A IDENTIDADE CRISTÃ SOBRE A PERSPECTIVA DE EUSÉBIO DE CESARÉIA -(SÉCULO III- IV) Paulo Ribeiro da Silva Filho UFTM [email protected] GT 04: Educação e Diversidade RESUMO Apresentaremos e discutiremos o cristianismo vivido por Eusébio de Cesaréia e sua contribuição no cristianismo antigo. Eusébio de Cesaréia (nascido na Cesaréia-Palestina, entre os anos de 260 e 265 e morreu em meados de 339, na Cesaréia), é também chamado de Eusébio de Pânfilo (por ter sido amigo de Pânfilo talvez, escravo liberto do mesmo), se tornou bispo em 311, e é conhecido como o “Pai da História da Igreja”. Eusébio de Cesaréia foi um defensor da doutrina cristã do Arianismo e contra os que defendiam a consubstancialidade do Verbo com o Pai. Eusébio foi incansável na atividade de escrever, enriquecendo a biblioteca fundada por Orígenes, em Cesaréia, se tornando o bispo mais erudito de sua época, com escritos nas diversas áreas, e também defensor e desenvolvedor da idéia de império cristão, tornando-se um bispo apoiado pelo Estado. Por ter sido defensor e partidário do arianismo, foi excomungado em 324, mas reabilitou-se e participou com grande destaque do Concilio de Nicéia (que foi presidido pelo Imperador Constantino) propondo um símbolo de fé conciliatório entre as duas vertentes do cristianismo existentes no concilio, demonstrando assim o seu lado político. Ao discutirmos a identidade dentro da história, estaremos apresentando como se fez e como ainda se faz a construção da identidade no cristianismo. PALAVRAS CHAVE: Cristianismo. Cesaréia, História. INTRODUÇÃO Neste trabalho, apresentaremos um pouco de Eusébio de Cesaréia: quando nasceu; quando morreu; onde estudou; sua vida eclesiástica; o seu partidarismo ao arianismo – uma vertente ortodoxa do cristianismo – e principalmente a sua contribuição para o cristianismo primitivo. A participação de grande importância de Eusébio de Cesareia no Concilio de Nicéia, no ano de 325, de nossa era. Apresentamos as várias obras, as quais serviram de referencia e contribuíram para que entendêssemos o contexto da história do cristianismo vivido por Eusébio de Cesaréia. No capitulo I deste trabalho, mostraremos um pouco da vida e das obras de Eusébio de Cesaréia. Também apresentamos algumas informações que caracterizaram o cristianismo do império romano durante o final do século III e inicio de século IV. No capitulo II, discutiremos a questão da identidade dentro da história e dentro da história antiga. No capitulo III, tentaremos identificar e apresentar a Identidade Cristã presente na obra “História Eclesiástica”, de Eusébio de Cesaréia. Ao se pensar em identidade cristã, pensamos antes nos conflitos existentes no período e, presentes na obra. Durante este capítulo, poderemos identificar que para Eusébio de Cesaréia, Orígenes foi um modelo de identidade para o cristão, e que essa identidade é reconstruída no pós-martírio e recebe e/ou se apropria da herança da Paidéia grego-romana. Com a intenção de debatermos no Trabalho de Conclusão de Curso as seguintes questões: Qual a identidade do cristianismo construída por Eusébio de Cesaréia? Qual a contribuição de Eusébio de Cesaréia para o Cristianismo? e, os referenciais bibliográficos contribuíram para que tivéssemos um maior entendimento do contexto de tempo e espaço do cristianismo antigo e, questões como: de que Império Romano nos referimos na introdução?; o que é um imperador?; qual a relação política existente entre o Estado e a Igreja/religião?, as quais tentaremos esclarecer no decorrer deste trabalho. Capítulo I – Eusébio de Cesaréia e sua obra História Eclesiástica. Eusébio de Cesaréia, nasceu entre os anos de 260 e 265, não se sabe onde, e morreu em 339. Acredita-se que ele tenha recebido a alcunha “de Cesaréia” por ter sido bispo nesta cidade da Palestina, já que a posição de bispo era ocupada por homens da sua respectiva região. Durante sua vida de episcopado, iniciada em 311. Eusébio escreveu várias obras, tornando-se o bispo mais erudito de sua época. A alta erudição de Eusébio de Cesaréia se deve ao fato do contato direto e indireto com os cristãos estudiosos do seu tempo e também ao seu trabalho de auxiliar Pânfilo na biblioteca herdade de Orígenes. Dentre as suas várias obras (como: exegeses, obras sobre: geografia, sobre teologia, sobre apologia, sobre eloqüência), destacamos a suas obras “Vida de Constantino” e a obra, que talvez seja a sua principal, “História Eclesiástica”, que é o objeto de nossa pesquisa, e que tornou Eusébio de Cesaréia conhecido como o “Pai de História da Igreja”. Apesar de possuir uma abrangência de temas em suas obras, Eusébio de Cesaréia se tornou reconhecido como historiador, devido à sua obra História Eclesiástica, que estabeleceu um novo campo na historiografia, o campo da História Eclesiástica. Na sua incansável atividade de escrever, Eusébio enriqueceu a Biblioteca de Orígenes, na Cesaréia, com