ESCOLA DE APRENDIZES DO EVANGELHO – CURSO BÁSICO O

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ESCOLA DE APRENDIZES DO EVANGELHO – CURSO BÁSICO
O Povo Hebreu na Época de Jesus
Autora: Maria da Graça Boni Zamulko
A Geografia
A Palestina, berço do povo Hebreu, é uma região de terra montanhosa, com uma estreita
área geográfica, situada entre a África e a Ásia, funcionando como uma espécie de ponte entre
essas regiões. Com um território pouco maior que o nosso Estado de Sergipe, com cerca de 650 mil
habitantes.
Limitada pela Síria ao norte, pelo deserto do Sinai (Egito) ao Sul, pelo Mar Mediterrâneo a
oeste e pelo deserto Arábico a leste. A região é cortada pelo Rio Jordão de norte a sul. O rio Jordão
depois de formar o Lago Meron e o lago Tiberíades ou mar da Galiléia, desemboca no Mar Morto,
que tem esse nome porque nele não há vida animal ou vegetal, devido a sua grande quantidade de
sal e de betume.
À época de Jesus, a Palestina se dividia em três regiões, que se diferenciavam pelo seu
aspecto climático e principalmente social: Judéia, Samaria e Galiléia. A Palestina é uma região de
clima quente. A Palestina possuía duas estações bem definidas: período muito chuvoso no inverno
(de junho a outubro) e seco no verão (de outubro a junho).
Judéia - localizava-se ao sul da Palestina e consistia no país de Judá, que era composto
pelas tribos de Judá e Benjamim, divididos após o Cisma (divisão das tribos entre os reinos de Israel
e Judá ou Judéia).
Era o “berço dos judeus”. Consideravam-se os autênticos, os puros, o povo eleito. Tudo
faziam, sabendo que agradariam a Deus (Jeová). Viviam bem, não sofriam com a miséria, eram
hospitaleiros e respeitavam os estrangeiros, porém não se misturavam.
O povo judeu vivia sob a crença de um Deus único e toda a sua vida girava em torno das leis
mosaicas e dos profetas. Desde crianças aprendiam a obedecer e a fazer a vontade de Jeová. A
sua fé era inata e trazia esse sentimento a flor da pele e jamais duvidavam de sua crença. Pouco
interessava o motivo porque deveriam ter fé e devoção, apenas obedeciam cegamente, porque
viviam mais pela fé que pela razão. Antes de qualquer pedido a Jeová, eles o adoravam
demonstrando sua fé através de oferendas diárias, que iam desde pombos ao gado mais gordo, óleo
perfumado e etc.
O homem era mais apto à pesca, aos negócios, festas e peregrinações. Já a mulher era
tímida, serviçal, submissa e humilde, afinal essa era a condição imposta a elas.
Samaria - localizada na região central entre a Galiléia e a Judéia, tendo como principais
cidades Samaria, Siquém e Cesareia. Os samaritanos surgiram após o Cisma, quando o reino de
Israel, cuja capital era Samaria, desapareceu nas mãos de Sargão II, o poderoso rei assírio que
destroçou, em 772 A.C., a enfraquecida cidade. O Cisma dividiu Israel em dois territórios: Reino de
Israel e Reino de Judá.
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Após a conquista de Israel, Sargão II expulsou grande parte da população para a
Mesopotâmia, colocando em seu lugar povos de outras regiões já conquistadas pelos assírios. Esses
novos habitantes assimilaram lentamente a cultura hebraica, através dos judeus, que ainda
permaneciam no reino conquistado. Essa fusão deu origem a população semi-judaica, conhecida
como samaritanos.
Por causa dessas divergências de culturas, os samaritanos tornaram-se inimigos dos judeus.
Embora a religião fosse a mesma (Judaísmo), eles não aceitavam os profetas, só o Pentateuco
(cinco primeiros livros da Bíblia, de autoria de Moisés). Foram os “protestantes” daquela época, eram
desprezados pelos judeus e odiados pelos galileus, que evitavam passar pela Samaria para não
serem molestados. Os Samaritanos até construíram um templo para não terem que ir a Jerusalém.
