SELEÇÃO DE PESSOAL: INFLUÊNCIAS DOS COMPORTAMENTOS EMOCIONAIS E SELEÇÃO DE REPERTORIO COMPORTAMENTAL Reginaldo Pedroso – [email protected] Professor Faculdades Associadas de Ariquemes – FAAr Mestre em Psicologia Gisele Amaral Cintra - [email protected] Professora Faculdades Associadas de Ariquemes – FAAr Especialista MBA em Psicologia Organizacional Resumo A todo o momento estamos selecionando algo. No contexto organizacional não é diferente. O ambiente está continuamente selecionando determinados comportamentos, sejam eles produtos das contingências filogenéticas, ontogenéticas ou culturais. Uma organização só existe pelo fato de ter um conjunto de pessoas se comportando para produzir um resultado. Assim, o processo de seleção de pessoas vem sendo realizado de várias formas, sempre levando em conta a formação de cada profissional. Na maioria das vezes, a utilização de testes psicológicos é o recurso mais utilizado. Durante o processo de seleção, várias variáveis estão controlando o comportamento tanto do candidato quanto do profissional, uma dessas variáveis é o comportamento emocional tanto do candidato quanto do profissional que é decorrente do condicionamento clássico. O objetivo deste estudo é questionar a prática de seleção de pessoas e chamar a atenção dos analistas do comportamento para variáveis que estão controlando tanto o candidato quanto o profissional de seleção. Propondo não uma receita para a realização do processo de seleção de pessoal, mas sim, questionando o que vem sendo feito e à luz dos princípios da análise do comportamento e propor melhores condições para o entendimento do comportamento humano no processo de seleção de pessoas. Palavras-chave: Seleção de Pessoal, Conseqüência, Seleção por Competência. Comportamentos Emocionais, Seleção por Introdução O mundo globalizado está fazendo com que cada vez mais organizações venham a selecionar indivíduos melhores qualificados para exercerem determinadas funções. Neste contexto, o material mais precioso de uma organização são as pessoas, nas quais, conjuntamente, trabalham (melhor dizendo, se comportam) para alcançar um objetivo comum e final, ou seja, lucros (CHIAVENATO, 2005; ROBBINS, 1999). A procura sistemática por pessoas qualificadas vem crescendo no contexto de seleção de pessoal, tanto quanto, a procura de pessoas por empresas que fornecem melhores condições Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.1, Jan./Jul. 2010 12 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra de trabalho. Assim, tanto psicólogos quanto administradores são responsáveis por selecionar pessoas para compor seu quadro efetivo. Todos os profissionais de seleção de pessoal são influenciados por teorias e propostas práticas decorridas durante sua formação. Portanto, o analista do comportamento tem divergências ao tratar com o processo de seleção, visto sua formação tratar o indivíduo sem levar em consideração processos internos como causadores de comportamentos. Este fato fica claro, quando, em sua maioria, profissionais de seleção buscam o “perfil” adequado para desempenhar funções de determinados cargos (CHIAVENATO, 2005). Seleção de Pessoal A seleção nos permite selecionar apenas algumas pessoas a ingressarem na organização as quais possuem características desejadas pela mesma. Em termos mais amplos a seleção busca em vários candidatos recrutados aqueles que serão mais adequados aos cargos existentes na organização, com o intuito de agregar valor à organização. Visando que a organização em busca de competências e aumentar sua eficiência e eficácia, buscam na seleção a forma de maximizar o capital intelectual. Segundo Chiavenato (2005) existem duas alternativas para fundamentar o processo seletivo: o cargo a ser preenchido ou as competências a serem preenchidas. Sendo assim o processo seletivo baseia-se em dados e informações sobre o cargo a ser preenchido em função das competências desejadas pela organização. Seleção como um processo de comparação Para Chiavenato (2005), pode-se comparar o processo de seleção através de duas variáveis, a primeira sendo os requisitos do cargo a serem preenchidos chamaremos de variável x, a segunda variável o “perfil” das características dos candidatos que se apresentam para disputá-lo, chamaremos de y. Quando x é maior que y dizemos que o candidato não atinge as condições ideais para ocupar um determinado cargo. Quando x e igual a y o candidato possuem as condições ideais. Quando y for maior do que Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 13 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra x, o candidato reúne mais do que as condições exigidas pelo cargo. Com isso, avalia se o candidato está apto para o cargo disponível. Com a comparação entre as características exigidas pelo cargo e as características oferecidas pelos candidatos, pode acontecer que vários destes apresentem condições aproximadamente equivalentes para serem indicados para ocupar a vaga. Assim sendo, o órgão de seleção não pode impor ao requisitante a aceitação dos candidatos aprovados no processo de comparação. Ficando assim apenas em prestar o serviço especializado, aplicar as técnicas de seleção e indicar aqueles candidatos que mais adequa ao cargo. Técnicas de Seleção Tendo as informações sobre o cargo a preencher ou das competências esperada pela organização é preciso a obtenção de informações a respeito dos candidatos que se apresentam. Sendo assim, é preciso escolher quais das técnicas de seleção para em seguida poder conhecer, comparar e escolher os candidatos adequados. As técnicas de seleção são agrupadas