SELAR OU NÃO SELAR AS ROCHAS DE REVESTIMENTO1 Em sua edição de agosto de 2006, a Revista Stone Business publicou um artigo muito interessante sobre selantes impregnantes2, que são produtos hidro e óleo repelentes que evitam a infiltração de líquidos e o aparecimento de manchas na superfície dos revestimentos rochosos. Esse artigo discute as principais diferenças entre os selantes de base aquosa e de base solvente, analisando a sua eficácia, durabilidade e necessidade de uso. O autor é Tom McNall, proprietário da Great Northern Stone Care, uma empresa de limpeza e restauração de revestimentos instalada na Província de Ontário, Canadá, além de instrutor da MIA – Marble Institute of América. O texto, traduzido pelo geólogo Cid Chiodi Filho, é apresentado a seguir, com a devida autorização da Revista Stone Business e do autor. Tom McNall refere que as perguntas mais freqüentes sobre aplicação de selantes são sempre as mesmas: com que regularidade o selante deve ser reaplicado? Os granitos, especificamente, precisam ser selados a cada seis meses? Quantas camadas (demãos) de selante deve-se aplicar em uma superfície? É recomendável que todas as rochas sejam seladas? Primeiramente, quando se trata de rochas e selantes, as demãos não devem ser entendidas como camadas. São aplicações, como para um líquido impregnante que satura os espaços / poros abertos na superfície da rocha. Em segundo lugar, rochas são materiais naturais. Uma peça de rocha nunca é igual a outra. Isto é uma qualidade ou virtude, o que realmente traduz a questão mais interessante em perspectiva para as rochas: a sua individualidade. Tal individualidade determina que duas peças/placas nunca têm as mesmas propriedades ou características de absorção. Se todas as rochas fornecidas para um projeto provêm de uma mesma pedreira, elas podem ser no máximo similares, mas sempre únicas em sua individualidade. Em outro sentido, granitos negros africanos podem não absorver nada, enquanto um granito negro similar, asiático, pode ser uma “esponja”. O que isto quer dizer? Nem todas as rochas aceitarão selantes. Se uma rocha não absorve nada, um selante impregnante também não o será. Aqui, o positivo é que se selantes não penetram em uma rocha, substâncias manchantes também não o fazem. Tudo isto pode soar como surpresa para os empreiteiros e instaladores, inclusive e, sobretudo, de bancadas. Vá a qualquer loja ou fornecedor de bancadas, cuja matériaprima não é rocha, e pergunte o que faz o seu produto ser melhor ou superior que aqueles de rocha. Sempre teremos a mesma resposta: as rochas precisam ser seladas/ impermeabilizadas a cada seis meses, enquanto o produto deles, qualquer que seja sua matéria-prima, dispensa este cuidado. 1 Traduzido do texto original “To seal or not to seal”, por Cid Chiodi Filho, com autorização do autor (Tom McNall – [email protected]) e da Revista Stone Business (www.stonebusiness.net). Este artigo foi publicado na edição de agosto de 2006, v. 4, n. 12, p. 64-67 2 N.T.: Do ponto de vista técnico, é interessante diferencias os selantes dos impermeabilizantes, como forma de disciplinar nomenclatura. Selantes, de base água ou solvente, são produtos impregnantes, que penetram os poros da rocha na superfície tratada. Impermeabilizantes são produtos peliculares, que formam uma camada sobre a superfície da rocha. Idealmente, os selantes não devem promover qualquer alteração estética na superfície tratada. Geralmente, os impermeabilizantes produzem alterações estéticas, sobretudo por efeito de brilho da película. Ambos os produtos, selantes e impermeabilizantes, têm como objetivo prevenir a absorção de líquidos manchantes. 1 Agora, se nós temos em casa uma superfície de rocha que nunca foi selada, estamos fazendo alguma coisa errada? A resposta é não: estamos procedendo da forma correta. A obrigatoriedade de impermeabilizar todas as rochas e fazê-lo regularmente é um mito, uma lenda urbana. Este tipo de mito nasce de insegurança e receios infundados, ou é criado para defender certos interesses. Todos adoram as rochas, mas existe um certo preconceito sobre elas, que assusta àqueles que entendem pouco do assunto. Quase sempre é como se as pessoas tivessem medo que alguma coisa ruim acontecesse com as rochas, pois se elas forem afetadas por manchamentos, será muito caro substituí-las. Se essa é