista biofarmacêutico e tecnológico, há
funcionalidade destas substâncias no produto final (CHAUDHARI et al., 2012).
Os polímeros fazem parte do cotidiano e representam uma das classes de
materiais mais versáteis que existem, apresentando inúmeras aplicações, entre as
quais, no setor farmacêutico (VILLANOVA; ORÉFICE; CUNHA, 2010). Os polímeros
naturais, naturais modificados e sintéticos são empregados como excipientes
farmacêuticos para a formulação de cosméticos e medicamentos de liberação
convencional e de liberação modificada. Os polímeros biodegradáveis, bioadesivos,
biomiméticos e hidrogéis responsivos têm sido amplamente incluídos em
formulações farmacêuticas (VILLANOVA; ORÉFICE; CUNHA, 2010).
10
As copovidonas são polímeros de cor branca ou levemente amarelados, com
partículas de tamanho fino e excelentes propriedades deslizantes e desintegrantes.
Geralmente são utilizadas em formulações de comprimidos processados por
compressão direta ou indireta, pastilhas e granulados (CHAUDHARI et al., 2012).
O Kollidon® VA64 é uma copovidona, denominada quimicamente como
vinilpirrolidona-co-acetato de vinila, é um polímero utilizado na área farmacêutica
como carreador hidrofílico em formulações de dispersões sólidas, como aglutinante
e desintegrante na granulação por via seca e úmida, ou na compressão direta de
comprimidos. Também atua como agente formador de película para revestimento de
comprimidos, com o intuito de melhorar a aparência e mascarar o sabor desta forma
farmacêutica (BASF, 2014).
A
crospovidona
ou
Kollidon®
CL-SF,
denominado
quimicamente
polivinilpirrolidona reticulada, tem como principal função na área farmacêutica a ação
super-desintegrante, em especial para comprimidos convencionais e sublinguais.
Este componente melhora a biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis e pode
ser utilizado em processos de granulação seca ou granulação úmida seguida de
compressão para produção de comprimidos (BASF, 2014).
O dióxido de silício coloidal, comercialmente denominado Aerosil® 200,
apresenta fórmula molecular composta por dois átomos de oxigênio ligadas a um
átomo de silício (SiO2), cor branca, característica muito fina, amorfa e higroscópica
(FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). Este excipiente é amplamente utilizado em
produtos farmacêuticos, cosméticos e produtos alimentícios, com diferentes
finalidades e concentrações (ROWE; SHESKEY; OWEN, 2009). Por apresentar
tamanho de partícula pequeno e grande área superficial específica concede
características de fluxo desejáveis, as quais são exploradas para melhorar as
propriedades de escoamento de pós em processos de produção de comprimidos,
cápsulas e outras formas farmacêuticas sólidas (SCHAFFAZICK, 2003). É também
utilizado para estabilização de emulsões, como espessante ou agente de suspensão
em géis e preparações semi-sólidas, como desintegrante na formulação de
comprimidos e adjuvante no processo de liofilização de nanocápsulas e nanoesferas
(ROWE; SHESKEY; OWEN, 2009).
11
2.4 Técnicas para obtenção de dispersões sólidas - Liofilização
Várias técnicas para melhorar a solubilidade aquosa de fármacos pouco
solúveis vêm sendo investigadas na pesquisa e desenvolvimento de novos
medicamentos. Dentre elas, podem ser citadas a formação de pró-drogas (RAUTIO
et al., 2008), a redução do tamanho das partículas (RABINOW, 2004), a
complexação com estruturas polares, como as dextrinas (LOFTSSON; DUCHENE,
2007), a formação de micelas (LAVASANIFAR; SAMUEL; KWON; 2002), a
formulação de micro emulsões (MUELLER et al., 1994), de nanoemulsões
(FATOUROS et al., 2007), de nanossuspensões (MÛLLER; PETTERS, 1998), ou de
nanopartículas (POTTA, 2010) e a formulação de dispersões sólidas (PAUDEL et al.,
2013) que é considerada uma das estratégias mais eficazes para melhorar o perfil
de dissolução destas substâncias ativas pouco solúveis (VO; PARK; LEE, 2013).
Em
comparação
com
outras técnicas utilizadas para melhorar a
biodisponibilidade de fármacos, as dispersões sólidas apresentam muitas vantagens
importantes. O processo de preparação destas formulações, por exemplo, é mais
simples e aplicável do que outras técnicas, tais como a formação de sal ou preparo
de nanopartículas e nanoemulsões, as quais envolvem processos mais longos e,
consequentemente, com maior tempo produção (VO; PARK; LEE, 2013).
Deste modo, as dispersões sólidas representam uma técnica farmacêutica útil
para aumentar a dissolução, absorção, biodisponibilidade e, consequentemente, a
eficácia terapêutica de fármacos fracamente solúveis em água. Os mecanismos
envolvidos que levam ao aumento da solubilidade do fármaco incluem a redução do
tamanho de partícula e, como resultado, o aumento de superfície de contato do
fármaco com o meio; e a conversão de formas cristalinas do fármaco para formas
parcial ou totalmente amorfas (ADIBKIA et al., 2013).
A técnica de liofilização, de forma geral, é amplamente utilizada na indústria
farmacêutica e de alimentos para secagem de produtos de origem biológica. Cerca
de 50% dos produtos biofarmacêuticos, como culturas bacterianas e proteínas,
atualmente comercializados são liofilizados com o intuito de aumentar a estabilidade,
pois esta técnica representa uma estratégia de formulação comum para esta
finalidade, uma vez que no estado sólido liofilizado as reações químicas e a
12
degradação física são inibidas ou desaceleradas e as características bioquímicas e
nutricionais são mantidas (KASPER; FRIESS, 2011).
Segundo descrito por VO, PARK & LEE (2013), a técnica de liofilização pode
ser aplicada para outras finalidades na área farmacêutica, como a produção de
comprimidos sublinguais e comprimidos dispersíveis. Além de ser uma metodologia
já empregada para formulações de produtos injetáveis para reconstituição, a
liofilização de fármacos pode ser utilizada também para a formulação de micro e
nanopartículas para sistemas de liberação modificada, uma vez que esta técnica é
realizada sem o uso de aquecimento, protegendo fármacos termolábeis da
degradação térmica que pode ser ocasionada pelo uso de outras metodologias de
secagem aplicadas à produção de sistemas particulados (KASPER; WINTER;
FRIESS, 2013). Segundo Kasper (2011), a técnica de liofilização para obtenção de
dispersões sólidas possui um grande potencial para melhorar significativamente a
solubilidade e a taxa de dissolução de fármacos pouco solúveis.
13
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
Os materiais e equipamentos utilizados neste trabalho estão dispostos no
Quadro 1 com os respectivos fornecedores/fabricantes e os modelos, quando
necessários:
Quadro 1: Materiais e equipamentos utilizados no desenvolvimento deste trabalho.
Fármaco
GFB
Fornecedor
Henrifarma Produtos Químicos e Farmacêuticos
Excipientes
Aerosil 200 (Dióxido de
silício coloidal)
Fornecedor
Pharmaspecial Especialidades
Kollidon® CL-SF
BASF S.A
(Crospovidona)
Kollidon® VA64
BASF S.A
Lutrol® F68 (Poloxamer 188)
BASF S.A
Óleo essencial de alecrim
Herbia Cosméticos Naturais e Orgânicos
Polissorbato 80 (Spam 80)
Sigma Aldich
Equipamentos
Chapa aquecedora com
agitação magnética
Modelo e Fabricante
Q261 - Quimis Equipamentos
Dissolutor de cápsulas e
299/6 - Nova Ética
comprimidos
Calorímetro de varredura
Q20 - TA Instruments
diferencial
Difratômetro de Raio-X
XDR6000 - Shimadzu
14
1603 – Shimadzu
Espectrofotômetro de
absorção no ultravioleta
visível (UV-Vis)
Espectrofotômetro de
absorção no infravermelho
Perkin-Elmer - Spectrum One B
por transformada de Fourier
Liofilizador
Shaker rotativo
Fauvel LT 1000/8 – Terroni equipamentos científicos
25D – New Brunswick Scientific CO
Termobalança TGA
Q50 - TA Instruments
3.2 Organização experimental da pesquisa
Na Figura 1, pode-se observar um fluxograma experimental das etapas que
compuseram este trabalho:
Figura 1: Fluxograma experimental da metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho.
