Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377 Curso de Administração - N. 9, JUL/DEZ 2010 CONTABILIDADE GERENCIAL ALIADA À MINERAÇÃO DE DADOS *Aline Marques Honorato Lopes da Silva **Ana Valéria Vargas Pontes ***Saulo Moraes Villela RESUMO Com a globalização e a constante modernização empresarial, a contabilidade gerencial precisa estar apta a acompanhar esses avanços e continuar analisando e fornecendo as informações necessárias às tomadas de decisões das empresas. Para isso, a contabilidade gerencial também pode usufruir das tecnologias que acompanham essa modernização, como por exemplo, a mineração de dados. A mineração de dados tem por objetivo principal descobrir informações relacionadas e concisas, às vezes, desconhecidas até pela própria empresa, em meio a suas enormes bases de dados, pois, na maioria das vezes, esses dados estão espalhados e não vinculados da maneira correta. Este estudo se propôs a investigar, através de uma pesquisa bibliográfica, como a mineração de dados pode auxiliar a contabilidade gerencial. O que pôde ser observado foi que, com a descoberta de conhecimentos proporcionada pela mineração de dados, as estratégias organizacionais, sustentadas pela contabilidade gerencial, aumentam e proporcionam o aumento de competitividade entre as empresas. Palavras-chave: Contabilidade gerencial. Mineração de dados. Tomada de decisão. Banco de dados. Conhecimento. ABSTRACT With globalization and constant modernization, enterprise management accounting needs to be able to monitor these developments and continue analyzing and providing the information needed for decision-making businesses. For this, the management accounting can also take advantage of technologies that come with these upgrades, such as data mining. The data mining aims to discover information related principal and concise that sometimes the company itself is unaware of their huge databases, because in most cases, these data are scattered and not tied properly. This study aimed to investigate, through a literature search, such as data mining can assist in management accounting. What can be observed was that with the knowledge discovery provided by data mining, organizational strategies, underpinned by management accounting, enhance and provide increased competition between companies. Key-words: Management accounting. Data mining. Decision making. Database. Knowledge. *Graduanda em Sistemas de Informação pela Faculdade Metodista Granbery. Email: [email protected] **Mestre em Sistemas de Gestão. Professora da Faculdade Metodista Granbery. Email: [email protected] ***Doutorando em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor da Faculdade Metodista Granbery. Email: [email protected] 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo apresentar a relação, que atualmente se faz necessária, entre a contabilidade gerencial e a mineração de dados. Relação essa que visa expandir visões estratégicas e aumentar a competitividade das empresas. As empresas modernas precisam estar constantemente investindo em maneiras de obter vantagens competitivas através de planejamentos estratégicos para se manterem em um mercado cada vez mais exigente. A contabilidade gerencial passa, nesse momento, a ter um papel ainda mais significativo, visto que ela necessita conhecer tudo o que mensura uma empresa, os dados de todos os setores, as transações, os stakeholders (acionistas, funcionários, fornecedores, clientes etc.), enfim, tudo o que faz com que a empresa sobreviva, e, a partir desse conhecimento, a contabilidade gerencial pode apoiar as funções da administração: planejar, organizar, dirigir e controlar. Normalmente, essas empresas detêm grandes bases de dados, mas, ainda assim, algumas delas não sabem de fato aproveitar todo o conhecimento “escondido” nesses acervos de dados. A reposta para essa necessidade, que muitas vezes a organização não sabe onde procurar ou recorrer, está em aplicar métodos para extrair os dados realmente úteis e relacionar esses dados, com o intuito de descobrir soluções para determinados problemas ou que ajudem na tomada de decisão, de maneira mais eficiente. Após uma breve introdução, o estudo está estruturado em seis subseções principais. Inicialmente é realizada uma