SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2 2. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 3 2.1 HISTÓRICO DA VACINOLOGIA ............................................................... 3 2.2 O SISTEMA IMUNE .................................................................................... 5 2.2.1 A RESPOSTA IMUNE.................................................................................. 6 3. IMUNIDADE ADAPTATIVA ...................................................................... 8 4. TIPOS DE VACINAS ................................................................................... 9 4.1 VACINAS RECOMBINANTES ................................................................. 10 4.1.1 Benefícios das vacinas recombinantes............................................................. 10 5. CONSTITUINTES DAS VACINAS ........................................................... 11 5.1 Adjuvante .................................................................................................... 11 5.1.1 Vantagens dos adjuvantes ........................................................................ 12 5.1.2 Desvantagens dos adjuvantes ................................................................... 12 5.1.3 Exemplos de várias classes de adjuvantes................................................. 12 6. VIAS DE APLICAÇÃO .............................................................................. 13 7. FALHAS VACINAIS.................................................................................. 14 9. CONSIDERAÇÕES SOBRE ESQUEMAS VACINAL EM CÃES PARA AS PRINCIPAIS DOENÇAS........................................................................................ 17 10. PERSPECTIVAS DE FUTURO .................................................................. 20 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 21 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 22 2 INTRODUÇÃO Na vacinologia tudo começou com a sabedoria popular, interpretação do destino, que consistia em esfregar o material, crostas de casos mais leves da varíola em um arranhão no braço quando observava que essas pessoas desenvolviam uma doença mais leve ficando protegida. Esse mecanismo de proteção tem alguns “agentes”, ou seja, são células com funções específicas com o objetivo de proteger o organismo dos agentes causadores dos malefícios, envolvendo todas as relações que caracterizam este sistema como sistema imunes. A Imunidade pode ser dividida em inata e adaptativa. Entender os tipos de vacinas e maneiras como cada um estimula o sistema imunológico é importante para o sucesso da vacinação. As vias de aplicação e suas particularidades são importantes para que o antígeno contido na composição da vacina seja capaz de superar a imunidade inata fazendo a adaptativa reconhecer e assim conseguir o fator almejado a memória imunológica. A deficiência do sistema imunológico contra o agente etiológico específico pode determinar o fracasso da vacinação seja ele por falha no produto ou falha no mecanismo de defesa do organismo a ser protegido. Analisar alguns protocolos vacinais com as principais doenças é fundamental para estabelecer a estratégia de vacinação. Prevenir é sempre menos oneroso do que tratar a doença, induzir a memória imunológica é o objetivo da vacinação. Entender o histórico das vacinas os mecanismos de proteção, os tipos de vacinas com sua composição, as falhas vacinais nas diferentes fases da vida do indivíduo é importante para estabelecer protocolos vacinais e por sua vez buscar a saúde. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 HISTÓRICO DA VACINOLOGIA 1100 AC: Na Índia e China uma técnica protetora contra a varíola era esfregar o material de crostas de casos mais leves de varíola em um arranhão no braço, normalmente desenvolvia uma doença mais leve e a pessoa ficava protegida. 