UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM FÍSICA E STUDO S ISTEMÁTICO DE E STRELAS VARIÁVEIS NA E RA DOS G RANDES Surveys C ARLOS E DUARDO F ERREIRA L OPES NATAL - RN M ARÇO 2013 C ARLOS E DUARDO F ERREIRA L OPES E STUDO S ISTEMÁTICO DE E STRELAS VARIÁVEIS NA E RA DOS G RANDES Surveys Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Física do Departamento de Física Teórica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do grau de doutor em Física. Orientador: José Renan de Medeiros Co-orientador: Márcio Catelan NATAL - RN M ARÇO 2013 Para Pessoas Especiais: A minha mãe e a minha esposa que sempre estiveram ao meu lado. i A GRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a todas as pessoas que contribuíram diretamente ou indiretamente da conclusão deste trabalho. Primeiramente a minha família que sempre esteve ao meu lado e à grande magia do cosmo. • A minha esposa que ao longo dos mais de 10 anos de momentos de muita felicidade vem me apoiando e ajudando a enfrentar momentos de grande adversidade em nossas vidas. Um agradecimento muito especial a minha mãe que sempre me deu força e sempre fez o possível e o impossível pelos seus filhos. Ao meu pai o qual me incentivou ao ingresso na carreira acadêmica e que em minha juventude proporcionou grandes momentos de felicidade. As minhas irmãs, Sarvia e Laize, que sempre me apoiaram em todos os momentos. Aos meus tios, Júlia e Primo, que me acolheram de braços abertos durante a minha graduação, em especial a tio Primo que durante fases tempestuosa se revelou como um segundo pai em minha vida. Aos meus primos e todos os parentes que guardo em meu coração com muito carinho. • Aos meus mentores que ao longo da minha carreira acadêmica me instruirão e serviram de forte influência na minha formação pessoal e profissional. Ao grande Amigo Marildo que, com muita perspicácia, sempre providenciou bolsa de estudo para me ajudar na difícil jornada pela graduação, além de ter se tornado um grande amigo. Aos professores Inácio Pedrosa e Cláudio Furtado pela paciência durante a meu mestrado. Ao professor Márcio Catelan que com sua graciosidade e sabedoria se mostrou um excelente co-orientador e um grande amigo durante meu estagio de doutoramento no Chile. Ao professor Renan que representa um grande escola de sabedoria o qual tenho aprendido e tenho muito que aprender. • Aos meus amigos que me ajudaram de diversas formas, desde um empréstimo à palavras de apoio, e aos quais tenho muito apreço. Em especial, a Izan Leão, que no inicio do meu doutorado se mostrou um grande amigo ao me dizer não/sim quando era preciso e, foi muito importante na conclusão desse trabalho. A Istivan Dekany e a Rodolfo Angeloni os quais com bastante esforço tentaram entender meu Portunhol/PortEnglish e cuja as contribuições foram fundamentais para realização desse trabalho. A todos os amigos e que fiz ao longo dos institutos que passei, UEFS, ii UFPB, PUC/CHILE e UFRN. A PPGF por proporcionar um ambiente agradável e pelo seu eficiente trabalho. • Um agradecimento muito especial ao POVO BRASILEIRO que através do seus impostos custearam meus estudos. • À CAPES (processo No. 5266/11-4), ao CNPQ (processo No. 143555/2009-0), ao INCT-INEspaço, do lado do Brasil, e ao Fondecyt (Projeto Regular No. 1110326) e à Iniciativa Científica Milênio (projeto Núcleo Milênio para la Via Láctea, No. P07021F), do lado do Chile, pelo apoio financeiro. A realização deste trabalho só foi possível devido a contribuição de todos vocês, MUITO OBRIGADO !!! iii “Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil - e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.” (Albert Einstein) iv Resumo O interesse na análise sistemática de séries temporais de dados astronômicos, bem como o desenvolvimento em instrumentação astronômica e a automação durante as últimas duas décadas, deu origem a várias questões de como analisar e sintetizar a quantidade crescente de dados. Esses dados tem levado a muitas descobertas na astronomia moderna nas áreas da exoplanetologia, asterosismologia e da evolução estelar. Entretanto, os métodos de tratamento e de análise de dados não têm conseguido acompanhar o desenvolvimento dos próprios instrumentos, embora grande esforço tenha sido realizado nessa direção. Neste trabalho, são propostos novos métodos de análise de dados além de dois catálogos de estrelas variáveis que permitiram o estudo da modulação rotacional e da variabilidade estelar. Foram analisados dados de duas missões fotométricas distintas: CoRoT (COnvection ROtation and planetary Transits) e WFCAM (Wide Field CAMera). Esta Tese descreve diversos métodos de análise de dados fotométricos, além de propor e aperfeiçoar técnicas de seleção utilizando-se dos índices de variabilidade. Os índices de variabilidade propostos nesta tese apresentam uma eficiência três maior do que um dos índices mais comumente usados na literatura. Uma rigorosa seleção de curvas de luz é essencial para que todos os subsequentes processos da análise alcancem uma maior eficiência, além de ser um potencial método de busca de periodicidade. A partir da análise desses bancos de dados foram obtidos dois catálogos. Em primeiro lugar, a partir do banco de dados de calibração do WFCAM obtivemos um catálogo com 319 estrelas variáveis observadas nas bandas fotométricas Y ZJHK com períodos variando entre ∼ 0, 2 a ∼ 560 dias. As curvas de luz mostram assinaturas de estrelas do tipo RR-Lyrae, Cefeidas, LPVs, variáveis cataclísmicas, entre diversas outras. Em segundo lugar, obtivemos também um catálogo de 4.206 estrelas com assinaturas típicas de modulação rotacional com os dados do projeto CoRoT, num processo supervisionado. Tal catálogo possui períodos variando entre ∼ 0, 33 a ∼ 92 dias, amplitude de variabilidade entre ∼ 0, 001 e ∼ 0, 5 mag, para estrelas de tipo espectral FGKM com o índice de cor (J − H) variando entre ∼ 0, 0 a ∼ 1, 4 mag. O catálogo de estrelas variáveis do WFCAM está sendo utilizado para compor um banco de dados de curvas de luz para serem usadas num classificador automático para as estrelas variáveis observadas pelo projeto VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) além de serem um importante passo para estudos de diversos casos científiv cos. Como por exemplo, um conjunto de 12 estrelas jovens que estão em uma região de formação estelar e o estudo das RR-Lyrae cujas propriedades não são bem estabelecidas no infravermelho. Com base em nossos resultados obtidos com os dados CoRoT foi possível mostrar pela primeira vez o comportamento evolutivo da rotação estelar para um grande conjunto de estrelas obtidos de forma homogênea. Os resultados encontrados estão de acordo com teoria da evolução estelar. Além disso, foram identificadas 4 estrelas que possuem índices de cor, tipo espectral, classe de luminosidade, período de rotação próximos aqueles medidos para Sol, além de 400 estrelas gigantes do tipo espectral M que tem um particular interesse para trabalhos futuros. As estrelas do tipo solar permitem descrever o futuro e o passado do Sol enquanto as estrelas M são pouco conhecidas. A partir dos nossos resultados foi possível mostrar que o diagrama cor-período apresenta substancial dependência com o avermelhamento, o qual afeta prévias análises da relação idade-período obtidas com os dados do CoRoT. Esta Tese apresenta um grande conjunto de dados para análise de diversos casos científicos, tais como: atividade magnética, variáveis cataclísmicas, anãs marrons, RRLyrae, análogas solares, estrelas gigantes de tipo espectral M, entre outros. Em particular, os dados deste trabalho permitem estudar a relação da atividade magnética com a evolução estelar. Além destes aspectos, esta Tese apresenta classificações mais precisas para uma quantidade significativa de estrelas da base de dados CoRoT e introduz um conjunto de novas ferramentas que podem ser utilizadas para aperfeiçoar todo o processo de análise de bancos de dados fotométricos. vi Abstract The interest in the systematic analysis of astronomical time series data, as well as development in astronomical instrumentation and automation over the past two decades has given rise to several questions of how to analyze and synthesize the growing amount of data. These data have led to many discoveries in the areas of modern astronomy asteroseismology, exoplanets and stellar evolution. However, treatment methods and data analysis have failed to follow the development of the instruments themselves, although much effort has been done. In present thesis, we propose new methods of data analysis and two catalogs of the variable stars that allowed the study of rotational modulation and stellar variability. Were analyzed the photometric databases from two distinct missions: CoRoT (Convection Rotation and planetary Transits) and WFCAM (Wide Field Camera). Furthermore the present work describes several methods for the analysis of photometric data besides propose and refine selection techniques of data using indices of variability. Preliminary results show that variability indices have an efficiency greater than the indices most often used in the literature. An efficient selection of variable stars is essential to improve the efficiency of all subsequent steps. From these analyses were obtained two catalogs; first, from the WFCAM database we achieve a catalog with 319 variable stars observed in the photometric bands Y ZJHK. These stars show periods ranging between ∼ 0, 2 to ∼ 560 days whose the variability signatures present RR-Lyrae, Cepheids , LPVs, cataclysmic variables, among many others. Second, from the CoRoT database we selected 4, 206 stars with typical signatures of rotational modulation, using a supervised process. These stars show periods ranging between ∼ 0, 33 to ∼ 92 days, amplitude variability between ∼ 0, 001 to ∼ 0, 5 mag, color index (J H) between ∼ 0, 0 to ∼ 1, 4 mag and spectral type CoRoT FGKM. The WFCAM variable stars catalog is being used to compose a database of light curves to be used as template in an automatic classifier for variable stars observed by the project VVV (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) moreover it are a fundamental start point to study different scientific cases. For example, a set of 12 young stars who are in a star formation region and the study of RR Lyrae-whose properties are not well established in the infrared. Based on CoRoT results we were able to show, for the first time, the rotational modulation evolution for an wide homogeneous sample of field stars. The results are in vii agreement with those expected by the stellar evolution theory. Furthermore, we identified 4 solar-type stars ( with color indices, spectral type, luminosity class and rotation period close to the Sun) besides 400 M-giant stars that we have a special interest to forthcoming studies. From the solar-type stars we can describe the future and past of the Sun while properties of M-stars are not well known. Our results allow concluded that there is a high dependence of the color-period diagram with the reddening in which increase the uncertainties of the age-period realized by previous works using CoRoT data. This thesis provides a large data-set for different scientific works, such as; magnetic activity, cataclysmic variables, brown dwarfs, RR-Lyrae, solar analogous, giant stars, among others. For instance, these data will allow us to study the relationship of magnetic activity with stellar evolution. Besides these aspects, this thesis presents an improved classification for a significant number of stars in the CoRoT database and introduces a new set of tools that can be used to improve the entire process of the photometric databases analysis. viii LISTA DE FIGURAS 1.1 Diagrama do número de estrelas variáveis descobertas no campo Galáctico em função do tempo. Crédito: Smith & Catelan 2013, Pulsating Stars, Wiley-VCH, em preparação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Árvore de variabilidade com a identificação de diversos tipos de estrelas variáveis. Crédito: The Cambridge Encyclopedia of Stars, J B Taylor, 2006 . 1.3 3 4 Diagrama HR, onde são mostradas as regiões características de alguns tipos de estrelas variáveis. Crédito: The Cambridge Encyclopedia of Stars, J B Taylor, 2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1 5 O painel superior mostra as duas regiões da Galáxia (centro e anticentro) que são revisitadas pelo CoRoT ao longo de cada ano. O painel inferior esquerdo mostra o campo de visão na fronteira entre águia e a cauda da Serpente estudado pelo CoRoT. O painel inferior direito mostra o campo de visão no centro de Monóceros e próximo à constelação de Órion. Os círculos mostram as regiões que são cobertas pelo CoRoT, e os quadrados as regiões onde foram realizadas as observações referentes aos Runs LRa01 e SRc01. Crédito: http://smsc.cnes.fr/COROT/lien1_scie.htm . . . . . . . . 2.2 10 Curvas de luz do CoRoT que mostram típicas contaminações remanescentes nos dados. A figura do painel superior direito foi obtida em um Short-Run enquanto as outras curvas de luz foram obtidas em Long-Runs ou no InitialRun. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ix 13 2.3 Telescópio infravermelho utilizado para as observações do projeto UKIDSS. As cores da figura do painel inferior estão relacionadas com as regiões cobertas por diversos projetos que são especificados na Tabela 2.4. Crédito: http://www. ukidss.org/images/all7yr.eps . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 18 Curvas de transmissão dos sistemas de filtros fotométricos utilizados no MKO, para os filtros de banda larga (painel superior) e de banda estreita (painel inferior). Crédito: http://www.jach.hawaii.edu/UKIRT/instruments 20 2.5 Mapa das regiões do céu em que se localizam as fontes de calibração do WFCAM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6 Curvas de luz típicas obtidas do WFCAMCAL com diferentes janelas de observações nos diferentes filtros de banda larga (Y , Z, J , H, Ks ). . . . . . . 4.1 22 24 Interfaces gráficas dos programas utilizados para analise de series temporais. Os dois painéis superiores mostram a interface principal para analise de uma ou 5 bandas fotométricas. Os painéis inferiores mostram duas interfaces secundárias para análise wavelet e de busca de periodicidade, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 40 Exemplo de uma curva de luz com diversas descontinuidades. O painel superior é mostrada a curva de luz bruta. No painel inferior temos a curva de luz depois da correção das descontinuidades, com as linhas verticais indicando onde foram feitas as correções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 43 Taxa de acertos (recovery fraction) da determinação do período em função do S/N . A linha pontilhada vertical indica o valor de S/N ∼ 1, 0 para o qual temos uma taxa de acerto de ∼ 80%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 45 Taxa de acerto da determinação do período em função do número de ciclos. A linha pontilhada vertical indica o valor do número de ciclos c/n ∼ 3 para o qual temos uma taxa de acerto de ∼ 80%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . x 46 4.5 Exemplo de uma curva de luz em que o período relacionado à maior potência do periodograma representa um subciclo do período principal. O painel do meio mostra o periodograma para o método Lomb-Scargle, cujo pico (A) representa um período de 6, 75 dias, e o pico (B) é o período de 13, 4 dias. O painel inferior mostra o diagrama de fase para o período de 13, 453 dias, composto de dois subciclos e cujo ajuste harmônico é mostrado com uma linha em vermelho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6 47 Exemplo de uma curva de luz selecionada (painel superior do lado esquerdo) e outra descartada (painel superior do lado direito), com as suas respectivas variações de amplitude. A linha sólida em vermelho representa o ajuste harmônico dado pela expressão 4.4. A estrela identificada pelo CoRoT ID 105288363 é uma estrela RR Lyrae com efeito Blazhko (Guggenberger et al. 2011). 4.7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Distribuição do número de medidas (Nep ) em função da janela de observação (Ttot ) para os filtros Y , Z, J, H e Ks . 4.8 49 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Histograma normalizado de ns , para s igual a 2, 3 e 4, juntamente com o histograma do número de épocas (n). ns é o número de correlações utilizadas s para o cálculo dos índices de variabilidade Ifsl e Ipf c. . . . . . . . . . . . . . . 4.9 53 Índices de variabilidade versus magnitude para os dados simulados (paineis inferiores) e para os dados reais (painéis superiores) em termos de densidade. O número máximo de fontes por pixel é mostrado no canto superior/inferior esquerdo de cada painel. Existem algumas fontes fora do limite plotado (∼ 1% dos dados) nos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . (s) 54 (s) 4.10 Superfícies de corte utilizadas na seleção dos alvos para os índices Ipf c e If l . Os valores de corte (eixo z) são plotados em função de ns e da magnitude para o filtro Ks . Os demais filtros mostram similares superfícies. . . . . . . . 56 4.11 Curva de luz de um sistema binário, classificada como sendo do tipo Am Tau (Samus 2010 - GCVS1 ). Do lado esquerdo são mostradas as curvas de luz e ao lado direito os seus respectivos diagramas de fase para o período de ∼ 2, 04 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xi 58 5.1 Conjunto de curvas de luz com assinaturas típicas da nossa lista de alvos CoRoT, com assinatura semi-sinusoidal. Os quatro primeiros painéis mostram curvas de luz de estrelas de tipo espectral FGK. Os quatro painéis posteriores temos curvas de luz de tipo espectral M, e nos últimos quatro painéis são curvas de luz com características similares ao Sol (descritas na Seção 5.1.5). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 61 Histograma dos tipos espectrais e classe de luminosidade das estrelas do nosso catálogo CoRoT, com 4.206 fontes. Em cinza está representado o número de estrelas que não possui tipo espectral ou classe de luminosidade CoRoT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3 Histograma do logaritmo da amplitude de variabilidade para as estrelas do nosso catálogo CoRoT, com 4.206 estrelas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.4 62 63 Histograma cor-magnitude (J − H) × H para todas as estrelas CoRoT analisadas (124.471, em preto) conjuntamente com as estrelas do nosso catálogo (4.206, em vermelho). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 Curva de luz classificada por Debosscher et al. (2007,2009) como exibindo modulação rotacional com um período de 6, 15 dias. . . . . . . . . . . . . . . 5.6 64 65 Diagrama período-cor para as estrelas classificadas como sendo possíveis variáveis rotacionais, cujos dados (período e classificação) foram obtidos de uma forma automatizada pelo classificador de Debosscher et al. (2007,2009) e Sarro et al. (2009). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.7 66 Logaritmo da amplitude (em mmag) em função do período. Painel superior: todas as estrelas do nosso catálogo. Painel inferior: somente estrelas de classe de luminosidade V . O gradiente de cores representa a densidade de fontes, em que o vermelho representa o maior número de fontes, que decresce para o azul até a cor preta onde não há fontes. Os histogramas das amplitudes são mostrados ao lado direito, e os histogramas dos períodos na parte superior das figuras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii 67 5.8 Diagrama indices de cor (J − H) versus período de variabilidade das fontes do nosso catálogo CoRoT. O tamanho dos círculos indica a amplitude da variabilidade em magnitudes, e as cores nos gráficos representam a classe de luminosidade. Também é mostrada a barra de erro típica para o índice de cor (J − H). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.9 69 Diagrama pseudo-cor versus período de variabilidade para as estrelas de nosso catálogo. A pseudo-cor, denominada c3 , é livre de avermelhamento (Catelan et al. 2011). O tamanho dos círculos representa a amplitude de variabilidade em magnitude e as cores indicam a classe de luminosidade. Também é apresentada a barra de erro típica para c3 . . . . . . . . . . . . . . . 