EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA Estratégias moleculares para controle do Bicudo do algodoeiro e de Lepidópteras MARIA FÁTIMA GROSSI DE SÁ Brasília Setembro/ 2003 2 ÍNDICE Índice ....................................................................................................................... 2 Resumo .................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................... 6 Objetivos ................................................................................................................. 11 Metas ....................................................................................................................... 11 Revisão de literatura .............................................................................................. 13 Material e Métodos Recursos Físicos ..................................................................................................... 41 Recursos Humanos ................................................................................................. 44 Certificado de qualidade em biossegurança ........................................................ 46 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 47 Formulários Obrigatórios ..................................................................................... 54 Formulário 1 – Carta consulta ........................................................................ 55 Formulário 2 – Cronograma de execução e Plano de aplicação .................... 61 Formulário 2.1 – Consolidado geral do orçamento ........................................ 63 Formulário 2.2 – Orçamento: equipamentos e material permanente ............. 64 Formulário 2.3 – Orçamento: material de consumo ....................................... 67 Formulário 2.4 – Orçamento: passagens ........................................................ 69 Formulário 2.5 – Orçamento: recursos humanos ........................................... 71 Formulário 2.6 – Orçamento: outros serviços de terceiros ............................ 73 Formulário 2.7 – Orçamento: manutenção de equipamentos ........................ 74 Formulário 2.8 – Orçamento: diárias .............................................................. 75 Formulário 3 – Cronograma de desembolso ................................................... 95 Formulário 4 – Cadastro dos Pesquisadores Formulário 5 – Declaração de Adimplência .................................................. 104 Formulário 6 – Declaração de Contrapartida ................................................. 105 Formulário 7 – Termo de compromisso inicial .............................................. 106 Anexos Curriculum Vitae Maria Fátima Grossi de Sá ............................................................................. 107 Rose Gomes Monnerat Solon de Pontes ........................................................ 120 Francisco José Lima Aragão .......................................................................... 137 Roseane Cavalcanti dos Santos ...................................................................... 141 3 RESUMO As pragas são responsáveis por grandes perdas na agricultura, alimentando-se de tecidos vegetais e causando doenças em muitas plantas. Em geral, seu controle requer o uso de grande quantidade de pesticidas que, além de causar danos a saúde humana e ao meio ambiente, elevam substancialmente os custos de produção. Estima-se que nos últimos anos as perdas agrícolas causadas devido à ação de pragas e patógenos, em todo mundo, reduziram de 40 a 60% o total de alimentos produzidos (OERKE et al, 1994). No Brasil, as pragas herbívoras e parasitárias, tais como os insetos e os nematóides, são os que mais contribuem para as perdas na produção em culturas como algodão, café, cana-de-açucar e feijão, sendo, portanto, fundamental o desenvolvimento de variedades geneticamente resistentes aos insetos- praga. A cultura do algodão é de grande expressão socioeconômica para os setores primário e secundário do Brasil, sendo classificada entre as dez principais culturas agrícolas do Brasil e ocupando o sexto lugar mundial em superfície cultivada. Todavia, as pragas constituem-se um dos fatores limitantes para sua exploração; entre estas, as de habito endofítico, o Anthonomus grandis (bicudo do algodoeiro) e Spodoptera frugiperda (lagarta do cartucho), que têm preferência pelos botões florais e frutos do seu hospedeiro, destacamse entre as mais importantes. As partes infestadas por essas pragas servem como fonte de alimento e como local de reprodução, causando, portanto, prejuízos diretos ao desenvolvimento dos botões e ao volume da safra e, conseqüentemente, para a comercialização da fibra do algodão. Os danos provocados podem variar de uma região a outra, alcançando níveis de até 25% do custo da produção. A disseminação do bicudo do algodoeiro nas áreas cotonícolas contribuiu para que o Brasil passasse de grande exportador de fibras para importador. No inicio da década de 90, 8% do consumo nacional de algodão em pluma foi adquirido do mercado externo. Entre os anos de 94/95, esse percentual de importação passou para 41% e, em 1997 o Brasil já situava como 2 o maior importador mundial (SANTOS & SANTOS, 1997). Até a década passada, na região do cerrado, a presença do bicudo não tinha muita expressão. Atualmente, sua presença preocupa os produtores de algodão, onde este se dissemina em alguns locais em Goiás, Minas Gerais, Bahia e algumas áreas de Mato Grosso, causando enormes prejuízos (SANTOS, 2001). O cultivo do algodoeiro é uma das atividades agrícolas que mais utiliza produtos agroquímicos no controle de pragas. Essa realidade tem feito com que pesquisadores da Embrapa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, busquem alternativas cada vez mais ecologicamente corretas para o chamado "manejo integrado de pragas”. A pesquisa, ao longo das duas últimas décadas, vem desenvolvendo tecnologias de semi-controle e convivência com essas pragas, de modo a tentar restabelecer o montante da área cultivada com o algodão, através da utilização de cultivares precoces e do estabelecimento de genótipos que apresentam frutificação concentrada que são mais tolerantes ao ataque desses insetos. Porém, até o presente, a forma mais efetiva de controle é através de inseticidas químicos. As lagartas são as pragas mais importantes mundialmente, causando perdas e custos com controle por inseticida, totalizando ao redor de U$ 3 bilhões por ano. Aproximadamente 88% da área global de algodão sofre com infestações médias à altas de pragas de lepidópteras. Em base global, os cotonicultores usam US$ 1,7 bilhões em inseticidas para controle de pragas - são aplicados no algodão mais inseticida do que em qualquer outra cultura; o algodão consume 20% de todo o inseticida aplicado no mundo. Nas Américas, o complexo Heliothis virescens e H. zea tem sido controlado na maioria das áreas cultivadas. Entretanto, muita dificuldade tem surgido em decorrência do desenvolvimento de resistência aos organofosfatos e piretróides por parte de H. virescens (ELZEN, 1995). No Brasil, populações de S. frugiperda, têm ampliado sua área de ocorrência nos estados de Goiás, Mato Grosso, Bahia e Paraíba, causando danos à cultura algodoeira que se ampliam ano a ano (FERREIRA & SILVA, 1999). O controle de todos estes insetos-praga na agricultura moderna é realizado principalmente pelo uso de agroquímicos sintéticos em um mercado que movimenta 10 bilhões de dólares anuais. No entanto, além de reduzir em apenas 7% os prejuízos causados por insetos, este tipo de controle vem causando profundo impacto ambiental, como a poluição dos solos e águas, desequilíbrios ecológicos e toxicidade sobre organismos não-alvo. A incorporação de genes, expressando moléculas com atividade inseticida, em espécies vegetais economicamente importantes, como algodão, café, cana de açúcar e feijão, têm surgido como um método alternativo que vem apresentando visíveis benefícios a pequenos e grandes produtores de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os principais benefícios podemos destacar a redução de pelo menos 50% do volume de inseticidas aplicados, levando, conseqüentemente, a uma enorme redução dos custos de produção, aumento de produtividade e diminuição de resíduos de agrotóxicos em alimentos (JAMES, 2002). Assim, frente ao cenário dos grandes problemas que os insetos-praga podem causar na cultura do algodoeiro, este projeto visa contribuir para a redução dos prejuízos causados pelo bicudo do algodoeiro e lagartas, particularmente, a lagarta do cartucho. Frente a este objetivo, as ações deste projeto incluem a utilização de diferentes estratégias moleculares na prospecção de genes, codificadores de proteínas com capacidade para 4 controlar, especificamente, as pragas alvo e posterior desenvolvimento de variedades de algodão elite resistentes a estas pragas. Estas estratégias incluem: O uso de biblioteca combinatória de inibidores mutantes do tipo phage display para seleção de inibidores de proteinases melhorados, mais ativos e específicos para as pragas alvo. O uso de biblioteca combinatória de mutantes de inibidores de α-amilases, construída através da técnica de DNA shuffling para seleção de inibidores mutantes para as α amilases(s) das pragas alvo. O uso de biblioteca combinatória de toxinas Bt (Bacillus thuringiensis), construída através das técnicas de DNA shuffling e Phage display para seleção de toxinas mutantes para a praga alvo. O uso da região-pró das proteinases como fator de inibição da proteinase digestiva cognata do inseto alvo. INTRODUÇÃO A produção da agricultura mundial é reduzida em até 45% devido, principalmente, ao ataque, pré e pós-colheita, de uma variedade de pragas, incluindo insetos, nematóides e doenças induzidas por vírus e bactérias (OERKE et al., 1994). Essas perdas quantificam prejuízos anuais de mais de 100 bilhões de dólares. A principal forma de controle dessas pragas tem sido feita pela utilização de produtos químicos e, estes são estimados reduzir as perdas em apenas 7% (OERKE et al., 1994). A cultura do algodão está classificada entre as dez principais culturas agrícolas do Brasil, ocupando o sexto lugar mundial em superfície cultivada. A planta de algodão por possuir numerosas glândulas, denominadas nectários, produz uma secreção líquido-resinosa açucarada, que faz com que sua cultura seja uma das mais atrativas aos insetos. Os danos provocados pelos insetos podem variar de uma região para outra, e seu controle pode chegar a até 25% do custo da produção. Dentre os insetos fitófagos associados ao algodoeiro, destacam-se como pragas importantes o bicudo do algodoeiro- Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae), o Curuquerê - Alabama argilacea (Lepidoptera: Noctuidae), a lagarta da maçã - Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae), a lagarta rosada - Pectinophora gossypiella (Saund, 1844) (Lepidoptera - Gelechiidae) e a lagarta do cartucho do milho – Spodoptera frugiperda (lepidoptera: Noctuidae). Dentre essas importantes pragas, o bicudo do algodoeiro é considerado uma das pragas mais sérias da agricultura em todo o Mundo pelos danos que causa e pelas dificuldades do seu controle. Esta praga tem ampla distribuição em regiões tropicais e temperadas