ISSN: 1981-8963 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. DOI: 10.5205/reuol.9881-87554-1-EDSM1011201635 Perfil de mulheres com câncer de mama tratadas... ARTIGO ORIGINAL PERFIL DE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA TRATADAS COM QUIMIOTERAPIA PROFILE OF WOMEN WITH BREAST CANCER TREATED WITH CHEMOTHERAPY EL PERFIL DE LAS MUJERES CON CÁNCER DE MAMA TRATADAS CON QUIMIOTERAPIA Taliana da Silva Gomes Oliveira1, Rhyquelle Rhibna Neris2, Luana Nunes Trepin dos Santos3, Roseli Gabriel Teixeira4, Patricia Magnabosco5, Anna Cláudia Yokoyama dos Anjos6 RESUMO Objetivo: caracterizar o perfil sociodemográfico, epidemiológico e clínico de mulheres com câncer de mama tratadas com quimioterapia. Método: estudo descritivo-exploratório, de natureza quantitativa, desenvolvido no hospital universitário com 195 mulheres. Foram coletadas informações do formulário de anotações de enfermagem utilizado no Processo de Enfermagem, dos prontuários e do Sistema de Informação Hospitalar (SIH). Os dados foram digitados em planilha do Excel, empregado o teste Qui-quadrado, considerando significância p < 0,05. Resultados: idade média 54,37 anos; raça branca (69,74%). História ginecológicoobstétrica: (43%) uso de anticoncepcional, (87,69%) tiveram filhos; (15,9%) menarca precoce, (3,58%) menopausa tardia. Hábitos de vida: elevada incidência de sobrepeso e obesidade (45,12%). As variáveis menopausa tardia e obesidade apresentaram significância estatística (p<0,011). Houve predominância de tratamento adjuvante (59%); esquema quimioterápico FAC com (37,43%); estadiamento níveis: IIA (17,43%) e IIIB (17,43%). Conclusão: estudos como este, possibilitam ações de saúde planejadas em todos os níveis de atenção e consequentemente promoção de melhores condições de vida para populações-alvo. Descritores: Neoplasias da Mama; Fatores de Risco; Quimioterapia; Enfermagem Oncológica. ABSTRACT Objective: to characterize the sociodemographic, clinical and epidemiological profile of women with breast cancer treated with chemotherapy. Method: descriptive-exploratory study, with quantitative approach, developed at the university hospital with 195 women. There was collection of the information from the nursing notes form used in the nursing process, the medical records and the Hospital Information System (HIS). Data were entered in Excel spreadsheet, used the chi-square test, considering p < 0.05. Results: mean age 54.37 years; Caucasians (69.74%). Gynecological and obstetrical history: (43%) contraceptive use, (87.69%) had children; (15.9%) early menarche, (3.58%) late menopause. Living habits: high incidence of overweight and obesity (45.12%). The late menopause and obesity variables were statistically significant (p<0.011). There was a predominance of adjuvant treatment (59%); FAC chemotherapy regimen with (37.43%); staging levels: IIA (17.43%) and IIIB (17.43%). Conclusion: studies like this enable health actions planned at all levels of attention and thus promote better living conditions for the target populations. Descriptors: Breast Neoplasms; Risk Factors; Chemotherapy; Oncology Nursing. RESUMEN Objetivo: caracterizar el perfil sociodemográfico, clínico y epidemiológico de las mujeres con cáncer de mama tratadas con quimioterapia. Método: estudio exploratorio-descriptivo, cuantitativo, desarrollado en el hospital universitario con 195 mujeres. Fueron recogidas las informaciones del formulario de notas de enfermería utilizado en el proceso de enfermería, los registros médicos y el Sistema de Información Hospitalaria (SIH). Los datos fueron introducidos en la hoja de cálculo Excel, utilizada la prueba de chicuadrado, considerando p < 0,05. Resultados: la edad media 54,37 años; Caucásicos (69,74%). Historia ginecológica y obstétrica: (43%) uso de anticonceptivos, (87,69%) tenían niños; (15,9%) menarquia temprana, (3,58%) menopausia tardía. Hábitos de vida: alta incidencia de sobrepeso y obesidad (45,12%). Las variables de la menopausia tardía y obesidad fueron estadísticamente significativas (p<0,011). Hubo un predominio de tratamiento adyuvante (59%); régimen de quimioterapia FAC con (37.43%); los niveles de estadificación: IIA (17,43%) y IIIB (17,43%). Conclusión: los estudios de este tipo permiten a las acciones de salud previstos en todos los niveles de atención y de este modo promover mejores condiciones de vida para las poblaciones objetivo. Descriptores: Neoplasias de la Mama; Factores de Riesgo; Quimioterapia; Enfermería Oncológica. 