revisão da literatura sobre bancos de dados e contabilidade gerencial, depois é analisada a importância da TI (Tecnologia da Informação) nas empresas modernas e, por fim, são apresentadas as etapas na descoberta de conhecimento, as tarefas de mineração de dados e a principal ferramenta de visualização que auxiliará na tomada de decisão. Este artigo apresenta apenas uma das ferramentas de visualização, o OLAP (On-line Analytical Processing), mas é necessário que fique claro que existem muitas outras ferramentas que têm por objetivo fornecer a visualização da informação minerada. Como complemento ao trabalho, serão apresentados multicasos sobre a implantação de data mining em alguns negócios. A pesquisa é de cunho bibliográfico, pois se baseia em artigos científicos, livros e periódicos já publicados para abordar as questões levantadas dentro do objetivo deste trabalho. Para Cervo e Bervian (1983), a pesquisa bibliográfica explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos. 2 2 REFERENCIAL TEÓRICO Alguns fatores precisam ser analisados e definidos para que a compreensão e a relação entre os elementos sejam naturais. A mineração de dados está relacionada a bancos de dados, já que é um conjunto de técnicas aplicadas a bancos. Além disso, a mineração faz parte de um processo ainda maior, que é a descoberta de conhecimento. A contabilidade gerencial está ligada às empresas, e as empresas, por sua vez, são proprietárias dos bancos de dados e utilizam-se de sistemas de informação para movimentar esses bancos. E, por fim, as empresas, enquanto organizações, permeiam todos esses elementos transformando-os em um ambiente único, com o intuito de ampliar a competitividade no mercado. 2.1 Banco de dados e sistemas de informação Navathe (2005, p.4) conceitua um banco de dados como “uma coleção lógica e coerente de dados com algum significado inerente”. Özsu (2001, p.2) então explica que “uma das motivações importantes por trás do uso de sistemas de banco de dados é o desejo de integrar os dados operacionais de um empreendimento e proporcionar acesso centralizado, e, portanto controlado, a esses dados.” Porém, ainda segundo o autor, a tecnologia de redes vai em sentido contrário à centralização, então surge um outro conceito importante para entender a tecnologia de banco de dados, que é a integração. Navathe (2005) afirma que uma das características de um banco de dados é representar um minimundo, onde qualquer alteração que aconteça no mundo real deve ser refletida nesse minimundo, para que as informações contidas nesse banco de dados sejam confiáveis. Por isso, é comum que os bancos de dados se tornem a chave, o ponto crucial, e na maioria das vezes, a vida de uma empresa, não apenas pelos amontoados de dados que são inseridos lá, mas principalmente pela relação que existe entre esses dados, gerando informações úteis. Mas como os dados são selecionados e inseridos nos bancos de dados? Através dos sistemas de informação. Laudon e Laudon (2004, p.7) definem um sistema de informação como “um conjunto de componentes inter-relacionados que coleta (ou recupera), processa, armazena e distribui informações destinadas a apoiar a tomada de decisões, a coordenação e o controle de uma organização”. O’brien (2004, p.6) complementa dizendo que “sistema de informação é um conjunto organizado de pessoas, hardware, software, redes de comunicações e recursos de 3 dados que coleta, transforma e dissemina informações em uma organização”. 2.2 Contabilidade gerencial A contabilidade gerencial é definida por Iudícibus (1998, p.21) como “todo procedimento técnico, informação ou relatório contábil feitos ‘sob medida’ para que a administração os utilize na tomada de decisões”. Pizzolato (2000, p.194) contribui afirmando que “a contabilidade gerencial está voltada para a informação contábil que pode ser útil à administração, de forma adequada para assessorar nos processos decisórios”. E Padoveze (1999) diz que “a contabilidade gerencial pode ser definida como o processo de identificação, mensuração, acumulação, análise, preparação, interpretação, e comunicação de informação” e complementa, em Padoveze (2000, p.31), afirmando que “a contabilidade gerencial é relacionada com o fornecimento de informações para