1796: Nesta época, na Inglaterra, o Dr. Jenner recebeu de Lady Montague a informação de que no oriente, onde estava a nobre, de que mulheres que ordenhavam vacas, não apresentavam a varíola. Após o relato Jenner, iniciou a procura por estes casos na Inglaterra e constatou ser possível a inoculação de crostas extraídas de tetos de vacas em pessoas sadias, afim de produzir alguma proteção. O que na época causou espanto na comunidade científica, nada mais era do que a primeira tentativa de imunizar indivíduos contra uma doença. Jenner arriscou em seu próprio filho a experiência, e de tão bem sucedida, a técnica ganhou todos os continente chegando ao Brasil por volta de 1820. Essa nova técnica substituiu rapidamente a variolação. A Real Sociedade de Ciências de Londres publicou na época que o Dr. Jenner jamais conseguiria fama com estas loucuras. Loucuras que permitiram tornar a varíola a única enfermidade erradicada no mundo até hoje. O conceito de como se dava as reações imunológicas não era compreendido na época de Jenner e aproximadamente 100 anos depois é que Louis Pasteur deu os primeiros passos para a explicação científica do processo, e, em homenagem a Jenner (o Maior inglês que existiu, segundo o próprio Pasteur), chamou o produto de vacina, do latim “vacuna” (vaca) (FARHAT, 2000). 1880: Louis Pasteur descobriu acidentalmente que uma cultura de bactérias da cólera aviária deixada em uma bancada de laboratório durante um verão parisiense não matava mais aves quando injetada, no entanto quando inoculou uma cultura fresca observou que estas aves estavam protegidas e não morriam como era esperado. Pasteur percebeu a conexão com o trabalho de Jenner e propôs que o uso de um material modificado na inoculação para induzir proteção subseqüente contra doenças infecciosas deveria ser chamada de vacinação, (vacca em latim) e o produto usado deveria ser chamado de vacina. 4 Outros sucessos de Pasteur foram a vacina viva (tratada pelo calor) de carbúnculo hemático (1881), e a vacina viva contra a raiva (medula espinhal de coelho) seca em frascos herméticos dessecados ao longo dos dias (1885). 1886: Salmon e Smith desenvolveram a primeira vacina inativada, com o antígeno morto pelo calor. 1923: O Dr. Glenny, Dr. Hopkins e o médico veterinário Gaston Ramon independentemente mostraram que tratando toxinas como as toxinas da difteria e tétano com formol produzia-se uma vacina segura, um toxóide ou anatoxina (produto de uma toxina de um microorganismo que perdeu sua toxicidade e conservou suas propriedades antigênicas intactas, portanto útil como vacina). 1926: Glenny e colaboradores divulgaram que o toxóide da difteria com precipitado de alúmen produzia uma resposta imune potencializada. O alúmen era um adjuvante (substância ou material que quando administrada junto com antígeno potencializa não especificamente a resposta imune para aquele antígeno). 1960: Enders desenvolve métodos de multiplicação do vírus da poliomielite em culturas de células resultando na produção de vírus em alta escala para produção de vacinas. Até 1949, o processo de cultivo celular ainda não era uma realidade e a multiplicação de antígenos, principalmente virais, exigia o uso de animais. O processo além de ser mais dispendioso, não dava o mesmo rendimento. Neste sentido o cultivo de células “in vitro”, foi um marco na produção de vacinas como é até a atualidade. 1977: O mundo se viu livre da varíola, primeira doença a ser erradicada através da vacinação. É importante entender a dimensão deste fato, como objetivo maior de todo processo de vacinação, independente da espécie envolvida e do agente em questão. Primeiramente se espera o controle da enfermidade e quando possível a erradicação. Vários fatores devem ser alcançados para que tal ponto seja alcançado, e o sucesso de Jenner e de Pasteur com a raiva, nos permitiu chegar até onde estamos, com o desenvolvimento e aprimoramento de diferentes protocolos de vacinação. 1990: Atenção crescente para o potencial da tecnologia de DNA recombinante a fim de produzir novas gerações de vacinas mais puras e potentes. 