MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA O CÂNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO. BOA VISTA - RR 2016. ELIZABETH VIEIRA ALVES O CÂNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Federal de Roraima - UFRR como requisito para conclusão do curso de Psicologia. Orientadora: Profª. Mscª Talitha Lúcia Macêdo da Silva. BOA VISTA - RR 2016. 3 Título: O CÂNCER DE MAMA E SUAS IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO. Autora: Elizabeth Vieira Alves Orientadora: Profª. Mscª Talitha Lúcia Macêdo da Silva. Declaramos que o trabalho acima referido foi apresentado e aprovado. MEMBROS DA BANCA ____________________________________________ Profª. Mscª Talitha Lúcia Macêdo da Silva. 1º Membro _____________________________________________ Profº Msc Lázaro Batista da Fonseca 2º Membro _____________________________________________ Profª Mscª Ana Paula da Rosa Deon 3º Membro 4 À minha família, mãe, irmãos e esposo, pelo apoio diário, por acreditarem nessa conquista, por compreenderem a minha ausência e por me auxiliarem na realização de um projeto de vida. 5 AGRADECIMENTOS Ao meu Deus que com sua misericórdia me deu forças para continuar esta caminhada e me honrou com esta grande conquista. A minha mãe, Ivanira, que não mediu esforços em garantir uma boa educação e proporcionar meios para que eu seguisse rumo à busca pelo conhecimento. Ao meus irmãos Felipe e Flávia, meus fiéis companheiros, por me ampararem nos momentos mais difíceis, por guiarem e me ajudarem a perseguir os meus sonhos. Ao meu esposo Hislan, pelo amor e paciência nos momentos mais distantes e difíceis de realização deste trabalho, também pelo incentivo diário, cumplicidade, por estar ao meu lado e por acreditar no meu sonho e pelo apoio para que essa vitória fosse da nossa família. A todos os amigos que me ajudaram com palavras de incentivo e pelo carinho a mim dispensado. À Profª. Talitha Lúcia Macedo da Silva pelos conhecimentos compartilhados, pelo seu acompanhamento, incentivo, disponibilidade e apoio, determinantes na elaboração deste estudo. 6 "De tudo, ficam três coisas: A certeza de que estamos sempre começando, A certeza de que é preciso continuar E a certeza de que podemos ser interrompidos, antes de terminarmos. Fazer da interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro..." Fernando Pessoa 7 RESUMO Este estudo tem por objetivo a partir das bibliografias consultadas compreender o câncer de mama e suas implicações biopsicossociais na vida da mulher. Deste modo, através da pesquisa bibliográfica, o presente estudo pretende compreender como a mulher vivenciou o diagnóstico do câncer de mama, investigar como significou a experiência de ser mastectomizada, verificar as mudanças que ocorrem após a mastectomia e compreender como lidam com essa nova realidade. Foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, o procedimento metodológico foi realizado em duas fases, primeiro foi realizada a coleta de fontes bibliográficas, na qual foi feita o levantamento da bibliografia existente. A coleta de dados foi realizada a partir de critérios que delimitavam o campo de estudo, orientando assim a seleção do material a ser pesquisado. Partindo dessa premissa, foi verificado se obras relacionavam-se ao objeto de estudo, de acordo com os temas que lhe são correlatos. Para essa fase de levantamento da bibliografia, foram selecionados os recursos de livros, artigos científicos da base de dados SCIELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Google acadêmico, bem como, em monografias e dissertações. A partir da apreciação da literatura, foi possível verificar que dois momentos são marcantes na vida da mulher acometida pelo câncer de mama. O primeiro se inicia no momento da descoberta do câncer, pois desde o diagnóstico do câncer a mulher pode apresentar diversos sentimentos e mudanças em sua vida pessoal, familiar e social. Já o segundo momento relaciona-se ao período pós-mastectomia, quando a mulher se depara com a perda do seio, um órgão que representa socialmente a feminilidade, a sensualidade, a maternidade e a fonte de vida. Embora seja um procedimento ainda considerado o melhor para o tratamento do câncer deixa profundas cicatrizes no corpo e na subjetividade da mulher, o que pode acarretar alterações na imagem corporal, nas relações familiar e sociais, e ainda no relacionamento conjugal e na sexualidade da mulher. Verificouse que as repercussões da mastectomia acarretam vários tipos de enfrentamento que variam do contexto em que a mulher se encontra, é uma experiência ampla e distinta para cada mulher, e envolve implicações na vida diária. Palavras-chave: biopsicossociais. mulher, câncer de mama, mastectomia, repercussões 8 ABSTRACT This study aims from the bibliographies consulted understand breast cancer and its biopsychosocial implications in women's lives. In this way, through bibliographical research, this study aims to understand how the woman experienced breast cancer diagnosis, investigate how meant the experience of being mastectomizada, check the changes that occur after mastectomy and understand how to deal with this new reality. It was used the method of bibliographic research, the methodological procedure was carried out in two stages, the first collection was performed bibliographical sources, in which was made the lifting of existing bibliography. The data collection was performed from criteria that delimited the field of study, thus guiding the selection of material to be searched. Starting from this premise, it was verified that the works were related to the object of study according to the themes that you are correlates. For this phase of the survey were selected resources bibliography of books, scientific articles from the database SCIELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Latin American literature and the Caribbean Health Sciences), the VHL (Virtual Health Library), as well as in monographs and dissertations. From the assessment of the literature, it was possible to verify that two are striking moments in the lives of women affected by breast cancer. The first starts at the time of discovery of cancer, since the cancer diagnosis, the woman can present various negative feelings and changes in their personal, family and social life. The second point relates to the period when the woman post-mastectomy is faced with the loss of the breast, a body representing socially femininity, sensuality, motherhood and the source of life. Although it is still considered the best procedure for cancer treatment leaves deep scars on body and subjectivity of women, which can lead to changes in body image, family and social relations, and the marital relationship and sexuality of women. It was found that the impact of mastectomy entail various types of engagement ranging from the context in which the woman is, is a large and distinctive experience for every woman, and involves implications for daily life. Keywords: breast cancer, mastectomy, biopsychosocial repercussions. 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................10 2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................15 2.1. BREVE HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CÂNCER......................15 2.2. O CÂNCER DE MAMA.......................................................................................19 2.2.1. Aspectos Clínicos e Gerais do Câncer de Mama. ...........................................19 2.2.2. As Repercussões Psicológicas do Câncer de Mama. .....................................22 2.3. MASTECTOMIA E SEUS IMPACTOS PSICOSSOCIAIS NA VIDA DA MULHER. ..................................................................................................................................25 2.4. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E VIVÊNCIA DA SUPERAÇÃO..........35 3. METODOLOGIA....................................................................................................40 3.1. Caracterização da Pesquisa...............................................................................40 3.2. Procedimento Metodológico ...............................................................................42 4. DISCUSSÃO .........................................................................................................40 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................48 REFERÊNCIAS.........................................................................................................49 10 1. INTRODUÇÃO O câncer não é uma doença recente, uma vez que já foi descrita em 1.600 a.C. nos papiros egípcios. Nos dias atuais representa, em todo o mundo, a segunda causa de morbidade e mortalidade (PIGNATARI, 1992). Nesse sentido, é possível considerá-la uma doença de origem milenar e social, que vem atravessando a história da humanidade, carregando consigo a conotação de doença fatal (TREZZA; SOARES; LEITE, 2009). Desde seu surgimento na história da humanidade a doença traz o estigma da morte e carrega consigo metáforas que se relacionam com a sua origem e as suas consequências, tais como mutilação e desconfiguração de alguma parte do corpo (SONTAG, 2002). Ter câncer significava uma sentença de morte, era temível por ser considerada uma doença que se inicia em silêncio e induzir a um final doloroso. No aspecto da convivência social, tornou-se uma doença a ser ocultada em meio a sentimentos de vergonha e medo (ZECCHIN, 2004). O câncer de mama traz consigo o tabu de uma doença considerada “maldita”, uma vez que pode ser a causadora de desfiguração de partes do corpo, além de ser uma enfermidade que pode acarretar sofrimentos durante o tratamento, pois atinge a unidade corpo-mente. É considerada também como potencial estressor por provocar diversas mudanças, tanto na vida da mulher, quanto de seus familiares (ALMEIDA, 2015). Atualmente tem sido considerada uma das maiores causas de morte nos países ocidentais, tornando-se uma das maiores preocupações atuais em Saúde Pública. No Brasil é um dos maiores responsáveis por óbito feminino, é o segundo tipo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. As taxas de mortalidade no país por causa desse tipo de câncer continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados (INCA, 2015). Entretanto, na atualidade, a doença oncológica não significa terminalidade, uma vez que os índices de cura vêm se tornando cada vez mais ampliados. Diversos são os tratamentos que contribuem para a cura do câncer de mama, dentre 11 eles, a mastectomia, que ainda é uma das alternativas terapêuticas das mais indicadas e realizadas para o tratamento. A mastectomia é um procedimento cirúrgico, que tem por objetivo promover o controle local com a remoção de todas as células malignas, e assim proporcionar maior sobrevida ao paciente (ALVES et. al., 2010). É uma cirurgia de retirada total ou parcial da mama (INCA, 2015). As intervenções cirúrgicas