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Revista Eletrônica CoMtempo
ASTROLOGIA & NARRATIVAS DO CÉU
Ana Cristina Vidal de Castro1
Resumo
O presente artigo faz parte de um estudo maior sobre a relação existente entre
Comunicação e Astrologia. Neste artigo a Astrologia é apresentada como narrativa, com
a ajuda de autores como Gaston Bachelard, Bernadete Brady, Stephen Arroyo e outros.
Além disso, é feita uma pequena introdução sobre a presença da Astrologia na mídia,
seja como narrativa resumida (horóscopos) ou como conteúdos que ajudam na
construção de narrativas presentes no cinema, nos jornais e outros. Alguns autores
utilizados são Malena Contrera, Edgar Morin, Regina Machado, Vladimir Propp, entre
outros.
Palavras-chave: Comunicação. Astrologia. Narrativa. Mídia. Ciclos.
O saber astrológico
A sociedade humana sempre buscou inscrever-se no
cosmo e inscrever o cosmo em si mesma. – Edgar Morin2
Astrologia é um saber complexo, que inclui outros saberes, como Astronomia,
Medicina, Filosofia, Psicologia, Matemática, entre outros. Ela é composta de técnicas e
teorias complexas, que incluem cálculos e diversas interpretações. São infinitos os
elementos pertencentes à Astrologia. Ao contrário da aparente simplicidade e
superficialidade percebida na leitura de um horóscopo de jornal, que considera apenas
os doze signos astrológicos, em poucos caracteres, para as previsões genéricas de
bilhões de pessoas do mundo, interpretar uma pessoa, evento, ciclo ou situação a partir
da Astrologia leva em consideração muito mais do que isso. São diversos fatores
combinados entre si, em uma dinâmica cíclica que jamais se repete.
A Astrologia contém um alfabeto próprio, composto de diversos símbolos que
representam os planetas, signos e outros pontos. A linguagem astrológica precisa ser
interpretada por quem conheça seus símbolos e sinais. A Astrologia também é a
narrativa dos ciclos da natureza e do homem. Conta a história dos ciclos celestes e sua
relação com os acontecimentos terrestres, o que inclui a experiência humana. Olhando
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cásper Líbero. [email protected].
2
MORIN, 2008.
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para o céu, podemos contar várias histórias através dos ciclos que, apesar de sempre se
repetirem, nunca combinam-se da mesma forma.
A narrativa através dos ciclos
Desde tempos antigos o homem olha para o céu. Ao fazer isso, os antigos viam
a relação entre os movimentos celestes e os acontecimentos terrestres. A partir dessa
constante observação do céu, nossos antepassados descobriram relações profundas do
céu com o que acontece na Terra.
Como conta Edgar Morin
Desde a Antiguidade, as sociedades humanas elaboraram concepções
a respeito de um universo no qual cada uma delas se inscrevia. Essas
sociedades modelaram sua organização de acordo com a ordem
cósmica: seus calendários foram estabelecidos com base nos ciclos
solares e lunares (MORIN, 2008:9).
Por sinal, “toda a nossa compreensão mental do mundo depende dos ciclos – se
os eventos não se repetissem, não haveria um universo apreensível e estruturado”
(TOWNLEY, 1995:9).
As civilizações antigas conheciam e interpretavam o céu, traçando paralelos
com os acontecimentos terrestres. Edgar Morin conta que mesmo antes do nascimento
da Astrologia, “os astros desempenhavam um papel central na maior parte das
civilizações”. De acordo com ele, “A organização social estava decalcada sobre a
organização cósmica e os ritos religiosos asseguravam a harmonia entre o homem e o
mundo”. Morin ainda complementa: “A ordem cósmica era ao mesmo tempo modelo e
garantia da ordem social” (MORIN, 1972:15).
A narrativa do Sol pelo zodíaco
O zodíaco é
Uma faixa aparente, em forma de circunferência, portanto de 360o,
que ‘envolve’ o nosso sistema solar de acordo com o referencial de
um observador na Terra como centro... Esta circunferência é
subdividida igualmente em 12 signos, ocupando 30o cada um”
(CASTRO, 2000:24).