Galileia - localizada ao norte do país, tendo como principais cidades Cafarnaum, Nazaré,
Caná, Genesaré e ainda o Monte Hermon. Por ser uma região próxima dos grandes centros
comerciais fenícios, os galileus adquiriram costumes diferentes dos judeus ortodoxos (Judeia) e, por
isso, não eram considerados judeus puros. Inclusive eles não eram apegados a rituais e obrigações
religiosas.
Como a Galiléia ficava ao norte de Jerusalém, era impossível aos seus habitantes frequentar
constantemente o Templo, mesmo porque eram impedidos de assistirem a algumas das cerimônias
privadas do Templo. Assim, se apegavam aos “rabis” (rabinos) itinerantes, que eram os doutores, os
estudiosos da lei, mas que nem sempre eram honestos nas explicações das leituras sagradas .
Era um povo alegre, vivia feliz e satisfeito, porque a Galileia era uma região bela, singela e
encantadora com seu clima ameno, não exigia tanto resguardo para proteger a saúde. O hábito
alimentar dos galileus era simples e leve, baseado em frutas, verduras, legumes e caldos.
Organização Econômica
Devido a sua posição estratégica, a Palestina era uma região de passagem. Por ela
circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas. Possuía cidades importantes para o
comércio, como Cesaréia e Jerusalém, onde haviam estradas estruturadas e portos que facilitavam a
comunicação e o transporte de mercadorias e pessoas.
Eram especializados na defumação ou salgação de peixes, construção, fiação e tecelagem.
Tinham também a produção de artigos em couro, cerâmica, extração e tratamento do betume,
substância utilizada para a calafetagem das embarcações.
O comércio interno visava o abastecimento das grandes cidades. Já o externo, era voltado
aos produtos de luxo, consumidos pela elite e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos,
frutas, óleo, vinho, peixes e manufaturas como perfumes e betume.
A principal atividade econômica da região, contudo, era a agricultura. Plantavam muito trigo,
cevada, figo, azeitona, uva, tâmara, nozes, lentilhas, ervilhas, algumas verduras (alface entre outros).
Além da plantação de alimentos, também tinham um cultivo em abundância de rosas, utilizadas para
a produção de essências de perfumes.
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Além de todos esses produtos, havia a pesca, que era de grande importância econômica,
tanto para o abastecimento interno, quanto para a exportação. Por ser Banhada pelo Mediterrâneo,
cortada por rios e lagos, havia uma grande variedade de peixes, que abastecia o mercado interno e
externo.
Possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do betume,
ainda tinham variedades de arvores, como o salgueiro, o loureiro, o pinheiro, das quais extraiam
madeira, temperos e essências e, eventualmente, o mel.
Quadro Social, Político e Administrativo
A sociedade palestinense pode ser dividida em quatro grandes grupos socioeconômicos:
• Os ricos: grandes proprietários, comerciantes, ou elementos provenientes do alto clero.
• Classe média: sacerdotes, pequenos e médios proprietários rurais e comerciantes.
• Classe pobre: trabalhadores em geral (campo ou cidade).
• Os miseráveis: excluídos sociais como mendigos, escravos e ladrões.
À época de Jesus, toda a Palestina estava sob o domínio do Império Romano. (O último rei
judeu, Antigono – filho de Aristóbulo II da Judeia, havia sido executado em 37 a.C.). Assim, foi
nomeado por Roma, o Judeu Herodes, O Grande, que governou a região (Judeia, Samaria, Idumeia,
Galileia e Pereia) de forma tirânica de 37 a.C. a 4 a.C..
Roma não tirou a liberdade da prática religiosa dos judeus, buscando, assim, manter a ordem
mais facilmente, ao permitir que um governante “testa de ferro” conservasse o título de rei.
Roma se preocupava mais com o comando militar do que com o aspecto religioso. Era preciso
manter seu exército na região e o dinheiro arrecadado e o trigo eram usados para esse fim.
Após a morte de Herodes, O Grande, o reino israelita foi dividido pelos seus três filhos:
Herodes Arquelau: herdou a Judéia, Samaria e a Indumeia, que governou até 4 d.C..