15
3.3 Ensaios de compatibilidade entre excipientes e fármaco
As misturas físicas de GFB com cada um dos excipientes sólidos
selecionados (Aerosil® 200, Kollidon® CL-SF, Kollidon® VA64, Lutrol® F68) foram
preparadas nas proporções de 1:1 (m:m) por simples homogeneização dos
componentes em recipiente fechado sob agitação manual por cerca de dois minutos.
A razão de 1:1 foi escolhida, a fim de maximizar a possibilidade de observar
quaisquer interações (TIŢA et al., 2011). A GFB, os excipientes puros, e as misturas
entre fármaco e excipientes foram submetidos às análises de DSC, TGA e FTIR.
3.3.1 Análises térmicas
As curvas de DSC foram obtidas sob atmosfera dinâmica de nitrogênio (50
mL min-1), empregando-se cadinhos de alumínio hermeticamente fechados,
contendo 4-5 mg de amostra. A faixa de temperatura utilizada foi de 25 a 500 °C, a
uma razão de aquecimento de 10 °C min-1. A célula DSC foi calibrada com índio
utilizando as mesmas condições das amostras. O grau de cristalinidade das
amostras (Xc) foi calculado utilizando-se a Equação 1:
Equação 1
Na qual: ∆Hm = entalpia de fusão experimental (J g-1)
∆Hmt = entalpia de fusão teórica considerando o fármaco 100% cristalino (Jg-1)
As curvas TG/DTG foram obtidas na faixa de temperatura de 25-350 °C, sob
atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1), a uma razão de aquecimento de 10
°C min-1, utilizando cadinho de platina contendo aproximadamente 3 mg da amostra.
O equipamento TGA foi calibrado utilizando níquel.
Os resultados obtidos das análises de DSC e TGA foram avaliados em
software TA Universal Analysis.
3.3.2 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)
Os espectros de FTIR foram obtidos utilizando-se pastilhas de brometo de
potássio (KBr) contendo cada uma das amostras (fármaco, excipientes puros e
16
misturas 1:1 fármaco/excipiente). Para o preparo das pastilhas, triturou-se 300 mg
de KBr e 1 mg de amostra até a mistura tornar-se homogênea e opaca. Esta mistura
foi prensada com força de compressão de 10 t. As pastilhas foram inseridas no
espectrofotômetro e submetidas a 12 varreduras na região de 4000 a 400 cm-1,
utilizando uma resolução de 4 cm-1. Os espectros foram agrupados utilizando
GraphPad Prism 6.0.
3.4 Preparação das emulsões para secagem em liofilizador
Após a realização de alguns ensaios preliminares, observou-se que a
presença de Aerosil 200 e os teores de óleo de alecrim (Rosmarinus officinalis) e
fármaco influenciavam o comportamento do perfil de dissolução da genfibrozila. Com
base nestas informações, foram preparadas quatro formulações, denominadas FA,
FB, FC e FD, cujas composições podem ser observadas no Quadro 2:
Quadro 2: Composição das formulações FA, FB, FC e FD e respectivas fases da emulsão nas quais
os componentes estão inseridos.
Componentes
Fase
FA (%)*
FB (%)*
FC (%)*
FD (%)*
Genfibrozila
Oleosa
2
2
2
4
Óleo de alecrim
Oleosa
5
5
2
2
Spam 80
Oleosa
1,025
1,025
1,025
1,025
Aerosil®
Aquosa
0
2,5
2,5
2,5
Kollidon® VA64
Aquosa
2
2
2
2
Kollidon® CL-SF
Aquosa
0,25
0,25
0,25
0,25
Lutrol® F68
Aquosa
1,425
1,425
1,425
1,425
(Rosmarinus officinalis)
* Percentuais em massa (m:m).
As
quatro
formulações
foram
preparadas
empregando
o
mesmo
procedimento, para um volume total de 100 mL, utilizando água como veículo. Todos
os componentes da fase oleosa foram aquecidos a 40 °C sob agitação de 50 rpm
até completa solubilização. Para compor a fase externa da emulsão (aquosa) os
componentes foram misturados em quantidade suficiente de água destilada, até
formação de uma suspensão homogênea. A fase oleosa foi vertida sobre a fase
17
aquosa, sob agitação em agitador magnético a 50 rpm. O volume final foi
completado com água destilada.
3.5 Liofilização das emulsões
As emulsões preparadas foram congeladas a uma temperatura de – 8 °C em
congelador, por 24 horas. Após congeladas foram submetidas ao liofilizador para
secagem por 8 – 12 horas até completa sublimação da água presente nas amostras.
Estas amostras foram coletadas e determinou-se o rendimento de cada uma delas,
por meio da relação entre a massa total prévia à liofilização (descontando-se a água)
e a massa total após o processo de liofilização. Para ser convertido em
porcentagem, o valor foi multiplicado por 100.
3.6 Validação de método analítico espectrofotométrico na região do UV-Vis para
caracterização das dispersões sólidas obtidas
Para validação do método analítico foram avaliados os parâmetros de
linearidade, especificidade, precisão e exatidão, de acordo com a Resolução R
n
899, de 29 de Maio de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
e seguindo as recomendações da The International Conference on Harmonisation of
Technical Requirements for Registration of Pharmaceuticals for Human Use (ICH).
A validação realizada refere-se aos métodos de quantificação do fármaco
GFB por espectrofotometria UV-Vis, utilizados para o doseamento e para a etapa
quantitativa do ensaio do perfil de dissolução das formulações. Os solventes
utilizados foram etanol PA para o ensaio de doseamento, selecionado devido à alta
solubilidade do fármaco GFB no mesmo (Farmacopéia Brasileira, 2010) e tampão
fosfato pH 6,8 para o ensaio de dissolução. Este meio foi preparado conforme a
formulação descrita na United States Pharmacopeia (2013) e selecionado por ter pH
semelhante ao dos fluidos intestinais.
Para a realização dos ensaios de especificidade e exatidão foi preparada uma
formulação denominada “dispersão sólida placebo”, a qual foi produzida nas
mesmas condições em que dispersões sólidas contendo o fármaco foram
preparadas, porém sem a presença da GFB. As concentrações utilizadas foram as
18
mesmas das formulações FC, uma vez que esta contém os maiores teores de todos
os excipientes empregados.
A análise estatística dos dados foi realizada por meio da análise de variância
ANOVA unifatorial, na qual os resultados são considerados significativos quando a
probabilidade é inferior a 5% (p < 0,05, intervalo de confiança de 95%). A avaliação
estatística dos resultados foi realizada através do software Microsoft Office Excel®,
versão 2013.
3.6.1 Especificidade
A especificidade do método foi avaliada por meio de análises comparativas
entre soluções contendo a dispersão sólida placebo e soluções de GFB. Para tal,
preparou-se uma solução com o fármaco na concentração de 50 mg L-1 e uma
solução composta pela dispersão sólida placebo. A solução placebo foi preparada
na concentração de 190 mg L-1, que corresponde à faixa de concentração de
excipientes utilizadas nos ensaios de caracterização das formulações. Este
procedimento foi realizado empregando-se etanol PA e tampão fosfato como
solventes, a fim de avaliar este parâmetro tanto para o doseamento quanto para o
perfil de dissolução.
As soluções padrão e placebo foram centrifugadas por 10 minutos a 3000
rpm; os sobrenadantes foram coletados e submetidos às varreduras espectrais na
faixa de 200-400 nm do UV-Vis.
