ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3794-32322-1-ED.0711201307 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. Câncer de próstata: caracterização dos usuários… ARTIGO ORIGINAL CÂNCER DE PRÓSTATA: CARACTERIZAÇÃO DOS USUÁRIOS DE UM SERVIÇO DE ONCOLOGIA PROSTATE CANCER: CHARACTERIZATION OF USERS OF A SERVICE OF ONCOLOGY CÁNCER DE PRÓSTATA: CARACTERIZACIÓN DE LOS USUARIOS DE UN SERVICIO DE ONCOLOGÍA Josiele de Lima Neves¹, Eda Schwartz², Juliana Graciela Vestena Zillmer³, Lílian Moura de Lima 4, Aline Machado Feijó5, Bianca Pozza dos Santos6 RESUMO Objetivo: caracterizar o perfil sociodemográfico dos homens com câncer de próstata, as co-morbidades e fatores de risco associados ao seu diagnóstico. Método: estudo epidemiológico, com abordagem descritiva, realizado com um questionário em um serviço de oncologia de um hospital de ensino no sul do Brasil. A amostra foi constituída por 19 homens com câncer de próstata. O banco de dados foi construído no programa Epi-info 6.04 e a análise estatística no software Stata 9.1. O estudo teve o projeto de pesquisa aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa, Protocolo 2008/23. Resultados: a totalidade da amostra era de cor branca, baixa escolaridade, da área rural, viviam com companheira, com religião, com boa situação de saúde, majoritariamente idosos, baixa ocorrência de hereditariedade para câncer de próstata, a co-morbidade de maior frequência foi a hipertensão arterial. Conclusão: discussões que envolvem a população masculina acometida pelo câncer vêm sendo analisadas nos últimos anos ainda de forma incipiente. Descritores: Neoplasias da Próstata; Oncologia; Enfermagem Oncológica. ABSTRACT Objective: to characterize the socio-demographic profile of men with prostate cancer, comorbidities and risk factors associated with their diagnosis. Method: an epidemiological study, with descriptive approach, conducted with a questionnaire in an oncology service of a teaching hospital in southern Brazil. The sample consisted of 19 men with prostate cancer. The database was built using Epi-Info 6.04 and the statistical analysis in Stata 9.1. The study had the research project approved by the Ethics Committee in Research, Protocol 2008/23. Results: the totality was white, with low education, from rural area, living with a partner, with religion, with good health status, mostly elderly, low occurrence of heredity for prostate cancer, comorbidity most frequent was hypertension. Conclusion: discussions involving the male population affected by cancer have been analyzed in last years was still incipient. Descriptors: Prostate Neoplasia; Oncology; Oncology Nursing. RESUMEN Objetivo: caracterizar el perfil socio-demográfico de los hombres con cáncer de próstata, las comorbilidades y factores de riesgo asociados con el diagnóstico. Metodología: estudio epidemiológico, con enfoque descriptivo, realizado con un cuestionario en una unidad de oncología de un hospital universitario en el sur de Brasil. La muestra consistió en 19 hombres con cáncer de próstata. La base de datos ha sido desarrollada usando el programa Epi-Info 6.04 y el análisis estadístico en el software Stata 9.1. El estudio tuvo el proyecto de investigación aprobado por el Comité de Ética en Investigación, Protocolo 2008/23. Resultado: la totalidad de la muestra consistió de color blanco, bajo nivel educativo, zona rural, viviendo con una pareja, con religión, con buen estado de salud, en su mayoría ancianos, baja incidencia de la herencia del cáncer de próstata, la comorbilidad más frecuente fue la hipertensión. Conclusión: las discusiones que involucran la población masculina afectada por el cáncer han sido analizadas en los últimos años, aún incipientes. Descriptores: Neoplasias de la Próstata; Oncología; Enfermería Oncológica. ¹Enfermeira, Hospital de Cardiologia, Aluna especial da disciplina Saúde da Família, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas/UFPel. Pelotas (RS), Brasil. E-mail: [email protected]; ²Enfermeira, Professora Doutora Faculdade de Enfermagem / Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas/UFPel. Pelotas (RS), Brasil. E-mail: [email protected]; ³Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Doutoranda em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Mestre em Ciências da Saúde. Pelotas (RS), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeira, Hemocentro Regional de Pelotas/HEMOPel, Mestre em Enfermagem, Doutoranda em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas/UFPel. Pelotas (RS), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Enfermeira, Mestranda em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas/UFPEL. Pelotas (RS), Brasil. E-mail: [email protected] Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(11):6360-7, nov., 2013 6360 ISSN: 1981-8963 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. INTRODUÇÃO O Câncer (CA) é considerado um problema de saúde pública no Brasil e no mundo, devido à sua incidência nas últimas décadas, fato que pode estar condicionado à elevação da expectativa de vida e demarcado pela mudança no comportamento das sociedades, assim como, às atuais facilidades de registros e métodos de divulgação de dados epidemiológicos.1 Constata-se que no Brasil a neoplasia de próstata é a mais frequente entre os homens, perdendo apenas para o CA de pele não melanoma.² A estimativa da incidência para o câncer de próstata no Brasil, em 2010, foi de 52.350 casos, o que corresponde a um risco estimado de 54 casos novos a cada 100 mil homens. Apesar desta apresentar, em geral, baixa malignidade, em virtude de sua evolução lenta e silenciosa, favorece uma despreocupação dos homens na busca dos serviços de rastreamento e prevenção, retardando o diagnóstico e elevando a gravidade dos casos.3 Um estudo realizado na cidade de Butucatu/SP identificou as características demográficas e epidemiológicas de homens com câncer de próstata, demonstrou que a maioria deles, procura o serviço de saúde quando apresentam sintomas da doença. Atribuiu-se a este fato o desconhecimento destes indivíduos sobre a incidência, a prevalência e a idade, como fatores de risco para o câncer de próstata.4 Além disto, temse a insuficiência de serviços de urologia na rede pública de saúde, que somados a dificuldade dos serviços de lidarem com as demandas do sexo masculino, são fatores que podem fortalecer a resistência dos homens à prevenção do câncer de próstata, o que pode estar condicionado a um aumento da incidência desta patologia.5 Caracterizar o perfil dos homens com este tipo de câncer é uma maneira de conhecer seu comportamento e seus hábitos de prevenção e cuidado com a saúde. O desenvolvimento do câncer de próstata expressa como é a relação do homem com o serviço de saúde, sendo contrastante em relação às mulheres na prevenção do câncer de colo uterino, o que remete a necessidade da realização de ações preventivas 6 relacionadas à saúde do homem. Dessa forma, entende-se que conhecer o perfil do homem com câncer de próstata, é uma ferramenta gerencial importante, que favorecerá o aprimoramento de ações preventivas e de promoção da saúde destes indivíduos. Elegeu-se como objetivo deste Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(11):6360-7, nov., 2013 DOI: 10.5205/reuol.3794-32322-1-ED.0711201307 Câncer de próstata: caracterização dos usuários… estudo caracterizar o perfil sócio-demográfico dos homens com câncer de próstata, as comorbidades e fatores de risco associados ao seu diagnóstico. MÉTODO Manuscrito elaborado a partir da monografia << Caracterização dos Homens com Câncer de Próstata de um Serviço de Oncologia no Município de Pelotas/RS >>, apresentado à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas/UFPel. 20010. Estudo epidemiológico, com abordagem descritiva, vinculado à Pesquisa: Os clientes oncológicos, suas famílias e os sistemas de cuidado nas condições crônicas. A coleta de dados foi realizada em um serviço de oncologia de um hospital de ensino no sul do Brasil, no período compreendido entre março e julho de 2010. A amostra deste estudo foi extraída do total de sujeitos entrevistados na pesquisa maior, sendo composta pelos homens com câncer de próstata que realizaram quimioterapia ou hormonioterapia, no referido serviço e período de coleta de dados. Estes indivíduos responderam a um questionário estruturado, previamente codificado e aplicado por entrevistadores capacitados. Os critérios de inclusão foram: ser do sexo masculino e possuir diagnóstico de câncer de próstata; conhecer seu diagnóstico e estar realizando tratamento de quimioterapia e/ou hormonioterapia no serviço de oncologia; ter idade igual ou superior a 18 anos e concordar em