Herodes Felipe: herdou Itureia e Traconítide.
Herodes Antipas: herdou as regiões da Galileia e Pereia, de 4 a.C. – 39 d.C.. Este último é,
dentre os soberanos herodianos, o mais citado no Novo Testamento.
Após este período, a administração voltou para as mãos dos procuradores romanos. As
questões internas da comunidade judaica, mesmo sob a administração romana, eram resolvidas pelo
Sinédrio, que era um tribunal presidido pelo sumo-sacerdote e formado por 71 membros (anciões,
sumo-sacerdotes depostos, sacerdotes do partido dos saduceus, escribas e fariseus), com séde em
Jerusalém.
A principal atribuição judaica no Sinédrio era julgar os crimes contra a Lei Mosaica, fixavam a
doutrina e controlavam todos os aspectos da vida religiosa. Ao tempo de Jesus, o cargo de Sumo
Sacerdote era ocupado por Caifás, responsável pela administração dos serviços do Templo e das
relações públicas. Nessa época, a tradição já havia sido colocada de lado e anualmente fazia-se
eleição para o cargo de sumo-sacerdote, que era muito disputado entre as quatro famílias mais ricas
de Jerusalém. O cargo, portanto, passou a ser político, porque além do poder temporal sobre os
judeus, ainda permitia lucros fabulosos e fortuna certa.
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Ainda que Roma tenha procurado manter os costumes judaicos, a dominação romana foi
implacável quanto a cobrança de inúmeros impostos diretos e indiretos, como:
• Tributo - imposto pessoal: cobrado sobre água, pão, carne, terras e estradas;
• Contribuição anual: imposto cobrado para o sustento dos soldados;
• Compra e venda de produtos: imposto cobrado sobre todos os produtos, que iam ao
mercado e sofriam taxações elevadíssimas.
Além dos impostos exigidos pelos Romanos, o Sinédrio cobrava o “imposto de natureza
religiosa”. Os sonegadores eram severamente punidos, assim como aqueles que não quitassem sua
dívida com o fisco. Poderiam perder seus animais, casas, enfim, todos os seus bens. Caso não
tivessem posses eram punidos com a prisão e o trabalho escravo, até a liquidação da dívida. O
período de escravidão nunca poderia ultrapassar sete anos. A cobrança desses impostos era feita
pelos publicanos e os peageiros.
Os publicanos eram odiados pelo povo, porque representavam os interesses romanos e
eram considerados traidores e pecadores. Zaqueu, antes de conhecer Jesus, foi um deles.
Os peageiros (hospitaleiros) ficavam às portas das cidades e cobravam uma taxa de
entrada e, também, sofriam as mesmas restrições que os publicanos.
Os judeus que aceitavam esses cargos eram excomungados, ou seja, não podiam mais
frequentar os templos e as sinagogas, não podiam mais ter uma convivência em comunidade e, até
mesmo, eram excluídos das relações comerciais.
Pouco a pouco, a população foi se revoltando com a dominação e o controle romano. Foram
surgindo movimentos de resistência armada, como os Zelotes, que resultou na Guerra Judaica que
durou de 66 a 70 d.C.. Foi durante esta guerra que o Templo de Jerusalém foi novamente destruído
e a política de tolerância de Roma, em relação aos judeus, fosse revista.
Instituições Religiosas
O grande templo foi idealizado por Davi, construído por seu filho Salomão e destruído por
Nabucodonossor, em 586 a.C. , sendo reconstruído após a libertação dos judeus, por Ciro, o Grande,
rei dos persas.
O reinado de Salomão foi um período caracterizado pela paz e prosperidade, que nunca
houvera em Israel. O território se expandiu até as fronteiras com o Egito e o Rei Salomão recebia
altos tributos dos povos conquistados. Com o poder e a riqueza adquiridos em quatro anos de
governo, ele pôde realizar a grande obra de sua vida, a construção do Templo de Jerusalém (Séc. XI
a.C.). O Templo foi, até 70 d.C., o mais importante centro religioso judaico. Destruído duas vezes,
estava em reconstrução neste período.