podem variar de acordo com extensão da mama que sofre a mutilação (CESNIK; SANTOS, 2012). Embora seja necessária, a realização da mastectomia pode gerar repercussões físicas e psicossociais que interferem na vida da mulher. Uma vez que as alterações advindas desse processo de tratamento podem acarretar preocupações e angústias, já que o seio é repleto de simbolismo e feminilidade não só para a mulher, como também para a sociedade. Cantinelli et. al. (2006) afirmam que a mama é a metonímia do feminino e seu comprometimento expõe a mulher a uma série de questões como a sua posição enquanto ser atraente e feminina ou mãe que amamenta, além de questões existenciais relacionada à finitude e à morte. Carvalho (2003), afirma que a mama é considerada um símbolo corpóreo cheio de sensualidade, e a sua perda pode gerar sentimentos de inferioridade e medo da rejeição tanto da família, do companheiro, como da sociedade em geral, devido a esses aspectos a auto-imagem da mulher pode ficar alterada. Ao perder o seio a mulher pode apresentar uma série de alterações no seu modelo postural e perceber comprometimento na beleza física. A partir da cirurgia tomam consciência da posição que a mama tem na sociedade. E quanto maior a importância atribuída às mamas pela mulher, maior o sentimento de perda após a cirurgia (FERREIRA; MAMEDE, 2003). Essa tomada de consciência acontece porque o corpo é socialmente construído, cada sociedade produz determinado tipo de corpo que servirá como insígnia da identidade grupal (PAIN; STRAY, 2004 apud BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011). Desse modo, o corpo é um ente que reproduz uma estrutura social, de forma a dar-lhe um sentido peculiar, o que vai variar conforme os mais diferentes sistemas sociais. Assim, por meio da interação com o ambiente e o contato com outras 12 pessoas o indivíduo aprende a avaliar o seu corpo (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011). Então o conhecimento e as concepções de corpo variam conforme a sociedade pela qual o sujeito é constituído. Desta maneira, através do processo de constituição da subjetividade a mulher sofre influência dos modelos de beleza socialmente construídos. Atualmente nas sociedades contemporâneas observa-se que o corpo se apresenta em consonância com os padrões de beleza estabelecidos, que associam o corpo magro, modelado e jovem a uma ideia de felicidade e de sucesso. A valorização de um corpo escultural vem se tornando imperativo, inúmeros são os recursos e fontes de informações que salientam a importância de um padrão corporal com medidas ideais. São os mais diversos produtos e recursos estéticos que vem se multiplicando cada vez mais como formas de instrumentos que auxiliam nessa busca incessante para se atingir esse padrão de beleza corporal socialmente imposto (CLASTRES, 1998 apud BERGGER, 2006). Diante do exposto, presencia-se na contemporaneidade uma espécie de reinvenção do ser humano, onde se modifica o corpo a fim de reduzir os supostos desvios, e as ditas imperfeições condenadas pelos imperativos da bela aparência e da juventude. Vivenciamos a era dos seios cheios de silicones, alterados por próteses ou remodelados, das lipoaspirações, dos implantes, e das inúmeras modificações em outras partes do corpo, com o intuito de induzir as proporções físicas desejadas (LE BRETON, 2003 apud BRUGGER; 2006). Clastres (1998, apud BERGGER, 2006), afirma que esse culto ao corpo existente nas sociedades contemporâneas, dentre elas a sociedade brasileira, onde a busca para moldar o corpo a determinados padrões pré-estabelecidos, ocorre para se obter reconhecimento social e sentimentos de pertencimento social. Desta maneira, observa-se que ter um corpo moldado a um padrão de beleza socialmente desejado, vem se tornando uma exigência social, em uma cultura que apresenta o corpo como um verdadeiro objeto de idealização, regidos por padrões estéticos estabelecidos. Não possuir esse corpo implica não ser reconhecido socialmente, assim a mulher que sofreu a perda da mama encontra-se à margem deste padrão corporal de beleza, podendo desta maneira comprometer a sua saúde psicoemocional. 13 Nessa nova realidade, onde a mulher passa a enfrentar problemas ligados à mutilação de seu corpo, surgem inquietações enquanto profissional sobre como prestar uma assistência de forma integral, não só focada nos aspectos biológicos da doença, mas compreendendo essa mulher em todo o seu contexto. Especialmente na necessidade de uma assistência no retorno ao seu lar, ao seu cotidiano, pois ainda não há clareza como esse processo é vivenciado e interpretado pela mulher. Portanto, o conhecimento do significado atribuído à perda do seio pelas mulheres que a vivenciam, necessitará ficar claro para os profissionais da saúde, para que eles possam reconhecer a representação desses aspectos no contexto de vida das mulheres, agora mastectomizadas (FERREIRA; MAMEDE, 2003). O sofrimento psicológico da mulher que passa pela circunstância de ser portadora de um câncer de mama e de ter de acolher um tratamento difícil, como a mastectomia, transcende ao sofrimento configurado pela doença em si. É um sofrimento que comporta representações e significados atribuídos à doença ao longo da história e da cultura e adentra as dimensões das propriedades do ser feminino, interferindo nas relações interpessoais, principalmente nas mais íntimas e básicas da mulher. Considerar estes aspectos nas propostas de atenção à mulher com câncer de mama é mais que necessário, é indispensável (SILVA, 2008). Sendo assim, a perda do seio, favorece o surgimento de muitas questões na vida das mulheres. Como a mulher percebe e lida com essa nova imagem, e como isso afeta a sua existência, apresentam-se como forma de inquietações para os profissionais de Psicologia, que se propõem prestar uma assistência integral, preocupada não só com efeitos orgânicos da doença, mas também com as repercussões psicossociais. Portanto, partindo desse pressuposto surge a necessidade de melhor compreender a mulher portadora de câncer, para que seja possível proporcionar uma assistência e suporte sensível e adequado. Para isso, faz-se necessário que um maior conhecimento pelos profissionais de saúde dos sentidos da mastectomia para mulher que vivencia tal experiência. A partir da tomada desse conhecimento poder enquanto profissional proporcionar o desenvolvimento de estratégias de intervenção que possam oferecer um melhor suporte psicoemocional para essa mulher. 14 Esse é o contexto que fez surgir a questão central dessa pesquisa, a qual se apresenta nos seguintes termos: Quais os sentidos que a mulher atribui ao seio e a possibilidade de perda? Quais as mudanças que ocorrem na vida dessas mulheres após a mastectomia? Quais as repercussões psicossociais que a mastectomia traz na vida da mulher? Como lidam com essa nova realidade? Sob a luz desta problemática, este estudo tem como objetivo geral a partir das bibliografias consultadas compreender o câncer de mama e suas implicações biopsicossociais na vida da mulher. Deste modo, o presente estudo pretende compreender como a mulher vivenciou o diagnóstico do câncer de mama, investigar como significou a experiência de ser mastectomizada, verificar as mudanças que ocorrem após a mastectomia e compreender como lidam com essa nova realidade. 15 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. BREVE HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CÂNCER. Ao investigar a construção social do câncer, observamos que sua origem está repleta de metáforas e significados construídos em torno da doença. A necessidade de uma melhor compreensão da enfermidade ocorreu tanto em virtude das modificações da doença no decorrer do tempo, quanto das reinterpretações dos atores sociais envolvidos, pois a cada época da história e a cada nova fase da doença foram surgindo novos significados atribuídos ao câncer. A trajetória da enfermidade está envolta de um conteúdo simbólico que atrela à sua representação no imaginário social significados como: preconceitos, vergonha, castigo, estigamatização, discriminação e exclusão social. Nesse sentido, o presente capítulo faz uma breve incursão sobre as metáforas e significados construídos em torno do câncer ao longo da história. Verifica-se que os significados apreendidos, tem um caráter dinâmico e são interpretações de conhecimentos continuamente reformulados e reestruturados em cada época da história, que se transformavam no decorrer da trajetória da enfermidade. Nesse sentido, o câncer foi descoberto na Alta Antiguidade, encontrado em múmias egípcias e pré-colombianas. Em 3.500 a.C., escritos babilônicos, indianos e papiros egípcios já discorriam sobre o câncer. Mas foi no século V a.C., na Grécia de Hipócrates, pai da medicina, que começaram a surgir descrições sistemáticas a respeito da doença. É ainda nessa época que surgiu a sua comparação ao comportamento de um caranguejo, onde o termo Karcinos, cujo significado quer dizer caranguejo, passou a ser usado para se fazer uma analogia da doença ao comportamento do crustáceo. Foram desenvolvidas duas teoria para explicar essa comparação: a primeira, que o nome se origine das dores que a enfermidade causa, semelhante às ferroadas do crustáceo. Já a segunda, ao fato de que a dilatação dos vasos sanguíneos que alimentam o tumor traça um desenho que lembra as patas do caranguejo (ZECCHIN, 2004). Para Ferrari e Herberg (2007), a analogia ao comportamento do crustáceo se dava pelo fato de que algumas feridas pareciam penetrar profundamente na pele, agarrado a superfície, e devido a semelhança entre as veias intumescidas de um 16 tumor às pernas do animal que, com agressividade, imprevisibilidade e invulnerabilidade, aprisiona a sua vítima, consumindo-a até a morte. A construção histórico-social do câncer é, segundo Gimenes (2000), envolta de preconceitos e vergonha, pois ser portador de câncer equivalia a uma sentença sociocultural que representava a falta de glória. Ter câncer representava ser responsável por seus sofrimentos e até mesmo pela enfermidade, o que levava a pessoa a acomodar- se ao seu destino e aceitar seu castigo divino. Desde sua origem na humanidade configurou-se como uma doença terrível que amedrontava a todos que dela sucumbiam ou aqueles que temiam contaminar-se. Acreditava-se que o câncer resultava de um desequilíbrio humoral, de excesso de bile negra ou melancólica. Essa noção de doença generalizada com manifestações em locais específicos perdurou por quase vinte séculos até a descrição do sistema linfático no início do século XVII, quando se atribuiu o câncer a diversos distúrbios da linfa. A partir de então, suspeitou-se também de que o mal pudesse ser contagioso, levando a exclusão e a discriminação dos pacientes que eram recusados em vários hospitais (ZECCHIN, 2004). Desta maneira, pessoas acometidas pela enfermidade se calavam e o silêncio era a única condição admissível socialmente. Não