AS CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL NO

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AS CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL
NO COTIDIANO DAS FAMÍLIAS INSERIDAS NO
NÚCLEO DE GESTÃO E PROJETOS SOCIAIS (NGPS)
Luciana de Souza Pascoal Fonseca
Vânia da Conceição Silva Amorim
Maria Cleomar Muniz da Silva
RESUMO
Nas últimas décadas a família tem sofrido transformações profundas em sua
estrutura, que manifesta grande capacidade de sobrevivência e adaptação com diferentes
arranjos familiares a partir do surgimento do avanço tecnológico na sociedade. A maioria
desses familiares tem a consciência da ampla e profunda influência que a tecnologia
moderna tem sobre cada indivíduo. Pois, mais do que um processo de transformação social
e cultural, a globalização representa um paradigma de forças produtivas.
Hoje, o mundo percebe um dos maiores obstáculos para expansão das novas
tecnologias, pois se trata de um novo tipo de exclusão, não mais baseado no acesso aos
alimentos, terra ou educação, mas a exclusão digital. O presente artigo propõe descrever o
efeito de nossa pesquisa e nos faz compreender as contribuições que a oficina de inclusão
digital está proporcionando para as famílias inseridas do Núcleo de Gestão de Projetos
Sociais (NGPS).
Neste sentido, percebe-se que o uso da informática na atualidade é
fundamental, pois vem atingindo as mais variadas esferas de uma mesma sociedade,
causando reflexos e contradições entre grupos sociais e conseqüentemente entre países
desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde tais contradições são oriundas de um sistema
capitalista perverso e excludente em detrimento do ser humano.
Palavras-chaves: Família - Mundo do Trabalho - Políticas Sociais
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas para manter ou expandir o padrão de acumulação do
capital, ocorrem modificações no processo produtivo capitalista, ou seja, a reestruturação
produtiva que mexe radicalmente a produção de bens e serviços, a organização, gestão,
condições e relações de trabalho. Através dessas mudanças, conseqüentemente, muda-se as
formas de organizar a produção e consumir a força de trabalho, tendo assim um
enxugamento nos postos de trabalho precarizando as condições dos mesmos, fazendo com
que haja a competitividade, rentabilidade, a eficácia e eficiência; critérios esses que
referenciam sobre a vida em sociedade. Com isso o novo complexo de reestruturação
produtiva no Brasil toma impulso na era neoliberal.
Hoje, com essas transformações consideráveis na sociedade, principalmente
o que diz respeito ao conceito familiar, certifica-se que a maioria das famílias vêm
sofrendo abalos com o desemprego, resposta a crise no mundo do trabalho. As
desigualdades são gritantes e no bojo da reorganização do capitalismo contemporâneo e
agora global e informacional, se vê um mundo mais opressivo e adverso, na qual a
competitividade, o desemprego, a desigualdade e exclusão são produtos destas relações
sociais, a pobreza e exclusão abrangem privações da vida dos indivíduos, submetidos aos
problemas da sobrevivência.
A exclusão social atinge a maioria das famílias usuárias dos Programas
Sociais da UCB. Grande parte desses familiares reside em comunidades violentas e vive
em situação de vulnerabilidade social.
O nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é fruto de uma demanda
que surgiu a partir de uma pesquisa realizada com as famílias e responsáveis inseridos no
Núcleo de Gestão de Projetos Sociais (NGPS), onde surgiram várias frentes de atuação,
uma delas é a Frente de Articulação com as Famílias, que realiza reuniões mensais a fim de
tentar viabilizar um espaço que reproduza um conhecimento de seus direitos como cidadão
e que haja uma maior aproximação com os projetos.
Ainda dentro desse contexto, percebemos que as ações específicas
relacionadas às famílias continuavam fragmentadas e que não bastaria realizarmos reuniões
mensais para tentar suprir os seus anseios e uma integração com os projetos. Partindo desse
pressuposto, resolvemos implementar uma oficina de informática, pois identificamos
através das falas das famílias que a ansiedade destas referia-se à colocação no mercado de
trabalho, pois sem as informações necessárias referente ao mundo informatizado estas
possuem poucas chances ou quase nenhuma de uma melhor colocação no mercado de
trabalho que está cada vez mais competitivo. Outro fator diz respeito a estas famílias
poderem ajudar seus filhos nas pesquisas escolares.
