Volume 4 Número 19 09 de julho de 2006 GBETH Newsletter de Tumores Hereditários de Estudos o r i e l i s Uma o Bra publicação semanal do Grup www.gbeth.org.br GBETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários. Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] [email protected] Instabilidade de Microsatélite e a Expressão das Proteínas dos Genes de Reparo em Câncer de Endométrio Sincrônico ou Metacrônico com Câncer Colorretal e ou Mama Francisco R. G. Coelho Depto. de Ginecologia - Hospital do Câncer Takano K, Lchikawa Y, Ueno E et al. Microsatellite instability and expression of mismatch repair genes in sporadic endometrial cancer coexisting with colorectal or breast cancer. Oncology Reports 2005;13:11-16. Editor Erika Maria M Santos Ligia P Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Gilles Landman Diretor Científico André Vettore Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Erika Maria M Santos Tesoureiro Wilson T Nakagawa Em estudos prévios, a freqüência de MSI (Instabilidade de Microssatélite) no câncer endometrial esporádico tem variado de 17% a 45%. A ausência de expressão das proteínas MLH1, MSH2 ou MSH6 avaliada através da imunoistoquímica também está associada com a presença de MSI e são considerados como marcadores moleculares para alterações nos genes de reparos de DNA (MMR). Já a freqüência de MSI em câncer de mama esporádico é baixa, embora existam relatos que o câncer de mama bilateral apresenta alta freqüência de MSI ao se comparar com a doença unilateral. Da mesma forma, a ocorrência de múltiplos tumores primários está freqüentemente associada com alta freqüência de MSI. Uma vez que a MSI é Conselho Científico Beatriz de Camargo José Claúdio C Rocha Maria Aparecida Nagai Maria Isabel W Achatz Samuel Aguiar Jr considerada um marcador de defeitos nos genes MMR, provavelmente, estes genes Conselho Fiscal Titulares André Lopes Carvalho Gustavo Cardoso Guimarães Stênio de Cássio Zequi Suplentes Fábio José Hadad Mariana Morais C Tiossi Milena J S F L Santos expressão MLH1, MSH2 e MSH6 para verificar se alterações nos genes MMR estão podem estar envolvidos na ocorrência de alguns tumores primários múltiplos. Não há relatos sobre a avaliação de MSI em câncer endometrial esporádico e câncer de mama. Nesta presente análise, foi avaliada a ocorrência de MSI, bem como a envolvidas no câncer de cólon ou mama esporádicos. Material e Métodos Foram avaliados tecidos parafinados de 63 pacientes com câncer endometrial tratadas na Universidade de Tsukuba, Japão. Destas, 16 também apresentaram MSI e a Expressão das Proteínas dos Genes de Reparo em Câncer de Endométrio Sincrônico ou Metacrônico com Câncer Colorretal e ou Mama tumores colorretais (CCR), 26 tumores de mama (BC), e 21 apresentavam apenas tumores de endométrio observada em tumores colorretais MSI-L (67%). Dos 12 casos diagnosticados antes dos 50 (EC) (considerados como controle). Para a análise anos, a freqüência de MSI-H nos tumores colorretais de MSI nos tumores endometriais foram avaliados foi de 80%; já nos tumores de mama e nos tumores de cinco marcadores (BAT26, BAT25, D2S123, D5S346 endométrio (controle) não foi observada a ocorrência é D17S250). Tumores com dois ou mais marcadores de MSI-H, esta diferença foi estatisticamente alterados foram classificados como instabilidade de significativa. Nos casos diagnosticados após os 50 alta freqüência ou MSI-H, aqueles com alteração em anos, não houve diferença estatística significativa um marcador foram classificados como instabilidade na freqüência de MSI-H. Entretanto, a freqüência de baixa freqüência ou MSI-L e aqueles sem alterações de MSI-L foi mais elevada no grupo com câncer nos marcadores foram classificados como estáveis colorretal (55%) quando comparado com o grupo ou MSS. A avaliação da expressão das proteínas portador de câncer da mama e controle (0% e 11% MLH1, MSH2 e MSH6 foi realizada através de respectivamente). imunoistoquímica. Para verificar a associação entre as variáveis foram empregados os testes exato de Fisher e e t de student. Não endométrio foi diagnosticado antes do CCR em quatro casos e sincrônico em quatro pacientes. A ocorrência do EC antes ou sincronicamente ao CCR Resultados No grupo de pacientes com CCR, o câncer do foi de 50%. Esta freqüência é significativamente mais foram observadas diferenças alta do que a verificada nos casos de câncer da mama clinicopatológicas entre as pacientes com câncer (quatro em 26 pacientes, 15% p < 0,05). Entre casos de colorretal, câncer de mama e o grupo controle. câncer de mama nos quais o câncer do endométrio