70 5.10 Histograma do período de variabilidade para as estrelas do nosso catálogo separadas por sua posição Galáctica, centro e anticentro Galáticos. Os histogramas são normalizados com relação aos seus respectivos máximos, e estão ordenados da seguinte forma: todo o catálogo, estrelas da sequência principal, estrelas subgigantes e estrelas gigantes, de cima para baixo. . . . . 73 5.11 Distribuição cumulativa dos períodos de variabilidade para todas as estrelas do catálogo. As distribuições são comparadas para o centro (linha sólida) e o anticentro (linha pontilhada) galácticos, usando o teste de KolmogorovSmirnov (KS). A distância (D) e a probabilidade (P) são calculadas pelo teste KS, cujos resultados são mostrados na figura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 5.12 Curvas de luz típicas do nosso catálogo. Na parte superior de cada painel é mostrado o identificador e período de variabilidade. . . . . . . . . . . . . . (s) 76 (s) 5.13 Diagramas dos índices If l versus Ipf c de ordem 2 e 3. Os pontos destacados em vermelho e verde representam as fontes que foram identificadas como estrelas variáveis periódicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii 79 LISTA DE TABELAS 2.1 Principais características instrumentais do Satélite CoRoT. . . . . . . . . . . . 2.2 Tipos de estrelas variáveis classificadas pelo classificador do Debosscher et al. (2007,2009), com seus respectivos acrônimos. . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 15 Descrição dos dados obtidos pelo CoRoT. É apresentado o número de estrelas observadas por Run, por tipos espectrais e por classe de luminosidade. . 2.4 9 16 Resumo dos projetos que compõem o UKIDSS, com a região de cobertura e os seus receptivos limite de magnitude. As regiões de cobertura para cada projeto, sinalizadas por diferentes cores, são mostradas na Figura 2.3. . . . . 2.5 19 Cinco tipos de classificação fornecida pelo WFCAMCAL com seu respectivo número de fontes. Também é apresentado o valor (Classe) utilizado para identificar os tipos de classificação nas tabelas do WFCAM e o número de fontes observadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1 22 Propriedades gerais dos dados analisados do banco de dados CoRoT, com 124.471 curvas de luz. É mostrado o número de curvas de luz e as janelas de observação para cada um dos runs analisados nesta Tese. . . . . . . . . . 4.2 38 Resumo das características da amostra analisada coletada no banco de dados do WFCAMCAL. São mostrados o número de curvas de luz, o valor médio da janela de observação e o número médio de medidas por filtro do WFCAMCAL das fontes selecionadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv 50 SUMÁRIO lista de figuras xiii lista de tabelas xiv 1 Introdução 1 1.1 Objetivos deste Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Projetos CoRoT e WFCAM 2.1 2.2 8 Projeto CoRoT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.1.1 Banco de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.1.2 Características dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Projeto WFCAM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.2.1 Banco de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.2.2 Características dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3 Redução de Dados 3.1 6 26 Seleção de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.1.1 Índice de Variabilidade de Welch-Stetson . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.1.2 Novos Índices de Variabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 xv 3.1.3 3.2 Índices de Variabilidade - K . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Cálculo do Período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2.1 33 Métodos de Determinação de Periodicidade . . . . . . . . . . . . . . 4 Análise de Dados 4.1 4.2 37 CoRoT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.1.1 Participação Brasileira no Projeto CoRoT . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.1.2 Tratamento das Curvas de Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.1.3 Seleção de Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.1.4 Calculando os Períodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 WFCAM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 4.2.1 Seleção de Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 4.2.2 Cálculo dos Períodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 5 Resultados e Discussões 5.1 5.2 60 Estrelas Variáveis no Banco de Dados do Projeto CoRoT . . . . . . . . . . . . 60 5.1.1 Nossa Seleção versus a Classificação Automática . . . . . . . . . . . . 63 5.1.2 Avermelhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 5.1.3 Descrição do Comportamento Global da Variabilidade Semi-Sinusoidal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.1.4 Variabilidade Semi-Sinusoidal nas curvas de luz CoRoT . . . . . . . . 68 5.1.5 Candidatas a Análogas Solares? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 5.1.6 Estrelas Variáveis do tipo M . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 5.1.7 Existe uma diferença de comportamento fotométrico entre Centro e Anticentro? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Estrelas Variáveis no Banco de Dados do Projeto WFCAM . . . . . . . . . . . 75 5.2.1 77 Índices de Variabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xvi 6 Conclusões e Perspectivas 80 Referências bibliográficas 84 xvii CAPITULO 1 INTRODUÇÃO A variação do brilho de uma estrela é um dos fenômenos que representa uma das fontes mais importantes de informações astrofísicas, e seu estudo tem levado a muitas descobertas na astronomia moderna. Estrelas pulsantes proporcionam informações para o estudo do interior estelar através da asterosismologia; o estudo de sistemas binários permite determinar de forma mais precisa as massas e raios das estrelas; modulação do brilho devido a presença de manchas na superfícies estelar permite o estudo da rotação e atividade estelar; do estudo de supernovas obtemos dados importantes para estimarmos distâncias cosmológicas, que servem para entendermos a estrutura do Universo em grande escala. Esses são apenas alguns exemplos no âmbito clássico que podem ser estudados. O interesse na análise sistemática de séries temporais de dados astronômicos, bem como o desenvolvimento em instrumentação astronômica e a automação durante as últimas duas décadas, deu origem a várias questões de como analisar e sintetizar a quantidade crescente de dados. Uma importante contribuição no aumento desses dados foi trazida pelos pequenos telescópios dedicados a campanhas fotométricas no visível com câmeras de campo amplo (wide-field) que fazem uma varredura fotométrica do céu. Desde o início do ano 2000 esses projetos estão coletando dados com objetivos que vão desde os mais abrangentes, como o estudo da variabilidade estelar (por exemplo, NSVS1 (Woźniak et al. 2004), ASAS2 (Pojmański 2004)), até a busca por planetas extra-solares (por exemplo, 1 2 Northern Sky Variability Survey All Sky Automated Survey 1 Capitulo 1. Introdução 2 WASP3 (Street et al. 2003), HAT4 (Bakos 2001)). Os programas observacionais também estão estendendo a exploração sistemática do céu para outros comprimentos de onda. A fotometria no infravermelho tinha surgido principalmente para observações de objetos conhecidos. Nos últimos anos, a fotometria no infravermelho próximo (NIR5 ) tem convergido em termos de resolução e desempenho de CCD6 óticos. Assim, trabalhos utilizando câmeras de campo amplo estão se tornando viáveis com alguns instrumentos no infravermelho próximo, como por exemplo WFCAM7 no telescópio em Mauna Kea (Hambly et al. 2008), além da câmera VIRCAM8 no telescópio VISTA9 . Tais fatos abriram caminho para uma grande variedade de pesquisas em astronomia estelar, Galática e extragalática. Em particular, encontramos o projeto VVV 10 , que esta fazendo um levantamento fotométrico do centro e do plano galáctico cujo produto final deve ser um catálogo de cerca de 109 fontes pontuais (Minniti et al. 2010). Com o intuito de reduzir as limitações de observações do solo, também foram iniciadas campanhas observacionais no espaço, as quais eliminam uma importante fonte de dispersão predominante nas observações a partir do solo, que é a atmosfera terrestre. A primeira missão espacial dedicada a fotometria de alta precisão e alta taxa de amostragem é o projeto CoRoT11 , lançado ao espaço em dezembro de 2006. Dois anos depois ocorreu o lançamento da missão Kepler, que acabou sendo um marco na pesquisa de exoplanetas (Borucki et al. 2011). As missões CoRoT e Kepler estão sendo bem sucedidas em alcançar seus objetivos, seja no estudo da asterosismologia, na busca de exoplanetas ou no estudo de estrelas variáveis. Atualmente, existe uma lista de potenciais missões espaciais dedicadas ao estudo de variabilidade estelar com ênfase em exoplanetas, na qual inclui o PLATO12 (Yang et al. 2009) e o ECHO13 (Del Zanna et al. 2007) conduzidos pela agência espacial europeia (ESA14 ) e os projetos TESS15 (Ricker et al. 2010) e FINESS16 (Swain 2012) 3 Wide Angle Search for Planets Hungarian Automated Telescope 5 near infrared 6 Dispositivo de Carga Acoplada ou CCD (charge-coupled device) é um sensor para captação de imagens. 7 Wide Field CAMera 8 VISTA InfraRed CAMera 9 Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy 10 VISTA Variables in The Via Lactea 11 COnvection ROtation and planetary Transits 12 PLAnetary Transits and Oscillations of stars 13 Eulerian Conservative High Order 14 European Space Agency 15 Transiting Exoplanet Survey Satellite 16 Fast INfrared Exoplanet Spectroscopy Survey Explorer 4 Capitulo 1. Introdução 3 coordenadas pela NASA. Tais projetos devem aumentar ainda mais a taxa de coleta de dados. Figura 1.1: Diagrama do número de estrelas variáveis descobertas no campo Galáctico em função do tempo. Crédito: Smith & Catelan 2013, Pulsating Stars, Wiley-VCH, em preparação. A Figura 1.1 mostra o número total de estrelas variáveis descobertas em função do tempo. Como podemos ver, a partir do século XIX, com o surgimento da placa fotográfica, houve um aumento exponencial no número de objetos observados. Os projetos CoRoT e Kepler já observaram mais de 200.000 estrelas. O projeto VVV, por exemplo, pretende coletar cerca de 106 estrelas variáveis, e parte desses dados já estão sendo disponibilizados para a comunidade científica (Saito et al. 2012, Cross et al. 2012). Nesse sentido, a análise supervisionada das curvas de luz se torna cada vez mais proibitiva e as técnicas de análise de dados devem ser aprimoradas para conseguirem responder a esse volume de dados. O acúmulo de conhecimento sobre os fenômenos de variabilidade estelar permitiu construir a “árvore de variabilidade” (Variability Tree), mostrada na Figura 1.2, que representa uma síntese sobre nosso conhecimento sobre as causas da variabilidade estelar. A árvore de variabilidade se inicia pela divisão de fenômenos extrínsecos e intrínsecos, ou seja, fenômenos internos ou externos aos objetos observados. A partir deste ponto, seus com- Capitulo 1. Introdução 4 portamentos se manifestam de acordo com o tipo de processo causador da variabilidade; variáveis eclipsantes, variáveis rotacionais, variáveis eruptivas, variáveis pulsantes, microlentes gravitacionais e variáveis cataclísmicas. Também são incluídos neste diagrama os asteroides, uma vez que também podem apresentar variação de brilho. Figura 1.2: Árvore de variabilidade com a identificação de diversos tipos de estrelas variáveis. Crédito: The Cambridge Encyclopedia of Stars, J B Taylor, 2006 O painel direito da Figura 1.3, mostra o diagrama de Ejnar Hertzsprung e Henry Norris Russell (Diagrama HR), que é uma importante ferramenta para identificar o estágio evolutivo das estrelas. A evolução estelar não pode ser estudada através da observação de estrelas individuais, já que a maioria das mudanças ocorre ao longo de milhões de anos. Neste sentido, a observação de grandes amostras de estrelas em diferentes estágios evolutivos é necessária para entendermos a evolução das estrelas ao longo do tempo. Nesta figura, são representados diversos tipos de estrelas variáveis com a correspondente localização no diagrama HR, no qual as estrelas dentro das mesmas regiões partilham um conjunto comum de características. Capitulo 1. Introdução 5 Figura 1.3: Diagrama HR, onde são mostradas as regiões características de alguns tipos de estrelas variáveis. Crédito: The Cambridge Encyclopedia of Stars, J B Taylor, 2006 Uma das formas de identificar os diversos tipos de estrelas variáveis é através do estudo de suas curvas de luz, uma vez que as variações fotométricas estão correlacionadas aos processos físicos que estão ocorrendo nas estrelas. Atualmente, grandes esforços são realizados para identificar os diversos tipos de estrelas variáveis somente com os dados fotométricos (e.g. Debosscher et al. 2007, Richards et al. 2011, Dubath et al. 2011). Normalmente o processo de classificação é feito utilizando-se um grande número de estrelas variáveis conhecidas, para as quais são obtidos períodos, amplitudes, modelos de variabilidade, e propriedades estatísticas necessárias para se caracterizar cada tipo de estrela variável. A separação entre os diversos tipos de variabilidade é a ultima etapa do processo de classificação. Antes disso, é preciso obter o período de variabilidade correto e um modelo matemático adequado para que os parâmetros possam caracterizar as dife- Capitulo 1. Introdução 6 rentes assinaturas das curvas de luz. 1.1 Objetivos deste Trabalho Tal como sublinhado anteriormente, existe um aumento exponencial no número de dados fotométricos coletados nos últimos anos, levando à necessidade de se criarem novas metodologias para se analisarem automaticamente e de forma não supervisionada esses dados. No entanto, para criar uma ferramenta eficiente, é preciso separar variações estocásticas e determinísticas, obter períodos corretamente, obter bons modelos e conhecer as características de cada um dos tipos de assinaturas. É neste contexto que se inserem os objetivos desta tese. A análise obtida a partir dos resultados do classificador automático do Debosscher et al. (2007,2009), para estrelas do banco de dados CoRoT classificadas como variáveis rotacionais por exemplo, contém viés e, consequentemente, os resultados são imprecisos. Nesse sentido é realizada uma análise supervisionada das curvas de luz CoRoT com assinaturas compatíveis com modulação rotacional para obter uma caracterização fotométrica robusta e identificar contaminações remanescentes nestes dados. Para construir um classificador, é preciso um conjunto de curvas de luz com características bem conhecidas para serem utilizadas como modelo de comparação. Existe uma grande quantidade de curvas de luz de estrelas variáveis obtidas no visível, no entanto no infravermelho isso não ocorre (e.g. Catelan 2011). Desta forma, foi obtido um catálogo de estrelas variáveis no infravermelho do banco de dados do WFCAM para ajudar na elaboração de um classificador para o projeto VVV nessa região espectral. O objetivo mais amplo desta Tese está na utilização de diversos métodos de análise com o intuito de construir posteriormente uma metodologia que permita uma análise não supervisionada de bancos de dados fotométricos. Neste sentido, são utilizados diversos métodos para análise dos bancos de dados dos projetos CoRoT e WFCAM, além de propor um conjunto de índices de variabilidade que deve ajudar na separação entre variações estocásticas e determinísticas e consequentemente a aumentar a eficiência da classificação. Além do mais, este trabalho pretende ser um ponto de referência para futuros estudos que utilizarão as observações do satélite CoRoT, uma vez que oferece uma análise detalhada das variações semi-sinusoidais das estrelas nos campos observados nesta mis- Capitulo 1. Introdução 7 são. Este trabalho também pretende se tornar um ponto de partida para futuros estudos sobre os diversos tipos de variáveis no infravermelho, uma vez que fornece um catálogo com diversos tipos de estrelas variáveis cujos comportamentos ainda são pouco conhecidos nessa região do espectro eletromagnético. Esta Tese é apresentada na seguinte forma: no Capítulo 2, apresentamos os projetos CoRoT e WFCAM, bem como uma descrição de seus respectivos bancos de dados; no Capítulo 3, descrevemos os métodos de tratamento e análise dos dados; no Capítulo 4, apresentamos os resultados obtidos em cada um dos projetos em conjunto com as discussões. Por fim, no Capítulo 5 apresentamos as conclusões e perspectivas para futuros trabalhos. CAPITULO 2 PROJETOS COROT E WFCAM Neste trabalho são analisados os dados da missão CoRoT e os dados de calibração do projeto WFCAM. Tais projetos possuem características bem distintas; enquanto os dados do CoRoT apresentam milhares de pontos dentro de uma janela de observação menor que 6 meses, os dados do WFCAM geralmente apresentam menos de 200 pontos para janelas de observação com duração de 3 anos. Uma outra diferença é que o projeto CoRoT obtêm seus dados através de um satélite espacial, enquanto o projeto WFCAM realiza suas observações em terra, o que implica em contaminações de diferentes naturezas para cada projeto. Devido a tais diferenças, são descritas abaixo separadamente as características e os procedimentos da análise de cada um dos projetos. 