em cinco categorias segundo Chiavenato (2005), que são: entrevistas, provas de conhecimento ou de capacidade, testes psicológicos (testes psicométricos), testes de personalidade (testes projetivos) e técnicas de simulação (técnicas de dinâmica de grupos). As técnicas de seleção vão permitir conhecer as características pessoais do candidato através de amostras obtidas pelas técnicas de seleção, percebendo se possuem atributos para cargos futuros. Este modelo de seleção citado acima é a mais conhecida pelos profissionais de seleção, sejam eles psicólogos ou administradores. Pois, na maioria das ementas de Recursos Humanos, o autor Chiavenato, é o mais utilizado como referencia base. Sem dúvida nenhuma, seu livro “Seleção de Pessoal” é bastante didático e seus exemplos são todos de empresas brasileiras ou com sede no Brasil. Mas, as variáveis que levam o indivíduo a ser comportar diante de ambientes diferentes são deixadas de lado na sua descrição de seleção de pessoas. Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 14 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra A atuação do profissional de seleção a cada dia está se tornando mais cobrado pela eficácia e rapidez nos seus resultados. Devido à necessidade da urgência em contratar pessoas, os profissionais de seleção estão deixando de se preocupar com o processo de seleção em si e indo a busca de meios mais rápidos para encontrar candidatos no mercado de trabalho com habilidades necessárias para desempenhar as determinadas funções exigidas pelos cargos. Tendo hoje a preocupação com a concorrência interna e externa e uma economia mais estável, a melhor maneira de se manter vivo neste mercado de concorrência é oferecer para os consumidores algo melhor que da concorrência, sem a possibilidade em trabalhar com preços menores de seus produtos devido a baixa inflação no pais, o que resta então é ter um melhor capital humano para daí sobressair em tal mercado. Não há muito tempo que as organizações – seus proprietários – vêm dando maior valor aos seus colaboradores, esta visão surgiu através da percepção que, não são as maquinas que irá dar sustentabilidade a uma organização, visão esta que teve forte impacto nas organizações com a revolução industrial. Hoje o que se sabe e o que se vê, são as organizações valorizando seu capital humano. Sendo assim, a preocupação em encontrar capital humano no mercado de trabalho não pode mais ser vista e feita como era proposto no tempo em que o funcionário era visto apenas como mais um para preencher o quadro de funcionários. Diante deste fato, este artigo visa apresentar algumas variáveis que podem vir a prejudicar o processo de seleção de pessoas, e proporcionar aos profissionais e interessados na área melhores condições de tomada de decisão na escolha do capital humano mais adequado para a organização. Retirando assim influência pessoal, e ficando sob controle do que o candidato pode oferecer para a organização que queira contratá-lo. Influências dos comportamentos emocionais no processo de seleção de pessoal Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 15 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra Processos fisiológicos podem de certa forma ser rotulados como comportamentos emocionais (SKINNER, 2000). Alguns comportamentos reflexos já compõem o repertório de um organismo ao nascer (como o chorar), esses comportamentos são selecionados através do processo de seleção natural, isto é, contingências filogenéticas que selecionam certos tipos de comportamentos que são essenciais para a sobrevivência das espécies. Outros comportamentos reflexos são adquiridos durante a vida de um individuo através do condicionamento clássico (chorar perto da mãe para ganhar doce). No decorrer da vida de um indivíduo, várias associações de estímulos ocorrem sem que este indivíduo possa discriminá-la. Quantas vezes somos defrontadas com situações nas quais respostas emocionais ocorrem e não sabemos descreve-las? Ou quando sentimos um perfume e logo nos lembramos de uma pessoa querida? Este tipo de aprendizagem também tem o outro lado. Quantas vezes sentimos palpitações, taquicardia, sudorese, tremores e lembramos de situações punitivas? Segundo Skinner (2000), comportamento emocional é um padrão de resposta contendo tanto comportamentos respondentes quanto operante. Neste trabalho comportamentos emocionais estarão relacionados aos comportamentos reflexos decorrido tanto das contingências filogenéticas quanto a aprendizagem por associação de estímulos. Podemos então dizer que comportamentos emocionais, sejam eles relacionados a reforçadores ou punidores, são comportamentos reflexos que são eliciados por estímulos que no passado decorreram de um condicionamento ou já faziam parte do repertório de um indivíduo. Segundo Darwich e Tourinho “respostas emocionais são apresentadas como fenômenos complexos que envolvem tanto a eliciação de condições corporais especificas quanto à emissão de operantes” (2005, p. 112). Neste sentido pode-se pensar que a todo o momento mudanças corpóreas em um indivíduo estão emergindo ao interagir com seu ambiente. O comportamento operante não está isolado dos comportamentos emocionais. Skinner ao definir comportamento operante como sendo todo comportamento mantido por suas conseqüências deixou clara a distinção entre Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 16 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra eles (2000). Porém, ao ser exposto a diferentes contingências, ocorrerá uma inter-relação entre esses dois tipos de repertórios comportamentais. Quando