os administradores – isto é, aqueles que estão dentro da organização e que são responsáveis pela direção e controle de suas operações”. Todos os autores argumentam sobre um ponto comum, quando dizem que a contabilidade gerencial está diretamente ligada à tomada de decisões. Tomada de decisões, no entanto, nos remete à ideia de estratégia, portanto, a contabilidade gerencial pode ser também estratégica. O planejamento estratégico tem por objetivo promover a “vantagem competitiva”, que Jamil (2001, p.20) define como “o conjunto de fatores que levam a que uma empresa difira positivamente de seus competidores”, possibilitando que as organizações alcancem seus objetivos da melhor forma, ou seja, da maneira mais adequada. Então o que fazer para facilitar e apoiar a contabilidade gerencial quanto à tomada de decisões? A solução é utilizar ferramentas que extraiam e trabalhem os dados a fim de transformá-los em informações úteis à contabilidade gerencial. Não por acaso, pois Kaplan & Norton (1997) acreditam que é dever da contabilidade gerencial ter conhecimento de como a informação é criada, processada, estocada, comunicada e interpretada. 2.3 A empresa e a implantação de TI Antes de falar sobre o relacionamento entre contabilidade gerencial e a mineração de dados, é preciso ressaltar algumas condições necessárias à empresa. Segundo Walton (1993), é preciso que já se tenha percorrido todo um caminho, em que a empresa avalia com muita 4 cautela e adota as soluções tecnológicas como visão estratégica e consiga, de fato, obter sucesso. Precisa ficar claro que nem a mercearia da esquina nem uma multinacional conseguirão sucesso imediato com implantação e uso de sistemas de informação. São necessários vários períodos (implantação, adaptação, treinamento, confiabilidade, segurança etc.); é importante que a empresa obtenha um volume razoável de dados confiáveis, pois, a partir daí, poderão ser gerados relatórios, gráficos e vários outros materiais para apoiar o gerenciamento. Uma mercearia, dificilmente, será uma empresa alvo para essas implantações, por isso é sempre reafirmado que a análise do todo é essencial. Walton (1993) diz que a implantação de TI em uma organização precisa ser bem planejada e analisada para se ter certeza de que haverá sucesso no uso do sistema e que a organização realmente vivenciará vantagens ao utilizá-lo. Sobre isso, Earl e Feeny (1995, p.145) afirmam que “muitos presidentes de empresas estão cansados de escutar que a tecnologia da informação pode gerar grandes benefícios, entretanto em diversos casos eles observam fracassos em projetos”. Walton (1993) expõe, de exemplo, um caso de clínicas médicas, mostrando o que acontece quando não são proporcionadas à organização as condições necessárias a essa implantação: Os médicos falhavam na entrada dos diagnósticos e das informações de tratamento nas consultas, o que tornou os dados não confiáveis. (...) O ritmo normal de trabalho dos médicos era tão corrido que mesmo as pequenas tarefas de pesquisar e fazer entrar dados eram tidas como difíceis e, portanto frequentemente negligenciadas, apesar de o mérito das mesmas ser reconhecido. (WALTON, 1993, p.29) Este caso mostra que o sistema deveria ter um banco de dados para que, além de conter dados e informações sobre os pacientes, pudesse agilizar as pesquisas a esses registros, porém, esse caso feriu uma das propriedades implícitas que um banco de dados deve possuir, que é a representação de algum aspecto do mundo real, explicado anteriormente. Padoveze (2000) reafirma a necessidade de dados confiáveis quando diz que: A informação deve ser tratada como qualquer outro produto que esteja disponível para consumo. Ela deve ser desejada, para ser necessária. Para ser necessária, deve ser útil. Cabe a nós, contadores gerenciais, construir essa mercadoria com qualidade e custos competitivos, já que temos plena consciência de sua utilidade e, portanto, de sua extrema necessidade para o gerenciamento dos negócios.