Buscando viabilizar tal processo, e tendo em vista os relatos e observações
colhidos num período de seis meses, resgatamos a oficina de informática, originalmente
oferecida às adolescentes do Programa Ser Menina, que foi uma oportunidade de inclusão
digital para esses familiares e responsáveis integrantes do NGPS. Sem dúvida, isso
possibilitará uma melhor integração à vida social e deve ser considerado relevante no
conjunto de políticas públicas de inclusão social. Por isso, dando prioridade à questão da
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inclusão social, nos dedicamos a aprimorar mecanismos e metodologias que possibilitem a
inclusão digital através desta oficina.
Pretendeu-se, a partir de uma inserção da Oficina de inclusão digital, incluílos a uma nova tecnologia através de estagiários da área de informática, proporcionando
um conhecimento no âmbito básico, porém necessário para o uso do seu cotidiano, tais
como: conhecimento das ferramentas necessárias para uso, digitar texto, copiar e colar,
pesquisa na Internet, criar slides no Power Point, entre outros e nas possibilidades
interativas das tecnologias digitais buscando oportunidades para inclusão na sociedade por
meio da valorização de sua identidade cultural e as práticas sociais, efetivando as políticas
que garantam o acesso na área da tecnologia.
O presente artigo buscou o resultado de uma pesquisa desenvolvida no
período de maio de 2007 a novembro de 2007, constituindo assim o critério de seleção da
amostra. O estudo teve como objetivo analisar as contribuições da Oficina Educação
Digital para as famílias e responsáveis do Núcleo de Gestão de Projetos Sociais, a partir
das ações empreendidas. E para isso buscou-se identificar os motivos que levaram esses
familiares a procurarem a oficina de inclusão digital, identificar em que aspecto a
participação das oficinas de inclusão digital está provocando alterações no contexto da vida
cotidiana desses familiares e analisar a relação entre exclusão digital e dificuldades no
mundo do trabalho.
DESENVOLVIMENTO
Nossa análise foi baseada em três eixos centrais, no 1° eixo de discussão
buscamos compreender o processo de exclusão digital e a procura por projetos sociais, para
verificar através da fala dos entrevistados o porquê da procura dos familiares pela oficina
de inclusão digital.
No que diz respeito ao 2° eixo de análise, o cotidiano familiar e o alcance
pedagógico da oficina de inclusão digital, pretendemos verificar se as atividades oferecidas
a esses familiares proporcionaram-lhes alguma modificação no seu cotidiano e se houve
crescimento pessoal, cultural, social e profissional dos mesmos após a freqüência às
oficinas.
No segmento do 3° eixo de análise, dinâmica do mundo do trabalho e as
políticas de geração de renda e trabalho, abordamos a relação entre o excluído perante o
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avanço tecnológico, e o rebate do processo que conduz a uma integração cada vez mais
estreita da economia e da sociedade a respeito de uma submissão baseada a um mercado de
trabalho mais competitivo e auto-regulável.
De acordo com o avanço da tecnologia, o mercado de trabalho ficou cada
vez mais exigente e exigem trabalhadores que possuam mais conhecimentos e capacidade
de gerenciar e monitorar.
O universo de nossa pesquisa adotou todas as famílias inseridas no NGPS
que fizeram parte da Oficina de Informática, sendo que nesse estudo trabalhamos com
quatro (04) familiares. Utilizamos como instrumento e coleta de dados para investigação
em nossa pesquisa a seguinte técnica: entrevista semi-estruturada, que teve um roteiro com
questões inerentes ao objeto de estudo, gravadas e transcritas na sua totalidade, para a qual
fizemos uso do meio eletrônico (MP3), permitindo assim que cada família expressasse sua
opinião a partir das experiências vivenciadas na Oficina de Educação Digital.
Esse instrumento permitiu que assimilássemos, através do intermédio desse
roteiro, uma melhor compreensão dos dados e quesitos, facilitando uma nova percepção do
objeto pesquisado.
Com isso, percebemos que essa discussão sobre a entrevista como técnica
de coleta de dados torna-se eficaz quando Minayo menciona:
Segundo Minayo (1994: 21-22),
Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra,
uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos
relatados pelos atores, enquanto sujeito-objeto da pesquisa
que vivenciam uma realidade que está sendo focalizada.
A percepção em que se dá a estrutura dessa entrevista pode ser determinada
como semi-estruturada, a partir da definição de Minayo quando fala “[…] que combina
perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o entrevistado tem a possibilidade de
discorrer o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador”.