As mulheres e os não circuncidados não podiam entrar no interior do Templo. Neste edifício
eram realizados os sacrifícios; local onde o Sinédrio se reunia; também eram armazenadas as
riquezas e impostos dirigidos ao Templo, bem como, os objetos de culto. Ou seja, o Templo era
muito mais do que um local só de culto, era o centro de toda a vida religiosa, política e econômica
judaica. O templo era composto por três partes:
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• Pórticos: eram filas de colunas de mármore sustentando o teto. A entrada era feita por
várias portas, onde se instalavam os vendilhões com suas mercadorias.
• Pátios: o primeiro e maior deles era o dos gentios, onde todos podiam frequentar e que
comportava 140.000 pessoas.
• Pátio dos Israelitas: para o povo judeu.
• Pátio das Mulheres: reservado para as mulheres judias.
• Pátio dos Homens: terminava junto à porta monumental, de 22 metros de altura, que
permanecia fechada durante a noite.
• Pátio dos Levitas: lá, sobre uma rampa, ficava o altar dos sacrifícios. Atrás desse altar,
erguia-se o Santuário.
• Santuário: era composto por três partes: Grande vestíbulo, Santo e Santo dos Santos.
• Grande Vestíbulo: entrada do santuário.
• O Santo: altar ou mesa, todo decorado em ouro, onde ficava o altar dos perfumes e dos
doze pães, que eram renovados semanalmente e simbolizava as doze tribos de Israel. Esse altar era
aberto somente na hora dos sacrifícios.
• Santo dos Santos: local onde se guardava a “Arca da Aliança”, que continha os Dez
Mandamentos, recebidos por Moisés. Na época de Jesus, esse local estava vazio, porque a Arca
havia sido roubada.
Resumo das datas mais importantes.
• Século XI a.C. (cerca de 990 anos a.C.): construção do Primeiro Templo, por Salomão.
• 586 a.C.: o Templo de Salomão é destruído por Nabucodonosor, rei de Babilônia.
• 515 a.C.: os judeus reconstroem o Templo.
• 19 a.C.: Herodes, o Grande, amplia o segundo Templo.
• 70 d.C.: Tito destrói o Templo de Herodes.
Além do Templo, as sinagogas também eram importantes centros religiosos, nelas se
cultuava a Deus e se fazia o estudo da Lei Mosaica, tal como ocorre ainda hoje. Nelas, qualquer
judeu poderia ler e fazer comentários à Lei, mas, na prática, essa função acabava controlada pelos
especialistas das escrituras, os escribas e os fariseus (Rabis).
Outras práticas religiosas judaicas comuns no século I d.C. eram: a circuncisão, a guarda do
sábado e a oração cotidiana, realizada pela manhã e à tarde.
Havia três categorias de sacerdotes, com atribuições especiais:
Sumo-Sacerdote: eleitos a cada dois anos, cobravam impostos para o Templo, tanto em
dinheiro, como em bens materiais, pois os judeus eram obrigados a pagar o dízimo, bem como,
entregar parte da primeira colheita de suas plantações e a primeira cabeça de seu rebanho .
Sacerdotes Maiores: encarregados da administração civil e religiosa.
Sacerdotes Menores: encarregados de serviços internos, que se subordinavam ao Sgan,
diretor do templo.
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Havia ainda um exército de servidores que viviam no Templo e do Templo, diretamente
ligados ao Sgan, que a seu turno era diretamente subordinado ao sumo Sacerdote.
Os Sacerdotes negociavam com muitas coisas, tais como: moedas estrangeiras para troca,
animais para o holocausto, perfumes, óleos aromáticos. Somente o que era comprado no Templo era
puro para os sacrifícios.
As Penalidades – obedeciam à Lei Mosaica que criou a famosa Lei do Talião (do latim, lex
talionis – lex: lei; talio, de talis: tal, idêntico). Esta lei é simbolizada pela expressão olho por olho,
dente por dente e é uma das mais antigas leis existentes. Os primeiros indícios da Lei de Talião
foram encontrados no Código de Hamurabi, em 1730 a.C., no reino da Babilônia. Assim, os castigos
eram diretamente proporcionais ao crime praticado.