suas diversas e variadas obras. Eusébio iniciou seus estudos com um sacerdote, doutor de Antioquia, “Doroteu”, e depois com o sábio, Pânfilo (que foi um dos mais ardorosos seguidores de Orígenes). Quando Diocleciano desencadeou a perseguição em 303,¹ Pânfilo foi encarcerado em 15 de novembro de 307, e para demonstrar sua fidelidade, Eusébio o acompanhou na prisão, se encarcerando com ele, de onde compuseram uma Apologia a favor de Orígenes, que foi interrompida em 16 de fevereiro de 310, com a decapitação de Pânfilo. A Apologia em favor de Orígenes era composta por cinco livros e foi interrompida com a morte de Pânfilo. Em 311, Eusébio acrescentou o sexto livro à apologia, a “biografia de Pânfilo”. Após o martírio de Pânfilo, Eusébio se refugiou em Tiro e depois no Egito (onde acabou se tornando prisioneiro). Quando foi publicado o edito de pacificação, por Galério, Eusébio retornou à Palestina e se colocou a refutar as acusações que Hierocles (Governador da Bitínia), levantava contra os cristãos. Ao mesmo tempo, acaba a redação dos oito primeiros livros de sua História Eclesiástica. Foi nessa mesma época que Eusébio se tornou sacerdote e, em 311 se sagrou Bispo de Cesaréia. Mesmo como bispo, não interrompeu suas pesquisas, para dirigir sua diocese, continuando a elaborar a História Eclesiástica e outros tratados apologéticos e outras obras sobre as Escrituras. Segundo Papa (2013), no final do ¹- “Em 303, Diocleciano promulgou um ultimo conjunto de medidas, conhecido pelos cristãos sob o nome de <Grande Perseguição> [...] (BROWN, 1999, p.41) século III, houve discussões teológicas que “fizeram iniciar os conflitos políticos-religiosos abordados durante todo o século IV d.C. . Essas discussões sucederam-se por meio das reuniões eclesiásticas” (PAPA, 2013, 46). As reuniões eclesiásticas eram denominadas de Sínodo² e Concílio³. Durante os séculos III e IV, foram realizados vários sínodos e vários concílios, para se discutirem os mais diversos assuntos e, no Concilio de Nicéia (realizado em 325), a temática principal, foi a controvérsia ariana. Quanto à doutrina cristã, Eusébio era partidário e simpatizante do arianismo4 e contra os que defendiam a consubstancialidade do Verbo com o Pai, Eusébio deu abrigo à Ário e o defendeu e exaltou a sua doutrina e, em conseqüência destes atos, pelo fim de 324, no sínodo de Antioquia, Eusébio de Cesaréia foi excomungado, junto com mais dois bispos. Em 325, no Concílio de Nicéia, Eusébio se encontra reabilitado, onde propõe um símbolo de fé entre as facções: uma liderada por Ário (amigo de Eusébio) e a outra liderada por Atanásio. O Concilio de Nicéia foi convocado com o objetivo principal de resolver a controvérsia ariana, pois alguns bispos estavam preocupados com a distorção do dogma e doutrina dos cristãos. Durante o Concilio, a doutrina ariana foi contestada e reprovada. A profissão de fé proposta por Eusébio de Cesaréia, no Concílio de Nicéia, acrescida de alguns trechos, tornou-se um dogma para a doutrina ariana. Abaixo, o símbolo de fé proposto por Eusébio de Cesaréia como ato conciliatório e considerado pelo Concilio de Nicéia, muito ortodoxo: Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas às coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Luz da Luz, Vida da Vida, Filho unigênito, primogênito de toda criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvação e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos; cremos também em um só Espírito santo.(FRANGIOTTI, H.E. 2000, p. 11) O símbolo de fé proposto por Eusébio de Cesaréia, foi considerado pelo Concilio de Nicéia muito ortodoxo, e foi alterado com a finalidade de evitar qualquer ambigüidade por parte dos arianos. Abaixo, transcreveremos o símbolo de fé aprovado no Concílio de ² - Sínodo: Reuniões de bispos, sacerdotes e diáconos, pertencentes às jurisdições próximas à cidade sede do encontro. ³ - Concílio: Reuniões cujos os temas discutidos eram de grande magnitude e abrangia os religiosos de várias partes do império. 4 - Arianismo é uma doutrina dentro do cristianismo onde os seguidores que a defendia, eram ou foram discípulos do Bispo Ário e que eram contra os que defendiam a consubstancialidade do Verbo com o Pai. Nicéia, ao qual Eusébio de Cesaréia se recusou a assinar, por não concordar com a Consubstancialidade ao Pai: Cremos em um só Deus, Pai todo poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, e em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Único gerado pelo Pai, isto é, da substância do Pai, Deus nascido de Deus, luz nascida da luz, Deus verdadeiro, nascido de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por quem tudo foi feito no céu e na terra. Por nossa salvação... Quanto aos que dizem: houve um tempo em que Ele não era, ou: Ele não era antes de ser gerado, ou então: Ele saiu do nada, ou que o Filho de Deus é de uma outra substancia ou essência, ou