um indivíduo é exposto a um cenário, ele irá se comportar como se ele já estivesse se comportado em um cenário semelhante. Se esse cenário for muito diferente da sua história de aprendizagem, ele não saberá quais serão os comportamentos adequados a serem emitidos e então, comportamentos emocionais poderão ser eliciados. O que está eliciando tais comportamentos serão estímulos que foram associados em situações passadas, ou que foram selecionados ao longo de sua espécie que tinham alto valor de sobrevivência, pois indivíduos que apresentavam esses comportamentos conseguiam se livrar de predadores e outros eventos ambientais. (SKINNER, 1980). Tanto comportamento operante quanto comportamentos emocionais podem um desorganizar (ou preparar em um caso de fuga) o outro. Quando temos que subir correndo as escadas para chegar à sala de aula no quinto andar antes que o professor comece a aplicar um teste, talvez nos primeiros minutos nosso comportamento de escrever não seja idêntico como se nós já estivéssemos lá sentados na sala há cinco minutos esperando o professor. Porém, quando vamos fazer um teste, estamos sendo expostos a um cenário aversivo (principalmente se o material do teste não foi estudado com antecedência), e este cenário também eliciará comportamentos emocionais que poderão desorganizar nosso repertório operante. Ou seja, nosso comportamento de escrever também não será o mesmo quando estamos simplesmente escrevendo o material que o professor escreveu no quadro em um dia comum. Quando falamos que comportamentos emocionais podem desorganizar nosso repertório operante, não queremos dizer que isto seja prejudicial à vida de um organismo, pelo contrario, há contextos que os comportamentos que são eliciados têm um valor muito alto de sobrevivência, é o caso de alguém andando em uma rua desconhecida na madrugada de sábado e qualquer mudança no ambiente (seja um ruído ou a presença de outra pessoa) faz com que ele comece a apresentar taquicardia, palpitações, e isto proporcionaria uma fuga imediata caso seja necessário. Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 17 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra Mas o que terá haver comportamentos emocionais no contexto de seleção de pessoal? Os analistas do comportamento estão cada vez mais aplicando seu conhecimento em ambientes aplicados. No Brasil, o trabalho de seleção de pessoal ficou a cargo por muitos anos de psicólogos com outras formações, e agora vem crescendo o número de analista do comportamento desenvolvendo seu trabalho neste contexto. Santos, Franco & Miguel (2003) e Alencar (2006) apresentam considerações e aplicações da Análise do Comportamento no processo de seleção de pessoal. Segundos esses autores, o trabalho a ser desenvolvido pelo analista do comportamento é o mais distinto de qualquer outra proposta, visto principalmente a visão de homem que é defendida pelo Behaviorismo Radical. Alguns pontos que devem ser levado em consideração na seleção de pessoal, não são mencionados nem por esses autores muito menos por outros profissionais. Os comportamentos emocionais é um desses pontos, a correspondência entre o dizer e o fazer (SIMONASSI, 2001; OLIVERIA, OLIVEIRA-CASTRO e VIEIRA, 2002) seria um outro ponto relevante para ser apontado. Talvez, a falta de tal compreensão por parte dos analistas do comportamento é devido ao pouco espaço de tempo que estão sendo aplicados tais princípios nesta área, já por parte de outros profissionais, isso se da por uma formação diferente, principalmente na concepção de relações funcionais do comportamento (SKINNER, 1982). Quando se ouve falar de seleção de pessoal, muitos instrumentos são mencionados como auxiliadores em tal processo. Os testes de personalidade são os mais citados, além de entrevistas e técnicas de dinâmica de grupo (NORONHA, PRIMI, e ALCHIERI, 2005; OLIVEIRA, NORONHA, DANTAS e SANTARÉM, 2005). Vamos dividir em duas partes a discussão de como os comportamentos emocionais podem influenciar o processo de seleção, sendo apresentado do ponto de vista do candidato para depois apresentarmos do ponto de vista do profissional de seleção . O candidato que se apresenta para um processo de seleção de pessoal leva consigo um repertório de comportamentos (respondente e operante) construídos através de sua interação com seu meio ambiente, ou seja, sua Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 18 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra história de aprendizagem. O cenário no qual ele estará sendo exposto pode se tornar em um cenário aversivo. Mesmo sendo este candidato um veterano em processos de seleção. Este candidato estará frente a uma pessoa que ele não a conhece e dependendo da situação, entre outras pessoas que também não tem conhecimento prévio. Seu repertório comportamental está sob controle de vários estímulos aversivos, que na verdade são estímulo que não sinalizam quais comportamentos devem ser emitidos ou até mesmo sinalizando situações que no passado teve conseqüências punitivas (por exemplo, perder uma vaga por não conseguir responder as perguntas durante a seleção) e por isso pode estar sob controle de estímulos que estarão eliciando um repertório de comportamentos emocionais. Quando é pedido para responder uma folha de resposta de um teste, novamente esse candidato estará diante de uma situação na qual poderá não saber como se comportar. Quando é pedido para desenvolver alguma dinâmica, o que ele sabe, é o que ele já viu de outras situações como essas, e na verdade, não sabe o que deve ser feito, só sabe que tem que fazer melhor