Campo termo higrométrico e o fator de visão do céu nos cânions

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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2014. ISSN 2317-9759
CAMPO TERMO-HIGROMÉTRICO E O FATOR
DE VISÃO DO CÉU NOS CÂNIONS URBANOS DE PONTA GROSSA-PR
GABRIEL, Adrielle Laisa
RIBEIRO, Jéssica Camila Garcia
CRUZ, Gilson Campos Ferreira.1
Introdução
A urbanização e o crescimento das cidades são as mudanças mais significativas para
mudanças climáticas locais. Desde a década de 1950 a urbanização vem crescendo
consideravelmente nas últimas décadas, no mundo inteiro, e no Brasil não poderia ser
diferente, a população morando nos centros urbanos acaba sendo responsável por alterações
climáticas que ocorrem onde estes estão construídos, surgindo assim uma preocupação com o
conforto e bem estar da população que mora nas cidades.
Segundo Löwen Sahr (2001) o processo de verticalização de Ponta Grossa foi rápido
e transformou sua estrutura de forma expressiva, ela iniciou seu processo na década de 1940,
e estendeu-se significativamente nos anos 1980, diminuindo assim nos anos seguintes.
O clima que passou a existir com a construção das cidades, levou ao surgimento de
uma nova área do conhecimento intitulada Climatologia Urbana, responsável por estudar os
efeitos da urbanização e do crescimento urbano no clima local, visto que a impermeabilização
do solo com a pavimentação, a retirada de cobertura vegetal, a construção dos elementos que
compõe as áreas urbanas, entre outros, causam sérias mudanças no ambiente.
Cruz (2009) comenta sobre os arroios existentes nos vales, que também podem
contribuir por mudanças no clima urbano da cidade, já que as condições encontradas quanto a
ventos, umidade relativa e insolação podem ser fatores para influenciar na temperatura do ar,
na umidade relativa e na precipitação de uma área. No centro da cidade são encontrados os
arroios do Padre, Pilão de Pedra, de Olarias e o da Ronda.
Devido a isso, estudos sobre esta temática vieram a acrescentar o debate sobre os
efeitos das cidades sobre o clima comparando os dados do interior da área urbana com dados
da zona rural próxima, mostrando que há diferenças, principalmente na temperatura entre
essas áreas.
Objetivos
Estimulada por pesquisas anteriores, o presente trabalho tem por objetivo estudar os
cânions urbanos, oriundos da verticalização da área urbana de Ponta Grossa, relacionando
Fator de Visão do Céu (Sky ViewFactor), que se obtém a partir relação entre a área obstruída,
pelas edificações e a área visível do céu, com o campo termo-higrométrico, nesses locais.
Metodologia
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Orientador
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Após o levantamento inicial duas ruas foram escolhidas para o estudo, as quais são:
XV de Novembro e a Coronel Dulcídio ambas localizadas no centro, a primeira apresentando
orientação leste-oeste e a segunda sul-norte.
A escolha das duas ruas com orientações diferentes se deve a condição de estarmos
localizados no hemisfério sul onde o Sol sempre faz o seu caminho aparente mais para o norte
o que resulta na maior parte do tempo, e de forma particular no inverno, em um maior
sombreamento das edificações construídas no lado da rua que fica a norte, isto em ruas com
orientação leste-oeste, já no caso da rua com orientação sul-norte este efeito é menor, pois as
edificações bloqueiam o sol da manhã e da tarde porém deixam a rua exposta ao sol na maior
parte dia.
“O cânion estabelece um espaço aéreo entre as paredes verticais e vias de circulação
da cidade, espaço esse, parcialmente aberto para o céu, e que tem sido o elemento estrutural
representado nos esquemas numéricos de superfície urbana.” (KARAM; PEREIRA FILHO,
2006, p. 89).
Também foram escolhidos ao todo 10 transectos, 5 na rua XV de novembro e 5 na
Coronel Dulcídio, para a coleta de dados de temperatura e umidade do ar e de vento, para
análise do campo térmico obtidos através da lente olho de peixe, tratadas no Software Rayman,
observando o caminho aparente do sol nas duas estações, em cada transecto, nas ruas (Figura 1).
Para se analisar as condições térmicas dos cânions urbanos utiliza-se o Fator de Visão
do Céu (Sky ViewFactor):
é um parâmetro utilizado para caracterizar a entrada de radiação em áreas urbanas e
para expressar a relação entre a área visível do céu e a porção do céu coberto por
edificações e/ou vegetações vistos de um ponto especifico de observação
(CARFAN, 2011).
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Figura 1: Localização da área de estudo.
Resultados e Discussões
Apenas o FVC não foi suficiente para explicar os ganhos e perdas de temperatura,
outras variáveis interferem no comportamento ao longo das ruas, como a circulação do ar
ocasionado pelos movimentos dos carros, mais intensificado na Rua Cel. Dulcídio, pois os
carros vem do sentido norte-sul em alta velocidade, também há nas ruas perpendiculares
maior passagem de carros, influenciando principalmente em transectos próximos às esquinas,
diminuindo a importância do FVC nesses lugares.
A Rua XV de Novembro, que apresenta orientação leste-oeste, e verticalização
acentuada em sua maioria, o que resulta em índices de Fator de Visão do Céu baixos, assim
na maior parte do dia, principalmente no inverno, a exposição norte ficaria na sombra, o que
resultaria em valores baixos de temperatura do ar.