O francês André Barbault define o zodíaco como “o antigo relógio do céu”
(BARBAULT, 1995:90).
Durante um ano, o Sol aparentemente dá uma volta em torno da Terra,
percorrendo a eclíptica e o zodíaco, marcando claramente as estações do ano, que
mantém uma relação íntima como os doze signos astrológicos. É como uma história
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cíclica que o Sol nos conta ao longo de um ano, todos os anos. John Townley nos
lembra que
Toda a vida sobre a terra depende da repetição anual do ciclo solar,
determinado pela revolução da Terra em torno do Sol e pela
inclinação do nosso planeta em relação ao seu plano orbital... As
mudanças de estação assim criadas determinam as condições
meteorológicas, as reservas de alimento e as regiões habitáveis, que
tornam possível nossa existência (TOWNLEY, 1995:35).
O ciclo do Sol pelo zodíaco tem profunda relação com a vida humana. Para
André Barbault
(...) todas as funções biológicas evoluem igualmente ao longo do
ano, que fevereiro é o campeão da mortalidade (exílio do Sol),
que nosso sono é mais profundo no inverno, estação das
marmotas e do voltar-se para si mesmo; e que nosso coração bate
mais rápido no verão, estação da agitação e do vai-e-vem;
enquanto a primavera faz eclodir a atividade sexual (...)
(BARBAULT, 2004:69).
Este ciclo que se repete anualmente está diretamente ligado às estações do ano
e aos signos do zodíaco.
Para Ptolomeu, “o zodíaco é o ano e as suas quatro estações” (BARBAULT,
2004:69). O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (2008:33) lembra que
inicialmente a Astrologia visava prever as estações do ano para fins agrícolas.
Dos quadro elementos aos doze signos
A sequência zodiacal também tem relação com os quatro elementos presentes
na natureza, fogo, terra, ar e água, que são a essência dos doze signos. Como cada
elemento pode se manifestar de três maneiras diferentes, cardinal, fixa e mutável, temos
doze signos, ou seja, três manifestações de cada um dos quatro elementos.
Os quatro elementos
Por que você me pergunta? Perguntas não vão lhe mostrar, que
eu sou feito da terra, do fogo da água e do ar. – Raul Seixas3
Fogo
3
Trecho da música Gitá de Raul Seixas e Paulo Coelho.
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O fogo é o elemento da energia e da vida. “O elemento fogo se refere a uma
energia universal irradiante, uma energia que é excitável e entusiástica e que, através da
sua luz, dá colorido ao mundo” (ARROYO, 2005:107).
Bachelard diz que o fogo “Vive em nosso coração. Vive no céu”.
(BACHELARD, 2012:11). O fogo contém a energia do Sol que, astrologicamente, rege
o signo de Leão, signo de fogo, e o coração.
O fogo é o elemento do ser. E o ser vem do coração, do impulso da vida.
“Porque, no fundo, o homem é o que é o seu coração. É nele que a humanidade do ser
humano reside e se revela. O coração é o sol do microcosmo” 4.
Terra
A terra é o elemento que dá forma às coisas. É o elemento da estrutura, do que
pode ser visto com nossos olhos e tocado por nossas mãos. É o mais concreto de todos,
do mundo da realidade e daquilo que é uma certeza, pois todos conseguem enxergar e
tocar.
Não à toa Gaston Bachelard dividiu seus estudos sobre o elemento terra em
dois livros, A Terra e os Devaneios da Vontade e A Terra e os Devaneios do Repouso.
A terra é justamente o elemento do trabalho, do esforço, da realização, de tudo aquilo
que é de fato concretizado no “mundo real”.
Para o astrólogo Stephen Arroyo “uma afinação com este elemento indica que
o indivíduo está em contato com os sentidos físicos e com a realidade do aqui-e-agora
do mundo material” (ARROYO, 2006:111).
Ar
O ar é o elemento do pensamento e como disse Descartes “Penso, logo existo”.
