Apresentação da Série Liber Ludus do Núcleo Permanente

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Apresentação da Série Liber Ludus do Núcleo Permanente de Criação de Material
Didático
Introdução
Trata-se da produção de material paradidático a ser utilizado no ensino de filosofia no Ensino
Médio. A série Liber Ludus consiste na elaboração de livros que tratam das principais
questões do pensamento filosófico. O diferencial desses livros é que eles contêm jogos,
filmes, etc. que visam propiciar a experiência do exercício próprio da Filosofia, que é
fundamentalmente um exercício de interpretação: seja da realidade, seja do texto filosófico,
etc. No presente trabalho estaremos apresentando um dos produtos finais dessa série, cujo
resultado parcial foi apresentado no SUDESTEPET de 2011 e o projeto de implantação do
núcleo de criação desse tipo de material no ENAPET do mesmo ano. Trata-se da finalização
do livro: Peripathos: jogando com a filosofia de Platão.
Objetivos
Responder uma demanda de material paradidático que auxilie o professor do Ensino Médio de
filosofia, visando introduzir o estudo da filosofia através da experiência que lhe é mais
própria, ou seja, a da interpretação.
Metodologia
Integrando ensino, pesquisa e extensão o Núcleo Permanente de Criação de Material
Didático do Grupo PET Filosofia da UFSJ promove a integração de diferentes procedimentos
metodológicos sejam eles pertinentes: 1- a pesquisa científica que envolve: levantamento
bibliográfico; elaboração de fichamentos; criação de um glossário de termos específicos do
autor trabalhado. Trata-se também, dentro da pesquisa investigar novas tecnologias a serem
aplicadas ao ensino de Filosofia. Quanto às atividades norteadas pela perspectiva da arte e de
suas técnicas, busca-se o desenvolvimento de ilustrações (desenhos tradicionais e animações
gráficas) igualmente voltadas para o ensino de filosofia; 2- ao ensino que implica
desenvolvimento do plano de ação pedagógica no qual são descritos os objetivos a serem
alcançados com os jogos, o tipo de linguagem a ser utilizada (seja na análise da obra do autor
que deverá dar origem ao jogo e que deverá integrar o livro do professor; seja na exposição e
explicação do pensamento desse mesmo autor) ; 3- a extensão que implica em uma série de
oficinas/laboratórios envolvendo professores e alunos do ensino médio e, também, no diálogo
contínuo com os professores do ensino médio visando o aperfeiçoamento do material
produzido – professores que deverão atuar como parceiros nessa produção. Nesses
laboratórios os petianos elaboram aulas (subsidiadas pelas lições que compõem o livro) e,
como processo avaliativo, eles jogam com turmas de filosofia do curso de graduação e do
Ensino Médio e com o PIBD do curso de filosofia.
Resultados e Discussão
O principal resultado do Núcleo Permanente de Criação de Material Didático foi a concepção
da série Liber Ludus, cujo primeiro produto é o livro Peripathos: jogando com a filosofia de
Platão. A discussão que se impõe para nós é a de que o jogo não é apenas um recurso para o
ensino de Filosofia, mas se mostra como um método capaz de promover o exercício do
próprio fazer filosófico – que é o da interpretação. Azanha na sua introdução ao livro
Reflexões sobre a Educação de Émile Chartier Alain, intitulada Alain e a Pedagogia da
Dificuldade, criticamente nos alerta para o perigo da utilização de jogos e brincadeiras como
modos de ensino porque esses tipos de atividades podem “apresentar como fácil algo que é
difícil” (1978, XVIII). Contudo, ao propormos o jogo como método de ensino (enquanto tal
método revela o que existe de mais próprio no exercício de interpretação filosófica, tomando
como base as concepções de Heidegger e Gadamer) e, a partir desse método implantar a
criação de materiais didáticos que assumam o formato de um liber ludus, não nos é dado
perder de vista a dificuldade implícita no exercício de leitura e interpretação filosófica. Tratase apenas de um exercício de leitura que permita uma lida mais dinâmica com o texto
filosófico, uma lida na qual se evidencie para o aluno o próprio exercício de interpretação. É
trazer para a leitura o rigor inerente ao exercício filosófico. Rigor que não se confunde com “o
espírito de gravidade”(2011, p. 59.) que, segundo Nietzsche é “a causa pela qual todas as
coisas caem” (2011, p. 59.) Ele nos diz: “não é com a ira que se mata, mas com o riso. Eia,
pois, vamos matar o espírito de gravidade!” (2011, p. 59.) Espírito que nos faz acreditar que
para tudo existe um método já previamente estabelecido; que tudo deve ser sério, profundo,
solene. Método, solenidade e profundidade que devem regular a nossa relação com a vida. Em
relação a esse espírito, só nos resta rir. Pois, onde já se viu tamanha solenidade com a vida?