compartilhar esse segredo garantia a participação em sociedade, uma vez que existia a crença de ser uma doença contagiosa e também por estar associado à corrosão, a aspectos desumanizantes e fétidos (SANT’ ANNA, 2000). Nos séculos XIX e XX o câncer estaria associado à falta de higiene e a comportamentos imorais, no imaginário popular seu surgimento servia como uma oportunidade de remissão para os pecados e excessos cometidos (PEREIRA, 2008). Tavares (2005) afirma que nesse período a patologia relacionava-se à pobreza, denotando sujeira física e moral, principalmente nas mulheres. O adoecimento era considerado resultado de pecados e vícios, em especial as relacionadas às práticas sexuais. Existia ainda o caráter libertador, onde o câncer era compreendido como sendo um castigo por meio do qual o doente poderia conseguir redenção e elevação espiritual. Predominava nessa época o modelo biomédico para a saúde e a doença, em que se pressupunha a doença como um mal do corpo, independente dos processos 17 psicológicos e sociais. Essa dicotomia mente-corpo permaneceu inabalável durante a Idade Média e o Renascimento, assim as condições de saúde e doenças estariam associadas a processos fisiológicos, e o que aconteceria com esse corpo não afetaria o emocional da pessoa (SARAFINO, 1991 apud GIMENES 2000). No final do século XX e início do XXI outros fatores começaram a ser considerados importantes no estudo do câncer, tais como os aspectos e as influências do comportamento e das emoções do indivíduo frente aos processos de saúde e doença. Nessa perspectiva, passou-se a admitir a possibilidade de participação de fatores psicológicos no desenvolvimento do câncer, a partir dessas considerações surgiu o modelo biopsicossocial da doença (ENGEL, 1977 apud MORAIS, 2010). À medida que se desenvolveram estudos na área, uma nova explicação para o surgimento do câncer foi proposta, onde os aspectos psíquicos começaram a ser considerados na etiologia da doença. Desta maneira acreditava-se que sobrecargas de emoções constantemente reprimidas poderiam desencadeá-la. A causa estaria relacionada à contenção dos desejos e a não expressividade das emoções (PEREIRA, 2008). Segundo Tavares (2005) o candidato ideal ao câncer teria a personalidade marcada pela passividade, pouca emotividade, baixa agressividade, negação da hostilidade, depressão e dificuldade na formação de vínculos afetivos. Sendo assim um tipo de personalidade específica do próprio homem seria responsável pelo desenvolvimento da doença. A doença estaria associada também ao estresse e à depressão. Indivíduos expostos a essas situações teriam maior facilidade de baixar a imunidade de seus corpos, principalmente, ao surgimento de tumores malignos (RAMOS, 2006). As situações de estresse normalmente acionam o sistema imunológico como forma de evitar doenças que possam advir dos efeitos negativos desse estresse. Contudo, quando essas situações ocorrem em um nível elevado, respostas emocionais muito fortes são despertadas. O que poderia desencadear efeitos capazes de suprimir o sistema imunológico, enfraquecendo as defesas naturais do corpo contra as enfermidades, dentre elas o câncer (SIMONTON et. al., 1987). 18 Atualmente, as causas atribuídas ao câncer, apresentam etiologias multifatoriais, tais como aspectos genéticos, ambientais, relacionados ao estilo de vida, e as condições socioeconômicas das populações (MELO et. al., 2009). Nessa breve exposição histórica verifica-se que múltiplos são os fatores de riscos e possíveis agentes que podem contribuir para o desenvolvimento do câncer. Verifica-se que a sua construção histórico-social está permeada de uma série de representações e interpretações. Desde seu surgimento na história tem sido associado à dor, à morte, ao medo, à culpa, a sofrimento e principalmente a estigmatização social. A sua alta incidência, as repercussões psicossociais, as incertezas quanto à etiologia e ao tratamento revestem o câncer de valor simbólico especial. O que justifica a desestruturação que esse diagnóstico provoca na vida do paciente e de seus familiares, bem como o silêncio e segredo que existe em torno do assunto. 19 2.2. O CÂNCER DE MAMA. 2.2.1. Aspectos Clínicos e Gerais do Câncer de Mama. O câncer de mama vem assumindo um papel cada vez mais importante entre as doenças que acometem a população feminina, pois em nível mundial e nacional, representa relevante causa de morte entre mulheres. A doença é mais comum entre as mulheres, a estimativa é de 12,5%, ou seja, uma em cada oito casos, isso aponta que cerca de 31% dos casos são de câncer feminino. A doença é relativamente rara antes dos 35 anos de idade, mas acima dessa faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente (INCA, 2015). Apresenta-se como uma enfermidade complexa uma vez que, a pessoa portadora de câncer vivencia em sua trajetória inúmeras situações, que referem-se a sua integridade biopsicossocial. Sendo, considerada uma preocupação de saúde pública, é necessária a atenção por parte dos profissionais de saúde, em especial da Psicologia, pois a assistência a mulher com câncer de mama é repleta de desafios cotidianos, conforme vimos anteriormente, a própria palavra câncer é carregada de significados que remetem a dor e a morte. Nesse sentido, é de fundamental importância que os profissionais de saúde conheçam os aspectos gerais da doença, para uma melhor compreensão dos tratamentos e suas possíveis consequências, visto que proporcionará ao profissional uma visão holística acerca dos cuidados prestados a essas mulheres. Dessa forma, esse capítulo aborda os aspectos clínicos e gerais do câncer de mama, desde conceito, como possíveis causas e seus tratamentos em busca da cura. Nesse sentido, o câncer é termo genérico usado para classificar a um conjunto de mais de 100 doenças que tem em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos; podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, consideradas células cancerosas (INCA, 2015). Sua etiologia envolve a interação de múltiplos fatores de risco, abrangendo diversos determinantes biológicos, psicossociais e ambientais. Os principais fatores causais estão ligados a agentes internos e externos ao sujeito, que podem agir em 20 conjunto para iniciar ou promover o desenvolvimento do câncer em um terreno propício, afirma Moraes (1994). As causas específicas ainda são desconhecidas. Contudo, existem fatores de risco que influenciam no surgimento da doença, como a exposição a hormônios, histórico menstrual, uso de anticoncepcionais orais, ingestão de álcool, alimentação e sedentarismo. A história da doença no meio familiar também é um aspecto que requer atenção, tendo em vista que grande parte dos cânceres de mama possui origem genética e/ou hereditária, o que sinaliza um grau do risco para o seu surgimento (BARROS; BARBOSA; GEBRIM, 2001). O câncer de mama caracteriza-se por uma neoplasia que afeta uma das mamas e por vezes as axilas, apresentando-se no início como um nódulo consistente que pode ser indolor ou não (GOLDMAN; AUSIELLO, 2005). Pode manifestar-se por meio de secreção mamilar, alterações na pele da mama ou dor intensa na mama (PEREIRA, 2008). O câncer de mama pode ser dividido em duas categorias, em não-invasivo caracterizado pelo fato de não ser capaz de se expandir para outras partes do corpo, e em invasivo é caracterizado por se expandir para outras camadas celulares do órgão, e pela capacidade de se disseminar para outras partes do corpo (PIMENTEL; LIMA; MONNERAT, 2009). Quanto às formas de tratamento, as principais conforme o INCA (2015) são: a cirurgia, a mais antiga das formas de tratamento do câncer, ainda ocupa uma posição de destaque no controle desta doença. Uma cirurgia oncológica definitiva que visa a remoção mecânica de todas as células malignas presentes junto ao câncer primário. A Radioterapia, que é um tratamento no qual se utilizam radiações para destruir um tumor ou impedir que suas células aumentem visando a cura do paciente, ou para diminuir os sintomas da doença, evitando as possíveis complicações decorrentes da presença e crescimento do tumor. A Quimioterapia, que é a utilização de medicamentos específicos para o tratamento de tumores, com o objetivo de destruir células cancerosas. Ingeridas ou injetadas na veia, músculo ou sob a pele, os quimioterápicos distribuem-se para todas as partes do corpo. E a hormonioterapia, que consiste na manipulação de hormônios corporais, já que se sabe que alguns tipos de câncer de mama são dependentes dos hormônios femininos. Esses tratamentos podem ser realizados isoladamente ou em 21 combinações e é de extrema importância seu segmento até o fim para evitar o retorno da doença. A escolha do método terapêutico vai depender de diversos fatores, como idade, localização e tamanho do tumor, análise da mamografia, disponibilidade financeira e do modo da paciente em lidar com a mama afetada (MOURA et. al, 2010). Atualmente, a detecção precoce do nódulo mamário ainda é muito significativa para a obtenção de tratamento e prognóstico satisfatórios. A prática do auto-exame é essencial para a detecção, sendo de fácil compreensão e acessível a mulher, mostra-se muitas vezes, como um forte método contra a doença, impedindo a mutilação das mamas por meio da mastectomia e até mesmo a morte da paciente (SILVA et. al., 2010). Sendo assim, o câncer de mama é uma doença crônica grave, mas se tratado adequadamente pode ter cura, permitindo que a paciente tenha uma vida normal. Aliado aos esforços contínuos nas descobertas de tratamentos menos dolorosos e técnicas cirúrgicas menos mutiladoras é importante que se criem políticas sérias e constantes de prevenção e combate ao câncer de mama. Sendo assim, cabe aos profissionais de saúde a tarefa de proporcionar um atendimento integral a esta clientela, em que o aspecto biopsicossocial prevaleça. 