quentes, sua detecção no Brasil deu-se, pela primeira vez, em fevereiro de 1983, na região de Campinas, Estado de São Paulo. A rápida disseminação do bicudo, abrangência e danos nas áreas cotoniculturas do Brasil, indicaram sua grande capacidade de adaptação a novos ambientes que, reforçado pôr suas características biológicas e comportamentais favoráveis, tornou-se a praga-chave da cultura do algodão no país. Atualmente o bicudo tem preocupado os produtores de algodão do cerrado; sua presença nas regiões do cerrado era sem muita expressão, porém, nos últimos anos vem sendo detectado em alguns locais em Goiás, Minas Gerais, Bahia e algumas áreas de Mato Grosso, causando enormes prejuízos. Desde a introdução do bicudo no Brasil e particularmente no Nordeste, estudos têm sido conduzidos visando gerar tecnologias que sejam econômica e ecologicamente viáveis para serem utilizadas no seu controle. Entretanto, a maioria dos esforços realizados até hoje tem se concentrado no aspecto agronômico como o Manejo Integrado de Pragas, melhoramento clássico visando o desenvolvimento de cultivares de ciclo curto e maturação rápida, desenvolvimento de armadilhas, apresentação de novos inseticidas, etc. Esforços tem sido de grande valia, entretanto, o bicudo ainda se mantém como praga que mais causa prejuízo à cultura do algodão no Brasil. A fase larval deste inseto é endofítica, portanto não é passível de ser controlada por biopesticidas ou por métodos convencionais. Na fase adulta, este inseto se alimenta dos botões florais e das maçãs, onde deposita seus ovos. Na época da colheita do algodão, o bicudo se abriga em refúgios localizados nas matas auxiliares ou nas soqueiras aguardando o novo plantio. A lagarta do cartucho do milho se alimenta das folhas no seu estágio mais jovem e penetra nas maçãs e nos botões florais, causando grande destruição e dificultando o seu controle (NAKANO et al., 1992). A principal forma de controle destes insetos tem sido feita pela utilização de produtos químicos (FRANÇA, 1993), cuja aplicação exige um grande investimento, onerando ou mesmo inviabilizando em alguns casos a produção. Segundo dados do “IPM Working for Development”, quase 25% de todos os pesticidas utilizados pela humanidade são gastos na cotonicultura, movimentando um mercado de US$ 7,5 bilhões/ano. Nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil são efetuadas em média 18 aplicações de produtos durante o ciclo da cultura. Na região Centro-Oeste, onde as lavouras são mais recentes estão previstas onze aplicações só para controlar o bicudo. O controle de pragas, baseado no uso de agroquímicos, além de aumentar os custos da produção, causam danos à saúde do produtor, e, principalmente, ao meio ambiente. Este fato, associado a outros como a 5 explosão demográfica dos paises pobres, a escassez de áreas agricultáveis nos países industrializados e ao impacto da destruição de vegetações nativas para a expansão da fronteira agrícola nos países em desenvolvimento, tem justificado a necessidade de pesquisa e de desenvolvimento de métodos alternativos para proteger as plantas contra a predação de insetos-pragas. Dessa forma, o desenvolvimento de novos produtos e variedades de plantas com resistência a pragas e/ou doenças são alternativas de controle que podem ser mais eficazes, além de evitar danos ao meio ambiente. Entre as estratégias para o controle de pragas, incluem alternativas biológicas tais como a utilização de bactérias, fungos, vírus e a obtenção de plantas geneticamente modificadas. A incorporação de genes expressando proteínas entomotóxicas, em espécies vegetais economicamente importantes, vêm sendo abordado como um método alternativo e bastante promissor (PERLAK et al., 1990, GATEHOUSE & GATEHOUSE, 1998, CARLINI & GROSSI DE SA, 2002). Neste aspecto, a engenharia genética visando resistência de plantas de algodão contra as pragas, Anthonomus grandis e Spodoptera frugiperda, tem o potencial de superar muitas das limitações típicas dos métodos de controle atuais, além das limitações dos métodos clássicos de melhoramento. Além disso, a recente aprovação da Lei de Propriedade Intelectual, aliada a uma crescente conscientização da sociedade contra o uso indiscriminado de agrotóxicos e preservação do meio ambiente, especialmente em países mais desenvolvidos, nos permite antever um cenário onde plantas geneticamente modificadas serão, em curto prazo, fortes competidores dos cultivares nacionais. Diferentes classes de proteínas são hoje conhecidas como proteínas de defesa por conferir resistência contra insetos predadores e infecção por vírus, fungos, bactérias e nematóides. As mais conhecidas são as lectinas, proteínas inativadoras de ribossomos (RIPs), glicohidrolases, defensinas, inibidores de enzimas hidrolíticas digestivas e as toxinas Cry (GATEHOUSE & GATEHOUSE, 1998; CARLINI & GROSSI DE SA, 2002). O potencial biotecnológico de muita dessas proteínas de defesa foram demonstrados através de sua introdução em plantas de interesse. Hoje existe uma enorme lista de plantas geneticamente modificadas resistentes a pragas, sendo muitas delas comercializadas (JOUANIN et al., 1998; BRASILEIRO, 2001). Plantas transgênicas portando genes que codificam toxinas provenientes do Bacillus thuringiensis (Bt), atualmente ocupam 11,4 milhões de hectares e estão revolucionando a agricultura (SHELTON et al, 2002). O desenvolvimento de novas cultivares resistentes às pragas mais devastadoras será um dos referenciais futuros para o incremento da cotonicultura nacional, traçando uma linha divisória entre um agronegócio ecologica e economicamente promissor e as dificuldades visualizadas no presente. Considerando a importância do dano causado pelo bicudo do algodoeiro e pelas lagartas, a carência de métodos eficientes e não poluentes para o controle e a existência de infra-estrutura e material biológico, foi iniciado no final do ano de 1998 um projeto de pesquisa cujo objetivo é buscar soluções alternativas, confiáveis, que não agridam o ambiente para controlar estas importantes pragas da cultura de algodão. Este projeto tem como objetivo principal o controle das pragas do algodoeiro de hábito alimentar endofítico (A. grandis e S. frugiperda) e de lagartas por meio do uso da engenharia genética. Atualmente, genes, codificadores de proteínas entomotóxicas foram isolados e estão sendo introduzidos em plantas de algodão. Ademais, através de estratégias moleculares baseadas, principalmente, em bibliotecas combinatórias de toxinas Bt e de inibidores de enzimas hidrolíticas digestivas, novos genes, codificadores de moléculas mais ativas e com maior especificidade serão isolados e utilizados na transformação de plantas de algodão visando o controle destes importantes insetos-praga. OBJETIVOS O objetivo deste projeto é a utilização de genes com potencial inseticida no controle do bicudo do algodoeiro e de lagartas através de plantas de algodão geneticamente transformadas. Pretende-se prospectar genes codificadores de toxinas Bt e com atividade sobre o bicudo e lagartas e introduzi-los em variedades de algodão brasileiras. O objetivo final é ter uma variedade de algodão agronomicamente melhorada e resistente ao bicudo do algodoeiro, o que contribuirá para o aumento da produção, redução do uso de inseticidas e custos da produção. O projeto se encontra em fase onde, paralelamente, experimentos de transformação de plantas de algodão estão sendo conduzidos (utilizando-se genes, previamente identificados, codificadores de proteínas ativas para as pragas) e novos genes estão sendo identificados e isolados. O objetivo final é ter uma variedade de algodão agronomicamente melhorada e com resistência a viroses (Gossipium hirsutum-Cedro) resistente ao bicudo e as lagartas, o que contribuirá enormemente para o aumento na produção, redução do uso de inseticidas e de custos da produção. 6 METAS Construção de vetores de expressão de plantas contendo o(s) gene(s) codificadores de toxinas ativas para o bicudo e a lagarta do cartucho (Genes: BCTI, tarina e cry8Bc). Regenerar e Transformar plantas de algodão com os genes identificados, codificadores de proteínas ativas para o bicudo e lagarta do cartucho. Selecionar inibidores de -amilases mutantes com alta eficiência em inibir as-amilases do bicudo do algodoeiro, através do uso de bibliotecas do tipo Phage display de inibidores mutantes recombinados, Selecionar mutantes de toxinas Bt com alta atividade e especificidade para o bicudo do algodoeiro e a lagarta do cartucho do milho, através do uso de bibliotecas do tipo Phage display de genes para toxinas Bt recombinados, Prospectar genes codificadores para as tóxinas Bt eficazes para o bicudo do algodoeiro, lagarta do cartucho, lagarta rosada e curuquêre, a partir de novas cepas de B. thuringiensis. Expressar os genes isolados em sistema heterólogo (Escherichia coli, células de inseto, plantas) e testar contra as diferentes pragas-alvo. Realizar bioensaios com as toxinas e produtos de genes expressos. Truncar o gene cry8Bc para obter o correto códon preferencial e introdução em plantas de algodão. Isolar e caracterizar as proteinases da lagarta do cartucho, lagarta da maça, curuquêre visando a seleção de inibidores de proteinases específicas para estas pragas 7 REVISÃO DE LITERATURA O agronegócio brasileiro foi responsável no ano de 2002 por 44,5% das exportações brasileiras, o que correspondeu a um superávit comercial de US$ de 24 bilhões, se constituindo, portanto no principal sustentáculo da economia brasileira. Este excepcional desempenho deve-se entre outros fatores ao desenvolvimento de variedades de diferentes culturas resistentes a estresses bióticos e abióticos e adaptadas a ambientes diversos. Neste tocante, a biotecnologia moderna tem um papel fundamental já que permite isolar genes que conferem características agronômicas importantes e que podem ser utilizados como marcadores moleculares em programas de seleção assistida no melhoramento genético ou serem incorporados diretamente em plantas transgênicas. Estas novas ferramentas são, portanto, essenciais para o desenvolvimento de novas variedades de commodities economicamente importantes como soja, milho, café e algodão, assegurando a manutenção do importante papel do agronegócio na economia nacional. Estas mesmas ferramentas que são freqüentemente utilizadas em commodities também podem ser aplicadas a espécies tipicamente de agricultura familiar e conseqüentemente beneficiar um enorme número de pequenos agricultores. A participação do setor público é fundamental na biotecnologia agropecuária e definirá o quanto o País irá se beneficiar destas novas tecnologias e quais setores sociais serão atingidos por estes benefícios. O valor das taxas tecnológicas, embutidas em produtos biotecnológicos, está diretamente relacionado ao tamanho da participação do Estado no desenvolvimento destes produtos. Estes podem ser oferecidos por preços reduzidos e conseqüentemente tornando o produtor nacional mais competitivo quando desenvolvidos pelo Estado. Por outro lado, a aplicação de alta tecnologia voltada para o benefício de pequenos produtores só será realizada pela participação do setor público. Um exemplo que ilustra bem esta situação vem do algodão Bt gerado na China. Neste caso, empresas agropecuárias estatais isolaram