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GEOMORFOLOGIA DA SERRA DE SINTRA
PARQUE DA PENA 
BIOLOGIA NO VERÃO 2006
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GEOLOGIA NO VERÃO – PROGRAMA CIÊNCIA VIVA
A Geologia no Verão é uma iniciativa do programa Ciência Viva do Ministério da Ciência
e da Tecnologia, na qual participam várias instituições portuguesas, que durante alguns
dias abrem as portas para ensinar o que é a Geologia a todos os que tiverem curiosidade.
Neste âmbito, a Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A. convida-vos a fazerem uma
viagem ao mundo da Geologia através da realização de um percurso no Castelo dos
Mouros. Durante o percurso será descrita a evolução da Serra de Sintra e o processo de
intrusão magmática que deu origem aos enormes blocos graníticos que hoje aqui se podem
encontrar e o impacto que esse fenómeno provocou e provoca no clima bem como na fauna
na flora desta serra. Será ainda observada a forma como a geodiversidade condicionou a
localização do Castelo dos Mouros e a Vila de Sintra tendo em conta a importância dos seus
valores estéticos, culturais, estratégicos, económicos, históricos, religiosos e naturais.
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A SERRA DE SINTRA
1. A ORIGEM GEOLÓGICA DA SERRA DE SINTRA
Ao contemplarmos a magnífica serra de Sintra tudo nos leva a crer que este imponente e
luxuriante monumento natural sempre existiu na forma que hoje conhecemos. Mas de facto
não é essa a realidade. A Serra de Sintra formou-se há cerca de 60-70 milhões de anos, e
deve a sua origem a um fenómeno denominado intrusão magmática. A intrusão magmática
consiste no aprisionamento de uma bolha de magma no interior da crosta terrestre. O
magma solidifica lentamente, o que permite a formação dos cristais que constituem o
granito. Devido às movimentações da crosta terrestre, esta massa de granito eventualmente
emerge à superfície, formando, como no caso de Sintra, uma serra.
2. UM CLIMA MUITO ESPECIAL
A orientação (EW) e a destacada altitude da Serra de Sintra na plataforma litoral dão-lhe
condições climáticas muito peculiares que, conjugadas com as características edáficas
(características do solo), facultam à vegetação, um ambiente muito próprio, que contrasta
com o da área, bem mais seca, que rodeia a serra a norte e a sul. A temperatura é, em
geral, uns três a quatro graus inferior à das regiões limítrofes, mantendo as características
da Região Mediterrânica. Mas a Serra mantém sempre, no decorrer do ano, humidade em
alto grau, resultante dos ventos dominantes do nor-noroeste, ventos da costa portadores de
humidade que ao ficar retida na cumeada condensa dando origem a densos nevoeiros. A
precipitação oculta resultante da captação dos nevoeiros pela serra e nas copas das árvores
pode fazer duplicar a quantidade da água disponível para as plantas, mesmo durante o
período estival (Verão).
3. A VEGETAÇÃO EXUBERANTE
A vegetação exuberante da Serra de Sintra está longe de ser um vestígio da floresta
primitiva que cobria uma vasta área do que viria a ser Portugal antes das modificações de
paisagens impostas pela acção do Homem. De facto, devido às suas intervenções ao longo
dos tempos, a serra encontrava-se, em pleno século XIX, praticamente despida de
vegetação. Foi com a chegada do Rei D. Fernando II e Sir Francis Cook a Sintra (entre
outros), que a situação se inverteu.
4. O ROMANTISMO
O romantismo foi um movimento cultural europeu, que surgiu nos finais do século XVIII e
cuja influência se consolidou até meados do século XIX. A estética romântica aliou a busca
pelo exotismo a uma importância crescida dos sentimentos, o gosto pela natureza, o culto
do misticismo e o regresso ao passado. Foi neste contexto que se deu início à plantação do
Parque da Pena, exemplo único de parques e jardins que influenciou diversas paisagens na
Europa.
