JORNAL DO JP/24ª CRE NA SALA DE AULA POVO Segunda-feira, 17 de maio de 2004 Reportagem e coordenação do projeto: Patrícia Vargas História da Fenarroz se mescla à da cidade Feira mudou de perfil com a economia A Feira Nacional do Arroz (Fenarroz), que inicia sua 13ª edição hoje em Cachoeira do Sul, tem uma trajetória intimamente relacionada com momentos da história vivida pela cidade nos 63 anos em que se distribuem as 12 edições do even- Instituiu-se como marco inicial da história da Fenarroz a Festa do Arroz promovida em março de 1941. A festa foi comandada pelo então prefeito Ciro da Cunha Carlos, que acompanhou pela cidade o interventor federal Cordeiro de Farias, que veio prestigiar o evento. As ruas de Cachoeira do Sul foram enfeitadas com grande quantidade de arroz. A rainha da feira, Luci Marques Ribeiro, foi eleita por voto popular. Um dos pontos mais visitados durante a festa foi a minilavoura montada em plena Praça José Bonifácio. Durante o evento foram realizados grandes festejos e banquetes na Sociedade Concórdia, hoje Sociedade Rio Branco, que pararam a cidade durante o período de realização da festa. Uma missa campal, celebrada no Estádio Joaquim Vidal, reuniu a população, autoridades e convidados da primeira Festa do Arroz. O ano de inauguração da Fenarroz foi marcado também pelo desastre na lavoura de arroz, provocado pela enchente que ocorreu no mês de abril de 1941, logo após a realização da festa. As intensas chuvas fizeram o Rio Jacuí e seus afluentes subirem muito acima do normal - foi a maior cheia da história do município -, provocando grandes perdas nas lavouras. De acordo com as edições do Jornal do Povo da época, 400 mil sacos de arroz foram perdidos. A previsão de colheita, estimada em 1,2 milhão, acabou se reduzindo a apenas 800 mil sacos. A segunda edição da Fenarroz foi ocorrer somente 27 anos depois, em 1968. das em Cachoeira. A pujança econômica do município, a abertura da colheita do arroz e o sucesso de produção das lavouras cachoeirenses eram motivos para um evento com caráter quase que exclusivamente de festa. O evento, assim como a cidade, enfrentou também a decadência do setor industrial cachoeirense e, mais tarde, os efeitos das profundas mudanças econômicas e políticas que ocorreram no Brasil, como o descontrole da inflação e a queda do poder de consumo. LINHA DO TEMPO 1941 Festa do Arroz 1980 Realizado de 9 a 16 de março de 1941, o evento mobilizou toda a cidade, que investiu na pompa para selar na história o pioneirismo de Cachoeira do Sul na irrigação da lavoura orizícola do país. O mundo vivia desde 1939 a 2ª Guerra Mundial (até 1945). 1968 II Fenarroz V Fenarroz 1995 A feira ocorreu de 25 de abril a 11 de maio de 1980, com as presenças do presidente da República João Batista de Oliveira Figueiredo e do governador José Augusto Amaral de Souza. Foi inaugurado o novo complexo de armazéns de cereais da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa). Foram assinados os convênios para pavimentação do prolongamento da BR 153 (trecho entre Cachoeira e Rincão dos Cabrais) e aceleramento das obras de implantação do porto à margem do Rio Jacuí. Nesta edição, a programação da feira passou a contar com maior número de atividades técnicas, como um ciclo de palestras sobre economia e orizicultura, desenvolvimento agroindustrial e comercial e reprodução ovina. A pujança econômica cachoeirense foi retratada na V Fenarroz, que trouxe também alguns lançamentos em maquinário agrícola. Shows de Teixeirinha e Mary Terezinha, Chacrinha e suas chacretes e Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). 1984 VI Fenarroz 1972 III Fenarroz Ocorreu de 20 de maio a 4 de junho de 1972. O presidente da República Emílio Garrastazu Médici veio inaugurar a III Fenarroz , a BR 153, o Ginásio de Esportes Dom Pedro I e os pavilhões de exposição e de pecuária. A comitiva do presidente era formada por ministros e pelo governador do Estado Euclides Trichês e alguns secretários estaduais. A feira, que registrou 400 mil visitantes, teve show de Teixeirinha e, no encerramento, Roberto Carlos com seu conjunto, o RC7. Foi lançado o mascote da feira, Arrozito. 1976 IV Fenarroz O presidente da República Ernesto Geisel e ministros vieram inaugurar a IV Fenarroz, que aconteceu de 22 de maio a 6 de junho de 1976. Também prestigiou a festa o governador do Estado Sinval Guazelli. Foi divulgada a criação do Proagro (Programa de Garantia das Atividades Agropecuárias). Shows de Roberto Carlos, Benito Di Paula, Maria Creuza, Teixeirinha e Mary Terezinha. Aberta em 20 de abril de 1995 pelo governador Antônio Britto, a feira passou a ser realizada a cada três anos. O país acabava de passar por profundas mudanças no campo político. O presidente Fernando Collor de Melo havia sido apeado do poder por um processo de impeachment. A IX Fenarroz aconteceu em pleno lançamento do Plano Real, a inflação ainda persistia e a crise comprometeu mais uma vez o sucesso dos negócios. O presidente da feira, Ilmo Pfüller, decretou: a Fenarroz tem que se transformar num evento de negócios. Aconteceram os shows da banda Paralamas do Sucesso e Sandy e Junior. 