1 Enfermeira, Universidade Federal de Uberlândia/UFU. Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeira, Residente do Programa de Residência Multiprofissional Atenção em Oncologia da Universidade Federal de Uberlândia/UFU. Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 3Enfermeira, Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais - Hemominas. Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeira, Doutora em Ciências, Professor Adjunto I da Faculdade de Medicina no Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia/UFU. Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Enfermeira, Professora Doutora em Ciências, Faculdade de Medicina, Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Uberlândia/UFU. Uberlândia (MG), Brasil. E-mail: [email protected] Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(11):4097-103, nov., 2016 4097 ISSN: 1981-8963 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. INTRODUÇÃO No Brasil, as estimativas para o ano de 2016, também válidas para o ano de 2017, apontam para ocorrência de aproximadamente 600 mil casos novos de câncer, demonstrando a magnitude do problema do câncer no país. Dentre os tipos mais incidentes de câncer entre brasileiras, destaca-se o câncer de mama (CM), correspondendo a 58 mil casos novos, sendo o tipo predominante na região Sudeste.1 A compreensão dos fatores relacionados à incidência do câncer necessita investigação minuciosa. No câncer de mama, estes fatores relacionam-se principalmente à vida reprodutiva da mulher, como menarca precoce, nuliparidade, primeira gestação a termo acima dos 30 anos, menopausa tardia e terapia de reposição hormonal (TRH).2 Apesar do uso de anticoncepcional (ACO) ser considerado, por alguns pesquisadores, como um fator de risco (FR), outros pesquisadores não evidenciaram esta associação.3 A idade é o FR mais importante; a exposição aos demais fatores é cumulativa, portanto, o risco para desenvolver câncer aumenta principalmente com a idade.2 A prevenção primária dessa neoplasia é um campo de pesquisa e de intervenções bastante promissor, tendo em vista que cerca de 30% dos casos de CM podem ser evitados por medidas como uma alimentação saudável, prática de atividade física regular e manutenção do peso ideal. No Brasil, as recomendações do Ministério da Saúde, para detecção precoce e diagnóstico, baseiam-se no Controle do câncer de mama: Documento de Consenso, de 2004.1 Neste estudo foi estabelecido como objetivo caracterizar e monitorar o perfil sócio-demográfico-epidemiológico e clínico de pacientes com câncer de mama, de um serviço público de ensino, para planejamento de ações nos diferentes níveis da assistência, assim como analisar e discutir os dados coletados com a literatura científica disponível. A caracterização possibilita conhecer parte de uma população, permitindo o monitoramento e controle das tendências na incidência do CM, assim como fornece informações para a comparação com outros estudos, relacionados a variações geográficas nos padrões desta neoplasia. Os resultados servirão como fonte de informações para futuras pesquisas que, poderão interferir em processos associados à prevenção, ao desenvolvimento e tratamento da doença, assim como colaborar no desenvolvimento de Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(11):4097-103, nov., 2016 DOI: 10.5205/reuol.9881-87554-1-EDSM1011201635 Perfil de mulheres com câncer de mama tratadas... políticas de saúde para o diagnóstico precoce, oportunizando melhores condições de tratamento e consequente qualidade de vida e de saúde. Para o efetivo planejamento e implementação de ações que contribuirão com este processo, é necessário conhecer os fatores de risco existentes e aqueles que predominam em determinada população, para