genes, desenvolveram eventos elite e licenciaram diversas variedades. Isto possibilitou que mais de 4 milhões de pequenos produtores de algodão se beneficiassem deste produto, o que corresponde a cerca de 75% do número total de produtores do mundo que fazem uso de plantas geneticamente modificadas. Portanto fica claro que a participação da EMBRAPA é essencial para manter o agronegócio nacional competitivo e evitar a dependência do País em relação ao monopólio do setor biotecnológico exercido por empresas transnacionais. O papel da EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia na Biotecnologia agropecuária nacional é extremamente relevante já que este Centro é responsável por cerca de 50% das atividades da moderna biotecnologia realizadas por toda a EMBRAPA. As atividades de pesquisa em biotecnologia agrícola conduzidas envolvem a identificação de marcadores moleculares que serão utilizados em programas de melhoramentos e o desenvolvimento de linhagens elite transgênicas desde o isolamento de genes e seqüências regulatórias até o desenvolvimento destas linhagens que também entrarão nos programas de melhoramento realizados pelos Centros de produtos. Portanto, a EMBRAPA Recursos genéticos e Biotecnologia através das suas atividades e do seu relacionamento com os centros de produtos exercem um papel primordial no desenvolvimento de novas variedades para o agronegócio e a agricultura familiar. Para a identificação de genes que conferem resistência as principais pragas e patógenos de culturas importantes estão em curso uma série de projetos em diferentes culturas como café, algodão, banana e feijão de corda Ademais, projetos de transformação genética de feijão, soja, algodão e café para obtenção de linhagens elite resistentes as principais pragas e doenças destas culturas Os avanços em diversas áreas da biotecnologia, particularmente da engenharia genética, tem proporcionado o estabelecimento de inúmeros processos visando à melhoria das características agronômicas de culturas de interesse econômico. Processos biotecnológicos visando resistência de plantas a pragas têm sido desenvolvidos para culturas importantes tais como, batata, tomate, canola, algodão e soja, entre outras. As técnicas avançadas em biologia molecular, visando a prospecção de genes e a obtenção de resistência de plantas de interesse contra as pragas, têm o potencial de superar muitas das limitações típicas dos métodos de controle atuais, além das limitações dos métodos clássicos de melhoramento. Diferentes estratégias vêm sendo utilizadas para desenvolver plantas transgênicas resistentes ao ataque de insetos. Entre essas estratégias estão o uso de toxinas de Bacillus thuringiensis (Bt), dos inibidores de enzimas hidrolíticas digestivas (amilases e proteinases), de lectinas, de proteínas para genes de resistência (genes R), entre outras (CARLINI & GROSSI DE SA, 2002). Além do uso dessas proteínas, outras estratégias estão sendo desenvolvidas que permitem selecionar mutantes dessas proteínas específicos para as pragas de interesse bem como para quaisquer outras pragas alvo. Essas estratégias envolvem o uso de bibliotecas combinatórias de proteínas (inibidores e/ou toxinas) do tipo phage display, as quais são construídas visando a geração de milhões de variantes de uma proteína que poderão, então, serem testadas para selecionar ligantes alvo. 8 Pragas do Algodão O algodão (Gossypiun hirsutum) é uma cultura anual adaptado a regiões tropicais e sub-tropicais (GRIMES & EL-ZIK, 1990). No Brasil, classifica-se entre os dez principais cultivos agrícolas e o sexto lugar à nível mundial em superfície cultivada. A produção nacional de algodão em pluma atingiu um recorde de 965 mil ton na safra 1984/1985, porém reduziu drasticamente a 285 mil ton em 1996/1997. A área cultivada diminuiu de 1,9 milhões de hectares (ha) em 1992, a 668 mil ha em 1997. Atualmente, o Brasil produz 808,6 mil ton em 715,0 mil ha, sendo que os estados do Mato Grosso, Goiás e Bahia são os principais produtores (398,9, 111,5, 96,1 mil ton, respectivamente). A região Centro-Oeste é a principal região cotonicultora do país (579,9 mil ton, correspondendo a 71,7% do total), seguida pelas regiões Nordeste (117,1 mil ton), Sudeste (85,2 mil ton), Sul (24,7 mil ton) e Norte (1,7 mil ton), segundo levantamento da safra 2002/2003 (CONAB, 2003). Vários fatores foram responsáveis pela redução da produção, principalmente o ataque de pragas fitófagos tais como o bicudo do algodoeiro (A. grandis), o curuquerê (Albama argilacea), a lagarta da maçã (Heliothis virescens), a lagarta rosada (Pectinophora gossypiella) e a lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda), associados a falta de política agrícola do setor. A disseminação do bicudo do algodoeiro nas áreas cotonicultoras contribuiu enormemente para que o Brasil passasse de grande exportador de fibras à importador. No início da década de 90, 8% do consumo nacional de algodão em pluma foi adquirido do mercado externo, entre os anos de 94/95, esse percentual de importação passou para 41% e em 1997 o Brasil já situava como segundo maior importador mundial (SANTOS & SANTOS, 1997). O bicudo do algodoeiro apresentam ovos brancos e brilhantes, de formato elíptico, medindo 0,8 mm de comprimento por 0,5 mm de largura, sendo postos em cavidades abertas nos botões florais ou maçãs e os orifícios cobertos por cera. Após 3 ou 4 dias, eles eclodem originando larvas com aproximadamente 1 mm de comprimento que se alimentam diretamente nestes órgãos (sendo que a fase larval dura 11 e 31 dias nas maçãs e botões florais, respectivamente), posteriormente entram no estágio de pupa com duração de 3 a 5 dias, seguido pelo período de pré-oviposição (3 a 4 dias) e a fêmea com vida média de 20 a 30 dias apresenta oviposição de 100 a 300 ovos e 3 a 7 gerações por estação, possuindo alta capacidade de proliferação (SILVA et al., 1995). Desde a introdução do bicudo do algodoeiro no Brasil e particularmente no Nordeste, pesquisas visando obter novas tecnologias que sejam econômicas e ecologicamentes viáveis de serem aplicadas no controle do inseto alvo têm sido desenvolvidas. Entretanto, a maioria dos esforços realizados concentram-se nos aspectos agronômicos como o manejo integrado de pragas, o melhoramento clássico visando o desenvolvimento de cultivares de ciclo com maturação rápida, desenvolvimento de armadilhas, apresentação de novos inseticidas, entre outros. Estes esforços têm sido de grande importância, porém, pragas como o bicudo ainda se mantém como o fator primário de prejuízos à cotonicultura no país. A situação possui como agravante a característica endofítica da fase larvária deste inseto, dificultando o controle com biopesticidas ou por métodos convencionais. A grande quantidade de inseticidas utilizada, atualmente, na cultura do algodoeiro, causa danos à saúde humana e ao meio ambiente, portanto o desenvolvimento de plantas transgênicas reduziria a quantidade de inseticidas necesssária para a obtenção de produtividades rentáveis, contribuiria para viabilizar o agroecossistema, garantindo sua sustentabilidade. Estratégias de Defesa A sobrevivência das plantas requer resposta imediata a estímulos externos oriundos de predadores, ou adversidade ambiental, como temperatura e estiagem. A principal resposta consiste no desencadeamento de sinais internos, capazes de ativar a produção das substâncias de ataque ao patógeno (REINBOTHE et al., 1994; GRAHAM & GRAHAM, 1996; YANG et al., 1997; KELLER et al., 1999), ou devido a presença de proteínas tóxicas contra patógenos/herbívoros capazes de proteger os nutrientes endógenos, garantindo o desenvolvimento do novo indivíduo e perpetuação da espécie (GUTIÉRREZ et al., 1990). Na relação planta-patógeno, a resistência resulta da incapacidade do patógeno em reconhecer/infectar a planta, ou capacidade de ativação rápida e efetiva dos mecanismos de defesa, conduzindo à proteção. As diferentes respostas fisiológicas frente a um patógeno conferem resistência ou suscetibilidade, cujo especificidade seria explicada pelo conceito de interação gene-por-gene; i.e., a especificidade é determinada pela interação entre os produtos do gene de resistência dominante (R) e gene correspondente de avirulência (Avr) do patógeno, assim as relações incompatíveis requerem a interação de ambos produtos gênicos para iniciar uma resposta (HAMMONDKOSACK & JONES, 1996; Van der HOORN et al., 2002). Neste contexto, o modelo evocador-receptor é o mais aceito, destacando-se a importância do processo de reconhecimento entre o hospedeiro e patógeno. Postula-se que os produtos do gene de avirulência, ou metabólitos resultantes da atividade catalítica de uma proteína (evocador) são reconhecidos por moléculas alvo específicas nas plantas (receptores), codificados por genes de resistência. Para estabelecer a infecção, o patógeno deverá romper as barreiras físicas que protegem as células vegetais do ambiente externo, como cutícula e parede celular (JACKSON & TAYLOR, 1996). A cutícula consiste de ácido graxo hidroxilado, esterificado com compostos fenólicos (quitina) ou álcool primário (ceras); a 9 parede celular contém polímeros de carboidratos (celulose, hemicelulose e pectina), proteínas (glicoproteínas ricas em hidroxiprolina ou extensinas, que constituem proteínas ricas em glicina e enzimas hidrolíticas) e compostos fenólicos, representados pela lignina e ésteres fenólicos (BOUDART et al., 1995). Estes compostos participam nas interações intermoleculares, incorporando compostos fenólicos (lignificação da parede celular), ou proteínas estruturais (glicoproteínas ricas em hidroxiprolina) na parede celular, sendo regulados por peroxidases, pH ou Ca2+, desencadeando rearranjo estrutural e consequente diminuição da permeabilidade ao patógeno (SHOWALTER, 1993). Conhecendo-se os processos de interações entre a planta e o patógeno durante o mecanismo de ataque, GATEHOUSE et al. (1992) dividiram as estratégias de defesa da planta em dois grupos: o primeiro, representado por estruturas físicas, isto é, prevenção contra penetração de patógenos e o segundo, pela defesa bioquímica oriunda da ação de compostos tóxicos contra pragas e patógenos, que o elimina por competição no decorrer do desenvolvimento da planta. As proteínas de defesa dividem-se em três classes, conforme função desempenhada. A primeira classe agrupa produtos capazes de mudar diretamente as propriedades extracelulares da matriz, aumentando a defesa por reforçar, reparar ou alterar a parede celular. O grupo inclui proteínas estruturais constituídas de glicoproteínas ricas em hidroxiprolina/glicina e enzimas envolvidas na construção/modificação de polímeros da parede celular (lignina, suberina, compostos fenólicos e calose) (GOMES & XAVIER-FILHO, 1994). O segundo grupo contém proteínas com atividade antimicrobiana direta, exemplificando-se hidrolases pertencentes a quitinase e β-1,3-glucanase, catalisadores da síntese de antimicrobianos ou contra herbívoros (inibidores de proteinases e amilases), proteínas tóxicas (lectinas, tioninas e toxinas Bt), além de enzimas envolvidas na síntese de metabólitos secundários como taninos, quinonas e fitoalexinas com atividade antimicrobiana (BOWLES, 1990; FRANCO et al., 2002). A terceira classe envolve proteínas com resposta de defesa