5 2.2 O SISTEMA IMUNE O sistema imune deve ser compreendido como um compartimento, responsável pelas defesas do organismo, conhecido como imunidade. Esta imunidade divide-se em imunidade inata, que tem como características principais, a não especificidade e o momento de uso, sendo a primeira linha de defesa do organismo. E a imunidade adaptativa, que caracteriza-se pela especificidade e pela memória imunológica. A estimulação da imunidade ainda divide-se em ativa (natural ou artificial) e passiva (natural ou artificial). A imunidade ativa natural entende-se pela exposição ao agente que pode garantir proteção em uma futura exposição, como é o caso de muitas doenças infecciosas. A artificial traduz-se em imunização. Imunidade passiva natural, nada mais é do que a transferência de anticorpos maternos, afim de proteger o neonato nos momentos de desafio mais precoces, e artificial a aplicação de soros hiperimunes específicos. Para entender o sistema imune é necessário conhecer algumas células ou agentes e suas funções: Antigeno: é qualquer composto, que não seja próprio do organismo, caracterizado como estranho. Imunógeno: é qualquer antígeno capaz de desencadear a resposta imune, pela sua propriedade ou quantidade. O macrófago: é um tipo de célula de defesa que fagocita substâncias, ou componentes estranhos e/ou “velhos”. Células Dendriticas: são celulas fagocíticas que, como os macrófagos, são chamadas apresentadoras de antígeno profissionais. Linfócitos T: é um tipo de leucócito que inicia resposta imune quando apresentado ao antígeno, chamados de CD4 e CD8 principalmente. São as células primordiais para se caracterizar a resposta adaptativa. . Linfócitos B: uma das muitas células da resposta imune, chave para produção de anticorpos. Anticorpos: são moléculas protéicas solúveis, produzidas em resposta a antígenos específicos. 6 Vacinas: são biológicos que contêm uma ou mais substâncias antigênicas que, quando inoculados, são capazes de induzir imunidade específica ativa artificialmente e proteger contra a doença causada pelo agente infeccioso que originou o antígeno. Citocinas ou Interleucinas: são proteínas produzidas por diferentes células da resposta imune que tem a função de direcionar a resposta imune, dependendo do tipo e local de desafio, além do tipo de vacina utilizada. Destas, talvez o Interferon seja a mais conhecida, inclusive com aplicações comerciais atualmente. 2.2.1 A RESPOSTA IMUNE As respostas imunes podem ser divididas em resposta inata e resposta adaptativa. Esta diferença está relacionada aos processos envolvidos na eliminação de um agente agressor após sua entrada no organismo. Neste sentido há uma diferença temporal quando a resposta inata duraria no máximo 96 horas e, se após este tempo o agente agressor ainda persistir, o organismo lança mão da resposta adaptativa. Mais significativo que o tempo, uma outra característica diferencia fundamentalmente as duas respostas, a especificidade. 2.2.2 A RESPOSTA INATA Assim, a resposta inata, como primeira linha de defesa, age por meio das células e sinalizadores (citocinas), sem especificidade, onde o aparato recrutado para eliminação do antígeno “A” também pode agir sobre um antígeno ”B”. Esta resposta pode ser mais dispendiosa para o organismo pela não especificidade, mas sem ela a resposta adaptativa, que é sinônimo de especificidade, não se inicia. A capacidade do organismo de desencadear eficientemente a resposta inata determinará o sucesso da adaptativa, pois os componentes desta participam da eliminação do antígeno após a ação de células classicamente inespecíficas. Em termos práticos pode-se concluir que os processos de fagocitose inespecíficos, realizados por macrófagos e células dendríticas entre outras, são essenciais para, se não eliminar o antígeno, diminuir em até 10.000 vezes a sua quantidade, e assim iniciar a resposta adaptativa. O estímulo necessário para o início desta resposta adaptativa deve ser 7 suficientemente forte para sobrepor à capacidade de resposta inata, e necessariamente fraco para dar segurança ao processo. A imunidade surge em todos os compartimentos do corpo, quando o antígeno entra via natural, ou seja há resposta imune no local de entrada como intestinos, aparelho respiratório, (QUADRO 1) e também uma resposta circulante. Nos dois casos há mediação por anticorpos e por células. Se uma vacina pode ser dada via mucosa, mimetizará a rota de infecção natural, gerando respostas equilibradas. No entanto, o uso de vacinas parenterais, não pode gerar a mesma resposta da infecção natural. Isto é importante ao longo do tempo para monitoria das respostas imunes e evolução do agente infeccioso, devido a pressão de seleção sobre este. QUADRO 1 – BARREIRAS FISICO-QUIMICAS CONTRA INFECÇÕES Sistema/Orgão Componente ativo Pele Células de Descamação; Fluxo Trato Gastrointestinal Mecanismo Efetor Secretor, Suor orgânicos Células colunares