22 2.2.2. As Repercussões Psicológicas do Câncer de Mama. Ao longo da vida, as pessoas passam por diversas situações problemas que podem contemplar desde grandes crises, dentre elas uma grave doença e suas consequências, e até mesmo pequenas dificuldades encontradas no dia a dia do ser humano; e o impacto causado pela descoberta da doença vai depender da relação entre o problema e o sujeito que o vivencia dentro do contexto psicossocialcultural na qual está inserido (RZEZNIK; 2000). A partir do momento em que se pensa em doença, independente do órgão que é acometido e dos efeitos gerados no organismo pela enfermidade, verifica-se a presença de um conjunto de emoções que se encontram associadas. Receber um diagnóstico em geral é um momento decisivo na vida da pessoa, pois a partir de então ela tem a possibilidade de reformular aspectos importantes de sua vida (RZEZNIK, 2000). Quando se vivencia uma situação de adoecimento a mulher se depara com um misto sentimento, o mais comum é a angústia, porque a morte se faz presente. Adoecer é sempre uma ameaça à auto-estima e à existência do homem. Conforme aumenta as consultas médicas o sentimento de ansiedade aumenta, e alguns pacientes tendem a usar os mecanismos de defesa para lidar com a situação. A princípio, negam a doença e acreditam que a resolução dos seus conflitos se encontra na cirurgia. Contudo, cada pessoa precisa de tempo particular e subjetivo para lidar com as repercussões do diagnóstico (MICELI, 1998). Nesse sentido, ao receber um diagnóstico de câncer o ser humano submerge em sua temporalidade existencial e visualiza a morte como algo próximo em sua vida. Essa nova realidade estimula no íntimo de seu ser emoções e sentimentos que, ao seres expressos, transmitem seu estado de derrota do mundo (SALCI et. al., 2009). Ao constatar a doença, a mulher pode inicialmente adotar o mecanismo de defesa de negação da realidade, mas isso é fase que permite ao sujeito compreender gradativamente a sua situação e enfrentar a realidade (KUBLER, 1998). A negação da enfermidade, dentro dos estágios psicológicos no enfrentamento do câncer representa a fase em que a mulher não acredita na informação que está recebendo, sendo uma fase temporária, com o tempo ela é 23 substituída pela aceitação parcial. Nessa fase, é bem comum uma transição em falar sobre a realidade do assunto, em um determinado momento, e negá-lo completamente de repente. Já na fase de aceitação os fatos começam a se enfrentados com consciência das possibilidades e das limitações (ALMEIDA et. al, 2015). Em outros casos a mulher pode apresentar sentimentos de revolta, e faz questionamentos sobre o motivo desse evento está ocorrendo em sua vida (SALCI et. al, 2009). A vivência do câncer é uma das experiências mais desestruturantes para o paciente e sua família, pois os procedimentos, as condutas e rotinas terapêuticas, ainda que sejam métodos usados para restabelecer e promover o bem-estar do paciente são percebidos como ameaçadores e agressivos, o que aumenta os sentimentos de impotência, vulnerabilidade e fragilidade. A pessoa vê-se limitada em seus recursos internos para controlar a situação (MORAES, 1994). O momento do diagnóstico é acompanhado de sofrimento, por estabelecer uma relação íntima e direta com a morte (SALCI et. al., 2009). A morte de acordo Brandt (2004), tem sido um tema bastante abordado sob vários aspectos, quanto aos aspectos psicológicos, tem sido observada nos problemas que surgem durante a vida, como por exemplo, a descoberta de uma doença oncológica. A autora afirma que no mundo ocidental a morte parece ser o maior tabu a ser enfrentado. A morte é vista como uma situação de separação, como um fracasso, perda de status, e que, portanto, deverá ser evitada. Surgem então, a partir da preocupação com a morte problemas psicológicos como a depressão, insônia, agressividade, raiva, medo, sentimento de perda e culpa. Além de deparar-se com o medo da morte o paciente com câncer se depara com o sentimento de incerteza de um futuro, e mesmo encontrando-se bem, sem sinais e sintomas iminentes da enfermidade, ou tendo a consciência dos avanços tecnológicos e dos tratamentos existentes, o impacto da nova realidade se revela como sendo difícil a elaboração e aceitação da nova situação (SALCI, 2009). Outras preocupações mais específicas também se tornam mais comum, como o medo de recidiva, da dor, da mutilação do corpo, da interferência da doença com as atividades de rotina, discriminação no trabalho, dificuldades práticas, problemas nas relações sociais, e problemas de comunicação com a família (BRANDT, 2004). 24 Entretanto, a situação de adoecer de câncer pode, apesar das adversidades, trazer experiências positivas. Para muitas pessoas a doença e a ameaça de morte a ele associada transformam-se em uma oportunidade para refletirem sobre a vida, como a vivenciaram até o momento do diagnóstico e como devem vivê-la a partir desse momento (BELEC, 1992 apud SILVA, 2006). Bizzarri (2001 apud SILVA, 2006) considera essas questões relevantes e enfatiza que ainda não conhecemos a imprevisível capacidade de resposta que o homem pode evocar em situações limites, quando a ameaça à sua integridade e identidade psicofísica exerce uma pressão psicológica intensa. Observa-se que o diagnóstico de câncer e todo o processo da doença trazem diversas fantasias e preocupações para a mulher. O câncer de mama acarreta na vida da mulher efeitos traumáticos para além da própria enfermidade, pois o tratamento mais indicado é a realização da cirurgia de retirada da mama, a mastectomia, gerando a partir dela a perda de órgão repleto de significado e simbolismo. Assim a mulher se depara com a iminência da perda de um órgão altamente investido de representações, pode apresentar diversas dificuldades psicológicas no decorrer dos tratamentos, necessitando de um suporte pelos profissionais que a acompanham e por parte da família. Todavia, pode também apresentar aspectos positivos que a auxiliam no combate e enfretamento da nova realidade. 25 2.3. MASTECTOMIA E SEUS IMPACTOS PSICOSSOCIAIS NA VIDA DA MULHER. A mastectomia é um dos procedimentos mais usados para o tratamento do câncer de mama, é uma cirurgia que visa remover todo o tumor. Em geral é um método radical, mutilador e é indicado quando o câncer encontra- se em um estágio avançado. Muitas mulheres optam pela cirurgia, pois acreditam que por meio dela colocam limites na doença e evitam o seu avanço, e também porque a remoção do tumor traz a segurança de não ter mais que se preocupar com a enfermidade. Tais conceitos podem levar a mulher a visualizar a cirurgia como a possibilidade de cura (PEREIRA, 2008). Nesse sentido, embora a cirurgia traga grande alívio, esse sentimento tem um curto período de duração. Quando a mulher se conscientiza cognitivo e emocionalmente se inicia um período de luto diante as perdas consecutivas (ÁRAN et. al., 1996). Nesse processo surge uma série de fantasias, angústias e medos que não cessam com a retirada do tumor. Há um misto de emoções que envolve a imagem corporal, a sexualidade, o relacionamento familiar e social (PEREIRA, 2008). Desse modo, a consequência desse método pode acarretar para a mulher prejuízos de ordem física, emocional e social (SAMPAIO, 2006). Isso porque a mama representa o corpo feminino, sendo ainda considerada um símbolo cheio de sensualidade, com papel importante na vivência e na demonstração da feminilidade. Além de ser órgão que produz e carrega o leite, ou seja, é considerado um órgão que representa uma fonte simbólica da vida e da maternidade (FERREIRA; MAMEDE, 2003). A mastectomia, mesmo sendo parte de um procedimento ainda considerado o melhor para o tratamento do câncer de mama, deixa cicatrizes profundas no corpo e na subjetividade da mulher. E cicatrizes são marcas características de uma alteração na imagem corporal e uma rotulação que pode afetar a auto-imagem. A falta da mama agride o olhar e pode levar à adaptação ineficaz severa e ao afastamento social (ZECCHIN, 2004). Nesse sentido, a primeira grande dificuldade a ser enfrentada pela mulher após a mastectomia, é a sua própria aceitação, de olhar-se no espelho e aceitar que 26 o seu corpo está diferente, sem uma parte, que culturalmente se apresenta cheia de significados. A identificação da mutilação se dá pela percepção da assimetria do corpo e pela visualidade da cirurgia, o que para muitas mulheres significa um momento agressivo à auto-imagem (PEREIRA et. al, 2006). Pedrolo (2000, apud MORAIS, 2010) define imagem corporal como o modo de sentirmos e pensarmos sobre o nosso corpo e a nossa aparência corporal. Os sentimentos e as ações relativas à imagem corporal formam um conceito de corpo, fundamental para uma vida social mais adequada. Assim a imagem corporal é compreendida como a representação mental que possuímos do próprio corpo, e está relacionada à percepção e composta dos aspectos fisiológicos, psicoafetivos, cognitivos e relacionais. Desta maneira, a imagem que fazemos do nosso corpo é construída e desconstruída ao longo de nossa vivência, das experiências com o mundo exterior. Portanto, se a perda da mama provoca demasiado dano a mulher, significa que há uma outra realidade onde ela tem um outro valor. Não se trata mais da mama, mas do seio que o recobre. Perdê-lo para muitas mulheres representa perder a vida, implica um dor que ultrapassa as questões médicas (AZEVEDO; LOPES, 2010). Nessa perspectiva, a imagem corporal é construída nas relações e nos vínculos estabelecidos desde a infância, essas relações são referências para a maneira de ser e para a aceitação do corpo (GIMENES, 1998). A construção da imagem corporal é marcada por fatores sócio-culturais como moda e padrão de beleza (SANTOS; VIEIRA, 2011). O ideal de corpo é um aspecto avaliado em relação a uma imagem ideal regida por normas e valores socioculturais. Desse modo, alterações na imagem corporal podem alterar a auto-imagem e o autorespeito, limitando as relações sociais (PEDROLO, 2000, apud MORAIS, 2010). Logo, a eminência da perda do seio e os tratamentos que a mulher passa a ser submetida afetam consideravelmente sua auto-estima, diminuindo seu apreço em relação à sua feminilidade e à sua capacidade de atração, gerando desta maneira uma diminuição significativa do desejo sexual e da vontade de relacionar-se com os outros (VENÂNCIO, 2004). Após a cirurgia a mulher em geral, sente dificuldade em lidar com o próprio corpo, se recusa olhar sua imagem no espelho, esconde o corpo dela mesma e da sociedade, pois se vê mutilada (RIBEIRO, 2006). A percepção de que a mama não está mais presente causa demasiado sofrimento, podendo revelar uma insatisfação 27 e não aceitação dessa perda, o que pode ocasionar auto-depreciação (DUARTE; ANDRADE, 2002). Essa dificuldade em lidar com essa nova imagem corporal, possivelmente pode estar relacionado aos parâmetros que a sociedade brasileira contemporânea impõe para identificação de um suposto corpo ideal. Pois vivemos em uma sociedade que valoriza o corpo e incentiva a busca incessante para adquirir esse padrão de beleza específico. E isso pode ser verificado nas mais diversificadas fontes de informações que salientam a importância de se atingir um padrão de beleza social desejado. Além dos diversos anúncios no qual são expostos os corpos esculturais para a venda dos mais variados produtos, onde o corpo se torna uma vitrine. E do aumento das academias, dos produtos e recursos das clínicas estéticas usados como instrumento para se alcançar esse padrão. Segundo Le Breton (2003, apud BRUGGER; VASCONCELOS, 2012), presenciamos nos dias atuais uma espécie de reinvenção do homem, onde se altera o corpo com o intuito de reduzir os desvios, as imperfeições desaprovadas pelo mister da bela aparência e juventude. O autor ressalta ainda que vivenciamos a era dos seios cheios de silicones, modificados por próteses ou remodelados, bem como das inúmeras alterações realizadas em outras partes do corpo, com o objetivo de se alcançar as proporções físicas desejadas socialmente. Ter um corpo