A Competitividade Face a Espanha

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A Competitividade Face a Espanha
Em tempo de férias tive oportunidade de voltar a ser confrontado com uma questão
que pode assumir no futuro imediato do país e da nossa economia um papel essencial.
Falo da questão da competitividade da nossa economia, nomeadamente (mas não só)
face a Espanha.
As noticias que trago estão longe de ser brilhantes, pelo contrário. A praia que
normalmente frequente foi, durante muitos anos, uma espécie de colónia espanhola
durante os meses de verão. A proximidade da fronteira, os preços mais competitivos e a
apetência pelo nosso pequeno comércio (hábito que já vinha dos tempos do
contrabando) tudo isto eram factores que atraíam milhares de turistas espanhóis.
Para meu grande espanto essa frequência caiu rapidamente (em apenas dois anos),
ao ponto de quase se ter deixado de ouvir castelhano nas praias e restaurantes daquela
zona. Mais grave ainda, verifica-se uma onda migratória de veraneantes portugueses
com destino às praias espanholas, não porque sejam melhores ou tenham mais
condições, mas porque são ... muito mais baratas.
Mas a coisa não fica por aqui e assume contornos ainda piores quando se verifica
que nas localidades fronteiriças se está a instalar o hábito de os portugueses comprarem
casa ... em Espanha. Porque é mais barato, porque é mais fácil obter licença de
construção, porque o crédito à habitação é mais acessível, ... por todas estas razões
verifica-se uma significativa onda de migração para o lado de lá da fronteira. Ainda por
cima, esta situação não é exclusiva daquela zona do sul do país, surgindo noticias de
fenómenos semelhantes por toda a linha fronteiriça.
Este é mais um sinal que deve ser encarado com preocupação porque denota a
crescente falta de competitividade da nossa economia. Como é que as casas podem ser
mais baratas em Espanha? Materiais de construção mais baratos, terrenos menos
especulativamente encarecidos, carga fiscal menor, processos burocráticos mais
simplificados. Tudo isto são factores que pesam no preço final do produto e que
reflectem aquilo que se tem passado na nossa economia.
A nossa inflação tem sido sistematicamente mais alta do que a espanhola. A nossa
produtividade não tem crescido tanto como a deles (sendo que à partida já era mais
baixa). A nossa administração pública não se tem modernizado nem caminhado no
sentido da desburocratização, como a deles. A carga fiscal no nosso país não tem sido
aliviada, antes pelo contrário, porque a base de contribuintes não tem sido alargada
como lá.
Todos estes factores contribuem para a crescente falta de competitividade da nossa
economia face à espanhola. E o que é que está a ser feito para melhorar estas situações?
O leitor sabe? Eu também não.
Fernando Gaspar
Economista e docente na ESGS
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