posteriormente propor mudanças, por exemplo, nos aspectos individuais e coletivos dependentes de cada indivíduo. Frente ao exposto, considerando que o Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável pela maioria dos atendimentos de pacientes oncológicos, ressalta-se a importância de caracterizar a população atendida em serviços públicos especializados, investigando os fatores associados à ocorrência da doença, assim como os aspectos relacionados ao tratamento, que subsidiarão ações profissionais voltadas à prevenção, diagnóstico e tratamento. OBJETIVO Caracterizar o perfil sociodemográfico, epidemiológico e clínico de mulheres com câncer de mama tratadas com quimioterapia. MÉTODO Estudo descritivo e exploratório, de natureza quantitativa, relativo aos prontuários de 195 pacientes com diagnóstico de CM, participantes do Projeto de Extensão Sistematização da Assistência de Enfermagem ao Paciente em Tratamento Quimioterápico Antineoplásico, desenvolvido no período de fevereiro/2009 a fevereiro/2011, no Setor de Oncologia de um Hospital Universitário no Estado de Minas Gerais/MG. Foram coletadas informações do formulário de anotações de enfermagem utilizado no PE, dos prontuários e do Sistema de Informação Hospitalar (SIH), relativas às características sociodemográficas, fatores de risco para o câncer de mama relacionado à história reprodutiva, comorbidades e hábitos de vida; idade no momento do diagnóstico, cor da pele; procedência; estadiamento clínico e/ou cirúrgico do tumor, terapêutica oncológica e presença de fatores de risco. Os dados foram digitados em planilha do Excel. Para determinar o índice de significância estatística entre a distribuição de duas variáveis, foi utilizado o teste Quiquadrado, considerando significância p < 0,05. Os resultados estão apresentados de maneira descritiva e foram discutidos com outros resultados da literatura. 4098 ISSN: 1981-8963 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos (CEP), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) - parecer n° 479/11 em 12/08/2011. RESULTADOS A idade média da população estudada foi de 54,37 anos. Observou-se maior incidência do CM na faixa etária entre 40 e 69 anos, totalizando 156 casos do total de 195. Como resultado do cruzamento entre as variáveis estadiamento clinico e faixa etária revelou p=0,829, mostrando que não houve diferença estaticamente significativa para as mesmas. Percebe-se que o maior percentual dos casos foram diagnosticados nos estadios II(81,1%) e III(76%), ambos prevalecendo entre os intervalos de idade de 24-49 anos e 50-59 anos. Os estádios encontrados, no período de diagnóstico da doença, foram respectivamente: IIA (17,43%), IIIB (17,43%), IIIA (16,41%), IIB (14,87%), I (12,30%), IA (3,58%), II (2,56%), IV (2,56%) e, em 25 (12,82%) prontuários o estadiamento não estava disponível para coleta desta informação. Quanto à cor e raça, houve predominância da cor branca, contabilizando 136 pacientes (69,74%), seguida da cor parda 40 (20,51%) e negra 19 (9,74%). Dentre as mulheres participantes da pesquisa, a maioria era procedente de Uberlândia, 131 (67%), cidade sede do presente estudo; 64 mulheres (33%) eram de outras cidades. A avaliação referente à ocupação destas mulheres não foi fidedigna, tendo em vista que no prontuário de 121 participantes (71,3%) a informação não foi registrada. Nas anotações disponíveis, 40 (20,51%) mulheres eram do lar e 16 (8,2%) mulheres eram DOI: 10.5205/reuol.9881-87554-1-EDSM1011201635 Perfil de mulheres com câncer de mama tratadas... aposentadas. Desta forma, infere-se que, dentre as informações coletadas relacionadas ao trabalho e renda, foi observada falta de recurso financeiro próprio ou renda proveniente de aposentadoria, o que normalmente está vinculado a rendimento abaixo do adequado para sobrevivência com qualidade. Na análise dos FR, incluiu-se a paridade, a média de gestações (G) por mulher foi de 3,01. Conforme informações coletadas, 171 (87,69%) mulheres haviam tido filhos. Em relação à menarca, a idade média foi de 13,02 anos, ocorrendo em apenas 15,9% das mulheres; a menarca tardia em 66,67%, considerada