considerado escultural, magro e jovem vem se tornando uma exigência social, numa sociedade que apresenta esse corpo como um verdadeiro elemento de idealização que correspondem a padrões de beleza estabelecidos, e não possuir esse corpo significa não ser reconhecido socialmente. Portanto, nessa sociedade de consumo, o corpo é por um lado objeto de idealização, mas por outra perspectiva alvo de estigmatização, caso esse corpo não corresponda aos padrões de beleza sociais. E a mulher que teve seu seio extirpado em função do câncer de mama encontra-se a margem desse padrão de beleza, e pode ser alvo de preconceitos por parte de seus pares, levando-a a evitar participações em de atividades que a exponham a julgamentos coletivos (TARRICONE, 1992). Pois conforme podemos observar nos dias atuais, o corpo vem se tornando um instrumento, uma vitrine a ser exibido, desejado e invejado. A mídia divulga uma infinidade de produtos, fórmulas e receitas para se ter um corpo considerado belo, 28 inúmeras são as propagandas e promessas tecnológicas e publicitárias da conquista desse suposto corpo ideal tão desejado. Barros (2012), afirma que na era do consumismo, sob a ótica do mercado, presenciamos o espetáculo da exaltação do corpo. A cultura voltada para a celebração do eu e a realização imediata dos desejos, investe na reciclagem permanente do corpo. Sob o individualismo contemporâneo, o corpo é objeto de culto e é alvo de atenção e de cuidado. Construir um corpo não é apenas um exercício de disciplina, mas provoca também, o prazer e a exposição daquilo que foi construído, colocando este corpo no cenário dos espetáculos, da cultura narcísica e do consumo de massa que os alimenta (BERGER, 2006). O corpo é um produto, uma construção, um resultado de investimentos de poder, de práticas discursivas e de saber sobre ele e para ele elaborados. Na contemporaneidade, as exigências feitas ao corpo para que ele se torne mais jovem, saudável, produtor infatigável de prazer, acabam por torná-lo o centro das atenções e do desejo humano, um ente a ser cuidado, adulado, protegido, ganhado (SANT’ ANNA, 2005 apud BRUGGE; VASCONCELOS, 2012). O físico e a estética, no Brasil, nunca foram tão cultuados e admirados. Hoje a realização do indivíduo e a sua própria existência são transferidas para a idealização física, numa forma de mudança e reconstrução do indivíduo contemporâneo. Isso pode ser traduzido pela preocupação que os indivíduos têm de satisfazer-se em relação ao olhar do outro (CORRÊA, 2011). Nesse caso de acordo com pesquisa realizada por Duarte e Andrade (2002) a vestimenta desempenha relevante papel no momento pós-cirúrgico, pois é por meio de alguma roupa que a mulher oculta a cicatriz e a falta do seio. A perda desse órgão representa ainda um luto, o qual “é vivenciado pelo corpo perdido, pela feminilidade roubada, pelos sentimentos de ser menos valorizada, por ser menos mulher que as demais que possuem seios”. (MALUF; MORI; BARROS, 2005, p.152). A paciente submetida a este método apresenta um padrão definido de comunicação em níveis diferentes, segundo suas necessidades, defesas e fantasias. No estágio inicial da doença a paciente precisa e consegue falar sobre o câncer com facilidade e franqueza, pois acredita que ao dividir os sentimentos acaba obtendo parcerias no tratamento. Já em um estágio mais avançado, o medo prevalece e as 29 informações e os sentimentos passam a ser guardados pelo receio do abandono, tornando o comportamento da mulher mais passivo e menos esperançoso em relação à enfermidade. No estágio final, o que predomina é o silêncio e a necessidade de apoio da família e amigos se faz importante. Assim, o isolamento que advém da doença é gradativo, uma vez que a mulher se vê em uma situação que traz muitas incertezas e especialmente, traz medo e vergonha (WANDERLEY, 1994 apud SILVA, 2008). A depressão após a cirurgia também é uma resposta emocional comum. Estudos realizados por Lasry (apud ARÁN et. al., 1996), demonstraram que as pacientes apresentam um nível elevado de depressão maior que em uma população normal. Cerca de 35% das pacientes demonstraram a presença da depressão. A alteração física decorrente da cirurgia seria uma das causas mais frequentes, além do medo de não ser mais atraente sexualmente e a sensação de diminuição da feminilidade. Algumas variáveis também parecem ter relação significativa com a depressão, são elas: situação conjugal, faixa etária, antecedentes pessoais, histórico familiar, atividade profissional, complicações pós-mastectomia, quimioterapia, contribuição com a renda familiar, atividade sexual, conhecimento do diagnóstico da doença, percepção de perda e prática religiosa. Portanto, entende-se que a mulher que é submetida a mastectomia passa por crises e diversas mudanças externas e internas, durante todo o processo de adoecimento e adaptação a uma nova etapa de vida. Nesse aspecto, a mastectomia pode provocar consequências importantes em sua vida, evidencia-se, assim, a importância do psicólogo durante todo esse processo, de maneira que possa acolher e dar um suporte para esta mulher, objetivando uma vivência menos sofrida possível, além de incentivar a promoção de mudanças internas necessárias ao processo de re-significação do corpo, bem como de adaptação a essa nova etapa de vida e conseqüentemente minimização dos sofrimentos. A mulher pode ainda apresentar outras dificuldades durante o processo pósoperatório, as alterações físicas advindas do câncer e do tratamento cirúrgico, como a mastectomia, se interligam as emocionais, onde a mulher sofre um forte impacto, ocorrendo modificações na vida pessoal que se estendem as pessoas de convívio familiar e social. A mastectomia causa um impacto que afeta não só a mulher, mas estende-se 30 ao contexto familiar e social. A situação da doença e da mastectomia afeta os relacionamentos interpessoais na família visto que todo o processo e as modificações a níveis psicológicas, físicas e sociais na vida da mulher podem se estender aos membros da família (MELO; SILVA; FERNANDES, 2005). Esse momento afeta a vida familiar como um todo e é capaz de produzir alterações na estrutura e funcionamento da família, ocasionando em ajustes e mecanismos de enfrentamento dessa nova situação (CUNHA, 2004). Todo esse processo pode desencadear um desequilíbrio nas relações entre familiares, e pode ocorrer uma desestruturação da família. O que vai depender de aspectos anteriores a doença, como proximidade, cumplicidade, expectativas dos familiares às respostas da paciente frente ao tratamento e da forma como ela expressa a sua dor. Nesse ponto, o significado que a enfermidade adquire para a mulher implicará também em seus relacionamentos sociais, e na forma dela dar ou receber afeto. Contudo, é possível que os laços entre os membros se fortaleçam, tornando-se um fator movimentador na dinâmica da família, unindo os familiares e mobilizando toda a família em torno do problema (PEREIRA, 2008). Assim verifica-se que as mudanças na rotina das pessoas envolvidas podem promover um estado de equilíbrio ou desequilíbrio, o que vai depender da compressão da família a acerca da situação, além dos meios de apoio e auxílio usados pelos familiares. Dessa forma, o diagnóstico e os tratamentos, embora causem um impacto inicial, pode representar ou não conflito no contexto familiar (MELO; FERNANDES; SILVA, 2005). Então as vivências em relação à família podem ser são tanto positivas, como aumento da atenção e de cuidados sentidos por partes de outras pessoas, quanto negativas, depressão, isolamento e vergonha (VIEIRA et. al., 2007). Observa-se então, que a família tem um papel fundamental para esse processo de saúde e doença. O apoio e cuidado familiar oferecido a paciente são recurso para que esta consiga desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis (DOUSSET, 1999). O carinho da família permite a mulher a adquirir uma certa estabilidade para conseguir lutar contra a enfermidade, auxiliando-a a suprir suas carências emocionais e a alcançar uma melhor aceitação do diagnóstico (BERVIAN; GIRARDON-PERLINI, 2006). 31 As mudanças também podem ocorrer em nível de relação conjugal. Lim (apud DUARTE; ANDRADE, 2002), observou que em alguns casos podem ocorrer problemas no relacionamento com o parceiro, como diminuição na frequência de relações sexuais. Há ainda mudanças no comportamento sexual da mulher, onde a mesma evita se despir na frente do companheiro ou mesmo serem tocadas por eles. O uso de camisa durante as relações sexuais passa a ser comum e o receio de rejeição se torna freqüente. Sabe-se que o momento pós-operatório é caracterizado com intensas mudanças na vida da mulher. Nesse período há a retomada progressiva das atividades de rotina, no entanto, devido à doença e a mastectomia, esses hábitos provavelmente tenham sofrido momentaneamente alterações, dentre elas as repercussões no plano afetivo-sexual. Conforme com o estudo de revisão de literatura, o câncer de mama e a mastectomia interferem na sexualidade da mulher gerando por vezes sentimentos negativos e dificuldade de adaptação com a nova situação. Os seios entre outros meios e linguagens corporais usados na conquista de relacionamentos são considerados socialmente um símbolo ligado à sexualidade, ao erotismo e a capacidade de atrair o parceiro. Deste modo, algumas mulheres podem sentir-se incomodadas pela ausência da mama, e podem passam por algumas mudanças relacionadas à intimidade com o companheiro, sentindo-se até constrangidas em ficarem nuas na frente deles (GASPERELO et. al, 2010). Por ser um órgão externo, a mama constitui uma identidade específica da mulher, e sua perda pode ser compreendida como uma desfiguração e induzir a mulher a não gostar de si e percebe-se desinteressante, esse fato pode fazer ela acreditar que a sociedade também a visualiza da mesma maneira, a impelindo a fechar –se no seu mundo, com medo de encarar a si e aos outros (RZEZNIK, 2000). Arán (1996) afirma que a mulher mastectomizada pode se sentir sexualmente repulsiva, podendo até evitar manter contatos sexuais. Dentre os sentimentos que podem surgir destacam-se o medo de não ser mais atraente sexualmente e a sensação de diminuição da feminilidade, o que pode acarretar prejuízo na autoestima. 