que Ele foi criado ou que Ele não é imutável, mas sujeito à mudança, a Igreja os anatemiza (Os trechos em itálico são os que foram introduzidos contra Ário, Liébaert, 2000: 141 – grifos do original) (PAPA, 2013 : 69-70) Em 330, Eusébio participou do sínodo de Antioquia, onde depôs Eustácio, o bispo desta cidade e em 335, participou do sínodo de Tiro, onde sentenciou à deposição e ao exílio, Santo Atanásio. Junto com os bispos do sínodo de Tiro, volta à Jerusalém, para a solene dedicação da basílica do Santo Sepulcro. Em seguida, foi para Constantinopla, a fim de participar das comemorações de trinta anos de governo de Constantino, quando foi o grande orador em homenagem ao imperador. Em História Eclesiástica é possível identificar que, aos olhos de Eusébio de Cesaréia, Constantino era um instrumento de Deus para combater os inimigos da fé e, confirmando esse ponto de vista, Márcia Santos Lemos afirma que “Eusébio apresentou Constantino como um eleito de Deus e protetor da Igreja”. (LEMOS, 2006, p.6). Devido a essa percepção sobre Constantino ser um instrumento de Deus, Eusébio de Cesaréia tem seu papel político destacado no império, onde o mesmo desenvolve a ideia de império cristão, tornando-se assim um bispo apoiado pelo Estado. Esse apoio recebido do Estado naquele período era normal acontecer e, como Márcia Santos Lemos (2006) destaca em seu artigo: “O Episcopado Cristão no Império Romano do Século IV: Práticas Cotidianas e Ação Política”, o bispo era uma junção de funções, tanto na Igreja, quanto no Estado: O bispo é, segundo Tejo, a criação mais original do mundo antigo em sua etapa final e, talvez, o que melhor caracteriza a sociedade da Antiguidade tardia. Ele é uma junção de sacerdote, político, filosofo, jurista e retórico. (LEMOS,2006, p.1). No campo religioso, uma das funções do bispo era combater o pecado, auxiliado pelo seu clero. Outra responsabilidade do bispo, era a gestão dos bens da Igreja, que eram provenientes das doações do Estado e de particulares. Além das atividades religiosas exercidas pelos bispos, estes também tinham o costume de atuar em atividades como: o envolvimento em controvérsias religiosas; participações em concílios e sínodos; atuavam como autoridade civil e produção literária. Pode-se dizer que os bispos do século IV foram os responsáveis por uma grande produção textual que ajudou a combater as heresias e refutar as práticas pagãs, estabelecendo um modelo de comportamento cristão, afirmando a identidade dos seguidores de Jesus. A escrita feita por esses intelectuais, serviu para dialogar com a autoridade imperial, defendendo o cristianismo e também para elogiar e legitimar o poder estabelecido. Eusébio de Cesaréia através de suas obras, teve um papel de destaque entre os bispos de sua época, principalmente na expansão do cristianismo. Nos escritos de Eusébio, ainda são encontrados algumas imprecisões, portanto, todos concordam que se não fosse suas obras, quase nada saberíamos sobre os três primeiros séculos da Igreja. Quanto à morte de Eusébio de Cesaréia, não se sabe o dia exato, pois o dia de sua morte é recordado no Breviário Siríaco, em 30 de maio e no Martirológico Jeronimiano, em 21 de junho. Frangiotti, coloca que o sucessor de Eusébio escreveu uma biografia do mesmo, que possivelmente poderia nos dar a informação precisa de sua morte, porém até o ano de 2000, a obra não tinha sido encontrada: “Acácio, sucessor de Eusébio na sede episcopal, escreveu-lhe uma biografia que até agora não foi encontrada”. (FRANGIOTTI, H. E., 2000, p.13). Apresentaremos um pouco sobre a obra História Eclesiástica (H.E.5). É a principal obra e talvez a mais importante para se compreender a história dos primeiros séculos do cristianismo e é a mais importante de todas as obras de Eusébio de Cesaréia. O próprio Eusébio considera sua obra História Eclesiástica, singular quando afirma em seu primeiro livro: Confesso ser tarefa acima de minhas forças o comprimento íntegro e perfeito de meu compromisso. Sou, de fato, o primeiro a empreender tal iniciativa, atravessando paragens ínvias e ainda não trilhadas. Suplico a Deus seja meu guia e a força do Senhor me preste seu concurso. (EUSÉBIO, H. E. I, 1.3) A obra compreende-se de dez livros e que não foram escritos de uma só vez, mas ao longo dos anos de 312 a 317. 