2.1 Projeto CoRoT CoRoT é um telescópio espacial desenvolvido sob a direção da agência CNES1 , contando com parceiros europeus e o Brasil. A missão CoRoT tem dois objetivos principais: o estudo da asterosismologia de estrelas brilhantes e a procura por planetas extra-solares, e um conjunto de programas científicos adicionais. Estes objetivos são descritos a seguir. • Asterosismologia Estelar - Analisar os modos de vibração das estrelas sob forças gravitacionais, forças de pressão e Coriolis. Ao obter as frequências próprias, as 1 Centre National d’Etudes Spatiales 8 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 9 amplitudes e a duração destes modos, é possível determinar importantes parâmetros físicos estelares, tais como a dimensão e a composição do núcleo, os limites das zonas radiativas e convectivas ou os perfis internos de rotação. Estes modos de oscilação, que se manifestam como variações na luminosidade superficial das estrelas, são as únicas informações (além dos neutrinos) que provêm diretamente do interior da estrela. Assim, estudando estrelas com diferentes intervalos de massas, idades e composições químicas a partir das curvas de luz do CoRoT, é possível obter importantes informações sobre a evolução estelar. • Detecção de Planetas Extra-Solares - Detectar planetas extra-solares a partir de uma pequena diminuição periódica da luminosidade da estrela (trânsito planetário) é um método complementar à detecção comum utilizando a variabilidade da velocidade radial. Além de descobrir planetas tipo Júpiter, o CoRoT é capaz de detectar planetas pequenos, conhecidos como exo-terras. Da mesma forma é possível distinguir diferentes tipos de eclipses (trânsitos planetários, atividade estelar, binárias eclipsantes, entre outros) analisando a curva de luz nos três pseudo-filtros utilizados pelo CoRoT. • Programas Adicionais - Durante a operação da missão CoRoT espera-se observar cerca de 200.000 fontes pontuais no intervalo de magnitudes (mag) na banda R entre 5, 5 e 16 mag. Diversos ramos da astrofísica poderão se beneficiar desses dados, como por exemplo: estudo da atividade estelar e do magnetismo, estudo da rotação estelar, análise de variabilidade intrínseca, entre outros. Tabela 2.1: Principais características instrumentais do Satélite CoRoT. Massa 630 kg no lançamento Comprimento 4100 mm Potência 530 W Telemetria 1,5 Gbit/dia Lançamento 2006 Massa de Carga Útil Diâmetro Precisão Memoria Duração da Missão 300 kg 1984 mm 0,5 arcseg 2 Gbit 2,5 + 4 O satélite CoRoT foi construído em uma plataforma PROTEUS2 . Esta plataforma foi desenvolvida para satélites de 500 kg operados em baixas órbitas. O CoRoT é a terceira missão a utilizar essa plataforma, depois do Jason-13 e do Calipso4 . O telescópio possui uma câmera com 4 detectores CCD e um campo de visão de 3 × 3 graus que opera no 2 Plate-forme Reconfigurable pour l’Observation, pour les Télécommunications et les Usages Scientifiques http://www.cnes.fr/web/CNES-en/1441-jason.php 4 http://www.cnes.fr/web/CNES-en/2925-calipso.php 3 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 10 visível com um prisma que permite a observação simultânea em três pseudo-filtros (filtros R, G e B), dedicado à observação fotométrica de alta precisão (entre 100 e 600ppm) e por longos períodos de tempo (Baglin et al. 2006). Um resumo das principais características do telescópio é dado na tabela 2.1. Figura 2.1: O painel superior mostra as duas regiões da Galáxia (centro e anticentro) que são revisitadas pelo CoRoT ao longo de cada ano. O painel inferior esquerdo mostra o campo de visão na fronteira entre águia e a cauda da Serpente estudado pelo CoRoT. O painel inferior direito mostra o campo de visão no centro de Monóceros e próximo à constelação de Órion. Os círculos mostram as regiões que são cobertas pelo CoRoT, e os quadrados as regiões onde foram realizadas as observações referentes aos Runs LRa01 e SRc01. Crédito: http://smsc.cnes.fr/COROT/lien1_scie.htm Em 2003, antes do lançamento da missão, um grande programa de observações fotométricas multi-bandas foi iniciado com os seguintes objetivos: otimizar as posições das estrelas, fornecer informações gerais sobre densidades estelares, obter a distribuição Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 11 das classes espectrais e luminosidade e selecionar os potenciais objetos para os campos de pesquisa do CoRoT. As observações foram feitas por diversos telescópios, tais como WFC5 de 2, 5m no INT6 no Observatório de La Palma. Foram obtidas fotometrias utilizando-se os filtros Harris B e V e os filtros r’ e i’ do sistema Sloan-Gunn, com tempos de exposição variando entre 10s até 60s. Também foram obtidas fotometrias com o filtro RGO-U para algumas partes do campo, tal restrição devendo-se ao tempo de exposição mais longo (300s). Baseado nesta campanha, foi construído um catálogo (catálogo Exo-Cat) com cerca de 14 milhões de estrelas sobre uma área de 209 graus quadrados e distribuídos dentro do campo de visão da missão CoRoT (Deleuil et al. 2009). A partir desse catálogo, foi criado um identificador (CoRoT-ID) para cada fonte, que é utilizado como referência para qualquer tipo de cruzamento de dados. A redução de dados é obtida usando-se o pipeline7 CASU, desenvolvido pela Cambridge University (Irwin & Lewis 2001). A distribuição espectral de energia obtida com os filtros UBVr’i’ é utilizada nos modelos Hatziminaoglou & EIS Team (2002) e Hatziminaoglou & EIS Team (2003) para derivar tipos espectrais e classes de luminosidades. Foram selecionados dois campos com 50 graus quadrados que estão centrados em RA = 6h50m e Dec = 00 e RA = 18h50m e Dec = 00 . Tais regiões são denominadas os dois “olhos do CoRoT” (ver painel superior da Figura 2.1). Nessas regiões é possível observar com uma menor contaminação da luz espalhada pela Terra (straylight) e, com isso, o desempenho do instrumento é otimizado. O telescópio CoRoT foi colocado em órbita às 14 : 28 : 00 UTC em 27 de dezembro de 2006 por um lançador Soyuz 2.1b em órbita polar circular inercial (com 900 de inclinação) a uma altitude de 896km. As observações são realizadas na direção equatorial para não sofrer influência da luz espalhada pela Terra. Duas vezes no ano, quando o Sol se aproxima do plano da órbita do satélite, é realizada uma manobra para mudar a posição do telescópio do anticentro/centro para o centro/anticentro galáctico, dividindo assim o ano em dois períodos de 6 meses de observação (por convenção foram denominados período de inverno e de verão). As duas regiões do plano Galáctico mostradas na Figura 2.1 são também conhecidas como os campos centro e anticentro do CoRoT ("olhos do CoRoT"). No campo do 5 Wide Field Camera Isaac Newton Telescope 7 Conjundo de processos de redução de dados astronômicos para remover contaminações instrumentais. 6 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 12 anticentro é observado o disco externo da Via Láctea; e no campo do centro é observado o disco interno da Via Láctea, as posições dos campos se encontram ilustradas no painel superior da Figura 2.1 e sinalizadas pelos círculos em azul nos dois painéis inferiores da mesma. Dentro dessa região são escolhidas regiões menores para levantamentos fotométricos (Runs); as regiões dos levantamentos fotométricos LRa01 e SRc01 são delimitadas pelo quadrados nos dois painéis inferiores da Figura 2.1. Uma retrospectiva cronológica do projeto pode ser sumarizada pelos seguintes acontecimentos: • fevereiro de 1994 - inciam-se os estudos para realizar a missão CoRoT; • outubro de 2000 - a agência espacial francesa CNES8 decide realizar o projeto; • 19 de outubro de 2001 o CNES convidou oficialmente a Agência Espacial Brasileira a participar da missão CoRoT; • 27 de dezembro de 20069 - foi lançado o satélite CoRoT; • fevereiro de 2007 - foram iniciadas suas operações e apenas 3 meses depois foi detectado o primeiro planeta extra-solar, o qual foi chamado de CoRoT 1b (Barge et al. 2008); • março de 2009 - um dos canais fotométricos parou de funcionar, e com isso, a estratégia de observação foi alterada para otimizar o número de estrelas observadas, mas sem qualquer degradação da qualidade das observações, reduzindo no entanto o número de fontes observadas por um fator dois; • em 2009 - com base no desempenho do CoRoT e das novas questões que foram levantadas a partir de suas descobertas, o projeto foi estendido por mais três anos (20102012)10 ; • em 2012 - a missão foi extendida por mais três anos (2012-2015)11 , sendo que a previsão inicial para duração do projeto era estimada em 2, 5 anos; 8 Centre National d’Etudes Spatiales http://smsc.cnes.fr/COROT/events2006.htm 10 http://smsc.cnes.fr/COROT/MissionExtension.eps 11 http://smsc.cnes.fr/COROT/PDF/CoRoT_III_programme.eps 9 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 13 • 2 de novembro de 201212 - o satélite CoRoT sofreu uma falha em seus circuitos e parou suas operações. No momento, um conjunto de esforços está sendo realizado para reativar o satélite. Figura 2.2: Curvas de luz do CoRoT que mostram típicas contaminações remanescentes nos dados. A figura do painel superior direito foi obtida em um Short-Run enquanto as outras curvas de luz foram obtidas em Long-Runs ou no Initial-Run. 2.1.1 Banco de Dados As operações de controle em solo consistem em obter os dados, programar as observações da missão, recepcionar a telemetria, assim como disponibilizar os dados e serviços para 12 http://www.nature.com/news/exoplanet-hunter-nears-its-end-1.11845 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 14 os Co-investigadores (Co-IS) e para os investigadores principais (PIS). Essas operações são realizadas pelo Centro de Controle de Comando (CCC – Command Control Center), pelo centro de dados do CoRoT (CDC - CoRoT Data Center), pelo Centro da Missão CoRoT (CMC - CoRoT Mission Center), por redes de comunicação e um conjunto de bases em solo para receber a telemetria e enviar comandos para o satélite (TTCET – Telemetry and Telecommand Earth Terminals). O CCC é responsável pelo gerenciamento de dados e pelo controle do satélite. O CMC é responsável pela preparação das campanhas de observação, calibração do instrumento e análise de sua performance. O TTCET é formado por um conjunto de estações com uma conexão de 2 GHz entre satélite-Terra-satélite para permitir o envio de comandos e o recebimento da telemetria em tempo real. Por último, o CDC opera a parte científica da missão, gerenciamento de dados, a redução de dados (correções residuais e instrumentais) e a construção dos catálogos. Os dados do CoRoT são divididos da seguinte forma: • CoRoT N2 data archive - dados já reduzidos e prontos para uso científico, entretanto, esses dados são de uso restrito aos Co-investigadores da missão CoRoT; • CoRoT N2 data for GIs - dados reduzidos de acesso restrito dos programas adicionais de pesquisa da missão CoRoT; • CoRoT Public N2 data - dados que já foram reduzidos e estão públicos. A cada ano são disponibilizados novos dados seguindo a política de liberação de dados do CoRoT; • CoRoT N1 data - dados não reduzidos de acesso restrito. O CDC também disponibiliza uma tabela com a classificação das classes de variabilidade das estrelas observadas pelo CoRoT. Esta classificação é baseada na análise das curvas de luz utilizando o método de Debosscher et al. (2007,2009). Para cada classificação é associada uma frequência, referente ao período de variabilidade, com um valor de probabilidade e um valor da distância de Mahalanobis13 associado a esta classificação. Para cada estrela são realizadas três tentativas de classificação, e para cada uma dessas tentativas são associadas três frequências (F1 , F2 , F3 ), três valores de probabilidade (PF1 , PF2 , PF3 ) e três valores do coeficiente de Mahalanobis (MF1 , MF2 , MF3 ). Segundo os autores, são 13 É uma medida de distância multi-dimensional que serve para medir a similaridade entre as duas amostras (Mahalanobis 1936). Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 15 atribuídas classificações com uma probabilidade próxima a 0 às estrelas que provavelmente não são estrelas variáveis, mas que, apresentam dados não muito claros a este respeito. O coeficiente de Mahalanobis também pode ser usado juntamente com a probabilidade nesta seleção, com valores menores que 3. Quanto maior o valor de PF e menor o valor de MF , mais genuína e mais definida será a classificação. Este classificador separa as estrelas nos diversos tipos de variáveis mostrados na tabela 2.2. Tabela 2.2: Tipos de estrelas variáveis classificadas pelo classificador do Debosscher et al. (2007,2009), com seus respectivos acrônimos. MISC Classificação Incerta SR Variáveis Semi-Regulares RRAB RRLyrae - tipo ab RRD RRLyrae - tipo d DMCEP Cefeidas com Duplo-Modo BCEP Beta-Cephei GDOR Gamma-Doradus ECL Binárias Eclipsantes (todos tipos) ACT Atividade MIRA RVTAU RRC CLCEP SPB DSCUT ELL ROT Mira RV-Tauri RRLyrae - tipo c Cefeidas Clássica Estrela B com Lenta Pulsação Delta-Scuti Variáveis Elipsoidais Modulação Rotacional As estrelas classificadas como MISC são objetos que podem apresentar variabilidade mista, ou não apresentar variabilidade ou não pertencer a nenhuma das classes consideradas pelos autores. As estrelas classificadas como ROT e ACT foram incluídas posteriormente no classificador a partir dos resultados da análise de aglomerados por Sarro et al. (2009), numa classificação não supervisionada. Segundo o CDC, a tabela de classificação é coerente, mas deve ser usada com cautela, em particular quando usada com uma probabilidade pequena. 2.1.2 Características dos Dados A missão CoRoT divide as observações de modo a acomodar os programas de sismologia e exoplanetologia em campanhas com duração de ∼ 20 dias (curto período – Short Run SR) e 150 dias (longo período – Long Run – LR), exceto a campanha inicial que durou 50 dias (Initial Run – IR). A nomenclatura é definida de acordo com a localização das fontes e com o tempo de duração das observações (a para anticentro e c para centro Galáctico). Dessa forma, as campanhas de longa e curta duração no centro e no anticentro galáctico são denominadas LRc-SRc e LRa-SRa, respectivamente. Os intervalos entre duas medidas para as curvas de luz são de 32s e 512s, sendo que a grande maioria é obtida com um Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM Run IRa01 LRc01 SRa01 SRc02 LRa02 LRc04 SRa03 LRc06 LRa05 SRc03 SRa04 LRa06 N 9.880 11.408 8.150 11.408 11.408 5.716 4.130 5.683 4.602 642 5.554 5.684 Run SRc01 LRa01 LRc02 SRa02 LRc03 LRa03 LRc05 LRa04 LRc07 LRc08 SRa05 N 6.975 11.408 11.408 10.265 5.661 5.289 5.683 4.216 5.682 5.685 4.158 (a) Runs observados pelo CoRoT com os respectivo número de fontes (N) observadas. Em vermelho estão os Runs que ainda não são públicos. 16 Tipo Espectral O B A F G K?14 M Classe de Luminosidade I II III IV V N 385 2.000 13.982 20.622 36.578 65,932 5.499 N 4.285 6.512 22.370 24.156 87.674 (b) Número de fontes no qual foram identificados tipos espectrais ou classes de luminosidades. Tabela 2.3: Descrição dos dados obtidos pelo CoRoT. É apresentado o número de estrelas observadas por Run, por tipos espectrais e por classe de luminosidade. intervalos de 512s. No entanto, em alguns casos também podem ser encontradas curvas com intervalos entre duas medidas mistos, ou seja, parte da curva de luz com o intervalos de 32s e outra parte com 512s. Os dados do CoRoT podem ser acessados por uma interface relacional, desenvolvida pelo CNES, com um amplo número de opções de busca. É possível selecionar os dados pelo Run, tipo espectral, classe de luminosidade, intervalos de magnitude, tipo de variabilidade, ascensão ou declinação reta, data das observações ou pelo ID-CoRoT. A interface permite que o usuário interaja com o resultado da busca, podendo por exemplo fazer visualizações dos dados e consultar informações sobre os mesmos antes de baixálos. A tabela 2.3 mostra um resumo do número de fontes que foram observadas em cada Run e o número de estrelas por tipo espectral e classe de luminosidade. Os dados fotométricos são reduzidos utilizando-se o pipeline de redução CASU, desenvolvido na Universidade de Cambridge (Irwin & Lewis 2001), sendo obtida para cada imagem uma lista de posições estelares e magnitudes. Rotinas posteriores fazem o cruzamento dos dados e verificam a qualidade de todas as fontes pontuais com base em cerca de 20 estrelas padrões pré-selecionadas em regiões próximas as observadas pelo 13 Existem alguns Runs em que todas as estrelas são classificadas como sendo do tipo espectral K. Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 17 CoRoT (Landolt 1992). É encontrado nos dados CoRoT um conjunto de contaminações, principalmente devido a proximidade de sua órbita com a Terra (900 km), que são sumarizadas abaixo (para maiores detalhes, ver Auvergne et al. 2009): • Eclipses - Quando o satélite sai da penumbra e entra na sombra da Terra, e viceversa, é produzido vibrações nos painéis solares, flutuação na temperatura e flutuações na tensão. • Campo Gravitacional e Campo Magnético da Terra - Provocam torques e, consequentemente perturbam a altitude do satélite. • Anomalia do Atlântico Sul - O campo magnético da Terra não é um dipolo perfeito e por isso as linhas de campo magnético são distorcidas. A região desta anomalia está localizada na região da América do Sul. Nessa região surgem partículas de alta energia (no intervalo entre 10 keV a 300 MeV) que atingem os detectores produzindo hot pixels, e com isso o aparecimento de descontinuidades nas curvas de luz. • Emissão de Radiação Infravermelha da Terra e do Sol - São produzidas variações sazonais de temperatura. • Albedo da Terra - A luz solar refletida pela Terra, dependendo da região sobrevoada (com nuvens, dia, noite, oceano), pode provocar contaminações fotométricas. • Constelação de Leão - Na altitude entre 400 e 1, 500 km existem milhares de pedaços de satélites maiores que 10 cm que, quando passam no campo de visão do telescópio podem provocar uma perturbação global ou local do campo de observação. Diversos esforços têm sido realizados para obter uma rotina única de calibração que permita remover tais contaminações; no entanto, até o momento tal intento não foi atingido (Samadi et al. 2006). Na Figura 2.2 são mostradas quatro curvas de luz reduzidas pelo CoRoT que mostram uma série de contaminações ainda presente nos dados reduzidos: as duas figuras no painel superior apresentam típicas tendências e as duas curvas de luz do painel inferior apresentam típicas descontinuidades. Estas curvas de luz exemplificam algumas das dificuldades de uma análise automática em um banco de dados. Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 2.2 18 Projeto WFCAM WFCAM é uma câmera de campo amplo de 3, 8 metros no infravermelho próximo para o telescópio infravermelho do Reino Unido UKIRT, no observatório de Mauna Kea (MKO14 ) que, é atualmente o maior telescópio de astronomia no infravermelho do Hemisfério Norte com câmera de campo amplo. O detector consiste em um conjunto de 4 CCDs de 2048 × 2048 pixels, com uma resolução de 0, 4 segundos de arco por pixel. Uma completa discussão sobre as propriedades do instrumento é dada por Casali et al. (2007). Figura 2.3: Telescópio infravermelho utilizado para as observações do projeto UKIDSS. As cores da figura do painel inferior estão relacionadas com as regiões cobertas por diversos projetos que são especificados na Tabela 2.4. Crédito: http://www. ukidss.org/images/all7yr.eps 14 Mauna Kea Observatory Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 19 O sistema fotométrico padrão do WFCAM consiste em três filtros do MKO-NIR nas bandas J, H e Ks (para maiores detalhes, ver Simons & Tokunaga (2002) e Tokunaga et al. 2002), complementada com os filtros Z e Y, e mais três filtros de banda estreita (h2, brγ, e nbj). A Figura 2.4 mostra a curva de transmissão do sistema fotométrico utilizado no WFCAM; como podemos ver, as bandas fotométricas quase não são absorvidas pela atmosfera terrestre nessa região do espectro e, por isso, são bandas que podem ser utilizadas desde o solo. O WFCAM tem sido usado principalmente para realizar o mapeamento do céu profundo no infravermelho pelo projeto UKIDSS15 . O projeto UKIDSS é formado por um conjunto de cinco mapeamentos (Lawrence et al. 2007), com cinco níveis de profundidade, a Tabela 2.4 mostra uma síntese desses projetos. O mapeamento já utilizou mil noites de tempo UKIRT ao longo de sete anos, o qual iniciou suas observações em abril de 2005. O painel inferior da Figura 2.3 mostra as regiões Galácticas que estão sendo cobertas pelo projeto UKIDSS, no qual as cores de cada uma das regiões estão relacionadas com os tipos dos projetos que estão codificadas na Tabela 2.4. Nessa figura a linha tracejada representa o Plano Galáctico e a linha pontilhada representa a eclíptica. Desde 2005, uma grande quantidade de dados no infravermelho foi recolhidos com o WFCAM nestas regiões, principalmente relacionados aos projetos UKIDSS. Como parte do programa de calibração fotométrica do WFCAM, diversas estrelas, para calibração dos dados, são regularmente observados, e os dados correspondentes são regularmente disponibilizados para o público em geral. Tabela 2.4: Resumo dos projetos que compõem o UKIDSS, com a região de cobertura e os seus receptivos limite de magnitude. As regiões de cobertura para cada projeto, sinalizadas por diferentes cores, são mostradas na Figura 2.3. Projeto Large Area Survey (LAS) Galactic Plane Survey (GPS) Galactic Clusters Survey (GCS) Deep Extragalactic Survey (DXS) Ultra Deep Survey (UDS) Area 4000 graus2 1800 graus2 1400 graus2 35 graus2 0,77 graus2 Magnitde Limite Tipo de Fonte K = 18, 4 Extra-Galáctico K = 19, 0 Galáctico K = 18, 7 Galáctico K = 21, 0 Extra-Galáctico K = 23, 0 Extra-Galáctico Todos os dados produzidos pelas pesquisas UKIDSS são processados pelo sistema de fluxo de dados VISTA (VDFS16 , descrito em Emerson et al. 2004) e, são armazenados 15 16 UKIRT Infrared Deep Sky Survey VISTA Data Flow System Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 20 no arquivo de dados do WFCAM (WSA17 ). Os dados de calibração fotométrica para os filtros utilizados pelo WFCAM são tomados com certa regularidade e são arquivados pelo VDFS. Durante os vários anos de operação do WFCAM, uma grande quantidade de dados já processados de alta qualidade e dentro das diversas bandas fotométricas foi recolhida durante as observações de calibração, e estão disponíveis ao público no WSA. Como a maioria desses campos foram visitados várias vezes ao longo de muitos anos, esses dados fornecem uma excelente oportunidade para o estudo de estrelas variáveis no NIR. Figura 2.4: Curvas de transmissão dos sistemas de filtros fotométricos utilizados no MKO, para os filtros de banda larga (painel superior) e de banda estreita (painel inferior). Crédito: http://www.jach.hawaii.edu/UKIRT/instruments 2.2.1 Banco de Dados Nesta Tese nós nos restringimos à discussão de alguns aspectos da redução de dados concernentes a nosso trabalho; uma descrição mais detalhada da redução dos dados pode ser encontrada em Emerson et al. (2004). A redução de dados consiste numa série de modificações nas imagens para remover contribuições fotométricas espúrias, que vão desde processos mais usuais como por exemplo flat field18 e dark subtraction19 a processos mais complexos. Uma prática comum na redução de dados no infravermelho é chamada de 17 WFCAN Science Archive - http://surveys.roe.ac.uk/wsa/ Flat field - processo para remoção de deformações na imagem causadas pela variação da sensibilidade do detector (pixel por pixel) e/ou por distorções óticas. A imagem flat é utilizada para compensar essas distorções e produzir uma imagem de saída mais homogênea. 