Abrindo as Cortinas: A Arte e o Teatro no

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V Mostra de
Pesquisa da PósGraduação
Abrindo as Cortinas: A Arte e o Teatro no Reconhecimento de
Direitos Humanos da Juventude
Giovane Antonio Scherer1, Beatriz Gershenson Aguinsky2 (orientadora)
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Faculdade de Serviço Social PUCRS,
Resumo
A presente pesquisa busca investigar as possíveis contribuições da arte, materializada
através do teatro, no reconhecimento de Direitos Humanos para a juventude, visando
colaborar com fortalecimentos de seus processos emancipatórios. Destra forma, a presente
proposta visa fomentar o debate do uso da arte, como estratégia metodológica para o Serviço
Social, uma vez que tal discussão fica secundarizada nos debates acadêmicos, tendo a sua
importância diminuída dentro desta área de conhecimento. A arte materializada pelo teatro
neste estudo ganha um duplo sentido: como instrumento de pesquisa dando visibilidade a
todas as formas de violação e reconhecimento de direitos humanos, e como uma “prática
social que tem o poder de questionar a sociedade, possibilitando movimentos de mudanças
sociais” (FRAGATEIRO, 2007, p. 23).
Esta pesquisa busca olhar para as violações de direitos da juventude, o que se torna
fundamental no contexto atual, uma vez que as Juventudes vêm se constituindo como um
segmento social afetado por diversas expressões da Questão Social, estas expressões –
violência, drogadição, pobreza, entre outros – são manifestações vivenciadas pelos indivíduos
sociais em suas relações sociais cotidianas, às quais respondem com ações, pensamentos e
sentimentos. Ter um olhar para as violações de Direitos Humanos da Juventude torna-se
1
Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Luterana do Brasil, atualmente é mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS, e pesquisador em Serviço Social vinculado ao do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ética e Direitos
Humanos da FSS/PUCRS.
2
Orientadora. Doutora em Serviço Social e Docente no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social PUC/RS.
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fundamental, uma vez que ao entender tal a processo é possível perceber as demais relações
de exclusão e inclusão vigentes em nossa sociedade (HENRIQUES e NOVAES, 2009)
Embasada no método dialético – crítico, a presente pesquisa se configura por ser uma
pesquisa participante de natureza qualitativa, uma vez que busca uma maior aproximação
entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa. A Pesquisa Participante possui um enfoque de
investigação social por meio do qual se busca plena participação da comunidade na análise de
sua própria realidade, com objetivo de promover a participação social dos participantes da
investigação (BORDA, 1990); sua natureza qualitativa diz respeito da valorização das
trajetórias de vida e das experiências sociais dos sujeitos (MARTINELLI, 1999). Esta
pesquisa centra-se na arte, utilizando todo o seu poder de questionamento social e
transformador junto ao cenário da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima do Bairro Bom
Jesus.
Neste estudo, foi escolhida esta instituição de ensino fundamental uma vez que
promoveria uma maior proximidade com a juventude, público alvo desta pesquisa, por estar
localizada em uma das regiões mais vulneráveis de Porto Alegre/RS, e também pelo fato de
haver uma estreita relação entre a escola com a Universidade devido a parcerias anteriores.
No âmbito desta localidade foram intencionalmente incluídos nesta pesquisa, 10 jovens com
idade entre 15 a 29 anos, moradores do Bairro Bom Jesus que demonstraram interesse de
participar da pesquisa.
Com este público estão sendo realizados semanalmente, durante seis meses, encontros
onde são desenvolvidas técnicas do Teatro do Oprimido com os jovens, que interpretam cenas
da sua própria realidade. Esta técnica possibilita ao pesquisador investigar a realidade dos
jovens não só através dos seus relatos orais, mas também através de seus gestos, seus
comportamentos, seus olhares e sua visão de homem e sociedade; e principalmente fazem
com que o jovem perceba em suas experiências sociais as opressões que vivenciam
diariamente. Boal (2005) afirma que o Teatro do Oprimido é uma arma que o povo deve
utilizar para lutar contra as suas opressões, uma vez que o teatro traduz o cotidiano dos
indivíduos, representando a capacidade dos seres humanos se identificarem a si mesmo em
ação e ensaiarem movimentos em favor de uma transformação social.
A presente pesquisa, também utiliza a técnica da história oral, onde busca aprofundar
os relatos dos sujeitos a fim de desvelar suas percepções, violações e garantias de direitos
humanos. A história oral, como metodologia de pesquisa, se ocupa em conhecer e aprofundar
conhecimentos sobre determinada realidade, padrões culturais, estruturas sociais e processos
históricos, obtidos através de conversas com pessoas, relatos orais, que, ao focalizarem suas
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lembranças pessoais, constroem também uma visão mais concreta da dinâmica de
funcionamento e das várias etapas da trajetória do grupo social ao qual pertencem,
ponderando esses fatos pela sua importância em suas vidas (LATIF, 2007).
Até o momento os resultados preliminares apontam várias formas de violações de
Direitos Humanos que são vivenciadas no cotidiano destes jovens, sendo questões que muitas
vezes são naturalizadas por aqueles que as vivenciam. Estas violações podem ser apreendidas
tanto nas falas, nos relatos orais através da técnica de história oral, como nas cenas que são
criadas pelos jovens, uma vez que todas as cenas criadas pelos jovens trazem em seus
enredos, temáticas como: violência e drogadição. Drogas e violência são temas em evidência
e embora nunca tenha se falado tanto sobre eles, paradoxalmente nunca se silenciou tanto a
respeito de tais fenômenos, em particular a respeito de seus processos sociais e relações com
as políticas públicas relacionadas às desigualdades: sociais, culturais, educacionais, entre
outros (WERTHEIN, 2002). No momento que as violações são naturalizadas no cotidiano da
juventude, a luta pelo reconhecimento de direitos humanos se torna dificultada, abrindo
possibilidade para que mais direitos sejam violados.
A pesquisa aponta principalmente para o desvelar desta realidade de violações,
procurando, através da construção do conhecimento, fortalecer processos emancipatórios nas
experiências com os jovens participantes. Buscar a compreensão da realidade do jovem
disponibilizando canais de vocalização de demandas por direitos humanos através da arte,
construindo o conhecimento científico com os sujeitos da pesquisa, é fundamental em uma
realidade que as violações de direitos tornam-se uma constante.
Referências
BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. 7ª ed. Rio de Janeiro, RJ:
Civilização Brasileira, 2005.
FRAGATEIRO, Carlos. In: PACHECO, Natércia; CALDAS, José; TERRASÊCA, Manuela
(orgs). Teatro e educação: transgressões. 1ª ed. Lisboa: Editora Afrontamento, 2007.
HENRIQUES, Ricardo; NOVAES, Regina. In ABRAMOVAY, Miriam; ANDRADE, Eliane;
ESTEVES, Luiz Carlos (org). Juventudes: outros olhares sobre a diversidade. 1ª ed.
Brasília, 2009.
LATIF , Cassab. História oral: miúdas considerações para a pesquisa em Serviço Social.
Disponível em http://www.ssrevista.uel.br/c_v5n2_latif.htm, acesso em 01/11/2008.
MARTINELLI, Maria Lucia (org). Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. São Paulo,
SP: Veras Editora, 1999.
BORDA, Orlando Fals. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org). Pesquisa participante. São
Paulo, SP: Ed. Brasiliense, 1990.
WERTHEIN, Jorge, in: CASTRO, Mary, ABROMOVAY, Mirian. Drogas nas
Escolas. UNESCO, Brasília/DF, 2002.
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