O CASTELO DOS MOUROS
O Castelo dos Mouros é um importante testemunho da presença islâmica na região e de
edificação provável entre os séculos VIII e IX. Das suas muralhas é possível admirar uma
paisagem única que nos apresenta a vila de Sintra em primeiro plano, estendendo-se até ao
Cabo da Roca, a Praia das Maçãs, Mafra, Ericeira e o oceano Atlântico. Em 1839, D.
Fernando II aforou a velha fortaleza já bastante arruinada e procedeu ao seu restauro
integral de acordo com os ideais românticos em voga no século XIX, incorporando-o no
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jardim romântico da Pena como elemento estético extremamente importante na criação do
cenário envolvente ao Palácio da Pena. Actualmente o Castelo apresenta uma planta
irregular sendo constituído por uma dupla cintura de muralhas. A muralha interior apresenta
um adarve, ameias e o reforço proporcionado por cinco torreões. Destacam-se, no seu
interior, a cisterna abastecida por águas pluviais, a porta de traça árabe em arco de
ferradura e a Torre Real, a torre mais alta do castelo cujo alcance de vista nos permite
compreender a relevante função de sentinela ao longo dos tempos.
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
A Geologia é a ciência que estuda a estrutura e os materiais que compõem o planeta Terra,
bem como a sua evolução. A geologia foi uma das ciências que nos demonstrou que a Terra
tem cerca de 4500 milhões de anos e que é composta por várias camadas sobrepostas: a
crosta, o manto e o núcleo.
A Geomorfologia é o estudo das características das diferentes formações geológicas que
observamos na Terra: os rios, as montanhas, as planícies, as praias, os desertos, entre
muitas outras.
Figura 1 – Estrutura interna da Terra (adaptado de Justice, 19801983)
É na superfície da crosta terrestre que todos os seres vivos habitam. A vida na Terra
depende directamente dos minerais que a compõem, pois são estes que permitem a
existência das plantas, juntamente com a água e a energia solar. As plantas, por sua vez,
são a base da cadeia alimentar.
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É também através da geologia que se sabe onde procurar
jazidas de minerais e outros materiais necessários à nossa
tecnologia, como o ferro, o cobre, o ouro e até mesmo o
petróleo, o carvão e o gás natural. Esta ciência explicou-nos,
igualmente, o fenómeno dos terramotos, do vulcanismo, o
porquê dos diferentes tipos de rochas e solos, entre outras
coisas.
Figura 2 – Erupção vulcânica
(adaptado de Coelho, 1998)
AS ROCHAS
Existem basicamente três tipos de rochas, relativamente ao seu processo de formação: as
magmáticas, as sedimentares e as metamórficas. Uma rocha é uma mistura de diferentes
minerais. Um mineral, por sua vez, é um cristal formado por uma mistura de vários
elementos químicos (no caso do quartzo, resultado da união de um átomo de silicone e de
dois átomos de Oxigénio – dióxido de silicone) ou por um só elemento (no caso do ouro e do
cobre, por exemplo). Apesar dos minerais poderem existir em estado puro, é muito mais
comum estarem combinados uns com os outros formando rochas. Quase todos os
processos geológicos decorrem ao longo de milhões de anos, por isso não os podemos
observar em acção mas apenas observar os seus resultados. Algumas excepções são os
sismos e as erupções vulcânicas.
1. AS ROCHAS MAGMÁTICAS
Como o nome indica, as rochas magmáticas formam-se a partir do magma. Exemplos de
rochas magmáticas são o granito e o basalto. O granito é designado por rocha plutónica ou
intrusiva (por se formar no interior da Terra), enquanto que o basalto é designado de rocha
vulcânica ou extrusiva (por formar-se ao ser expelida do interior da Terra através dos
vulcões). Um modo de identificar o granito é através da sua resistência comparativamente a
outros tipos de rochas e pelo facto dos seus cristais constituintes se notarem a olho nú
(textura fanerítica). Sintra é precisamente um local onde se encontra muito granito. Porquê?