participar do estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As variáveis independentes utilizadas no estudo foram constituídas por: cor/raça (branca, preta, parda, amarela, indígena); escolaridade (anos completos de estudo); procedência (rural ou urbana); vive com companheiro(a) (sim/não); religião (não possui/possui); Situação geral de saúde (regular, boa, ótima); situação comparada há um ano (pior, igual, melhor); situação comparada a outras pessoas da mesma idade (pior, igual, melhor, ignora); fatores de risco: faixa etária (51 a 60 anos, 61 a 70 anos, 71 a 80 anos e mais de 80 anos), antecedentes familiares com câncer (sim/não); presença de co-morbidades: cardiopatias (sim/não), diabetes mellitus (sim/não), hipertensão arterial sistêmica (sim/não) e outros problemas de saúde (sim/não); Exame de toque: conhece (sim/não), realizou (sim/não); tempo do último exame (em anos); motivo (indicação profissional, indicação familiares, 6361 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3794-32322-1-ED.0711201307 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. automotivação, influência da mídia); Exame PSA: realizou (sim/não); motivo (indicação profissional, indicação familiares, automotivação, influência da mídia); Os questionários foram codificados pelos entrevistadores e posteriormente digitados no programa Epi-info 6.04, respeitando dupla digitação e pareamento dos bancos de dados para verificação de possíveis erros, corrigidos posteriormente. Foi realizado o controle de qualidade e a análise estatística, com distribuição de frequência e média neste mesmo programa. Câncer de próstata: caracterização dos usuários… apreciação no Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Católica de Pelotas, com parecer favorável sob número 2008/23. Todos os participantes assinaram o TCLE. RESULTADOS A amostra foi constituída por 19 homens com diagnóstico de CA de próstata em tratamento quimioterápico e/ou por hormonioterapia. Na Tabela 1 está disposta a distribuição de frequência das características sócio-demográficas destes indivíduos. Foram respeitados os preceitos éticos de acordo com a Resolução do COFEN n° 311/2007 e a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O estudo passou por Tabela 1. Distribuição da amostra dos pacientes oncológicos com câncer de próstata segundo características sociodemográficas. Pelotas, RS, UFPel, 2010 Características sociodemográficas Escolaridade Sem escolaridade 1 a 4 anos 5 a 8 anos 13 anos ou mais Procedência Rural Urbana Situação conjugal Com companheiro Sem companheiro Religião Não possui Possui n (19) % 3 7 7 1 15,79 36,84 36,84 5,26 12 7 63,16 36,84 15 04 78,95 21,05 3 16 15,79 84,21 Fonte: Banco de dados da pesquisa “Os clientes oncológicos e suas famílias e sistemas de cuidado nas condições crônicas”, Pelotas, 2010 Quanto à cor da pele, 100% dos indivíduos enquadraram-se na categoria branca (N=19), sendo a média de idade de 71,8 anos (DP=8,1), variando entre 57 e 85 anos. Percebe-se que a escolaridade concentrou-se entre os oito anos do ensino fundamental, com distribuição igualitária de 36,84%, entre as categorias de 1 a 4 anos e 5 a 8 anos de estudo. Houve predomínio entre os procedentes da zona rural com 63,2% (N=12) dos entrevistados, assim como, em relação à situação conjugal e religiosidade, nestas Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(11):6360-7, nov., 2013 categorias, 78,9% (N=15) referiram viver com companheira e 84,2% (N=16) relataram possuir religião. Na Tabela 2 estão apresentados os dados referentes à autopercepção de saúde, sendo 52,63% (N=10) consideram ter uma saúde regular, 47,37% (N=9) afirmam estar com uma saúde melhor do que o ano anterior e quando comparada a outras pessoas da mesma idade 63,16% (N=12) dizem estar com uma melhor saúde. 