Peristalse, ácidos baixo biliares, ácidos pH, fluxo secretor, tiocianato Pulmão Cílios traqueais Elevador mucociliar surfactante Nasofaringe e olhos Circulação e Muco, saliva, lágrima órgão Células fagocitárias linfóides Soro FONTE: TIZARD, 2002 Fluxo secretor lisozima Fagocitose e intracelular Lactoferrina Ligação ao ferro Interferon Proteínas antivirais morte 8 3. IMUNIDADE ADAPTATIVA O objetivo da aplicação de vacinas pode ser resumido como a necessidade de se gerar uma defesa específica por meio das respostas humoral e celular. Como resultado maior deste processo de imunização entende-se a geração da memória imunológica. Uma vez o antígeno sendo reconhecido por macrófagos ou células dendríticas, a sua apresentação para o Linfócito T é uma etapa importante para a geração de Células citotóxicas (CD8) e para anticorpos do tipo IgG. O linfócito B tendo reconhecido o antígeno irá produzir IgM, sem o auxílio de linfócitos T CD4, no entanto esta etapa permite apenas a produção de IgM, como ocorre com antígenos Tindependentes (polissacarídeos e lipopolissacarídeos). Na figura 01 observa-se estas dinâmica, associada a exposição primária ao antígeno e a revacinação (booster). Após a primeira dose da vacina observam-se níveis detectáveis de IgG e IgM circulantes, ao mesmo tempo que as células de memória se formam no indivíduo, provavelmente localizadas na medula óssea e ao redor de células dentríticas foliculares nos centros germinativos. Na segunda exposição é nítida a elevação dos níveis de anticorpos uma vez que a resposta inicia-se a partir da memória e não de uma célula virgem (naive). Observa-se que os níveis de IgM mantem-se constantes. Isto explica-se porque o linfócito B a produz sem o auxílio do linfócito T, ou seja, sem que células de memória participem, e os níveis de IgG serão cada vez maiores após a re-exposições, dando o resultado de uma vacinação eficaz. Proteção contra infecção letal, por uma resposta mais rápida e mais forte. A resposta adaptativa de forma geral pode ser dividida em resposta imune humoral, quando mediada por anticorpos e resposta imune celular, mediada por células. Na natureza, a exposição a um antígeno selvagem, gera uma resposta equilibrada, que resulta em humoral e celular. Isto tem um significado importante na eficácia do processo de defesa. No entanto, o uso de vacinas, dependendo do tipo destas, pode desequilibrar estas respostas. 9 RESPOSTA IMUNOLÓGICA FIGURA 01 4. TIPOS DE VACINAS Modernamente observa-se o desenvolvimento de diferentes tipos de vacinas, relacionadas aos processos de produção e uso, como vacinas recombinantes, DNA, imuno-complexo, sub-unidades, entre outros. O que precisa ser entendido é que, independente do processo ou tipo de vacina em questão, haverão dois mecanismos de ação e conseqüentemente de resposta, o das vacinas replicantes e das não-replicantes: • Vacinas replicantes (vivas atenuadas): são mais utilizadas em vacinas virais, o microorganismo da vacina ou sua forma recombinante ou partes específicas que compõe o material genético (DNA) multiplicam-se em células específicas do hospedeiro vacinado. • Vacinas não-replicantes (inativadas): são as vacinas em que os microrganismos não são capazes de se multiplicar ou gerar efeitos prejudiciais as 10 células ou tecidos do hospedeiro vacinado, no processo de inativação podem incluir calor substâncias químicas como o formol e irradiação. 4.1 VACINAS RECOMBINANTES As vacinas recombinantes estão classificadas em três tipos, de acordo com a tecnologia utilizada: Tipo 1 - (sub-unidade): exemplo: Recombitek Lyme, composta pela proteína OspA da Borrelia burgdoferi produzida em E.coli. Age como vacina inativada. As vacinas recombinantes são criadas utilizando bactérias ou leveduras para sintetizar uma única proteína do antígeno de interesse em grandes quantidades. Esta proteína é purificada e depois injetadas no paciente e o sistema imune do individuo produz anticorpos contra a proteína do agente da doença.