que as outras pessoas ali concorrendo com ele. Na entrevista, novamente, esse candidato esta diante de uma situação aversiva, sem sequer saber o que deve falar ou fazer. Podemos assim dizer que de um ponto de vista geral, todo o processo de seleção pode ser aversivo para o candidato. Então o que deve esse candidato fazer? O que ele faz na maioria das vezes é comportar-se de uma forma aleatória, pois, não há nenhum estímulo discriminando qual comportamento é o mais adequado para a situação. Já vimos que todo o cenário de seleção de pessoal é pode ser aversivo para o candidato, isso é pelo fato desse cenário na maioria das vezes não oferecer estímulos discriminativos para o candidato se comportar de maneira “adequada”. a falta desses estímulos acaba gerando variabilidade comportamental, e nesse caso é esperado que comportamentos emocionais seja eliciados, casos como angustia, tremores, taquicardia, medo, são todos nomes que nos utilizamos para descrever comportamentos emocionais, e sendo assim, esse candidata pode estar se sentindo assim pelo fato: 1) não Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 19 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra saber o que fazer, 2) situação de avaliação e 3) a necessidade de conseguir a vaga. Alguns testes ou questionário pedem para que o candidato emita algum tipo de comportamento. Por exemplo, o Palográfico sendo um teste de personalidade. Seu resultado é obtido através do desempenho operante do candidato. Será que o resultado desse candidato estará representado o que ele realmente é? Em primeiro lugar, segundo Skinner, (2000) “a previsão do que um indivíduo médio fará é, freqüentemente, de pouco ou nenhum valor ao se tratar de um indivíduo particular” (p. 31). Em segundo lugar essa prática é divergente com uma proposta analítico comportamental, pois a busca por determinante interno do comportamento não vem a explicar o que esse indivíduo fará no futuro. Voltando a proposta deste trabalho, se o cenário no qual se encontra tal candidato é um cenário aversivo, e como vimos acima, um cenário aversivo elicia comportamentos emocionais e tais comportamentos possam vir a desorganizar o repertorio operante, estamos então, diante de uma situação muito complexa que não é levado em consideração ao selecionar pessoas. Como pode esse candidato que no momento do teste esteja “encoberto” de comportamentos emocionais se comportar como ele se comporta no dia-a-dia longe de tais estimulações? O que é comum ouvir na pratica de seleção é “mas se ele está assim agora, então ele não consegue trabalhar sobre pressão, não será um candidato adequado para a empresa”. Mas afinal de contas, uma coisa não tem nada haver com a outra. Trabalhar sobre pressão não é a mesma coisa que se comportar em uma situação que em primeiro lugar é avaliadora, em segundo é um processo único, no dia-a-dia de uma empresa as pessoas vão entrando em contado com situações sejam de pressão ou não, e vão desenvolvendo comportamentos adequados para tais contextos. Outra ferramenta utilizada na seleção de pessoal é a técnica de dinâmica de grupo. Essa, segundo Santos e cols.(2003) pode ser uma ferramenta útil para um processo de seleção de pessoal, pois nessa técnica o que se pede para o candidato é se comportar e o profissional de seleção observará padrões de comportamentos compatíveis com o esperado pela função. Mas o que é realmente feito no processo, é a negligencia dos efeitos Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 20 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra dos comportamentos emocionais na desorganização do repertorio operante. Quando pedido a um candidato desempenhar uma simulação ou uma tarefa qualquer, este pode estar sob controle de comportamentos emocionais que podem de alguma maneira desorganizar seu repertorio operante. Deixar de fazer algo que para o aplicador da técnica esteja esperando, escorregar, tropeçar, falar com um tom de voz diferente, isso tudo pode ser devido ao fato que esteja sendo “atrapalhado” por comportamentos emocionais. Na maioria das técnicas utilizadas, a acurácia da instrução (OLIVERIA, OLIVERIACASTRO, SIMONASSI e VIEIRA, 2002) é precária ou até não existe instrução alguma, pede-se para os candidatos fazerem algo utilizando algum material (ou não) e o profissional espera obter algumas informações sobre os candidatos. Levando em consideração os efeitos dos comportamentos emocionais na desorganização do repertorio operante, muitos candidatos acabam por serem desclassificados, sem falar da relação entre o que eles estão tentado fazer com que realmente eles devem fazer ao desempenhar as atividades exigidas pelo cargo. Infelizmente, a Psicologia ainda é mal interpretada pelo senso comum, sem falar da Análise do Comportamento. A visão das pessoas que psicólogos lêem mente e adivinha as coisas é um fato comum e corriqueiro encontrado em um processo de seleção por parte dos candidatos. A entrevista de seleção, talvez seja a que mais pode auxiliar em levantar informações sobre o candidato. Quando um candidato esta diante do profissional de seleção (neste caso um psicólogo) ele está diante novamente de um cenário aversivo, e como tal, vários comportamentos emocionais podem ser eliciados (tremores, gagueira, palpitações, taquicardia). Pois, ele não tem conhecimento de quais comportamentos sejam eles verbais ou não terá que emitir. O que pode acontecer de candidatos serem desclassificados por algum desses deslizes. Muitas vezes, a entrevista é focada sobre as informações que contêm no currículo do candidato. Então está lá no currículo