relacionada com patogênese (PR) (GOMES & XAVIER-FILHO, 1994). As pesquisas vêm se acelerando nos últimos anos para identificar novas substâncias produzidas por plantas ou microrganismos, capazes de participar direta ou indiretamente nas estratégias de defesa contra insetos e patógenos microbianos. As substâncias envolvidas pertencem ao grupo de fenóis, aminoácidos não protéicos, alcalóides, lectinas e inibidores de proteinases e de -amilases (GATEHOUSE et al., 1992) e toxinas de B. thuringiensis (Bt) ou proteínas Cry (MARZARI et al., 1997), entre outras. Destaque especial tem sido dado as toxinas Bt com alta especificidade a determinados insetos, cujo o setor com marcante evolução, vem introduzindo na era das plantas biotecnologicamente melhoradas resistentes a insetos (BURKNESS et al., 2002; BAUR & BOETHEL, 2003; ZOERB et al., 2003). Toxinas Bt ou Proteínas Cry B. thuringiensis é uma bactéria gram positiva, da família Bacillaceae que durante esporulação produz inclusões protéicas cristalinas, contendo proteínas denominadas δ-endotoxinas. Elas compõem uma família com 110 membros, classificados em 22 grupos, cujo as características encontram-se na Tabela 1. As proteínas Cry 16, 17 e 18 são excessões, sendo produzidas por Clostridium bifermentans spp. malaysia e apresentam atividade contra três espécies de mosquitos: Aedes aegypti, Culex pipiens e Anopheles stephensis (BARLOY et al., 1996; ZHANG et al., 1997). As toxinas Bt apresentam massa molecular de 65 a 138 kDa e são classificadas segundo a similaridade de sequência de aminoácidos (CRICKMORE et al., 1998). Estas são produzidas, na forma de protoxina, a partir do segundo estágio de esporulação do B. thuringiensis e os cristais liberados com a lise celular. A toxina é composta por três domínios, sendo que o domínio I (N-terminal) possui 8 α-hélices com a hélice central relativamente hidrofóbica, enquanto que o domínio II (intermediário) e o domínio III (C-terminal) são constituídos por regiões β. A distribuição do potencial eletrostático na superfície da molécula não é uniforme e identifica um sítio do domínio α-helical com carga negativa, porém a predominância de resíduos de arginina mantém a distribuição de cargas positivas em meio alcalino encontrado no intestino do inseto (GROCHULSKI et al., 1995). Na Figura 1 apresenta-se a estrutura tridimensional das toxinas Cry, com os respectivos domínios. Os domínios da toxina possuem funções distintas no exercício da atividade tóxica. O domínio II (Figura 1C) é o responsável pela interação e reconhecimento do receptor nas células intestinais do inseto; o domínio I (Figura 1B) sofre hidrólise proteolítica, seguido de oligomerização e inserção na membrana da células epiteliais no intestino do inseto e consequentemente a formação do poro de lise, além de apresentar atividade sobre as propriedade do canal iônico; e o domínio III (Figura 1D) apresenta atividade sobre as propriedades do canal iônico e participa no reconhecimento do receptor (DEAN et al., 1996). As protoxinas são transformadas em peptídeos tóxicos no intestino do inseto, pela ação de proteinases e do pH alcalino, causando a morte das células epiteliais ao inativar o sistema de manutenção do gradiente de pH e por citólise osmótica (ARONSON et al., 1986; KNOWLES & ELLAR, 1987; WOLFERSBERGER, 1992). As toxinas Bt aumentam a permeabilidade das microvilosidades apicais aos cátions, ânions, água e moléculas de maior tamanho, resultando no colapso da diferença de potencial elétrico e perda da força motriz que dirige a entrada de aminoácidos em direção ao interior celular, assim como a redistribuição dos cátions entre o lúmem e o 10 citoplasma. Considera-se que o efeito mais devastador deste processo seja a alcalinização do citoplasma, interferindo no metabolismo celular e consequente destruição do epitélio intestinal, seguido de morte das larvas por inanição (HARVEY, 1992; WOLFERSBERGER, 1992). As vantagens da utilização de toxinas Bt são: especificidade a grupos de insetos, não é poluente ao meio ambiente, inocuidade aos mamíferos e vertebrados e não possui toxicidade sobre as plantas (WHITELEY & SCHNEPF, 1986; OMS.,1987). A 50 anos os produtos obtidos de B. thuringiensis são comercializados no controle de pragas de interesse econômico na agricultura com um mercado anual de aproximadamente 100 milhões de dólares, sendo que no início de 1998, havia aproximadamente 200 produtos comerciais à base de Bt registrado nos EUA, com perspectivas crescente do uso destes compostos devido ao desenvolvimento de legislações de proteção ambiental mais rigorosas (RIGBY, 1991; DIAS, 1992; BRAVO & QUINTERO, 1993; SCHNEPF et al., 1998). As técnicas de engenharia genética permitiram o desenvolvimento de um sistema que consiste na transferência e expressão de genes que codificam δ-endotoxinas de Bt em plantas (AZEVEDO, 1998). Os primeiros resultados de transferência de genes de Bt foram obtidos no fumo e tomate em 1987, desde então, vários genes cry foram introduzidos em diversas plantas como algodão, arroz, milho, batata, soja, canola e outras (VAECK et al., 1987; BARTON et al., 1987; FISCHHOFF et al., 1987; JOUANIN et al., 1998; BURKNESS et al., 2002; BAUR & BOETHEL, 2003; ZOERB et al., 2003). Nos EUA, em 1995, foram liberadas em nível comercial as primeiras plantas geneticamente modificadas expressando proteínas Cry (JOUANIN et al., 1998). Nas plantas, a produção de proteínas Cry oferece várias vantagens, pois é um sistema ambientalmente seguro, já que o produto pode ser expresso apenas em tecidos de interesse ficando retido no interior destes tecidos não deixando resíduos ambientais, além de não possuir relatos sobre a atividade contra insetos benéficos (RUUD et al., 1999). Como as proteínas são produzidas continuamente persistem por algum tempo na planta, sendo necessário menor aplicação de outros inseticidas, reduzindo o custo da produção (JOUANIN et al., 1998; SCHNEPF et al., 1998; AZEVEDO, 1998). O algodão é o terceiro principal cultivo transgênico ocupando globalmente 6,8 milhões de hectares, correspondendo a 12% da área global de transgênicos, sendo plantado nos EUA, México, China, Argentina, África do Sul, Índia, Honduras, Colômbia e Filipinas. Do total plantado, 2,4 milhões de hectares correspondem a algodão Bt, 2,2 milhões de hectares a algodão tolerante a herbicidas e 2,2 milhões de hectares correspondem a algodão transgênico contendo as duas características. Desde o início da adoção do algodão transgênico, a área total plantada tem crescido anualmente. A única exceção foi o período 2001-2002 onde a área se manteve inalterada. A ausência de crescimento ocorreu principalmente devido à redução em 10% de toda área de algodão cultivada nos EUA, o que levou a uma redução da área transgênica desta cultura na mesma proporção. Dados do ISSA,2002 demonstram que a redução da área de algodão nos EUA foi devida aos preços internacionais que levaram alguns produtores de algodão a optarem pelo cultivo de commodities mais rentável como soja e milho. Na Austrália também ocorreu uma redução da área de algodão que foi acompanhada pela redução da área transgênica, neste caso devido a condições climáticas extremas. Em todos os outros países houve aumento da área de algodão transgênico. Dos novos países que adotaram o uso comercial de transgênicos, a Índia, maior produtor mundial de algodão (8,7 milhões de hectares – o que corresponde a 25% da área mundial), cultivou em 2002 cerca de 45.000 hectares com algodão Bt. A Colômbia iniciou, em 2002, o cultivo em escala pré-comercial de algodão Bt, em área de 2.000 hectares, e Honduras foi, nesse mesmo ano, o primeiro país da América Central a introduzir o cultivo transgênico. Em 2002, nas Filipinas, o algodão Bt foi aprovado para utilização em escala comercial e na Austrália foi aprovada a utilização comercial do algodão Bt Bollgar®II. Este tem estimativa de plantio de até 5.000 hectares na safra 2002/2003 - a área plantada com esse produto deverá ocupar 70% do total cultivado com algodão no país. Entre os benefícios relatados por esses países, pelo uso de algodão transgênico, citamos a redução de 46% no uso de inseticidas pelos EUA, e a redução de 6 para 3,5% as aplicações de inseticidas pelo México. Na África do Sul, 65% dos pequenos produtores e 25% dos grandes produtores utilizam algodão Bt, com aumento de produção de 21,5%. A Argentina economizou cerca de 65% no uso de inseticidas, com benefício de US$ 65,00 por hectare. A China apresentou um crescimento de 1,5 milhões de hectares em 2001 para 2,1 milhões de hectares em 2002, representando 40% de aumento em sua área de algodão Bt, totalizando 51% do algodão total cultivado. Desse total, cerca de 72% não recebeu inseticidas e 29% foram feitas apenas de 1a 3 aplicações. 11 Figura 1: Estrutura das proteínas Cry. A. Estrutura tridimensional das proteínas Cry com os três domínios. B. Estrutura do domínio I. C. Estrutura do domínio II. D. Estrutura do domínio III. 12 Tabela 1: Características dos principais grupos de proteínas Cry, produzidas por B. thuringiensis. Proteína Cry (Classes) Cry1 Cry1 Aa, Cry1 Ka Massa Molecular Tipo de Cristais Fragmento tóxico: 60 – 70 kDa - Cry2 Cry2 Aa Cry2 Ab Cry2 Ac Cry3 4 proteínas 65 kDa Cubóides 72 – 73 kDa Rombóides Cry4 Cry4 Aa Cry4 Ba Cry 4 Aa: 135 kDa Cry 4 Ba: 128 kDa Ovóides Cry5 Cry5 Aa Cry5 Ab Cry5 Ac Cry5 Ba Cry6 Cry6 Aa Cry6 Ba Cry7 Cry7 Aa Cry7 Ab Cry8 Cry8 Aa Cry8 Ba Cry8 Ca Cry9 Cry10 Cry10 Aa Cry11 Cry11 Aa Cry11 Ba Cry12 Cry12 Aa Cry13 Cry8 Cry8 Aa Cry8 Ba Cry8 Ca Cry9 Cry10 Cry10 Aa Praga Alvo Fonte Geral: lepidópteros Cry1 Ca: lepidópteros e dípteros Cry1 Ba: lepidópteros e coleópteros Cry2 Aa: lepidópteros e dípteros Cry2 Ab e Ac: lepidópteros HOFTE & WHITELEY, 1989 Geral: coleóptero (L. decemlineata) Cry3: (M. euphorbiae) Cry3 Bb: (D. undecimpunctata) Dípteros WALTERS 1995 HOFTE & WHITELEY, 1989 LERECLUS et al., 1989 & ENGLISH, HOFTE & WHITELEY, 1989 LERECLUS et al., 1989 Cry5Aa e Cry5Ab: nematóides e ácaros Cry5Ac e Cry5Ba: formigas e coleópteros HOFTE & WHITELEY, 1989 Nematóides e ácaros HOFTE & WHITELEY, 1989 Coleópteros HOFTE & WHITELEY, 1989 - - - - - - - Cry8 Aa: coleópteros e afídeos Cry8 Ba e Ca: coleópteros HOFTE & WHITELEY, 1989 - 78 kDa - Dípteros HOFTE & WHITELEY, 1989 HOFTE & WHITELEY, 1989 72 kDa - Dípteros HOFTE & WHITELEY, 1989 - - Nematóides e ácaros HOFTE & WHITELEY, 1989 - - HOFTE & WHITELEY, 1989 HOFTE & WHITELEY, 1989 - - Nematóides Cry8 Aa: coleópteros e afídeos Cry8 Ba e Ca: coleópteros 78 kDa - Dípteros HOFTE & WHITELEY, 1989 HOFTE & WHITELEY, 1989 Inibidores de Proteinases de Plantas Em plantas, inúmeras proteínas têm a capacidade de inibir enzimas hidrolíticas. As proteínas, inibidoras de enzimas hidrolíticas, ocorrem naturalmente em muitas plantas, estando presentes em muitas sementes (RYAN, 1990). As principais classes são os inibidores de -amilases e os inibidores de proteinases.Nos últimos anos, as proteinases digestivas dos insetos têm sido forte candidatos alvo para o controle de pragas porque são facilmente acessíveis ao material da planta ingerido. Plantas de interesse expressando proteínas que podem seletivamente inibir as enzimas digestivas do intestino de uma praga particular, mas não de outros artrópodes ou dos consumidores (homem/mamíferos), poderiam proporcionar um caminho para a