(PADOVEZE, 2000, p.44) 5 Por isso, é necessário o comprometimento da empresa e de todos os colaboradores. Sobre isso, Walton (1993, p.84, 85) diz que “muitas companhias estão mudando sua estratégia de administração de pessoal, ao passar daquela baseada na obediência para uma baseada no comprometimento. O comprometimento mútuo vai bem além do contexto tradicional”. Para concluir, cita os principais pontos que devem ser abordados a partir desse comprometimento (tanto por parte do funcionário, quanto pela empresa): • Melhoria de qualidade; • Diminuição de perdas; • Ganho de produtividade; • Garantia de emprego; • Participação na tomada de decisões e outros. Walton (1993) acredita que quando se trata de organizações que usam TI deve haver o constante aperfeiçoamento e retreinamento dos empregados. De acordo com Rosow e Zager (apud Walton, 1993) “as empresas devem se preparar para novas tecnologias institucionalizando o ‘aprendizado contínuo’”. O aprendizado contínuo, em resumo, é caracterizado por quatro pontos principais: • Aprende-se em todos os dias de trabalho; • Deve-se conhecer a cultura e os relacionamentos da organização; • Todos os colaboradores devem relacionar-se; e • Todos devem transmitir conhecimento. Valeriano (2003) completa, concluindo que “os gerentes estão desdobrando novas formas de informação gerencial contábil para assistir e fortalecer os funcionários em suas atividades de melhoria contínua”. Portanto, todos os colaboradores precisam ter consciência sobre sua importância na elaboração dessa nova fase na organização. 2.4 Necessidade de organização do acervo de dados Para entender a necessidade de trabalhar dados e informações, a fim de produzir conhecimento para apoiar a contabilidade gerencial na tomada de decisões, é preciso definir e relacionar os termos: dado, informação e conhecimento. Jamil (2001, p.25) define um dado como “valor medido sem a preocupação de contexto e relevância que permita ser usado de imediato”, portanto, uma empresa pode possuir incontáveis dados e não conseguir utilizá-lo em processos decisórios ou qualquer outra situação crítica. Nada melhor do que exemplos 6 para definir os termos citados anteriormente. Segundo Jamil (2001, p.161), “um dado pode ser uma temperatura, por exemplo, 38ºC. Uma informação seria que 38ºC é a temperatura do corpo de uma pessoa.” Conhecimento seria a análise feita com essa informação: se sabemos que a temperatura média do corpo humano é de 36ºC, esta pessoa então está com febre e, a partir daí, pode-se tomar decisões para resolver esse problema, como tomar um banho frio ou ingerir um remédio antitérmico. Jamil (2001, p. 9) ao contar como se iniciou a necessidade de TI em empresas modernas, faz a seguinte afirmação: “outro impacto profundo ocorre sobre os fluxos de informações e sobre os processos de tomadas de decisão (dois dos principais problemas a serem tratados pelas ferramentas de TI) que se tornaram crescentemente lentos”. Isto porque, além de existir o problema dos organogramas empresariais que eram verticais demais, havia o problema da acumulação de dados não relacionados, dados que não eram transformados em conhecimento e que, consequentemente, complicavam a tomada de decisões. E, segundo Silberschatz et al. (1999), o problema principal nas organizações que detêm quantidade volumosa de dados é que normalmente esses dados estão distribuídos dentro da organização, ou seja, estão em várias bases de dados correspondentes a cada departamento (RH, produção, comercial), por exemplo. Este principal problema ocasiona outro, que também deve ser considerado, que é a proliferação de dados não confiáveis. Pois, com várias bases de dados, começa haver redundância de informações e inconsistências, como dados desatualizados em algumas bases. Fatos estes que vêm mais uma vez comprovar a necessidade da criação de uma visão estratégica por parte da empresa. 