do candidato: eficiente, comunicativo, extrovertido, fala bem, etc,. se ele escreveu isso, foi pelo fato que alguém falou para ele que ele é assim, ou ele pode estar distorcendo Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 21 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra algumas informações – que na realidade, é meio improvável. Ele não recebeu um pequeno diário ao nascer dizendo que ele seria assim, são as pessoas de sua comunidade verbal que irá reforçar seus comportamentos ao dizerem que ele se comporta desta ou daquela maneira (SKINNER, 1957). Bem, no momento da entrevista, ele se comporta de maneira totalmente discrepante ao que está descrito no currículo. O que será que o profissional de seleção ira pensar? Se o profissional tiver conhecimento que o cenário é aversivo para o candidatado e que comportamentos emocionais podem estar desorganizando seu repertório operante, ele então poderá desenvolver outra técnica para entrevista-lo. Caso este profissional não tenha tais conhecimentos, mais um candidato que perdeu uma vaga por falta de formação do profissional. Vamos agora para o outro lado, o lado do profissional de seleção. A função do profissional de seleção é escolher a pessoa certa para ocupar o cargo certo (CHIAVENATO, 2005). Mas será que este profissional esta ciente de todas essas variáveis citadas acima? Será ainda, que este profissional tem conhecimento que o mesmo princípio pode ocorrer com ele? Creio que não, principalmente se este profissional não for de orientação Behaviorista Radical. Os efeitos aversivos do cenário de seleção talvez não afetem o comportamento do profissional de seleção. Este já está além de treinado, acostumado com tal cenário, além do mais, ele não está sendo avaliado. Mas há um ponto muito importante que tais profissionais devem levar em consideração. Ele não está fora do contexto de associação de estímulos, ou seja, ocorrem comportamentos emocionais com este profissional no processo de seleção, que na maioria das vezes sequer ele sabe descriminar. O conceito de consciência proposto por Skinner (2000) nos diz que uma pessoa é ou está consciente quando consegue descrever seu comportamento levando em consideração qual foi o estímulo antecedente que fez com que se comportasse e qual será a conseqüência, ou seja, descrever a contingência que mantém o comportamento. Porém, nem sempre sabemos dizer por que estamos fazendo algo e o que levou a fazê-lo (SIMONASSI, GOSCH e SABINO, 1995). Esse conceito pode ser útil para nós descrever a atuação do profissional de seleção. Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 22 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra Pode-se dizer que a maioria dos profissionais de seleção que utilizam de testagem psicológicas para encontrar o melhor “perfil” para um cargo está sob controle dos resultados que testes oferecem. Lembrando que para esses profissionais, a causa do comportamento é interna. Em todo o processo de seleção, o profissional de seleção estará entrando em contato direto com alguns candidatos, mas o que tem haver o comportamento emocional nisso? Quantas vezes estamos andando em um shopping e do nada nos lembramos de alguém, ou vemos uma comida ou uma cor e logo vem a lembrança de uma pessoa que passou por nossa vida? Como já explicamos acima, isso é decorrente da aprendizagem por associação de estímulos. Um exemplo clássico na literatura é o trabalho de Watson e Rayner (1920 in HOCKENBURY e HOCKENBURY, 2001) conhecido como o caso do pequeno Albert. Os autores mostraram que o condicionamento clássico poderia ser utilizado para estabelecer uma resposta emocional condicionada em um ser humano, visto que os trabalhos até o momento utilizaram de animais como sujeitos. Uma barra de ferro foi utilizada para gerar um som alto, toda vez que o pequeno Albert se aproximava de um rato branco – antes inofensivo, e que a criança não apresentava nenhum comportamento de medo para tal animal – o som era provocado pelos pesquisadores. Com algumas repetições, o pequeno Albert passou a eliciar respostas emocionais de medo quando estava frente ao rato. Em outra ocasião foram apresentados ao pequeno Albert outros estímulos com características do rato branco (cor, textura, etc.). Esse trabalho demonstrou que era possível condicionar respostas de medo em um ser humano e que essa aprendizagem era possível de ser generalizada para outros estímulos. Não pense você que isto só ocorre em estudo de laboratório. Imagine uma garota que namora um rapaz que, sempre que eles estão juntos ele está utilizando o mesmo perfume. Depois de um ano de namoro, a garota descobre que ele está saindo com sua melhor amiga, no mento que ela vê a cena dos dois juntos, ela sente mal, desmaia e vai para em um hospital municipal. O que será que tem haver essa estória com seleção de pessoal? É fácil, agora imagine que se passaram três anos e que a garota agora psicóloga, está Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 23 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra fazendo uma seleção de pessoal, e entra um candidato em sua sala para entrevista com o mesmo perfume do seu ex-namorado, ou uma candidata com um rosto e cabelo parecido com a ex-amiga. O que poderia ocorrer com a psicóloga naquele momento? Agora você esta endento do papel dos comportamentos emocionais no processo de seleção por parte do profissional. É comum no nosso cotidiano relatarmos mudanças no nosso corpo sem sequer sabermos dizer o porquê está acontecendo, ou falarmos para um amigo que não foi com a “cara” de uma pessoa sem conhecê-lo primeiro. A