redução no uso de pesticidas químicos em plantações de culturas e/ou em sistemas de estocagem. A transformação de plantas, com genes de defesa, codificantes para tais proteínas, visando à obtenção de variedades resistentes a pragas tem sido alvo de muitos estudos nos últimos anos (BRASILEIRO, 2001). Genes para diferentes proteínas foram introduzidos em plantas e, muitas plantas transgênicas resistentes a insetos foram geradas (GATEHOUSE & GATEHOUSE,1998). O papel dos inibidores de proteinases na defesa de plantas contra predadores e patógenos é bem estabelecida. Embora diferentes funções endógenas para essas proteínas tenham sido propostas, que vão desde reguladores de 13 proteinases endógenas a proteínas de estocagem (WALKER et al., 1997), evidências para muitos desses papeis é ainda parcial, ou confinado a isolados exemplos. Entretanto, muitos inibidores de proteinases têm sido mostrados agir como compostos defensivos através de ensaios in vitro ou pela sua expressão em plantas transgênicas; um número grande de evidências consistentes com seu papel na defesa de plantas tem se acumulado. Os inibidores de proteinases têm sido considerados como agentes naturais de controle contra insetos herbívoros, porque estes reduzem a atividade proteolítica in vitro e afetam o desenvolvimento larval de um numero grande de diferentes espécies de coleópteras e lepidópteras (BROADWAY & DUFFEY, 1986; HILDER et al., 1987). Muitas famílias de plantas possuem inibidores de proteinases distribuídos através de seus órgãos reprodutivos, órgãos de reserva e tecidos vegetativos (SHEWRY & LUCAS, 1997). A maioria destes inibidores são moléculas pequenas, estáveis, abundantes e fáceis de purificar. O mecanismo pelo qual os inibidores de proteinases interferem no processo digestivo das pragas se deve à diminuição da assimilação de nutrientes através de sua ligação específica a enzimas proteolíticas de seus intestinos, impedindo que estas executem suas funções primordiais no processo de digestão protéica (RYAN, 1990). Por exemplo, quando insetos-praga são submetidos a uma dieta artificial contendo inibidores específicos para a principal classe de proteinases de seus intestinos, estes têm seu desenvolvimento retardado, bem como podem apresentar índices de mortalidade bastante significantes (MCMANUS & BURGESS 1995). Um dos mais importantes determinantes para o sucesso no uso de inibidores de proteinases contra insetos-praga é a seleção de inibidores apropriados. Existem quatro classes de inibidores de proteinases digestivas estabelecidas de acordo com suas atividades específicas: inibidores de serino-proteinases; de cisteinoproteinases (cistatinas); aspártil e de metalo-proteinases. O número de inibidores de proteinases de plantas identificados e isolados é grande, sendo os inibidores de serino e cisteino-proteinases, os mais caracterizados (RYAN, 1990, BODE & HUBER,1992). Muitos desses inibidores, tais como o inibidor de tripsina de soja e o de feijão-de-corda, afetam o desenvolvimento de vários insetos lepidópteros (BROADWAY & DUFFEY, 1986), os quais possuem uma grande quantidade de serino-proteinases em seus tratos digestivos (APPLEBAUM, 1985). A maioria dos inibidores de serino-proteinases, reagem com suas enzimas cognatas através de um mecanismo semelhante ao que ocorre na ligação entre enzima e substrato (LASKOWSKI & KATO, 1980). A formação do complexo enzima-inibidor ocorre rapidamente, mas a sua dissociação é lenta e resulta em enzima livre e em um inibidor clivado, o qual sofre desnaturação. Na formação desse complexo, estão envolvidas interações entre as cadeias do inibidor e da proteinase, tais como pontes de hidrogênio e forças de Van der Waals, entre outras. Para que o inibidor adquira uma conformação que o possibilite conectar-se à proteinase é também necessária a formação de pontes dissulfeto (ARDELT & LASKOWSKI, 1991). A formação do complexo enzima-inibidor envolve ainda a formação de uma ligação peptídica no sítio reativo do inibidor, e a presença de alguns elementos essenciais no sítio ativo da enzima. O mecanismo da catálise é comum para as proteinases e a estrutura foi bastante estudada através de técnicas de Difração de Raios-X (BODE & HUBER, 1992). Os inibidores de proteinases cisteínicas, conhecidos também como cistatinas, são um grupo de proteínas que se ligam às proteinases cisteínicas inibindo sua atividade (Kudo et al., 1998). Em animais, existem três famílias de cistatinas, classificadas de acordo com sua massa molecular, número de pontes dissulfeto, localização subcelular e estrutura primária. São elas: família das cistatinas I , cistatinas II e kininogenios (WALSH & STRICKLAND, 1993). Assim como os inibidores de serino-proteinases, as cistatinas se ligam reversivelmente às proteinases. Através de estudos de cristalografia (BODE et al., 1988) determinou-se que essas proteínas são formadas por uma longa α-hélice central envolvida por cinco folhas β-antiparalelas. Na extremidade das folhas β, uma alça rígida em forma de grampo, formada pela seqüência altamente conservada em todas as cistatinas (QVVAG ou seqüência similar) é exposta interações no subsítio S2 parecem fortalecer consideravelmente o complexo (BODE & HUBER, 1992). Várias pontes de hidrogênio são estabelecidas e a ligação é canônica, ou seja, ocorre de maneira similar à ligação do substrato à proteinase (DRENTH et al., 1976). Em plantas, as cistatinas de arroz (oryzacistatinas) são as mais bem caracterizadas. A partir da sequência genômica, essas proteínas foram inicialmente consideradas como pertencentes à família das cistatinas II, apesar de não possuírem pontes dissulfeto ou resíduos de cisteína. Entretanto, a organização genômica das oryzacistatinas e de outras cistatinas, como a do milho, diferem grandemente da organização das cistatinas animais (KONDO et al., 1991 & BROW et al., 1997). Elas podem também, ser distinguidas por serem proteínas de cadeia única, já que não contêm resíduos de cisteína para formar pontes dissulfeto. Todos esses dados suportaram a hipótese de que as cistatinas de plantas deveriam ser classificadas dentro de uma família individual: as fitocistatinas (ABE et al., 1987). Muitas fitocistatinas têm suas seqüências de aminoácidos conhecidas. Entre elas estão as oryzacistatinas I e II (ABE et al., 1991), a cistatina de feijão-de-corda (FERNANDES et al.,1993), a do fruto abacate (KIMURA et al., 1995) e a do milho (ABE et al., 1991). O nível de identidade de aminoácidos entre cistatinas de sementes e de frutos de diferentes espécies de plantas é alto, o que sugere uma função conservada para estas proteínas (KIMURA et al.,1995). 14 Atualmente, a função de defesa das fitocistatinas é bem aceita e baseia-se na sua capacidade de inibir, in vitro e in vivo proteinases de insetos-praga, como coleópteros, e proteinases de nematóides (URWIN et al., 1995, URWIN et al., 1998). Um aumento no nível de resistência de plantas transgênicas expressando fitocistatinas e outros inibidores de proteinases é bem documentado (KURODA et al., 1996, URWIN et al., 1995, URWIN et al., 1998, JOUANIN et al., 1998). Outro fato que suporta a afirmativa de que as inibidores de proteinases estão envolvidos nos mecanismos de defesas de plantas é a indução desses inibidores por injúria e/ou metil jasmonato, o que foi verificado em folhas de tomateiro e de soja (BOTTELA et al., 1996). Jasmonatos são moléculas octadecanóides envolvidas em vias de sinalização, e representam um dos hormônios não-tradicionais de plantas, os quais desempenham diversas funções, incluindo função de defesa de plantas contra o ataque de fungos e insetos (Randeep et al., 2000). A síntese de cistatinas, além de induzida por estresse biótico, também pode ser induzida por estresse abiótico, como um sistema geral de resposta, como foi observado em castanheira (Castanea sativa). Provavelmente, este sistema de defesa deve ser mediado por diferentes hormônios, como observado em plantas herbáceas, onde esse sistema é mediado por jasmonato ou por ácido abscíssico (MOONS et al., 1997). O potencial biotecnológico desses inibidores na obtenção de plantas resistentes é devido a sua capacidade de reduzirem ou impedirem a atividade de enzimas digestivas, causando a morte e/ou redução de desenvolvimento larval. Entretanto, a proteção eficiente contra insetos em plantas transformadas demanda que os mesmos sejam acumulados em células vegetais em um nível maior do que em plantas não transformadas (AUGUSTYNIAK et al., 1997). Em 1987, Hilder et al. obtiveram a primeira planta transgênica de tabaco expressando o inibidor de proteinase serínica de feijão-de-corda, Vigna unguiculata. Estas plantas, que são naturalmente susceptíveis ao inseto Heliothis virescens, adquiriram altos níveis de resistência ao mesmo. Estudos subsequentes mostraram que estas plantas também eram resistentes aos insetos Lacanobia oleracea e Otiorhynchus sulcatus (GATEHOUSE & GATEHOUSE, 1998). Desde estão, outras plantas de interesse comercial foram transformadas com genes de inibidores de proteinases, apresentando resistência a pragas (URWIN et al., 1995; JOUANIN et al., 1998; GATEHOUSE & GATEHOUSE, 1998). Entretanto, apesar de plantas transgênicas contendo genes para inibidores de proteinases apresentarem um efeito letal e/ou de retardamento do desenvolvimento larval, a possibilidade de surgimento de quebra de resistência é ainda um fator em discussão (GATEHOUSE et al., 1999). Essa quebra de resistência pode ocorrer se, por exemplo, alguns insetos aumentarem o nível de expressão de proteinases em resposta à ingestão crônica de inibidores de proteinases, como foi observado em Helicoverpa zea e Lymantria díspar, os quais aumentaram o nível de expressão de proteinases do tipo tripsina ao alimentarem-se de plantas de repolho contendo inibidores de tripsina (BROADWAY, 1995). Também é possível que a ingestão de inibidores cause a indução de novas proteinases ‘insensíveis’ ao inibidor, fato que foi observado com o lepidóptero Spodoptera exígua (JONGSMA et al., 1995). Estas mudanças nas enzimas proteolíticas do fluido intestinal de insetos foram explicadas a nível molecular por BROW et al., 1997, os quais demonstraram que a ingestão de inibidor de tripsina de soja (SKTI) por larvas de H. armigera causa variações na expressão de genes da família das proteases serínicas. Enquanto alguns mRNAs que codificam para um tipo de proteinase serínica têm seu nível aumentado, como resultado da ingestão do SKTI, outros diminuem, resultando em uma variação das proporções relativas de diferentes proteinases, bem como na indução de novas proteinases ‘insensitivas’ ao SKTI. Considerando a alta complexidade da interação proteinase/inibidor no sistema hospedeiro-praga e a diversidade das enzimas proteolíticas usadas pelas pragas e patógenos para hidrolizar enzimas digestivas ou para clivar ligações peptídicas em processos mais específicos, a escolha de um apropriado inibidor ou set de inibidores representa um determinante primário no sucesso de qualquer estratégia de controle de pragas baseada no uso de inibidores de proteinases. Desta forma, o uso de genes que codificam inibidores de enzimas digestivas para a transformação de plantas, com o intuito de controlar o ataque de pragas, representa uma estratégia bastante promissora, desde que estes inibidores