Para definição do nosso roteiro, realizamos um pré-teste com um dos
familiares, com a intenção de ajustar as perguntas de forma que desembaraçasse e que
tornasse claro ao conhecimento dos mesmos.
Para tal investigação a fundo, utilizamos o método de análise de conteúdo
que segundo BARDIN (1979: 42 apud MINAYO (org.) 2007: 83), análise de conteúdo é
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um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos
ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção variáveis inferidas destas mensagens.
O trabalho ora apresentado nos possibilita ter um estudo crítico sobre as
transformações no conceito “família”: nas suas histórias, suas funções e nos papéis
desempenhados, principalmente no âmbito socioeconômico e político de cada família
brasileira. As famílias passaram a organizar-se de outra forma, o que pode causar
problemas, pois se trata de um processo contraditório que abala o sentimento de segurança
das pessoas, com a falta ou diminuição da solidariedade familiar, proporcionando a
possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente aprisionados no espaço
restritivo de muitas sociedades conjugais.
As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou
renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros como resposta às
necessidades da sociedade a que pertencem. Nesta perspectiva, as funções da família
regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos
membros, e o outro de nível extremo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão.
A família deve então responder às mudanças externas e internas de modo a atender às
novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando sempre um
esquema de referência para os seus membros. Contudo, há que se destacar que na
atualidade as famílias vêm compartilhando com o Estado suas funções por meio de
políticas sociais; através de uma forma fragmentada, trabalha-se a articulação com as
famílias, tornando-se fragilizada, pois não existe uma política específica de atenção à
família. Essas mudanças expressam e afetam as alterações nos arranjos familiares ligados
ao mercado de trabalho, e nas especificidades de inserção dos diferentes momentos de
sustentação da vida familiar, no que diz respeito ao processo de inovações produtivas, e
nos seus efeitos, deteriorizando as relações de trabalho e conseqüente desemprego.
Guimarães e Almeida (2002: 129):
Com a crise no mundo do trabalho, a abordagem sobre os temas de
família ganha necessariamente novos contornos e especificidades.
Famílias inteiras vêm-se abaladas pelo desemprego estrutural. Os pais
perdem seus postos de trabalhador, muitas vezes de maneira
irrecuperável. Mulheres voltam ao mercado, não mais na figura de
complementadoras da renda familiar, mas como principais responsáveis
pelo orçamento doméstico. Os filhos, por sua vez, vivem assombro de
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uma sociedade que ameaça não lhes abrir espaço no mercado de
trabalho, a despeito de toda a dedicação e investimento eventualmente
realizados pela família em sua formação educacional e profissional.
Entendemos que a crise dos anos 70 se manifesta por agravamento do
problema do emprego, aumento do desemprego e da precariedade, processo este regido
pelas novas exigências tecnológicas e econômicas do capitalismo e que a precarização
torna-se um dos principais riscos na contemporaneidade, uma vez que alimenta sem limites
a vulnerabilidade social contribuindo ao mesmo tempo com a ampliação do processo de
desfiliação dos estáveis como o principal problema à sociedade capitalista.
Com essa necessidade que o mercado de trabalho está exigindo em dar
preferências a profissionais qualificados, o desemprego aumentou e no Brasil foram
elaboradas algumas políticas de qualificação profissional, que têm servido como
instrumento efetivo para melhorias nas condições de inserção no mercado de trabalho, no
que se refere à redução do desemprego, e tem como objetivo central melhorar as condições
de empregabilidade das populações mais vulneráveis no Brasil, priorizando os
desempregados e outras populações excluídas. Recentemente, o interesse neste tipo de
política de trabalho vem aumentando, alimentado por preocupações sobre o nível e duração
do desemprego, dos trabalhadores com qualificação limitada e sobre a crescente
desigualdade de rendimentos.
Entretanto, deve-se levar em conta que a maioria dos empregos disponíveis
para os grupos mais vulneráveis são no mercado secundário, onde as condições de trabalho
são piores e os efeitos de longo prazo devem ser mais sistematicamente estudados, porque
podem ser diferentes dos de curto prazo. Uma questão importante é avaliar se os empregos
conseguidos são estáveis ou meramente oferecem um alívio temporário ao desemprego.