Figura 3 – Intrusão magmática vs extrusão
(vulcão) (adaptado de Press & Siever, 1994)
A Serra de Sintra deve a sua origem a um
fenómeno geológico denominado intrusão
magmática. E o que é uma “intrusão
magmática”? O manto terrestre é constituído
por magma que se encontra a grandes
temperaturas e, consequentemente, fundido.
Por ser menos denso, este material tende a
subir em direcção à crosta e até mesmo a
atravessá-la, dando origem aos vulcões. O
processo é análogo ao das bolhas na água a
ferver. Por vezes, o magma fica retido e não
alcança a superfície. Quando a profundidade
a que está retido relativamente à superfície da
Terra é de cerca de 3 a 15 km, o magma
acaba por arrefecer dando origem a rochas
plutónicas. No caso de Sintra formou-se,
principalmente, granito e sienito. É pelo facto
de esta massa de rochas plutónicas se ter
“encaixado” noutros tipos de rochas (no caso
de Sintra, formações jurássico-calcárias) que
se utiliza a designação intrusão. As
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movimentações tectónicas empurraram, muito lentamente (alguns milímetros por século!),
essa massa de granito em direcção à superfície e, ao mesmo tempo, as camadas de crosta
que se encontravam por cima foram sendo erodidas. Finalmente, alguns milhões de anos
depois, o granito começou a surgir à superfície, dando origem à serra. Foi assim que a Serra
de Sintra (ou Maciço Eruptivo de Sintra) se formou, no interior da crosta, há cerca de 80
milhões de anos, tendo o aspecto actual (granito/sieníto à superfície, rodeados pelos
terrenos mais antigos através dos quais abriu caminho) desde há cerca de 30 milhões de
anos! São seus contemporâneos os maciços intrusivos de Sines e de Monchique. A
formação destes três maciços encontra-se associada ao processo de abertura do Oceano
Atlântico Norte. Foi por esta altura que se deu a extinção dos dinossauros e de outros seres
vivos. Há cientistas que pensam que foi o aumento da actividade vulcânica mundial que se
estava a verificar que provocou essa extinção maciça. Outros há que pensam que tal se
deveu a um gigantesco meteorito, que embateu na Terra, alterando o ambiente e o clima a
ponto de provocar a extinção de inúmeras espécies. Por fim, existe outro grupo de cientistas
que pensam que este acontecimento se deveu a uma combinação de ambos os factores.
Figura 4 – Granito (in http://www.geo.umn.edu)
O granito, como já foi referido, é geralmente
uma rocha plutónica constituída por diversos
minerais facilmente visíveis, sendo os
principais o quartzo e o feldspato. Outros
minerais constituintes do granito são a
moscovite e a biotite (micas), por exemplo.
Esta rocha apresenta, geralmente, uma cor
acinzentada mas, conforme as proporções
dos minerais que a constituem, pode ter
também um tom rosado.
2. AS ROCHAS SEDIMENTARES
As rochas sedimentares resultam da acumulação e da
consolidação de sedimentos (resultantes da erosão de
outros tipos de rochas, incluindo rochas sedimentares) ou
de precipitação química.
O calcário é um exemplo de uma rocha sedimentar,
formado pela precipitação nos oceanos de carbonato de
cálcio (CaCO3) proveniente de restos de seres marinhos
microscópicos. Chegam-se a formar depósitos de centenas
de metros de espessura de calcário nos fundos marinhos
e, por vezes, devido a processos tectónicos que duram
milhões de anos, acabam por surgir à superfície. A Serra
da Arrábida é um exemplo de uma dessas formações
calcárias. Muitas vezes, a precipitação do calcário preserva
vestígios de animais ou plantas, sendo este um dos
processos de formação de fósseis.
Uma área significativa da península de Lisboa é constituída
por depósitos sedimentares formados no Jurássico e
Cretácico, emersos há cerca de 70 milhões de anos por
movimentações tectónicas, como a Serra de Monsanto, por
exemplo. Ao mesmo tempo que as movimentações
tectónicas elevavam esses sedimentos calcários, criaram
episódios de vulcanismo que “temperaram” Monsanto com
materiais basálticos.