3.6.2 Linearidade
A linearidade foi determinada por meio do preparo de soluções de GFB em
etanol PA, nas concentrações de 25, 50, 75, 100, 125 e 150 mg L-1, em triplicata. As
respectivas
absorbâncias
destas
soluções
foram
determinadas
em
espectrofotômetro UV-Vis, no comprimento de onda de 276 nm. O mesmo
procedimento foi executado utilizando-se tampão fosfato pH 6,8 como solvente. A
construção das curvas analíticas foi realizada relacionando-se os valores de
concentração em mg L-1 no eixo das abscissas com a média dos valores das
absorbâncias respectivas a cada concentração no eixo das ordenadas. A linearidade
foi estimada por regressão linear.
19
3.6.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD)
Os limites de quantificação (LQ) e de detecção (LD) foram calculados a partir
das curvas de calibração. Calculou-se LD e LQ a partir das equações 3,3σ/S e
10σ/S, respectivamente, na qual σ é o desvio padrão da resposta e S é o coeficiente
angular da curva (ICH, 2005)
3.6.4 Precisão
Para avaliação da repetibilidade (precisão intra-corrida) foram preparadas
amostras do fármaco solubilizado em etanol PA, nas concentrações de 25, 50 e 75
mg L-1, em triplicata, totalizando nove amostras, em diferentes períodos do dia
(manhã, tarde e noite) sob as mesmas condições experimentais. O procedimento foi
repetido utilizando-se tampão fosfato pH 6,8 como solvente, nas mesmas
concentrações. A precisão intermediária (precisão inter-corrida) foi avaliada por meio
dos resultados obtidos pelas análises das amostras nas mesmas concentrações de
25, 50 e 75 mg L-1, em triplicata, em dias seguidos e distintos, por analistas
diferentes, com os solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8. As absorbâncias
das soluções foram quantificadas a 276 nm. Após as leituras, foram calculados o
desvio padrão e o coeficiente de variação das absorbâncias das amostras com cada
um dos solventes.
3.6.5 Exatidão
A exatidão foi avaliada pelo método de recuperação do analito, no qual foram
preparadas soluções de GFB em três concentrações diferentes: 25, 50 e 75 mg L-1,
em triplicata, utilizando etanol PA como solvente, totalizando nove amostras. O
procedimento foi repetido utilizando-se tampão fosfato pH 6,8 como solvente, nas
mesmas concentrações. Estas amostras foram contaminadas com quantidades
conhecidas e iguais da dispersão sólida placebo. Após o preparo das soluções,
estas foram centrifugas por 10 minutos a 3000 rpm. O sobrenadante foi coletado e
as absorbâncias destas amostras foram quantificadas a 276 nm. Os valores de
recuperação foram determinados a partir das respostas analíticas obtidas das
20
soluções finais em função da quantidade teórica de padrão adicionado, conforme a
Equação 2.
Equação 2
3.7 Estudo de solubilidade do fármaco
Foram preparadas, em triplicata, soluções contendo 50 mg de GFB em 10 mL
de tampão fosfato pH 6,8, as quais foram submetidas à agitação de 100 rpm, em
shaker rotativo, à 37 °C, por 48 h. Duas coletas foram realizadas, nos tempos de 24
h e 48 h, as quais foram centrifugas à 3000 rpm, por 10 minutos. As absorbâncias
destas amostras foram quantificadas em 276 nm.
3.8 Caracterização das dispersões sólidas obtidas
3.8.1 Determinação do teor de fármaco nas amostras
Para a determinação do teor de fármaco das amostras, foi utilizado o método
de espectrofotometria UV-Vis, previamente validado para esta finalidade, conforme
descrito no item 3.6.1. Foram utilizadas alíquotas das formulações FA, FB, FC e FD,
correspondentes a uma massa conhecida de ativo, as quais foram posteriormente
solubilizadas em etanol PA e diluídas até a concentração teórica de 50 mg L-1 de
GFB. O procedimento foi realizado em triplicata. As absorbâncias de cada uma das
soluções foram quantificadas a 276 nm. A equação da reta proveniente da curva de
calibração utilizada para o cálculo do teor de cada uma das formulações foi a
mesma descrita no item 3.6.1.
3.8.2 Perfil de dissolução
Amostras de cada uma das formulações, equivalentes a 50 mg de
genfibrozila, foram submetidas ao ensaio de dissolução, no qual foi utilizado aparato
21
2 (pá), nas condições experimentais de 50 rpm, com 900 mL de meio de dissolução
(tampão fosfato pH 6,8) e temperatura de 37 ± 0,5 ºC. As condições sink foram
mantidas. Alíquotas de 5 mL foram coletadas em 10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos,
submetidas à centrifugação por 10 minutos a 3000 rpm, e então à leitura
(sobrenadante) por meio de método espectrofotométrico, no comprimento de onda
de 276 nm. O ensaio foi realizado em triplicata. A porcentagem de fármaco
dissolvido foi calculada utilizando-se a curva de calibração obtida para o meio
tampão.
3.8.3 Calorimetria diferencial exploratória (DSC)
As curvas de DSC das formulações FA, FB, FC e FD foram obtidas sob as
mesmas condições descritas no item 3.3.1. Os resultados obtidos foram analisados
em software TA Universal Analysis. O grau de cristalinidade das amostras foi
calculado utilizando-se a equação 1, descrita no item 3.3.1.
3.8.4 Difração de Raio-X (DRX)
Os difratogramas das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada foram
obtidos em um difratômetro de Raio-X modelo XRD 600, Shimadzu. A fonte de
radiação utilizada foi CuKα, com 2θ, voltagem de 40 KV e corrente de 30 mA. Os
resultados das análises foram agrupados em software GraphPad Prism 6.0.
3.8.5 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)
Os espectros de FTIR das formulações FA, FB, FC e FD foram obtidos
utilizando-se pastilhas de brometo de potássio (KBr) contendo cada uma das
amostras. Para o preparo das pastilhas, procedeu-se utilizando o mesmo
procedimento descrito no item 3.3.2. Os espectros foram agrupados utilizando
GraphPad Prism 6.0.
22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Seleção dos excipientes utilizados nas emulsões
Os excipientes utilizados foram selecionados de acordo com a função que
desempenham na formulação final, sugerindo que a partir das dispersões sólidas
obtidas poderão ser produzidos comprimidos. Deste modo, o Kollidon® CLSF foi
escolhido com o intuito de atuar como super-desintegrante da formulação, auxiliando
não só na desintegração, mas também na molhabilidade e dissolução do fármaco
nos fluidos gastrointestinais. O Kollidon® VA64, possui função semelhante e, além
de atuar na desintegração, auxilia também no processo de compressão de
comprimidos, característica que facilitaria o uso das dispersões sólidas para a
produção desta forma farmacêutica.
O óleo essencial de alecrim (Rosmarinus officinalis L.) foi selecionado para
solubilizar a GFB na fase oleosa da emulsão, uma vez que este fármaco possui
características moleculares lipofílicas. Villar e colaboradores (2012) utilizaram óleos
essenciais de limão, anis e hortelã para a produção de sistemas auto-emulsionantes
contendo GFB e obtiverem bons resultados na solubilização do fármaco. Além disso,
o óleo de alecrim (Rosmarinus officinalis L.) apresenta baixa temperatura de
ebulição e alta volatilidade, o que permite que o mesmo seja carreado junto à água
no processo de liofilização.
O spam 80, assim como o Lutrol® F68, foram selecionados com a finalidade
de estabilizar a interface água/óleo da emulsão, tornando-a homogênea a fim de que
os componentes não se separem durante o processo de liofilização, o qual leva
cerca de 12 horas para ser finalizado. Por fim, o Aerosil® 200 foi adicionado às
formulações com o intuito de adsorver possíveis quantidades residuais de óleo de
alecrim (Rosmarinus officinalis L.), auxiliar como dessecante, reduzindo a umidade
das formulações e como desintegrante.
4.2 Estudo de compatibilidade entre GFB e excipientes
23
4.2.1 Análises térmicas
As curvas DSC da GFB pura e de cada um dos excipientes avaliados estão
representadas na Figura 2.