Esse desenho de trabalho se referencia quanto às formas de trabalho,
misturando trabalho assalariado com trabalho autônomo ou informal. A partir de então, os
estudos passaram a apontar que as trajetórias de trabalho se misturavam em diferenciadas
experiências de trabalho e reprodução social, compreendida pelo desemprego e pela
insegurança social, exigindo que os estudos se interessassem por compreender esses novos
cenários.
Para se ter uma compreensão das políticas sociais na sociedade capitalista,
faz-se necessário pontuar alguns aspectos que vêm caracterizando a sociedade brasileira na
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conjuntura atual, são eles: o novo discurso do Estado protagonizado pelo ideário
neoliberal; as mudanças que vêm se operando no mundo do trabalho com a nova
sistemática de produção, com a incorporação de tecnologias mais avançadas (como a
informática, a robótica, a cibernética e outras); e o conseqüente desemprego estrutural. A
ideologia neoliberal tem como proposta a redução do Estado de bem-estar social, ou seja,
da diminuição do fundo público, da não intervenção do Estado na economia e na
regulamentação do mercado. Trata-se, portanto, de uma reorganização do capital que
conseqüentemente vai reorganizar as relações sociais.
Outro aspecto importante que foi discutido em nossa pesquisa refere-se ao
conceito de exclusão social que hoje se confronta diretamente com a concepção de
universalidade e com ela a dos direitos sociais e da cidadania, negando a ética da dignidade
humana. A exclusão social pode ser analisada de forma multidimensional, pois revela-se
através de vários aspectos e atinge as sociedades das economias mais pobres. As principais
características da exclusão social apresentada estão relacionadas à falta de emprego, bens e
serviços, assim como à ausência de segurança, justiça e cidadania.
Segundo Iamamoto, todos os membros da sociedade na qualidade de
cidadão vêm suprir as necessidades daqueles cujo rendimento é suficiente para ter acesso
ao padrão médio de vida, sendo que os direitos sociais têm pôr igualdades seus deveres de
cidadão. E relata a importância do papel político junto com a cidadania, pois a participação
do indivíduo tem uma grande importância, ainda mais quando a sociedade vive uma
relação de desigualdade, deixando claro que seu crescimento coincide com o
desenvolvimento do capitalismo e são, portanto, a esses efetivamente dirigidos e por eles
consumidos predominante na qualidade de cidadão.
Segundo Iamamoto (2003: 93),
A noção de cidadania e da igualdade que lhe acompanha, de igual
participação de todos os indivíduos na sociedade, tem como
contrapartida as classes sociais em confronto, que convivem numa
relação desigual, tanto econômica quanto política. Os direitos
sociais tem por desigualdade de classes.
Portanto, é importante destacar que a garantia dos direitos sociais não é
apenas uma concessão do Estado, mas principalmente uma conquista da sociedade. Tais
direitos buscam ser garantidos via políticas sociais públicas, que, apesar de serem
concedidas e implementadas pelo Estado, estas só existem a partir do momento em que a
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sociedade se manifesta e reivindica a implementação de tais serviços. Além disso, as
políticas sociais são direitos garantidos por lei e não benefícios concedidos pelo Estado,
pois a população paga indiretamente por esses benefícios através dos impostos.
Atualmente o que se vê é a política dos mínimos, fragmentada, seletiva,
focalizada, além de está sendo mercantilizada. O Estado não assume tarefas que são de sua
inteira responsabilidade.
Em nossa pesquisa, procedeu-se inicialmente uma análise do conteúdo
coletado observando a seguinte configuração familiar das entrevista que se seguem:
No primeiro eixo de análise, analisou-se o processo da exclusão social e
procura por projetos sociais, onde procuramos verificar através das falas dos
entrevistados o porque da procura dos familiares a oficina de inclusão digital. As falas de
nossos entrevistados apontaram para duas situações, isto é, necessidade pessoal
(crescimento pessoal) do entrevistado na opção pela escolha da informática, além do
reconhecimento que este novo conhecimento é fundamental para o desenvolvimento
ou desempenho em sociedade nos dias atuais.
As falas abaixo reforçam essa proposição:
“Agora conheço, por causa da oficina”. (FAM 01)
“Não. Agora conheço, e estou conhecendo através do projeto”. (FAM
04)
Refletindo sobre as respostas citadas, notamos que ausência de informações
que contribuam para o acesso aos bens, serviços e recursos disponíveis os remete a uma
situação de exclusão, pois os mesmos ficam desprovidos do conhecimento necessário, que
dificulta esse acesso e impossibilita que eles tenham seus direitos garantidos.