após os 12 anos de idade; assim, pode-se afirmar que a menarca precoce também não constituiu FR predominante para o CM. Quanto à idade média de ocorrência da menopausa das mulheres foi de 47,25 anos, quando iniciado o tratamento para o CM. A menopausa tardia (a partir dos 55 anos) é considerada como um FR para o CM, apenas 2(3,58%) mulheres apresentaram este FR. Conforme análise das variáveis menopausa e menarca, o presente estudo mostrou prevalência da menopausa não tardia, tanto para mulheres com menarca antes dos 12 anos como para as ≥ 12 anos, não havendo significância estatística (p=0,169) para estas variáveis. A obesidade esteve presente em 61 (31,28%) mulheres; e outras 27 (13,84%) apresentaram sobrepeso. Ao considerar a somatória das mulheres com excesso de peso e as que apresentavam obesidade, totalizaram 45,12%. Tabela 1. Distribuição das variáveis menopausa e obesidade, estudo. Menopausa Obesidade Sim Não n % n % Tardia 1 2,0% 1 8,0% Não tardia 40 78,4% 71 59,7% Sem menopausa 10 19,6% 47 39,5% Total 51 100% 119 100% Observa-se na tabela 1 a significância estatística entre as variáveis menopausa e obesidade, com p < 0,011, ao analisar as 51 participantes que eram obesas encontramos 40 (78,4%) mulheres com menopausa não tardia além de outras 21,6% que, apesar de não apresentarem menopausa tardia, também eram obesas. Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(11):4097-103, nov., 2016 das 195 pacientes participantes do Total n 2 111 57 170 P* % 1,2% 65,3% 33,5% 100% 0,011 Em relação ao etilismo e tabagismo, foi verificado ainda que 29 mulheres (14,87%) faziam uso de bebida alcoólica. Quanto aos hábitos de vida, o tabagismo ativo foi identificado em 26 (13,30%) mulheres, sendo que 27 (13,80%) outras mulheres relataram ter parado de fumar. O tabagismo, não foi um FR predominante nesta população, pois apenas 53 (27,1%) das participantes do estudo 4099 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.9881-87554-1-EDSM1011201635 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. Perfil de mulheres com câncer de mama tratadas... tiveram contato com o tabaco, enquanto que a maioria número (72,30%) nunca foi tabagistas. A análise referente ao uso de ACO também foi prejudicada, devido à diferença mínima numérica entre as mulheres que fizeram e as que não fizeram uso de ACO. Dentre as mulheres que fizeram uso de ACO, o CM a incidência foi maior naquelas que utilizaram ACO durante um período de 1-5 anos representando 21,02%. Aquelas que utilizaram por mais de 5 anos, isoladamente representaram 12,30%. Ao analisar as informações sobre o tratamento quimioterápico, foi verificado que 116 (59,48%) mulheres realizaram tratamento adjuvante e 77 (39,48%) o tratamento neoadjuvante. Ao analisar as informações registradas de 116 (100%) pacientes submetidas ao tratamento adjuvante, verificou-se que 76 (65,5%) mulheres estavam na faixa etária entre 50-81 anos. Em relação ao tratamento neoadjuvante, realizado por 77 (100%) mulheres, percebe-se também maior percentual de mulheres idosas, visto que 49 (63,62%) estavam na faixa etária de 50-82 anos. Quanto aos esquemas quimioterápicos, verificados nos registros para tratar as pacientes da pesquisa foram encontrados: FAC (fluorouracil, adriblastina e ciclofosfamida) em 73 (37,43%) mulheres, AC+TXT (adriblastina, ciclofosfamida e docetaxel) em 50 (25,64%) mulheres, CMF (ciclofosfamida, metotrexate e 5-flouracil) em 49 (25,12%) mulheres, e AC (adriblastina e ciclofosfamida) em 12 (6,15%) mulheres. Em porcentagem mínima e em casos isolados, ocorreu o uso de outros esquemas quimioterápicos, totalizando 11 casos (5,64%). Na avaliação das mulheres com CM, que possuíam outras doenças concomitantes ao câncer de mama, verificou-se que 106 (54,35%) mulheres requeriam tratamentos para outras doenças. Dentre as doenças encontradas nesta população, destacamos como mais frequentes: diabetes, hipertensão, hipotireoidismo, chagas, labirintite, cardiopatias e depressão. Em relação à análise da ocorrência de fatores de risco (FR) presentes na população estudada, verifica-se que em 66,14% da amostra foram evidenciados 02 ou 03 