(ETTINGER 2006) Tipo 2 – (gen deletado) Retirada de genes reduz a virulência do agente e/ou permite diagnóstico diferencial. Exemplo: Ibraxion IBRV (inativada). Tipo 3 - (Vetor): exemplos: Recombitek Cinomose. Poxvírus recombinante age como vacina viva. 4.1.1 Benefícios das vacinas recombinantes Eliminação do risco de reversão da virulência ou contaminação ambiental. Maior segurança em espécies suscetíveis. Ex: (Cinomose, Raiva, etc.) Habilidade de superar barreiras de anticorpos circulantes (Maternos ou próprios). Rotas alternativas de administração, ex Raboral – Raiva oral Melhor eficácia (imunidade celular e humoral) e duração de imunidade quando comparadas com vacinas inativadas. 11 5. CONSTITUINTES DAS VACINAS Os principais constituintes das vacinas são listados em suas respectivas bulas. Se uma vacina é produzida por fabricantes diversos, algumas diferenças podem existir nos ingredientes ativos inertes contidos nos vários produtos. Os constituintes principais das vacinas incluem o seguinte: Antígenos imunizantes ativos: Algumas vacinas consistem em um antígeno único, que é um constituinte altamente definido (exemplo: toxóide tetânico ou diftérico); em outras vacinas, os antígenos são complexos ou menos definidos (exemplo: vírus vivos ou bactérias mortas). Líquido de suspensão: O líquido de suspensão é, freqüentemente, tão simples quanto água esterilizada para injeção ou soro fisiológico, mas ele pode ser um complexo líquido de cultura de tecido. Este líquido pode conter proteínas ou outros constituintes derivados do meio ou do sistema biológico em que a vacina é produzida (antígenos do ovo, gelatina, ou antígenos derivados de cultura tecidual). Preservativos, estabilizantes e antibióticos: Pequenas quantidades de agentes químicos (exemplo: mercuriais, tais como timerosal) e alguns antibióticos (tais como neomicina ou estreptomicina) são freqüentemente incluídas para prevenir o crescimento bacteriano ou para estabilizar o antígeno. Reações alérgicas podem ocorrer se o receptor for sensível a um ou mais destes aditivos. Sempre que possível, estas reações devem ser antecipadas, identificando-se a hipersensibilidade do hospedeiro a componentes específicos da vacina. 5.1 Adjuvante Um imunomodulador é qualquer material ou substância que altera o tipo, a velocidade, a intensidade ou a duração da resposta imune. Adjuvantes são imunomoduladores como as citocinas. Ou seja são utilizados para aumentar o desempenho dos diferentes antígenos utilizados como vacinas (SILVA, 2000). 12 5.1.1 Vantagens dos adjuvantes 1. Aceleram a resposta imune - imunidade precoce 2. Aumentam o nível da resposta imune 3. Ampliam a resposta imune 4. Aumentam a resposta das células de memória, prolongando a imunidade 5. A liberação prolongada do antígeno a partir do local protegido de depósito do adjuvante pode evitar a inativação do antígeno pelos anticorpos maternos em animais jovens 5.1.2 Desvantagens dos adjuvantes A atividade inflamatória e irritante de alguns adjuvantes podem causar: 1. Inchaço 2. Dor 3. Inflamação crônica no local da injeção 4. Lesões na carcaça de animais para abate 5. Hipersensibilidade devido à estimulação excessiva do sistema imune 5.1.3 Exemplos de várias classes de adjuvantes a. Emulsões oleosas b. Compostos minerais c. Produto bacteriano d. Saponinas e. ISCOMS (Complexos Imunoestimulantes) f. Lipossomas g. Micropartículas h. Citocinas 13 6. VIAS DE APLICAÇÃO • Mucosa Via oral: vacina liofilizada reconstituída e adicionada à água para beber, ou solução hipotônica (vacinas de aves) Intranasal ou ocular. • Parenteral 1. Vacina transdérmica: (experimental) é aplicada na pele com um carreador que a transporta através da epiderme para dentro da circulação linfática; é bastante promissora. 2. Intramuscular: tolera volumes maiores e mesmo a injeção de substâncias irritantes, proporciona a absorção mais rápida porque é mais vascularizada. 3. Subcutânea: a droga é injetada no tecido conjuntivo frouxo entre a epiderme e as camadas da derme, é um tecido menos irrigado, a absorção é lenta e também dolorosa devido a receptores da dor. 4. Intradérmica: injeções aplicadas logo abaixo da epiderme, permitem a introdução de pequenas quantidades de substâncias devido a pouca elasticidade da pele. 5. Intraperitoneal: (na cavidade peritoneal) 6. Intravenosa: (na circulação sangüínea através de uma veia) Vacinações de reforço múltipla e freqüentes têm o risco em potencial (geralmente teórico) de super estimular o sistema imune, causando doenças imunomediadas como a nefrite auto-imune e a encefalite pós vacinal. Muitas décadas de revacinações anuais não conseguiram comprovar uma incidência preocupante de tais doenças induzidas por vacinas. 