se Dentre as pacientes com câncer colorretal, três eram desenvolveu após o câncer de mama, na vigência do pertencentes à famílias HNPCC, com preenchimento uso de TMX, foi encontrado MSI-H em dois dos 14 dos critérios de Amsterdam. De 17 casos com câncer casos (14%); e em três dos quatro casos sem uso de de mama e usuárias de tamoxifeno (TMX), 14 foram TMX (75%) (p < 0,05). diagnosticados durante o seguimento do câncer de mama. A análise de MSI realizada em todas as 63 pacientes e 26 tumores apresentaram MSI. Na Tabela a seguir é apresentada a distribuição da MSI dentre os tumores com alteração. Tabela 1 - Distribuição da ocorrência de MSI nos tumores colorretais, de mama e no grupo controle. Colorretal Mama Controle MSI MSI – H N (%) 11 (69) a 5 (31) N (%) 6 (23) a 5 (19) N (%) 9 (43) 7 (33) MSI – L 6 (38) b 1 (4) b 2 (10) a : p < 0,01 / b: p < 0,01 Foi também notada uma alta incidência de alteração nos marcadores BAT26 e BAT25 em tumores MSI-H (88% e 82%, respectivamente). Já a A imunoistoquímica foi realizada em 24 casos de câncer endometrial, em 8 tumores colorretal e 16 casos de mama. Os resultados são mostrados na Tabela abaixo: Tabela 2 - Resultados da imunoistoquímica (MLH1, MSH2 e MSH6) e MSI. Tipo do Idade Tumor ao Sincrônico ou Diag Metacrônico Colorretal 35 Colorretal – 5 51 Colorretal – 7 a 41 Colorretal – 9 39 Mama – 3 41 Mama – 18 53 Mama – 19 59 a : família HNPCC Imunoistoquímica/MSI MLH1 MSH2 MSH6 + + + + + + + + + + + + + + + + MSI MSI-H MSI-L MSI-H MSI -H MSI-L MSI -H MSI-H instabilidade de D2S123 foi mais freqüentemente GBETH Newsletter 2006; volume 04 número 19 MSI e a Expressão das Proteínas dos Genes de Reparo em Câncer de Endométrio Sincrônico ou Metacrônico com Câncer Colorretal e ou Mama Em três casos de CCR MSI-H foi observada Foi encontrado uma freqüência de 69% de MSI no ausência de expressão em uma das proteínas (MLH1, grupo de pacientes com EC e CCR, uma freqüência MSH2 e MSH6), todos diagnosticados antes dos 50 mais alta do que aquela observada nos casos anos. Em contraste, todos os casos de câncer da mama esporádicos de EC e CCR, embora este resultado com MSI apresentaram expressão protéica de MLH1, inclua muitos casos MSI-L. Por se considerar que MSH2 e MSH6. MSI-H e MSI-L são provavelmente adquiridas por Discussão mecanismos diferentes, as pacientes foram divididas em dois grupos etários, e não foi verificado tumores É fato conhecido que o tratamento com MSI-H entre o grupo com câncer de mama e controle TMX aumenta o risco para o desenvolvimento de diagnosticados antes dos 50 anos. Já nos casos câncer do endométrio. Embora câncer de mama com câncer colorretal e MSI-H, 50% dos tumores bilateral tenha uma alta freqüência de MSI quando do endométrio ocorreram antes do diagnostico de comparado com o câncer de mama unilateral, ainda é câncer colorretal. Estes achados sugerem que em controverso se câncer de mama faz parte da Síndrome pacientes com câncer do endométrio (cujas famílias de Lynch. Também não está claro se os genes não preenchem critérios para HNPCC), a presença MMR estão envolvidos na ocorrência de tumores de MSI-H e diagnóstico da doença antes dos 50 anos primários metacrônicos ou sincrônicos de mama são fatores de risco para a ocorrência futura de câncer e endométrio. Neste estudo os casos com câncer colorretal. Por outro lado, casos de câncer colorretal, de mama apresentaram menor freqüência de MSI diagnosticados após os 50 anos com uma significante quando comparadas ao grupo controle. Porém, esta freqüência de MSI-L, em especial a instabilidade freqüência ainda é maior do que aquela verificada D2S123, sugere a utilização deste marcador como nos casos esporádicos de câncer da mama. preditor de câncer colorretal em pacientes nesta faixa Do total, 18 mulheres apresentaram câncer de etária (acima dos 50 anos). endométrio após o diagnóstico de câncer de mama. Ficou demonstrado uma alta incidência de MSI-H Destas, 14 foram tratadas com TMX. A incidência de nos casos de câncer colorretal/controle e uma baixa MSI-H foi significantemente baixa no grupo tratado incidência de MSI em doença mamária, sugerindo que com TMX (14%), ao contrário da freqüência de MSI-H alterações dos genes MMR parecem serem incomuns no grupo sem uso de TMX (75%). Isto pode sugerir que na carcinogênese do câncer da mama. alterações nos genes MMR podem estar envolvidos em casos de câncer endometrial associados a câncer de mama, sem uso de TMX. A identificação MSI em tumores de endométrio pode ser um bom marcador de risco para desenvolvimento de câncer colorretal. GBETH Newsletter 2006; volume 04 número 19