Mesmo nos aplicando metodicamente a aprender a dançar ou a estudar Filosofia, ou seja lá o
que for, quantas vezes já não perdemos o compasso ou não conseguimos compreender o texto
estudado? Porque, de fato, viver é arriscar-se, é expor-se “é fazer, é um faz, nunca um fez1”.
Daí a maior dificuldade de se ensinar Filosofia porque não existe método prévio para se
ensinar aquilo que se deve experienciar.
1
Referência ao poema de João Cabral de Melo Neto Uma Bailadora Sevilhana, que diz: “Como e por que sou
bailadora? / Quando era menina e moça / Tinha comprida cabeleira / que me vinha até as cadeiras. / Me diziam:
com essas tranças não pode não votar-se à dança. / Então, me ensinam a dançar. / Sou? O que não pude
decorar. / Vendo famosa Bailadora: / ei-la apagada, quase mocha. / Não te agrada F... de Tal, / Que todo dia sai
no jornal? / Não gosto: dança repetido; / dança sem se expor, sem perigo; / dançar flamenco é cada vez; / é fazer;
é um faz, nunca um fez” (1985, p. 60.)
Conclusão
Enquanto método, 'caminho' para o filosofar, o jogo deve conduzir-nos para a proximidade do
próprio pensamento – isto é, para a proximidade de nossa própria existência. – E isso porque
o pensar se refere, primeira e fundamentalmente, à atividade na qual colocamos em questão a
própria natureza do ser, que nós mesmos somos. Tradicionalmente, o objeto do pensar se
mostra como o real; sendo assim, o fato inegável é que nós fazemos parte deste real. Portanto,
quando o homem, no exercício do pensar, se pergunta sobre o real – sobre o ser dos homens e
das coisas – ele se pergunta, fundamentalmente, sobre si mesmo, a partir de si mesmo.
Pergunta-se sobre o ser, que o constitui nisto que ele é, a partir deste (mesmo) ser. A pergunta
é intestina, visceral. Por isto não existe uma introdução possível à atividade de pensar. Não há
introdução porque já estamos sempre 'dentro' do pensar. E é precisamente desta intimidade,
desta familiaridade que advém o perigo e insegurança daquele que se dispõe a pensar. O
perigo e a insegurança vêm do risco de nos desviarmos em função da familiaridade do
caminho. O familiar nos remete para a proximidade das nossas origens, proximidade que nos
entorpece à medida que não nos deixa ver com clareza isto que somos - proximidade que,
dessa forma, impõe distância aquilo que existe de fundamental para o pensamento. É essa a
insegurança presente no jogo do pensamento que queremos assumir quando nos dispomos,
por exemplo, a jogar com o pensamento de Platão.
Referências
AZANHA, José Mário Pires. Alain ou a pedagogia da dificuldade. Rev. Fac. Educ.. São
Paulo. 1978.
NETO, João Cabral de Melo, Agrestes. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém.
Petrópolis: Editora Vozes, 2011.
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