Este trabalho insere-se num projeto de investigação mais amplo

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Este trabalho insere-se num projeto de investigação mais amplo, cujo foco é a
articulação entre pensamento social brasileiro e teoria social. A hipótese que guia o
projeto diz respeito à necessidade de tratarmos o pensamento brasileiro como uma
forma dentre outras de imaginação social produzida no chamado Sul Global. Neste
sentido, procuro articular um clássico objeto das nossas ciências sociais – os estudos
sobre o ensaísmo e as chamadas interpretações do Brasil – a debates contemporâneos no
campo da teoria social, em especial aqueles referentes ao processo de descentramento
do conhecimento sociológico.
O paper apresentado à ANPOCS procura apresentar resultados parciais da
pesquisa “Terra, autonomia e imaginação periférica: descentrando o pensamento social
brasileiro”, financiado pela FAPERJ para o ano de 2011 (APQ1). Esta pesquisa toma
como objeto dois intelectuais exemplares do pensamento brasileiro, Euclides da Cunha
e Guerreiro Ramos, com o objetivo de analisar suas produções intelectuais à luz de
outros casos nacionais em que a terra e a autonomia, temas caros a esses pensadores,
também foram relevantes. Assim, o projeto opta por inserir Euclides no debate
periférico sobre as relações entre questão agrária e capitalismo na virada do século XIX
par ao século XX, com destaque para o caso russo. Já Guerreiro Ramos é comparado ao
sociólogo malaio Syed Hussein Alatas (1928-2007), que também publicou muitas obras
sobre o tema da autonomia do pensamento nas ciências sociais. Espera-se provar a
hipótese de que esse exercício de descentramento pode contribuir para termos um novo
ângulo analítico a respeito de intelectuais e temas clássicos no pensamento brasileiro.
O paper é focado especialmente no caso de Guerreiro Ramos. Como a pesquisa
ainda está em andamento, o objetivo geral do texto será apresentar a cartografia
intelectual deste universo da sociologia periférica entre os anos de 1950 e 1970,
destacando eixos analíticos, intelectuais e referências comuns. Como se sabe, o discurso
estabelecido sobre esse período histórico, disponível em manuais e textos canônicos,
destaca a consagração do estrutural-funcionalismo parsoniano no Hemisfério Norte e
sua exportação para o resto do mundo, com as teorias do conflito e o marxismo
operando como contrapontos desse discurso. Quase nada é dito sobre como a sociologia
na América Latina e em outros contextos reagiu criticamente a essa exportação,
produzindo outras linguagens sociológicas que não costumam habitar esse discurso
mainstream.
Assim, o texto conclui com uma análise de como a obra de Guerreiro Ramos
pode ser relida como parte de um capítulo importante na história global da sociologia.
Isto é, trata-se de analisar o pensamento brasileiro à luz de sua inserção em redes
intelectuais transnacionais.
Esta abordagem não é de todo inédita. Na bibliografia sobre o autor, vários
trabalhos já apontaram as conexões entre a produção do sociólogo baiano e as obras de
Franz Fanon, George Balandier e outros autores relacionados ao momento da
descolonização (Oliveira, 1995; Bariani, 2008; Abranches, 2006; Barbosa, 2006).
Entretanto, a literatura não explorou a fundo as implicações desse parentesco para nossa
própria compreensão do que seja o pensamento brasileiro e qual o seu lugar no mundo.
Além disso, creio que há outros intelectuais e sociólogos que fizeram parte dessa
história transnacional que merecem ser destacados, para além dos exemplos clássicos de
Fanon e Balandier.
Em termos metodológicos, ressalte-se que o campo do pensamento brasileiro
tem bons exemplos de trabalhos que situaram o pensamento brasileiro nesse contexto
transnacional, como é o caso do estudo de Marco Chor Maio (Maio, 1997) sobre o
projeto UNESCO, ou a pesquisa de Sérgio Miceli sobre o modernismo brasileiro
(2003). Mais recentemente, o projeto coletivo que envolve pesquisadores argentinos e
brasileiros deu ainda mais fôlego a esses esforços (Altamirano, 2008). Espero que este
paper contribua para esse acúmulo de investigações e pesquisas.
BIBLIOGRAFIA
ABRANCHES, Aparecida M. Nacionalismo e democracia no pensamento de Guerreiro
Ramos. Tese de doutoramento apresentada ao programa de pós-graduação em Ciência
Política do IUPERJ. Rio de Janeiro, 2006.
ALTAMIRANO, C.; MEYRES, J; MICELI, S. Historia de los intelectuales em
America Latina. Buenos Aires, Katz, 2008
BARBOSA, Muryatan S. “Guerreiro Ramos: o personalismo negro”. In Tempo Social.
Vol. 18, n.2, pp. 217-228, 2006.
BARIANI JUNIOR, Edson. Guerreiro Ramos e a Redenção Sociológica: Capitalismo e
Sociologia no Brasil. Tese de doutoramento apresentado ao Programa de PósGraduação em Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Edison Bariani
Junior, 2008.
MAIO, Marco Chor. A história do projeto UNESCO. Relações raciais e ciências sociais
no Brasil. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Sociologia do IUPERJ. Rio de Janeiro, 1997
MICELI, Sérgio. Nacional estrangeiro: história social e cultural do modernismo
artístico em São Paulo. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
OLIVEIRA, Lucia Lippi. A sociologia do Guerreiro. Rio de Janeiro, Ed UFRJ, 1995.
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