explicação dado por analistas do comportamento é que no momento estão presentes estímulos que foram associados no passado a situações punitivas, e que o indivíduo passa a se sentir como se estivesse naquele momento no passado. O profissional de seleção não precisa saber que estímulo é esse, ele precisa simplesmente discriminar que a algo externo que está fazendo com que ele se sinta assim, e não responsabilizar o candidato por tais reações. Quantas pessoas já não foram desclassificadas de processos de seleção por esse motivo? Mas há um o outro lado, não são apenas estímulos aversivos/punidores que podem influenciar a escolha do candidato. Não só de coisas ruim vive o homem. Muitos acontecimentos prazerosos (ou melhor, reforçadores) acontecem na vida das pessoas, um candidato pode estar utilizando o mesmo perfume da pessoa com quem a profissional de seleção começou a namorar e está apaixonada, ou a candidata pode ter características semelhantes à sua mãe que tanto ama e não há ver muito tempo. Novamente, o candidato poderá ser selecionado levando em consideração tais reações emocionais e não seu repertório comportamental. Correspondência entre o Dizer e o fazer no Processo de Seleção Segundo Alencar (2006) e Santos e cols. (2003) uma das ferramentas que pode auxiliar o analista do comportamento no processo de seleção de pessoas é o uso da entrevista para levantar todos os dados necessários para prever quais comportamentos terão maiores probabilidades de ocorrerem no futuro, e este futuro estará relacionado ao cargo no qual ele deverá Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 24 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra desempenhar sua função. Sem duvida nenhuma a entrevista e as simulações são o que se tem até o memento de mais favorável para realizar uma seleção eficaz. Mas será que o que o candidato está dizendo é realmente o que ele faz, e se faz, com que freqüência? Simonassi (2001) demonstrou que a correspondência entre o dizer e o fazer pode ser fraca em várias situações. A conseqüência em dizer algo pode não ser direta, indivíduos podem ter em sua história de aprendizagem uma relação punitiva em dizer algo, e com isso apresentar pouca acurácia em seu repertório verbal, principalmente se este indivíduo já passou por vários processos de seleção. Quando um comportamento de mentir é punido, o feito da punição talvez não seja fazer com que esse indivíduo deixe de mentir, e sim, mentir cada vez melhor. Isso é facilmente visível durante uma entrevista; o profissional de seleção pergunta ao candidato “você ingere bebidas alcoólicas? Com que freqüência?” e então ele responde “Sim, só em alguns finais de semanas, mais quando tem alguma reunião de família.” Pergunta novamente “você tinha um bom relacionamento com seus colegas no último serviço?” ele responde “Sim, me dava bem com todos, nunca tive nenhum problema”. As conseqüências que o candidato teve ao responder essas perguntas nem sempre são reforçadoras e diretas. Na maioria das vezes, esse candidato estará emitindo comportamentos de fuga e esquiva (SIDMAN, 2003; SKINNER, 2000), pois o cenário pode ser aversivo para ele. Em uma técnica de dinâmica de grupo, também não se tem a certeza do que está sendo observado terá probabilidade alta de se repetir no futuro, principalmente se o desempenho é através de comportamento verbal, ou se o candidato já adquiriu através de exposições a outros processos de seleção o conhecimento do que é para ser feito. A instrução que é fornecida na técnica de dinâmica de grupo nada mais é que uma regra (MATOS, 2001), ou seja, um estímulo discriminativo que tem efeito de sinalizar qual comportamento deve ser emitido para que ocorra a conseqüência – que por sua vez, em muitas situações de seleção não sinaliza nada. Quando essa regra é dada incompleta, o indivíduo acaba por ser mais insensível às contingências, contingências essas que na maioria das vezes são obscuras e não descrevem muita coisa Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 25 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra em relação ao contexto. Se o objetivo dessas ferramentas é auxiliar na coleta de informações para conhecer o repertório do candidato e então relacionar às exigências do cargo, não faz sentido continuar utilizando desse método onde o resultado nem sempre é o esperado. Pode-se perceber que muitos candidatos são contratados pelo currículo e com o passar do tempo acabam sendo dispensados pelos padrões de comportamentos incompatíveis ao esperado pela organização. Esse processo acaba por acarretar prejuízos à organização, assim, o profissional de seleção deve-se focar nos padrões de comportamentos que o candidato apresentar ter maiores probabilidades de ocorrência no futuro. É claro que no momento atual, isso torna-se cada vez mais difícil, visto a necessidade da urgência na contratação, de ser por isso que foi elaborado a partir da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) o tempo de experiência. O processo de seleção pode se considerado a ponta do arcibeg, sendo o decorrer dos 90 dias e experiência o ponto crucial para a aprovação do candidato. Assim, vale ressaltar a importância do profissional de seleção voltar à atenção no repertório de comportamentos dos candidatos, e como a organização poderá aproveitar-se desse repertório para o sucesso organizacional Seleção de Pessoas ou Seleção de Repertórios Comportamentais Durante todo o texto, utilizamos o nome Seleção de Pessoal para mencionar o processo de escolher uma pessoa adequada para o cargo certo, e também, é a nomenclatura