32 O receio em expor o local da cirurgia faz com que algumas mulheres busquem alternativas para se portar diante do companheiro, como por exemplo, não permanecer nua na presença dele, passar a dormir de sutiã ou uma camisa, de modo que a cicatriz permaneça coberta. Mudanças como essas e outras que a mulher pode apresentar na vida sexual podem em muitos casos provocar um impacto negativo na relação amorosa e consequentemente problemas sexuais (GASPARELO et. al, 2010). O medo de rejeição, a vergonha, somados ao incômodo de expor o local da cirurgia ao companheiro nos momentos de maior intimidade, muitas vezes podem fazer com que a mulher esconda as cicatrizes pelo uso de vestimentas (BITTENCOURT; CADETE, 2002). Então a vida a dois passa por momentos de mudanças na atividade sexual, em especial na mulher, pois já não se sente mais desejada como antes. Essas angústias aliadas a outras, deixam-na preocupadas na possibilidade de perder o companheiro, gerando na mulher o sentimento de inferioridade e baixa auto-estima (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2004). A diminuição da auto-estima é um dos principais problemas encontrados depois de realizada a mastectomia, pois essa sensação de descontrole que provoca impotência diante da mutilação física e do medo de não ser aceita fisicamente pode levar a mulher a perder a capacidade em retomar a sua vida normalmente (MOURA et. al, 2010) A baixa auto-estima pode ainda dificultar o tratamento da enfermidade, pois o câncer de mama carrega um estigma com forte repercussão psicológica, que traz consigo um misto de sentimentos e sobrecarga emocional. Mediante a vulnerabilidade a que estão expostos os envolvidos nessa situação de estresse favorece a desestruturação do seu aspecto biopsicossocial (MARCON; SALCI, 2009). A reciprocidade da relação sexual depende muito da mulher, se ela se torna mais receptiva, o parceiro tende a se aproximar e o relacionamento se torna melhor (DUARTE; ANDRADE, 2002). Essa atitude depende muito de como era o relacionamento antes do diagnóstico da doença. Mulheres com bom relacionamento sexual com o companheiro, a tendência é que se permaneça da mesma forma, já as 33 que não tinham uma boa relação tendem a piorar (SAMPAIO, 2006). Em consequência da doença, muitos relacionamentos conjugais se desfazem pela falta de um diálogo aberto entre o casal. Aqueles relacionamentos que já eram frágeis antes da enfermidade dificilmente sobrevivem depois uma situação traumática. Contudo, existem aqueles que estavam frágeis e se fortaleceram após o diagnóstico da doença (SILVA; MARINHO, 2013). Sendo assim, a mastectomia passa a ser um desafio na relação homemmulher. E nesse momento em que a mulher pode se sentir inferior na sua feminilidade, sexualidade e atratividade, a presença do companheiro se torna indispensável para sua reabilitação (ARÁN et. al., 1996). A relação conjugal também é primordial para reestruturação da auto-estima da mulher (SILVA; MARINHO, 2013). Nesse sentido, o câncer de mama e a mastectomia não afetam apenas as relações familiares, mas as relações sociais, visto que a doença ainda possui uma representação de doença fatal, causando grande preconceito. Aliado a esse aspecto a paciente envergonhada se afasta do convívio social, sendo essa vergonha caracterizada por uma série de fantasias e medos despertados pelo contato com o mundo externo (MELO; SILVA; FERNANDES, 2005). A vergonha não é da doença em si, mas do sentimento de não se considerar mais uma mulher completa, como se todas as pessoas estivessem vendo que ali naquele corpo falta algo. Devido a esses fatores ocorre mudança no comportamento da mulher, onde mesmo aquelas mais sociáveis se tornam mais reservadas (SILVA; MARINHO, 2013). Isso ocorre porque os relacionamentos interpessoais são em geral, influenciados pela imagem que as pessoas fazem de si mesmas e pela preocupação com a visão da sociedade. Esse sentimento de estranheza em relação ao próprio corpo faz com que a mulher se isole socialmente, por vergonha, medo, rejeição e a própria dificuldade em se aceitar (GASPERELO et. al, 2010). Pesquisas realizadas por Duarte e Andrade (2002) revelam que o mundo externo e as pessoas do convívio social da paciente, nem sempre reagem ou causam algum tipo de impressão que a leve a se afastar. A maioria das vezes surge fantasias em torno do comportamento das outras pessoas, levando a crença de que sua percepção é verdadeira. 34 Sendo assim, a partir da análise dos estudos acima citados, verifica-se que a mastectomia pode gerar alterações na vida pessoal da mulher, refletindo sobremaneira nas relações familiares e sociais. Diversos são os sentimentos que a mulher pode apresentar nesse processo pós-operatório, sentimentos negativos que interferem na rotina da mulher e no seu comportamento com próximo, fazendo com que essa mulher sofra. É importante então um suporte familiar, como um aliado na luta contra a doença e na recuperação, é necessário um ponto de apoio, segurança, conforto e ajuda da família. Pois sentir a família mais próxima, transmitindo confiança, afeto, e valorizando aos aspectos positivos é imprescindível para que a mulher se sinta forte, protegida e mais confiante para enfrentar a doença e as dificuldades por ela imposta. 35 2.4. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E VIVÊNCIA DA SUPERAÇÃO. Depois da descoberta do câncer, a mulher vivencia os tratamentos, dentre eles a mastectomia, um procedimento que provoca alterações na vida da mulher e das pessoas que estão a sua volta. Embora o medo seja sempre presente durante a longa trajetória da doença, durante a sua jornada a mulher procura vencer as limitações, aceitando a mastectomia e o câncer de mama em suas várias fases, alcançando deste modo a superação na busca da reabilitação (ALMEIDA et. al., 2015). Percebe-se que a mulher busca algo em que se sustentar, ela procura uma confiança interior que vai ajudá-la a superar essa etapa da vida. Algumas mulheres descobrem-se fortes, utilizando estratégias como a fé e a esperança. Apesar do impacto elas buscam novos propósitos de vida, apoiadas em novas expectativas. Moura et. al. (2010), afirmam que o amparo espiritual em geral é responsável por gerar sentimentos positivos para a mulher, fazendo com que ela possa lidar com a situação de maneira que amenize seu sofrimento. Sentimentos de força e coragem para superar as dificuldades que o câncer impõe, além de confiança, apoio e consolo, são comuns e refletem como um auxílio para a mulher lidar com essa nova situação. A religiosidade é considerada como uma fonte de apoio para o enfrentamento da vivência do câncer, uma vez que, no encontro com a fé é possível uma aproximação com a subjetividade, o que pode ajudar a mulher a compreender-se e a enfrentar positivamente a enfermidade (TAROUCO et. al., 2009). Acredita-se que a fé ou a crença religiosa proporciona à mulher com câncer de mama conforto e alívio, devido à confiança em Deus, pois para ela a fé ajuda a reestruturar a sua vida, a aceitar a sua nova condição, enfrentar as dificuldades e ainda a manterem uma visão positiva das coisas (MOURA et. al., 2010). O apego à fé e a religiosidade traz para as mulheres a esperança como um recurso de sustentação, possibilitando a elas esquivar-se, momentaneamente, da angústia de possibilidade prematura da sua finitude (ALMEIDA et. al., 2015). Nesse sentido, é fundamental o entendimento dessa teia de significados religiosos por todos os envolvidos neste processo de adoecimento, pois essa percepção pode indicar uma promoção em saúde que contribua na desconstrução 36 de acontecimentos geradores de sentimentos negativos na mulher, proporcionando a ela mais coragem para lidar com o câncer como algo suscetível de controle, possibilitando assim uma maior estabilidade emocional (MOURA et. al., 2010). Conforme Cavalcanti e Coelho (2007), a crença ajuda no combate de ocasiões de angústia, depressão e medo, que, por sua vez, oferece apoio e proteção. A descoberta do câncer favorece sofrimento psíquico, entretanto, em paralelo a isso, podem surgir à esperança e a fé, como meios de auxiliarem no enfrentamento da doença. Sendo assim, devemos estar cientes dos impactos das crenças religiosas sobre o câncer, pois muitas vezes a espiritualidade faz parte da saúde de uma pessoa. O apoio da família também é um relevante recurso como estratégia de enfrentamento, uma vez que a família tem o papel de apoiar e oferecer cuidado e suporte para a mulher (DOUSSET, 1999). Os familiares oferecem cuidados diretos ou mesmo apoio indireto. A família proporciona suporte emocional, e também fornece ajuda em sua prática cotidiana, auxiliando em tarefas diárias. O apoio familiar tem contribuição significante diante do enfrentamento das situações vivenciadas e oferece assistência a mulher a exercer recursos para habituar-se de maneira positiva a aceitação de sua nova condição (ALMEIDA et. al., 2015). Nesse sentido, a família se apresenta de grande importância para a mulher em todos os aspectos emocional, social e psicológico. É a família que proporciona os aportes afetivos, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha a função determinante na educação formal e informal, é em seu ambiente onde se aprofundam os laços de solidariedade (SALCI; MARCON, 2008). Os familiares ocupam um importante papel tanto na saúde física quanto na emocional, pois os membros da família são interconectados e interdependentes. Desta maneira, na ocorrência de mudanças na saúde de um dos integrantes, todos os demais são afetados e a família sofre transformações. A família afeta a saúde dos membros e a saúde dos membros afeta a família (ANGELO; BOUSSO, 2001). Outra situação que também pode contribuir para o restabelecimento psicológico da mulher, bem como trazer uma melhoria na adaptação da autoimagem corporal é a reconstrução mamária. A reconstrução mamária trata-se de um procedimento cirúrgico, que permite ao cirurgião plástico através das mais variadas 37 técnicas, criar uma mama similar em forma, textura e características de mama extraída, que pode ser realizado no mesmo ato cirúrgico da mastectomia ou tardiamente (AZEVEDO; LOPES, 2010). Reconstruir o seio pode simbolizar a preservação da auto-imagem da mulher, uma melhor qualidade de vida, podendo amenizar os sentimentos pela alteração física provocada pela mastectomia, e até um processo de reabilitação menos traumático (MESSA; PRADO, 2002). Esse processo de reconstrução mamária talvez se torne um aspecto relevante na vida da mulher, uma vez que vivemos em uma sociedade de consumo, onde o corpo é por um lado objeto de idealização, mas por outra perspectiva alvo de estigmatização, caso esse corpo não corresponda aos padrões de beleza sociais. No caso da mulher que teve seu seio extirpado em função do câncer de mama esta pode sentir-se a margem desse padrão de beleza, desta maneira, a perda da mama, pode comprometer a saúde psicoemocional da mulher, pois ela vive numa sociedade que valoriza o corpo “bonito” como atributo essencial na atração sexual. Nesse sentido, é importante salientar que, os conflitos gerados pela mastectomia e sua repercussão psicossocial podem ser amenizados através da cirurgia de reconstrução da mama. Azevedo e Lopes (2005), explicam que a reconstrução da mama é vivenciada como uma satisfação simbólica, onde a prótese representa uma possibilidade de se sentir completa de novo, uma forma de resgatar a feminilidade e de ter uma vida sexual ativa. Embora a satisfação reacenda a esperança de vida na mulher, esse sentimento não é compartilhado entres todas as que passam pela cirurgia. Existem mulheres que mesmo após o