Figura 5 – Ciclo das rochas
(adaptado de Coelho, 1998)
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A areia é um conjunto de partículas que têm origem na erosão de outras rochas, inclusive
outras rochas sedimentares. No caso da areia diz-se que é uma rocha sedimentar detrítica
móvel. Um exemplo de rocha sedimentar detrítica consolidada é, por exemplo, o arenito,
que é areia agregada por um cimento natural.
O solo é, em parte, o resultado de processos erosivos. Este tem origem na erosão de outras
rochas e na humificação (decomposição) de restos orgânicos. O solo formado a partir de
rochas basálticas tem excelentes qualidades agrícolas, devido à sua riqueza de minerais. A
zona de Lisboa tem solos deste tipo, daí a sua aptidão para as actividades agrícolas.
Apesar de a erosão ser necessária para criar o solo, também o pode destruir. Como vimos,
sem solo as plantas não sobrevivem e as plantas são a base da cadeia alimentar, logo o
suporte de quase toda a vida na Terra. Um modo de evitar a erosão dos solos é
precisamente através da protecção providenciada pelas plantas, que evitam que as terras
sejam arrastadas pelo vento e pela água da chuva e dos rios.
3. AS ROCHAS METAMÓRFICAS
As rochas metamórficas têm origem em rochas magmáticas e sedimentares que, sob
condições particulares de pressão e de temperatura, sofrem um metamorfismo, i.e., uma
mudança das suas propriedades, com recristalização e consequente alteração de textura e
de estrutura, originando novas rochas. Como exemplos temos a ardósia, o xisto e o
mármore. O próprio granito pode ter origem metamórfica mas esse não é o caso do granito
que encontramos em Sintra. Por fim, as rochas magmáticas podem dar origem a rochas
sedimentares e metamórficas e todas estas podem reverter ao magma, através dos
processos tectónicos.
INFLUÊNCIA DA GEOLOGIA DE SINTRA NO MEIO ENVOLVENTE
O maciço montanhoso de Sintra sobressai acima das plataformas calcárias que a intrusão
perfurou na sua ascensão através dessas camadas sedimentares. De facto, anteriormente à
formação da Serra, este local era uma zona litoral de terras baixas e planas, ocupada por
braços de mar e lagunas. As lamas destes fundos pantanosos formaram camadas
sedimentares que, por sua vez, num processo de petrificação que dura milhões de anos,
formaram as plataformas calcárias. Ao irromper, a Serra deformou essas plataformas. Foi
assim que rastos de dinossauros, previamente formados nessas lamas e preservados na
horizontal, durante a formação do calcário, aparecem hoje expostos em posições quase
verticais ou de grande inclinação, como é o caso na Praia Grande.
De certo modo, a Serra parece uma ilha verde no meio de uma paisagem mais plana,
menos arborizada e urbanizada (principalmente a Sul). E, provavelmente, já o foi. Existem
algumas evidências de tal ter acontecido entre 6 e 15 milhões de anos atrás, e de novo há
cerca de 2 milhões de anos. Para tal acontecer, o nível do mar nessas ocasiões tinha de ser
mais elevado que o actual (mudança eustática do nível do
mar) e/ou a elevação do próprio terreno teria que ser
menor. Na zona da Azóia e de Almoçageme existem
vestígios de praias situadas a mais de 170 m de altitude,
em relação ao nível actual do mar.
A exuberância da vegetação pode ser explicada pelo
clima típico da Serra, que por sua vez se deve ao seu
relevo, que intercepta a humidade proveniente do
Atlântico. Cria-se assim um microclima mediterrânico mas
de feição oceânica, com humidade quase subtropical. A
evapotranspiração gerada pela floresta ajuda a manter um
Figura 6 – Feteira da Rainha no
Parque da Pena (Foto: Joel
Canavilhas
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elevado nível de humidade. A protecção constante do solo providenciada pelas copas e pela
manta morta também contribui para uma temperatura e níveis de humidade no solo
adequados à diversidade de espécies encontradas. Criou-se, desta forma, uma espécie de
ciclo, em que a humidade vinda do oceano permite a existência de muita vegetação que, por
sua vez, mantêm as condições para a permanência de um nível quase constante de
humidade na Serra, o que vai beneficiar a manutenção do coberto vegetal.