Existimos como ser humanos porque além de respirar pensamos e esse pensamento – e
a nossa inteligência - nos diferencia dos outros animais e formas de vida.
Os signos de ar são considerados os signos dos relacionamentos. É através do
ar que, astrologicamente, as pessoas interagem. Por ser o elemento do pensamento, do
intelecto e da razão, é justamente o ar o que permite a comunicação entre as pessoas.
4
Meditações sobre os 22 arcanos maiores do tarô/autor anônimo, 2005:235.
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Especialmente quando falamos em comunicação social, em vida social, o
elemento ar sempre se faz presente. “Bate-papos sobre os mais variados assuntos,
conversas interessantes, discussões objetivas e inteligentes, mostrando verdadeira
tolerância com relação ao ponto de vista dos outros” (GREENE, 2002:275) são mesmo
características do elemento ar.
Água
Aproximadamente setenta por centro do planeta Terra é composto de água.
Coincidência ou não, setenta por cento do corpo humano é composto por água.
Astrologicamente, água é o elemento associado às emoções e aos sentimentos.
Ou como bem define Amanda Costa, “o elemento água simboliza os sentimentos e os
estados inconscientes e anímicos” (COSTA, 2011:80).
A imaginação é um dos dons mais fortes do elemento água (GREENE,
2002:363). Para Liz Greene “pessoas de água têm uma imaginação maravilhosa. Elas
são também sensíveis, receptivas e profundas”. Mas a água é “um tipo particular de
imaginação” (BACHELARD, 2002:6). Mais do que isso,
A água é também um tipo de destino, não mais apenas o vão destino
das imagens fugazes, o vão destino de um sonho que não se acaba,
mas o destino essencial que metamorfoseia incessantemente a
substância do ser (BACHELARD, 2002:6).
Os doze signos: expressões dos elementos
Os signos astrológicos nascem dos quatro elementos da natureza: fogo, terra, ar
e água. Como cada um deles pode ser expressado de três diferentes formas, temos doze
signos. Os quatro elementos podem se manifestar através de um dos seguintes ritmos:
Ritmo cardeal ou cardinal: tem a ver com iniciativa e ação. É o impulso
primeiro, a capacidade de agir e começar.
Ritmo fixo: tem a ver com a manutenção. É o movimento do não movimento.
A preservação e a contenção. É aquilo que se mantém, que permanece estável e seguro.
Ritmo mutável: tem a ver com movimento, adaptação, flexibilidade e
mudança. É o que conecta uma à outra coisa, um ao outro ritmo. É o que sempre muda.
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“A combinação dos quatro elementos com as três modalidades resulta nos doze
padrões primários de energia, denominados signos do zodíaco” (ARROYO, 2011, p.
47).
Assim, o fogo pode se expressar das seguintes maneiras. Fogo cardinal, Áries, o
fogo em movimento. A chama. O impulso da vontade. Fogo fixo, Leão, o fogo do Sol.
O fogo mais quente. O impulso vital. Fogo mutável, Sagitário, o fogo em movimento. O
impulso aventureiro.
A terra, por sua vez, pode se manifestar das seguintes formas: Terra fixa, Touro,
a manutenção das coisas. A vontade de permanecer. Terra mutável, Virgem, a terra em
movimento. A vontade eficiente. Terra cardinal, Capricórnio, a terra realizadora. A
vontade de conquistar.
O elemento ar também se expressa das três formas: Ar mutável, Gêmeos, o ar
em movimento. O pensamento em mutação. Ar cardinal, Libra, a troca intelectual. O
impulso compartilhador. Ar fixo, Aquário, o ar comprimido. O impulso intelectual
criativo.
Por fim, o elemento água também pode se manifestar de três formas: Água
cardinal, Câncer, a água do rio. A fonte que gera a vida. Emoção em ação. Água fixa,
Escorpião, a água do vulcão ou da lagoa. Emoções profundas. Água mutável, Peixes, a
água do mar. Emoções infinitas em mutação.