Observando os resultados foi possível perceber a relação da orientação das ruas com a
insolação, e obstrução do Sol, influenciando assim na entrada de radiação de ondas longas,
que por sua vez terá consequências no campo termo-higrométrico, devido ao sombreamento
em determinados horários.
Na rua XV de Novembro a relação do Fator de Visão do Céu está diretamente ligada à
obstrução de todo o dia pelas edificações, mostrando que em ruas de orientação leste-oeste o
menor FVC irá resultar em ambientes mais frios e úmidos, principalmente em prédios com a
exposição para sul, pois não receberão raios solares em nenhum momento do dia nem do ano,
ocorrendo justamente o contrário em prédios de exposição norte. E que em FVC maiores
haverá maior temperatura e menor umidade, pois o Sol não terá obstrução nenhuma, e tendo
mais tempo de insolação.
Sendo a grande parte do vento registrado na rua Cel. Dulcídio, provocado pelo
movimento dos carros, não só nela, mas também nas ruas perpendiculares, foi importante em
alguns casos para descrever a variação do campo termo-higrométrico.
Considerações Finais
Neste trabalho a intenção não foi a comparação entre os dois cânions, devido as
diferentes características encontradas neles, mas sim a relação da orientação das ruas com o
caminho percorrido pelo Sol, o que possibilita analisar a quantidade de radiação que entra nos
dois cânions em diferentes períodos do dia.
Na área urbana de Ponta Grossa, os dois cânions urbanos analisados das ruas XV de
Novembro e Coronel Dulcídio, mostraram-se distintos quanto a relação altura/largura, uma
vez que a primeira rua possui construções de vários pavimentos na maior parte de sua
extensão, além de ser uma rua mais estreita para a passagem dos carros, limitada a um pista ao
contrário da Cel. Dulcídio, onde as construções apresentam poucos pavimentos e a rua maior
largura, com duas pistas de circulação de automóveis, oferecem assim condições diferentes
para análise, para além da condição inicial de serem de apenas de orientação diferentes
O campo térmico apresentou variações ao longo dos cânions, nos registros
analisados, em função da obstrução dos raios solares, em determinados períodos, assim como
a não liberação da radiação infravermelha, responsável pelo aumento e pela estabilização da
temperatura, principalmente no período noturno na rua Coronel Dulcídio.
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Enfim, com esta pesquisa é possível afirmar que os cânions urbanos exercem
influência no campo termo-higrométrico, devido a obstrução exercida pelas construções
principalmente de orientações leste-oeste, como no caso da Rua XV de Novembro.
O Fator de Visão do Céu, que é um índice que nos mostra numa escala de 0 a 1, a
quantidade de céu sobre uma região, apresentou valores diferentes nos dois cânions, onde os
baixos valores significaram maior sombreamento devido a obstrução do sol, particularmente
na rua XV de Novembro e os índices altos mostraram a falta de sombreamento em
determinados horários, nas duas ruas, em especial na Coronel Dulcidio.
A orientação dos cânions também é um fator determinante a ser considerado, pois as
ruas com orientação leste-oeste como no caso da XV de Novembro, as construções a norte
irão obstruir a insolação durante o dia, o ano todo, principalmente no inverno resultando em
sombreamento maior em todo lado norte da rua, o que resulta menor quantidade de radiação
disponível e com isto menores temperaturas.
Nas ruas de orientações norte-sul, as construções a leste irão interferir na insolação
durante parte da manhã, e as construções a oeste obstruirão em parte da tarde, recebendo
radiação direta durante grande parte do dia, o que implica em pouca influência do cânion
urbano, no que diz respeito à disponibilidade de energia, no entanto exerce interferência
semelhante ao de outros cânions urbanos no que tange a liberação de radiação infravermelha.
Referencias Bibliográficas
CARFAN, Ana Claudia. Análise do conforto térmico em áreas abertas no município de
Ourinhos-SP. 2011, 168 f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Geografia Fisica) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo,
2011.
CRUZ, Gilson Campos Ferreira da. Clima urbano de Ponta Grossa-PR: uma abordagem
da dinâmica climática em cidade media subtropical brasileira. 366 f. Tese (Programa de
Pos Graduação de Geografia Física). Faculdade de Filosofia Letras, Ciências Humanas.
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.
GABRIEL, Adrielle L. Campo Termo-Higrométrico e o fator de visão do céu nos cânions
urbanos de Ponta Grossa-PR. 2013, 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso em Bacharelado
em Geografia – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2013.
KARAM, H. A, PEREIRA FILHO, A. J. Revisão dos métodos de Penman e PenmanMonteith e sua aplicação a cânions urbanos. Revista Brasileira de Meteorologia, v.21, n.1,
86-106, 2006.
Disponível em: <http://www.rbmet.org.br/port/revista/revista_artigo.php?id_artigo=116.>
Acesso 15 mar 2013.
LOWEN-SAHR, Cicilian Luiza. Dimensões de análise da verticalização: exemplos da cidade
média de Ponta Grossa. Revista de História Regional, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, p. 9-36,
verão. 2000. Disponível em <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/rhr/article/view/2094>.
Acesso em 15 jun. 2013.
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