Uma influência visível do relevo geológico na flora pode ser constatada nos locais mais altos
da Serra, como no Castelo dos Mouros. Pode-se ver que, conforme a altitude e o grau de
exposição aos elementos, as árvores crescem mais ou menos. Um efeito curioso é o das
copas das árvores que nasceram nos vales estarem ao quase ao mesmo nível das que
nascem nos locais mais elevados. O que se passa é que as árvores dos vales, para terem
acesso à luz, crescem muito rapidamente em altura, até atingirem um nível de exposição à
luz mais favorável. Por sua vez, as árvores que nasceram em locais mais elevados não só
não necessitam de crescer muito em altura porque já se encontram em locais de muita
luminosidade, como a própria exposição ao vento o torna mais difícil. Além disso, nos locais
mais altos e mais íngremes, a erosão sobrepõe-se à sedimentação, levando a que haja
menos solo disponível para uma árvore poder crescer com mais vigor.
Os microhabitats providenciados pelo relevo e pela variedade litológica explicam também a
elevada biodiversidade que a Serra apresenta, apesar da sua relativa pequena dimensão.
Uma característica das paisagens graníticas que contribui muito para a criação de
microhabitats é o caos de blocos. Os caos de blocos são o resultado da erosão do granito
durante milhões de anos. As variações de temperatura a que as rochas e a água nelas
infiltrada estão sujeitas com o passar do tempo e das estações vão provocando alterações
de volume que acabam por provocar fracturas e fendas. A essas fracturas chamam-se
diáclases. Com o tempo, as diáclases transformam um bloco de granito num aglomerado
de blocos menores, o caos de blocos. A vertente que se desenvolve do Castelo dos Mouros
até à Vila Velha de Sintra é um bom exemplo de caos de blocos.
Figura 7 – Caos de blocos (adaptado de Coelho, 1998)
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A bioerosão amplifica esse mecanismo. Trata-se da erosão provocada pelos seres vivos
durante a sua vida. Um bom exemplo são os líquenes que vão lentamente “corroendo” a
superfície das rochas onde crescem, abrindo caminho para as plantas se poderem fixar.
Com o tempo, cria-se uma camada de solo à superfície da rocha que permite a fixação de
plantas maiores e mais exigentes. Eventualmente, uma árvore poderá aí estabelecer-se e as
suas raízes irão forçar as fendas das rochas que lhe servem de suporte, até as fracturarem
completamente. De um modo resumido, é este um dos processos de formação de solo,
desde grandes rochas até uma camada de solo mais ou menos uniforme. São muitos os
locais no Castelo dos Mouros onde se podem encontrar vestígios de bioerosão. Um aspecto
muito importante a considerar é o de que a bioerosão não deve ser confundida com a
erosão provocada pelas actividades humanas. Regra geral, a bioerosão tende a criar solo. A
erosão de origem humana tende a fazer o oposto.
GEODIVERSIDADE
A abordagem tradicional à temática da Conservação da Natureza contempla
essencialmente, aspectos e preocupações relativos à Biodiversidade. Sem dúvida que esta
é uma vertente importante e crucial na óptica da Conservação da Natureza. Contudo esta
abordagem omite normalmente as questões relativas à Geodiversidade, esquecendo que
esta constitui o suporte para a Biodiversidade. A Geodiversidade consiste na variedade de
ambientes geológicos, fenómenos e processos activos que dão origem a paisagens, rochas,
minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na
terra. Neste contexto surgem associados outros conceitos tais como Geo-património, e os
valores que estão inerentes à Geodiversidade.
1. GEOPATRIMÓNIO
O conceito de Geopatrimónio abarca as vertentes geológicas e geomorfológicas do
património natural. Nele estão contidos formas e processos de evolução das rochas e do
relevo que testemunham a evolução da paisagem.