As penalidades podiam ser:
• Multa em dinheiro.
• Oferta de um sacrifício expiatório.
• Flagelação (que consistia em 40 açoites, mas para não ultrapassar esse número e caírem
em pecado, os carrascos só aplicavam 39 açoites, porque se ultrapassassem os 40 açoites, eles é
que seriam açoitados).
• Excomunhão, ou seja, a exclusão da comunidade religiosa. O excomungado era proibido
de entrar no Templo ou nas sinagogas.
•
Pena de morte pela lapidação (apedrejamento). Pena aplicada pelos judeus, pois só os
romanos utilizavam a crucificação e apenas Pôncio Pilatos poderia autorizar a sentença de morte,
justamente por ser o Procurador do Império Romano, à época de Jesus.
Moral - o povo hebreu possuía uma moral muito rígida, toda ela baseada na Lei Mosaica.
Vejamos alguns exemplos que caracterizam essa moral:
• Destacavam a dignidade da mulher, apesar de ser considerada como propriedade. Era
chamada de “Res", como diziam os romanos, que significa coisa, objeto não tendo direito a ter sua
personalidade. Só a consideravam digna, se a mulher cumprisse seu dever para com o Pai ou para
com o marido, sem isso, seu papel era praticamente nulo na vida pública e social.
• Ajudavam os fracos com esmolas e caridade, para que depois pudessem ser ajudados por
Deus, quando precisassem.
• Toda violação da Lei era considerada um pecado. Acreditavam que o pecado começou a
existir através de Adão, que violou a ordem do Senhor e, que a partir daí, todos nós teríamos
herdado esse mal. Alguns tinham a convicção de que, ao cumprirem a Lei, teriam seus desejos
materiais realizados.
• A Circuncisão, no oitavo dia de nascimento, representava a aliança entre Deus e Abraão.
Essa tradição era tão importante, que era realizada mesmo que se o dia correto caísse num sábado,
pois o descumprimento seria punível com a morte.
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As Seitas
Ao tempo de Jesus, todos os judeus tinham certas crenças comuns e praticavam alguns
aspectos da religião: eram monoteístas, praticavam a Lei de Moisés e circuncidavam-se.
Porém, os diferentes grupos judeus debatiam e discordavam entre si sobre vários aspectos, tais
como: as expectativas sobre a vinda do Messias, os rituais, as leis de pureza e como viver sob a
dominação estrangeira, gerando, com isso, a formação de algumas seitas.
Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século, descreve os grupos principais com suas
filosofias e modos de vida:
Fariseus - Os fariseus formavam um grupo ativo, numeroso e influente na Palestina, desde o
século II a.C.. Ricos e orgulhosos, davam mais atenção à forma do que ao conteúdo religioso. Seus
líderes eram chamados de rabinos ou professores, já que se dedicavam a estudar e comentar as
escrituras hebraicas (Exemplo: Gamaliel). Consideravam-se os verdadeiros judeus, os verdadeiros
intérpretes da lei.
Os Fariseus defendiam com rigidez o sábado sagrado, os rituais de pureza, o dízimo e as
restrições alimentares. Seus maiores rivais políticos e religiosos foram, durante muito tempo, os
Saduceus. Acreditavam na ressurreição dos mortos, no livre arbítrio do homem, na onipresença de
Deus e no papel da Lei como um freio para os impulsos negativos dos homens.
Jesus dirige algumas críticas severas contra a hipocrisia, cegueira e formalismo dos Fariseus.
Contudo, em termos teológicos, cristãos e fariseus concordavam em alguns aspectos, o que explica
o grande número de fariseus que acabaram por tornarem-se cristãos. Paulo, antes de converter-se
ao cristianismo, era um fariseu.
Perfil – a vaidade domina a maioria dos Fariseus. São grandes oradores, gostam de estar em
evidência com o povo mais simples, os quais dominam com seus conhecimentos. Tem postura altiva
e consideram-se o que há de melhor entre os judeus, detentores da verdade e mais próximos de
Deus. O Orgulho e a vaidade são suas principais características.