19 Dark subtraction - subtração da imagem de escuro pelas imagens do campo, que serve para minimizar o efeito do ruído de fundo sobre a imagem. Para fazer a imagem de escuro é obtida uma imagem com o obturador fechado. 18 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 21 detector frame, que consiste na composição de um conjunto de imagens cujas posições se intersectam em alguns segundos de arco, de modo a formar um mosaico, que é utilizado para identificar e remover a contribuição de pixels ruins e para fazer a subtração da contribuição atmosférica no infravermelho. Após a redução das imagens, são obtidas as medidas fotométricas de cada fonte pontual para as quais são identificas e removidas fontes pontuais espúrias ou medidas fotometrias contaminadas. Para isso, as medidas fotométricas de cada fonte pontual são tomadas para um conjunto de diferentes aberturas; tal processo permite aumentar a razão sinal-ruído e fazer correções sistemáticas com a superposição de imagens que se intersectam. Para corrigir a perda de fluxo dentro de cada abertura é calculada a função de espalhamento de pontos PSF20 cujas correções dependem da abertura utilizada (Irwin & Lewis (2001); além disso, o perfil da PSF é utilizado para classificar as fontes pontuais. É importante lembrar que todos os dados de magnitude obtidos no WSA estão calibrados no sistema de magnitudes do WFCAM. Um grande conjunto de estrelas foi selecionados como estrelas de calibração, as quais são recursivamente observadas, ao longo do ano e são armazenadas e gerenciadas pelo WSA. Entre os diversos parâmetros armazenados dessas fontes, incluem-se parâmetros de controle de qualidade, além dos parâmetros de empilhamento (informações sobre o número de vezes que a fonte foi observada, por exemplo). Todas as informações sobre as fontes de calibração são organizados dentro de um banco de dados relacional que permite ao usuário acessar os dados usando SQL21 . Os detalhes para acessar os dados do WSA, assim como o gerenciamento e os procedimentos de busca, estão detalhados em Hambly et al. (2008) e Cross et al. (2009). Na Seção 2.2.2 são apresentadas algumas propriedades dos dados de calibração do WFCAM (WFCAMCAL), com ênfase em alguns aspectos importantes que são explorados na nossa análise. 2.2.2 Características dos Dados O WFCAMCAL tem como última liberação de dados o DR822 , que contém fontes pontuais observadas tanto no hemisfério Norte como no Sul, localizadas sobre diversos campos do céu. Estas fontes de calibração estão localizadas entre uma declinação de 700 e −400 , 20 Point Spread Functions Structured Query Language 22 Data Release 8 21 Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 22 60 50 DEC [deg.] 40 30 20 10 0 -10 -20 -30 0 4 8 12 16 20 24 RA [hrs.] Figura 2.5: Mapa das regiões do céu em que se localizam as fontes de calibração do WFCAM. distribuídas em toda a escala de ascensão reta, a fim de fornecer dados de calibração durante todo o ano. Na Figura 2.5 são mostradas as regiões em que foram coletadas as fontes de calibração e que são analisadas por este trabalho. O WSA disponibiliza uma classificação baseada na forma da PSF e no conjunto de medidas fotométricas para cada fonte pontual, classificando-as em quatro tipos, tal como é mostrado na Tabela 2.5. Tabela 2.5: Cinco tipos de classificação fornecida pelo WFCAMCAL com seu respectivo número de fontes. Também é apresentado o valor (Classe) utilizado para identificar os tipos de classificação nas tabelas do WFCAM e o número de fontes observadas. Classe -1 -2 1 -3 0 Classificação Número de Fontes Estrelas 318.995 Prováveis Estrelas 33.188 Galáxias 205.352 Prováveis Galáxias 2.345 Ruído 10.377 As estrelas de calibração são observadas várias vezes durante o ano, mas não de forma regular, o que torna a amostra bastante heterogênea. Um campo é observado algumas vezes durante uma noite com intervalo de tempo de algumas horas entre as Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 23 observações. Durante cada observação, o campo é geralmente (mas não necessariamente) observado através dos filtros JHKs ou ZY JHKs , e ocasionalmente através dos filtros de banda estreita, cujas observações são tomadas dentro de um intervalo de alguns minutos. Um mesmo campo é normalmente re-observado dentro de poucos dias, mas intervalos de tempo mais longos também são comuns; além disso, grandes diferenças sazonais também estão presentes nos dados. A janela total de observação é, em grande parte, dependente dos campos observados, e pode variar desde alguns meses até anos. O VDFS é responsável pelo cruzamento de dados posicionais para cada fonte pontual nas diferentes imagens observadas pelo WFCAM, cujos procedimentos para o empilhamento das imagens e suas limitações são descritos em Hambly et al. (2008). Este procedimento origina um parâmetro denominado Sources que é um identificador para cada fonte pontual, e é utilizado como parâmetro de empilhamento de dados. Como resultado final é construída uma base de dados que contém parâmetros relacionais que são utilizados para obter todas as informações de uma determinada fonte. O banco de dados de fontes de calibração do WFCAM (WFCAMCAL) é constituído de todas as informações de fontes pontuais de calibração observadas ao longo do tempo. O conjunto de informações sobre cada fonte pode ser obtido correlacionando os parâmetros de identificação (Cross et al. 2009). As observações das estrelas de calibração são geralmente tomadas em diferentes filtros em um curto intervalo de tempo. Estes intervalos são muito menores do que o intervalo entre um conjunto de duas medidas do mesmo campo, cujos pontos são considerados praticamente como sendo obtidos de forma simultânea, sendo identificados por um parâmetro denominado SynopticSource. Diversos parâmetros são fornecidos pelo WSA para se obter a série temporal formada pelas detecções associadas a cada Source, tais como melhor abertura fotométrica, conjunto de parâmetros estatísticos, número de épocas, etc. Esta tabela é provida de uma avaliação importante sobre a probabilidade de uma fonte pontual ser uma estrela variável. Tal probabilidade é baseada na comparação com o valor de espalhamento do desvio médio quadrático de um modelo de ruído puro (Cross et al. 2009). Embora estas informações forneçam orientações úteis para os usuários, nós optamos por não utilizá-las em nosso critério de seleção, uma vez que nosso objetivo é realizar uma pesquisa profunda sobre variabilidade nesses dados. A Figura 2.6 mostra um conjunto de curvas de luz típicas com uma janela de observações variada. Além disso, a cadência das observações pode ser considerada estocástica, o que constitui um ambiente favorável para a detecção de sinais periódicos em Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 24 Figura 2.6: Curvas de luz típicas obtidas do WFCAMCAL com diferentes janelas de observações nos diferentes filtros de banda larga (Y , Z, J , H, Ks ). Capitulo 2. Projetos CoRoT e WFCAM 25 uma ampla gama de períodos. A irregularidade dos espaçamentos desfavorece o aparecimento de períodos relacionados aos gaps; no entanto, as observações nos diferentes filtros são fortemente correlacionadas, visto que são obtidas em uma janela de observação de alguns minutos. CAPITULO 3 REDUÇÃO DE DADOS Seria ideal que os dados reduzidos (obtidos pelo sistema pipeline de cada projeto) não contivessem nenhuma contaminação, entretanto isso não ocorre. Os pipelines de redução geralmente não conseguem uma única calibração que permita remover todas as contaminações para todas as fontes. Entende-se por contaminação todo tipo de sinal que não seja proveniente da estrela, os quais dificultam ou até mesmo impossibilitam a análise dos dados. Os tipos de contaminação podem depender da região do espectro onde estão sendo feitas as observações, do instrumento e de onde são coletados os dados (em solo ou no espaço). Assim, antes de fazer a análise dos dados é preciso remover as contaminações remanescentes, uma vez que, os resultados são afetados caso não tenham sido totalmente removidas. Feito isso, podemos iniciar a busca por estrelas variáveis dentro de um banco de dados, processo esse que pode ser dividido em três passos: seleção, busca de períodos e classificação. Nas subseções seguintes, descrevemos alguns dos métodos mais frequentemente utilizados nas etapas de seleção e de busca de periodicidade, além de propor duas novas famílias de índices de variabilidade. 3.1 Seleção de Dados A seleção dos dados consiste em separar variações estocásticas e não-estocásticas. A variação estocástica em uma curva de luz pode ser principalmente devido a três motivos; (i) 26 Capitulo 3. Redução de Dados 27 limite da sensibilidade do instrumento, (ii) a estrela não apresenta variabilidade apreciável na região espectral que está sendo observada, (iii) a estrela apresenta pouca atividade. A separação desses dois tipos de variações, estocásticas e não-estocásticas, é imprescindível para redução de tempo computacional, uma vez que a quantidade de fontes selecionadas será analisada em etapas posteriores que demandam um tempo computacional muito maior. Os parâmetros utilizados na separação de variações estocásticas e não-estocásticas são comumente chamados de índices de variabilidade. Nas subseções abaixo são descritos índices de variabilidade que são mais comumente utilizados na análise de bancos de dados, bem como é apresentado um conjunto de novos índices de variabilidade proposto nesta Tese. Neste capítulo, apresentamos a conceituação teórica dos índices de variabilidade, e no capítulo 4 aplicamos alguns desses índices para selecionar as fontes nos projetos CoRoT e WFCAM. 3.1.1 Índice de Variabilidade de Welch-Stetson Um dos índices mais utilizados para selecionar estrelas variáveis é o índice de variabilidade de Welch-Stetson (Welch & Stetson 1993, Stetson 1996). A principal ideia deste índice é tentar separar variações estocásticas e não-estocásticas pela medida da correlação entre pares de medidas obtidas em um curto intervalo de tempo, ou seja, se uma curva de luz apresenta uma variação não-estocástica o valor da correlação entre os pares de medidas deve sempre ser positivo e, consequentemente, sua soma sempre será incrementada. Por outro lado, se temos uma variação estocástica o valor da correlação deve ser randômico, e com isso a soma deve tender a zero. O índice de variabilidade de Welch-Stetson é definido como IW S = s n X 1 (δbi δvi ) , n(n − 1) i=1 (3.1) onde δbi e δvi são escritos como δbi = bi − b̄ , σb,i δvi = vi − v̄ . σv,i (3.2) Os parâmetros bi e vi são as magnitudes aparentes obtidas num tempo i, enquanto Capitulo 3. Redução de Dados 28 que σb,i e σv,i são os erros relativos a cada uma das medidas. Os valores do σ foi calculado de acordo com Stetson (1981). Por último, b̄ e v̄ são dados por n n X bi X 1 b̄ = / , σ2 σ2 i=1 b,i i=1 b,i n n X vi X 1 / . v̄ = σ2 σ2 i=1 v,i i=1 v,i (3.3) Na notação utilizada acima foi assumido que cada par de medida s foi obtido nas bandas fotométricas B e V . No entanto, o método funciona igualmente se as medidas forem obtidas no mesmo filtro; neste caso b̄ = v̄, com uma média tomada em 2n medidas. 3.1.2 Novos Índices de Variabilidade A definição do índice de Welch-Stetson IW S limita-se a medida de correlação entre pares de medidas (δbi × δvi ). Para os casos em que se queira obter a correlação entre observações policromáticas é preciso generalizar o índice, para permitir diversos tipos de combinações dentro de uma única expressão. Por exemplo, para observações obtidas nos filtros U BV , não é possível calcular a correlação utilizando os três filtros (U B, U V , BV ) através da a Equação 3.1. Para corrigir esta situação, introduzimos a seguinte modificação ao IW S , para quantificar as correlações de fluxo policromáticos: (2) Ipf c = s "m−1 n (n2 − 2)! X X n2 ! j=1 i=1 m X (δuij δuik ) k=j+1 !# (3.4) , onde n é o número de épocas, m é o número de filtros, uij são as medidas dos fluxos em cada filtro, δuij é definido pelas Equação 3.3 para cada par de filtros utilizados, e n2 é o número de combinações possíveis com m filtros, dado por n2 = n · m!/(2!(m − 2)!). Note (2) que, quando assumimos m = 2, temos Ipf c = IW S . Usando a Equação 3.4 é possível calcular as correlações policromáticas somente de duas em duas medidas. No entanto, podemos generalizar para o cálculo de correlações entre 3 medidas simultâneas (neste caso, m ≥ 3), reescrevendo a expressão como segue (3) Ipf c = s "m−2 n (n3 − 3)! X X n3 ! j=1 i=1 m−1 X k=j+1 m X l=k+1 (3) Λjkl |δuij δuik δuil | !!# , (3.5) Capitulo 3. Redução de Dados 29 onde n3 = n · m!/(3!(m − 3)!), e a função Λ é definida como (3) Λjkl = 1 se δuij > 0, δuik > 0, δuil > 0 ; (3.6) se δuij < 0, δuik < 0, δuil < 0 ; 1 −1 outros casos. Note que a introdução da função Λ(3) tem como objetivo fornecer o sinal correto da correlação entre o número ímpar de medidas dado na Equação 3.5, ou seja, para controlar o sinal da correlação do termo jkl para índices Ipf c para ordens maiores que 2. Por fim, para um conjunto de s medidas com m ≥ s, o índice de variabilidade, na sua forma geral, é dado por: (s) Ipf c = s n (ns − s)! X ns ! i=1 m−(s−1) X j1 =1 ··· m X js =j(s−1) +1 Λ(s) |δuij1 · · · δuijs | , (3.7) onde ns = n · m! , s!(m − s)! (3.8) (s) e a função Λjk...m é escrita como (s) Λjk...m = 1 se δuij > 0, · · · , δuim > 0 ; se δuij < 0, · · · , δuim < 0 ; 1 −1 (3.9) outros casos. É importante notar que, quanto maior a ordem do índice s, mais rigorosa será a seleção de estrelas variáveis. (s) O índice de variabilidade Ipf c se torna ligeiramente mais robusto ao ser ponderado com os erros associados a cada uma das medidas (σ); no entanto, isto pode reduzir a Capitulo 3. Redução de Dados 30 eficiência na seleção de estrelas variáveis genuínas, no caso da presença de algumas medidas fotométricas substancialmente periféricas com estimativas de erro incorretas. Por outro lado, também podem ser selecionados falsos candidatos se estes valores extremos estiverem correlacionados em duas ou mais bandas. Embora tais situações possam parecer raras, essas contaminações no infravermelho próximo podem ser bastante frequentes no caso de estrelas brilhantes. A emissão de fundo dada pela atmosfera é altamente variável no infravermelho próximo, o que pode provocar um limite de saturação altamente variável no tempo, de modo que é possível que uma grande parte do detector seja afetado e outra não, produzindo assim séries temporais de estrelas brilhantes com valores substancialmente atípicos e com estimativas de erro muito pequenas. No caso de uma amostragem correlacionada, estes valores espúrios estarão provavelmente correlacionados entre diferentes filtros. O motivo da seleção desses falsos candidatos pode ser entendido analisando a Equação 3.3. Nota-se que, quando se têm algumas medidas periféricas (pontos espúrios, por exemplo) com uma estimativa de erro pequena, isso deve produzir um valor de cor(s) relação muito elevado. Consequentemente, o valor do índice Ipf c pode ser apreciável ao ponto do objeto ser considerado como uma provável estrela variável. Para reduzir tais (s) efeitos, é proposto um novo índice de variabilidade semelhante ao Ipf c mas independente do quão a medida está distante do valor médio ou de suas barras de erros. Isto é obtido mantendo apenas a função Λ na soma da Equação 3.7, de modo que a versão do índice (2) Ipf c independente do valor da correlação é dada por: 2· (2) If l "m−1 n 1 X X −1= n2 i=1 j=1 m X k=j+1 (2) Λjk !# . (3.10) O lado direito da Equação 3.10 fornece a diferença entre o número de termos po(s) sitivos e negativos na Equação Ipf c , que pode assumir valores discretos (dependendo dos valores de n e m). Note que as correções incluídas no lado esquerdo da Equação 3.10 são para que o índice assuma valores entre 0 e 1, ou seja, como uma medida de probabilidade na qual, quanto mais próximo de 1, maior será a probabilidade de que a variação não seja estocástica. Para correlações entre mais de duas medidas (correspondente à Equação 3.10) o Capitulo 3. Redução de Dados 31 (s) índice If l é definido similarmente como : (s) 2 · If l − 1 = 1 ns n X i=1 m−(s−1) X j1 =1 ··· m X js =j(s−1)+1 (s) (3.11) Λjk...m . (s) Os índices de variabilidade If l só dependem do sinal da correlação, ou seja, se as (s) medidas i e i+1 estão acima ou abaixo da média. Consequentemente, o índice If l resumese a um problema de combinação de sinais, cuja função Λjk···m (Equação 3.9) assume os valores +1 ou −1, a depender dessa combinação. O número total de possibilidades de combinações de sinais para um conjunto de s medidas, de modo que cada grupo de sinais seja distinto entre si, é dado por As = s2 . (3.12) (2) Por exemplo, para uma combinação If l , temos as seguintes possibilidades de configurações de sinais: (++, +−, −+, −−). Segundo a teoria da probabilidade, para eventos estatisticamente independentes a probabilidade que um evento ocorra é obtida dividindo o número de eventos ”desejados” pelo número total de eventos possíveis. Para os índices (s) If l os eventos desejados serão aqueles em que todos os sinais ou são positivos ou são negativos (++, −−), de modo que, independentemente do valor de s, o número de eventos desejados é igual a 2 e o número de eventos possíveis é dado pela Equação 3.12. Então, a expressão geral que determina a probabilidade de que todos os sinais sejam negativos ou que todos os sinais sejam positivos para um evento aleatório é dada por Ps = 2 , s2 (3.13) (s) ou seja, Ps determina o centro da distribuição randômica do índice If l . Capitulo 3. Redução de Dados 32 3.1.3 Índices de Variabilidade - K Um outro critério de seleção é obtido quando dividimos o desvio padrão (σs ) das medidas pelo valor médio das barras de erro σE , isto é, KA = σs . σE (3.14) Quanto menor o valor de KA , maior será a probabilidade do sinal estar contido dentro do ruído ou de representar apenas ruído. O parâmetro KA representa uma medida da razão sinal/ruído, uma vez que σs é proporcional a amplitude e σE é proporcional ao resíduo. Neste sentido, caso à amplitude seja conhecida é possível utilizar a razão sinal/ruído como fator de seleção, isto é, S/N = A σres (3.15) onde A é a amplitude e σres é o resíduo da curva de luz. Onde, σres é o desvio padrão da curva de luz subtraida do modelo (para maiores detalhes, ver De Medeiros et al. 2013). 