2. OS VALORES DA GEODIVERSIDADE
Valor Cultural e Estético
O valor cultural é atribuído pelo homem quando é reconhecida uma interdependência entre
o meio e o seu desenvolvimento cultural e/ou religioso e social. O valor estético é mais
subjectivo e a sua quantificação não é passível de ser atribuída. O valor estético associado
à Serra de Sintra serviu de inspiração a vários poetas, retratistas e pintores nacionais e
estrangeiros que referem a beleza da paisagem natural sintrense como se pode verificar no
excerto das Memórias Paroquiais de 1758, segundo as quais a Serra de Sintra se define
como um marco na Paisagem, “(...) compõe-se esta montanha de calhaus de imensa
grandeza, (...) sem ligadura, sustentados só no equilíbrio, principalmente os que estão na
eminência da Serra, onde se vêm vestígios da antiga fortificação dos Mouros” (Azevedo,
1982).
A Serra de Sintra tem também um valor cultural riquíssimo. São inúmeros os vestígios
arqueológicos em toda a Serra que evidenciam uma ocupação humana que vem desde a
proto-história até ao século XIX. A localização do Castelo dos Mouros e da própria vila de
Sintra foi condicionada pela morfologia da Serra, e desde tempos remotos que a Serra é
conotada como um local sagrado e religioso pelas várias culturas que por lá passaram até
aos dias de hoje. A simbiose entre o património natural, onde se inclui o geopatrimónio, e a
cultura humana é perfeita. Exemplo disso foi o desenvolvimento da cultura romântica no
século XIX na Serra de Sintra que teve como imaginário as paisagens criadas pelas formas
graníticas da Serra e culminou com a construção de uma “Paisagem Cultural” que foi
classificada em 1995 como Património Mundial pela UNESCO.
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Valor Económico
A Serra de Sintra pode ser abordada de duas perspectivas económicas diferentes. A
primeira virada para a exploração dos recursos geológicos através da industria
transformadora vocacionada para construção civil (exploração de rochas ornamentais e
extracção de saibro), e a segunda do ponto de vista da atractividade e potencialidade
turística no âmbito da qual encontramos a Parques de Sintra Monte da Lua S.A,. empresa
responsável pela gestão dos Parques Históricos de Sintra e outras empresas de eventos de
outdoor, restauração e hotelaria. Obviamente que quando falamos em exploração dos
recursos, quer seja do ponto de vista industrial, quer do ponto de vista turístico, podemos
estar a falar de uma possível ameaça, caso essa exploração não seja controlada, fiscalizada
e as capacidades de carga do meio não sejam previamente estabelecidas e cumpridas.
Valor Funcional
O valor funcional da geodiversidade pode ser encarado sob duas perspectivas:
- o valor da geodiversidade in situ, de carácter utilitário para o Homem, no suporte da
realização das mais variadas actividades humanas (por exemplo todas as
actividades turísticas implementadas na Serra de Sintra;
- o valor da geodiversidade enquanto substrato para a sustentação dos sistemas
físicos e ecológicos na superfície terrestre. Temos como exemplo na serra de Sintra
os “caos de blocos” que reúnem as condições ideais para a fixação dos vários casais
de aves de rapina existentes na Serra.
Valor Científico e Educativo
Não existem duvidas em relação ao valor cientifico e educativo associado à Serra de Sintra.
Neste âmbito podem mencionar-se as várias saídas de campo realizadas pelo ensino
Secundário e Superior, os vários artigos, trabalhos científicos e guias de campo produzidos
relacionados com a Serra, e todas as actividades de educação e sensibilização ambiental
levadas a cabo pelas várias entidades com responsabilidades neste território.
Valor Intrínseco
O valor intrínseco, de todos os valores já referidos, é o mais subjectivo de atribuir, uma vez
que engloba preceptivas filosóficas e religiosas. Contudo não é por acaso que a Serra de
Sintra é Património da Humanidade. O facto de ser um local de muita especificidade não
deixa ninguém indiferente. A nosso ver este valor, apesar de ser extremamente difícil de
quantificar, existe sempre. Quando andar a passear no campo, observe os diferentes tipos
de rochas que encontra, o tipo de solo que pisa, e pense nos processos de formação
envolvidos e no tempo que levou a criar estas diferentes paisagens de elementos. Leve um
guia de geologia consigo para mais facilmente identificar as diferentes rochas e minerais.
