Orientação familiar e síndrome de Down – análise da prática realizada em uma extensão universitária Autores: IVONALDO LEIDSON BARBOSA LIMA, TALITA MARIA MONTEIRO FARIAS BARBOSA, GABRIELA REGINA GONZAGA RABELO, BRUNA SAMYRES OLIVEIRA DE MACÊDO, CYNDERELLA KARLA MORAES DE LIMA, MARIANE SOUSA RÉGIS, ISABELLE CAHINO DELGADO, Introdução A Síndrome de Down é uma condição genética resultante da presença extra de um cromossomo 21 e se destaca por provocar alterações globais no desenvolvimento da criança1. Uma das alterações provocadas pela Síndrome de Down é o atraso no desenvolvimento da cognição e da linguagem das crianças, incluindo alterações na sintaxe expressiva, na emissão de morfemas gramaticais, na inteligibilidade de fala, na memória verbal, visuo-espacial e de curto-prazo e no vocabulário receptivo e expressivo2-3. A intervenção fonoaudiológica, nesse contexto, minimiza os atrasos e déficits cognitivos e linguísticos que os sujeitos com SD apresentam, sendo também ativa na prevenção ou superação dos distúrbios e dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita, aprimorando as habilidades comunicativas e contribuindo para a socialização desses indivíduos. O apoio da família é de grande importância para o sucesso do trabalho terapêutico, pois o ambiente familiar constitui um fator fundamental para o desenvolvimento da pessoa com SD, ocupando, também, um papel determinante no processo de aquisição da linguagem4. A família é o primeiro lugar onde a criança estabelecerá seus vínculos e receberá seus primeiros estímulos, sendo necessário que os pais e familiares estejam preparados e saibam como proporcionar os melhores estímulos aos filhos, pois a ausência de estímulos apropriados principalmente nas fases iniciais do desenvolvimento pode acarretar consequências significativas para o desenvolvimento da criança com SD5-6. A família desempenha um papel tanto de impulsionadora como de inibidora dos processos de desenvolvimento do indivíduo, considerando as características do ambiente, bem como as relações familiares nele estabelecidas7. Por isso, as orientações aos familiares que acompanham os pacientes durante o processo terapêutico são imprescindíveis. As orientações podem gerar mudança de postura dos pais diante das dificuldades e potenciais de seus filhos. Sendo assim, faz-se necessário esclarecê-los quanto à melhor forma de poder dar continuidade ao processo iniciado na terapia, para que os estímulos cognitivos e linguísticos sejam dados da forma propícia dentro das possibilidades, e fará com que a interação necessária para desenvolvimento e aprimoramento das habilidades ocorra de maneira eficaz. Objetivo Analisar a prática de orientações fonoaudiológicas a familiares de sujeitos com SD atendidos em uma extensão universitária. Métodos O presente estudo é de natureza quantitativa, do tipo descritiva e de temporalidade transversal. Participaram do estudo treze extensionistas de uma extensão universitária vinculada a uma Instituição de Ensino Superior da Paraíba, que realizam terapia fonoaudiológica há pelo menos seis meses em sujeitos com síndrome de Down. Vale salientar que a extensão, em questão, funciona há três anos e atende semanalmente cerca de 30 crianças e jovens com síndrome de Down, desenvolvendo ações de cunho fonoaudiológico com foco na promoção das habilidades de linguagem oral, leitura e escrita. Os participantes responderam a um questionário que continha vinte perguntas referentes ao procedimento de orientação fonoaudiológica e sobre os principais temas explorados na mesma. As respostas foram categorizadas e organizadas em uma planilha digital a fim de realizar a análise estatística descritiva. Ressalta-se que foram respeitados todos os princípios éticos durante a execução da pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem. Resultados e Discussão A maioria dos extensionistas (46,2%, n=6) está cursando o sexto período do curso de fonoaudiologia. Três (23.1%) estão no oitavo período, dois no sétimo (15,4%), um (7,7%) no quarto e um no terceiro período (7,7%). Oito extensionistas (61,%) participam da extensão há mais de um ano, três (23,1%) há seis meses e dois (15,4%) há um ano. Dentre as faixas etárias atendidas, 12 (92,3%) extensionistas atendem a adolescentes, 13 (100%) a crianças, cinco (38,5 %) a adultos. Com relação à frequência com que são dadas as orientações, 10 (76,9%) responderam que orientam semanalmente, 2 (15,4%) quinzenalmente e 1 (7,7 %) mensalmente. O tempo médio utilizado para