5 A partir desse momento, sempre que tratarmos da obra História Eclesiástica, será feita através da abreviatura H.E. , inclusive nas citações. A partir deste momento, trataremos de especificar o objeto do nosso trabalho. Em História Eclesiástica, Eusébio de Cesaréia trata do cristianismo sobre alguns aspectos: - a sucessão dos bispos nas igrejas locais; - a história dos apóstolos; - a história das heresias; a história dos judeus; - as relações da igreja com os pagãos; - os mártires, entre outros aspectos. Na obra H.E., Eusébio de Cesaréia apresenta uma consciência da importância e da existência de uma monarquia centralizadora e a sua desejada união com uma religião centralizada. Eusébio possui a consciência de que o Cristiano é uma Religião Universal, ou seja, o Plano de Deus envolvia toda a humanidade e não somente um só povo. Para que uma religião seja universal é necessária uma História Universal, uma história que não ficaria restrita apenas em alguns povos, não sendo mais uma história de um ou de outro povo especificamente, como por exemplo, a história dos atenienses; a história dos gregos ou a história dos judeus. Devido a consciência de uma religião universal, com a exigência de uma história universal e a consciência de Eusébio sobre o universalismo, Eusébio apresenta em sua obra a cronologia do império juntamente com uma cronologia da Igreja, através de uma monarquia centralizada em todos os aspectos, e assim a história legitimando o passado cristão, atrelado ao passado imperial. Capítulo II – O que é a identidade cristã dentro da história e dentro da história antiga? Iniciaremos este capítulo, tentando definir o que é identidade cristã. Segundo o dicionário Michaelis on line, “identidade é a consciência que uma pessoa tem de si mesmo”. O conceito de identidade, é estudado pelo campo das ciências humanas, sendo é feita a discussão há pouco tempo, e que anteriormente ficava a cargo de ser discutida pela filosofia. Sabemos que ao redigir um trabalho sobre a identidade cristã, não estaremos tratando somente da religião, mas de outros aspectos como política, administração, entre outros. Esses aspectos ficam evidenciados claramente no texto de Margarida Maria Carvalho, em seu livro: Paidéia e Retórica no Século IV d. C.: A Construção da Imagem do Imperador Juliano segundo Gregório Nazianzeno e que Helena Amália Papa, brilhantemente nos apresenta em seu livro: A Contenda entre Basílio de Cesareia e Eunômio de Cizico (Séc.: IV D.C.): Afirmamos que Gregório de Nazianzeno, ao redigir seu Contra Juliano, sabia que estava, sobretudo, fazendo uma acusação só religiosa, mas concomitantemente, política [...]. É uma clara evidência que o homem romano do século IV d. C. não separava a questão política da religiosa”. (CARVALHO, 2010: 23, apud PAPA, 2013: 33-34, grifo nosso). Ao discutirmos a identidade de um grupo ou um povo, devemos saber que a identidade é criada através de elementos e de padrões culturais. Essa imposição de padrões se faz presente nas pessoas das mais diversas áreas, inclusive às pessoas ligadas à Igreja e até em funcionários leigos. Essa discussão sobre cultura é confirmada por Norberto Luiz Guarinello quando ele afirma: [...] que o estudo do Império Romano é um meio para conhecermos parte de nossa herança cultural. Este conhecimento serviria como contraponto “para avaliarmos e entendermos certas características do mundo atual e, particularmente, da posição que nós, brasileiros, ocupamos nesse mundo.(GUARINELLO, 2006, 13. apud PAPA, 2013, 30) A identidade não nasce com a pessoa, ela se adquire com o meio social em que o individuo vive, ou seja, através da cultura social, para que seja criado uma vinculação de um ser no outro, ou seja, um depende do outro. Como parte da cultura social, as práticas religiosas são consideradas como explicação politico-cultural na historiografia atual, como nos mostra Papa ao citar Aline Coutrot como referência: Hoje, as forças religiosas são levadas em consideração como fator de explicação política em numerosos domínios. Elas fazem parte do tecido político, relativizando a intransigência das explicações baseadas nos fatores sócio-econômicos. (COUTROT, 2003:331. apud PAPA, 2013: 44) Apesar da idéia citada acima ser contemporânea, Papa afirma que, “na Antiguidade, o político e o religioso estavam intrinsecamente relacionados” (PAPA, 2013: 44) Antes de “tentarmos” definir o que é identidade cristã, é importante dizer que a construção da identidade cristã é o resultado de um amplo processo de negociação e renegociação emergidas de conflitos sociais e que marcou o mundo tardio de Roma. Segundo Papa (2013), Carvalho mostra que após cartas, fica explicito que o homem do século IV não separava o político do religioso e vice-versa e sobre a unidade da fé e a unidade política, Papa cita Carvalho: O teólogo era, na época, aquele que tinha condições de conhecer os mistérios de Deus. Sendo assim, além de filósofos, os padres se consideravam teólogos, porque somente eles eram preparados para expor a doutrina do cristianismo. Curiosamente, se consideravam helenistas e teólogos e, com base no entrosamento de seus estudos helênicos e canônicos, pregavam a racionalização da fé e através dela, uma unidade política que deveria ser consubstanciada em forma de unidade imperial. (CARVALHO, 2010:78-9- grifo meu. apud PAPA, 2013: 51) Na perspectiva do processo de construção da identidade cristã do mundo tardio, Eusébio destaca em sua obra, História Eclesiástica, a