14 7. FALHAS VACINAIS Falha vacinal pode-se entender como um deficiente estímulo imunológico, determinado por um produto elaborado com a finalidade de proteger um organismo vivo contra um agente etiológico específico. As falhas vacinais podem se originar de fatores interligados à vacina e ao próprio organismo e fatores externos como a conservação e à manipulação, constituindo falhas aparentes do produto. Administração a animais em período de incubação, que evoluem para o quadro da doença. Os estímulos imunogênicos podem ter ocorrido tardiamente, não impedindo a progressão da doença. Administração de volume menor que o recomendado pelo fabricante. Conservação a temperaturas inadequadas ou com oscilações intensas podem ocorrer importantes alterações de potência ou na qualidade do material componente da suspensão, quando do congelamento ou da elevação da temperatura a níveis superiores aos recomendados. Inadequada limpeza e esterilização dos equipamentos e materiais utilizados para a manipulação da vacina, alterando e/ou deteriorando as características dos componentes da vacina, podendo favorecer a transmissão de germes patogênicos. Aplicação da vacina por via ou local contra-indicado. Muitas vezes, se for administrada com imperícia, pode ocorrer a transfixação da pele ou perfuração de órgãos abdominais. Uso da vacina em animais de espécies diferentes daquelas para as quais o produto foi produzido. De acordo com a espécie animal, as vacinas possuem potências específicas, são desenvolvidas em substratos próprios, além de apresentarem conservantes e componentes adequados para um estímulo imunogênico compatíveis com os resultados esperados. As falhas reais imputadas às vacinas podem ser resumidas em: • Por deficiente resposta imune do animal: Administração em animais imunocomprometidos ou imunodeprimidos, por exemplo, quando em tratamentos medicamentosos com corticóides ou outros imunossupressores. 15 Administração em animais que apresentem imunidade passiva, por exemplo, por terem recebido anticorpos de origem materna, através de via transplancentária ou da lactação. • Por problemas do produto Produção de vacina com cepas não prevalentes, inativação de vacinas produzidas com vírus atenuados, por conservação inadequada, uso de vacinas com prazo de validade vencido ou determinado pelo laboratório produtor. Uso de vacinas ineficazes, com potência inadequada para a produção do estímulo antigênico esperado, promove pouca ou nenhuma reação do sistema imune individual. FALHAS REAIS IMPUTADAS ÀS VACINAS. Fonte: Tizard, 2002 FIGURA 02 16 8. ESQUEMA VACINAL SUGERIDO PARA CÃES • Vacinação primária: Cães sadios com seis semanas de idade ou mais velhos devem receber três doses com intervalos de três a quatro semanas entre cada administração. • Revacinação: É recomendada revacinação anual com dose única. Outros esquemas de vacinação podem ser adotados a critério do Médico Veterinário, com base no estilo de vida do animal e o risco de exposição à doença (FORT DODGE, 2008). A aplicação de uma vacina com alto título e baixa passagem do vírus em um indivíduo sadio é altamente imunogênica e capaz de estimular a imunidade ativa mesmo em presença de anticorpos maternos. Os anticorpos maternos, absorvidos a partir do intestino do neonato durante a mamada alcançam níveis máximos no soro com 12 a 24 horas após o nascimento. A partir daí começa o declínio nessa taxa de anticorpos, em média os níveis de anticorpos passivamente adquiridos contra cinomose reduzirão significativamente com cerca de dez a doze semanas embora em alguns animais eles devam desaparecer em seis semanas ou persistir por quinze a dezesseis semanas. Em uma população de filhotes a proporção de animais susceptíveis, portanto, aumenta gradualmente de muito poucos ou nenhum no nascimento para quase todos com dez a doze semanas. Conseqüentemente poucos cãezinhos recém nascidos podem ser vacinados com sucesso, mas com doze semanas grande parte pode ser protegida (TIZARD 2002). A duração precisa da imunidade maternal é muito variável, obviamente depende dos níveis de anticorpos da mãe e a eficiência pela qual ela transfere. Desta forma tem se estabelecido seis semanas como tempo ótimo