6362 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3794-32322-1-ED.0711201307 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. Câncer de próstata: caracterização dos usuários… Tabela 2. Distribuição da amostra dos pacientes com câncer de próstata conforme autopercepção de saúde. Pelotas, RS, UFPel, 2010 Situação de saúde n (19) % Situação geral Regular 10 52,63 Boa 6 31.58 Ótima 3 15,79 Situação comparada com 1 ano Pior 5 26,32 Igual 5 26,32 Melhor 9 47,37 Situação comparada a outras pessoas da mesma idade Pior 2 10,53 Igual 2 10,53 Melhor 12 63,16 Ignora 3 15,79 Fonte: Banco de dados da pesquisa “Os clientes oncológicos e suas famílias e sistemas de cuidado nas condições crônicas”, Pelotas, 2010 Na Tabela 3, são apresenta os fatores considerados como risco para o desenvolvimento de CA de próstata. Nota-se predomínio dos entrevistados na faixa etária de 71-80 anos com 57,9% (N=11) e a hereditariedade referida, apresentou uma ocorrência de 15,8% (N=3) dos casos. Tabela 3. Distribuição da amostra dos pacientes com câncer de próstata de acordo com os fatores de risco para o adoecimento. Pelotas, RS, UFPel, 2010 Fatores de risco Idade 51 - 60 anos 61 - 70 anos 71 - 80 anos > 81 anos Hereditariedade Sim Não n(19) % 3 3 11 2 15,79 15,79 57,89 10,53 3 16 15,79 84,21 Fonte: Banco de dados da pesquisa “Os clientes oncológicos e suas famílias e sistemas de cuidado nas condições crônicas”, Pelotas, 2010 A Tabela 4 contém as informações referentes à presença de co-morbidades autoreferidas entre os entrevistados. Verifica-se que a hipertensão arterial frequência de 52,6% (N=10) entrevistados. apresenta entre os Tabela 4. Distribuição da amostra dos pacientes com câncer de próstata segundo co-morbidades auto-referidas associadas. Pelotas, RS, UFPel, 2010. Co-morbidades n(19) % Cardiopatias Sim 4 21,05 Não 15 78,95 3 16 15,79 84,21 Sim 10 52,63 Não 9 47,37 6 13 31,56 68,42 Diabetes mellitus Sim Não Hipertensão arterial Outras Sim Não Fonte: Banco de dados da pesquisa “Os clientes oncológicos e suas famílias e sistemas de cuidado nas condições crônicas”, Pelotas, 2010 A Tabela 5 apresenta dados relacionados à realização de exames de toque e PSA, além dos motivos pelo quais os homens com câncer de próstata realizaram estes exames. Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(11):6360-7, nov., 2013 6363 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3794-32322-1-ED.0711201307 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. Câncer de próstata: caracterização dos usuários… Tabela 5. Distribuição da amostra dos pacientes com câncer de próstata segundo realização de exames preventivos. Pelotas, RS. UFPel, 2010. Exames preventivos Conhece o exame de toque Sim Não Realização do exame de toque Sim Não Tempo do último exame de toque < de 1 ano 1 – 4 anos 5 – 10 anos Motivo da realização do exame de toque Indicação do profissional de saúde Indicação de familiares Automotivação Influência da mídia Motivo da realização do PSA Indicação do profissional de saúde Indicação de familiares Automotivação Influência da mídia n(19 % 18 1 94,74 5,26 17 2 84,47 10,52 3 6 8 15,79 31,58 42,11 12 2 2 1 63,16 10,53 10,53 5,26 15 2 1 1 78,95 10,53 5,26 5,26 Fonte: Banco de dados da pesquisa “Os clientes oncológicos e suas famílias e sistemas de cuidado nas condições crônicas”, Pelotas, 2010 Sobre o exame de toque, 94,74% (N=18) afirmaram conhecer, 84,47% (N=17) já o realizaram, 42,11% (N=8) se submeteram ao último exame de toque entre 5 e 10 anos, 63,16% (N=12) afirmaram ter realizado o exame por indicação de um profissional de saúde. No que se refere à realização do PSA, 100% dos entrevistados referiram ter realizado, sendo 78,95% (N=15) sob indicação de um profissional de saúde. DISCUSSÃO Na amostra estudada, observou-se que a totalidade dos entrevistados constituiu-se por indivíduos da cor branca. Em contrapartida, há relatos de que os negros morrem por câncer de próstata de 2 à 3 vezes mais quando comparados aos de cor branca, porém não há razões conhecidas para esta diferença, apenas evidências indicando uma maior porcentagem de lipídios bioativos no sistema biológico dos negros, o que sugere que estes consomem uma taxa mais alta de gordura.7 evidenciado por pesquisadores de uma Universidade de Botucatuva/SP que investigaram homens acometidos por CA de próstata, dentre os quais 78 (28,57%) referiram ser alfabetizados, sendo 50% destes com ensino fundamental incompleto.9 A desinformação atinge com maior intensidade a população masculina com baixo nível de escolaridade e de poder 10 socioeconômico. O que é confirmado por pesquisa realizada na cidade de São Paulo, que contou com 25 colaboradores, dos quais 36% possuíam ensino médio completo. Obtevese que 40% da amostra não possuíam nenhum conhecimento sobre o câncer de próstata, enquanto que nenhum participante afirmou possuir conhecimento suficiente sobre a doença.11 Em estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro, com 258 homens em tratamento para o câncer de próstata identificou-se que a cor da pele não influencia na sobrevida para este tipo de câncer, porém prevaleceu um comportamento biológico mais agressivo em tumores de indivíduos com a cor da pele branca quando comparado com tumores encontrados em negros e pardos.8 Outra questão relevante no que tange a realização de educação em saúde está relacionada à acessibilidade aos serviços de saúde que tem relação com a procedência dos usuários. Neste estudo foram predominantemente advindos da zona rural. Esta população.12 enfrenta barreiras em função da menor disponibilidade de serviços, particularmente em áreas esparsamente povoadas. Além das grandes distâncias a serem percorridas, das dificuldades de transporte e da baixa renda, fatores que, associados, reduzem a utilização de serviços de saúde por esta clientela. Em relação à compreensão do indivíduo sobre o seu processo de adoecimento e tratamento, observa-se que há uma relação direta com o grau de escolaridade, aqueles com menor nível de escolaridade demandam maiores estratégias educativas, voltadas ao esclarecimento e à adesão ao tratamento. Os achados desta pesquisa vão ao encontro do Quanto ao estado civil verifica-se que os achados desta pesquisa vão ao encontro do identificado em estudo realizado no estado de São Paulo, com 78 homens acometidos por CA de próstata, no qual houve predominância de indivíduos casados (80%).9 Uma doença grave, como o câncer causa alterações significativas no cotidiano do casal, dos membros envolvidos Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(11):6360-7, nov., 2013 6364 ISSN: 1981-8963 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. no contexto familiar e até nas relações sociais do doente.13 De maneira geral, os indivíduos que enfrentam um adoecimento grave, como o câncer, procuram na fé uma alternativa de apoio espiritual, sendo a religião presente na vida da maior parte dos participantes deste estudo. O fato de possuir uma religião favorece o lidar com a doença e o tratamento, sendo um incentivo à busca da cura.14 Partindo-se do pressuposto de que a terapia antineoplásica afeta a autoestima e a qualidade de vida dos pacientes oncológicos, uma pesquisa foi desenvolvida na cidade de São Luís/MA, com uma amostra de 100 pacientes. Destes, 45% consideravam-se irritados e 50% ansiosos, estes resultados revelam o quanto é importante que a equipe multiprofissional realize cuidados humanizados, de forma a contribuir para a melhora do estado de saúde dos pacientes oncológicos.15 Estes pacientes tendem a aprofundar os conhecimentos sobre seu estado de saúde no decorrer do tratamento e ir adequando a autopercepção sobre sua saúde. Os homens entrevistados neste estudo consideraram que houve uma melhora na condição de saúde, que pode estar condicionada à terapêutica utilizada para o tratamento.16 A maioria dos fatores de risco para o CA de próstata é desconhecida, porém há um elevado número de casos em homens com história de pai ou irmão com este CA e com idade superior a 50 anos.17 Observou-se que o risco de desenvolver CA de próstata aumenta de 2,2 vezes quando acomete um parente de primeiro grau (pai ou irmão); 4,9 vezes quando dois parentes de primeiro grau possuem a doença e de 10,9 vezes quando três parentes de primeiro grau são acometidos.18 Com base no exposto acima se considera que os antecedentes familiares e a faixa etária dos homens podem ser considerados como fatores de risco para o desenvolvimento de CA de próstata. A amostra deste estudo foi constituída por indivíduos majoritariamente idosos, entretanto apenas uma porcentagem reduzida referiu possuir familiares com história prévia de CA de próstata. Além disso, sabendo-se que o envelhecimento predispõe ao aparecimento das doenças crônicas, esperava-se obter resultados elevados para as patologias crônicas concomitantes ao CA, tais como, o diabetes melittus, a hipertensão arterial e as doenças coronarianas, em contrapartida, houve baixo número de indivíduos portadores de outras cronicidades.19 Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(11):6360-7, nov., 2013 DOI: 10.5205/reuol.3794-32322-1-ED.0711201307 Câncer de próstata: caracterização dos usuários… O aumento da mortalidade por CA de próstata vem ocorrendo em paralelo à elevação da prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil e em todo o mundo. Em estudo realizado na cidade no Ceará, observou-se que ao analisar os riscos de 220 homens com diagnóstico de CA de próstata, para desenvolver doenças crônicas, através da distribuição de gordura corporal, 61,8% tiveram um risco aumentado ou alto risco.20 Um estudo realizado no município de Juiz de Fora – MG, contou com a participação de 160 homens com idade entre 50 e 80 anos, revelando que 97,5% já ouviram falar sobre o CA de próstata, sendo a imprensa o principal veículo de informação (33,8%), seguido pelas conversas com amigos (33,1%). Além disso, 65,7% deles referiram conhecer algum exame de detecção do câncer de próstata, 20% conheciam apenas o toque retal, 43,8% apenas o exame PSA e 36,2% conheciam ambos.21 Observa-se que todos os participantes desta pesquisa realizaram o PSA, entretanto nem todos haviam realizado o exame de toque, embora já estivessem em tratamento. Acredita-se que o custo, a falta de conhecimento, a sintomatologia e os fatores culturais podem influenciar negativamente a procura pelos serviços de saúde, assim como, o estímulo da mídia pode favorecer as práticas de saúde.18 Com o propósito de ampliar e facilitar o acesso dos homens aos serviços de saúde foi desenvolvida a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, que prioriza a captação precoce da população masculina nas atividades de prevenção primária relativa às doenças cardiovasculares e cânceres. Destacase a ampliação em 20% ao ano no número de ultrassonografias de próstata para prevenção e diagnóstico de tumores malignos. A política de saúde do homem pretende organizar campanhas anuais e distribuir cartilhas sobre o diagnóstico, o tratamento do câncer e a promoção de hábitos saudáveis.22 CONCLUSÃO Destaca-se que a incidência do CA de próstata vem aumentando no decorrer dos anos, fato que pode estar relacionado ao envelhecimento da população, assim como às melhorias alcançadas com os registros na área da oncologia. No Brasil, foi implantada a Política Nacional de Saúde do Homem, que pretende melhorar a qualidade de atendimento preventivo aos homens, esperase que esta política ofereça condições de rastreamento para os homens com risco de desenvolver o câncer prostático e ajude a diminuir a incidência deste tipo de câncer. 6365 ISSN: 1981-8963 Neves JL, Schwartz E, Zillmer JGV et al. Identificamos, através desta amostra, que todos os pacientes com câncer prostático são de cor branca, com baixa escolaridade, provenientes da área rural, a maioria dos homens possui companheira, possuem religião, os homens consideram-se com uma boa situação de saúde, a amostra é constituída por indivíduos majoritariamente idosos. Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata, os dados do estudo evidenciaram que a elevada idade dos homens é um risco para o câncer de próstata, condizendo com os achados na literatura, já a hereditariedade não se caracterizou como fator de risco na amostra. A co-morbidade auto-referida associada ao câncer de próstata com maior frequência é a hipertensão, verificou-se ainda que a maioria já realizaram exames preventivos. Verificou-se, através desta amostra, que as características da população dos homens com este tipo de câncer necessitam de uma abordagem interdisciplinar coerente com a realidade da população. Percebemos que a amostra deste estudo foi pequena, limitando assim tirar conclusões sobre esta temática, tendo como base apenas este estudo. Ao realizar o levantamento bibliográfico para discorrer sobre o CA de próstata constatou-se reduzido número de estudos que abordassem o assunto, desse modo, ressaltase a relevância de desenvolver estudos acerca da temática, a fim de caracterizar a população e oferecer subsídios para a elaboração de estratégias para a assistência especializada a estes sujeitos. REFERÊNCIAS 1. Brasil, Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Situação do câncer no Brasil. Rio de Janeiro (RJ): 2006. 2. Brasil, Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Próstata. Brasília (DF): 2009. 3. Antunes AA, Freire GC, Filho DA, Cury J, Srougi M. Análise dos fatores de risco para carcinoma incidental da próstata em pacientes com hiperplasia prostática benigna. Clinics. 2006; 61(6):545-50. 4. Gonçalves IR, Padovani C, Popim RC. 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