sejam selecionados adequadamente para a(s) especificas proteinase(s) das pragas de interesse. O conhecimento das proteinases da praga de interesse é extremamente importante, muitas vezes é necessário o uso de combinações de dois ou mais inibidores ou mesmo combinação de inibidores com outras proteínas que induzem estresse ou inibem o crescimento dos insetos a serem controlados, para tentar evitar uma rápida quebra de resistência. Trabalhos recentes obtidos pelo nosso grupo no Cenargen mostraram o potencial de alguns inibidores serino-proteinases sobre larvas e adulto insetos do bicudo do algodoeiro, através de bioensaios conduzidos, com maior enfoque para o efeito de inibidores de enzimas sobre a oviposição, eclosão e sobrevivência de larvas. Através de análise bioquímica demonstrou-se que as proteinases digestivas do bicudo do algodoeiro apresentam os quatro tipos básicos de proteinases, sendo predominante as serino-proteinases (FRANCO et al., 2003). Resultados preliminares têm evidenciado que em larvas do bicudo a atividade digestiva da tripsina é alta, enquanto que, em adultos a maior atividade é de quimotripsina (FRANCO et al., 2003). O inibidor de tripsina do tipo Kunitz proveniente de soja (SKTI), purificado através de coluna de fase reversa de HPLC (C18-TP) mostrou atividade in vitro tanto contra proteinases digestivas de larvas quanto de insetos adultos (FRANCO et al., 2003). Resultados semelhantes foram observados com o inibidor do tipo Bowman-Birk de caupi (BTCI). Este inibidor 15 apresentou atividade tanto contra as proteinases digestivas do tipo tripsina quanto do tipo quimotripsina de larvas de bicudo.Ambos inibidores, SKTI e o BTCI, foram então colocados em dieta artificial para testar o seu potencial biotecnológico contra o bicudo do algodoeiro. O inibidor SKTI, na concentração de 500 mM, mostrou uma mortalidade de 60% e uma redução do peso larval de aproximadamente 65%. Além disso, severas deformidades em larvas, pulpas e insetos foram observadas (Fig 2). Por outro lado, o inibidor BTCI na concentração de 50 mM apresentou uma alta taxa de mortalidade, mostrando ser, provavelmente, mais efetivo que o inibidor SKTI. O efeito desses inibidores sobre a oviposição das fêmeas do bicudo utilizando dieta artificial e o próprio botão floral. Mostrou uma redução na ovoposição em 47% quando adultos foram alimentados com botões florais contendo SKTI. A produção de ovos/dia também foi reduzida a 50%. O ciclo de oviposição foi de aproximadamente 57 dias; em ambos tratamentos com dieta artificial a distribuição de ovos durante a oviposição apresentou pequena variação. O efeito do inibidor também se fez notar quando do contato do SKTI durante 15 minutos na membrana do ovo, o que interferiu significativamente na eclosão das larvas. A redução na eclosão foi de 59% em relação ao controle, após 96 H de incubação. Com relação à viabilidade de larvas neonatas alimentadas com dieta artificial contendo SKTI, verificou-se que o risco relativo de mortalidade foi de 1,58% após 96 H de incubação. O tempo letal desse inibidor, LT (95%), foi estimado em 98 H (IC95%: 55; 122), indicando que o maior efeito na mortalidade das larvas alimentadas com dieta contendo SKTI é visto logo nos primeiros 4 dias, quando as larvas estão ainda no 2º ínstar. Isso é muito importante no aspecto do controle da praga visto que, nessa fase, o tamanho da larva não provoca quedas acentuadas do botão floral. O efeito inibidor do SKTI sobre a fisiologia das larvas se fez notar através do retardo no desenvolvimento e baixa mobilidade das mesmas no período mencionado. Fig 2- Efeito do SKTI sobre as diferentes fases de desenvolvimento do bicudo do algodoeiro. Com o objetivo de introduzir o gene desse inibidor em plantas transgênicas de algodão, testes no campo foram feitos, com o objetivo de verificar a influência do SKTI na redução da abscisão dos frutos do algodoeiro. Para tanto, inoculou-se ovos nos botões previamente imersos em solução de SKTI (500 mM). Os resultados mostraram que a queda dos frutos foi reduzida em 40% em relação ao controle, que mostrou alto percentual de queda (73% dos 60 botões testados). O comportamento fisiológico das larvas foi idêntico ao observado no ensaio com dieta artificial. Inibidores de -Amilase de Plantas Os inibidores de -amilases são encontrados principalmente em sementes (FENG et al, 1996; GROSSI DE SÁ et al, 1997), enquanto que os inibidores de proteinases estão presentes, não apenas nas sementes, mas também nos frutos, folhas e tubérculos (BODE & HUBER, 2000). Entre os inibidores de -amilases mais estudados estão os inibidores de trigo (Triticum aestivum), denominados 0.19, 0.53 e 0.28 (FENG et al., 1996) e os inibidores de -amilases de sementes de feijão comum (P. vulgaris) denominados, -AI-1 e AI-2. Os inibidores protéicos de α-amilases provenientes do trigo são muito abundantes no endosperma, representando uma fração substancial das albuminas e globulinas (FENG et al., 1996). Entre os inibidores de αamilase encontrados neste cereal, observa-se diferentes especificidades contra as α-amilases de diferentes fontes. Um dos inibidores de -amilases do trigo mais estudado é o inibidor dimérico 0.19, ativo contra α-amilases dos insetos T. molitor, Sitophilus oryzae, Tribolium castaneum, C. maculatus, Z. subfasciatus e A. obtectus (FENG et al., 1996, FRANCO et al., 2000). Além do inibidor 0.19, o inibidor 0.53, também dimérico, é ativo contra a - 16 amilase de T. molitor e -amilase dos bruquídeos acima citados (FRANCO et al., 2000). Em adição, muitos estudos têm sido feitos com o objetivo de se compreender melhor as propriedades do inibidor monomérico 0.28, ativo contra a α-amilase de T. molitor – TMA. Estudos de modelagem molecular vêm sendo utilizados para elucidar questões da especificidade dos inibidores provenientes de trigo em relação as -amilases. Utilizando-se do complexo inibidor/enzima (RBI/TMA) disponível no PDB (Protein Data Bank), foi sugerido que os inibidores de trigo com um um longo loop C-terminal, tal como 0.19, são capazes de interagir com o profundo pocket no sítio ativo presente em α-amilases de mamíferos. Entretanto, inibidores como o inibidor 0.53, WRP25 e WRP26, são incapazes de inibir as -amilases de mamíferos, porque apresentam este mesmo loop encurtado (PNP, ao invés de VVDA). Este fato os capacita a apenas inibir com eficiência as α-amilases de inseto, que apresentam um pocket muito menos profundo. Em adição, nos inibidores específicos para as insetos, o loop N-terminal apresenta fortes cargas negativas (Asp 47), capazes de causar uma redução na interação entre os inibidores e as enzimas de mamíferos, que apresentam um pocket com resíduos carregados negativamente. Em enzimas de insetos, este problema não existe, pois seus sítios ativos não possuem estes resíduos onde as cadeias laterais são carregadas negativamente. Baseado nestes dados, pode-se sugerir que alguns aminoácidos, bem como algumas regiões na estrutura dos diferentes inibidores de trigo (0.53. 0.19, WRP25, WRP26), seriam responsáveis pela interação e pela especificidade dos mesmos a determinadas amilases (FRANCO et al, 2000). Os inibidores de -amilases presentes em sementes de feijão fazem parte de uma família de proteínas de defesa que inclui adicionamente as fitohemaglutininas e as arcelinas. Assim como outras proteínas de defesa, o inibidor de -amilase pode ser codificado por mais de um gene. Atualmente, alguns inibidores de -amilases presentes em sementes de P.vulgaris foram caracterizados. Entre estes,os dois inibidores de αamilases mais conhecidos são o α-AI-1 e o α-AI-2, , os quais diferem em suas especificidades contra diferentes α-amilases. Enquanto o α-AI-1 inibe fortemente a α-amilase de pâncreas de porco (PPA) bem como as αamilases de C. maculatus e de C. chinensis (Kasahara et al., 1996), o inibidor α-AI-2 inibe somente a α-amilase do Z. subfasciatus (ZSA) (GROSSI DE SÁ et al., 1997; GROSSI DE SÁ & CHRISPEELS, 1997). Nenhum destes inibidores, presentes em sementes de feijão, teve efeito inibitório contra a α-amilase do bruquídeo, A. obtectus . O mecanismo de interação e especificidade dos complexos inibidores/-amilases, ainda não está completamente elucidado, porém alguns avanços tem sido demonstrados nos últimos anos. Sabe-se que a formação do complexo é dependente de tempo e pH e, estudos recentes demonstraram que o α-AI-1 não atua competitivamente. Para melhor compreender a especificidade de interações desses complexos, estudos envolvendo estruturas moleculares vêm sendo realizados por diferentes grupos. Utilizando-se de dados cristalográficos do complexo (α-AI-1/PPA) (BOMPARD-GILLES et al., 1996) e da -amilase TMA, bem como através de Modelagem Molecular, foi possível a construção de modelos computacionais que simulam a formação de complexos encontrados na natureza, tal como o inibidor α-AI-2 e a α-amilase de Z. subfasciatus (α-AI2/ZSA), assim como a simulação de complexos artificiais (α-AI-2/PPA e α-AI-1/ZSA) (DA SILVA et al., 2000). A construção e expressão destes mutantes, baseados nos modelos computacionais, poderá determinar os motivos envolvidos na especificidade de interação entre inibidores/enzimas, e poderão oferecer subsídios para o desenho de inibidores mutantes com a especificidade desejada. O grande potencial biotecnológico dos inibidores proteicos foi demonstrado quando os genes que codificam inibidores de α-amilases foram introduzidos em culturas econômicamente importantes, visando o aumento da resistência destas, a diferentes insetos. Ervilhas transformadas com o gene que codifica para o inibidor α-AI-1 se apresentaram completamente resistentes ao besouro da ervilha Bruchus pisorum, um inseto que danifica tanto as ervilhas armazenadas (SHADE et al., 1994; SCHROEDER et al., 1995) quanto em condições de campo (Morton et al., 2000). Os ovos eclodem e as larvas penetram na vagem, se desenvolvendo na semente até emergirem como inseto adulto. Em sementes transgênicas de ervilhas, contendo aproximadamente 1,0 % de α-AI-1, as larvas não conseguem se desenvolver, morrendo no 1 o ou 2o ínstar de desnvolvimento (SCHROEDER et al., 1995). Utilizando-se esse mesmo gene, Ishimoto et al. (1996) demonstraram que plantas transgênicas de feijão azuki, são totalmente resistentes aos bruquídeos C. maculatus, C. analis e C. chinensis, levando ao não desenvolvimento e a morte de larvas. Posteriormente, Puztai et al. (1999), em experimentos para avaliação alimentar animal, demostraram que estas ervilhas transgênicas, expressando o α-AI-1, não apresentam redução significativa na digestão e na absorção de nutrientes, quando adicionadas na dieta de ratos. Esses dados estão em favor, apesar da atual polêmica, de que leguminosas transgênicas, contendo inibidores de -amilases, podem ser totalmente seguras para a alimentação, desde que as sementes sejam cozidas ou processadas antes do consumo por seres humanos. Uma vez desnaturados, estes inibidores não funcionam como anti-nutrientes, mas sim como fonte de aminoácidos, da mesma forma que as proteínas de armazenamento. 