Procedimentos para a análise de acessibilidade de sites

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Procedimentos para a análise de acessibilidade de sites
Agebson Rocha Façanha, Renato Busatto Figueiredo, Phyllipe do Carmo Félix
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
Campus Fortaleza – Av. Treze de Maio, 2081 – CEP: 60040-531 – Fortaleza, CE, Brasil
[email protected], [email protected], [email protected]
Abstract. Discussions concerning web accessibility have become more and
more common, since a growing number of people with disabilities has been
using the internet as a mean to achieve independence, autonomy and a real
digital inclusion. The purpose of this report therefore is to provide a method
for evaluating accessibility of Web sites, taking as study case the sites from
CAPES (Coordination for Improvement of Postgraduate Education in Brazil).
Resumo. Discussões a respeito de acessibilidade virtual têm se tornado muito
comum, já que um número cada vez maior de usuários com deficiência tem se
utilizado da internet como meio para alcançar independência e autonomia,
buscando uma plena inclusão digital. O objetivo desse relatório, pois, é
apresentar um método de avaliação de acessibilidade de sites, tomando como
estudo de caso os sites da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, pertencente ao Ministério da Educação.
1. Introdução
Os estudos acerca da acessibilidade
virtual remetem a soluções cada vez mais
interessantes na busca da inclusão
daqueles com algum tipo de limitação,
tornando seu acesso à informação e aos
meios de comunicação na rede virtual,
viável e autônomo, com base no conceito
de Desenho Universal1. Aplicando esse
conceito na elaboração, concepção e
avaliação de sites web, tenta-se tornar o
conteúdo e funcionalidade acessível e
utilizável por todos.
O presente artigo descreve um
processo de validação de ambiente web,
indicando os padrões para uma melhor
1
São pressupostos do conceito de desenho
universal: equiparação nas possibilidades de
acesso, flexibilidade no uso, manipulação simples
e intuitiva, captação da informação, tolerância ao
erro, mínimo esforço físico e dimensão e espaço
para uso e interação.
acessibilidade. A validação é feita com a
participação de deficientes visuais,
desenvolvedores web e ferramentas de
validação automatizadas; fomenta a
utilização de padrões web adotados
internacionalmente
para
o
desenvolvimento
de
páginas
web
acessíveis, com foco em usuários
deficientes visuais e com baixa visão.
O processo de validação de
ambiente web passa, inicialmente, por
uma validação automática, realizada por
softwares específicos na sintaxe de
códigos, alertando ao desenvolvedor de
sites os erros que impedem tal
navegabilidade. Porém somente essa
validação, como será visto adiante, não
garante bons níveis de acessibilidade,
remetendo o desenvolvedor a uma análise
manual, que deve ser legitimada através
da participação de deficientes visuais.
Este trabalho explora diretrizes de
acessibilidade ao conteúdo web, partindo
do problema para a solução, usando como
exemplo uma seleção de cinco sites da
Capes devido à importância desse órgão
no cenário educacional para o avanço da
pós-graduação brasileira, através de
avaliação, publicação, concepção de
recursos e promoção da colaboração
científica internacional.
Foram avaliados o site principal
da CAPESi, por ser a página mais
representativa, seguido do portal de
periódicosii cujo objetivo é promover o
fortalecimento dos programas de pósgraduação no Brasil por meio da
democratização do acesso online à
informação científica.
A importância de se discutir idéias
e compartilhar conhecimento enriquecem
o desenvolvimento científico. Logo, a
revista brasileira de pós-graduaçãoiii
também foi analisada.
Os dois últimos sites têm como
funcionalidade a pesquisa de teses
armazenadas em um bancoiv, cujo
objetivo
é
disponibilizar
material
cientifico e o resultado de avaliações das
IES realizadas pela Capesv.
A análise desses sites se mostra
relevante em razão do número de acessos
que segundo site do Periódico da CAPES
em 2008 foi de 21.111.922 mil acessos
para textos completos e 39.591.556 mil
acessos para referências.
Sites avaliados
URL
i
Site Capes
http://www.capes.gov.br
ii
http://novo.periodicos.capes.gov.br
Periódicos da Capes
iii
Revista Brasileira de Pós-Graduação
iv
v
http://www2.capes.gov.br/rbpg
Banco de Teses
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw
Avaliação Continuada
http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/Avaliaca
oContinuadaServlet
Tabela 1. Sites selecionados para avaliação.
2. Metodologia utilizada
O processo de avaliação do site foi feito,
basicamente, em duas etapas. Na primeira
etapa, realizou-se uma prévia por meio da
análise em validadores automáticos que
mostraram as mudanças mínimas a serem
efetuadas. Em seguida, um grupo
formado por dois deficientes visuais com
cegueira total fez a primeira parte da
avaliação manual, onde navegaram pelo
site, utilizando os leitores de telas, e
identificaram os pontos que não estavam
em conformidade com os padrões
descritos
pelas
diretrizes
de
acessibilidade.