intenção de separar e de definir claramente, os cristãos e os pagãos, baseando-se na diferença existente entre os mesmos, para a construção da identidade cristã, o que fica evidenciado na passagem a seguir: (...) quantos, quais, em que tempo os ataques dos pagãos contra a palavra divina; os grandes varões que, em várias épocas, por ela suportam suplícios e combateram até o derramamento do sangue; sobretudo, e entre nós, os testemunhos prestados e a benevolência misericordiosa do Salvador para conosco – tudo isso julguei conveniente transmitir por escrito. (EUSÉBIO, H.E. I – 1.2) Analisando a obra H.E. , podemos ver que Eusébio de Cesaréia intencionava a separação dos cristãos e pagãos, conforme citação acima, pois havendo essa separação, ficaria mais fácil construir a identidade, utilizando-se da cultura, conforme mostramos no inicio deste capítulo. Eliton Almeida da Silva, se apropria das conclusões de Stuart Hall, ao qual destaca existir três tipos de identidades que são baseadas: - no sujeito do iluminismo; - no sujeito sociológico; e no sujeito pós-moderno. Abaixo apresentaremos uma definição histórica da identidade, porém pós-modernista e que não fica presa somente à definição cultural ou biológica. Essa definição nos é apresentada por Eliton Almeida da Silva, utilizando-se do texto de Stuart Hall: Dentro de nós há identidade contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas [...]. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. (HALL, 2006, p.13. apud SILVA, 2013, p. 256) No sentido pós-modernista, a questão da identidade na Antiguidade Tardia, Eliton Almeida da Silva, de acordo com Miles, afirma que é “um tema atual na historiografia, inserido tanto no movimento de renovação da História Cultural quanto da História Política. Dessa forma, de acordo com Eliton Almeida da Silva, entendemos que o discurso de Eusébio de Cesaréia, como uma fonte, ainda não foi suficientemente dissecada pelo historiador do século XXI, no sentido da construção da identidade na Antiguidade Tardia. Em uma tentativa de definirmos o que é identidade, nos apoiamos na definição feita por Zymut Bauman (2005, p.83), e apresentada a nós por Alex Degan: A identidade – sejamos claros sobre isso – é um “conceito altamente contestado”. Sempre que se ouvir essa palavra, podese estar certo de que está havendo uma batalha. O campo da batalha é o lar natural da identidade. Ela só vem à luz no tumulto da batalha, e dorme e silencia no momento em que desaparecem os ruídos da refrega”. (BAUMAN, 2005, p.83. apud DEGAN, 2009, p.218) Utilizando da metáfora “batalha” apresentada na definição de Bauman, pode-se dizer que Eusébio de Cesaréia em História Eclesiástica, mostra que a identidade cristã se definiu na batalha do cristianismo contra os pagãos, os hereges, entre outros. Dessa forma, para a criação da identidade, existe a necessidade de uma vinculação de um ser ao outro, ou seja, um depende do outro, tanto no meio cultural, quanto no meio social em que vivem. Neste sentido entendemos que a identidade está sempre se alterando, ou melhor, se reconstruindo, de acordo com o tempo em que está sendo questionada. Capítulo III – A Identidade Cristã presente na História Eclesiástica, de Eusébio de Cesaréia. Para se pensar em identidade cristã, deve-se pensar antes nos conflitos existentes no período em que se está trabalhando. Para se entender as perseguições e o martírio citaremos uma passagem de História Eclesiástica e que nos ajuda entender que a perseguição e a possibilidade do martírio, permite ao cristão fortalecer sua fé, tornando-se o elemento que o diferencia e o identifica diante de toda sociedade. Naquele mesmo tempo – sem dúvida sob Cláudio – começou o rei Herodes a maltratar alguns membros da igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. A respeito desse Tiago, Clemente traz, no sétimo livro das Hypotyposes, uma história memorável, conforme recebera da tradição de seus antecessores. Declara que aquele que o conduzira ao tribunal ficou comovido vendo-o testemunhar e confessou ser também ele cristão. Ambos, diz ele, foram levados ao suplício, e ao longo do caminho o delator pediu a Tiago que o perdoasse. Tiago refletiu um pouco e lhe disse: ‘A paz esteja contigo’; e beijou-o. os dois foram simultaneamente decapitados. Então também, segundo afirma a divina Escritura, Herodes, vendo que com a morte de Tiago agradara aos judeus, atacou igualmente a Pedro e o pôs em cadeias. (EUSÉBIO, H. E. II, C. 9) A crueldade existentes nas perseguições e martírios, era muito cruéis, conforme podemos ver a seguir: Prenderam em primeiro lugar um ancião chamado Metras e ordenaram-lhe repetir palavras atéias. Como ele não obedecesse, feriram-lhe o corpo com bastonadas, furaram-lhe o rosto e os olhos com canas pontiagudas; depois levaram-no a um arrabalde e o apedrejaram. Depois, levaram certa fiel, denominada Quinta, ao templo dos ídolos