A partir do conhecimento da realidade que presenciamos, compreendemos
que a ausência do conhecimento tecnológico impossibilita que esses familiares possam
participar efetivamente da sociedade, uma vez que, com a introdução da tecnologia,
aqueles que não têm o conhecimento mínimo acabam por ficar à margem da sociedade,
pois vivemos em um mundo onde tudo é informatizado.
De fato, o uso da informática na atualidade é fundamental tendo em vista a
substituição da eletromecânica pela eletrônica e frente ao crescimento da informatização,
vivemos a revolução informacional. Não ter acesso à informação organizada e tratada pelas
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novas tecnologias, nos formatos, na qualidade e quantidade desejadas, tornou-se fator de
um novo tipo de exclusão, complementar e tendencialmente radicalizador da exclusão
social – a exclusão digital. É fato que vastas camadas das populações mundiais não
possuem nem têm acesso aos recursos tecnológicos que podem assegurar-lhes informações
cruciais ao seu desenvolvimento como cidadãos. A humanidade vive hoje uma realidade de
extensa e tecnologicamente agravada exclusão social.
É importante ressaltar que a exclusão social atinge as mais variadas esferas
de uma mesma sociedade, causando reflexos e contradições entre grupos sociais e
conseqüentemente entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde tais contradições
são oriundas de um sistema capitalista perverso e excludente em detrimento do ser
humano.
Após análise das falas de nossos entrevistados podemos inferir que os
mesmos, numa quase totalidade, apontam que a freqüência à oficina de inclusão digital
vem proporcionando um aprendizado importante na questão do conhecimento desta
ferramenta, além de contribuir para a melhoria de sua auto-estima, fazendo com que eles
sintam-se valorizados perante a família e a sociedade, apenas uma entrevistada ressalta que
as atividades realizadas não lhe ajudaram de nenhuma forma, veja como se exprime:
“Não muito”. (FAM 03)
A partir desta resposta procuramos saber mais detalhadamente o que
buscava da oficina e o mesmo procurou explicar que necessitava de algo mais, isto é um
conhecimento mais profundo, como uma especialização. Vale lembrar que a oficina de
informática não se propõe a ser um curso nos padrões dos que comumente são oferecidos,
a mesma foi criada com o intuito de se constituir como uma atividade socioeducativa que
busca a articulação a esse universo tecnológico. E em relação a que os outros familiares
pensam, verificamos que houve um alcance significativo em cada um deles como declara
as falas a seguir:
“Muito. É que eu não entendia muito do computador, mais algumas
coisas deu para entender mais”. (FAM 03)
“Estão me ajudando em relação ao meu estudo”. (FAM 04)
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As novas tecnologias não são simples ferramentas a serem aplicadas, mas processos
a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Desta forma,
os usuários podem assumir o controle da tecnologia, como o caso da internet.
Resultado do reconhecimento dessa realidade e do desejo de mudá-la, governos,
empresas, entidades nacionais, internacionais e supranacionais têm elaborado e executado
políticas de inclusão digital sob diferentes conceituações e de variadas dimensões, em
termos de alcance humanitário.
Entendemos que na perspectiva das entrevistas, perante a progressiva demanda
das ações governamentais para a inclusão digital, para demarcar quem é verdadeiramente o
excluído, é preciso colaborar para que as políticas públicas de inclusão sejam
encaminhadas corretamente. Pois a inclusão não é uma parte do provimento da infraestrutura de acesso, mas é todo um trabalho de direção que apenas começa quando as
máquinas passam a estar disponíveis.
Para início de nosso raciocínio, buscaremos compreender acerca das falas
de nossos entrevistados os rebatimentos das transformações do mundo do trabalho na vida
dos mesmos, pois observamos que a maioria encontra-se excluída do mercado de trabalho
e que somente uma é que está aposentada, mencionando que no momento não se faz
necessário o seu retorno ao mercado de trabalho, como demonstramos nas falas a seguir:
“Não, no momento não estou trabalhando, mas preciso me especializar
para trabalhar”. (FAM 01)
“Não posso. Sou aposentada. Mais a barra ainda não está pesada”.
(FAM 03)
Mediante as falas dessas famílias, podemos perceber a verdadeira
importância da oficina de informática para o futuro das mesmas, no que se refere à
qualificação para inserção no mercado de trabalho, pois sem as informações necessárias
referentes ao mundo informatizado, estes possuem poucas chances ou quase nenhuma de
uma melhor colocação no mercado de trabalho que está cada vez mais competitivo.