Saduceus – era um grupo formado pela elite, principalmente proveniente das famílias da alta
hierarquia sacerdotal e ocupavam cargos poderosos. Provavelmente, era um grupo menor, mas mais
influente que os Fariseus. Sua influência, porém, era mais sentida entre os grupos governantes ricos.
De humor intratável, mesmo entre eles, eram desprovidos de amabilidade para com os
compatriotas e estrangeiros. Severos em todos os sentidos, aplicavam a justiça das Leis Mosaicas
com todo seu rigor. Seguiam somente às leis escritas, presentes na Bíblia hebraica (a Torah), e
rejeitavam as tradições mais novas.
Eram altamente ritualistas e só aceitavam os cultos realizados no Templo. Possuíam um
papel importante no Sinédrio e controlavam as atividades e riquezas do Templo. Materialistas e
céticos, não acreditavam na fatalidade e no destino, defendiam a ideia do livre arbítrio.
Vale destacar que os saduceus não eram bem vistos pelo povo, já que faziam parte da elite e
apoiavam os romanos. Os Evangelhos retratam frequentemente os Saduceus e os Fariseus como
oponentes de Jesus.
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Perfil – preocupações materiais e imediatas dominam os Saduceus. Usam o cargo político
religioso para fins pessoais e não se importam com o povo, apenas com as questões financeiras.
Não tem fé religiosa, cumprem apenas os rituais de forma mecânica, lutando apenas para se manter
no cargo. Não acreditam na vida após a morte, anjos e na Providencia Divina, sendo a preguiça, a
avareza e cobiça são suas principais características.
Com a destruição do Templo e o domínio romano, essa seita acabou desaparecendo.
Essênios – organizados como uma comunidade monástica (abdica da vida cotidiana para
viver a vida religiosa), formavam um grupo minoritário e viviam em uma área localizada perto do Mar
Morto. Moravam em colônias, em grupos isolados, numa espécie de mosteiro.
O objetivo dos essênios era manterem-se puros e observadores da Lei. Rejeitaram a
adoração a Deus em Jerusalém e recusavam-se a assistir os festivais ou apoiar qualquer tipo de
atividade no Templo.
Eles viviam em regime comunitário com regras e rituais rígidos. Dentre os ritos observados,
estava a prática do batismo, como forma de purificação. Praticavam a caridade ao manter
leprosários, abrigos e orfanatos, adotando crianças como filhos e iniciando-os no aprendizado da
seita, chegando, também, a atender pessoas necessitadas em seus lares.
Provavelmente praticavam o celibato. Reuniam-se para orar e para comentar os livros
sagrados (Lei Mosaica). Produziam tudo que consumiam, dividindo entre eles próprios. Possuíam
hábitos alimentares e de vestuário muito simples.
Todos eram tratados igualmente. Vestiam túnicas brancas para as refeições e atividades
religiosas e túnicas escuras quando trabalhavam, nunca levavam bagagem quando viajavam, pois,
em todas as cidades ou vilas, encontrariam acolhida por parte dos hospitaleiros ligados a seita .
Os Essênios não são mencionados no Novo Testamento. Contudo, alguns estudiosos
acreditam que João Batista e José de Arimateia estavam associados a este grupo.
A seita foi eliminada pelos romanos durante a guerra judaica.
Perfil – procuravam sempre fazer o bem, estando sempre mais perto dos ensinamentos do
Cristo. Eram justos, leais entre si e com todos aqueles que Deus lhes confiou. Amavam a verdade e
desmascaravam a mentira, abstendo-se de terem lucros. Nada ocultavam dos outros membros da
seita e nada revelavam ao exterior. Defendiam a doutrina, protegendo os livros Sagrados.
A iniciação dos seus membros era gradual, requerendo vários anos de estudo e acreditavam
na imortalidade da alma.
Escribas – eram essencialmente profundos conhecedores das Leis. Tinham a função de ler e
explicar ao povo a Lei e os Profetas, pois essa função não pertencia exclusivamente aos sacerdotes
e qualquer pessoa podia interpretar as escrituras, bastava que possuísse um profundo estudo dos
livros sagrados.
Os Escribas não eram propriamente uma seita, na verdade, escriba era mais como uma
função dentro da religião judaica. O escriba tinha acesso às ciências mais secretas, que mantinham
longe do povo.