para obrigá-la a adorar. Ela recusou e demonstrou horror. Amarraram-na então pelos pés, e arrastaramna por toda a cidade sobre o duro pavimento, jogando-a contra pedras de moinho, e surrando-a simultaneamente; depois conduziram-na ao mesmo lugar supracitado e a apedrejaram. (EUSÉBIO, H.E. VI, C. 41, 3-4) Mas também se apoderaram de Apolônia, virgem já idosa, extremamente admirável. Depois de lhe tirarem todos os dentes batendo no maxilar, levantaram uma fogueira diante da cidade e ameaçaram queimá-la viva, se não repetisse as ímpias fórmulas. Ela, porém, recusou brevemente; depois, recuando um pouco, lançou-se com vivacidade no fogo e foi consumida. Ainda prenderam Serapião em sua casa, infligiram-lhe duros suplícios, partiram-lhe as articulações dos membros, e o jogaram do aposento superior, de cabeça para baixo. Não havia estrada, nem passagem, nem atalhos acessíveis, nem de dia nem de noite; sempre e em toda parte gritavam todos: Quem não pronunciar as palavras blasfemas, seja imediatamente morto e queimado. EUSÉBIO, H.E. VI, C. 41, 7-8) A violência e a crueldade contidas nos martírios citados acima, perdurou durante muito tempo, porém, a revolução atingiu os que praticavam essa violência e uma guerra civil fez cair sobre eles a crueldade empregada contra os cristãos. Segundo Eusébio de Cesaréia, Dionísio lembra outros mártires do cristianismo que em um grande numero foram estraçalhados pelos pagãos ,e nos mostra como os mesmos se encontram: Deste modo, nossos santos mártires, agora sentados ao lado de Cristo, partícipes de seu reino, que julgam com ele e com ele proferem a sentença, tornaram-se os protetores de alguns irmãos lapsos, que deveriam prestar contas sobre a acusação de sacrifício; verificando sua conversão e penitencia e considerando que esta poderia ser aceitável àquele que absolutamente não quer a morte do pecador, mas seu arrependimento, eles os acolheram, congregaram, reuniram e participaram de suas orações e refeições. (EUSÉBIO, H.E. VI. C. 42, 5) Um exemplo muito emblemático, de como a perseguição e o martírio assumem um papel na construção da identidade cristã ao ponto de que a coesão do grupo existente pode ficar ameaçada quando uma comunidade cristã vivencia um período sem perseguições e conflitos, ou seja, vivencia um período de paz e tranqüilidade. Mas, a inteira liberdade degenerou um relaxamento e descuido. Nós nos invejávamos, injuriávamos mutuamente, e quando havia oportunidade, pouco faltava para que nos combatêssemos com as armas, ou com as lanças das palavras; os chefes em desavença com os chefes, o povo contra o povo. A maldita hipocrisia e a dissimulação haviam atingido o mais alto grau de malícia. Então, como habitualmente, o juízo de Deus, que governava com suavidade e medida, era protelado (ainda se reuniam as assembléias). Foi entre os irmãos que pertenciam ao exército que começou a perseguição. (EUSÉBIO, H. E. VIII, C. 1.7,) No entendimento de Marcus Silva da Cruz (ANPUH- Fortaleza, 2009, p.5): “O principal desafio enfrentado pela identidade cristã no IV século é aquele representado pela identidade pagã”. Os dois padrões de identidade não eram só construídos a partir da Paidéia grego-romana, como também disputavam a condição de legítimos herdeiros da herança. Apesar das dúvidas na construção da identidade cristã, no século, no entanto, não só apropriou da Paidéia grego-romana, como também cristianizou a Paidéia grego-romana. Eusébio especialmente descreve Orígenes, que é uma figura muito emblemática desse processo: Tão importante era para Orígenes o estudo muito acurado da Palavra de Deus, que aprendeu também a língua hebraica e adquiriu a posse de originais das Escrituras conservadas entre os judeus, em caracteres hebraicos”. (EUSÉBIO, História Eclesiástica, VI, C.16.1,). “Podem atestar seus êxitos nestas matérias os próprios filósofos gregos que floresceram em seu tempo, e em cujos escritos encontramos menções numerosas de Orígenes. Dedicam-lhe seus próprios escritos ou, como a um mestre, submetem-lhe seus trabalhos pessoais para que os julgue”. (EUSÉBIO, História Eclesiástica, VI, C. 19.1,). “ Efetivamente, seguia em tudo Platão; lia frequentemente os escritos de Numênio, Crônio, Apolófanes, Longino, Moderato, Nicômaco e dos homens ilustres entre os pitagóricos; utilizava também os livros do estóico Queremão e de Cornuto; aprendeu deles a interpretação alegórica dos mistérios gregos, que aplicou às Escrituras judaicas. (EUSÉBIO, H. E., VI, C.19.8, ) Nesta última passagem, Eusébio deixa claro que Orígenes conservou-se fiel à doutrina de Cristo recebida de seus antepassados e, fazendo-o um modelo de identidade para o cristão, especialmente para aquele da elite intelectualizada; pois de um lado, Orígenes é um profundo conhecedor da Paidéia Grego-Romana e por outro lado, muito dedicado ao estudo das Escrituras, ampliando seu conhecimento e compreensão das mensagens