utilizada por todos profissionais da área (CHIAVENATO, 2005). Diante desta nomenclatura, nada há de errado, desde que ao dizermos Seleção de Pessoas, estamos nos referindo à seleção de repertórios comportamentais construídos através de contingências filogenéticas, ontogenéticas e das práticas culturais (SKINNER, 1980, 1984). Isto é claro quando estamos conversando com outro analista do comportamento. Mas na prática as coisas não são bem assim. Nomes relacionados a causas internas do comportamento são os mais utilizados, tais como: perfil, caráter, personalidade entre outros. Segundo Skinner, “um eu ou Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 26 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra uma personalidade é, na melhor das hipóteses, um repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências” (1982, p. 130). Fica claro que o trabalho do analista do comportamento no processo de seleção é muito distinto de qualquer outro profissional que atue na área de seleção (ou em qualquer outra área do comportamento humano). Oliveira, Noronha, Dantas e Santarem (2005) caracterizaram as estratégicas, técnicas e instrumentos psicológicos que profissionais orientados pela abordagem comportamental e/ou cognitiva utilizam em seus trabalhos. As autoras concluíram que nem sempre os instrumentos utilizados por tais psicólogos estão em concordância com a abordagem teórica adotada e que seu uso tem como finalidade de diagnóstico. Para as autoras, “um psicólogo comportamental pode utilizar testes e inventários em sua avaliação, contudo tais instrumentos são auxiliares na avaliação e têm por base a teoria psicomêtricas de construção de instrumento” (pp. 134). Em outro estudo, Noronha et. al (2005) desenvolveram um trabalho sobre os instrumentos de avaliação mais conhecidos e utilizados por estudantes e psicólogos em 17 estados brasileiros. Através de uma relação contendo 145 instrumentos psicológicos, os resultados demonstraram que no geral o número de instrumentos desconhecidos/não utilizados foram maiores que os conhecidos/utilizados, sendo que entre esses instrumentos mais conhecidos e utilizados estão à avaliação de personalidade é a mais empregada. Segundo Santos e cols: A prática mais comum em classificar candidatos para determinadas funções é favorecida por técnicas que valorizam causas internas como determinantes do comportamento. Portanto, não se consideram as condições ambientais necessárias para que os comportamentos esperados ocorram numa situação especifica de teste, sendo rotulados de acordo com categorias abstratas de comportamentos (2003, p. 237) A procura de um perfil ou personalidade para a escolha de um indivíduo não ajuda em nada quando o que estamos interessados é descobrir um repertório de comportamentos nos quais, alguns comportamentos são Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 27 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra necessários terem alta probabilidade de ocorrer no futuro. Ao levar em consideração a construção de um repertório através de contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais pode-se assim proporcionar uma escolha eficaz para um cargo. São as contingências ontogenéticas que irão selecionar comportamentos mais ajustados. Isso é decorrente da história de aprendizagem que um candidato teve em outros cargos ou em outras situações. Ao levantar o devido conhecimento do cargo, isto é, decorrido de uma análise do cargo e sua descrição, pode-se assim, procurar quais candidatos já apresentam em seus repertórios comportamentos compatíveis com tal cargo. Isso é fundamental, não apenas para a questão comportamental, mas também, para a questão financeira. A busca de lucratividade das organizações não está interessada em despender gastos principalmente no que se refere à contratação e treinamento de pessoal. Porém, o analista do comportamento pode auxiliar com o conhecimento adquirido dos princípios da aprendizagem operante. Não precisamos todos os dias ensinar uma criança a escrever seu nome, se hoje ela já escreve seu nome com facilidade, a próxima etapa seria colocá-la a escrever o nome no pai ou da mãe. No processo de seleção isso é fundamental, se temos conhecimento de quais comportamentos já existem no repertório do candidato, basta treiná-lo para a função do cargo a partir do que se tem, e não iniciar um treinamento do zero. Contingências de reforços são construídas todos os dias, o que precisamos saber é como acessar tais contingências. As contingências culturais não têm papel inferior ou superior às contingências ontogenéticas, sabe-se que tais contingências culturais estabelecem as práticas culturais nas quais vivemos. Não é de assustar ou muito menos recusar, que toda organização tem suas próprias práticas culturais (conhecidas como cultura organizacional). São essas práticas que vão estabelecer mudanças no repertório comportamental do novo candidato. O profissional de seleção deve estar ciente dessas práticas ao selecionar um repertório comportamental, e o conhecimento por ele adquirido através do candidato de como eram as práticas da organização na qual ele acabara de se Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 28 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra desvincular pode oferecer material importante para uma tomada de decisão sobre qual candidato será selecionado. Na realidade, o que está sendo selecionado são repertórios comportamentais, tais construídos pela relação dos três níveis de seleção. Conclusão Como foi apontado no inicio deste trabalho, nosso objetivo não foi de apresentar