2.5 O processo de descoberta de conhecimento Grzeszezeszyn (2005), em sua definição de estratégia empresarial, cita a necessidade de ferramentas que auxiliem a gestão, a fim de possibilitar a sobrevivência e o crescimento da organização. Diante desse contexto, surge, então, como parte da solução do problema apresentado no item anterior (a outra parte da solução é o comprometimento da empresa e de todos os colaboradores em garantir a entrada de dados confiáveis através sistemas de informação, conforme explicado no item 2.3), a mineração de dados, que tem por objetivo trabalhar os 7 dados a fim de transformá-los em conhecimento e, a partir daí, descobrir, segundo O’brien (2004, p. 291) “padrões, tendências e correlações ocultas nos dados, o que pode propiciar uma vantagem competitiva estratégica a uma empresa”. Amo (2004) diz que as etapas para o processo de descoberta de conhecimento, conhecido pelo termo original KDD (Knowledge Discovery in Databases), são as seguintes: • Limpeza dos dados; • Integração dos dados; • Seleção dos dados; • Transformação dos dados; • Mineração; • Avaliação ou Pós-processamento; • Visualização. A limpeza de dados consiste na garantia da consistência dos dados, preenchimento de informações que deveriam ser “não nulas”, eliminação de ruídos e redundâncias, e qualquer processo que possa ocasionar informações totalmente confiáveis. A integração de dados é a combinação de várias fontes de dados. A partir dessa definição, surge o conceito de Data Warehousing, que é um repositório onde são agrupados todos esses dados, a fim de relacioná-los para que possam continuar sendo aplicadas as técnicas de mineração de dados. Selecionar os dados compreende extrair desse novo repositório apenas dados relevantes às tarefas que precisam ser avaliadas. Já a transformação dos dados é o ato de fazer com que o dado fique na forma mais apropriada à mineração. Um exemplo seria um dado que está definido no banco como string, e, na verdade, é um integer. Mineração, ou data mining, consiste em aplicar métodos inteligentes, por exemplo, regressões, árvores de decisões ou análise de grupamentos, entre outros, a fim de deixar que apenas algumas colunas (conjuntos de dados), de acordo com os critérios do usuário, continuem no processo. É importante ressaltar que essa é a etapa essencial de todo o processo. Na avaliação ou pós-processamento são identificados os padrões, tendências que o usuário necessita analisar. E por último a visualização, em que são utilizadas técnicas de visualização e representação para apresentar o conhecimento minerado ao usuário. A Figura 1 mostra a sequência das etapas de KDD. 8 Figura 1 – “Passos fundamentais de uma mineração bem sucedida” Navega (2002) Fonte: Navega (2002), adaptada pela autora. 2.6 Mineração de dados e a ferramenta de visualização OLAP Como citado anteriormente, a mineração de dados é a etapa principal de todo o processo de descoberta de conhecimento e é também a principal aliada da contabilidade gerencial nesse estudo. Já a ferramenta OLAP surge como um facilitador para as empresas na visualização do conhecimento minerado. Nos próximos itens serão detalhados esses dois componentes. 2.6.1 As tarefas de mineração de dados Existem algumas tarefas de data mining que, de acordo com a necessidade da contabilidade gerencial, deverá ser escolhida a mais adequada para apoiar a solução de determinado problema ou para facilitar qualquer análise que seja. Contudo, como em qualquer processo que envolva estratégia e tomada de decisão, é necessário fazer uma validação do problema e analisar qual tarefa apresentará os melhores resultados. De acordo com Amo (2004), as tarefas podem ser divididas em: • Regras de associação; • Padrões sequenciais; 9 • Classificação; • Agrupamentos; • Exceções. As regras de associação têm por objetivo descobrir padrões do tipo X → Y (se X então Y). Regras, essas, que são comumente utilizadas na análise de compras, para se fazer associação entre produtos. Para exemplificar, será exposta a “famosa” regra de associação entre fraldas e cervejas. Segundo Gurovitz (1997), uma grande rede de varejo dos Estados Unidos descobriu a partir de seu acervo de dados que a venda de fraldas descartáveis está associada à de cerveja. Essa rede de varejo constatou que, em geral, os compradores eram homens, que saíam à noite para comprar fraldas e aproveitavam para levar algumas latinhas de cerveja. A partir dessa descoberta, a seguinte medida foi tomada: colocar os produtos um ao lado do outro; e, como resultado, obteve o expressivo aumento da venda dos dois produtos. Um padrão sequencial define uma ordem cronológica em que fatos ocorreram com um conjunto de itens (<i1, ..., in>). Por exemplo: musculação, luva palmar e squeeze, significa que “pessoas que praticam musculação, algum tempo depois compram luva palmar e squeeze”. Uma tarefa de classificação consiste em