Vale ressaltar que, no zodíaco, cada elemento aparece primeiramente no ritmo,
ou forma, mais afinado à sua essência. O universo astrológico é coerente como um
conto da natureza, que conta a história da vida e a cosmologia do ser humano.
A personalidade astrológica
Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar,
eu sou as coisas da vida... - Raul Seixas5
O universo que cerca a Terra também está dentro do homem. Os elementos e
ciclos da natureza formam os doze signos que estão também em nós. Estão em nosso
corpo e em nossa personalidade. Somos uma combinação de fatores e carregamos o
cosmo dentro de nós. Essa combinação está presente no mapa astral de uma pessoa,
sempre único e composto de diversos aspectos, que vão muito além do signo solar.
5
Trecho da música Gitá de Raul Seixas e Paulo Coelho.
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Astrologia e narrativa
A Astrologia é uma narrativa que envolve interpretação. Um astrólogo “lê” o
céu e traduz os ciclos celestes. Como diz a astróloga Bernardete Brady (2008, p. 1), o
céu não é uma simples linha, mas também contém mitologias, histórias e narrativas
(tradução nossa).
Qualquer astrólogo que analise um mapa astrológico, ou seja, a história celeste
de alguém, verá os mesmos sinais e símbolos, os mesmos fatos, qualidades de tempo e
acontecimentos. No entanto, cada um irá traduzir de acordo com sua própria história e
bagagem pessoal e conforme seu próprio mapa astrológico. Como uma narrativa que vai
sendo contada, um mapa astrológico desdobra-se no tempo e conta uma história real, a
história da vida de alguém. Essa história pode ser contada do passado para o presente,
do presente para o passado e do presente para o futuro.
Pode-se pensar o mapa como um labirinto ou, em outras palavras, como algo
que possui essa estrutura labiríntica. Conforme nos apresenta Lúcia Leão “os labirintos
são signos de complexidade” (LEÃO, 2002, p. 15) e assim como labirintos são
complexos, um mapa astrológico também é. Aliás, a própria Lúcia Leão associa os
mapas aos labirintos. Ela diz que “no estudo dos labirintos, um tópico bastante
importante diz respeito ao conceito de mapa” (LEÃO, 2002, P. 15).
No caso de um mapa astrológico, este mapeia um labirinto cósmico, que ao
mesmo tempo registra um labirinto já percorrido e projeta um labirinto a ser percorrido.
Isso acontece justamente porque o mapa astrológico contém ao mesmo tempo o
passado, o presente e o futuro.
Conforme Vladimir Propp “A narrativa assegura funções antropológicas
indispensáveis à sociedade humana: funções cosmogônicas, institucionais e criativas”
(PROPP, 2006, p. 21). E se a Astrologia é uma narrativa, ela também contém essas
funções por ele apontadas. Possui especialmente a função cosmogônica que, para ele,
está ligada “à maneira como uma civilização concebe a origem do universo e a sua
própria localização no espaço e no tempo” (PROPP, 2006, p. 21). Ora, a Astrologia
trabalha justamente com tempo e espaço, localizando o indivíduo de acordo com ambos
fatores e, além disso, analisa a qualidade do tempo, sem para isso deixar de considerar o
espaço.
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Propp (2006) analisa especialmente a narrativa presente nos contos míticos,
mas traça uma relação entre a história e a narrativa. Segundo ele, há uma mútua
implicação entre ambas. Para ele a narrativa não apenas dá sentido à história como
produz historicidade. Por isso, ainda de acordo com o conceito de Propp, a narrativa é
predominantemente metonímica, pois seleciona e articula os paradigmas culturais que
fazem o cotidiano.
O mapa astral de uma pessoa é seu DNA astrológico. O DNA contém
informações e instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento
de todos os seres vivos. Da mesma forma, um mapa astrológico contém instruções e
informações sobre a vida de determinado ser vivo. Portanto, é algo que conta a história
real da vida de alguém. No entanto, à Astrologia pode ser aplicada a linguagem
mitológica, apesar desta linguagem não contemplar totalmente esse saber. A mitologia
pode, na verdade, ajudar a explicar o funcionamento astrológico e fazer uma espécie de
ponte ou interface entre sua linguagem simbólica e o entendimento humano. Assim,
dentre as narrativas possíveis a partir de um mapa astrológico, a mitologia com toda sua
estrutura é uma das formas possíveis.