Figura 2: Curvas de DSC do fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon®
VA64 e Lutrol® F68
Por meio da análise das curvas de DSC relacionadas na Figura 2, observa-se
que a GFB apresenta valor de T m de 61,8 °C e ∆Hm de 115 J g-1, valores
correspondentes aos descritos na literatura por Villar (2012). A presença do evento
endotérmico que caracteriza a fusão do material é indicativa de que a GFB
apresenta estrutura molecular cristalina, o que também é condizente com a literatura
(AIGNER et al., 2012). Assim como a GFB, o Lutrol® F68 também apresenta evento
endotérmico, no qual Tm = 53 °C, valor compatível com a faixa de fusão descrita na
literatura (KOLAŠINAC et al., 2012) e ∆Hm = 160 J g-1, aproximado ao valor de 156,8
J g-1, descrito por Schubert & Müller-Goymann (2003).
A ausência do evento endotérmico, característico à fusão, é inerente a
materiais com estrutura molecular amorfa, a qual é comum a todos os outros
24
excipientes avaliados (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF e Kollindon® VA64).
O
Aerosil® 200, apresenta característica estrutural amorfa e, em decorrência disto, não
apresenta temperatura de fusão fixa, a qual ocorre em torno de 1600 °C e não
permanece constante durante o processo de passagem do estado sólido para o
estado líquido (ROWE; SHESKEY; OWEN, 2009).
A Figura 3 apresenta as curvas de DSC obtidas para a GFB pura e para as
misturas 1:1 (m/m) de GFB com os excipientes avaliados.
Figura 3: Curvas de DSC da GFB pura e das misturas GFB/excipientes.
De acordo com as curvas de DSC exibidas, todas as misturas binárias
apresentam o evento endotérmico característico de fusão da GFB e, no caso da
mistura binária GFB/Lutrol® F68, além do evento endotérmico de fusão do fármaco,
há também o pico característico da fusão do Lutrol® F68. Em outras palavras, os
valores de Tm das misturas entre GFB e cada um dos excipientes, permanece
praticamente inalterado, quando comparado ao valor de Tm da GFB pura. Neste
sentido, as curvas térmicas das misturas binárias podem ser consideradas como
25
uma sobreposição das curvas de GFB e excipientes isolados, evidenciando a
ausência de interações entre estes componentes.
Os valores de Tm e ∆Hm extraídos das curvas de DSC obtidas, bem como os
valores de Xc calculados estão dispostos na Tabela 1.
Tabela 1: Dados de análise de DSC do fármaco GFB e das misturas GFB/excipiente.
Tm (°C)
∆Hm (J g-1)
Xc (%)
61,8
- 115
98,7
GFB Aerosil
60,6
- 16,6
-
GFB Kollidon CLSF
60,0
- 19,1
-
GFB Kollidon VA64
60,0
- 23,8
-
GFB Lutrol F68
61,3
- 9,0
-
Amostras
Fármaco
GFB
Mistura fármaco/excipiente
O valor de cristalinidade (Xc) do fármaco GFB foi calculado utilizando-se o
valor de entalpia de fusão teórico (∆Hmt) do fármaco puro, o qual foi determinado por
Chen e colaboradores (2010), e equivalente a 116,49 J g-1.
A entalpia de fusão das misturas binárias entre GFB e excipiente,
considerando que as mesmas estão na proporção de 1:1 (m:m), deve corresponder,
teoricamente, à metade do valor de ∆Hm da GFB isolada, o que não ocorreu,
provavelmente em função da pequena quantidade de amostra utilizada (4 – 5 mg).
Outro fator que deve ser levado em consideração, além da massa das amostras, é a
diferença de densidade entre os pós, pois mesmo as misturas tendo sido
previamente homogeneizadas, o volume e o peso de cada uma das partículas
impede que a amostragem ocorra de forma a ter exatos 50 % do fármaco e do
excipiente (TIŢA et al., 2011).
A técnica de DSC foi proposta por ser um método rápido para avaliar
interações físico-químicas entre os componentes da formulação, por meio da
comparação das curvas térmicas das substâncias puras com a curva obtida a partir
de uma mistura física 1:1 (m:m) entre o fármaco e os outros componentes da
formulação. (TIŢA et al., 2011). Por meio das análises das curvas de DSC obtidas,
verificou-se que não houve deslocamento do pico de fusão do fármaco na presença
dos componentes avaliados.
26
A Figura 4 apresenta as curvas de TG/DTG da GFB isolada.
Figura 4: Curvas de TG/DTG da GFB isolada.
A decomposição térmica da genfibrozila em atmosfera dinâmica de nitrogênio
apresenta um único evento, sendo a Tonset em 142,3 °C, a qual indica a temperatura
em que ocorre o início da perda de massa do fármaco. A DTG indica que a Tpico
ocorre em 180 °C, temperatura na qual praticamente toda massa do fármaco foi
decomposta (resíduo inferior a 5%). Os valores de Tonset e Tpico obtidos nas curvas
da GFB correspondem aos valores apresentados na literatura (AIGNER et al., 2005).
A Figura 5 apresenta as curvas de TGA dos excipientes isolados, enquanto a
Tabela 2 relaciona os dados determinados a partir destas curvas.
27
Figura 5: Curvas de TGA dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e
Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria derivada (DTG).
28
Tabela 2: Dados de análise das curvas de TG/DTG dos excipientes puros (Aerosil® 200, Kollidon®
CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68).
Amostras
Aerosil® 200
Estágio de perda
de massa
Tonset (°C)
Tpico (°C)
Perda de massa
(%)
-
-
-
0
Kollidon® CLSF
Único
346,8
381,2
59,7
Kollidon® VA64
1°
286,9
308,9
27,4
2°
406,0
408,0
27,8
1°
218,5
255,1
41,6
2°
319,0
361,6
45,7
Lutrol® F68
Por meio dos dados obtidos a partir da avaliação da Figura 5 observa-se que
o Aerosil® 200 não sofre degradação durante o processo de aquecimento até 500
°C, temperatura na qual foram realizadas as análises termogravimétricas. Estes
resultados estão em concordância com estudo realizado por Grangeiro e
colaboradores (2006), o qual demonstrou que esse excipiente apresentou
estabilidade térmica quando submetido ao aquecimento de 600 °C.
O polímero Kollidon® CLSF apresenta um estágio único de perda de massa,
o qual ocorre com Tonset em 346,8 °C, Tpico em 381,2 °C, e perda de massa de
59,7%. Já o Kollidon® VA64 apresenta três estágios de perda de massa, cujos
valores de Tonset, Tpico e o percentual desta perda estão descritos para cada um dos
estágios na Tabela 2. Os valores observados para o Kollidon® VA64, bem como o
resíduo de decomposição após o último estágio de perda de massa estão coerentes
com os valores descritos por Shin e colaboradores (1998). O Lutrol® F68 apresenta
dois estágios de perda de massa, o primeiro ocorre com T onset em 218,5 °C, Tpico em
255,1 °C e perda de massa de 41,6%, enquanto o segundo ocorre com T onset em
319,0 °C, Tpico em 361,6 °C e perda de massa de 45,7 %. Embora todos os
excipientes selecionados para as formulações sejam utilizados em larga escala na
indústria farmacêutica (CASTELLANOS GIL et al., 2008), há poucos dados na
literatura com relação a estudos térmicos e de compatibilidade destes materiais,
tornando mais difícil a comparação dos dados obtidos com dados de outros estudos.
29
A Figura 6 apresenta as curvas de TG e DTG da GFB isolada e da mistura
entre este fármaco e cada um dos excipientes, enquanto a Tabela 3 relaciona os
dados determinados a partir destas curvas.
Figura 6: Curvas de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes (Aerosil® 200,
Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68). a) termogravimetria (TG) e b) termogravimetria
derivada (DTG).