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A origem dos escribas remonta à época dos reinados, onde eles eram uma espécie de
secretários do rei, sendo encarregados de anotar as ordens e transmiti-las aos generais, sacerdotes
e ao povo. Posteriormente, passaram a assumir as funções dentro da religião judaica como forma de
registro da doutrina dos Fariseus e dos Saduceus e posteriormente como mestre do povo.
Perfil – os Escribas tem um perfil variado, de acordo com a seita que escolhem. Via de regra
são orgulhosos de seus conhecimentos e evitam reparti-los por insegurança. São submissos com
seus superiores e arrogantes com os subordinados, sendo que, a preocupação com a materialidade
e a profissão são seus traços mais marcantes.
Nazarenos – eram judeus que, sem chegarem à austeridade dos Essênios, colocavam-se em
situação moral semelhante a estes, dividindo bens e alimentos em comum e, embora continuassem a
viver em sociedade, davam continuidade a uma antiga instituição (como Sansão ao tempo dos
juízes), ao se consagrar a Deus (no mínimo durante um mês) e obedeciam a 3 compromissos:
1. Não cortar o cabelo.
2. Não beber vinho.
3. Não se aproximar das mulheres.
Jesus, provavelmente, foi um deles.
Alimentação
A origem da alimentação Kasher, está na Torá (carnes – levíticos 11; peixes e crustáceos –
deuteronômio 14). A religião definia quais os tipos de alimentos podiam ser consumidos, levando-os
a uma alimentação mais saudável e higiênica, equilibrando corpo, mente e espírito.
Segundo as leis judaicas, o alimento que pode ser ingerido é chamado de Kasher (válido, em
hebraico) e o alimento inapropriado é chamado de treifá.
Alimentos Kasher: vegetais, grãos e frutas in natura, peixes com escamas e nadadeiras.
Aves, como galinha, pato, peru e pomba.
• O boi e ovelha ou carneiro são alimentos Kasher, pois têm o casco fendido e são
ruminantes. As aves Kasher só podem ser consumidas após serem devidamente abatidos e
inspecionados por um especialista (Shochet).
• Depois, devem ser devidamente processados, salgados e lavados, de modo a extrair o
máximo de sangue.
• Animais, como o porco, o camelo, o jumento, a lebre, o coelho, o lagarto, os crustáceos, as
aves de rapina, os insetos, os animais violentos e os peçonhentos não podem ser comidos, ou seja,
são Treifá.
• Carnes de animais ou de aves não podem ser misturados com leite, mesmo que ambos
sejam Kasher. É preciso ter panelas, talheres, louças e utensílios separados para sua preparação.
•
Após comer algo de carne, só se permite ingerir laticínios seis horas depois.
• Para essas restrições alimentares, existe um significado mais profundo. Segundo a Torá,
Deus criou os seres do mundo em quatro níveis: mineral, vegetal, animal e humano. Cada um foi
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criado para se elevar e alcançar o nível espiritual acima daquele que foi criado antes, aproximandose, dessa forma, do Criador.
As Festas Religiosas
Grande era o fervor religioso dos judeus. Eles celebravam várias passagens, sempre
baseadas na religião e tradição judaicas. As grandes festas eram:
Sucot – descrita na Bíblia (levítico) como "Festa das Cabanas (Tabernáculos – teto
pequeno)". Sucot era uma das três festividades celebradas até o ano 70 d.C., através da
peregrinação em massa ao Templo de Jerusalém e, por isso, chamada "as festividades de
peregrinação". Nessa festividade os judeus comemoram o Êxodo do Egito (aprox. séc. XIII a.C.) e
rendem graças pela colheita abundante. Sete tipos de alimentos são escolhidos na época do Sucot
em Israel, entre eles: trigo, cevada, uva, azeitona, romã, tâmara e figo.
Nos cinco dias entre Yom Kipur (explicado mais adiante) e Sucot, em dezenas de milhares de
lares e estabelecimentos comerciais, são erguidas cabanas temporárias, semelhantes às cabanas
nas quais os israelitas viviam no deserto, após o êxodo do Egito.