uma “receita” para a realização de um processo de seleção, muito menos, demonstrar arrogância em dizer que a análise do comportamento tem a melhor forma de realizar esse processo. O que propomos a fazer foi não só levantar questionamento sobre as práticas mais comum de seleção, mas também chamar a atenção dos analistas do comportamento que estão se ingressando na área organizacional para influências de certas variáveis que estarão controlando tanto o desempenho do candidato quanto do próprio profissional, e com isso, melhorar o nosso conhecimento das possíveis variáveis e propor um trabalho mais eficaz para as organizações. Santos e cols. (2003) apresentam alternativas para que o processo de seleção venha a ser desenvolvido pelo analista do comportamento sem se submeter à testagem psicológica, segundo esses autores, a entrevista e a simulação (ou técnicas de dinâmica de grupo) podem fornecer o material necessário para acessar o repertório comportamental dos candidatos e assim relacioná-los com os comportamentos exigidos pelo cargo e assim escolher o mais apto a desempenhar tal função. Alencar (2006) apresenta a seleção por competência para acessar o repertório comportamental dos candidatos. A seleção por competência vem demonstrando crescente interesse nos meios da psicologia organizacional como um todo, principalmente por alguns analistas do comportamento que se encontram desenvolvendo esse trabalho. Sem negar sua importância, é importante ressaltar que esse novo método de seleção não tem ainda investigações sistemáticas sobre sua eficácia. Talvez o mais preocupante não esteja relacionado ao processo de seleção por competência em si, mas com relação ao procedimento. Segundo Rabaglio (2001), a seleção por competência deve seguir algumas etapas, o desenvolvimento correto de todas Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 29 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra as etapas será o responsável pela eficácia do processo. Porém, no mundo organizacional tempo é sem dúvida, sinônimo de dinheiro, e o tempo despendido para o desenvolvimento de todo o processo é longo em relação ao tempo esperado pela organização quando se querem selecionar pessoas. Para o profissional que se encontra dentro da organização esse processo pode ser favorável, mas é importante lembrar que a tendência de terceirização desse setor por empresas de especializadas de Recursos Humanos é cada vez maior, e neste sentido o processo de seleção por competência da forma que é proposto por Rabaglio (2001) não seja viável. É importante que pesquisas sejam realizadas para que esse o procedimento de seleção por competência seja capaz de fornecer pessoas para as organizações dentro do tempo exigido por ela. A entrevista com foco comportamental muito citada na seleção por competência (RABAGLIO, 2001) é uma proposta fundamental para o auxilio na seleção de pessoas, seu enfoque está muito relacionado com os princípios da análise do comportamento, as bases que o comportamento emitido no passado tem probabilidade de ocorrer no futuro é o interesse dessa entrevista, essa proposta de entrevista é sem dúvida a idéia da conseqüênciação do comportamento que já era citado por Skinner desde seu livro “O Comportamento dos Organismos” de 1938. Porém, é importante ressaltar a correspondência entre o dizer e o fazer, pode de maneira explicita vir a prejudicar o candidato no processo de seleção. Mesmo com essas propostas, é sem duvida, fundamental para o profissional de seleção obter informações sobre a influência dos comportamentos emocionais, a correspondência entre o dizer e o fazer e o mais importante, estamos selecionando repertório comportamental construído pelos três níveis de seleção proposto pelo Behaviorismo Radical. REFERÊNCIAS Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 30 Seleção de Pessoal: Influências dos Comportamentos Emocionais e Seleção de Repertorio Comportamental - Reginaldo Pedroso - Gisele Amaral Cintra ALENCAR, E. T. S. Recrutamento e seleção de pessoal: o que a análise do comportamento tem a dizer?. 2006. Psicologia – redePsi. www.redepsi.com.br CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas. São Paulo: Campos, 2005 DARWIC, R. A.; TOURINHO, E. Z. Respostas emocionais à luz do modo causal de seleção por conseqüências. Revista Brasileira de Terapia e Medicina Comportamental. V. III, N° 1. 2005 HOCKENBURY, D. 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Therefore the process of personnel selection have been conducted in many ways, always taking into consideration the education of each professional. Most of the time, the use of psychological tests is the most frequently used resource. During the process of selection, many variables are controlling the behavior of both candidate and professional, and one of these variables is the emotional behavior that arises from classical conditioning. The goal of this study is to question the practice of personnel selection and draw the attention of behavior analysts to variables that control both candidate and the selection professional, proposing not a recipe to the conduction of the process of personnel selection, but questioning what has been done, and in the light of behavior analysis principles, to propose better conditions for understanding human behavior in the process of personnel selection. Keywords Personnel selection, emotional behavior, selection by consequences. http://www.faar.edu.br/revista Recebido em: 05/11/2010 Aceito em : 15/11/2010 Revista Olhar Científico – Faculdades Associadas de Ariquemes – V. 01, n.2, Ago./Dez. 2010 32