3.2 Cálculo do Período Uma curva de luz consiste em uma série temporal composta por uma sequência de medidas de intensidade de luz (m1 , · · · , mn ) com suas respectivas barras de erros (σ1 , · · · , σn ) em função do tempo (t1 , · · · , tn ). Estas séries podem apresentar um intervalo entre duas medidas, fixo ou variável, com lacunas entre os conjuntos de observações. O número de pontos e sua distribuição ao longo do tempo vão ter uma forte influência nos picos instrumentais e nas possíveis estrelas variáveis que podem ser identificadas. Para encontrar o período de uma série temporal é utilizada uma função que seja “sensível” a períodos ou métodos que permitam minimizar ou maximizar uma determinada quantidade quando o período verdadeiro é encontrado. Entende-se como período verdadeiro aquele que minimiza a dispersão no diagrama de fase e que caracteriza melhor a variabilidade da série temporal analisada; no entanto, a série temporal pode ser multiperiódica e, consequentemente, os múltiplos períodos caracterizam a série temporal. Então, é criado um conjunto de períodos (ou frequências) tentativa para os quais Capitulo 3. Redução de Dados 33 são calculados os valores de potência. O valor extremo (valor máximo ou valor mínimo, dependendo do método utilizado) será atingido, supostamente, quando o período tentativa estiver próximo do período verdadeiro. Entretanto, o extremo no periodograma pode ser causado por uma periodicidade genuína, mas por flutuações estatísticas do ruído, por variações sazonais (por exemplo, período de 1 dia e seus aliases), por lacunas entre conjunto de observações ou por períodos instrumentais. Para iniciar a busca por periodicidade é necessário especificar um intervalo de frequências e a resolução com a qual as frequências vão ser espaçadas, f0 , fN e ∆f , respectivamente. A frequência de Nyquist (fN ) é bem definida, para curvas de luz igualmente espaçadas, como sendo (2∆t)−1 ; no entanto, existem diversas proposições na literatura para curvas de luz irregularmente espaçadas: por exemplo Press et al. (1992); Horne & Baliunas (1986) identificam fN = (δt)−1 , onde δ é o valor médio do intervalo entre duas medidas, enquanto Scargle (1982) e Roberts et al. (1987) identificam fN = (2s)−1 , onde s é o menor intervalo entre duas observações. No entanto, Roberts et al. (1987) observaram que as frequências podem ser detectadas acima dos valores citados. Eyer & Bartholdi (1999) mostraram que a frequência de Nyquist deve ser tomada como fN = (2p)−1 , onde p é o maior divisor comum de (ti − t0 ). A frequência mais baixa é tomada como sendo f0 = (2Ttot )−1 , onde Ttot é o tamanho da janela de observação. Por fim, a resolução é tomada como R(2Ttot )−1 , onde R = [1, 2, 3, · · · ]. Quanto maior o valor de R, maior será a resolução (intervalo entre duas frequências tentativas) da busca de periodicidade e maior será a precisão do período, entretanto maior será o tempo computacional. O cálculo dos períodos característicos da variabilidade na curva de luz de uma estrela variável, juntamente com o perfil da curva de luz, permitem obter indícios dos processos físicos que ocorrem nas estrelas, daí a importância de se obter os períodos corretos. Existem diversos métodos para buscar periodicidade, baseados em decomposição de Fourier, minimização da dispersão, entre outros. Na próxima seção é descrito o conjunto de métodos que foram utilizados neste trabalho. 3.2.1 Métodos de Determinação de Periodicidade A maioria dos métodos de busca de períodos são baseados no diagrama de fase da curva de luz, o qual espera-se que seja suavizado e tenha menor dispersão quando o período correto é encontrado. A transformação da curva de luz no diagrama de fase dentro do Capitulo 3. Redução de Dados 34 intervalo entre 0 ≤ φ(i) ≤ 1 é definido como t(i) − t0 − IN T ϕ(i) = Pt t(i) − t0 Pt (3.16) , onde t é o tempo, t0 é o tempo inicial, Pt é o período tentativa, e IN T denota o valor inteiro. Neste trabalho utilizamos quatro métodos diferentes de busca de periodicidade que são descritos abaixo. • Método de Minimização do Comprimento por Stetson (SLMStet ) – O método de “minimização do comprimento” (SLM1 ) desenvolvido primeiramente por Lafler & Kinman (1965) e aperfeiçoado por Stetson (1996) consiste na minimização da soma do comprimento entre duas medidas sucessivas no diagrama de fase. Portanto, o período característico da curva de luz é aquele que minimiza a seguinte expressão: Φ= PN −1 i=1 em que wi,i+1 = 2 σi+1 wi,i+1 |mi+1 + mi | , PN −1 i=1 wi,i+1 + σi2 (3.17) 1 , ϕ2i+1 − ϕ2i + ǫ (3.18) onde ϕi , mi e σi são, respectivamente, a fase, à magnitude e o erro associado a magnitude. O parâmetro ǫ é adicionado para evitar singularidades, ou seja, nos casos em que temos duas medidas tomadas quase ao mesmo tempo. • Método de Minimização do Comprimento por Dworetsky (SLMDwr ) – É um método bastante similar ao SLMStet . Dworetsky (1983) propõe a o calculo do comprimento (SLMDwr ) pela seguinte expressão SLMDwr (Pt ) = N −1 X i=1 1 String-lenght minimization (mi+1 − mi )2 + (ϕi+1 − ϕi )2 (m1 − mn )2 + (ϕ1 − ϕn + 1)2 1/2 1/2 . + (3.19) Capitulo 3. Redução de Dados 35 A Equação 3.19 é ligeiramente diferente da Equação 3.17, cujo fator de fase (ϕi+1 −ϕi ) tem um peso diferente no cálculo do SLM . O fator SLMDwr (Pt ) é uma aplicação repetida do Teorema de Pitágoras no diagrama de fase, indicando que o período característico da curva de luz vai ser aquele que possui o menor valor da soma dos segmentos de reta. • Método de Minimização da Entropia (EM ) – Desenvolvido por Cincotta et al. (1995) utilizando as propriedades da entropia de informação, baseado na ideia de que o diagrama de fase com o período verdadeiro é mais ordenado do quando os demais períodos são usados. Para calcular o valor da entropia, o diagrama de fase é dividido em uma matriz n × m, com o número de medidas no elemento (i, j) normalizado pelo número total de medidas é denotado por ai,j . Então é calculada a entropia S como sendo S= N X m X ai,j ln(ai,j ), ∀ ai,j > 0. (3.20) i=1 j=1 Caso o período tentativa PT seja igual ao período característico da curva de luz, S deve assumir valores pequenos, uma vez que o número de elementos (i, j) diferentes de zero se reduz. No caso ideal, quando o número de células a(i, j) → ∞ ⇒ S → 0. • Minimização da Dispersão da Fase (PDM - Phase Dispersion Minimization) – Desenvolvido por Stellingwerf (1978), é baseado na ideia de que a dispersão do diagrama de fase deve ser minimizada quando o período tentativa PT for igual ao período característico da curva de luz. Para obter o período através do método P DM , o diagrama de fase é dividido em N blocos com dimensão ∆Φ. Para efeitos de notação, considere um vetor Vl,nl , onde l representa o bloco e nl o número de elementos contidos no bloco l. O desvio médio quadrático do bloco l é dado por Vl,nl nl 1 X = nl i=1 s vl,i − V̄l nl 2 , (3.21) no qual nl é o número de medidas no bloco l e Pnl vl,i /σi2 , V̄l = Pi=1 nl 2 i=1 1/σi (3.22) Capitulo 3. Redução de Dados 36 onde σi é o erro associado à medida vl,i . Por fim, é obtida a variância pela soma do desvio médio quadrático dos blocos, escrita como nl 1 X (Vl nl ) V = ntot l=1 (3.23) onde ntot é o número total de medidas e nl é o número total de blocos. O período característico da curva de luz é aquele que minimiza o valor de V , que pode ser entendido como o período que minimize a dispersão no diagrama de fase. Existe um conjunto de outros métodos de busca de períodos, baseados na análise de Fourier. Tais métodos buscam verificar a existência de componentes periódicas numa curva de luz através de combinações lineares de funções senoidais que utilizam, por sua vez, um conjunto de períodos tentativas. Um dos métodos que usa a análise de Fourier é o método de Lomb-Scargle (Lomb 1976, Scargle 1982), que propõe a análise de periodicidades em séries desigualmente espaçadas na seguinte forma: 1 P (ωj ) = 2 ) (P P 2 2 [ nl=1 xk cos (ωj (tk − τ ))] [ nl=1 xk sin (ωj (tk − τ ))] Pn , + Pn 2 2 l=1 cos (ωj (tk − τ )) l=1 sin (ωj (tk − τ )) (3.24) onde t é o tempo, x é a magnitude, ωj é a frequencia angular e τ é obtido pela equação Pn sin (ωj tk ) . tan(2ωj τ ) = Pnl=1 l=1 cos (ωj tk ) (3.25) Como podemos ver, na Equação 3.25 não estão incluídas as barras de erros no cálculo. Zechmeister & Kümlrster (2009) inclui as barras de erro no uso deste método, denominando-o de Lomb-Scargle-Generalizado (LSG) que, segundo os autores é menos susceptível a aliases. CAPITULO 4 ANÁLISE DE DADOS As características de cada um dos bancos de dados podem ser usadas para optar por um ou outro método de análise. Além disso, os tipos de contaminações podem ser diferentes e, consequentemente, os processos de redução devem ser adaptados a cada tipo de dado. Neste sentido, apresentamos nas seções abaixo a análise dos projetos (CoRoT e WFCAM) de forma separada. 4.1 CoRoT Neste trabalho foram selecionadas curvas de luz calibradas do campo exoplaneta do CoRoT que foram obtidas entre os Runs IRa01 a SRc02, com magnitudes na banda V entre 12 e 16 mag. Foram analisadas 124.471 curvas de luz CoRoT com uma janela de observação entre 20 e 157 dias, cujo resumo é apresentado na Tabela 4.1. Nos dados N 2 (para maiores detalhes, ver Seção 2.1.1) estão contidas as curvas de luz reduzidas, os quais ainda apresentam diversas contaminações, tais como descontinuidades, pontos espúrios, tendências, entre outros efeitos provocados principalmente por hot pixels e variações de temperatura dos CCDs. Não existe um método padrão para fazer uma nova pós-redução dos dados; diferentes trabalhos têm utilizado os seus próprios métodos, de acordo com seus propósitos (e.g., Renner et al. 2008; Basri et al. 2011; Affer et al. 2012). 37 Capitulo 4. Análise de Dados 38 CoRoT Run IRa01 LRa01 LRa02 LRa03 LRc01 LRc02 LRc03 LRc04 LRc05 LRc06 SRa01 SRa02 SRa03 SRc01 SRc02 NLC 9.880 11.408 11.408 5.289 11.407 11.408 5.661 5.716 5.683 5.683 8.150 10.265 4.130 6.975 11.408 Ttot 54-57 131 111-114 148 142-152 144 89 84 87 77 23 31 24 25 20 Tabela 4.1: Propriedades gerais dos dados analisados do banco de dados CoRoT, com 124.471 curvas de luz. É mostrado o número de curvas de luz e as janelas de observação para cada um dos runs analisados nesta Tese. São descritos, nas seções subsequentes, os procedimentos adotados para fazer o pós-processamento dos dados, seleção e análise. Nosso procedimento é formado por um conjunto de rotinas que foram realizadas principalmente de forma manual, devido à dificuldade de se encontrar um procedimento único para remover as contaminações em todos os casos. Em particular, uma versão simplificada automática deste procedimento foi inicialmente executada para a seleção de amostra preliminar; em seguida, a amostra selecionada foi reduzida e reanalisada manualmente. Foram consideradas as curvas de luz em unidades de fluxo normalizado (Normalized Flux), ou seja, F/F̄ , no qual definimos o nível de ruído σF de cada curva de luz como sendo o desvio padrão de medidas sucessivas, escrita como v u N u1 X t σF = (Fi − Fi−1 )2 , N i=1 (4.1) onde Fi é o valor do fluxo tomada no tempo ti e N é o número total de observações. As curvas de luz foram re-amostradas para um intervalo fixo entre duas medidas de ∼ 864s (∼ 0, 01 dias). A modificação do intervalo entre as medidas é feita para diminuir o tempo computacional da análise dos dados, uma vez que tal modificação não afeta a análise no Capitulo 4. Análise de Dados 39 intervalo de frequências considerado (Seção 4.1.3). Efeitos instrumentais foram removidos de acordo com procedimentos similares ao descrito por Degroote et al. (2009). Além disso, foram selecionadas 1.000 curvas de luz dentro dos diferentes Runs CoRoT, sem variabilidades aparente as quais denominamos de constantes. Foi realizada a busca de periodicidade utilizando o método de Lomb-Scargle para identificar possíveis assinaturas instrumentais. Tais resultados forma utilizados durante a inspeção visual para que não fosse selecionada nenhuma curva de luz com esse perfil. Tais procedimentos são descritos nas subsequentes seções. 4.1.1 Participação Brasileira no Projeto CoRoT O Comitê CoRoT-Brasil promoveu uma reunião bi-lateral técnico-científica com representantes da Agência Espacial Brasileira, CNES, MCT1 /INPE2 e da comunidade astronômica brasileira em 2001. Nessa reunião, engenheiros e cientistas franceses da equipe CoRoT apresentaram os diversos aspectos da missão enquanto os cientistas brasileiros discorreram sobre as características da Estação de Natal e suas condições para recepção dos dados do satélite e os cientistas brasileiros apresentaram programas de pesquisa utilizando observações com CoRoT. Nessa ocasião, a equipe CoRoT apresentou oficialmente uma proposta sobre a participação brasileira na missão, o qual compreende: • a utilização da Estação do INPE de Natal, que permitirá aumentar em quase 100% a capacidade de coleta de dados; • a participação de até 5 engenheiros/cientistas brasileiros na elaboração de software de calibração, correção instrumental e redução de dados; • a participação de cientistas brasileiros nos grupos de trabalho para definição, observação e análise preparatória das estrelas que serão observadas na missão. Em particular, o grupo de astronomia de Natal participou do desenvolvimento de programas para analise das curvas de luz de forma automática e manual. Durante meu primeiro ano de doutoramento eu desenvolvi softwares para análise automática de curvas de luz. Esses programas são compostos de métodos de busca de periodicidade, índices 1 2 Ministério da Ciência e Tecnologia Instituto Nacional de Pesquisa Espacial Capitulo 4. Análise de Dados 40 Figura 4.1: Interfaces gráficas dos programas utilizados para analise de series temporais. Os dois painéis superiores mostram a interface principal para analise de uma ou 5 bandas fotométricas. Os painéis inferiores mostram duas interfaces secundárias para análise wavelet e de busca de periodicidade, respectivamente. Capitulo 4. Análise de Dados 41 de variabilidade, correções de tendências, correção de descontinuidades, fits harmônicos, entre outros. Estas analises permitiram reduzir o número de fontes espúrias, no entanto, para obter uma amostra sem contaminação foi necessário fazer inspeção visual das curvas de luz. Com este intuito foram desenvolvidas interfaces gráficas de fácil interação com o usuário para permitir uma análise dinâmica de um grande volume de dados. Foi utilizado como template inicial algumas ferramentas pre-existentes desenvolvidas por Izan Leão. A Figura 4.1 mostra algumas das interfaces gráficas desenvolvidos por mim para analisar dados fotométricos. Com está ferramenta é possível realizar busca de periodicidade, correções de efeitos instrumentais, análise wavelet e obter modelos através de funções polinomiais ou harmônicas. Estes softwares foram desenvolvidas em uma plataforma multi-funcional que pode ser facilmente adaptado para análise de qualquer tipo de serie temporal. Nas seções subsequentes são descritos alguns dos métodos utilizados nesta interface. 4.1.2 Tratamento das Curvas de Luz As descontinuidades remanescentes nas curvas de luz provocam mudança súbita do valor médio numa única região ou em diversas regiões da curva de luz. O decaimento dessa variação da média pode ocorrer em horas ou dias. Tal decaimento não possui um comportamento singular. Tais problemas impossibilitam uma análise automática, uma vez que os métodos atuais de seleção e de cálculo de períodos requerem que o valor médio seja constante. Não existe um método único para corrigir essas descontinuidades; entretanto, diferentes algoritmos têm sido desenvolvidos para detectar e corrigir essas descontinuidades, mas geralmente em busca de trânsitos planetários (e.g., Mislis et al. 2012). No estudo de curvas de luz com assinaturas de modulação rotacional, essas correções podem ser mais difíceis, uma vez que temos de manter as informações de variações mais suaves e mais irregulares do que a causada por trânsito, por exemplo. Logo abaixo descrevemos resumidamente o método desenvolvido por Izan C. Leão (De Medeiros et al. 2013), para remoção automática das descontinuidades. Essencialmente, para determinar se existe uma descontinuidade entre as medidas tomadas nos tempos ti−1 e ti , são considerados blocos de duração ∆t tomados em ambos os lados do intervalo e cujos valores médios de fluxo são calculados (antes F¯A e depois F¯D ). Quando a diferença ∆F = F¯D − F¯D é maior que um determinado limite, então é Capitulo 4. Análise de Dados 42 assumido que existe uma descontinuidade de ti−1 para ti . Para estimar se a variação ∆F representa ou não uma descontinuidade, é adotada a seguinte função como limite, ∆FJ = aσ + b |δF/δt|max (ti − ti−1 ), (4.2) onde o σ é tomado como o nível de ruído, e a e b são constantes empíricas. Caso ∆F > ∆FJ então as médias (F¯A ) e (F¯D ) são ajustadas de modo a se tornarem iguais. Análises foram feitas para determinar o valor das constantes, as quais foram adotadas como ∆t = 1 dia, a ≃ 4 e b ≃ 2, e tais valores permitiram detectar e remover a maioria das descontinuidades. A Figura 4.2 mostra um exemplo de uma curva de luz na qual foram identificadas e removidas as descontinuidades de forma satisfatória. As diversas descontinuidades suprimem a real variação da curva de luz, no entanto, quando é aplicado o método de remoção de descontinuidades a assinatura da variabilidade se torna mais perceptível. Apesar do método descrito acima encontrar a maioria das descontinuidades, as correções geralmente não são triviais de modo que em diversos casos a descontinuidade não é completamente removida ou não é identificadas. Neste panorama, eu fiz a inspeção visual e o tratamento particular para cada fonte, quando necessário, por falta de uma ferramenta que funcione adequadamente para todos os casos. Após a correção das descontinuidades, foram removidas tendências de longo termo através de um ajuste polinomial de terceira ordem, usualmente utilizado na literatura (e.g. Basri et al. 2011; Affer et al. 2012). Por fim, são removidas as medidas que se distanciam mais do que ∼ 5 vezes do desvio padrão. Após este último processo, as curvas de luz são consideradas como apropriadas para análise. 4.1.3 Seleção de Fontes Com o intuito de analisar as curvas de luz e obter parâmetros que permitam descrever os diversos tipos de assinaturas, é utilizado um modelo baseado em soma de harmônicos que é similar à função utilizada no classificador descrito por Debosscher et al. (2007). Para cada curva de luz é realizada a busca de periodicidade pelo método de Lomb-Scargle, admitindo somente períodos com um FAP < 0.01 (nível de significância > 99%). O pico mais elevado, denominado f1 , foi ajustado tomando um conjunto de frequências muito próximas a f1 e calculando as potências dadas pela Equação 3.19; tal função refere-se Capitulo 4. Análise de Dados 43 ao método de SLMDwr , discutido na Seção 3.2.1. O ajuste é feito para reduzir efeitos numéricos relacionados com a resolução e o tamanho da janela de observação. Figura 4.2: Exemplo de uma curva de luz com diversas descontinuidades. O painel superior é mostrada a curva de luz bruta. No painel inferior temos a curva de luz depois da correção das descontinuidades, com as linhas verticais indicando onde foram feitas as correções. Subsequentemente é utilizado o ajuste harmônico com quatro harmônicos, dado por y(t) = 4 X j=1 [aj sin (2πf1 jt) + bj cos (2πf1 jt)] + b0 , (4.3) Capitulo 4. Análise de Dados 44 onde aij e bij são coeficientes de Fourier, t é o tempo e b0 é uma constante. É utilizado o método de mínimos quadrados não linear descrito por Levenberg-Marquardt (Levenberg 1944 e Marquardt 1963) para obter os valores das constantes do modelo. Também é utilizado o ajuste para estimar o erro na frequência f1 , assim como os erros da amplitude média (referente a f1 ). Então, é calculada a amplitude característica da variabilidade como sendo o valor máximo de y(t) subtraído do valor minimo de y(t), o qual foi denominado de A(mag). Nós utilizamos o valor de A e o valor de σF para determinar o valor da razão sinal ruído da curva de luz, dado pela Equação 3.15. Depois disso é subtraído o ajuste (y(t)) da curva de luz (prewhitening) e um nova busca de periodicidade é feita com o método de Lomb-Scargle na curva prewhitening. Uma nova frequência é obtida (f2 ) e um novo ajuste é obtido. O mesmo procedimento foi repetido por 10 vezes, cujo resultado é um conjunto de 10 frequências independentes. Finalmente, são utilizadas essas 10 frequências independentes para obter o modelo que melhor descreve a curva de luz, ou seja, y(t) = 10 X 4 X [aij sin (2πfi jt) + bij cos (2πfi jt)] + b0 . (4.4) i=1 j=1 Para determinar os valores de corte, foram feitas simulações dentro de um conjunto de curvas pré-selecionadas. Esta amostra utilizada na simulação possui um SN R > 5 e um número de ciclos3 maior que 5. Para obter uma amostra com diferentes valores de S/N dentro de diferentes números de ciclos, foram feitas 200.000 simulações cujo intervalo de tempo era randomicamente determinada, e também o ruído era amplificado ou reduzido adicionando um fator randômico. Para cada curva de luz era aplicado o método de busca de período Lomb-Scargle, e finalmente calculada a taxa de acertos. Na prática, a Figura 4.3 indica qual é a probabilidade de se determinar o período correto como função do S/N . Como esperado, existe um aumento da taxa de acerto com o aumento do valor do S/N . 