17 DNA shuffling \ DNA shuffling é um processo prático na evolução molecular, usando a recombinação para acelerar, bruscamente, o desenvolvimento de genes melhorados com aplicações comerciais. Essa tecnologia tem sido significativamente utilizada nos últimos anos, estendendo sua aplicação na indústria farmacêutica, terapia gênica, vacina, transgeneses, entre outras. Entretanto, a aplicação mais frequente envolve o desenvolvimento de enzimas com cinética e especificidade melhoradas. A técnica vem sendo aplicada diretamente aos problemas da agricultura, com recentes aplicações na geração de novos carotenóides, aumento da detoxificação por herbicida e o melhoramento de genes envolvidos na resistência a insetos (LASSNER & BEDBROOCK, 2001). A técnica de DNA shuffling desenvolvida por STEMMER (1994) simula a recombinação natural de genes através da recombinação homóloga in vitro de DNA, associada a introdução de mutações pontuais controladas e seleção com o objetivo de obter genes melhorados a uma determinada característica de interesse. Várias modificações foram introduzidas, cuja recombinação in vitro de genes homólogos pode ser obtido por diferentes métodos (STEMMER, 1994; ZHAO et al., 1998; VOLKOV et al., 2000; COCO et al., 2001). O produto final é uma biblioteca de genes quiméricos, que contém informações de sequências de um ou mais genes parentais. Essa família de genes recombinados representa, assim, uma poderosa ferramenta na geração de novas sequências que codificam proteínas com potencial e características de interesse. Phage display A habilidade em se construir bibliotecas de proteínas e peptídeos com grande diversidade molecular e selecionar novas moléculas com propriedades desejadas, fez do phage display uma tecnologia aplicável na solução de vários problemas biológicos. Atualmente, foram expostas muitas proteínas tais como peptídeos e domínios de proteínas sucesso em partículas de fagos M13 para uma variedade de propósitos (KAY et al., 1996; LIU et al., 2003). As bibliotecas do tipo phage display são utilizadas, em grande escala, na descoberta de novas drogas na indústria farmacêutica, criação de anticorpos catalíticos, no isolamento de ligantes receptor-específico, na identificação de determinantes antigênicos e em estudos de interação proteína-DNA (WONG & ROBERTSON, 1998; GAO et al., 2003; LIU et al., 2003). Outra possibilidade do uso das bibliotecas foi descrita por HARPER et al. (1999), os quais desenvolveram livrarias semi-sintéticas servindo como fonte de reagentes no diagnóstico de doenças de plantas causadas por vírus. A utilização de bibliotecas do tipo phage display como ferramenta para redesenhar proteínas, consiste na fusão de uma proteína de interesse com a proteína da capa do fago (proteínas pIII ou pVIII), permitindo o estudo físico-químico e bioquímico da proteína quimera resultante. Vários exemplos podem ser citados, entre eles, proteinases de insetos foram exploradas inicialmente fusionando tripsina a proteínas da capa do fago (proteinas pIII ou pVIII), o que permitiu o estudo de estabilidade, eficiência e propriedade catalítica da tripsina quimera resultante (COREY et al., 1993). O inibidor de proteinase serínico de batata foi exibido funcionalmente na superfície de partículas de fagos e a seleção por “biopanning” enriqueceu uma população de fagos com domínios funcionais II de uma população misturada com domínios variantes não-funcionais transformados (JONSGMA et al., 1995). A cistatina de clara de ovo, um inibidor de proteinase cisteínica de baixo peso molecular, foi exibida funcionalmente, permanecendo ativa no sistema de fagos recombinantes (TANAKA et al., 1995). Similarmente, foram exibidas duas isoformas de cistatinas de soja em partículas de fagos. Estas cistatinas, denominadas scN e scL, contém 70% de identidade, no entanto a scN é o inibidor mais potente da papaina, peptidoidrolase, vicilina e de proteinases intestinal de inseto, em comparação à scL (ZHAO et al., 1996). Quando estas cistatinas foram exibidas em partículas de fagos, a afinidade de ligação da scN à papaína foi substancialmente maior que a da scL. Além disso, scN inibiu substancialmente o crescimento e o desenvolvimento do caruncho do feijão-de-corda (Callosobruchus maculatus) em ensaios com alimentação artificial, enquanto que scL foi essencialmente inativa como inseticida. A seleção destas cistatinas de soja através de “biopanning” contra papaína resultou no aumento de 200-1000 vezes a afinidade da scN em relação à scL., sugerindo que a ligação dessas cistatinas selecionadas em bibliotecas do tipo phage display pode ser usada para selecionar variantes com maior atividade inseticida (HISASHI et al., 1998). Transformação de Plantas As técnicas avançadas em biologia molecular, visando a prospecção de genes e a obtenção de resistência de plantas de interesse contra pragas, têm o potencial de superar muitas das limitações típicas dos métodos de controle atuais, além das limitações dos métodos clássicos de melhoramento. Diferentes estratégias vêm sendo utilizadas para desenvolver plantas transgênicas resistentes ao ataque de insetos-praga. Entre essas estratégias, estão o uso de toxinas Bt, de inibidores de enzimas hidrolíticas digestivas (α-amilases e proteinases), de lectinas, de proteínas para genes de resistência (genes R), Colesterol oxidase,entre outras (PURCELL et al., 1993, CORDEIRO AND GROSSI DE SÁ, 1999, CARLINI & GROSSI DE SA, 20012. Além do uso dessas proteínas, outras estratégias estão sendo desenvolvidas e permitindo selecionar genes mutantes dessas proteínas, 18 mais ativos e específicos para as pragas de interesse, bem como para quaisquer outras pragas. Essas estratégias envolvem o uso de bibliotecas combinatória de proteínas (inibidores e/ou toxinas) do tipo phage display, as quais são construídas visando a geração de milhões de variantes de uma proteína que poderão, então, ser selecionadas para ligantes alvo. Outra estratégia é o uso da pro-região das proteinases como inibidores de sua enzima cognata matura (TAYLOR & LEE,1997). Nos últimos anos, as proteinases digestivas dos insetos têm sido forte candidatos alvo para o controle de pragas porque são facilmente acessiveis ao material da planta ingerido. Plantas de interesse expressando proteínas que podem seletivamente inibir as enzimas digestivas do instestino de uma praga particular, mas não de outros artropodos ou dos consumidores (homem/mamíferos), poderiam proporcionar um caminho para a redução no uso de pesticidas químicos em plantações de culturas e/ou em sistemas de estocagem. A transformação de plantas, com genes de defesa, codificantes para tais proteínas, visando a obtenção de variedades resistentes a pragas tem sido alvo de muitos estudos nos últimos anos (BRASILEIRO, 2001). Genes para diferentes proteínas foram introduzidos em plantas e, diferentes plantas transgênicas resistentes a insetos foram geradas (GATEHOUSE & GATEHOUSE,1998). Como mencionado previamente, os primeiros resultados de transferência de genes de Bt em planta foram realizados em plantas defumo e tomate em 1987 (VAECK et al., 1987; BARTON et al., 1987; FISCHHOFF et al., 1987). Desde então, vários genes cry têm sido introduzidos em diversas espécies de plantas como algodão, arroz, milho, batata, soja, canola e outras. Os primeiros trabalhos relatam níveis muito baixos de expressão dos genes cry (menos que 0,001% de proteínas solúveis da folha), entretanto, com a adoção de novas técnicas de biologia molecular, como construção e expressão de genes parcial ou totalmente sintéticos, níveis mais altos de expressão (0,02-1%) foram obtidos (JOUANIN et al., 1998). Em 1995, foram aprovadas para venda nos EUA as primeiras plantas transgênicas: Milho expressando a toxina Cry1Ab (MximizerTM da Novartis), para o controle de Ostrinia nubilalis; algodão expressando a toxina Cry1Ac (BollgardTM da Monsanto), para o controle de Helicoverpa spp.; e batata expressando Cry3A (NewleafTM da Monsanto) para o controle de Leptinotarsa decemlineata. Em 1996, estas primeiras variedades foram comercializadas (JOUANIN et al., 1998). Entretanto, a existência de um método eficiente e reprodutível de transformação é uma necessidade "sine qua non" para a introdução e monitoramento da expressão de um gene em plantas. Uma das limitações para a transformação do algodoeiro reside no fato de que há pouco conhecimento na cultura de células e tecidos destas plantas. Plantas transgênicas de algodão foram obtidas utilizando-se o sistema de Agrobacterium (UMBECK et al., 1987). Entretanto essa metodologia, além de ser restrita a poucas variedades (McCABE & MARTINELL, 1993), não é uma técnica ainda bem eficiente.. Outra possibilidade é a transformação do meristema apical e indução de multibrotação, desencadeada pelo cultivo dos embriões em altas doses de citocinina, num sistema de transformação similar ao de feijão (ARAGÃO et al., 1996). Esse sistema é extremamente laborioso e com eficiência ainda aquém do aceitável, além de exigir um conhecimento prévio de cada cultivar, tanto a nível morfológico quanto de cultura de tecidos. Um dos principais problemas no emprego de meristemas apicais com tecidos alvo para os sistemas de biobalísticas é a dificuldade de seleção das células transformadas na região meristemática apical (McCABE & MARTINELL, 1993). Recentemente foi desenvolvido pelo grupo do Dr. Ni Wanchao do Institute of Agrobiological Genetics & Physiology em Nanjing, China, um sistema que possibilita a transformação do algodoeiro com bastante eficiência permitindo a obtenção de plantas de algodoeiro transgênicos, com uma freqüência já aceitável para o desenvolvimento de novas variedades. Neste sentido e com o intuíto de trazer está tecnologia um membro do nosso grupo encontra-se atualmente realizando um estágio Pré-doutoral, sob orientação do Dr. Ni Wanchao. 19 MATERIAL E MÉTODOS Criação Massal de Anthonomus grandis A metodologia de criação massal do inseto, foi desenvolvida por pesquisadores do Centro de Cooperation Internationale en Recherche Agronomique pour le Development-Montpellier (CIRAD) e modificada na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que atualmente conta com a criação massal estabelecida. Os ovos serão espalhados em dieta artificial à base de extrato de algodão e ao eclodir, as larvas desenvolver-se-ão até a emergência de adultos. Estes serão coletados e transferidos em gaiolas para copulação e oviposição, sendo que durante esta fase os insetos adultos serão alimentados com a mesma dieta e os ovos coletados, esterilizados e espalhados novamente na dieta (MONNERAT et al., 2000). Criação da lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda) A criação da lagarta do cartucho do milho está estabelecida desde 1989 no laboratório de Bioecologia e Semioquímicos. Estas lagartas são criadas em dita artificial. Os ovos são depositados em papel de filtro, esterilizados e colocados em dieta artificial. Após a eclosão, as larvas se alimentam da dieta e após completarem o ciclo larval, as pupas são coletadas e colocadas em gaiolas onde copulam e ovipositam no papel. Isolamento de Estirpes de B. thuringiensis Coletar-se larvas ou insetos doentes de de bicudo do algodoeiro em campo, que serão homogeneizados assepticamente em Triptona 0,1% estéril e plaqueados em meio de cultivo específico para o crescimento de B. thuringiensis. As colônias serão isoladas e submetidas a bioensaios contra o bicudo. As estirpes de B. thuringiensis eficazes contra o bicudo e lagarta do cartucho do milho terão seus genes clonados através de técnicas