para vacinar os cães, porem isto não é sempre válido, alguns cãezinhos não são vacinados com sucesso contra o parvo vírus tipo 2 com dezoito a vinte semanas, o melhor para se resolver esse problema é assegurar que cãezinhos submetidos a alto risco de parvovirose sejam vacinados a cada três a quatro semanas até alcançarem dezoito a vinte semanas. Um método alternativo de reduzir essa vulnerabilidade é utilizar vacinas com vírus vivo modificado, capaz de infectar células do hospedeiro desencadeando uma resposta protetora mesmo na presença de anticorpos maternais. A partir da década de 90 novas vacinas principalmente contra a parvovirose, surgiram 17 no mercado, formuladas com vírus vivos com poucas passagens em tecidos heterólogos (34 em média comparada a 250 tradicionalmente) e alto título por dose vacinal (figura 3). O mecanismo básico deste tipo de vacina é permitir uma rápida replicação de grandes quantidades de vírus antes que os anticorpos maternais em níveis interferentes bloqueiem a replicação. A revacinação anual tem sido regra para a maioria dos animais uma vez que apresenta a vantagem de assegurar que o animal seja regularmente visto por um veterinário. Embora estudos recentes sugiram que algumas vacinas são capazes de induzir imunidade por muitos anos como é o caso da vacina contra cinomose (TIZARD 2002). INTERFERÊNCIA DE ANTICORPO MATERNO Fonte: (POLLOK,1993) FIGURA 3 9. CONSIDERAÇÕES SOBRE ESQUEMAS VACINAL EM CÃES PARA AS PRINCIPAIS DOENÇAS • Parvovirose Medidas gerais de controle de parvovirose canina, como nutrição adequada de cães jovens, controle de parasitas intestinais e das condições sanitárias do ambiente devem ser empregadas com objetivo de diminuir a prevalência da doença na população canina. Entretanto, a vacinação contra a parvovirose canina é considerada a principal medida profilática desta enfermidade (APPEL; PARRISH, 1987; GUILFORD; STROMBECK, 1996; HAGIWARA, 1991; SHERDING, 1994). 18 É uma doença principalmente de filhotes, e de bastante casuística nas clínicas, e preocupante sendo indicada uma vacinação urgente em cães filhotes a partir dos 45 dias, principalmente em animais oriundos de canis e locais onde a exposição ao agente é maior. • Cinomose Até agora a forma mais eficaz de prevenir a doença é a vacinação. Empregase a forma atenuada do vírus via subcutânea nos cães entre 45 e 60 meses de idade com reforço após 30 e 60 dias e revacinação anual (FERNADEZ, 1994). Deve-se preferencialmente administrar a primeira dose aos 45 dias de vida, pois estudos demonstram que nessa idade o animal ainda está protegido por anticorpos maternos. De todas as doenças essa é a pior para o cão, de evolução das mais variadas formas levando a óbito, segundo TIZARD, 2002 a imunidade induzida pela vacina na maioria dos cães permaneça durante anos, a vacinação anual é justificada sendo que se o cão desenvolver a doença não se tem bons resultados com o tratamento e ainda tem doenças regionais que são imunossupressoras como é o caso da erlichiose e acabam “expondo” o individuo a outras doenças. • Raiva Nos países em desenvolvimento, o cão ainda é o principal agressor e transmissor da doença a seres humanos, sendo que a avaliação da circulação do vírus rabico na população canina é um dos principais fatores para que a doença seja considerada controlada (COSTA, 1998). A vacinação anual é justificada uma vez que o vírus rábico não faz viremia, indo replicar nas células do sistema nervoso central, necessitando de um alto título de anticorpos circulantes. Por se tratar desta grave enfermidade e ressalvando a vida humana, não se deve confiar na memória imunológica e preconiza-se vacinar todos os anos todos os cães. • Leptospirose A leptospirose canina constitui um problema sanitário de grande importância, não somente pela gravidade de sua patogenia, mas também como elemento potencial 19 de contágio ao ser humano (ACHA; SZYFRES, 1986); sendo transmitida ao homem através da urina de animais infectados, principalmente roedores e cães, ocorrendo principalmente em agricultores, tratadores de animais, plantadores de arroz, cortadores de cana-de-açúcar, limpadores de esgotos, magarefes, mineiros, veterinários e laboratoristas (PEREIRA,1996). Devido à característica da leptospira não ser linfócito T dependente, a duração