implante não se sentem satisfeitas, tanto por questões estéticas, como também pela sensação da prótese como um corpo estranho. Resultando um conflito interno e aumentando as repercussões psicológicas e gerando uma distância de relações íntimas e sociais. Segundo Melo (2002), a maioria das mulheres que buscaram a reconstrução sentiu-se feliz com os resultados estéticos, superando suas expectativas. Sendo que o índice de morbidade psicológica é significativamente inferior em mulheres submetidas à reconstrução imediata em relação a aquelas que foram submetidas à mastectomia somente, ou ainda em relação as que tiveram a reconstrução tardia. As pacientes que passaram pelo processo de reconstrução imediata demonstraram-se 38 menos deprimidas e sofreram menor impacto quanto a sua feminilidade, auto-estima e atratividade sexual (ROWLAND; MASSIE apud MELO, 2002). Tal dado reflete a dimensão psicológica que a retirada do seio alcança na mulher. A reconstrução mamária por sua vez devolve de certa forma a algumas mulheres o sentido da vida e o desejo de assumir sua feminilidade e os aspectos envolvidos com esta (ALMEIDA, 2006). As mulheres que se submeteram a cirurgia reparadora tendem a expressar atitudes positivas e maior satisfação com a aparência, além de menor temor da recidiva com a remoção da cicatriz (VIANNA, 2004). Dessa forma, atualmente a reconstrução mamária é um recurso indispensável para mulheres que necessitam realizar a mastectomia, visto que ajuda nos aspectos acima relacionados. Assim é de fundamental importância a compreensão da realidade e do contexto em que a mulher está inserida, levando-se em consideração os significados e valores da doença atribuídos por ela, seus receios e expectativas. Essa é uma tarefa que deve ser realizada por toda equipe multidisciplinar, bem como pelos familiares, uma rede de apoio para tornar esse processo menos pesado para a paciente e para as partes envolvidas. A atuação do psicólogo dentro desse processo também surge como um importante suporte para paciente oncológica e sua família. Zavarize et. al. (2014) afirmam que o psicólogo pode fazer uma grande diferença uma vez que trabalhará a subjetividade da dor tanto com o paciente quanto com a família. Conforme Bergerot (2013), diante o cenário em que o câncer se apresenta torna-se evidente a atuação de um profissional da saúde mental, que contribuirá no enfrentamento da doença. Para Teixeira e Pires (2013) o psicólogo deve defender várias propostas, que visem atender as necessidades da paciente sendo que estas são fundamentais. Este profissional pode auxiliar na manutenção do bem estar psicológico, identificando e compreendendo os fatores emocionais que intervém na sua saúde. Assim, a atuação do psicólogo tem como funções a prevenção, a minimização dos sofrimentos decorrentes do câncer e seus tratamentos, além de conduzir o paciente à compreensão dos aspectos simbólicos da doença e a experiência do adoecer, possibilitando ressignificações desse processo. Desta forma, a paciente terá o suporte psicológico para enfrentamento e elaboração da doença. 39 Nesse sentido, o atendimento psicológico visa auxiliar a paciente a fim de conscientizá-la da sua condição atual e fornecer subsídios para uma compreensão melhor da doença. Assim, para que o psicólogo possa ajudá-la a dar novos significados à sua doença e melhore sua qualidade de vida, enquanto profissional deve considerá-la como um sujeito em situação peculiar e compreendê-la enquanto um ser que adoece, considerando seu sofrimento físico e psíquico, para que essa mulher possa lidar com suas limitações, angústias e conflitos, visando sua reabilitação de acordo com sua nova condição de vida. O apoio emocional e social é relevante para a paciente atribuir significados a seu estado, reinterpretar sua patologia e diminuir emoções negativas acerca de tal situação. 40 3. METODOLOGIA 3.1. Caracterização da Pesquisa Para realizar este estudo o método foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, o qual segundo Ruiz (1992), consiste no exame da bibliografia, para levantamento e análise do que já foi produzido sobre o assunto que assumimos como tema de pesquisa científica. A pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema/hipótese por meio de referenciais teóricos publicados, através do qual se analisa e discute as diversas contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa oferecerá subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque foi discorrido o assunto apresentado na literatura científica (ARAÚJO, 2003). Conforme Gil (1994), pesquisa bibliográfica possibilita um amplo alcance de informações, além de permitir o uso de dados dispersos em inúmeras publicações, auxiliando também na construção, ou na melhor definição, do quadro conceitual que envolve o objeto de estudo proposto. Marconi (2010), afirma que a pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública ao que faz referência ao assunto do estudo, desde publicações avulsas, jornais, boletins, pesquisas, livros, monografias, teses, material cartográfico dentre outros. Os meios de comunicação oral também compõem o acervo de materiais para pesquisa, desde gravações em fitas magnéticas e audiovisuais, rádio, filmes e televisão. Então, sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritas. A bibliografia apropriada proporciona subsídios para definir e resolver, não apenas a problemáticas já conhecidas, como também investigar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram o suficiente. Seu objetivo é permitir ao pesquisador o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações (MANZO apud MARCONI, 2010). Desta maneira, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre determinado tema, mas favorece o exame sobre um assunto sob 41 novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras (MARCONI, 2010). A pesquisa bibliográfica enquanto estudo teórico elaborado a partir da reflexão pessoal e da análise de documentos escritos, originais primários denominados fontes, segue uma sequência ordenada de procedimentos (SALVADOR, 1986). Entretanto, não significa que os procedimentos a serem adotados são delimitados de uma vez por todas, pois mesmo que o pesquisador tenha determinado o objeto de estudo e o vínculo com uma linha de investigação, ele sempre poderá retomar ao objeto de estudo à medida que os dados forem coletados, de maneira a defini-los mais cristalinamente ou reformulá-los. Como consequência esse movimento poderá gerar novas mudanças, ou novas escolhas quanto ao procedimentos metodológicos (LIMA; MIOTO, 2007). Essa flexibilidade, todavia, não quer dizer falta de compromisso com a organização racional e eficiente diante o estudo, pois a pesquisa bibliográfica requer do pesquisador constante atenção aos objetivos propostos e aos pressupostos que envolvem o estudo para que a diligência epistemológica ocorra (SALVADOR, 1986). Nesse sentido, para alcançar o objetivo proposto, existe uma sequência de procedimentos a ser seguidas e compreende os seguintes passos metodológicos preconizados por Salvador (1986): a) elaboração do projeto de pesquisa: consiste na escolha do tema, na formulação da problemática, e na elaboração e planejamento que objetiva investigar e alcançar as respostas às questões formuladas; b) investigação das soluções: essa fase é destinada a coleta de material bibliográfico e documentação, essa etapa envolve o levantamento da pesquisa bibliográfica e levantamento das informações contidas na bibliografia. É nessa fase que os dados serão estudados. Cabe ressaltar que os resultados da pesquisa dependem da quantidade e qualidade do material coletado; c) análise explicativa das soluções: nessa fase as informações serão analisadas, e é constituída pela capacidade crítica do pesquisador para explicar ou justificar os dados coletados; d) síntese integradora: consiste no produto final do processo de investigação, resultante da análise e reflexão das informações apresentadas nos documentos. Essa fase compreende as atividades relacionadas à apreensão do problema, investigação rigorosa, visualização de soluções e síntese. Cuja finalidade consiste na reflexão e na proposição de soluções. 42 3.2. Procedimento Metodológico O procedimento metodológico foi realizado em duas fases, primeiro foi realizada a coleta de fontes bibliográficas, na qual foi feita o levantamento da bibliografia existente. A coleta de dados foi realizada a partir de critérios que delimitavam o campo de estudo, orientando assim a seleção do material a ser pesquisado. Partindo dessa premissa, foi verificado se obras relacionavam-se ao objeto de estudo, de acordo com os temas que lhe são correlatos. Para essa fase de levantamento da bibliografia realizada de outubro de 2015 a março de 2016, através de artigos científicos indexados e publicados em base de dados na plataforma da SCIELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Google acadêmico em artigos científicos, livros e monografias e dissertações. Utilizou-se como Descritores: câncer de mama, mulher, mastectomia, repercussões psicossociais, publicados de 2002 a 2015, disponibilizados na íntegra, em língua portuguesa, e que abordassem a temática proposta. Já os critérios de exclusão consistiam em referências que não obedeciam ao delineamento temporal de publicação, que estivessem incompletos, em outro idioma e não fossem coerentes com o tema pesquisado. Os descritores utilizados como critérios para a pesquisa incluíram combinações entre câncer de mama, mulher, mastectomia e repercussões biopsicossociais. Após a pesquisa nas bases de dados mencionadas anteriormente, foram selecionados 39 artigos, além de 6 monografias, 5 dissertações, 19 livros específicos sobre o tema abordado, além de 1 site de renome no cenário brasileiro no que se refere à prevenção e tratamento do câncer, o Instituto Nacional do Câncer – INCA. Depois de delimitada as fontes para pesquisa definiu-se a técnica a ser utilizada para a investigação das soluções do objeto do estudo. Para Lima e Mioto (2007), no caso da pesquisa bibliográfica, a leitura apresenta-se como a principal técnica, pois é por meio dela que se pode identificar as informações e os dados contidos no material selecionado, bem como verificar as relações existentes entre eles de modo a analisar a sua consistência. Salvador (1986) orienta que sejam realizadas leituras sucessivas do material em cada momento da pesquisa. 43 Sendo assim, a partir do proposto por Salvador (1986), foi realizada a leitura exploratória, verificando se existiam ou não informações a respeito do tema proposto e de acordo com os objetivos do estudo. Logo após realizada a leitura seletiva, a partir do qual foi determinado o material que seria utilizado na pesquisa, selecionando as informações pertinentes de acordo, novamente com os objetivos do estudo. Nessa fase foram selecionados bibliografias que abordavam o tema da pesquisa. Do material selecionado, foi realizada uma leitura crítica, com a necessária imparcialidade e objetividade, buscando respostas aos objetivos do estudo e, em seguida, uma leitura interpretativa, na qual foram relacionadas as informações e ideias dos autores com os problemas para os quais se buscava soluções. Depois a realização das leituras, foi elaborado, um texto de análise das informações apresentadas a partir dos objetivos propostos. 