Voltando à teoria de Propp, podemos pensar que a narrativa astrológica ajuda a
dar sentido à vida humana, pois permite uma explicação sobre eventos, reações e
situações individuais e coletivas que conecta o homem à natureza e aponta coerência e
significado à existência.
Um mapa astral e os ciclos astrológicos ajudam, portanto, a contar a história de
uma pessoa e, além disso, a atribuir significado a esta história e vida humana, dando um
sentido ao que acontece e atribuindo qualidade ao tempo vivido.
Cristina Balieiro e Beatriz Del Picchia ainda consideram que “A jornada para o
mais profundo e autêntico de si mesmo é expressa na narrativa de uma vida”
(BALIEIRO, PICCHIA, 2010, p. 18). Essa é justamente uma das funções do mapa
astrológico: narrar a vida. E como elas complementam: “Assim como cada pessoa é
única, cada história é única e, de certa forma, mostra como a vida moldou aquela
identidade e ao mesmo tempo foi moldada por ela” (BALEIEIRO, PICCHIA, 2010, p.
18).
A escritora e astróloga Amanda Costa lembra que “a Astrologia, como um
sistema simbólico fundado em estruturas arquetípicas” é uma “nova leitura do real”
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(COSTA, 2011, p. 67) proposta pelo também astrólogo, escritor e jornalista Caio
Fernando Abreu. Tanto que a Astrologia foi fundamental em boa parte do processo de
escrita de Caio. Por sinal, encontramos muita Astrologia em toda obra a do escritor.
Também é interessante pensar quando Roland Barthes diz que “a narrativa, ao
mesmo tempo, é (tient) e pretende ser (aspire)” (BARTHES, 2011, p. 43). Isso reflete a
estrutura de um mapa astrológico que ao mesmo é, porque mostra uma pessoa e sua
vida e ao mesmo tempo pretende ser porque também contém tendências, aspectos e
possibilidades que nem sempre chegam a ser ou acontecer.
Mapa astrológico: história de uma vida
O mapa astral conta a nossa história e nós contamos a história do nosso mapa.
Pode ser sentido como “um símbolo vivo do universo inteiro, visto de um determinado
lugar, num determinado instante” (RUDHYAR, 1991, p. 23).
Os ciclos astrológicos falam dos eventos coletivos e através das observações
astrológicas podemos fazer um retrospectiva na história e contar o passado, podemos
analisar o presente e podemos prever o futuro.
Como conta o astrólogo Maurício Bernis (2007, p. 9), existem correlações
entre as posições dos astros e os eventos humanos, já que todos os mecanismos de
funcionamento do universo obedecem a cíclicas naturais. Assim, os ciclos celestes
contam a história da vida terrestre.
Cada mapa astrológico é, como o próprio nome diz, um mapa que nos
apresenta o caminho de vida. O mapa astrológico é também um roteiro, a partir do qual
desenvolvemos nossa vida.
Quando consideramos o mapa natal, cada um tem o seu, porque como existem
infinitas combinações possíveis no cosmo, o mesmo céu jamais se repete. Assim, a cada
instante, temos uma configuração celeste distinta.
Regina Machado (2004, p. 19) compara as diferentes visões possíveis em um
determinado assunto a janelas das quais se vêem diferentes paisagens, de ângulos
particulares. A Astrologia é uma dessas janelas, uma forma de olhar o mundo e de
contar sua história, uma das muitas maneiras possíveis de contar e compreender a
história da humanidade e a história de cada um de nós.
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Astrologia e mídia
“Vemos, então, vários pontos de encontro – que vão
dos temas aos procedimentos usados – entre os Mitos
astrológicos e a Mídia” – Malena Segura Contrera6.