de anticorpos circulantes acabam declinando em um período inferior a um ano, exigindo assim uma revacinação semestral. Uma vez que a leptospirose tem características regionais com sorovares específicos, portanto, as vacinas não são universais devendo utilizar as sorovares presentes na região como em nosso caso, na cidade de Curitiba e região metropolitana a leptospira copenhageni é a de maior ocorrência. • Coronavirose O coronavírus entra no sitio de replicação, fazendo a lesão na mucosa do intestino, no enterócito. As vacinas disponíveis injetáveis, algumas têm o coronavírus inativado, fazendo pouco efeito, outras o vírus vivo atenuado, tendo um efeito moderado, sendo necessário um alto título de IgA, o ideal seria ter uma vacina de mucosa. 20 10. PERSPECTIVAS DE FUTURO O objetivo de muitos centros de pesquisas com altos investimentos na área de imunologia molecular a fim de desenvolver e disponibilizar em breve são as vacinas de DNA e a terapia genética. A vacina de DNA utiliza do mesmo princípio de uma vacina recombinante com a diferença de que o vetor que carrega a fração contendo o material genético de interesse para dentro da célula do animal alvo é um plasmídeo. Algumas limitações têm dificultado o seu uso, pois os resultados melhores são obtidos com aplicações dessas vacinas por via intra-muscular ou com estimulação por “gene guns” e adjuvantes complexos. Ainda não se sabe se essas vacinas poderão ser combinadas com outras que utilizem tecnologias mais tradicionais, em um mesmo produto. Terapia genética consiste no tratamento de doenças com base na transferência de material genético, ou seja, em algumas situações na inserção de genes defeituosos para substituir ou completar os genes causadores de doenças, em outros protocolos a tecnologia vem sendo usada para alterar fenotipicamente o material genético da célula de tal modo a torná-la antigênica e assim desencadear uma resposta imunitária. 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS É preciso estar atento às novas tecnologias, sempre tentando aprimorar a forma de prevenir doenças. Sendo necessário entender um pouco da dinâmica desse mundo, da vacinologia, para poder determinar a hora de vacinar de acordo com as doenças que mais ocorrem. Vacinar é preciso, proteger é melhor ainda, a vacinação recomendada contra parvovirose, cinomose, leptospirose e coronavirose deve iniciar aos 45 (quarenta e cinco) dias. Com duas doses de reforço com intervalo de três a quatro semanas. Sendo recomendado a vacinação contra a raiva a partir dos três meses, e o reforço anual é justificado uma vez que o vírus rábico não faz viremia e é necessário um alto título de anticorpos, pois nesta doença não há segunda chance para tanto não se deve confiar na memória imunológica. A cinomose, onde a casuística no estado do Paraná é bastante grande, é uma das piores doenças para os cães, a vacinação anual é justificada, pois quando os cães adoecem não tem tratamento eficaz. Na parvovirose, por ser em doenças que acomete cães até dois anos, deve ser iniciada a vacinação aos 45 dias. Na leptospirose a revacinação em áreas endêmicas deve ser aplicada a cada seis meses, pois a característica de não ser linfócito T dependente faz com que a vacinação semestral seja justificada. Na coronavirose, como o vírus faz a lesão no local de replicação, não fazendo viremia, precisando uma imunidade de mucosa (IgA) a vacina inativado não teria muito efeito, a vacina viva teria um efeito moderado e a vacina via mucosa seria a ideal. 22 REFERÊNCIAS ACHA, P.N. & SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales, 2.ed. Washington: Organizacion Panamericana de La Salud, 1986. p.112-120, 425-449. APPEL, M.J.G.; PARRISH, C.R. Canine parvovirus type 2. In: Virus Infections of carnivores. Amsterdam: Elsevier Science Publisher B.V.Cap.7.p.69-92, 1987. COSTA,W.A.; Manual de profilaxia da raiva. 2 ed. São Paulo, Instituto Pasteur, pág. 34, 2000. FARHAT,C.K. et AL. Imunizações Fundamentos e Prática. São Paulo, Atheneu. 4 ed. pag 5. 2000. FERNANDEZ MARILDA BARREIROS. Cinomose: Diagnóstico através da prova de imunofluorescência direta ( IFD ). Salvador - Ba, 1994, p. 20. Monografia Universidade Federal da Bahia, 1994. GUILFORD, W.G.; STROMBECK, D.R. 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