44 4. DISCUSSÃO O presente estudo através da literatura buscou compreender a subjetividade da mulher com câncer de mama, e foi submetida à mastectomia, buscou compreender como essa mulher ressignificou seu corpo após cirurgia, como ela vivenciou o diagnóstico do câncer, quais as mudanças que ocorreram e como ela passou a lidar com essa nova realidade. A partir da apreciação feita da literatura, foi possível verificar que há dois momentos considerados relevantes e marcantes para a mulher portadora de câncer, o primeiro refere-se à descoberta da doença, o recebimento do diagnóstico, a busca pelo tratamento adequado, e a luta pela manutenção da vida. Desde o momento da descoberta do câncer a mulher passa a conviver com a possibilidade de morte, e ainda tem que lidar com as representações e simbolismos acerca da doença enraizados no imaginário social, onde seu conteúdo simbólico se remete a dor, morte, medo, culpa, sofrimento, vergonha e estigmatização social. A começar do diagnóstico, a mulher ver a sua tomar uma outra direção, observa-se as mudanças que ocorrem em sua vida e das pessoas próximas a ela. É evidente que esse impacto causado e a forma como a paciente vai reagir frente à doença vai depender da sua história de vida, do contexto social, econômico e familiar de cada uma. O diagnóstico em geral é um momento decisivo na vida da mulher, pois a partir de então ela tem a possibilidade de reformular aspectos importantes de sua vida. Essa nova realidade estimula no íntimo da paciente emoções e sentimentos como angústia, raiva, agressividade, medo, negação, revolta e ansiedade; além de ser acompanhado pelo sofrimento de possibilidade de finitude. Todos sabem que desde o nascimento a única certeza que se tem é da morte, no entanto, vivemos em geral, como se esse dia estivesse bem distante. E estar diante um diagnóstico de câncer aproxima a morte. Assim, ela se depara com o medo da morte e o sentimento de incerteza de futuro, e a nova situação se revela como um momento difícil de elaboração e aceitação da nova realidade. Outras preocupações também se tornam comum, estas se referem ao tratamento em busca da cura. O procedimento terapêutico mais usado é a 45 mastectomia, onde surgem preocupações sobre a mutilação do corpo, da dor, do medo da recidiva, e fantasias que não cessam com a retirada do tumor. Essas fantasias e emoções envolvem a imagem corporal, sexualidade e relacionamento familiar e social. Já o segundo momento relaciona-se ao período pós-mastectomia, quando a mulher se depara com a perda do seio, um órgão que representa socialmente a feminilidade, a sensualidade, a maternidade e a fonte de vida. Embora seja um procedimento ainda considerado o melhor para o tratamento do câncer deixa profundas cicatrizes no corpo e na subjetividade da mulher. As consequências da mastectomia podem acarretar prejuízos na imagem corporal da mulher, gerando alteração na auto-imagem, no auto-respeito, podendo também limitar relações sociais. A perda do seio afeta consideravelmente a auto estima diminuindo seu apreço em relação a feminilidade e à capacidade de atração. A mulher passa a sentir dificuldades em se olhar no espelho e aceitar a nova imagem, essa dificuldade pode trazer mudanças de comportamento, a mulher pode começar a esconder o seu corpo, e por meio da vestimenta oculta a cicatriz e a falta do seio. As repercussões da mastectomia acarretam vários tipos de enfrentamento que variam do contexto em que a mulher se encontra, é uma experiência ampla e distinta para cada mulher, e envolve implicações na vida diária, e nas relações familiares e sociais. Assim esse procedimento pode desencadear um equilíbrio ou desequilíbrio nas relações das pessoas de sua convivência, isso vai depender da compreensão e suporte da família. As mudanças podem ser tanto positivas, quanto negativas. As mudanças podem também ocorrer em nível de relacionamento conjugal e na sexualidade. Se o casal mantinha uma boa relação conjugal antes da descoberta da doença, a tendência é que se permaneça da mesma forma, caso contrário, tendem a piorar. Podem surgir sentimentos de inferioridade, pois a mulher pode não se sentir mais desejada, junto a isso vem o medo da rejeição e da possível perda do companheiro, vergonha e incômodo em expor o corpo ao parceiro. Ficou evidente que todas essas repercussões e mudanças provocadas pelo câncer e pela mastectomia, bem como a forma que a mulher lida com o próprio 46 corpo e as relações sociais, vai depender de cada mulher, pelas particularidades de cada uma em relação à doença, ao tratamento e também pela influência do contexto sócio-cultural e familiar. Assim, ao defrontar-se com a nova realidade, cada uma vai demonstrar uma forma diferenciada de ressignificar o seu corpo, de lidar com as mudanças que se tornam tão frequentes, e encontram uma maneira peculiar de enfrentar a doença e as consequências que mastectomia pode acarretar, aprendem a seu modo a lidar com seus sentimentos, expectativas e com suas estratégias de ajustamento. Sendo assim, a partir de tais considerações fica cristalino a importância dos profissionais de saúde, em especial do psicólogo, na tarefa de acolher e ajudar essa mulher a compreender e lidar com seus sentimentos. É necessário que o psicólogo compreenda as implicações que o câncer e a mastectomia para a mulher, pois cada mulher é diferente, cada uma está sob um contexto, imersa em uma rede de sentidos e significados construídos ao longo de um estilo de vida, história familiar, valores e crenças. Portanto, fazer uma intervenção junto a essa mulher exige de cada profissional uma visão holística, incluindo seu contexto social, seus papéis e relação, até mesmo compreender o tratamento clínico e suas intercorrências. Há de se considerar a mulher em sua totalidade. Enquanto profissionais há que se buscar um atendimento sensível e humanizado, visto que muitas vezes desempenhamos o papel profissional de forma mecanizada e sem vínculo, justificado pela grande demanda de pacientes, esquecendo-nos do significado da promoção de saúde em seu sentido mais pleno. Por isso é de fundamental relevância que possamos ser profissionais capazes de estender a mão para a mulher, escutar suas queixas e necessidades, visualizando-a em sua globalidade e integridade biopsicossocial, considerando-a essencialmente como ser humano. Verificou-se que o conhecimento dos aspectos biopsicossociais envolvidos no processo do câncer de mama e da mastectomia. Bem como as repercussões psicossociais, as mudanças que a mastectomia pode provocar, e a forma como a mulher lida com o seu corpo e com essa realidade, são essenciais para os cuidados psicológicos dessa mulher, a fim de se estabelecer vínculos entre paciente e psicólogo visando a ressignificação da dor e do sofrimento gerados pela mastectomia. Constatou-se que tal ressignificação torna-se possível à medida que 47 se respeita a singularidade do sujeito e incorpora-se os sentidos, crenças, valores e outros contextos da mulher no processo terapêutico como referências da pessoa. O presente trabalho me enriqueceu enquanto estudante de Psicologia e me ofereceu subsídios futuros enquanto profissional, me remeteu a uma grande responsabilidade ao ir em busca de conhecimentos para melhor compreender a mulher portadora de câncer que foi submetida à mastectomia. Ter um olhar diferenciado para essa mulher, vê-la como um ser humano em sua totalidade, como um ser que sofre, que precisa ser acolhida e ouvida, que necessita nesse momento tão difícil de sua vida de orientações para melhor compreender e lidar com seus sentimentos e com as mudanças, e que necessita ainda de um suporte e de uma assistência mais sensível e humanizada. 48 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme aponta a literatura a respeito dos aspectos biopsicossociais de mulheres com câncer de mama, várias são as esferas citas como relevantes, ora apontando as dificuldades, ora demonstrando os aspectos positivos e as estratégias de enfrentamento usadas para minimizar as mudanças advindas da enfermidade, da cirurgia e suas consequências. O câncer de mama e a mastectomia podem acarretar diversas repercussões biopsicossociais e desencadear uma série de mudanças na vida da mulher e das pessoas que estão a sua volta. Nesse sentido, é possível perceber o apoio da família e um suporte psicossocial pelos profissionais de saúde para superação da doença. A proposta terapêutica junto à paciente oncológica deve ter como principal objetivo a manutenção da qualidade de vida, no sentido de trabalhar as angústias e demandas apresentadas pelas mulheres. O psicólogo deverá estar consciente das estratégias utilizadas pelas pacientes e ensiná-las a lidar com as emoções apresentadas, além de proporcionar apoio psicológico aos familiares. Portanto, o momento de escuta é muito importante no período de assistência, uma vez que diversas mudanças ocorrem, e a mulher percebe as limitações, fragilidade e sentem-se estranha devido à nova imagem corporal que se apresenta. É necessário uma assistência integral a essas mulheres que aborde todos os aspectos envolvidos nessa temática, sejam eles orgânicos, psicológicos e sociais. Concluímos então, que é de fundamental importância um trabalho integrado entre os profissionais de saúde, na assistência a paciente oncológica, pois se encontram fragilizadas, e necessitam não apenas de cuidados médicos, mas também de um suporte mais amplo que lhe dará condições de superar a doença. Ressaltamos também a importância de um acompanhamento aos familiares que devido ao processo de adoecimento também encontram-se emocionalmente abalados. Sendo assim, o câncer de mama pode ser percebido como um fenômeno amplo e complexo, que não deve ser esgotados as reflexões acerca do mesmo, mas reforçamos a relevância do suporte enquanto profissionais como cuidadores e educadores. 49 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. A. Impacto da mastectomia na vida da mulher. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação), Santa Casa de Misericórdia, RJ, 2006. ALMEIDA, T. S. (Col). Vivência da mulher jovem com câncer mama e mastectomizada. Revista de Enfermagem, v 19, n. 3, jul-set, 2015. ALVES, P. C. (Col). Conhecimento e expectativas de mulheres no pré-operatório da mastectomia. Revista Escolar de Enfermagem, v. 44, n. 4, p. 989-995, 2010. ANGELO, M.; BOUSSO, R. S. Fundamentos da assistência à família em saúde. In: Brasil, Ministério da Saúde. Manual de enfermagem. Brasília- DF, p.14-27, 2001. ARÁN, M. 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