evangélicas. Outro aspecto que interfere na construção da identidade cristã, são as heresias, ou seja, o combate às heresias pois, a heresia questiona a identidade cristã a partir do interior da própria comunidade. Isso pode ser percebido através da descrição que Eusébio fez sobre a heresia Ebionita: Julgavam dever absolutamente observar a Lei porque, em sua opinião, não se salvariam somente pela fé em Cristo e uma vida de acordo com a mesma fé. Além destes, porém, existiam outros, com a mesma denominação, mas isentos da supramencionada loucura estranha. Não negavam que o Senhor nascera de uma virgem e do Espírito Santo (...) (EUSÉBIO, H. E, III, C. 27.2; 27.3,) Eusébio de Cesaréia, traz em sua obras, História Eclesiástica, muitos exemplos de heresias mas, uma passagem nos chamam a atenção pela descrição que Dionísio faz em sua carta para Sisto, sucessor de Estevão, onde narra sobre os hereges sabelianos, que eram influentes naquela época: Recentemente surgiu uma doutrina em Ptolemaida da Pentápole, doutrina ímpia e sumamente blasfema contra Deus todopoderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, doutrina assaz incrédula sobre seu Filho único, primogênito de toda criatura, o Verbo que se fez homem, doutrina, doutrina completamente insensata contra o Espírito Santo. (EUSÉBIO, H.E, VII, C. 6) Assim, como o titulo deste capitulo nos enuncia, estamos tentando identificar os pontos na obra H.E., de Eusébio de Cesaréia que apresentam e nos permitem entender como é a questão da identidade cristã para Eusébio de Cesaréia. Em várias passagens, Eusébio apresenta aspectos de como construir a Identidade Cristã e, na passagem a seguir, Eusébio nos mostra que o objetivo foi construir a identidade baseando-se na diferença: (...) quantos, quais, em que tempo os ataques dos pagãos contra a palavra divina; os grandes varões que, em várias épocas, por ela suportavam suplícios e combateram até o derramamento do sangue; sobretudo, e entre nos, os testemunhos prestados e a benevolência misericordiosa do Salvador para conosco – tudo isso julguei conveniente transmitir por escrito. (EUSÉBIO, H.E. , I. 1.2) No aspecto das perseguições, até mesmo as comunidades cristãs definiam suas identidades a partir das perseguições, principalmente por seus mártires. Para eles, ser cristão seria fazer parte de um grupo constantemente pela probabilidade da perseguição e do martírio, e nesse sentido, a identidade se identifica em alguns aspectos com as perseguições, mas também se identifica na coletividade. Em nossa opinião, existe uma mudança de visão de Eusébio de Cesaréia a respeito do modelo de identidade cristã após a conversão de Constantino ao cristianismo, pois o maior perseguidor dos cristãos, o imperador, passou a ser o principal benfeitor. Eusébio responde ao desafio do questionamento da identidade cristã representada pelas heresias, de forma muito clara e inequívoca. A sucessão apostólica, iniciada por um dos apóstolos é que garante a continuidade da doutrina e da fé cristã. Não é fácil dizer quantos discípulos houve e quais se tornaram verdadeiramente zelosos a ponto de serem considerados capazes, depois de comprovados, de apascentar as Igrejas fundadas pelos apóstolos, exceto aqueles cujos nomes é possível recolher dos escritos de Paulo. (EUSÉBIO, H. E.,III, C. 4.3,) A identidade cristã apresentada por Eusébio de Cesaréia, se construiu através das perseguições e dos martírios vividos pela força da fé, pela força do medo, porém, Eusébio faz de Orígenes um modelo de identidade para o cristão, pois de um lado, Orígenes é um profundo conhecedor da Paidéia grego-romana, e de outro lado, se dedicou ao estudo das Escrituras, ou seja, aplicou os seus conhecimentos para ampliar a compreensão da mensagem evangélica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Eusébio de Cesaréia, nasceu entre 260 e 265 e morreu em 339. Se tornou bispo em 311 e é conhecido como o “Pai da História Igreja”6 e um defensor da doutrina cristã do Arianismo7. Segundo Helena Amália Papa, Eusébio de Cesaréia, na historiografia é considerado semi-ariano, mesmo defendendo a doutrina ariana, por que: “[...] esse Bispo ora apresentou aceitar a consubstancialidade entre Pai e Filho e ora a defender a semelhança entre ambos” (PAPA, 2013, p.63). Eusébio de Cesaréia foi incansável na atividade de escrever, enriquecendo a biblioteca fundada por Orígenes, em Cesaréia. Eusébio fez seus estudos com um sacerdote de Antioquia, Doroteu, e depois concluiu com o sábio Pânfilo8. Por ter sido defensor e partidário do arianismo, foi excomungado em 324, mas reabilitou-se em 325, e participou com grande importância política, do Concilio de Nicéia - que foi presidido pelo Imperador Constantino. O símbolo-credo de Eusébio era o da sua própria Igreja (que era considerado ortodoxo), tinha o seguinte teor: 6 - Eliton Almeida da Silva, 2013, p. 256 - Ário nasceu em 256, na Líbia, se tornou sacerdote em 312, aproximadamente, e esteve à frente da Igreja de Baucalis, no Egito. Arianismo é a filosofia defendida por Ário que defendia a idéia de um Deus Único e que, Jesus Cristo, por ter sido homem e ter morrido, não era divino. Dessa forma, apenas Deus é onipotente, o criador, ou seja, o Único e Ário também tinha a preocupação do monoteísmo no cristianismo. 