30
Tabela 3: Dados de análise de TGA da GFB e das misturas entre este fármaco e os excipientes
(Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68)
Amostras
Estágio de perda
Perda de
Tonset (°C)
Tpico (°C)
Único
158,0
180,0
96,9
Único
154,1
180,9
43,4
1°
158,2
185,1
40,2
2°
352,2
376,1
30,9
1°
156,6
185,3
22,6
2°
281,6
305,2
25,9
3°
396,2
414,5
17,8
1°
212,4
254,9
48,5
2°
350,2
361,5
41,9
de massa
massa (%)
Fármaco
GFB
Mistura
fármaco/excipiente
GFB Aerosil® 200
GFB Kollidon® CLSF
GFB Kollidon® VA64
GFB Lutrol® F68
A mistura GFB Aerosil® 200, diferentemente da curva deste excipiente
isolado, passa a ter um estágio de perda de massa, o qual ocorre com T onset em
154,1 °C e Tpico em 180,9 °C, valores muito próximos aos observados para o
fármaco isolado. A perda de massa deste estágio foi de 43,4 % que corresponde à
cerca de metade do percentual de perda de massa da GFB pura, fato justificado pela
proporção deste material na amostra (1:1). Estas análises permitem concluir que a
estabilidade térmica da GFB não é afetada pela presença de Aerosil® 200.
Os excipientes Kollidon® CLSF e Kollidon® VA64 quando misturados à GFB
apresentaram um estágio de perda de massa adicional, ou seja, a mistura GFB
Kollidon® CLSF passou a apresentar dois estágios, enquanto a mistura GFB
Kollidon® VA64 passou a apresentar três. Assim como no caso da mistura GFB
Aerosil® 200, a adição de um estágio de perda de massa ao termograma da
amostra, deve-se ao fato de as curvas de cada um dos componentes se
sobreporem. Deste modo, o primeiro estágio de perda de massa da amostra GFB
Kollidon® CLSF apresentou Tonset em 158,2 °C e Tpico em 185,1 °C, valores muito
próximos aos apresentados no termograma do fármaco isolado. A perda de massa
neste primeiro estágio foi de 40,2 %, valor inferior ao equivalente à metade da perda
31
de massa do fármaco puro, no entanto este fato pode ser justificado pela pequena
quantidade de amostra utilizada que, associada à diferença na densidade dos pós,
pode levar a pequenas diferenças na proporção entre os componentes da mistura. O
segundo estágio de perda de massa que ocorreu no termograma da amostra GFB
Kollidon® CLSF é proveniente da decomposição do polímero, uma vez que os
valores de Tonset e Tpico encontram-se muito próximos aos valores apresentados para
o termograma deste excipiente isolado. Com a avaliação destes resultados pode-se
afirmar que a estabilidade térmica da GFB não foi afetada pela presença do
Kollidon® CLSF.
A mistura GFB Kollidon® VA64 apresenta no primeiro estágio de perda de
massa Tonset em 156,6 °C, Tpico em 185,3 °C, característicos do fármaco GFB, com
perda de massa 22,6%. Com base nestes resultados, verificou-se uma pequena
redução na estabilidade térmica da GFB na presença deste polímero e que a mistura
entre o fármaco e o excipiente possivelmente não encontravam-se na razão de 1:1,
uma vez que o valor do percentual de perda de massa não corresponde à metade
do valor total da perda de massa do fármaco isolado.
A amostra GFB Lutrol® F68 não apresentou alteração no número de estágios
de perda de massa, bem como os valores de T onset, Tpico e porcentagem de perda de
massa mantiveram-se semelhantes aos da amostra isolada. Estes resultados
indicam que os eventos térmicos de degradação, característicos da GFB, ficaram
encobertos pela curva do excipiente Lutrol® F68 ou ainda que, devido à pequena
amostragem e diferenças nas densidades das partículas das amostras houve
predominantemente maior concentração de Lutrol® F68 do que do fármaco GFB.
Deste modo, não é possível avaliar se houve aumento da estabilidade térmica da
GFB na presença deste excipiente.
4.2.2 FTIR
As análises de FTIR foram realizadas com a GFB pura, com os excipientes
isolados e com as misturas binárias entre estes componentes (GFB/excipiente). Com
base nos dados obtidos por meio da avaliação dos espectrogramas das substâncias
puras foi formulada a Tabela 4, a qual contempla os números de onda
correspondentes às principais bandas presentes em cada um dos materiais, bem
32
como a estrutura molecular o que permite a correlação dessas bandas com os
grupamentos funcionais presentes em cada molécula. Para facilitar a visualização os
nomes dos componentes foram dispostos com as mesmas cores utilizadas nos
espectrogramas, bem como as numerações das bandas foram dispostas com as
mesmas cores utilizadas nas demarcações destas bandas nas respectivas figuras
de cada um dos componentes.
Tabela 4: Fármaco GFB e excipientes Aerosil® 200, Kollidon® CLSF, Kollidon® VA64 e Lutrol® F68
com respectivas estruturas moleculares de cada composto, bem como principais bandas presentes
no espectrograma e grupos funcionais correspondentes
Principais bandas
Substância
Estrutura molecular
presentes e ligações e
grupos funcionais
correspondentes
3500:
Estiramento
ligações
O-H
de
de
ácido
carboxílico;
3000:
Estiramento
de
ligações C-H em cadeias
aromáticas;
1760: Ácido livre – ligações
C=O;
1700:
Estiramento
de
ligações C=O com H;
GFB
1430: Flexão de ligações
O-H no plano;
1240:
Estiramento
de
ligações C-O;
1100: Ligações C-O-C de
éteres
930: Flexão de ligações OH fora do plano;
800:
Estiramento
ligações
aromático.
33
C=C
em
de
anel
3500:
Ligações
possível
O-H,
indicador
de
umidade na amostra.
Aerosil® 200
1100:
Estiramento
assimétrico de ligações SiO-Si.
3500:
Estiramento
de
ligações O-H;
2900:
Estiramento
de
ligações C-H alifáticas;
Kollidon® CLSF
1700:
Estiramento
de
ligações C=O de cetonas
de cadeia aromática;
1300:
Estiramento
de
ligações C-N.
3450:
Bandas
OH
–
possível indicador de água
na amostra.
2780:
Estiramento
de
ligações CH2;
1750:
Estiramento
de
ligações C=O de cadeia
alifática;
Kollidon® VA64
1705:
Estiramento
de
ligações C=O de cadeia
aromática;
1360:
Estiramento
de
ligações C-N;
1100:
Estiramento
de
cadeia C-O-C.
3600:
Estiramento
de
ligações O-H;
Lutrol® F68
2900:
Estiramento
ligações C-H;
34
de
1430: Ligações C-O-H fora
do plano;
1240:
Estiramento
de
ligações C-O;
1100:
Estiramento
de
ligações C-O-C;
930: Ligações C-OH fora
do plano.
O espectrograma da GFB isolada com as principais bandas já identificadas é
apresentado na Figura 7.
Figura 7: Espectrograma da GFB isolada.
Observa-se neste espectrograma o conjunto de bandas na região de 3000
cm-1, as quais são indicativas da presença de ligações carbono-hidrogênio (C-H),
principalmente de cadeia alifática (entre 3000 cm -1 e 2850 cm-1) e uma banda
discreta acima de 3000 cm-1 característica de ligação C-H de composto aromático.
Estas informações estão adequadas à fórmula estrutural do fármaco.
35
Por
apresentar um ácido carboxílico em sua estrutura molecular, é possível observar
também a larga banda correspondente à de ligação O-H prevista para a região entre
4000 e 3500 cm-1. O pico intenso na região de 1760 cm-1 é indicativo da presença de
ácidos livres na cadeia, enquanto a banda presente em 1700 cm-1 é atribuída ao
estiramento da ligação C=O de ácidos carboxílicos. Entre 1550 e 1430 cm-1 são
observadas bandas normalmente atribuídas ao estiramento C=C em estruturas
aromáticas e também bandas relacionadas à flexão de ligações O-H no plano. Essas
informações conjuntamente com as bandas em 1240 cm-1 e a banda forte em 800
cm-1, correspondente a diferentes estiramentos da ligação C-O e C=C em estrutura
aromática, respectivamente, descrevem o fármaco. As informações descritas estão
de acordo com a estrutura do fármaco e também com a as informações relatadas na
literatura (AIGNER et al., 2012).