4.1.4 Calculando os Períodos Um importante problema na determinação do período de variabilidade é o fato de que os períodos observados podem ser um alias ou harmônico do período principal (e.g., Baluev 3 Número de ciclos é determinado pela divisão da janela total de observação pelo período. Capitulo 4. Análise de Dados 45 Figura 4.3: Taxa de acertos (recovery fraction) da determinação do período em função do S/N . A linha pontilhada vertical indica o valor de S/N ∼ 1, 0 para o qual temos uma taxa de acerto de ∼ 80%. 2012, Hartman et al. 2010). Aliases aparecem como um conjunto discreto de picos no periodograma e em alguns casos a seleção do período correto entre os aliases pode ser uma tarefa difícil. Os aliases podem ser evitados quando a janela de observação das curvas de luz é longa o suficiente para apresentar vários ciclos do período real da variabilidade, aliado a um conjunto expressivo de medidas. Para avaliar a influência do número de ciclos na determinação dos períodos foi feita uma simulação similar à realizada para determinar o corte no S/N (Seção 4.1.3). Foram realizadas 100.000 simulações com partes randômicas da curva de luz variando entre f1 e o intervalo total da janela, ou seja, entre um ciclo e o número total de ciclos da curva de luz. Neste caso, foi considerada uma amostra com curvas de luz que apresentam mais de 10 ciclos em relação ao período característico da curva de luz com S/N > 1, 0. A Figura 4.4 mostra a taxa de acertos em função do número de ciclos, no qual a taxa de acerto aumenta com o número de ciclos. Baseado neste resultado, nós dividimos os períodos em dois grupos: períodos de baixa confiabilidade (lower confidence) e de alta Capitulo 4. Análise de Dados 46 confiabilidade (higher confidence), com menos de 3 ciclos e mais de 3 ciclos, respectivamente. Figura 4.4: Taxa de acerto da determinação do período em função do número de ciclos. A linha pontilhada vertical indica o valor do número de ciclos c/n ∼ 3 para o qual temos uma taxa de acerto de ∼ 80%. Sugerimos que o fato de que a taxa de acerto como obtido acima não alcance os 100% porque cerca de ∼ 5% dos períodos encontrados não estão relacionados ao período característico da curva de luz. Isto pode ocorrer, por exemplo, quando a variabilidade fotométrica semi-sinusoidal for composta por duas senoides por ciclo, o que ocorre com bastante frequência para variáveis rotacionais com duas regiões ativas em faces opostas produzindo duas depressões em um único ciclo. De modo que, o período relacionado ao pico mais proeminente não represente o período característico da rotação. De acordo com esses resultados, é proposta uma forma simples de miniminizar este problema. A Figura 4.5 mostra uma curva de luz CoRoT que possui uma assinatura típica de variável rotacional. O pico principal que aparece no periodograma (P1 ) corresponde à primeira depressão que pode estar relacionada ao efeito ilustrado acima. Quando este fato era encontrado, foi adotado como período característico ∼ 2P1 ; após isto, foi realizado o ajuste do período que minimizasse o diagrama de fase, da mesma forma que foi Capitulo 4. Análise de Dados 47 discutida na Seção 4.1.3. Este método não representa a solução final para este problema, principalmente porque constitui um processo manual; no entanto, deve ajudar a reduzir o número de aliases. Figura 4.5: Exemplo de uma curva de luz em que o período relacionado à maior potência do periodograma representa um subciclo do período principal. O painel do meio mostra o periodograma para o método Lomb-Scargle, cujo pico (A) representa um período de 6, 75 dias, e o pico (B) é o período de 13, 4 dias. O painel inferior mostra o diagrama de fase para o período de 13, 453 dias, composto de dois subciclos e cujo ajuste harmônico é mostrado com uma linha em vermelho. Baseado no conhecimento prévio sobre modulação rotacional obtido com as curvas de luz do CoRoT (e.g., Silva-Valio & Lanza 2011, Lanza et al. 2009,2010,2011), nós definimos o comportamento de uma assinatura de modulação rotacional, denominada de variação semi-sinusoidal, baseados em seis critérios, a saber: Capitulo 4. Análise de Dados 48 • (i) O período de variabilidade deve ser maior que ∼ 0, 3 dias. • (ii) O valor médio da amplitude é tipicamente menor que ∼ 0, 5mag. • (iii) O periodograma mostra um relativo espalhamento em torno do pico da variabilidade (que eventualmente pode ser considerado como uma possível rotação diferencial). • (iv) As amplitudes em cada ciclo são geralmente assimétricas com respeito ao valor médio. • (v) A amplitude varia de forma aleatória, sendo essa variação geralmente ∼ 10 a 30× a amplitude referente ao período da rotação. • (vi) A curva de luz, dentro de cada ciclo, podem apresentar variabilidade devido a duas senoides superpostas4 variando independentemente, cuja amplitude é suavizada no diagrama de fase. Os critérios (i) e (ii) são esperados para a maioria das estrelas com modulação rotacional (e.g. Eker et al. 2008; Hartman et al. 2010). Para aplicar os critérios (i) e (ii), é aplicado o método de busca de periodicidade de Lomb-Scargle, cujos períodos maiores do que 0, 3c/d (ciclos por dia) são considerados como sendo de baixa confiabilidade. Além disso, não são consideradas as curvas de luz com amplitude média superior a 0, 5mag. Os critérios (iii) até (vi) foram aplicados através de inspeção visual. Baseado no critério (iii), as curvas de luz que mostrassem um grande espalhamento dentro do periodograma (característico de variáveis irregulares) eram descartadas. Concernente ao critério (iv), foram desconsideradas diversas fontes que mostraram uma simetria na amplitude ao longo de vários ciclos (comum às estrelas variáveis pulsantes). Baseado no critério (v) foram removidas estrelas com características típicas de variáveis RR Lyrae (e estrelas variáveis com características similares), além de binárias eclipsantes que mostram uma amplitude fixa. A Figura 4.6 mostra um exemplo de uma curva de luz com sua respectiva variação de amplitude5 e uma outra curva de luz que não foi incluída em nossa seleção (painel direito). As figuras do painel direito representam um dos tipos de assinatura que não foram 4 Em alguns casos, pode aparecer a contribuição de mais de duas senoides, as quais podem ser provocadas devido a mais de duas manchas, mas também por pulsação. 5 Para obter o gráfico da variação da amplitude foram calculadas com caixas de igual duração do período de variabilidade. Capitulo 4. Análise de Dados 49 incluídos em nossa seleção, uma vez que correspondem à uma variação de amplitude bastante regular. Finalmente, o critério (vi) é utilizado para analisar estrelas que apresentem um comportamento semi-sinusoidal de curto período. Note que as janelas de observação do CoRoT e os baixos valores da razão sinal ruído dificultam uma análise mais clara dos critérios (iii) até (vi). Em particular, as variáveis de longo período estão mais sujeitas a uma análise cujo comportamento não é bem definido pelos nossos critérios devido ao pequeno número de ciclos (estes casos foram geralmente classificados com uma baixa confiança dos períodos selecionados, os quais são definidos na Seção 4.1.4; entretanto, estas estrelas foram selecionadas devido a sua importância para o estudo da evolução estelar). Apesar de todas as restrições propostas para selecionar um conjunto de estrelas com assinaturas de modulação rotacional, é possível que existam curvas de luz, na amostra resultante, que apresentem variações devido a outros fenômenos. Figura 4.6: Exemplo de uma curva de luz selecionada (painel superior do lado esquerdo) e outra descartada (painel superior do lado direito), com as suas respectivas variações de amplitude. A linha sólida em vermelho representa o ajuste harmônico dado pela expressão 4.4. A estrela identificada pelo CoRoT ID 105288363 é uma estrela RR Lyrae com efeito Blazhko (Guggenberger et al. 2011). Capitulo 4. Análise de Dados 50 Tabela 4.2: Resumo das características da amostra analisada coletada no banco de dados do WFCAMCAL. São mostrados o número de curvas de luz, o valor médio da janela de observação e o número médio de medidas por filtro do WFCAMCAL das fontes selecionadas. Filtros Z Y J H Ks h2 br nbj 4.2 NLC 204.245 212.334 212.717 212.169 201.645 110.587 130.307 68.048 < Ttot. > 1.033 1.061 1.058 1.074 1.065 429 258 120 < Nep. > 51 56 58 61 60 4 2 3 WFCAM Neste trabalho são analisados os dados da última liberação dos dados de calibração realizada em 3 de setembro de 2010 (WFCAMCAL08B). Os dados foram coletados utilizando a consulta SQL em sua forma livre6 do WSA7 . Foram selecionadas todas as fontes do WFCAMCAL08B classificadas como estrelas ou prováveis estrelas pelo WSA que continham mais de 10 medidas em pelo menos um filtro, dentre os cinco filtros de banda larga que são utilizados pelo WFCAM. Esta seleção resultou num conjunto de 216.722 fontes. A Figura 4.7 mostra a distribuição das fontes, em termos de valores médios, com respeito ao número de medidas e da janela de observação, cujos valores são sumarizados na Tabela 4.2. Existe uma grande quantidade de dados com mais de 50 medidas com fotometria em 3 ou mais filtros de banda larga, no entanto existe um pequeno número de fontes com mais de 10 medidas nos filtros de banda estreita. Por causa disso, os dados dos filtros de banda estreita não foram utilizados, uma vez que apresentam um número médio de medidas muito pequeno. Apesar das medidas fotométricas das bandas estreitas não terem sido utilizadas em nossa análise, os dados estão disponíveis em nosso catálogo (se existirem) para as fontes que foram detectadas como estrelas variáveis. A distribuição das fontes no domínio do tempo é bastante heterogênea; nesse sentido, é interessante ressaltar que o WFCAMCAL não deve ser considerado como uma campanha fotométrica de levantamento de dados e, deste modo, deve-se ter cuidado na interpretação estatística. 6 A forma livre se refere a liberdade de construção de um código SQL para fazer a busca da forma desejada, no entanto com suas restrições. 7 http://surveys.roe.ac.uk:8080/wsa/SQL_form.jsp Capitulo 4. Análise de Dados 51 De posse dos identificadores Source de nossa primeira seleção, foram coletadas todas as medidas tomadas para cada fonte que são vinculadas pelos identificadores. Este procedimento requer a utilização de uma tabela composta com todos os identificadores requeridos. Foram utilizadas somente as medidas que não continham erros fotométricos, ou seja, foram rejeitadas as medições com erros relacionados a píxels ruins, medidas localizadas nas extremidades dos CCDs, entre outras. Por último, é feita a seleção das fontes que apresentam características de variabilidade determinística utilizando os índices de variabilidade discutidos na Capítulo 3. 150 Z 100 50 0 150 Y 100 50 0 150 Nep. J 100 50 0 150 H 100 50 0 150 K 100 50 0 0 200 400 600 800 1000 1200 Ttot. Figura 4.7: Distribuição do número de medidas (Nep ) em função da janela de observação (Ttot ) para os filtros Y , Z, J, H e Ks . Capitulo 4. Análise de Dados 52 4.2.1 Seleção de Fontes As medidas do WFCAMCALIB são tomadas em sua grande maioria em um conjunto de filtros dentro de curtos intervalos de tempo, com uma certa regularidade, o que contribuiu para que fossem utilizados os índices de variabilidade Ipf c e If l (veja a seção 3.1 para maiores detalhes) para fazer esta seleção. Para determinar os valores de corte, foi feita um conjunto de simulações; no entanto, tais simulações não foram realizadas através de superposição de funções senoidais com ruído gaussiano, uma vez que os dados reais contêm amplitude variável, ruído de diversas ordens (branco, vermelho, ruído correlacionado, entre outros), fontes saturadas, pontos espúrios, entre outros efeitos. Com o compromisso de obter uma simulação que represente bem os nossos dados, foram utilizadas as informações do próprio banco de dados para determinar amplitudes, intervalo de tempo, barras de erro e número de medidas para obter os dados simulados. Neste ponto de vista, são simuladas séries randômicas utilizando a técnica de bootstrap (Efron 1993). Utilizando essa técnica do bootstrap, são preservadas todas as características do banco de dados, de modo que os valores simulados devem descrever melhor os dados reais. As curvas de luz simuladas são obtidas randomizando o fluxo e mantendo todas as outras propriedades das curvas de luz; neste sentido, as curvas de luz simuladas e os dados reais apresentam as mesmas propriedades. São calculados os valores dos índices de variabilidade para as 216.722 curvas de luz para os dados reais e para as simulações. A Figura 4.8 mostra os histogramas do número de termos utilizados no somatório (ns ) da Equação 3.7, com o mesmo número sendo utilizado para calcular os índices para os dados reais e para as simulações. Os índices Ipf c e If l possuem o mesmo número de termos em seus cálculos, devido à similaridade entre os índices. As distribuições do número de termos utilizados para os índices de ordem 2 e 3 (n2 e n3 ) são muito semelhantes. Isto ocorre porque há um grande número de fontes com as medidas dos cinco filtros, e como pode-se verificar pela Equação 3.8 para m = 5, o número de combinações de n2 é igual a n3 , ou seja, para m = 5 =⇒ n2 = n3 . Isso nos permite fazer uma comparação mais precisa entre o índice de variabilidade de segunda e terceira ordem. Os painéis inferiores da Figura 4.9 mostram os resultados das simulações para os índices de variabilidade Ipf c e If l de ordem 2, 3 e 4. Através dos diagramas para os índices If l é possível observar que nossas simulações apresentam uma característica bem peculiar de uma simulação randômica, uma vez que as distribuições estão centradas em torno do valor esperado para esse tipo de distribuição (veja a seção 3.1.2) dado pela Equação 3.13, Capitulo 4. Análise de Dados 53 Figura 4.8: Histograma normalizado de ns , para s igual a 2, 3 e 4, juntamente com o histograma do número de épocas (n). ns é o número de correlações utilizadas para o s cálculo dos índices de variabilidade Ifsl e Ipf c. ou seja, de 0.5 para If2l , 0, 25 para If3l e 0, 125 para If4l . Existe um espalhamento para os diagramas If l para regiões com magnitudes mais altas que é devido ao poucos número de medidas para estrelas com tais magnitudes, além de apresentar medidas com uma maior incerteza (fontes mais fracas). As estrias que aparecem no gráfico são causadas por estrelas com valores de ns menores que 20; isso ocorre porque os índices If l assumem valores discretos, ao contrario dos índices Ipf c que assumem valores contínuos. (s) Além disso, os resultados da simulação para os índices Ipf c mostram que quanto (s) maior a ordem do índice (s), menor é a dispersão em torno de Ipf c = 0. No entanto, existe um espalhamento pronunciado nas extremidades do diagrama, ou seja, regiões de magnitudes menores que 10 mag ou maiores que 17 mag. Além disso, existe uma simetria (2) entre os espalhamentos para o índice Ipf c e um espalhamento antissimétrico para regiões (3) (4) de valores negativos de Ipf c e Ipf c . Isso ocorre porque o número de configurações possíveis de sinais que levam a função Λ ao valor 1 é sempre igual a 2, e o número de configurações Capitulo 4. Análise de Dados 54 Figura 4.9: Índices de variabilidade versus magnitude para os dados simulados (paineis inferiores) e para os dados reais (painéis superiores) em termos de densidade. O número máximo de fontes por pixel é mostrado no canto superior/inferior esquerdo de cada painel. Existem algumas fontes fora do limite plotado (∼ 1% dos dados) nos gráficos. Capitulo 4. Análise de Dados 55 possíveis de sinais que levam a função Λ ao valor −1 e dado por s2 − 2. Para s = 2, temos uma distribuição simétrica de configurações de sinais, enquanto que para s > 2, essa assimetria em relação a valores negativos cresce com s2 − 2. Os painéis superiores da Figura 4.9 mostram os resultados dos dados reais para os índices de variabilidade Ipf c e If l de ordem 2, 3 e 4, onde é possível notar que diversas características das simulações ainda persistem; no entanto, aparece uma dependência dos valores de If l com a magnitude que não foi encontrada nas simulações. Tal variação deve estar relacionada com a correlação entre as medidas, uma vez que são tomadas em curtos (s) intervalos de tempo. Um outro aspecto importante, é que a dispersão em torno de Ipf c = 0 para os dados reais é bastante pronunciada, o que torna a seleção de alvos mais complexa. Como discutido anteriormente, existe uma dependência dos índices utilizados com o número de pontos e com a magnitude. Nesse sentido, para determinar os valores dos cortes dependentes da magnitude e do número de medidas foram utilizados os resultados das simulações, tal como mostrados nos painéis do lado esquerdo da Figura 4.9. No entanto, os valores para cada índice foram tomados com um número variável de ns para todo o intervalo de magnitudes cujos valores de corte são tomados admitindo uma significância de 0, 01, ou seja, valores nos quais somente são selecionadas 1% das simulações. Logo após, é feita uma interpolação bilinear para determinar os valores limites para todo o intervalo de magnitudes e de ns . Como resultado é obtida uma superfície de valores de corte, mostrada na Figura 4.10. (s) O comportamento das superfícies de corte em forma de U para os índices Ipf c são convenientes, uma vez que para valores de magnitudes elevados, temos fontes com medidas com incertezas maiores, enquanto que para magnitudes no extremo inferior, as fontes apresentam saturação. Os valores dos índices If l apresentam uma forte dependência com ns , o que é conveniente segundo nossas simulações. O número de termos utilizados para o cálculo dos índices Ipf c e If l de ordem igual a 2 e 3 é bastante superior aos valores para os índices de ordem 4, como é mostrado na Figura 4.8. Nesse sentido, somente são utilizados como parâmetros de seleção os valores dos índices de variabilidade de ordens 2 e (s) (s) 3. Foram utilizados as superfícies de corte dos índices Ipf c e If l de ordem 2 e 3 nos filtros Y e Ks como o primeiro corte nos dados; utilizando-se desses valores, foram selecionadas 6.170 fontes para análises posteriores. Capitulo 4. Análise de Dados 56 1.0 1.0 s=2 1.0 0.8 0.9 Ifi Ifi 0.9 0.8 0.5 0.7 0.4 10 0 11 10 12 13 20 14 15 K 16 17 18 19 log Ipfc log Ipfc 1.0 0.5 0.0 -0.5 -1.0 0 10 13 20 14 K 15 30 16 17 40 18 19 50 12 13 n2 20 14 15 K s=2 12 10 n2 50 1.5 11 0 11 30 40 2.0 -1.5 10 0.7 0.6 0.8 0.7 10 s=3 0.9 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 -2.0 -2.5 -3.0 10 30 16 17 40 18 19 n3 50 s=3 0 11 10 12 13 20 14 K 15 30 16 17 40 18 19 50 n3 (s) (s) Figura 4.10: Superfícies de corte utilizadas na seleção dos alvos para os índices Ipf c e If l . Os valores de corte (eixo z) são plotados em função de ns e da magnitude para o filtro Ks . Os demais filtros mostram similares superfícies. Capitulo 4. Análise de Dados 57 4.2.2 Cálculo dos Períodos Para determinar os períodos das 6.170 fontes selecionadas foi estabelecida uma frequência mínima f0 = (2Ttot )−1 , onde Ttot é o tamanho da janela total de observação, com uma resolução de ∆f = (10Ttot )−1 e uma frequência máxima determinada pelo método descrito em Eyer & Bartholdi (1999). Na seção 3.2.1 foram discutidos diversos métodos de cálculo de períodos de séries temporais desigualmente espaçados, neste trabalho forma utilizados 4 métodos para fazer a busca de periodicidade em nossos dados. Abaixo é mostrado o conjunto de passos que foram tomados para obter o período característico de cada curva de luz. • Selecionando os Melhores Períodos – primeiramente são calculados os períodos pelo método de SLMStet para cada um dos filtros (Z, Y, J, H, Ks ) separadamente, logo após são selecionados todos os períodos com potências superiores a 3 σ. Também é calculado o periodograma para a curva de luz cromática (composta de todos os filtros) e selecionados os períodos com potências acima de 3 σ. Todos os períodos selecionados são reunidos em um vetor Pper = [p1 , p2 , · · · , pn ], que contém os períodos relacionados aos picos mais proeminentes do periodograma em cada um dos filtros. Este passo é essencial para que possamos incluir dentre os períodos mais prováveis (Pper ), o período característico da variabilidade, uma vez que a fotometria dentro de algum filtro pode estar contaminada por algum tipo de artefato. A Figura 4.11 mostra uma curva de luz de um sistema binário em seus diferentes filtros, cuja fotometria está contaminada nos filtros H e Z. Caso a busca de períodos fosse somente realizada nesses dois filtros, o período correto certamente não teria sido encontrado. • Selecionando os 10 Melhores Períodos – para selecionar os 10 melhores períodos é utilizado o critério dos 4 métodos, que consiste em calcular os períodos por 4 métodos distintos e eleger o período cuja potência seja mais proeminente em todos os métodos. Nós utilizamos os métodos SLMStet , SLMDwr , PDM e Lomb-Scargle generalizado (descritos na Seção 3.2.1). Primeiro são calculadas as potências para os 4 métodos para todos os períodos contidos no vetor Pper , então os melhores períodos são aqueles que possuem a maior potência em todos os métodos. É construída uma classificação dos períodos de acordo com a soma das potências normalizadas obtidas em todos os métodos e, finalmente, os 10 melhores períodos são classificados. 