de PCR (RT-PCR, TAIL-PCR) e serão expressos em sistema homólogo ou heterólogo para utilização em bioensaios e confirmação da toxicidade. Bioensaios Bioensaios para avaliar o impacto das estirpes de B. thuringiensis e de genes previamente selecionados e expressos, sobre a biologia do bicudo e das lagartas (lagarta do cartucho do milho, lagarta desfoleadoras) serão conduzidos. As toxinas Bt serão incorporados à dieta artificial para criação massal do bicudo do algodoeiro. O desenvolvimento e mortalidade das larvas serão acompanhados durante todo o ciclo de cada inseto. Construção de Biblioteca Combinatória de Toxinas Bt Dois (2 ) genes codificadores para proteínas Cry, sendo uma proteína Cry3Aa e outro, denominado cry8Bc, isolado no nosso Laboratório de Interação Molecular Planta-Praga (EMBRAPA-Cenargen) foram utilizados para construÇão da biblioteca recombinatória de toxinas Bt.. DNA shuffling A metodologia consiste na recombinação in vitro de genes homólogos, realizada através de diferentes métodos (STEMMER 1994; ZHAO et al., 1998; VOLKOV et al., 2000; COCO et al., 2001). O produto é uma biblioteca de genes quiméricos, que contém informação de sequências de um ou mais dos genes parentais, representando uma poderosa ferramenta na geração de novas sequências. A metodologia a ser utilizada foi descrita por PATTEN et al. (1997) e LUTZ et al. (2001), em que fragmentos randômicos de genes relacionados serão gerados com a enzima DNAse I. Após desnaturação, os fragmentos de diferentes tamanhos hibridizarão para formar misturas de diferentes genes e amplificados através da técnica de PCR. Os milhares de genes gerados serão clonados em bacteriófagos e, através da técnica de phage display construir-se-á uma biblioteca combinatória e disponibilizada para seleção da proteína alvo. Phage display Phage-display é uma tecnologia que surgiu em 1985 para estudar interações macromoleculares e a exposição de proteínas e peptídeos na superfície de fagos filamentosos (SMITH, 1985). O kit "Recombinant Phage/Antibody System" será empregado para a expressão das toxinas Bt como proteínas de fusão na superfície de fagos filamentosos. As partículas do fago serão multiplicadas em bactérias E. coli TG1 e o empacotamento dos fagomídeos será obtido empregando-se o bacteriófago M13K07. Os fagos de fusão serão recuperados do meio de cultivo da bactéria e empregados nas análises de interação com receptores para a toxina Bt presente em cultivo de células intestinais do bicudo do algodoeiro (KAY et al., 1996). 20 Sequenciamento dos Genes Selecionados O sequenciamento dos fragmentos de DNA de interesse ou dos genes selecionados serão realizados em sequenciador automático. As sequências de interesse serão comparadas com as já existentes em base de dados disponíveis, para estudos de homologia. Com estes resultados será determinado a provável sequência de aminoácidos das proteínas codificadas pelo gene obtido, seguindo-se com a modelagem molecular da proteína. Expressão dos Genes Selecionados em Sistemas de Células (E. coli). Os genes selecionados de toxinas Bt melhoradas serão expressos em E. coli utilizando vetor de expressão pALTER®-Ex1 (PROMEGA), Fig 3. Fig 3: Mapa detalhado do vetor de expressão pALTER®-Ex1 (PROMEGA). Construção de Vetores e Transformação de Plantas de Algodão Os genes selecionados de toxinas Bt melhoradas serão inseridos em vetores de expressão em plantas contendo contendo um promotor específico para botão floral e a transformação de algodão cultivar cedro será conduzida por Agrobacterium e via tubo poliníco (CHEN et al., 1998). RECURSOS FÍSICO O projeto aqui proposto é de natureza multidisciplinar e envolve a utilização de conceitos e técnicas de diversas áreas: Biologia molecular (clonagem, caracterização e expressão de genes), bioquímica (purificação e caracterização de proteínas), Biologia celular (cultura de tecidos e transformação de plantas) e Bacteriologia (manipulação e caracterização de microorganismos). Desta forma o projeto envolve vários laboratórios de diferentes áreas da Embrapa-Recursos Genéticos e Biotecnologia, que são: (1) O “Laboratório de Interação Molecular Planta-Pragas”, da área de biotecnologia e coordenado pela Dra. Fátima Grossi (coordenadora geral do projeto), que ficara a cargo da clonagem, caracterização e expressão de genes; (2) O “Laboratório de Bacteriologia”, da área de controle biológico e coordenado pela Dra. Rose Monnerat, que será responsável pelo fornecimento das estirpes de Bt e execução dos bioensaios; (3) E o “Laboratório de Transferência e Expressão de Genes” . De uma maneira geral a estrutura física e operacional dos laboratórios envolvidos é de excelente qualidade, não sendo necessário para o desenvolvimento do projeto a aquisição imediata de equipamentos. A seguir são listados alguns equipamentos disponíveis (contrapartida), imprescindíveis ao desenvolvimento do projeto, e o(s) seu(s) respectivo(s) uso(s): 1-Termociclador para PCR – Clonagem de genes; análise das plantas transformadas. 2-Fonte de eletroforese (alta voltagem) - Análise de proteínas e DNA. 3-Sistema de eletroforese horizontal – Análise de DNA. 4-Sistema de eletroforese vertical – Análise de proteínas e DNA. 21 5-Transiluminador UV – Análise de DNA. 6-Incubadora orbital tipo “shaker” – Crescimento de microorganismos. 7-Incubadora estática – Crescimento de microorganismos. 8-Microcentrífuga – centrifugação (sedimentação) de amostras em pequeno volume. 9-Centrifuga refrigerada Sorval– centrifugação (sedimentação) de amostras em grande volume. 10-Freezer - 80oC – Estocagem de reagentes e material biológico em longo prazo. 11-Spectrofotometro – Quantificação de DNA e proteínas. 12-Balança analítica – Pesagem de reagentes e materiais; preparo de soluções. 13-Microscópio ótico binocular – Análise e contagem de culturas celulares. 14-Microscópio estereoscópico (Lupa) – Manipulação e dissecção de insetos. 15-Banho de temperatura regulável – Realização de reações químicas diversas. 16-Medidor de pH – Preparo de soluções. 17-Agitador magnético – Preparo de soluções. 18-Forno de hibridização – Análise de DNA através de hibridização radioativa; caracterização dos genes clonados e da organização dos transgenes nas plantas transformadas. 19-Cintilador (Contador de Radioatividade) – Contagem de radioatividade; Análise de DNA através de hibridização radioativa. 20-Eletroporador – Introdução de DNA exógeno em culturas de células; transformação de microorganismos. 21-Seqüenciador automático de DNA – Análise de DNA. 22-Secador a vácuo “Speed Vac” – Manipulação de amostras e soluções. 23-Ultra-sonicador – Preparo de amostras; lise da parede celular de microorganismos. 24-Sistema com transiluminador p/ análise de imagens – Análise de DNA e proteínas. 25-Microcomputador e impressora – Armazenamento e processamento de dados; acesso à internet; análise de DNA e proteínas. 26-Câmara de fluxo laminar (capela) – Manipulação de microorganismos. 27-Geladeiras – Estocagem de reagente e material biológico em curto prazo. 28-“Frezers” – Estocagem de reagente e material biológico em curto prazo. 29-Autoclave vertical – Esterilização de reagentes e materiais. 30-Forno de Microondas – Preparo de soluções. 31-Sequenciuador de DNA 32- Sequenciador de proteinas. RECURSOS HUMANOS A equipe é composta por pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e EmbrapaAlgodão, alunos da pós-graduação em biologia molecular da universidade de Brasília (doutorado e mestrado, em Biotecnologia das Faculdades integradas da Católica de Brasília (mestrado) e estudantes de graduação dos cursos de agronomia e biologia da Universidade de Brasília. 22 Nome CPF Formação acadêmica Maria Fatima Grossi de Sa Rose Gomes Monnerat Solon de Pontes Wagner Lucena 151.364.691-53 PhD-Biologia Molecular 512.803.701-06 PhD-Controle Biológico 88205479453 Francisco José Lima Aragão Roseane Cavalcanti dos Santos João Aguiar Nogueira Batista Edson L. Z. Figueira Octávio Luiz Franco Osmundo Brilhante de Oliveira Neto Simoni Campos Dias Railene de Azevedo Pereira Liziane Maria de Lima Rodrigo da Rocha Fragoso Mariana T. Magalhães EQUIPE TÉCNICA Área de atuação Função na equipe Coordenação geral do projeto. Construção das Coordenador bibliotecas combinatórias. Seleção e caracterização de estirpes de Bt. Pesquisador Bioensaios com os genes expressos. Período Biólogo Biologia Molecular Pesquisador 308.609.971-20 PhD-Biologia Molecular Transformação de algodão. 174.693.334-87 MsC- Genética e Bioensaios com as plantas de algodão melhoramento de Plantas transformadas. Pesquisador colaborador Pesquisador colaborador 373.755.801-97 PhD-Biologia Molecular Isolamento de genese Construção de vetores 169798418-58 755.234.003-78 PhD-Ciencias de Alimentos PhD-Bioquímica 366.091.023-68 PhD-Biologia Molecular Seleção de genes mutante para toxinas Bt e inibidores Extração e caracterização de proteinases digestivas. Bioensaios com proteínas potencialmente entopatogênicas. Expressão de genes 486.892.486-00 MsC – Fitopatologia (estudante doutorado) MsC – Bioquímica (estudante doutorado) MsC – Bioquímica (estudante doutorado) Agrônomo – Estudante de mestrado Agrônomo – Estudante de graduação 736.927.434-91 737.472.114-53 669.875.631-87 905.464.151-72 Expressão de genes e construção de vetores. Seleção de mutantes de toxinas Bt. Seleção de mutantes de toxinas Bt. transformação Clonagem e expressão de genes de Bt. 11/03-10/04 % dedicação 100 11/03-10/04 20 Extração e caracterização de proteinases digestivas. 11/03-10/04 30 11/03-10/04 25 Pesquisador colaborador Pesquisador colaborador Pesquisador colaborador 11/03-10/04 50 11/03-10/04 50 Pesquisador colaborador 11/03-10/04 100 Estudante de doutorado Estudante de doutorado Estudante de doutorado Estudante de mestrado Estudante de graduação 11/03-10/04 100 11/03-10/04 50 11/03-10/04 50 1o-2o anos 50 1o-2o anos 100 25 11/03-10/04 23 DECLARAÇÃO Eu, Patricia Messenberg Guimarães, abaixo assinado, pesquisador III e presidente do Comitê interno de biossegurança (CIBio) da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), declaro ao Fundo de Apoio à Cultura do Algodão que a Embrapa –Cenargen é detentora do certificado de qualidade em biossegurança (CQB) de número 004/96, emitido pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A veracidade desta informação poderá ser verificada no site: http;/ www.ctnbio.gov.br/ctnbio/defaut.htm. Nada mais a declarar, subscrevo-me. Patricia Messenberg Guimarães, PhD Presidente do CIBio- Cenargen Embrapa recursos Genéticos e Biotecnologia [email protected] Brasília, 09 de setembro de 2003 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAGÃO, F.J.L.; BARROS, L.M.G.; BRASILIEIRO, A.C.M.; RIBEIRO,S.G.; SMITH, F.D.; SANFORD, J.C.; FARIA, J.C.; RECH, E.L. Inheritance of foreign genes in transgenic ben (Phaseolus vulgaris) co-transformed via particle bombardment. Theoretical and Applied Genetics, v.93, p.142-150, 1996. APPLEBAUM, S. W. Biochemistry of Digestion. In: Comprehensive Insect Physiology, Biochemistry and Farmacology, eds., Kerkut, G. A. and Gilbert, L. I. New York, 4, 279- 311, 1985. ARDELT, W. AND LASKOWSKI, M.JR. Effect of single aminp acid replacements on the thermodynamics of the reactive site peptide bond hydrolysis in ovomucoid third domain. J. 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