FR para esta neoplasia. Ao relacionar os FR presentes individualmente, percebe-se que apareceram, na maioria das mulheres, como casos isolados. Apenas em 04 participantes nota-se o aparecimento dos mesmos FR em uma frequência maior conforme tabela 2. Tabela 2. Ocorrência dos fatores de risco relacionados ao período investigado - Uberlândia, MG, 2015. Fatores de Risco Idade Idade + ACO Idade + ACO + Obesidade Idade + Obesidade TOTAL Nº de pacientes 26 22 15 27 90 % 13,33 11,28 7,69 13,84 46,14 Tabela 3. Distribuição das variáveis relacionadas aos fatores de risco e faixa etária das pacientes do projeto de extensão - Uberlândia, MG, 2015. Nº FR Faixa Etária 24-49 50-69 ≥70 Total P* n % n % n % n % 1 16 27,1% 14 15,2% 13 15,8% 33 19,4% 2 20 33,9% 35 38% 9 47,4% 64 37,6% 0,174 3 19 32,2% 25 27,2% 3 15,8% 47 27,6% 4 2 3,4% 16 17,4% 4 21,1% 22 12,9% 5 2 3,4% 2 2,2% 0 0% 4 2,4% Total 59 100% 92 100% 19 100% 170 100% Apesar de a tabela 3 não ter apresentado significância estatística observa-se a prevalência de 02 ou 03 FR nas faixas etárias de 24-49 anos e dos 50-69. Tabela 4. Distribuição das variáveis de quantidade de fatores de risco e estadiamento, das 195 pacientes participantes do estudo - Uberlândia, MG, 2015. Nº de FR Estadiamento I II III IV Total P* n % N % n % N % n % 1 5 16,1% 14 20,6% 13 19,7% 1 20% 33 19,4% 0,960 2 9 29% 29 42,6% 24 36,4% 2 40% 64 37,6% 3 13 41,9% 17 25% 16 24,2% 1 20% 47 27,6% 4 3 9,7% 7 10,3% 11 16,7% 1 20% 22 12,9% 5 1 3,2% 1 1,5% 2 3% 0 0% 4 2,4% Total 31 100% 68 100% 66 100% 5 100% 170 100% Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(11):4097-103, nov., 2016 4100 ISSN: 1981-8963 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. Mulheres classificadas com estádios mais avançados, II e III, apresentaram 02 ou 03 FR, conforme tabela 4. Ressalta-se que a mesma não apresentou significância estatística, porém é interessante esta observação visto que em uma população maior pode existir diferença nestes resultados, levando a significância estatística. DISCUSSÃO Estudo realizado em instituição de ensino público brasileiro da região Sul do país, com amostra de 142 pacientes, mostrou que 133 (97,7%) tinham idade igual ou superior a 40 anos, e 9 (6,3%) tinham idade inferior a 40 anos, sendo a média de 57,7 anos.4 Analisando esta informação e comparando com os dados encontrados do presente estudo, observou-se similaridade na média de idade; atualmente faixa etária se mostra bastante ampla, o que leva a reflexão sobre a necessidade urgente de implementação das políticas de detecção precoce para o CM. Em outro estudo realizado mulheres com câncer de mama assistidas em serviços de referência do Norte de Minas Gerais, evidenciou a predominância da idade superior a 50 anos (54,5%).5 Foi verificado que parcela significativa das mulheres não se encontrava na faixa etária preconizada para a realização de mamografias (50-69 anos), conforme Documento Consenso para o CM,6 tanto nos estudos encontrados, como também no presente estudo. Assim, destaca-se a e importante necessidade de avaliação criteriosa individual, acompanhamento regular e solicitação de exames obedecendo aos protocolos ou, conforme história individual, quando oportunos. Um estudo realizado no Município de Campos dos Goytacazes, verificou que o estadiamento clínico apresentado no momento do diagnóstico, foi estádio clínico I com 24 (11,4%), 114 (54%) estádio clínico II, 66 (31,3%) estádio clínico III, e 7 (3,3%) estádio clínico IV.7 Apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom prognóstico quando diagnosticado e tratado precocemente, observa-se que as taxas de mortalidade por CM continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estádios avançados,1 o que se comprova com os resultados deste estudo e dos dados apresentados na literatura. Um estudo com o objetivo de analisar a etnia de mulheres, a raça branca foi predominante; das 175 mulheres, 155 (88,6%) eram brancas e 20 (11,4%) não brancas.8 A literatura não traz dados que discutem a Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(11):4097-103, nov., 2016 DOI: 10.5205/reuol.9881-87554-1-EDSM1011201635 