8 General Catalogue of Variable Stars - www.sai.msu.su/gcvs/gcvs/ Capitulo 4. Análise de Dados 58 Figura 4.11: Curva de luz de um sistema binário, classificada como sendo do tipo Am Tau (Samus 2010 - GCVS8 ). Do lado esquerdo são mostradas as curvas de luz e ao lado direito os seus respectivos diagramas de fase para o período de ∼ 2, 04 dias. • Período de Variabilidade – para selecionar o melhor período entre os 10 melhores períodos é utilizado o teste do χ2 . Para isso, nos primeiramente obtemos o ajuste pela soma de harmônicos, dado pela seguinte equação, f (i) = a0 + n X [ai sin (2kπφ(i)) + bi cos (2kπφ(i))] (4.5) i=1 onde a0 , ai , bi são coeficientes de fourier, k é um número inteiro e φ(i) é a fase. É utilizado o método de solução de Levemberg-Maquardt (Levenberg 1944 e Marquardt 1963) para obter os parâmetros do ajuste. O número de harmônicos para o ajuste é Capitulo 4. Análise de Dados 59 determinadas pelo teste estatístico F e pela restrição de que os valores da Equação 4.5 não ultrapassem os limites de magnitude da fonte. Por último, é calculado o χ2 para cada filtro utilizando os modelos obtidos. O período cuja soma dos χ2 apresenta menor valor é selecionado como período de variabilidade. CAPITULO 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Como resultado da análise de um grande conjunto de dados, primeiramente é obtido um catálogo, com todas as estrelas variáveis e, posteriormente são selecionados os diversos casos científicos para uma análise mais profunda. São diversos os casos científicos que podem ser extraídos de nossos catálogos. Abaixo são apresentados alguns dos resultados que já foram publicados, submetidos à publicação e outros estudos que estão em fase de análise. 5.1 Estrelas Variáveis no Banco de Dados do Projeto CoRoT Foram analisadas todas as curvas de luz do CoRoT N2 do campo exoplaneta obtidas até o Run SRc02. Numa análise automática dos dados foram selecionadas todas as fontes com S/N > 1, e de acordo um conjunto de critérios (i) e (ii), descritos na Seção 4.1.4, foram selecionadas ∼ 90.000 curvas de luz. A partir daí, foi feito um cruzamento de dados com o banco do 2MASS1 , a partir de onde foi obtida a fotometria infravermelha para estas fontes. Baseado nas informações do 2MASS, foram excluídas todas as fontes com algum tipo de contaminação fotométrica. Também foram excluída todas as fontes que não tinham classe de luminosidade ou tipo espectral aferidas no banco de dados do CoRoT. Foi feita a inspeção visual das curvas de luz das 90.000 estrelas, e utilizando os critérios de seleção (i) até (vi) (seção 4.1.4), foram selecionadas 4.206 estrelas que exibiam 1 Two Micron All Sky Survey - http://irsa.ipac.caltech.edu/Missions/2mass.html 60 Capitulo 5. Resultados e Discussões 61 Figura 5.1: Conjunto de curvas de luz com assinaturas típicas da nossa lista de alvos CoRoT, com assinatura semi-sinusoidal. Os quatro primeiros painéis mostram curvas de luz de estrelas de tipo espectral FGK. Os quatro painéis posteriores temos curvas de luz de tipo espectral M, e nos últimos quatro painéis são curvas de luz com características similares ao Sol (descritas na Seção 5.1.5). Capitulo 5. Resultados e Discussões 62 um comportamento de variabilidade semi-sinusoidal com tipo espectral FGKM e classes de luminosidade III, IV e V . A Figura 5.1 mostra um conjunto de curvas de luz que representam assinaturas típicas da nossa seleção, as quais foram consideradas como assinaturas com comportamento semi-sinusoidal, possivelmente associado a rotação. Figura 5.2: Histograma dos tipos espectrais e classe de luminosidade das estrelas do nosso catálogo CoRoT, com 4.206 fontes. Em cinza está representado o número de estrelas que não possui tipo espectral ou classe de luminosidade CoRoT. O método de seleção que foi adotado neste trabalho pode conter algum viés, como por exemplo a exclusão de fontes com comportamento senoidal regular. Por outro lado, dentre as fontes selecionadas pode haver um conjunto de estrelas cuja variabilidade não seja devida a modulação rotacional, tal como es2007trelas pulsantes semi-regulares, que no entanto mostram assinaturas similares a modulação rotacional. Os critérios de seleção foram construídos no intuito de minimizar essa contaminação; no entanto, devido á limitação das informações utilizadas, algum viés pode estar presente. Uma seleção mais criteriosa somente pode ser feita com o auxílio de informações espectroscópicas. A Figura 5.2 mostra as distribuições de tipo espectral e classe de luminosidade para as 4.206 estrelas do nosso catálogo. Também é mostrada na Figura 5.3 a distribuição das amplitudes encontradas das correspondentes curvas de luz, onde se observa que a maioria das fontes mostram amplitudes menores que 0, 05mag, que são compatíveis com as amplitudes típicas de variáveis rotacionais. Contudo, outros tipos de estrelas variáveis podem ser encontrados nesse intervalo de amplitudes (para maiores detalhes, veja Seção 5.1.4). A Figura 5.4 mostra o diagrama cor-magnitude de todas as fontes analisadas, no Capitulo 5. Resultados e Discussões 63 Figura 5.3: Histograma do logaritmo da amplitude de variabilidade para as estrelas do nosso catálogo CoRoT, com 4.206 estrelas. qual são sinalizadas em vermelho as fontes do nosso catálogo. Tal gráfico indica a presença de viés relacionados às estrelas mais brilhantes e, consequentemente, com uma amplitude mais apreciável. Isto deve-se ao processo manual de seleção, uma vez que é mais fácil de detectar por inspeção visual estrelas com amplitudes mais pronunciadas. Isto indica que nossa seleção contém essencialmente estrelas relativamente brilhantes observadas nos campos CoRoT. 5.1.1 Nossa Seleção versus a Classificação Automática Debosscher et al. (2007,2009) fez uma classificação automática dos dado CoRoT. No entanto, a classificação dada por um procedimento automático requer que a amostra utilizada para criar o classificador possua a mesma quantidade de detalhe e contaminações contidas no banco de dados a ser analisado; caso contrário, uma checagem dessa classificação se faz necessária, principalmente quando as contaminações são pronunciadas. Nossa classificação foi obtido utilizando vários critérios de seleção mas também foi realizada uma cuidados inspeção visual em cada uma das curvas de luz. Neste sentido, nossos resultados servem como um template para testar classificadores automáticos para detecção de curvas de luz com assinatura de modulação rotacional. Como mencionado na introdução, os classificadores automáticos são sujeitos a erros de classificação devido a artefatos e contaminações. As descontinuidades encontradas nas curvas de luz do CoRoT podem produzir períodos incorretos e consequentemente pa- Capitulo 5. Resultados e Discussões 64 Figura 5.4: Histograma cor-magnitude (J −H)×H para todas as estrelas CoRoT analisadas (124.471, em preto) conjuntamente com as estrelas do nosso catálogo (4.206, em vermelho). râmetros que levam a classificações incorretas. Por exemplo, o painel inferior da Figura 5.5 mostra uma curva de luz classificada por Debosscher et al. (2007,2009) e Sarro et al. (2009) como sendo uma variável rotacional com período de 6, 15 dias, com uma distância de Mahalanobis de 1, 36 e uma confiabilidade da classificação de 98, 8%. Esses são valores típicos de uma classificação com uma razoável confiabilidade, segundo Debosscher et al. (2007,2009). Contudo, isso claramente não é confirmado pela inspeção visual, em que o período é causado por profundas e múltiplas descontinuidades. Classificações incorretas podem contaminar a amostra de tal modo que qualquer análise a partir desses resultados se torna imprecisa e muitas vezes impossível de ser analisado. Por exemplo, considere todas as estrelas de tipo espectral FGKM classificadas por Debosscher et al. (2007,2009) e Sarro et al. (2009) como sendo variáveis rotacionais. Agora, considere somente as fontes que tenham uma boa confiabilidade segundo os critérios estatísticos de Debosscher et al. (2007), ou seja, uma distância de Mahalanobis menor que 1, 5 e com uma confiabilidade de 90% ou superior. Por fim, plotamos o diagrama período- Capitulo 5. Resultados e Discussões 65 Figura 5.5: Curva de luz classificada por Debosscher et al. (2007,2009) como exibindo modulação rotacional com um período de 6, 15 dias. cor, mostrado no painel superior da Figura 5.6, do qual, como podemos notar, é impossível retirar informações relevantes. A presença de estrias denota um conjunto de contaminações que podem estar presentes neste gráfico, como, por exemplo, períodos incorretos. A seleção das estrelas do nosso catálogo é confirmada por inspeção visual; além disso, são removidas as contaminações para cada curva de luz, antes de calcular os períodos e as amplitudes. Nós acreditamos que a inspeção visual foi crucial na minimização de erros de classificação e no cálculo de parâmetros corretos. Além disso, foi realizada a inspeção visual de todas as curvas classificadas por Debosscher et al. (2007,2009) como possíveis variáveis rotacionais independentemente da distância Mahalanobis ou probabilidade, resultando que somente ∼ 4% destas foram selecionadas com tendo assinaturas semi-sinusoidal. Esta fração corresponde a ∼ 60% do nosso catálogo. Capitulo 5. Resultados e Discussões 66 Figura 5.6: Diagrama período-cor para as estrelas classificadas como sendo possíveis variáveis rotacionais, cujos dados (período e classificação) foram obtidos de uma forma automatizada pelo classificador de Debosscher et al. (2007,2009) e Sarro et al. (2009). 5.1.2 Avermelhamento Para fazer nossas análises é utilizado o índice de cor (J − H) obtidos da fotometria do 2MASS, o qual sofre menos o efeito do avermelhamento do que as cores no visível. Para avaliar o efeito do avermelhamento dentro de nossos resultados, são calculados as pseudocores definidas por Catelan et al. (2011), que segundo os autores são livres de avermelhamento. Para obter os índices livres de avermelhamento, os autores utilizam os dados em 5 diferentes filtros do projeto Vista Variables in the Vía Láctea (VVV - ESO Public Survey - Miniti et al. 2010) para obter as constantes que permitam fazer essa transformação. Então são utilizadas as magnitudes obtidas no 2MASS e aplicadas na Equação (7) (c3 = (J − H) − 1, 47(H − KS )) do trabalho de Catelan et al. (2011) para determinar os valores das pseudo-cor. Como será mostrado posteriormente, a correção pelo avermelhamento afeta fortemente o comportamento do diagrama período-magnitude para nossas fontes. Capitulo 5. Resultados e Discussões 67 Figura 5.7: Logaritmo da amplitude (em mmag) em função do período. Painel superior: todas as estrelas do nosso catálogo. Painel inferior: somente estrelas de classe de luminosidade V . O gradiente de cores representa a densidade de fontes, em que o vermelho representa o maior número de fontes, que decresce para o azul até a cor preta onde não há fontes. Os histogramas das amplitudes são mostrados ao lado direito, e os histogramas dos períodos na parte superior das figuras. 5.1.3 Descrição do Comportamento Global da Variabilidade Semi-Sinusoidal O painel superior da Figura 5.7 mostra a variação da amplitude em função do período de variabilidade para as estrelas de nosso catálogo, que é descrito na Seção 4.1.4. Pelos histogramas mostrados na região periférica dos gráficos é possível ver que as estrelas possuem períodos variando entre ∼ 0, 33 até ∼ 92 dias e apresentam o centro da distribuição em torno de períodos ∼ 10 dias. Essa distribuição é devido á própria características dos dados CoRoT, no qual os períodos longos se tornam mais escassos devido ao tamanho da Capitulo 5. Resultados e Discussões 68 janela de observação, e também devido a descontinuidades, que dificultam a análise de rotações mais lentas. Além disso, a distribuição das amplitudes varia entre ∼ 1mmag e ∼ 400mmag, com uma concentração de fontes em torno de amplitudes ∼ 20mmag. O painel inferior da Figura 5.7 mostra a distribuição das amplitudes da variabilidade em função do período para uma sub-amostra composta por estrelas da sequência principal (selecionadas com base da classificação CoRoT, classe de luminosidade V). Com relação as estrelas que apresentam modulação rotacional na sequência principal, é esperado que sejam mais ativas para períodos mais curtos (Basri et al. 2011), com amplitudes de variabilidade mais pronunciadas e, consequentemente, uma periodicidade mais óbvia de ser encontrada. No entanto, este comportamento não é evidente em nossa amostra. Combinando período, índice de cor, amplitude, classe de luminosidade e tipo espectral é possível obter uma visão mais detalhada das variabilidades semi-sinusoidais. A Figura 5.8 mostra o diagrama cor-período, em que o tamanho do círculo indica a amplitude de variabilidade (em magnitude) e as cores correspondem as classes de luminosidade CoRoT. Esta figura apresenta um esboço de variabilidades devido a variações semisinusoidais no contexto evolutivo. A partir de uma concepção global desse diagrama, é evidente que existem duas populações diferentes separadas por uma região menos populosa, em torno de (J − H) ≃ 0, 85. A região à esquerda contém principalmente anãs e subgigantes, enquanto estrelas gigantes são mais frequentemente distribuídas no lado direito do gráfico. Cada uma destas regiões apresenta um aumento do período com o aumento do índice de cor. Este comportamento global é compatível com as previsões teóricas de rotação estelar (Tassoul 2008). Existe um número significativo de estrelas com amplitude significativamente mais baixa na região com J − H < 0, 55, do que as estrelas com um índice de cor entre 0, 55 < J − H < 0, 9, que apresentam amplitudes mais pronunciadas. 5.1.4 Variabilidade Semi-Sinusoidal nas curvas de luz CoRoT Considerando a análise do diagrama sem correção de avermelhamento, existem pelo menos dois fatos importantes no diagrama cor-período analisados na Figura 5.8: primeiro, ele mostra duas diferentes populações estelares: uma para a esquerda com (J −H) < 0, 85, e outro para a direita, com (J − H) > 0, 85; segundo, essas populações tendem a mostrar um aumento do período com o índice de cor, mas com taxas de crescimento diferentes. Estas duas populações devem estar relacionadas a diferentes estágios evolutivos das estrelas, uma vez que existe uma quantidade substancial de estrelas gigantes na população Capitulo 5. Resultados e Discussões 69 Figura 5.8: Diagrama indices de cor (J − H) versus período de variabilidade das fontes do nosso catálogo CoRoT. O tamanho dos círculos indica a amplitude da variabilidade em magnitudes, e as cores nos gráficos representam a classe de luminosidade. Também é mostrada a barra de erro típica para o índice de cor (J − H). com (J − H) > 0, 85. Por outro lado, as estrelas de classes de luminosidade III, IV, V são uniformemente distribuídas do lado esquerdo do gráfico. Tal dispersão de classes de luminosidade pode ser associada a incertezas nos parâmetros do banco de dados CoRoT. A Figura 5.9 mostra o diagrama cor-período, onde ao invés de (J − H) foi usado a pseudo-cor (c3 ), que é livre de avermelhamento. Neste caso, a presença do gap que é claramente visto na Figura 5.8 não é evidente. No entanto, uma inspeção ampliada da distribuição confirma que a distribuição em c3 também é bimodal com dois modos mais fortemente ligados do que são vistos na Figura 5.8. Há pelo menos três razões possíveis para a redução do gap na Figura 5.9, em comparação com a Figura 5.8: (i) a combinação de Capitulo 5. Resultados e Discussões 70 Figura 5.9: Diagrama pseudo-cor versus período de variabilidade para as estrelas de nosso catálogo. A pseudo-cor, denominada c3 , é livre de avermelhamento (Catelan et al. 2011). O tamanho dos círculos representa a amplitude de variabilidade em magnitude e as cores indicam a classe de luminosidade. Também é apresentada a barra de erro típica para c3 . três filtros, no caso de c3 , em oposição a somente dois, no caso de (J − H), leva a um aumento nos erros propagados e, consequentemente, ao aumento das barras de erro típico; (ii) os traços evolutivos teóricos revelam que a extensão do gap de Hertzsprung é reduzida (em unidades de magnitude) quando se passa de J − H para c3 , por exemplo, para uma estrela de 3 M⊙ , com base nos traços evolutivos do banco de dados BaSTI (Pietrinferni et al. 2004), o intervalo entre o turnoff da sequência principal e a base do início do ramo das gigantes é de ∼ 0, 5mag para (J − H), mas apenas de ∼ 0, 35mag para c3 : (iii) índice de cor (J − H) encontra-se mais fortemente correlacionado com as temperaturas espectroscópicas de Gazzano et al. (2010) que c3 , algo que pode também estar relacionado com o erros maiores. Considerando variabilidades estelares de forma geral, nossa amostra final foi com- Capitulo 5. Resultados e Discussões 71 parada com ∼ 1.800 estrelas de campo disponíveis no catálogo de períodos de estrelas variáveis rotacionais das Plêiades do HATNet descrito por Hartman et al. (2010). Os autores realizaram um estudo para determinar período de rotação estelar no aglomerado Plêiades no qual obtiveram um conjunto de períodos fotométricos de estrelas não pertencentes ao aglomerado. As estrelas que não pertencem ao aglomerado, as quais assumimos como estrelas de campo, mostram variabilidades possivelmente associadas a modulação rotacional. No entanto, várias daquelas estrelas podem ter variabilidades de outras naturezas físicas. A distribuição dos períodos das estrelas campo é similar à nossa; no entanto, ∼ 35% das fontes apresentam períodos entre 0, 1 e 1, 0 dia. A comparação de nossos resultados com os dados da literatura de estrelas variáveis rotacionais indica que o nosso catálogo é composto em sua maioria por variáveis devido à modulação rotacional. Além disso, foram analisados os dados disponíveis no catálogo de binárias com atividade cromosférica descrito por Eker et al. (2008), que contém informações sobre classe de luminosidade, dados fotométricos e espectroscópicos, além de parâmetros físicos de cerca de 409 estrelas binárias de campo e em aglomerados. Esses dados proporcionam uma base para determinar em que medida a nossa amostra apresenta características fotométricas semelhantes às de estrelas com períodos de rotação medido. De fato, embora alguns sistemas binários podem ser afetados por efeitos de maré, as estatísticas globais da amostra de Eker et al. (2008) podem ser consideradas numa primeira análise, para comparação com os nossos resultados. O diagrama cor-período dos dados de Eker et al. (2008) mostra amplitudes maiores para estrela com (J − H) > 0, 55, o que está de acordo com os nossos resultados. No entanto, o intervalo de amplitude da amostra de Eker et al. (2008) tem como valor máximo 0, 05mag, enquanto que para nosso catálogo, a amplitude máxima é de 0, 025mag. É importante notar que o comportamento da amplitude em função do período mostrado na Figura 5.7 ainda não está bem definido. Em particular, este comportamento não é evidente na amostra estudada por Hartman et al. (2010) ou Eker et al. (2008). Embora esperemos encontrar estrelas mais ativas para períodos mais curtos (Basri et al. 2011), esta relação pode ser suave, uma vez que não foi evidente até mesmo para os dados de Eker et al. (2008), cuja amostra é composta por variáveis rotacionais. Capitulo 5. Resultados e Discussões 72 5.1.5 Candidatas a Análogas Solares? Baseado no índice de cor (J −H)⊙ e no período de rotação do Sol, nós identificamos dentro de nosso catálogo as estrelas que possuem propriedades similares ao Sol; tais estrelas são denominadas análogas solares. De acordo com recentes pesquisas, o índice de cor do Sol (J − H)⊙ varia entre 0, 258 (Holmberg et al. 2006) até 0, 355 mag (Rieke et al. 2008). De acordo com Ademas Zhengshi et al. (2010) o valor do índice de cor do Sol é (J − H)⊙ = 0, 288, Valcarce et al. (2012) estima o valor de (J − H)⊙ = 0, 347 e Casagrande et al. (2006) fornece uma lista de diferentes estimativas para o índice de cor do Sol. Por outro lado, o período de rotação do Sol variar entre 24 (no equador) a 33.5 dias nos polos (e.g., Lanza et al. 2003). Baseado nestes valores nos assumimos um índice de cor médio para o Sol dado por (J − H)⊙ = 0, 315 ± 0, 04 mag, um período de rotação médio de 28.5 ± 4, 5 dias, sendo uma estrela de tipo espectral G, classe de luminosidade V e com amplitude menor que 0, 05 magnitudes. Considerando estes valores é obtida uma sub-amostra de 4 estrelas que mostram período, cor, tipo espectral e classe de luminosidade iguais aos do Sol. Esta seleção é um dos sub-produtos do nosso estudo de variáveis semi-sinusoidais no contexto de períodos fotométricos de curvas de luz com assinatura de modulação rotacional com períodos próximos ao do Sol, cujos identificadores (IDs) CoRoT são dados por 104049149, 104685082, 105290723, e 105519170. 