definir um modelo a partir de objetos que ainda não possuem classificação, baseando-se em dados de amostragem que possuem objetos corretamente classificados. Um exemplo seria, a partir dos atributos de um carro (cor, nº de portas, cilindrada etc.), classificá-lo em esporte, utilitário ou passeio. Os agrupamentos ou clusters tentam descobrir, diferentemente da classificação, os atributos comuns de uma classe em determinados agrupamentos. Por exemplo, descobrir que moradores do bairro A fazem compras aos domingos, e já os moradores do bairro B fazem compras entre as segundas e terças-feiras. E, por último, as exceções ou outliers procuram determinar os dados que não se enquadram em nenhuma situação (modelo) e por isso apresentam comportamentos completamente diferentes, ou seja, representam anomalias. Através dessa tarefa, por exemplo, pode-se detectar o roubo de cartões de crédito quando se analisa que clientes efetuaram compras fora de seu padrão habitual de gastos. 2.6.1.1 Técnicas de mineração Amo (2004) relaciona e explica as principais técnicas para algumas tarefas; este artigo 10 apenas citará: • • Regras de associação e padrões sequenciais: ○ Algoritmos APRIORI; ○ Algoritmos SPIRIT. Classificação e agrupamentos: ○ Árvores de decisão; ○ Redes neurais; ○ K-Means; ○ Algoritmo CURE. Sobre as técnicas de mineração de dados, Wang (2003) afirma que o uso de apenas uma ferramenta pode falhar na descoberta de conhecimento em grandes bases de dados, e que o ideal é combinar duas ou mais ferramentas. 2.6.2 A ferramenta de visualização OLAP As ferramentas de visualização, como citado anteriormente, são utilizadas para apresentar o conhecimento minerado ao usuário. O OLAP (On-line Analytical Processing ou Processamento Analítico Online) é uma das muitas ferramentas existentes para visualização. O OLAP permite que gerentes e analistas examinem interativamente os dados, a partir de muitas perspectivas. A ferramenta OLAP é apresentada da seguinte maneira: O Olap envolve a análise de relações complexas entre milhares ou até mesmo milhões de itens de dados armazenados em banco de dados multidimensionais para descobrir padrões, tendências e situações incomuns. Uma sessão de Olap acontece em tempo real, com respostas rápidas às consultas de um gerente ou analista, de forma que sua análise ou processo de tomada de decisão não seja perturbado. (O'BRIEN, 2004 p.284) Através de pesquisas na grande rede sabe-se que, em modelos OLAP, a informação é conceitualmente organizada em cubos que armazenam valores quantitativos ou medidas. As medidas são compostas por categorias descritivas denominadas dimensões, que formam a estrutura de um cubo. Uma dimensão pode ser qualquer visão do negócio que faça sentido para sua análise, como produto, departamento ou tempo. Este modelo de dados multidimensional simplifica para os usuários o processo de formular pesquisas, criar relatórios, efetuar análises comparativas, e visualizar subconjuntos de maior interesse. Por 11 exemplo, um cubo contendo informações de vendas poderá ser composto pelas dimensões tempo, região, produto, cliente e medidas. As medidas seriam valor de venda, unidades vendidas, custos, margem, etc. A operacionalidade é uma característica dos sistemas que visam atender à contabilidade gerencial. Padoveze (2000, p. 46) define “são sinais de operacionalidade informativa, relatórios práticos e objetivos; ou seja, relatórios necessários para quem os utiliza e entendidos por quem os utiliza”. Duas das características básicas de operacionalidade citadas pelo autor são comuns às propostas do OLAP: relatórios elaborados de acordo com as necessidades do usuário; apresentação visual e de manipulação adequada. Sobre a relevância do OLAP, Jamil (2001, p.172) diz que “uma combinação interessante é a das ferramentas de OLAP com as de Data Mining, onde esta última pesquisa os dados necessários nos sistemas e a primeira permite a sua estruturação de forma interativa para estudo e imposição dos métodos de análise”. Portanto, o OLAP pode ser uma ferramenta que irá facilitar, ou de alguma forma auxiliar, a contabilidade gerencial na tomada de decisão, já que podem ser combinadas, interativamente, variáveis importantes, cujos valores já foram previamente tratados através da mineração de dados. 