Perfil de mulheres com câncer de mama tratadas... predominância do CM em qualquer raça; apenas observa-se que a frequência tem sido maior na raça branca. Outro exemplo foi um estudo de prevalência dos fatores de risco para o CM, no qual 81,1% da população era da raça branca.9 Define-se como menarca precoce aquela que ocorre antes dos 12 anos, sendo considerado um FR para o CM, tendo em vista a maior quantidade de períodos que a mulher está exposta a variações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual.10 Os dados citados acima são semelhantes aos de outro estudo realizado com mulheres com CM assistidas em um ambulatório de Oncologia, em que foi verificada a menarca precoce em apenas 8 (13,79%) participantes, enquanto que outras 50 (86,21%) mulheres apresentaram a menarca após os 12 anos de idade. É importante ressaltar a possibilidade da menopausa tardia como FR para o CM, visto que essas participantes tiveram maior tempo de exposição às variações hormonais ocorridas durante os ciclos menstruais.11 Resultados de um estudo, sobre o perfil antropométrico de mulheres sobreviventes de CM, demonstraram alta prevalência de sobrepeso/obesidade.8 Estudos mostram que mulheres na pósmenopausa com sobrepeso ou obesidade, têm um risco maior de desenvolver CM.2 Embora a obesidade antes da menopausa não esteja associada ao CM, mulheres que chegam com excesso de peso nessa fase da vida têm mais dificuldade de emagrecer e consequentemente tornam-se expostas a obesidade como fator de risco.2 Em outro estudo não foi possível considerar o tabagismo como FR para o CM, haja vista que 38 (66,7%) mulheres nunca fumaram.11 Além de contribuir para o desenvolvimento de outros tipos de câncer, o tabagismo consiste em uma das principais causas de mortalidade precoce e limitações por doenças isquêmicas do coração, doença cerebrovascular e de doença pulmonar obstrutiva crônica.2 Por isso, mesmo que a literatura não estabeleça uma relação direta entre CM e tabagismo, este hábito deve ser desencorajado, visto seus efeitos maléficos à saúde. O consumo de bebida alcoólica permanece controverso como FR para o CM. Isoladamente, considera-se este FR de baixa representatividade na amostra da população deste estudo. Pesquisa anterior apontou que 18 (31,6%) participantes referiram ingerir bebida alcoólica, índice este superior ao encontrado na amostra do presente estudo.11 Outro estudo indicou que, mesmo em pequenas quantidades, o consumo de bebida 4101 ISSN: 1981-8963 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. alcoólica pode aumentar o risco de CM, onde a cada dose consumida por dia, o risco aumenta em cerca de 7% a 11%.2 O álcool aumenta os níveis de estrogênio no organismo, o que, em quantidades acima do normal, poderia causar CM.2 Em um estudo realizado na Tailândia envolvendo mulheres com CM, onde foram correlacionados dados com o uso de contraceptivos orais (CO), não foi evidenciada associação entre ambos.3 Ainda é controversa a associação do uso de ACO com o aumento do risco para o CM, apontando para certos subgrupos de mulheres, como as que usaram ACO em dosagens elevadas de estrogênio, as que fizeram uso da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional em idade precoce, antes da primeira gravidez.12 A indicação do protocolo quimioterápico depende de vários fatores: avaliação prévia das características do tumor, das condições da paciente que será submetida ao tratamento, considerando inclusive co-morbidades presentes anteriormente ao diagnóstico de CM. Portanto, o uso de protocolos depende intrinsecamente de cada caso, do comportamento e características do tumor. O CM deve ser abordado por uma equipe multidisciplinar, visando o tratamento integral da paciente.6 Por isso, torna-se fundamental uma investigação e coleta de dados adequados, a fim de conhecer a paciente e as co-morbidades apresentadas, além de oferecer informações sobre a necessidade de continuação de tratamentos pré-existentes ou outras condutas viáveis a cada caso, não prejudicando o tratamento oncológico proposto. Com base nestes dados percebe-se a importância de abordar grupos específicos da