5.1.6 Estrelas Variáveis do tipo M A modulação rotacional para estrelas de tipo espectral M podem ser analisadas a partir dos resultados descritos por Hünsch et al. (2001). Os autores estudam estrelas de tipo espectral M em que foram encontradas indicações de variabilidade cromosférica utilizando as linhas espectrais H-α e Ca I 6572. Essas linhas espectrais são um forte indicativo de atividade cromosférica. Nossa amostra contém 96 estrelas do tipo espectral M com um intervalo de amplitudes de variabilidade entre 0, 004 e 0, 2 mag e 416 estrelas com tipo espectral MIII com amplitudes variando entre 0, 01 e 0, 5 mag. Nosso catálogo apresenta uma quantidade apreciável de estrelas de tipo espectral M com assinaturas de modulação rotacional; no entanto, um estudo mais preciso com medidas espectroscópicas necessita ser realizado para checar a natureza da variabilidade dessas fontes. Nossa sub-amostra de estrelas do tipo M também pode ser utilizada para poste- Capitulo 5. Resultados e Discussões 73 riores estudos baseados, por exemplo, no trabalho conduzido por Herwig et al. (2003). Estes autores analisam o processo s dentro da rotação estelar no ramo assintótico das gigantes, mas os dados estudados pelos autores são insuficientes para se entender diversos aspectos da evolução estelar. Isto ocorre porque estrelas gigantes de tipo espectral M geralmente não exibem atividade estelar significante (e.g., Herwig et al. 2003). Novos resultados podem ser obtidos se ao menos uma fração de nossa amostra de estrelas M for confirmada como sendo composta por variáveis rotacionais. Figura 5.10: Histograma do período de variabilidade para as estrelas do nosso catálogo separadas por sua posição Galáctica, centro e anticentro Galáticos. Os histogramas são normalizados com relação aos seus respectivos máximos, e estão ordenados da seguinte forma: todo o catálogo, estrelas da sequência principal, estrelas subgigantes e estrelas gigantes, de cima para baixo. Capitulo 5. Resultados e Discussões 74 5.1.7 Existe uma diferença de comportamento fotométrico entre Centro e Anticentro? A Figura 5.10 mostra a distribuição dos períodos das 4.206 estrelas, separadas de acordo com a região Galáctica (centro – anticentro) onde estão localizadas. Todos os painéis da Figura 5.10 mostram a distribuição com um pico em torno de ∼ 10 dias, e decrescente rapidamente com o aumento do período; entretanto, existe uma concentração maior de período mais elevados no centro Galáctico do que no anticentro galático. Para fazer uma comparação entre as diferentes distribuições, centro e anticentro Galácticos, é obtido o diagrama de Kolmogorov–Smirnov (KS) (Press et al. 1992). O diagrama KS é um indicador de probabilidade que serve para avaliar se as duas distribuições são derivadas de uma mesma distribuição. Figura 5.11: Distribuição cumulativa dos períodos de variabilidade para todas as estrelas do catálogo. As distribuições são comparadas para o centro (linha sólida) e o anticentro (linha pontilhada) galácticos, usando o teste de Kolmogorov-Smirnov (KS). A distância (D) e a probabilidade (P) são calculadas pelo teste KS, cujos resultados são mostrados na figura. A Figura 5.11 mostra a distribuição cumulativa dos períodos de variabilidade do centro e do anticentro Galácticos, o valor de probabilidade, de 1, 7 × 10−48 , obtido pelo teste KS, indica que as duas distribuições provêm de populações diferentes. Além disso, também foi feita a análise do teste KS considerando agora as diferentes classes de lumi- Capitulo 5. Resultados e Discussões 75 nosidade, para o centro e o anticentro Galácticos; os resultados também mostraram que as duas distribuições vêm de populações diferentes. Este resultado reforça o cenário observado na Figura 5.10, com um excesso claro de grandes períodos entre as estrelas localizadas no centro Galáctico em relação às do anticentro. É claro que tal análise deve ser bastante cautelosa uma vez que estamos analisando uma amostra sem realizar as correções de completude necessárias para tanto. 5.2 Estrelas Variáveis no Banco de Dados do Projeto WFCAM Foram analisadas todas as curvas de luz do banco de dados de calibração do WFCAM com um mínimo de 10 medidas em pelo menos um filtro, que representa a primeira seleção dos dados. Foi proposto um conjunto de índices de variabilidade (descritos na Seção 3.1) que foram utilizados para realizar o segundo corte nos dados. Nossas simulações mostraram que os valores de corte dos índices de variabilidade dependem do número de medidas e da magnitude; nesse sentido, foram determinados os valores de corte dependentes do número de medidas e da magnitude (descritos na Seção 4.2.1). Como resultado, são obtidas superfícies de valores de corte (veja Figura 4.10). Utilizando as superfícies com os valores de corte para os filtros Y e Ks , foram selecionadas 6.170 fontes, as quais foram inspecionadas visualmente. Com base nos critérios de variabilidade descritos na Seção 5.2.1, foram encontradas 319 curvas de luz de estrelas variáveis com diversas assinaturas de variabilidade. Em seguida, foi realizada uma busca de informações sobre estas fontes em catálogos públicos de estrelas variáveis, com o intuito de verificar se já eram conhecidas e classificadas a partir de estudos anteriores. Uma questão delicada no cruzamento de dados consiste nas diferentes precisões astrométricas dos diversos instrumentos; neste sentido, foi assumido um conservador raio de busca de 1 arcseg. Foi iniciada a busca pelo banco de dados do SIMBAD; a partir daí, foram checados diversos outros catálogos, entre os quais a mais recente versão do Catálogo Geral de Estrelas Variáveis (Samus et al. 2012), o catálogo do AAVSO2 (que inclui cerca de 223.585 estrelas variáveis), o catálogo de estrelas variáveis suspeitas (Kazarovets et al. 1998), além 2 American Association of Variable Star Observers. Capitulo 5. Resultados e Discussões 76 Figura 5.12: Curvas de luz típicas do nosso catálogo. Na parte superior de cada painel é mostrado o identificador e período de variabilidade. Capitulo 5. Resultados e Discussões 77 do catálogo do NSVS (Woźniak et al. 2004), os quais podem ser considerados os catálogos mais significativos de estrelas variáveis. Levando-se em conta a distribuição de nossas fontes em toda a esfera celeste, juntamente com a natureza específica das observações no arquivo de calibração WFCAM (que observa campos com estrelas de calibração que geralmente se encontram em regiões com poucas estrelas), não veio como uma surpresa que o cruzamento dos catálogos de variabilidade do céu na região do sul e do centro Galáticos (como OGLE, MACHO, ASAS) não resultou em quase nenhuma interseção de dados. A busca também foi estendida para catálogos de objetos extragalácticos e em diferentes bandas espectrais (de rádio a raios-X), mas novamente não foi encontrada nenhuma fonte. Ao final desta extensa pesquisa, foi encontrado um total de 49 estrelas que já eram conhecidas a partir de estudos anteriores: em particular, 28 fontes estão incluídas no catálogo NSVS. No aglomerado globular M3 foram identificadas em nosso catálogo 11 estrelas classificadas como RR Lyraes por Cacciari et al. (2005) e Jurcsik et al. (2012). Um objeto (WFCAM ID 858993861432) é identificado como sendo uma estrela do tipo anã branca por McCook et al. (2008). A Figura 5.12 mostra um conjunto de curvas de luz extraídas de nossa amostra, em que existe cerca de 13 estrelas RR Lyrae conhecidas, além de 15 estrelas ainda não catalogadas. As três primeira curvas de luz da Figura 5.12 são estrelas variáveis RR-Lyraes que já foram bem estudadas no ótico por Cacciari et al. (2005). As variabilidades presentes nessas curvas de luz é uma pequena amostra das diversas contribuições científicas que podem ser originadas a partir desse trabalho. Como por exemplo, em Angeloni et al. (2012,2013) no estudo de estrelas simbióticas, estrelas variáveis em região de formação estelar, relações empíricas no infravermelho para RR-Lyraes, soluções fotométricas para sistemas binários. 5.2.1 Índices de Variabilidade (s) (s) A Figura 5.13 mostra a distribuição dos valores dos índices de variabilidade Ipf c e If l para todas as estrelas do catálogo do WFCAM. As fontes sinalizadas pelos círculos em vermelho e verde são as estrelas que apresentaram variabilidade periódica. Como esperado, o número de estrelas variáveis detectadas é maior com o aumento concomitante (s) (s) dos índices Ipf c e If l . Em todos os três gráficos é notório que o índice de variabilidade Capitulo 5. Resultados e Discussões 78 (s) proposto nesse trabalho (If l ) consegue separar melhor as estrelas variáveis com uma boa (s) fotometria (circuladas em vermelho e verde), diferentemente dos índices Ipf c , que é similar ao índice Welch-Stetson. Também é possível notar que a separação entre nossa seleção e as demais fontes (4) (4) fica mais evidente para índices de ordem mais elevada. Para Ipf c e If l é notório a dimi(4) nuição do número de fontes com valores do índice Ipf c maior que 0. Isso ocorre porque o número de estrelas com variabilidades estocástica, que apresentam valores negativos desse índice é maior, e por isso não aparecem no gráfico. Tal efeito está relacionado com o número de possibilidades para as quais a combinação de sinais é negativa, que aumenta com 2s − 2, de modo que, quanto maior a ordem do índice, menor será o número de fontes (s) com valores Ipf c > 0. Nossos resultados preliminares mostram que os índices propostos neste trabalho conseguem obter uma eficiência maior que o IW S . Isto implica que os índices propostos neste trabalho poderão tornar-se um dos métodos mais eficientes na literatura para seleção de fontes. Além disso, é importante notar que, para índices de ordem superior, a seleção se torna cada vez mais restritiva. Capitulo 5. Resultados e Discussões 79 (s) (s) Figura 5.13: Diagramas dos índices If l versus Ipf c de ordem 2 e 3. Os pontos destacados em vermelho e verde representam as fontes que foram identificadas como estrelas variáveis periódicas. CAPITULO 6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Com a análise dos dados do projeto CoRoT, foi apresentada uma visão ampla das curvas de luz com características semi-sinusoidais para um amplo intervalo de período, amplitude de variabilidade e índice de cor. Esta é a primeira vez em que um grande conjunto de dados homogêneos com medidas de variabilidade estelar foi obtido de um único instrumento. Neste sentido, foi possível estudar a distribuição global de períodos, amplitude de variabilidade e índices de cor, numa representação válida para estrelas de campo. No total, 124.471 curvas de luz foram analisadas, com as quais foi produzido um catálogo com 4.206 estrelas com assinaturas semi-sinusoidais. Cada curva de luz foi tratada individualmente para a correção de tendências, remoção de pontos espúrios e correção de descontinuidades. Os períodos de variabilidade foram determinados utilizando o método de Lomb-Scargle, em conjunto com a inspeção visual das curvas de luz. O ajuste harmônico dado pela Equação 4.4 foi utilizado para obter os parâmetros fotométricos que descrevem a curva de luz. Nosso catálogo contém períodos variando entre ∼ 0, 33 a ∼ 92 dias e amplitudes de variabilidade entre ∼ 0, 001 e ∼ 0, 5 magnitudes para estrelas de tipo espectral F GKM , com o índice de cor (J − H) variando entre ∼ 0, 0 a 1, 4. Os diagramas cor-período do catálogo de curvas de luz com assinaturas semisinusoidais obtido da análise do banco de dados do CoRoT mostram diversos comportamentos que são compatíveis com a modulação rotacional. O aumento da amplitude em torno de (J − H) > 0, 55 é esperado por estudos sobre modulação rotacional, tal como descrito por Eker et al. (2008) e Gilliland et al. (2009). O comportamento global do au80 Capitulo 6. Conclusões e Perspectivas 81 mento do período com o aumento do índice do cor é compatível com predições teóricas sobre modulação rotacional. Os resultados deste trabalho foram comparados com dados públicos para estrelas variáveis de campo estudadas por Hartman et al. (2010), cujas distribuições de período e da amplitude de variabilidade são compatíveis com nossos resultados. Além disso, dentro do nosso catálogo foram identificadas 4 estrelas que possuem características similares àquelas do Sol, tendo estas um particular interesse para trabalhos futuros. Ademais, também foi analisada uma sub-amostra de mais de 400 estrelas gigantes de tipo espectral M, que mostram um comportamento compatível com recentes estudos de modulação rotacional. O período de variabilidade apresenta distribuições diferentes quando comparamos as regiões do centro e do anticentro Galácticos. Isso sugere que as estrelas variáveis do centro e anticentro provêm de populações diferentes. Finalmente, a distribuição no diagrama cor-período apresenta substancial dependência com a correção de avermelhamento, que pode afetar significantemente a análise da relação idade-período, tal como aquela proposta por Affer et al. (2012). A missão CoRoT tem dado uma importante contribuição para aumentar o número de estrelas com brilho intrínseco fraco, assim como adquirido uma grande quantidade de dados que permite o estudo da microvariabilidade. Estes são alguns dos aspectos que demostram a importância deste trabalho no estudo geral sobre variabilidade estelar para uma amostra significativa de estrelas intrinsecamente fracas. Além disso, este trabalho deve ajudar futuros estudos sobre a variabilidade estelar e, em particular, sobre a modulação rotacional. Diversos aspectos de nossos resultados estão dentro dos comportamentos esperados para estrelas que apresentem modulação rotacional; no entanto, informações unicamente fotométricas não são suficientes para determinar a natureza física dessas fontes. Consequentemente, futuras observações espectroscópicas são necessárias para confirmar a causa das variabilidades dessas fontes e, com isso, melhorar diversos aspectos de nossas discussões, em particular no estudo evolutivo da modulação rotacional. Referente aos dados do WFCAMCALIB, foram analisadas 216.722 fontes com magnitudes em Ks variando entre 9 a 19 magnitudes, contendo no mínimo 10 medidas em pelo menos um dos filtros observados pelo WFCAM. Foi realizado um conjunto de simulações onde foi observada a dependência dos valores de corte nos índices de variabilidade com o número de medidas e a magnitude. Neste trabalho, propomos valores de corte dos Capitulo 6. Conclusões e Perspectivas 82 índices de variabilidade aqui utilizados com uma dependência do número de medidas e da magnitude. Utilizando um conjunto de valores de corte para uma família de índices propostos neste trabalho, foram selecionadas 6.170 fontes. Foi realizada a inspeção visual dessas fontes e foram encontradas cerca de 319 estrelas variáveis periódicas, com períodos variando entre 0, 1 e 580 dias. Tal catálogo está revelando uma grande diversidade de casos científicos que podem ser explorados, incluindo estrelas variáveis RR Lyrae e variáveis cataclísmicas, entre outros. Tais estudos são bastante relevantes, uma vez que o comportamento dessas fontes no infravermelho ainda não é completamente conhecido. Deste modo, estamos contribuindo para o estudo de diversos tipos de casos científicos que vão ser iniciados a partir desse catálago, além disso, aumentando o template para o classificador de estrelas variáveis do projeto VVV (Catelan et al. 2011). Resultados preliminares dos índices de variabilidade propostos nesta Tese mostraram uma eficiência maior que o índice mais comumente utilizado para este propósito (índice de Welch-Stetson). Foi mostrada a necessidade de construir valores de corte em função do número de pontos e da magnitude, uma vez que os índices de variabilidade dependem fortemente dessas quantidades. Devido ao estudo robusto feito sobre índices de variabilidade, está sendo proposto também um catálogo de estrelas que possuem índices de variabilidade compatíveis com a presença de variabilidade para os quais não foi possível determinar periodicidade. Os diversos métodos de determinação de período utilizados neste trabalho mostram um desacordo na determinação de periodicidade para algumas estrelas do WFCAM. Estas discrepâncias devem-se ao pequeno número de medidas, o que pode reduzir a eficiência dos métodos de busca de periodicidade. Estas discrepâncias estão sendo analisadas no momento, mas os resultados preliminares indicam que os métodos de minimização SLMStet e SLMDwr possuem uma taxa de acerto maior que os métodos P DM e Lomb-Scargle, principalmente para sistemas binários. Tais estudos estão sendo analisados e, juntamente com a proposição de um novo método de busca de periodicidade, serão discutidos em maiores detalhes em Ferreira Lopes et al. (em preparação). Treze estrelas RR Lyrae previamente classificadas e bem estudadas no ótico estão sendo utilizadas para obter relações entre os parâmetros fotométricos e o avermelhamento, por exemplo, utilizando como contrapartida os dados no ótico. Um conjunto de 100 estrelas binárias está sendo utilizado para criar um banco de dados de soluções fotométricas no infravermelho. Capitulo 6. Conclusões e Perspectivas 83 Além disso, estamos ampliando o catálogo de estrelas variáveis com assinatura de modulação rotacional para todo o banco de dados do CoRoT e, provavelmente, aumentando o intervalo de períodos de variabilidade. Para confirmar a natureza da variabilidade dessas fontes, está sendo elaborada uma proposta de observação para que, através do seus espectros, se possam obter velocidades radiais. A mesma metodologia utilizada na análise dos dados do CoRoT está sendo utilizada para analisar o banco de dados do projeto Kepler, que deve fornecer um detalhamento maior sobre esse estudo, uma vez que são conhecidos os valores de log g e Tef f para essas fontes. Todos os projetos dedicados a levantamentos fotométricos devem fazer uso de classificadores automáticos, devido à grande quantidade de dados que estão sendo coletados. Neste sentido, os catálogos de estrelas variáveis periódicas e não periódicas, juntamente com os diversos métodos utilizados, além das importantes discussões emergidas neste trabalho, estão sendo utilizados para criar um classificador não supervisionado. Esta Tese representa um importante ponto de partida para a construção de um classificador, uma vez que formula alguns novos métodos que aprimoram os processos de análise. Estes métodos, se implementados nos classificadores automáticos utilizados no projeto CoRoT, assim como no projeto Kepler, podem vir a fornecer resultados mais refinados. REFERÊNCIAS [1] Affer, L., Micela, G., Favata, F., et al. 2012, accepted by MNRAS. arXiv:1202.4947 [2] Angeloni, R., DiMille, F., Ferreira Lopes, C. E., & Masetti, N. 2012, ApJ, 756, L21 [3] Angeloni, R., Ferreira Lopes, C. 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