Figura 8: Espectrograma do Aerosil® 200.
O Aerosil® 200, cujo espectrograma está representado na Figura 8, apresenta
uma banda em 3500 cm-1 a qual é característica de ligações O-H, sugerindo a
presença de umidade na amostra. Por ser um componente extremamente hidrofílico,
é comum o surgimento destas bandas nesta região (EL-GIZAWY et al., 2015). As
ligações entre silício e oxigênio com características assimétricas no plano podem ser
verificadas na região de 1100 cm-1, enquanto estas mesmas ligações fora do plano
são verificadas na região de 810 cm-1. O espectrograma deste componente está
36
coerente com a estrutura molecular correspondente e também com os dados citados
por El-Gizawy e colaboradores (2015).
Figura 9: Espectrograma do Kollidon® CLSF.
Observa-se no espectrograma representado na Figura 9 a presença de uma
banda acentuada na região de 3500 cm -1, a qual é característica do estiramento de
ligações N-H. Na região de 2900 cm-1, é observada uma banda característica do
estiramento de ligações C-H, enquanto na região de 1700 cm-1 é possível observar o
estiramento de ligações C=O de cadeias aromáticas do mesmo grupo funcional. Na
região de 1450 cm-1 é evidenciada novamente a presença de estiramentos de
ligações N-H, características de grupos funcionais amina. Já a banda na região de
1300 cm-1 é sugestiva da presença de estiramentos de ligações C-N, características
de grupos funcionais amida. As bandas apresentadas estão compatíveis com a
molécula deste polímero e também com os dados encontrados na literatura (ALSHADEEDI; SAMEIN; SHEHAB, 2013).
37
Figura 10: Espectrograma do Kollidon® VA64.
O Kollidon® VA64, representado pelo espectrograma da Figura 10, apresenta
banda na região de 3500 cm-1, indicativa da presença de ligações O-H,
provavelmente indicando umidade na amostra. Na região de 2780 cm -1 é observada
uma banda relativa ao estiramento de ligações C-H. A região de 1750 cm-1 apresenta
uma banda característica do estiramento de ligações C=O de cadeia alifáticas. Já a
banda evidenciada na região de 1705 cm-1, caracteriza a presença do estiramento
de ligações C=O, porém de cadeias cíclicas, neste caso relacionadas à presença de
amidas. A região de 1360 cm-1 apresenta banda característica da presença de
estiramentos de ligações C-N, enquanto a banda presente na região de 1100 cm -1 é
comum de ligações C-O-C. Estas características são inerentes ao polímero
representado e condizentes com a literatura (SARODE et al., 2014).
38
Figura 11: Espectrograma do Lutrol® F68.
O espectrograma do Lutrol® F68, representado na Figura 11, apresenta
banda na região de 3450 cm-1, a qual refere-se ao estiramento de ligações O-H,
característica de grupos funcionais álcoois presentes na estrutura molecular deste
material. Na região de 2900 cm-1, pode-se observar a presença de banda
característica do estiramento de ligações C-H, enquanto na região de 1430 cm -1 é
evidenciado o estiramento de ligações C-O-H, no mesmo plano, também
característico de grupos funcionais álcoois, assim como a banda observada na
região de 1240 cm-1, a qual indica a presença de estiramentos de ligações C-O da
mesma função orgânica. Observa-se na região de 1100 cm-1 a presença de banda
indicativa de estiramento de ligações C-O-C, inerentes aos ésteres presentes na
molécula, enquanto a banda presente na região de 930 cm -1 caracteriza a presença
de estiramentos de ligações C-O-H fora do plano. As características observadas no
espectrograma representam a estrutura molecular do material em questão e estão
de acordo com as características descritas na literatura por Kolašinac e
colaboradores (2012).
A Figura 12 apresenta um conjunto de espectrogramas das misturas entre a
GFB e os excipientes avaliados, bem como de cada um dos materiais isolados.
39
Figura 12: Espectrogramas dos componentes isolados e das misturas. (A) GFB Aerosil® 200; (B)
GFB Kollidon® CLSF; (C) Kollidon® VA64; (D) Lutrol® F68.
Por meio da avaliação dos espectrogramas obtidos a partir das misturas
binárias entre a GFB e cada um dos excipientes pode-se observar que as bandas
correspondentes aos principais grupos funcionais da GFB permanecem presentes
nas misturas o que torna possível afirmar que em todos os casos houve
sobreposição dos espectros das substâncias isoladas. Isto significa que não houve
surgimento de novas bandas e que o desaparecimento de algumas delas é, na
verdade, o encobrimento por bandas mais intensas. As análises de FTIR, em
conjunto com os dados obtidos por DSC evidenciam que não houve interações entre
o fármaco e os excipientes avaliados, sugerindo assim que durante e após o
processo de produção das dispersões sólidas os componentes da formulação não
apresentarão incompatibilidades.
4.3 Validação da método analítico espectrofotométrico na região do UV-Vis para
caracterização das dispersões sólidas obtidas
40
A validação é uma ferramenta capaz de demonstrar, por meio de estudos
experimentais, que o método é apropriado para a finalidade a que se destina,
garantindo a confiabilidade dos resultados obtidos (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP,
2013).
4.3.1 Especificidade
A especificidade é definida como a capacidade do método em medir
exatamente um composto na presença de outros componentes que possam ser
esperados em determinada amostra, tais como impurezas, produtos de degradação
e componentes da matriz (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). Para que o
método seja considerado específico as amostras placebo não devem apresentar
nenhuma absorção no comprimento de onda selecionado para as quantificações do
fármaco, que neste caso foi de 276 nm.
Os espectros do fármaco e da dispersão sólida placebo em solvente etanol
PA e tampão fosfato pH 6,8 estão apresentadas nas Figuras 13 e 14:
Figura 13: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução contendo dispersão
sólida placebo em solvente etanol.
41
Figura 14: Espectro de absorção no UV-Vis da GFB (50 mg L-1) e da solução contendo dispersão
sólida placebo em solvente tampão fosfato.
De acordo com os espectros apresentados nas Figuras 13 e 14, não ocorreu
a sobreposição dos picos referentes ao fármaco e à solução contendo a dispersão
sólida placebo na faixa de absorção máxima da GFB (276 nm), tanto em solvente
etanol PA, quanto em tampão fosfato pH 6,8. Desta forma, assegura-se que o
método é específico no comprimento de onda utilizado para as análises, não
havendo, portanto, interferência dos demais componentes das dispersões sólidas na
quantificação do fármaco.
4.3.2 Linearidade
A linearidade é conceituada como a capacidade de um método analítico em
obter resultados diretamente proporcionais à concentração do analito na amostra,
dentro de um intervalo específico (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013). Os
resultados da avaliação da linearidade utilizando solvente etanol PA e tampão
fosfato pH 6,8 estão descritos nas Tabelas 5 e 6, respectivamente.
42
Tabela 5: Dados referentes à linearidade do método utilizando solvente etanol PA
Parâmetros
Resultados
Faixa de linearidade
25 – 150 mg L-1
Equação: y = ax + b
y = 0,0077x + 0,0092
Intercepto (b) ± desvio padrão
0,0092 ± 0,0064
Inclinação (a) ± desvio padrão
0,0077 ± 0,6274
Coeficiente de correlação (r)
0,9997
Tabela 6: Dados referentes à linearidade do método utilizando tampão fosfato pH 6,8
Parâmetros
Resultados
Faixa de linearidade
25 – 150 mg L-1
Equação: y = ax + b
y = 0,0062x + 0,0106
Intercepto (b) ± desvio padrão
0,00106 ± 0,0056
Inclinação (a) ± desvio padrão
0,0062 ± 0,5437
Coeficiente de correlação (r)
0,9993
O parâmetro linearidade foi mensurado por meio de análises estatísticas de
variância, obtendo-se resultados significativos para a regressão linear e não
significativos para o desvio da linearidade (p < 0,05) para ambos os solventes
utilizados. O coeficiente de correlação encontrado para a curva utilizando solvente
etanol PA foi de 0,9997, enquanto para o tampão fosfato pH 6,8 foi de 0,9993. O
critério mínimo aceitável para o coeficiente de correlação (r) deve ser de 0,99,
conforme preconizado pela ANVISA (BRASIL, 2003) e, deste modo, os dois valores
encontrados enquadram-se nesta especificação.