população a fim de identificar a existência de FR e propor intervenções, na tentativa de diminuir as chances de desenvolvimento desta neoplasia. Pelos achados deste estudo constatou-se que a idade foi um dos FR de grande relevância para o CM. Conforme já é amplamente conhecido em meio científico e na literatura, este é o FR mais importante para o desenvolvimento desta neoplasia.2 Em relação ao uso de ACO, mesmo que controversa sua relação com o CM, quando associado a outros fatores de risco como tabagismo, obesidade, entre outros, as chances de desenvolvimento desse tipo de câncer aumentam.13 Diversos artigos discutem sobre a importância do estudo dos fatores de risco para o CM, porém até hoje, as pesquisas não Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(11):4097-103, nov., 2016 DOI: 10.5205/reuol.9881-87554-1-EDSM1011201635 Perfil de mulheres com câncer de mama tratadas... elucidam claramente a relação de múltiplos FR conhecidos com a incidência do CM.9 Embora não se possa estimar o impacto de cada um dos FR na gênese do CM, a minimização desses fatores pode, sem dúvida, contribuir para uma vida mais saudável.14 Sendo assim, as políticas de saúde para prevenção do CM devem contemplar a inclusão de estratégias e intervenções eficazes para atuação direta em FR que são passíveis de modificação ou prevenção, possibilitando maior promoção da saúde proteção contra o CM. CONCLUSÃO Alguns FR para o CM, como menarca precoce e menopausa tardia, não se mostraram evidentes nesta população, assim como o uso de ACO, o tabagismo e o etilismo. Ademais, a literatura os apresenta como FR ainda controversos. Este aspecto retrata a importância dos estudos de caracterização de populações, para que se conheçam melhor os FR relacionados ao CM. A caracterização da faixa etária e o EC da doença são fundamentais para a construção e avaliação das políticas de detecção precoce e rastreamento do CM, sendo que para o presente estudo, os resultados encontrados relacionados ao EC não foram favoráveis para o bom prognóstico das pacientes, uma vez que predominaram estádios mais avançados (II e III). Esta análise leva a reflexão da realidade e quais propostas vigoram para a prevenção, promoção da saúde, diagnóstico precoce, relacionadas ao CM. Quanto à característica relacionada à ocupação houve dificuldade para a coleta da informação. Em outras pesquisas desta natureza também foi identificada esta mesma dificuldade. Esta constatação demonstra ser imprescindível informações corretamente registradas para concretização e fidedignidade de pesquisas que utilizam dados provenientes dos registros. Enfatiza-se ainda a importância de trabalhar com uma população específica e com FR que lhe são relevantes. Para a população estudada, seria fundamental a mudança do estilo de vida, que compreenderia, por exemplo, a dieta saudável e a prática de exercícios, a fim de contribuir para redução do excesso de peso e consequentemente uma vida mais saudável. Caracterizar uma população, atendida em um serviço público de saúde, e conhecer os FR, pode fornecer informações importantes para as políticas de saúde vigentes, além de colaborar com ações educativas de forma mais objetiva. Estudos como este, 4102 ISSN: 1981-8963 Oliveira TSG, Neris R, Santos LNT dos et al. possibilitam ações de saúde planejadas em todos os níveis de atenção e consequentemente promoção de melhores condições de vida para populações-alvo. REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Estimativas da incidência e mortalidade por câncer no Brasil [Internet]. 2016 [cited 2016 Sept 15]. Available from: http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/ind ex.asp?ID=2 2. Brasil. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino/serviço. Instituto Nacional do Câncer. 3rd ed. Rio de Janeiro: Inca; 2008. 3. Poosari A, Promthet S, Kamsa-ard S, Suwanrungruang K, Longkul J, Wiangnon S. Hormonal Contraceptive Use and Breast Cancer in Thai Women. J Epidemiol [Internet]. 2014 [cited 2016 Sept 15];24(3):216-20. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/P MC4000769/ 4. 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