8 - Pânfilo foi um dos mais ardorosos seguidores de Orígenes e que foi preso por Domiciliano em 307, durante a perseguição ocorrida entre 303 -311, e quando Eusébio o acompanhou para demonstrar amizade e fidelidade, quando compuseram uma Apologia em favor de Orígenes. 7 Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas às coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Luz da Luz, Vida da Vida, Filho unigênito, primogênito de toda criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvação e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos; cremos também em um só Espírito santo. (FRANGIOTTI, 2000, p. 11) Eusébio propôs um símbolo de fé conciliatório entre as duas vertentes do cristianismo existentes no concilio, demonstrando o seu lado político, porém recusou-se à assinar o símbolo de fé, pois o mesmo possuía em seu conteúdo o texto “consubstancial ao Pai”. Após o concílio de Nicéia, Eusébio continuou ao lado de Ário e articulou para depor as sedes episcopais que defendiam a “consubstancialidade do Verbo com o Pai”, como por exemplo o bispo Asclepíades, de Gaza, que foi deposto em 326. Também participou em 330 do Sínodo de Antioquia, que depôs o bispo Eustácio, e cinco anos depois participou do sínodo de Tiro, sentenciando-se a deposição e o exílio de Santo Atanásio. De espírito universal, foi o bispo mais erudito de sua época, com escritos nas diversas áreas, e também defensor e desenvolvedor da idéia de Império Cristão, tornando-se um bispo apoiado pelo Estado. Eusébio de Cesaréia, além de ser defensor do cristianismo, foi um escritor de grande importância no seu tempo e também, um político muito influente, sendo também uma figura muito polêmica. Vimos neste trabalho que a identidade na Antiguidade Tardia deve ser entendida como algo em constante transformação por causa dos constantes conflitos internos e externos à igreja cristã. Entendemos que o objetivo desse trabalho foi atingindo, quando vimos a importância fundamental dos escritos de Eusébio de Cesaréia em relação a construção da identidade dos cristãos, com a importante contribuição do Imperador Constantino. Fechando este trabalho, consideramos todos os conceitos possíveis, de diversos autores citados e utilizamo-nos de uma passagem que Frangiotti nos apresenta:”Ainda hoje cristãos de todas as tendências se reportam à Igreja Primitiva como um “encanto”, para encontrar nela uma fé fundamental, pura, exemplar”. (FRANGIOTTI, H.E. 2000, p.8). Essa passagem apresenta que sempre que queremos discutir sobre identidade, sempre nos apoiamos à Igreja Primitiva, vivida por Eusébio de Cesaréia, no século IV. Também consideramos que, a identidade do cristianismo está sempre mudando, ou seja, sempre em reconstrução, desde o inicio do cristianismo até o nosso tempo. REFERENCIAS BROWN, Peter. A ascensão do cristianismo no ocidente. Coleção dirigida por Jacques Legohff. Editorial Presença. Traduzido por Eduardo Nogueira, 1ª Edição, Lisboa. Novembro 1999. BURROW, John. Eusébio: a criação da ortodoxia e a Igreja triunfante. In: Uma História das Histórias – de Herótodo e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro, Record, 2013. CRUZ, Marcos Silva da. Religião e Identidade no discurso historiográfico do IV século: Eusébio de Cesaréia e Amiano Marcelino, In: ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História , Fortaleza, 2009. DEGAN, Alex. A Identidade Incômoda: Uma Proposta de Leitura do Bellum Judaicum de Flávio Josefo. In: Politéia: Hist. e Soc., Vitória da Conquista, v.9, n.1, p.213-237, 20089. FRANGIOTTI, Roque. Apresentação . In História Eclesiástica, Coleção Patrística, Editora Paulus, São Paulo – S.P, 2000. FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (séculos I-VII); Conflitos Ideológicos dentro do Cristianismo; Editora Paulus; 5ª Edição, São Paulo, S.P.; 2007 FRIGHETTO, Renan. A Antiguidade Tardia: Roma e as Monarquias RomanoBarbaras : Numa época de transformações – Séculos II –VIII. Juruá Editora. Curitiba. 2012 JAEGER, Werner. Cristianismo Primitivo e Paideia Grega. Edição 70, Lisboa, Portugal. In: Perfil, História das Ideias e do Pensamento. LEMOS, M.S. As relações de poder entre o Estado Romano e a Igreja: uma história de conflito e conciliação. Revista Bras. De Hist. Das Religiões. 2013 LEMOS, Márcia Santos. O Episcopado Cristão no Império Romano do século IV: Práticas cotidianas e Ação Política. In: ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – Caetité: Univ. 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