De acordo com o avanço da tecnologia, o mercado de trabalho ficou cada
vez mais exigente e exigem trabalhadores que possuam mais conhecimentos tendo
capacidade de gerenciar e monitorar.
Com exigência do mercado de trabalho por profissionais qualificados, o
desemprego no Brasil vem aumentando de forma significativa, sendo necessário desta
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forma a elaboração de algumas políticas de qualificação profissional, que têm servido
como instrumento efetivo para melhorias nas condições de inserção no mercado de
trabalho, no que se refere à redução do desemprego, cujo objetivo central é melhorar as
condições de empregabilidade das populações mais vulneráveis no Brasil, priorizando os
desempregados e outras populações excluídas.
Recentemente, o interesse neste tipo de política de trabalho vem
aumentando e realimentado as preocupações sobre o nível e duração do desemprego dos
trabalhadores com qualificação limitada e sobre a crescente desigualdade de rendimentos.
Entretanto, deve-se levar em conta que a maioria dos empregos disponíveis
para os grupos mais vulneráveis estão no mercado secundário, onde as condições de
trabalho são piores e os efeitos de longo prazo devem ser mais sistematicamente estudados,
porque podem ser diferentes dos de curto prazo. Uma questão importante é avaliar se os
empregos conseguidos são estáveis ou meramente oferecem um alívio temporário ao
desemprego.
Esse desenho de trabalho se referencia quanto às formas de trabalho,
misturando trabalho assalariado com trabalho autônomo ou informal. A partir de então, os
estudos passaram a apontar que as trajetórias de trabalho se misturavam em diferenciadas
experiências de trabalho e reprodução social, compreendida pelo desemprego e pela
insegurança social, exigindo que os estudos se interessassem por compreender esses novos
cenários.
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que quanto à percepção da inclusão da informática também
através das falas das famílias entrevistadas que os mesmos notam que precisam de ter um
conhecimento básico para se inserirem no mercado de trabalho.
Tais alterações podem ser constatadas a partir da percepção de que os
excluídos do mundo digital possuem menor ou quase nenhuma possibilidade de inserção
no mercado de trabalho, socialização, desenvolvimento da capacidade criativa etc.
Hoje, essa pesquisa torna-se fundamental para o conhecimento dessas
questões junto às famílias inseridas na oficina.
Ao analisarmos a importância da inclusão digital na vida das famílias
inseridas, tivemos como campo de investigação e análise da Oficina de Informática, que
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nos trouxe maior visibilidade sobre o fenômeno da exclusão digital, onde podemos
identificar que este se expressa na vida das famílias já que as possibilidades de acesso às
tecnologias de informação encontram-se precarizadas.
Com a nova estrutura organizacional e técnica da sociedade baseada na
microeletrônica, o computador aparece como um elemento essencial. Este fato faz com que
o mercado de trabalho exija cada vez mais qualificação dos trabalhadores. Essa realidade
está presente não só no mercado de trabalho, mas permeando toda a sociedade onde
podemos observar em nosso cotidiano a presença constante de ferramentas da
microeletrônica como nos bancos, supermercados etc.
Porém, esta realidade informacional favorece uma determinada parte da
sociedade, já que as inovações tecnológicas foram introduzidas na sociedade com o
objetivo da acumulação capitalista. Os que não possuem oportunidades, ou melhor, não
têm seus direitos, como a educação, garantidos, estando excluídos da participação plena da
sociedade como cidadãos, ficam à margem também do acesso às tecnologias da
informação sendo incapazes de se inserir e conseqüentemente de interagir com as
mudanças dessa nova realidade.
Neste sentido, percebemos que o uso da informática na atualidade é
fundamental, pois vem atingindo as mais variadas esferas de uma mesma sociedade,
causando reflexos e contradições entre grupos sociais e conseqüentemente entre países
desenvolvidos e subdesenvolvidos, onde tais contradições são oriundas de um sistema
capitalista perverso e excludente em detrimento do ser humano.
A Oficina de Informática trabalha com a perspectiva de inclusão digital
ampliada visando não só a ser um espaço de abertura onde as famílias possam acessar a
informática, mas principalmente através desta fazer com que as mesmas percebam as
tecnologias de informação como um direito.
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