realmente uma percepção de fraqueza aceita para as rochas, é fácil difundir o mito de que todas as rochas precisam ser seladas / impermeabilizadas. Isto faz sentido ou interessa aos concorrentes, e é uma razão para compelir os consumidores a escolher seus produtos. Uma triste conseqüência ocorre quando as próprias pessoas do setor de rochas começam a acreditar nesse preconceito e difundi-lo. É preciso, de fato, analisar “se”, “quando” e “como” deve-se efetuar impermeabilização para rochas. Na minha opinião (do autor), tenho trabalhado com manutenção de rochas toda a minha vida, e considero que talvez apenas 10 a 20% das rochas polidas, e comercialmente disponíveis para bancadas, precisam de selantes. Portanto, 80 a 90% delas dispensam sua aplicação3. Somente 10 a 20% das rochas usadas para bancadas precisam ser seladas, porque granitos são a principal variedade utilizada e apenas um punhado de granitos são absorventes. Pode-se perceber essa realidade a partir de algo simples como um matacão de granito observado no campo: depois das chuvas ele seca quase instantaneamente e permanece seco. Empreiteiros e construtores podem reproduzir o mesmo teste, colocando água sobre uma superfície polida de granito e removendo-a após 10-15 minutos. Se a rocha não tiver escurecido, é porque ela não absorve água e, portanto, produtos manchantes eventualmente contidos em solução. Da mesma forma, se você está fazendo um acabamento de canto em meio úmido e a rocha não fica escura quando a água é removida, ela não irá absorver um selante de base água (water based sealer). A questão é a seguinte: se uma rocha não absorve água, ela também não absorverá um selante de base água. Pode-se também usar um solvente de teste para verificar se a rocha sofrerá manchamento pela absorção deste tipo de produto. Basta por exemplo derramar um pouco de óleo mineral na superfície polida de uma rocha e deixar por 5 a 10 minutos. Se, após a sua remoção, a rocha não estiver escurecida, o mesmo ocorrerá com um agente manchante de base similar. De novo, se uma rocha não absorve solventes e óleos, ela também não absorverá um selante de base solvente. Se a superfície ficar escurecida, não é preciso se preocupar com o dano causado pelo teste na rocha: o óleo mineral ou a água irão se evaporar completamente, deixando a rocha com o seu aspecto original. Estes resultados serão, no entanto, indicativos de que: quando houver escurecimento pela colocação de um solvente, pode-se utilizar um selante de base solvente para proteger a rocha contra manchas causadas por substâncias oleosas e aquosas; quando houver escurecimento pela colocação de água, pode-se utilizar um selante de base água para proteger a rocha contra manchas causadas por 3 N.T.: Esta noção é reforçada pelo fato de que, atualmente, a maior parte das chapas exportadas para os EUA recebem polimento resinado, o que contribui para a impermeabilização da superfície polida. 2 substâncias oleosas e aquosas. Em ambos os casos, os selantes serão impregnados e cumprirão sua função precípua. Em resumo, se a rocha escurece com água ou solvente (mineral oil) deve-se impermeabilizá-la. Se não existe alteração de cor depois do teste com os dois tipos de líquido (água e solvente), a rocha não precisa ser impermeabilizada. Este teste funciona para granitos e para a maioria das outras pedras disponíveis no mercado, apesar de existir um senão para rochas carbonáticas (mármores, travertinos, ônix e limestones): um selante impregnante não irá protegê-las contra aquelas indesejadas manchas e anéis escuros causados pela infiltração de água. Essas marcas nas rochas carbonáticas não são propriamente manchas, não importa quanto os usuários pensem ou queiram que elas sejam. Tais marcas são, na realidade, figuras de corrosão, causadas pela reação química entre os carbonatos da rocha e os ácidos eventualmente presentes no produto aquoso que causou a agressão4. Pode-se ilustrar esse quadro pensando-se em um tecido onde se espirra água ou óleo. Se o tecido escurecer e permanecer escuro, o fenômeno é apenas de manchamento. Se ele perde a cor e se torna esbranquiçado, é como se o produto corante do tecido fosse lixiviado, carreado ou corroído, de forma similar ao ataque ácido no carbonato dos mármores. Assim, nos mármores a superfície é corroída, o que deixa a rocha com o seu