1998 X Fenarroz 2000 XI Fenarroz Aconteceu de 30 de abril a 10 de maio de 1998, aberta pelo governador do Estado Antônio Britto e pelo ministro da Agricultura Francisco Turra. A feira relega a segundo plano a parte festiva e investe com prioridade na área dos negócios. A tecnologia de ponta é o destaque da feira, com diversos lançamentos de indústrias voltadas ao setor agrícola. É anunciado que a feira passaria a ocorrer a cada dois anos, para acompanhar o ritmo dos avanços da tecnologia do setor produtivo. 2002 XII Fenarroz Presidente Figueiredo descerra placa em sua homenagem Aconteceu de 21 de abril a 1º de maio de 1986, com a presença do presidente João Figueiredo e do governador Jair Soares. Entre os eventos paralelos da feira, destacaram-se a realização da II Vigília do Canto Gaúcho e a inauguração das obras de ampliação da Escola Estadual Coronel Ciro Carvalho de Abreu. As novidades em tratores são a grande atração. 1988 Soberanas caminham na obra do Ginásio D. Pedro I IX Fenarroz Aconteceu de 21 de abril a 1º de maio de 2000, com o presidente da Assembléia Legislativa Otomar Vivian representando o governador do Estado Olívio Dutra. A feira transformou-se, em seus 11 dias, na principal vitrina do Mercosul, com as principais novidades em implementos agrícolas, máquinas e equipamentos tecnológicos voltados à área orizícola. Recepcionistas e o novo pórtico A feira, realizada de 18 de maio a 2 de junho de 1968, 27 anos após a primeira edição, passou a ter caráter nacional, assegurando a Cachoeira a sede do evento. Três dias antes do início da feira foi inaugurada a Fonte das Águas Dançantes Artibano Savi. São construídos os pavilhões de pecuária e o de exposições e, ainda, o pórtico monumental no parque da Fenarroz. A Fenarroz, forçada pelas mudanças na economia mundial e necessidades do setor orizícola - avanços na industrialização do plantio, da colheita e do beneficiamento do arroz -, mudou seu perfil no final da década de 90, assumindo a característica de feira de negócios. Com isso, integrou-se ao mercado globalizado, passando a funcionar como uma espécie de vitrina para os fabricantes de novas tecnologias. Em 2004, a Fenarroz visa firmar posição de maior evento orizícola da América Latina. A história da Fenarroz FOTOS ARQUIVO JP Primeira edição teve pompa e tragédia to que já ocorreram. O mundo estar vivendo a 2ª Guerra Mundial (1939 a 1945) não impediu que a comunidade cachoeirense iniciasse com pompa a feira, em 1941, com o nome de Festa do Arroz. A primeira edição do evento mobilizou a sociedade, que investiu para selar na história o pioneirismo de Cachoeira na irrigação da lavoura orizícola do país. Inicialmente, o evento assinalava com festa a crescente produtividade das lavouras de arroz e as indústrias do setor instala- VII Fenarroz A feira ocorreu de 15 a 24 de abril de 1988, inaugurada pelo governador Pedro Simon e ministro da Agricultura Íris Rezende. A feira se transforma em grande evento cultural, com ótimo registro de público no parque de exposições, mas um volume de negócios em queda, provocada pelo momento econômico enfrentado pelo país (trocas constantes de moeda, instabilidade econômica e inflação). O baixo faturamento da feira era o primeiro indício de que o perfil da Fenarroz (até então bastante festiva) precisava mudar. Os principais shows foram os de Elba Ramalho, Gaúcho da Fronteira, Grupo Repontes e Dante Ramon Ledesma. 1992 Evento resgata tradição do destile Ocorreu de 13 a 19 de maio de 2002, aberta pelo governador Olívio Dutra. Com perfil voltado aos negócios, a feira atinge sucesso nesse objetivo, com expositores internacionais e eventos paralelos voltados a assuntos como as diretrizes e políticas da cadeia produtiva do arroz, tendências do Mercosul e globalização, mercado de agronegócios, importação, marketing e redução de custos de energia elétrica na irrigação. Eventos culturais e shows locais e regionais aconteceram no lonão cultural montado no parque. Vieram expositores da Colômbia, Argentina, Uruguai, Chile, Taiwan e Itália. VIII Fenarroz Aconteceu de 24 de abril a 3 de maio de 1992, com presença do governador do Estado em exercício João Gilberto Lucas Coelho e do ministro de Minas e Energia Marcus Vinícius Pratini de Moraes. A inflação assolava o país e era considerada o principal monstro da economia. Um dos reflexos da crise era a continuidade dos negócios em baixa na feira. A dupla de cantores sertanejos Leandro e Leonardo, no auge do sucesso, chega a Cachoeira para atrair toda a atenção da feira. O cantor romântico Fagner também fez show. Fontes: Arquivo Histórico Municipal e arquivo JP