Pessach – na primavera, festeja-se Pessach (a Páscoa judaica), que comemora o êxodo e a
libertação da escravidão. A liberdade é o tema dominante do Pessach.
À noite, a família se reúne para o Séder, um jantar cerimonial, onde é servida uma bebida a
base de vinho e ervas amargas e inclui a leitura da Hagadá, uma narração elaborada em que se
recorda a história do êxodo e a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. Nesta refeição
festiva, são servidos alimentos tradicionais, principalmente o Matzot (pão sem levedura).
Durante a refeição, as túnicas são mantidas bem ajustadas à cintura, os bordões nas mãos e
as sandálias nos pés, simbolizando os preparativos para fuga do Egito, sendo que, depois deveriam
queimar as sobras da ceia.
Pessach é provavelmente a festa mais observada em Israel, depois de Yom Kipur, mesmo
pelos não religiosos.
Shavuot – a terceira festa da peregrinação. Recorda o recebimento dos Dez Mandamentos
no Monte Sinai e é comemorada sete semanas após o Pessach, no final da colheita da cevada, início
da colheita do trigo.
Rosh Hashaná – marca o início do ano novo judaico. Sua origem é bíblica (levítico 23 e 25) e
quer dizer "descanso solene, memorial de toque de shofar e convocação de santidade". A expressão
Rosh Hashaná, "começo o ano", é rabínica, como temas inerentes a esta festividade:
arrependimento, preparação para o dia do julgamento divino e oração por um ano frutífero.
A festa, de dois dias de duração, cai nos dois primeiros dias do mês de Tishrei (sétimo mês
do calendário judaico), que coincide geralmente com o mês de setembro no calendário gregoriano.
Seu início é ao anoitecer do dia anterior, conforme ocorre com todos os feriados judaicos. Nesta
festividade, o foco são os temas do dia santo e refeições festivas nos lares, em homenagem ao novo
ano e orações de arrependimento.
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Yom Kipur – festejada oito dias depois de Rosh Hashaná, é o dia da expiação, do julgamento
divino, Dia do perdão, para que o indivíduo se limpe de seus pecados (levítico 23; 27). É o único dia
de jejum determinado pela Bíblia, reservado para a meditação das próprias más ações cometidas
aos seus semelhantes. O judeu deve, neste dia, orar e pedir perdão pelos pecados que cometeu
contra Deus.
Os principais preceitos do Yom Kipur são longos serviços religiosos e um jejum de 25 horas.
O nível de solenidade pública no Yom Kipur supera o de qualquer outro dia santo, inclusive Rosh
Hashaná.
O Calendário
Baseados na Torá, a maior parte das ramificações judaicas segue o calendário lunar. O
calendário judaico rabínico é contado desde 3761 a.C.. O Ano Novo judaico, chamado Rosh
Hashaná, acontece no primeiro ou no segundo dia do mês hebreu de Tishrei, que pode cair em
setembro ou outubro.
O dia era dividido em doze horas, formando quatro grupos de três horas cada:
• Nascer do Sol →6:00 horas;
• 3ª hora → 9:00 horas;
• 6ª hora → 12:00 horas;
• 9ª hora → 15:00 horas;
• 12ª hora → 18:00 horas (por do sol).
Já à noite, que ia do poente ao nascente, dividia-se em quatro vigílias de três horas:
• Primeira vigília → 18:00 horas (por do sol) até às 21:00 horas;
• Segunda vigília → 21:00 horas até 0:00 hora (meia noite);
• Terceira vigília → 0:00 hora (meia noite) até às 3:00 horas;
• Quarta vigília → 3:00 horas até às 6:00 horas (nascer do sol).
Um novo dia começava ao anoitecer. Por isso, o descanso do Sabá (sábado) começava com
o pôr do sol na sexta-feira e terminava com o pôr do sol no sábado.
Bibliografia:
Historia universal, vol.4.- cap. XII – Cesare Cantu,
A caminho da luz – cap. XII – Emmanuel,
Curso de Aprendizes do Evangelho, FEESP.
O ESE, Alan Kardec,
História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, Frei Bruno Heuser.
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