Terminada a navegação, foi
preenchida uma lista de conformidades
(checklist), seguindo as diretrizes
descritas em um conjunto de critérios
abordados nos padrões WCAG2 e e-MAG3,
onde os deficientes visuais reportam os
principais problemas4. Essa lista foi
repassada a uma equipe de três
2
Os documentos das Diretrizes de acessibilidade
ao conteúdo da Web (WCAG) explicam como
produzir conteúdos para a Web que seja acessível
às pessoas com necessidades especiais.
3
O Modelo de Acessibilidade de Governo
Eletrônico (e-MAG) consiste em um conjunto de
recomendações a ser considerado para que o
processo de acessibilidade dos sites e portais do
governo brasileiro seja conduzido de forma
padronizada e de fácil implementação.
4
As listas de conformidades (checklists) com os
problemas reportados pelos deficientes visuais
estão disponíveis em http://www.ifce.edu.br/
index.php/extensao/acessibilidade-virtual.
desenvolvedores web com experiência em
acessibilidade que realizaram uma
avaliação detalhada e minuciosa dos
pontos encontrados com problemas de
acessibilidade e usabilidade; checaram os
pontos avaliados negativamente, fazendo
uma descrição técnica das necessidades a
serem corrigidas ou modificadas.
visuais. Em tais sistemas existem
programas de software que convertem
texto em voz sintetizada, permitindo que
pessoas com deficiência visual sejam
capazes de ouvir o conteúdo da web.
2.1 Instrumentos
Nas avaliações foram utilizados
leitores de tela NVDA 2009-RC2,
DOSVOX e ORCA 2.28.3 e a versão demo
do JAWS 11.
•
•
Checklist
O documento utilizado para análise do
site é um conjunto de orientações em
forma de uma lista de conformidades –
Checklist, no qual as orientações estão em
forma de perguntas para facilitar o
preenchimento, propiciando ao avaliador
lembrar e refletir sobre tudo o que foi
inspecionado durante a fase de análise
dos sites. O Checklist foi elaborado pela
equipe e faz parte da documentação que
estará disponível juntamente com a
cartilha
técnica
do
Modelo
de
Acessibilidade de Governo eletrônico (eMAG), versão 3.0.
Existem duas visões para o
preenchimento do Checklist, a do
deficiente visual, o qual fez uma análise
mais perceptível e descritiva; e a do
desenvolvedor, enfocando a avaliação
organizacional e estrutural de um cunho
mais técnico em conformidade com as
normas de acessibilidade e usabilidade5.
•
Tecnologias
Nos critérios de análise dos sites da
CAPES, foram utilizadas diversas
ferramentas e tecnologias. As avaliações
foram feitas tendo como base dois
sistemas operacionais, o Ubuntu 9.04 e
Windows XP SP2, por serem bastante
utilizados por pessoas com dificuldades
5
Os checklists para deficientes visuais e para
desenvolvedores
estão
disponíveis
em
http://www.ifce.edu.br/index.php/extensao/acessib
ilidade-virtual.
Navegador web
Programa de computador que auxilia seus
usuários a interagirem com documentos
virtuais da Internet, permitindo assim
explorar textos, fotos, gráficos, sons e
vídeos e navegar entre páginas. Nos testes
em que foram submetidos os navegadores,
a Internet Explorer 8.0 e o Firefox 3.6
apresentarem
maior
aderência
à
acessibilidade.
•
Validadores
A utilização de validadores automáticos é
uma prática muito comum entre os
desenvolvedores web. Têm um importante
papel na orientação de regras básicas a
serem seguidas, pois repassa para o
desenvolvedor um panorama geral dos
problemas
encontrados
durante
a
elaboração de páginas web, porém
somente a sua utilização traz uma falsa
segurança, uma vez que ele analisa
exclusivamente o código HTML da
página, o que pode facilitar a manipulação
de resultados.
Por entender que haveria uma
melhor compreensão dos resultados da
validação automática dos sites em
questão, utilizou-se o WebAIM, HERA,
DaSilva, Examinator e TAW.
3. Principais problemas
A avaliação possibilitou o levantamento
de algumas situações-problema nos cinco
sites analisados pela equipe do Núcleo de
Acessibilidade Virtual, Campus Fortaleza,
os quais estão elencados na tabela 3. Para
facilitar a leitura e compreensão das
informações, fez-se uma correlação entre
os números e os sites analisados,
constantes da tabela 1, quais sejam: 1 =
Site da CAPES; 2 = Periódicos da
CAPES: 3 = Revista Brasileira de Pósgraduação; 4 = Banco de Teses e 5 =
Avaliação continuada.
Ainda é mostrado na tabela 3
quais ferramentas indicaram a existência
do problema, sendo usadas as siglas: A =
WebAIM, B = HERA, C = DaSilva, D =
Examinator, E = TAW. Quando a
ferramenta conseguiu detectar o problema
completamente está indicado por “ x ”; se
o problema foi detectado parcialmente
está indicado por “ / ”. Os campos em
branco indicam que o problema não foi
identificado pela ferramenta.