3 CASOS DE TESTES Para complementar este trabalho, serão apresentados multicasos, selecionados a partir de pesquisas sobre implantação de data mining, com o objetivo de demonstrar a questão de aplicação. Há vários softwares no mercado, chamados de ferramentas de data mining, que aplicam as técnicas de mineração de dados, ou seja, algoritmos, da maneira mais adequada em função da necessidade do cliente. Alguns desses softwares e seus fabricantes: • Clementine, da SPSS; • STATISTICA Data Miner 9, da StatSoft; • Microsoft SQL Server 2005, da Microsoft; • VisuMap, da VisuMap Technologies Inc; • MicroStrategy Data Mining Services, da MicroStrategy; • GMDH Shell, da Geos Research Group. Um case de sucesso, utilizando data mining, é o da emissora de cartões de créditos 12 bastante conhecida: Credicard. A necessidade da Credicard, antes de 2004, era, segundo o site da SPSS (CREDICARD), "conhecer o perfil do prospect e prever seu comportamento futuro" para que não houvesse aumento no índice de rejeição à marca, após os disparos de malas diretas em massa aos prospects (possíveis clientes). Portanto, a área de Estratégia e Logística de Vendas decidiu implantar o data mining para "obter informações úteis dos prospects e apoiar o processo de definição das campanhas de venda de cartões". Hoje a Credicard, através do data mining, consegue desenvolver modelos e delinear: "para quem ofertar, por qual canal, o que ofertar e como abordar". Outro case de sucesso é o da empresa Gasmig (Companhia de Gás de Minas Gerais). A empresa tinha problemas quanto ao acesso às informações para tomada de decisão, principalmente quando precisavam de análise de faturamentos ou de quantidade de produtos por cliente vendido. A área financeira fazia os relatórios “à mão” e por isso o processo poderia demorar dias. A identificação da necessidade e a decisão por utilizar data mining foi do gerente de TI da empresa, que estava bem próximo do dia-a-dia do setor financeiro. Agora são gerados relatórios analíticos rapidamente, que respondem com agilidade à demanda do negócio. “Isso melhora a produtividade e torna os profissionais mais independentes”, afirma o gerente, após a implantação de data mining. Não há muitos cases de insucesso publicados, porém um case de fracasso, bastante citado nas pesquisas feitas, foi o do site de vendas Gazelle.com. A Gazelle necessitava caracterizar clientes que faziam pedidos acima de $12, porém, ela tinha uma base de dados com volume de compras baixo demais, com isso, o investimento em data mining sairia alto para a empresa e provavelmente não seria recuperado. 4 CONCLUSÃO Como se pode observar, a contabilidade gerencial passa a ter à disposição poderosas técnicas para desenvolver novas estratégias consistentes, sem teorias fantasiosas, e conseguir ainda mais agilidade, dinamismo e assertividade junto à tomada de decisão. As ferramentas apresentadas poderão ser utilizadas não a longo prazo e sim de imediato. Após todo o período, talvez um longo período, de adaptação das empresas, como citado anteriormente, uma empresa não pode mais perder tempo e as ferramentas podem nesse momento ser usadas tão rapidamente quanto, por exemplo, uma decisão importante a ser tomada. A mineração de dados não tem função apenas na informática, mas nesse novo cenário, 13 em que a modernidade impera também nas empresas, ela surge, principalmente, para ser aliada à inteligência de negócios. As técnicas para mineração dos dados passam a ser ferramentas de apoio à tomada de decisão, que é justamente o que a contabilidade gerencial procura para promover o sucesso de sua organização, já que, com várias informações valiosas em mãos, pode-se tomar decisões para aumento de produtividade, aumento de vendas, dentre outros, e, assim, não assistir à perda de competitividade do seu negócio. REFERÊNCIAS AMO, Sandra de. Técnicas de mineração de dados. Universidade Federal de Uberlândia, 2004. Disponível em: http://www.deamo.prof.ufu.br/arquivos/JAI-cap5.pdf. Acesso em: 27 mai. 2010. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica: para uso de estudantes universitários. 3 ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. CREDICARD. 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