A Astrologia está cada vez mais presente na mídia. Está nas revistas e jornais, na
internet, na televisão e no rádio. Os principais portais, jornais e revistas do Brasil
possuem um espaço dedicado à Astrologia. Porém, está na mídia principalmente de
forma reducionista, generalista e estereotipada, por meio de narrativas resumidas, que
são os horóscopos. Aliás, eles sempre estiveram presentes nos principais jornais,
revistas e, mais recentemente, nos grandes portais.
Por trazer sempre uma novidade, um conselho, algo diferente, os horóscopos
muitas vezes servem como um atrativo a mais em busca de audiência, já que costuma
ser grande o número de pessoas que lê horóscopos diariamente.
No entanto, Astrologia é muito mais que isso e contém inúmeras narrativas
possíveis. A Astrologia, aliás, está presente na mídia não apenas de forma tão clara, mas
também aparece como “motivos míticos arcaicos” presentes nos “conteúdos
comunicativos da Mídia” (CONTRERA, 2000, p. 26). Para Malena Contrera, portanto,
é forte a “presença de conteúdos arcaicos – míticos astrológicos – nos textos da mídia
contemporânea” (CONTRERA, 2000, p. 107). Neste sentido, a Astrologia participa na
construção de narrativas presentes na televisão, no cinema, em livros, entre outros.
Mesmo assim, existe muito preconceito no que diz respeito à Astrologia, em
geral associada a algo místico e superficial e isso também pode ter a ver com a relação
existente entre ela e a mídia. Especialmente porque, além dos horóscopos, a maior parte
dos textos sobre o tema falam sobre compatibilidade amorosa entre signos, previsões
para celebridades ou outros temas igualmente estereotipados e gereralistas, que reduzem
toda complexidade da Astrologia e de suas narrativas.
Com o surgimento da internet, especialmente com os sites pessoais dos
astrólogos e da presença destes nas redes sociais, este conteúdo mais profundo e
6
CONTRERA, 2000, P. 19).
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complexo relacionado à Astrologia está mais presente hoje na mídia. Mas, ainda assim,
ainda há muito trabalho a ser feito neste sentido.
Algumas considerações
Apresentar as diversas narrativas existentes na complexidade astrológica é
apenas o começo da construção de novas formas comunicativas para a Astrologia. Entre
estas formas, estão as mídias digitais, especialmente as redes sociais, que têm se
mostrado importantes canais de comunicação desta área do conhecimento, capazes de
mudar sua imagem e relação com o público.
Está claro que a Astrologia interessa à Comunicação, seja pela sua participação
velada na construção das diversas narrativas presentes na mídia, seja pelas possibilidade
de atrair leitores por meio dos horóscopos, que nada mais são do que narrativas
resumidas. Por outro lado, a Comunicação interessa à Astrologia, pois pode ser o
principal catalizador de uma mudança significativa na relação existente entre ela e seu
público. Neste casamento, é possível que haja um crescimento mútuo, já que a
Astrologia pode oferecer narrativas ainda mais significativas à Comunicação que, por
sua vez, pode ser de grande valia na construção de uma nova imagem para a Astrologia,
mais verdadeira e profunda.
Referências
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______. O dia em que Júpiter encontrou Saturno (Nova história colorida). In: ______.
Morangos Mofados. Rio de Janeiro: Agir: 2006.
ARROYO, Stephen. Normas práticas para a interpretação do mapa astral. 6 ed. São Paulo:
Pensamento, 2011.
______. Astrologia, psicologia e os quatro elementos. 13 ed. São Paulo: Pensamento. 2005.
BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
______. A terra e os devaneios da vontade: ensaio sobre a imaginação das forças. 3 ed. São
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______. O ar e os sonhos: ensaio sobre a imaginação do movimento. 2 ed. São Paulo:
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BARBAULT, André. O universo astrológico dos quatro elementos. Rio de Janeiro: Espaço
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______. Tratado prático de Astrologia. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1990.
BARTHES, Roland. In:______. Análise Estrutural da Narrativa. Petrópolis: Vozes, 2011.
BERNIS, Maurício. Astrologia empresarial. Caderno Brasileiro de Astrologia número 11. São
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