Vale ressaltar que todos os
problemas, relatados ou não, foram
verificados pelos deficientes visuais e
posteriormente pelos desenvolvedores.
Ocorre em
Problema
Relatado por
1
2
3
4
5
As páginas não possuem códigos-fonte válidos
x
x
x
x
x
Os links não apresentam descrições curtas e objetivas
ou não identificam o destino ao qual se remetem
x
x
x
Os botões não funcionam adequadamente ou não estão
devidamente descritos
A B C D E
/
/
/
/
/
x
As imagens não estão devidamente etiquetadas
x
Os arquivos para download não estão descritos com a
extensão a qual são disponibilizados ou não estão em
um formato acessível
x
Uso incorreto de tabelas
x
x
x
x
/
/
x
/
/
/
/
x
x
x
x
x
x
As animações em flash não estão descritas
As caixas combinadas não possuem um botão de envio
x
Ocorrência de verborragia
x
O texto não está correto ou os parágrafos estão muito
grandes
Ausência de atalhos para facilitar a navegação pelo site
x
x
x
x
x
x
x
x
Uso incorreto de âncoras
Ausência de links indicadores nas páginas
x
/
x
x
x
x
x
/
/
x
/
/
Não é informada a localização do usuário na página
A estrutura das páginas não está uniforme
x
Ausência de bookmark (sumário para conteúdos
longos)
x
x
x
x
Ausência de um mapa do site
A tabulação não segue a ordem visual da tela
x
O conteúdo é lido após o menu
x
Os formulários ou sua tabulação não estão corretos
x
Há listas incorretas
x
x
x
x
x
x
x
x
x
/
x
Menu não está em lista ou não há opção para exibir submenus
x
x
Inexistência de uma página com dicas de navegação
x
Inexistência da opção de alto contraste
x
Ausência de opções para redimensionamento do texto
x
Os títulos não apresentam uma ordem lógica no texto
ou não existem
x
x
As camadas lógicas não estão separadas corretamente
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
/
/
/
x
/
/
Tabela 3. Descrição dos problemas nos sites selecionados.
5. Conclusão de avaliação
Todos os sites analisados apresentaram
falhas que necessitam ser corrigidas para
que, de fato, atendam às diretrizes de
acessibilidade e às expectativas das
pessoas com deficiência visual. Os
resultados
aqui
apresentados
complementam
uma
verificação
preliminar de acessibilidade de páginas da
CAPES. Ainda, como observado na
tabela 3, concluímos que o relatório
apresentado por ferramentas de validação
automáticas não é suficiente, sendo
somente um auxílio à avaliação manual
feita por especialistas.
O site principal da CAPES possui
uma navegação relativamente boa, com
alguns recursos de acessibilidade, porém,
não funcionam em sua totalidade,
falhando em várias páginas. Ainda faltam
muitos cuidados para que o portal se torne
realmente acessível a todas as pessoas. O
periódico da CAPES apresenta muitas
informações repetidas, dificultando a
compreensão da estrutura da página, pois
não há uma ordem lógica do conteúdo e
existem problemas com a leitura dos
campos de buscas.
A página da RBPB não possui
concordância com os padrões web e nem
com as diretrizes de acessibilidade.
Apesar de possuir uma estrutura simples,
a compreensão foi bastante difícil, pois
não há uma separação de conteúdo, não
há descrição nas imagens e possui links
com nomes repetidos. Os dois últimos,
apesar de serem simples, possuem
problemas críticos de acessibilidade nos
formulários, impossibilitando o acesso
através de leitores de telas.
6. Considerações finais
O comprometimento da visão não
significa o fim da vida independente e não
ameaçará a vida plena e produtiva. O
deficiente visual pode ser bem sucedido
se lhe forem oferecidas as condições e os
meios necessários para o desenvolvimento
pleno e inclusão social, através de
tratamento adequado que lhes permita o
desenvolvimento de habilidades nas áreas
de orientação e mobilidade, atividades da
vida diária, técnicas especiais de
educação/escrita/leitura,
tratamento
psicológico, bem como o acesso às
tecnologias assistivas.
Os deficientes visuais não têm
tanta facilidade para acessar páginas da
internet, sendo necessário um software
leitor de telas que leia, por meio de
sintetizadores de voz, o que está escrito
no monitor. Para que esses programas
funcionem de maneira eficaz, é necessário
que algumas regras de construção estejam
aplicadas às páginas de um site. Um site
que respeita a navegação dos deficientes
visuais deve obedecer a regras simples,
possibilitando uma boa interpretação das
páginas por aplicativos de leitura de tela,
proporcionando aos deficientes visuais
entendimento do conteúdo sem que, para
tal, precisem "adivinhar" os caminhos que
levam à informação.
Com o envolvimento de pessoas
com deficiência em práticas participativas
no design, construção e avaliação de
sistemas, e de desenvolvedores com
conhecimento
das
diretrizes
de
acessibilidade, torna-se possível haver um
suporte para o desenvolvimento de sites
que, de fato, atendam às demandas desses
usuários.
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