aspecto natural ou, melhor dizendo, sem acabamento. Nestes casos, nenhum produto trará de volta o aspecto anterior na área de corrosão, o que só será obtido por repolimento da superfície afetada. É importante enfatizar que está se falando sobre rochas polidas. Quando as rochas são polidas, os seus poros ficam mais fechados e restringem a possibilidade de permeação/ infiltração de líquidos. Com superfícies mais rugosas e ásperas, como as levigadas, apicoadas, flameadas e jateadas, os líquidos podem penetrar em rochas mais absorventes, que portanto requerem aplicação de um selante. Uma das questões freqüentes, nesses casos, quando se define que a rocha será selada, é determinar com que freqüência ou periodicidade deve-se repetir a operação. A resposta, no caso de bancadas, é a mais simples: quando a bancada parece não estar mais repelindo água ou óleo. O teste prático consiste em observar se, por exemplo, após a lavagem de louças na bancada da pia, a rocha fica mais escura e clareia em seguida, pois neste caso é a hora de reaplicar o selante utilizado originalmente. O intervalo de reaplicação pode variar de rocha para rocha, pois deve-se lembrar que duas rochas nunca são iguais. Alguns selantes valem o seu peso em ouro – e os bons selantes não são baratos – podendo durar de 5 a 15 anos, mesmo nas rochas mais porosas. É preciso qualificar esta última noção: qualquer selante de base solvente pode ter tal duração e até mais, mas eu não conheço nenhum selante de base água que dure tanto quanto um de base solvente (apesar dos recentes e contínuos desenvolvimentos), o que é compartilhado por muitas pessoas com quem eu tenho conversado. 4 N.T.: Se as rochas carbonáticas absorvem selantes impregnantes de base água ou solvente, considera-se que serão atenuados os efeitos de corrosão causados pelo contato com produtos ácidos, pois torna-se mais restrita a superfície de contato entre a rocha e esses produtos. Obviamente o autor está assumindo que a solução aquosa considerada é ácida (pH<7), pois soluções aquosas ou produtos químicos com pH neutro (pH=7) ou alcalinos (pH>7) não têm o mesmo efeito nas rochas carbonáticas. Outras variáveis devem ser ainda avaliadas, como a concentração da solução ácida, o tempo de contato da solução com a superfície da rocha e o caráter mais calcítico ou dolomítico (magnesiano) da rocha carbonática (neste último quesito, refere-se que quanto mais dolomítica/magnesiana for a rocha, mais resistente ela será ao ataque de soluções ácidas, tanto quanto mais resistente elas são ao desgaste abrasivo. 3 Alguns usuários, no caso empreiteiros e construtores, concordam que os selantes de base água têm duração bem mais curta, enquanto outros usuários manifestam que esses selantes de base água são melhores. Como é praticamente impossível testar e comparar todos os selantes disponíveis no mercado, eu fico com as minhas convicções, até prova em contrário: os selantes de base solvente são melhores e mais duráveis do que os de base água. Deve-se no entanto observar a crescente disseminação de produtos de base água, porque em certos lugares estão começando a banir o uso de solventes. Sob a justificativa de que eles – os selantes de base solvente – oferecem riscos à saúde humana, ocorre o acirramento da competição entre os fabricantes e uma grande profusão de argumentos conflitantes, o que deixa o consumidor confuso. O fato é que as autoridades governamentais tendem a proibir produtos que realmente funcionam mas que não são ambientalmente corretos. Muitos fabricantes estão assim tentando criar novas formas de selantes, mais seguras ambientalmente e tão duráveis quanto aquelas de base solvente, podendo-se demorar alguns anos para se atingir esse objetivo. Existe um dilema embutido na questão, pois do ponto de vista comercial pode não interessar que existam novos produtos seguros e de longa duração, cuja reaplicação não precise ser efetuada com freqüência (o conceito é o da “obsolescência programada”, pois com produtos muito duráveis é mais demorado o retorno dos consumidores e portanto menor a demanda). Nestes termos, o que se pode concluir sobre o “mistério” da impermeabilização ou selagem das rochas é o seguinte: sele apenas quando necessário e utilize produtos que não demandem reaplicações freqüentes. Mais importante: não acredite em mitos e lendas urbanas. 4