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GLOSSÁRIO
Basalto: A mais vulgar das rochas
magmáticas.
Os
seus
minerais
constituintes são a piroxena, a
plagiocláse e a olivina. Varia entre a
cor preta e o cinzento-escuro.
Cretácico: Nome dado ao período
geológico entre 144 e 66,4 milhões de
anos atrás.
Erosão: Desgaste contínuo das rochas
por acção do vento, da água, de
mudanças de temperatura ou da acção
de seres vivos (bioerosão) e respectivo
transporte
dos
materiais
daí
resultantes.
Eustática: Termo que se refere a
mudanças reais do nível do mar, a
nível global, por contraste a mudanças
locais devidas a movimentações
verticais de uma massa de terra.
Fanerítica:
Textura
de
rochas
eruptivas, holocristalina, em que todos
ou quase todos os cristais, pelas
dimensões, são visíveis a olho nu.
Feldspatos: Um grupo de minerais
característicos das rochas magmáticas
ácidas.
Fósseis: vestígios de seres vivos há
muito
mortos
e
conservados,
principalmente,
em
rochas
sedimentares. Através destes é
possível investigar a evolução dos
seres vivos ao longo do tempo e as
suas condições de vida na altura da
fossilização. Também tornam possível
ficar a saber as condições ambientais
dominantes durante a formação
desses sedimentos. Se no alto de uma
montanha aparecer um fóssil de um
animal marinho, isso implica que os
sedimentos e rochas que constituem a
montanha formaram-se debaixo do
mar.
Figura 8 – Movimentação dos continentes nos últimos 200
milhões de anos (adaptado de Lambert, 1980-1982)
Geomorfologia: Ciência que estuda a
morfologia da superfície terrestre e a
sua origem, evolução e os processos
envolvidos.
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Humificação: formação de compostos
orgânicos no solo a partir dos restos
orgânicos dos seres vivos.
Jurássico: Nome dado ao período
geológico entre 208 e 144 milhões de
anos atrás.
Magma: ver Manto.
Manto: Camada do interior da Terra
que se segue à Crosta. O material
que o constitui está fundido, devido
às altas pressões e temperaturas.
Esse material fundido por vezes
atravessa a crosta, dando origem ao
magma que é expelido pelos vulcões
e às intrusões magmáticas.
Micas: Minerais em forma de lâmina,
brilhantes,
que
facilmente
se
separam umas das outras.
Microclima: Características climáticas
relativamente constantes numa área
relativamente
pequena
e
que
contrasta com os padrões climáticos
da região circundante.
Período: No contexto geológico,
corresponde à unidade básica de
tempo, em que sistemas específicos
de rochas se formaram.
Quartzo: mineral constituído por silica
(SiO2).
Tectónica: ramo da Geologia que
estuda a deformação da crosta
terrestre e das forças que a
provocam
Textura: a textura fanerítica diz-se
das rochas em que os minerais são
Figura 9 – Escala Geológica (adaptado de Ferreira & Vieira,
facilmente identificáveis a olho nú. O
1999)
oposto é textura afanítica, como no
caso do basalto. A textura pode ser
ainda vítrea, onde o arrefecimento e a solidificação é tão rápida que os minerais não se
chegam a individualizar, como no caso da obsidiana.
Recristalização: neste contexto, é a reorganização da estrutura espacial das ligações entre
os átomos constituintes dos cristais ou a formação de novos cristais, devido a processos
metamórficos. Um bom exemplo é a grafite, um mineral resultante do metamorfismo de
sedimentos ricos em Carbono (a grafite também pode ter origem magmática).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Locais de interesse Geológico e Geomorfológico - Parque Natural da Serra da Estrela.
S.G.F. – Criação e Comunicação Gráfica, L.da., 112 p. Lisboa.
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15
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