4.3.3 Limites de quantificação (LQ) e detecção (LD)
A sensibilidade do método foi analisada por meio da determinação dos limites
de quantificação (LQ) e de detecção (LD). O LD é a menor quantidade do analito
presente em uma amostra passível de detecção, embora não seja necessariamente
quantificado
sob
as
condições
estabelecidas
pelo
método
proposto.
Em
contrapartida, o LQ é a menor quantidade do analito que pode ser determinada com
precisão e exatidão aceitáveis sob as condições estabelecidas (BRASIL, 2003; ICH,
43
2005; USP, 2013). Para esses parâmetros os valores calculados para a curva
utilizando solvente etanol PA foram de 9,03 e 2,98 mg L-1, enquanto os valores
calculados para a curva utilizando tampão fosfato pH 6,8 foram de 8,37 e 2,76 mg L 1
, LQ e LD, respectivamente. Os valores encontrados para os limites de
quantificação e de detecção utilizando ambos os solventes foram semelhantes.
Analisando-se os valores de LQ aproximadamente três vezes menor que a
concentração mínima estabelecida no intervalo de quantificação (25 mg L-1), pode-se
constatar que o método proposto apresenta excelente sensibilidade, visto que
durante a dissolução/ liberação do fármaco se espera quantificar desde valores
muito baixos de concentração até valores mais elevados. Desta forma, assegura-se
que o método proposto é capaz de detectar e quantificar uma ampla faixa de
concentrações com segurança.
4.3.4 Precisão
A precisão do método avalia a proximidade dos resultados obtidos em uma
amostragem múltipla referente a uma mesma amostra (BRASIL, 2003; ICH, 2005;
USP, 2013). Os resultados referentes à repetibilidade (precisão inter-dia) e à
precisão intermediária (precisão intra-analista) para a GFB nos solventes etanol PA
e tampão fosfato pH 6,8 foram expressos em valores de coeficiente de variação e
estão dispostos nas Tabelas 7 e 8, respectivamente.
Tabela 7: Dados referentes à repetibilidade (precisão inter-dia) do método para os solventes etanol
PA e tampão fosfato pH 6,8.
Etanol PA
Conc.
Analista
teórica
-1
(mg L )
1
2
Média
-1
(mg L )
-1
Tampão fosfato pH 6,8
DP (mg L )
CV (%)
Média
-1
(mg L )
-1
DP (mg L )
CV (%)
25
24,96
0,22
0,9
24,94
0,56
2,2
50
49,20
0,74
1,5
51,98
0,09
0,2
75
75,65
0,46
0,6
73,97
1,29
1,7
25
26,74
0,40
1,5
27,52
0,28
1,0
50
53,49
1,57
2,9
53,75
0,25
0,5
75
79,03
2,03
2,6
79,77
2,24
2,8
44
Tabela 8: Dados referentes à precisão intermediária (precisão intra-analista) do método para os
solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8.
Etanol PA
Conc.
Analista
Média
teórica
-1
(mg L )
-1
(mg L )
1+2
-1
Tampão fosfato pH 6,8
DP (mg L )
CV (%)
Média
-1
(mg L )
-1
DP (mg L )
CV (%)
25
25,85
1,01
3,9
26,61
1,25
4,7
50
51,35
2,59
5,0
52,87
0,99
1,9
75
77,34
2,27
2,9
76,87
3,58
4,7
Os valores obtidos contemplam o limite máximo aceito de 5,0%, conforme
recomendação da RE 899, de 29/05/2003 (BRASIL, 2003). A análise estatística de
ANOVA demonstrou que não há diferenças significativas entre as análises
realizadas nos diferentes períodos para p < 0,05.
4.3.5 Exatidão
A exatidão corresponde à proximidade dos resultados obtidos pelo método
em estudo em relação ao valor verdadeiro (BRASIL, 2003; ICH, 2005; USP, 2013).
Este parâmetro foi avaliado por meio do método de adição de impurezas (dispersão
sólida placebo) a soluções de fármaco em concentrações conhecidas. Os resultados
das análises estão dispostos na Tabela 9:
Tabela 9: Dados referentes ao percentual equivalente à exatidão do método proposto para os
solventes etanol PA e tampão fosfato pH 6,8
Etanol PA
Conc. teórica
-1
Média
-1
Tampão fosfato pH 6,8
Exatidão (%)
CV (%)
Média
Exatidão (%)
CV (%)
24,67
98,67
2,4
1,7
51,01
102,02
1,3
1,1
73,81
98,41
1,3
(mg L )
(mg L )
25
25,34
101,37
5,0
50
49,15
98,30
75
75,47
100,63
45
-1
(mg L )
Por meio da avaliação dos dados da Tabela 9, calculou-se a porcentagem
média da exatidão, a qual foi de 100,1 % ± 3,05 %.
A avaliação dos resutados da validação do método espectrofotométrico UVVis para quantificação de GFB nas formulações permite afirmar que o comprimento
de onda selecionado para tal finalidade foi adequado, e também garante que essas
determinações sejam realizadas de forma específica, com precisão e exatidão
adequados para o estudo das dispersões sólidas.
4.4 Caracterização das dispersões sólidas obtidas
4.4.1 Estudo de solubilidade do fármaco
A solubilidade do fármaco GFB foi estudada em meio tampão fosfato pH 6,8,
a fim de garantir condições sink durante o ensaio de perfil de dissolução das
dispersões sólidas produzidas. Os resultados obtidos estão descritos na Tabela 10.
Tabela 10: Média, desvio padrão e CV do estudo de solubilidade da GFB em tampão fosfato pH 6,8.
Tempo (h)
24
48
546,19
659,33
Desvio Padrão (mg L )
64,36
79,38
CV (%)
11,78
12,04
-1
Média (mg L )
-1
Por meio da análise dos valores obtidos nos tempos de 24 e 48h pode-se
afirmar que não houve saturação do meio no tempo de 48 h de análise, uma vez que
houve aumento do valor de dissolução do fármaco quando comparado ao valor da
primeira coleta no tempo de 24 h. Deste modo, pode-se garantir que as condições
sink foram mantidas para a GFB em meio tampão fosfato pH 6,8.
4.4.2 Determinação do teor de fármaco nas amostras
A determinação do teor de GFB presente nas amostras foi realizada por
método espectrofotométrico UV-Vis, em triplicata, e os valores das médias estão
descritos na Tabela 11. Os valores em concentração (mg L-1) foram calculados a
partir dos valores das leituras de absorbância de cada uma das amostras por meio
46
das curvas de calibração construídas na validação da metodologia analítica deste
trabalho.
Tabela 11: Formulações e respectivos teores médios de fármaco, DP e CV.
Formulação
Média teor (%)
DP
CV (%)
FA
108,88
2,57
2,4
FB
104,99
2,5
2,4
FC
101,35
0,69
0,7
FD
92,39
3,86
4,2
Por meio da avaliação dos resultados obtidos, observa-se que os teores
calculados em cada uma das formulações apresentaram resultados diferentes entre
si. A faixa de valores de aceitação sugerida como padrão pela Farmacopeia
Brasileira (2010) para ensaios de doseamento de formulações contendo o fármaco é
de 90 – 110 %. Todas as formulações apresentam valores inclusos na faixa
especificada.
4.4.3 Perfil de dissolução
O ensaio do perfil de dissolução das dispersões sólidas obtidas está
representado na Figura 15.