realização das orientações foi entre cinco e 10 minutos. Sobre o que é relatado no momento das orientações, todos responderam que relatam o que é realizado na terapia, 84,6% (n=11) descrevem as evoluções do paciente e 84,6% (n=11) citam exemplos práticos de como realizar o trabalho em casa. Por unanimidade, todos concordam que as orientações são postas em prática pelos pais. Dentre as estratégias utilizadas para que as orientações fossem compreensíveis para os pais, a maioria das respostas indicou o uso de uma linguagem clara, de fácil entendimento, com apoio de exemplos, ideias e demonstrações para a realização em casa. Foi citado também o fato de se ressaltar os benefícios das atividades propostas para o desenvolvimento do paciente, e como a realização das mesmas em casa, certamente, irá contribuir para sua evolução. Além disso, as orientações desenvolvem um vínculo com a família, de modo que venha garantir uma maior adesão dela ao processo terapêutico. Como as principais dúvidas apresentadas pelos pais, 10 (76,9%) relataram que as dúvidas tratam-se principalmente sobre linguagem escrita, 10 (76,9%) sobre linguagem oral, 8 (61,5%) sobre fala, 7 (53,8% sobre escolarização, 4 (30,8 %) sobre comunicação e 4 (30,8 %) sobre sociabilização. Quanto às dificuldades no processo de orientação, 61,5% (n=8) respondeu que tem pouco tempo disponível para isso, 30,8% (n=4) citou falta de interesse dos pais, 30,8% (n=4) falta de compreensão e conhecimento dos pais sobre o assunto, 15,4% (n=2) dificuldade de dar alternativas para realizar as atividades em casa, 15,4% (n=2) não tem dificuldades e 7.7% (n=1) dificuldade de transmitir as orientações de forma clara. Todos os participantes da pesquisa concordaram que é necessário orientar sobre linguagem, fala e escolarização. 92,3% (n= 12) concordam que é necessário orientar sobre comunicação e sociabilização. Em relação à frequência das orientações, 84,6% (n=11) afirmaram que orientam os pais frequentemente sobre linguagem e fala, 61,6% (n=8) orientam sobre sociabilização e comunicação, e 46,2% (n=6) promovem orientações regulares sobre escolarização. A orientação familiar é uma forma simples e eficiente de intervenção terapêutica junto à família, que contribui de forma significativa para maximizar o desenvolvimento da criança com necessidades especiais em atividades de vida diárias8. Nesse sentido, é essencial que durante a terapia fonoaudiológica exista a promoção de orientações à família que atendam às necessidades do paciente e que haja uma continuidade da estimulação do ambiente clínico no contexto familiar, a fim de que o desenvolvimento do sujeito com síndrome de Down seja optimal. É interessante visualizar que essa prática é executada em uma extensão universitária, mostrando que os estudantes estão mobilizando o conhecimento científico e o uso de condutas profissionais em suas atividades, proporcionando maiores benefícios à população assistida. Conclusões A orientação familiar é uma prática regular na extensão universitária analisada e aplicada pelos pais no contexto familiar. De forma geral, os extensionistas a realizam semanalmente, em cinco a dez minutos, abordando principalmente os temas linguagem – oral e escrita – e fala. Descritores: Síndrome de Down, Linguagem, Aconselhamento Familiar Referências: 1. Schwartzman JS. Síndrome de Down. São Paulo: Memnon; 2003. 2. Ferreira AT, Lamônica DAC. Comparação do léxico de crianças com Síndrome de Down e com desenvolvimento típico de mesma idade mental. Revista CEFAC. 2012; 14(5): 786-91. 3. Andrade RV, Limongi SCO. A emergência da comunicação expressiva na criança com Síndrome de Down. Pró-Fono. 2007; 19(4):387-92. 4. Alves GAS, Delgado IC, Vasconcelos ML. O desenvolvimento da linguagem escrita em crianças com síndrome de Down. Rev Prolíngua. 2008; 1(1): 47-55. 5. Mayer MGG. Síndrome de Down versus alteração de linguagem: interação comunicativa entre pais e filhos. 2010. 80 f. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação Especial. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos; 2010. 6. Porto-Cunha E, Limongi SCO. Modo comunicativo utilizado por crianças com síndrome de Down. Pró-Fono. 2008; 20(4):243-8. 7. Pereira-Silva NL, Dessen MA. Crianças com e sem síndrome de Down: valores e crenças de pais e professores. Rev bras educ espec. 2007; 13(3):429-46. 8. Pavão SL, Silva FPS, Rocha NAC. Efeito da orientação domiciliar no desempenho funcional de crianças com necessidades especiais. Revista Motricidade. 2011;7(1):21-29.