47
Figura 15: Perfil de dissolução das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada
Os valores das concentrações correspondentes a cada intervalo de tempo
dos perfis de dissolução foram corrigidos com os valores de teor para cada
formulação. Analisando a Figura 15, pode-se afirmar que todas as formulações
apresentaram melhora na dissolução do fármaco, quando comparadas à GFB
isolada a qual se reflete num aumento de, no mínimo, 60%, caso da FA.
Ao se comparar as formulações, a formulação FA, apresentou perfil de
dissolução inferior às demais formulações, enquanto que para as formulações FB e
FD, a dissolução do fármaco se deu de forma semelhante.
Por meio de análise estatística ANOVA, observou-se que não houve
diferenças significativas na liberação do fármaco nas formulações FA, FB, FC e FD
nos tempos de 10, 20 e 30 minutos, bem como das formulações FB, FC e FD em
todos os tempos avaliados (10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos).
Desta forma, pode-se afirmar por meio da Figura 15 e do Quadro 2, que a
adição de Aerosil 200 é fundamental para uma rápida liberação do fármaco. A
48
concentração de óleo, bem como a proporção deste material em relação à GFB não
intereferiram nos perfis de liberação deste fármaco.
4.4.4. DSC
As curvas de DSC obtidas para cada uma das formulações e para a GFB
isolada estão agrupadas na Figura 16:
Figura 16: Curvas de DSC da GFB isolada e das formulações FA, FB, FC e FD.
Por meio da avaliação das curvas de DSC da GFB isolada e das formulações,
pode-se observar que o evento endotérmico característico da fusão do fármaco, que
ocorre em torno de 60 °C não pode mais der visualizado em nenhuma das
formulações nesta temperatura. As formulações FA, FB e FC apresentam discreto
evento endotérmico em torno de 48 °C, o qual é característico da temperatura de
fusão do Lutrol® F68 (KOLAŠINAC et al., 2012). Este material está presente em
todas as formulações e, possivelmente manteve-se na forma cristalina. A formulação
FD apresenta um evento endotérmico em torno de 53 °C, o qual provavelmente
49
ocorre em decorrência da presença de Lutrol® F68 na formulação, o qual apresenta
faixa de fusão próxima a esta temperatura.
De acordo com Villar e colaboradores (2013), a amorfização do fármaco
ocorre possivelmente devido à pré-solubilização deste componente em óleo, neste
caso de alecrim (Rosmarinus officinalis L.), o qual devido à alta volatilidade evapora
da formulação durante a secagem, porém não faz com que o fármaco recristalize
após a volatilização.
4.4.5 DRX
Os difratogramas das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada estão
dispostos nas Figuras 17 e 18.
Figura 17: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD e da GFB isolada.
50
Figura 18: Difratograma das formulações FA, FB, FC e FD.
Por meio da avaliação da Figuras 17, observa-se que a GFB se apresenta na
forma cristalina, o que é caracterizado nas análises de DRX pela presença de picos
longos e afilados. Ao contrário, a ausência destas características, também chamada
de halos amorfos, é comum a estruturas com baixa cristalinidade.
A formulação FA, a qual não possuía Aerosil 200 na composição, apresentouse no difratograma com menos picos do que a GFB isolada, o que caracteriza
amorfização parcial do fármaco presente. Este mesmo fenômeno de redução de
cristalidade foi observado nas demais formulações, no entanto, a formulação FC
destaca-se por apresentar mais halos amorfos e menos picos, podendo-se assim
afirmar que foi a formulação na qual a GFB teve maior redução de cristalinidade. No
entanto, tal comportamento de amorfização não apresentou ampliação significativa
no perfil de dissolução do fármaco quando comparado ao perfil de dissolução da
GFB nas formulações FB e FD.
51
4.4.6 FTIR
Os espectros das formulações e da GFB isolada estão agrupados na Figura
19 e 20.
-1
Figura 19: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (4000 - 600 cm ).
Figura 20: Espectrograma das formulações FA, FB, FC e FD e GFB isolada (ampliação 2000 - 600
-1
cm ).
52
As formulações avaliadas apresentaram bandas muitos semelhantes às da
GFB, no entanto em menor intensidade, uma vez que possuem outros componentes
na formulação. Todas as formulações apresentam em seus espectros bandas
intensas na região de 3500 cm-1, inerentes a ligações O-H terminais, as quais podem
ser de ácidos carboxílicos, presentes na estrutura molecular do fármaco, álcoois,
característicos da cadeia do Lutrol® F68, ou ainda indicativas da presença de
umidade nas formulações. As dispersões sólidas são formulações muito sensíveis à
umidade do ambiente (HUANG; DAI, 2014) e, mesmo armazenadas em recipientes
fechados, podem adsorver esta umidade, uma vez que apresentam alguns
componentes higroscópicos na composição.
A formulação FD apresenta uma intensa banda na região de 1100 cm -1, a qual
encobre a maioria das bandas inerentes à estrutura molecular da GFB nesta região.
Estas características são inerentes a ligações Si-O, presentes no Aerosil® 200.
Como o processo de liofilização ocorre de forma mais lenta do que outros processos
de secagem, como spray drying, por exemplo, há possibilidade de haver separação
de fases após a secagem, mesmo quando a emulsão/suspensão encontra-se
estabilizada (KASPER; FRIESS, 2011). Devido à pequena quantidade de amostra
utilizada para análise de FTIR, mesmo a amostra estando homogeneizada, há
probabilidade de haver regiões com maior quantidade de determinadas matériasprimas, principalmente as que possuem densidades muito diferentes, o que justifica
o surgimento da intensa banda na região de 1100 cm -1 na formulação FD.
53
CONCLUSÃO
A avaliação de compatibilidade entre o fármaco GFB e os excipientes
estudados não apresentou nenhuma evidência de incompatibilidade levando em
consideração as técnicas para tal avaliação. O TGA das amostras demonstrou
também que nenhum dos excipientes utilizados modifica a estabilidade térmica da
GFB. As análises de FTIR das misturas binárias entre GFB e excipientes avaliados
não demonstrou desaparecimento, alteração ou surgimento de novas bandas, sendo
este mais um elemento que comprova a inexistência de incompatibilidades.
O método analítico proposto para a quantificação da GFB por meio da técnica
espectrofotométrica na região do UV-Vis, mostrou ser específica, linear, precisa e
exata na faixa de quantificação de 25-150 mg L-1. Este também apresentou LQ e LD
baixos, que permitem o seu emprego em ensaio de dissolução. Deste modo, o
método validado no presente estudo destaca-se devido à sua rapidez, fácil
interpretação, baixo custo operacional, elevada confiabilidade de resultados e
aplicabilidade na quantificação de GFB.
As quatro formulações evidenciaram o aumento da dissolução do fármaco
GFB, sendo que por meio da avaliação dos difratogramas em conjunto com os
termogramas, é possível afirmar que houve redução de cristalinidade do fármaco em
todas as formulações. Entretanto, a formulação FC pode ser considerada a mais
promissora dentre as quatro estudadas, pois, embora tenha apresentado perfil de
dissolução sem diferenças significativas quando comparadas à FB e FD, em todos
os intervalos avaliados, apresentou maior índice de amorfização com menor
concentração de óleo de alecrim (comparado à FB) e mesma porporção de
óleo/GFB (comparada à FD), o que acarreta em uma menor utilização de óleo
essencial, reduzindo o custo final da formulação.
Tendo em visto esse conjunto de resultados novos estudos utilizando outros
óleos essenciais para a produção das dispersões sólidas, a fim de se verificar se há
influência do tipo de óleo utilizado na amorfização do fármaco, bem como a
continuidade deste estudo visando a produção de comprimidos a partir das
dispersões sólidas aqui desenvolvidas, com posteriores ensaios in vivo, uma vez
54
que estas mostraram-se promissoras quanto ao perfil de dissolução deste fármaco
quando comparados a esta substância isolada.
55
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