CORREA, L.C.C - 04 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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Capítulo 4
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
“O outro não me é dado somente como um corpo no qual eu teria de projetar
meus próprios estados psíquicos. Não tenho, com efeito, de reconstruir por
analogia com as minhas vivências de outrem, pois essas vivências são
diretamente percebidas na expressão pela qual o outro manifesta.”
Ao retomar os resultados do grupo estudado, observou-se o quanto este trabalho
foi rico para todos os envolvidos no processo.
Tem-se que reconhecer que até a terceira sessão, quando o grupo finalmente
assumiu sua configuração final, um certo desconforto e um certo clima de espera,
tomou conta do grupo. Já que era sabido por todos que novos participantes
estavam sendo triados e preparados para compor este grupo.
Este fato apresentou-se como uma das primeiras dificuldades que o grupo teve
que lidar, ou seja, involuntariamente todos os participantes, inclusive a equipe de
atendimento, agiam em um clima de expectativa diante da inclusão de outros pais.
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Esta situação impedia que os pais já presentes identificassem claramente a
proposta do trabalho. Não se deve esquecer que a originalidade do formato desta
prática, poderia ter sido, de início, confundida com um modelo médico.
A interação verificada a partir da quinta sessão pode ser atribuida ao fito de que os
participantes já haviam assimilado a proposta do trabalho. Mesmo que não através
de sua própria vivência no grupo, mas através do percurso do outro participante, já
que como Larrabure (1982) afirmou, esta é uma das vantagens do trabalho de
grupo visto que um pai pode ser referência e ajudar os outros, através de seus
relatos, contribuindo com sua própria experiência, ou seja, a partir de dificuldades
semelhantes podem rever suas posições e enxergar outros modos de atuação.
As alterações de atitudes e comportamentos a que os pais se referiram em
relação a si próprios e aos filhos, durante os atendimentos vem de encontro à
idéia expressa por Ocampo (1981) quando se refere à criança como o emergente
do grupo fimiliar. No grupo em estudo, durante os atendimentos, um casal que
participava do processo alternava-se durante o mesmo, ou seja, ora comparecia a
mãe, ora o pai. Este fito, nas palavras de Larrabure (1982) pode causar “uma
modificação na vida do grupo e provoca uma série de reações ambivalentes”
(p.117). Porém, percebeu-se que essa alternância foi absorvida pelo grupo, não
sendo significativo o efeito do comportamento do casal sobre o grupo, que
conseguiu operar mesmo diante desta ocorrência.
Constatou-se também que o grupo de pais, caminhou em direção à resignificação
e reconstrução de suas compreensões, abrindo novas perspectivas experienciais,
como também novas formas de interação. Do ponto de vista psicológico, o
indivíduo tem potencial para se desenvolver, “mas inter-relaciona-se com o meio,
para que este o supra com elementos indispensáveis a esse crescimento.”
(Morato, 1987, p.25).
As duas últimas sessões, que foram destinadas à leitura dos relatórios e ao
desligamento, causaram certa ansiedade. Atribue-se tal sentimento mais à
expectativa pelos conteúdos que seriam devolvidos através dos relatórios, do que
à situação do término do processo, já que pela determinação do tempo, o senso
de transitoriedade do processo foi absorvido pelo cliente, até porque, o caráter
emergencial da procura exigia um esclarecimento a curto prazo (Coelho Filho,
1995).
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Os estagiários que acompanharam o grupo em estudo, no início dos atendimentos
pouco se pronunciavam, isto se deve ao fato de ser este o primeiro contato deles
com uma prática psicológica, o que acabou por mobilizar tensão e certo grau de
ansiedade diante de uma primeira experiência deste tipo. Isto necessariamente
não corrobora com a afirmação de Camargo (1987) que associa comportamentos
similares de estagiários ao conflito entre conhecimento de si, das incorrências que
vivenciam e dos próprios medos e inseguranças, dificultando assim a percepção
de seu mundo e de seu cliente. Mas isto não era seguramente o que estava
ocorrendo no corpo de estagiários. Outras variaveis justificavam melhor tal
comportamento, ou seja, nas primeiras sessões os pais dirigiam-se na maioria das
vezes à coordenadora o que também inibiu a participação deles.
No início do grupo de pais a coordenadora procurou explorar as queixas trazidas,
através de perguntas ftuais ou de sentimentos, visando entender o pedido, assim
como a compreensão que eles tinham acerca da problemática de seus filhos. Aqui
residem as idéias de Santiago e Jubelini (1986) que acreditam que o psicólogo
deve assumir papéis ativos em relação aos pais para que possa compreendê-los e
ajudá-los.
A coordenadora buscou ainda durante o processo acolher as preocupações e
dificuldades trazidas pelos participantes, visando um clima fcffitador para suas
expressões.
É sabido que os indivíduos têm dentro de si recursos para uma auto-compreensão
e modificação de seus auto-conceitos, como também de suas atitudes e que estes
recursos
podem ser ativados se houver um clima de atitudes psicológicas fcilitadoras
(Rogers, 1980).
A atuação da equipe de atendimento foi ativa, participante e, por muitas vezes,
diretiva em suas verbalizações. O propósito destas intervenções mais diretivas é
justificado pelos objetivos e duração deste tipo de prática.
Todas as reflexões acima, acerca do processo como um todo, puderam ser
verificadas com mais segurança pela disponibilidade de dados que os diversos
instrumentos de coleta ofereceram. Fala-se aqui do material gravado, das versões
de sentido, do diário de campo, enfim de todas as anotações referentes ao
processo.
Destaca-se também que se em um primeiro momento os aparelhos de gravação
trouxeram alguma inibição aos participantes, eles foram colocados em um
segundo plano
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assim que se iniciaram os relatos das queixas, em urna nítida demonstração das
prioridades que todos tinham em mente.
De forma geral a vivência de todos deste grupo foi percebida como enriquecedora
para as pessoas, unia vez que todos ali obtiveram retomo da relação estabelecida,
urna vez que, quando havia doação de alguma das partes, a outra estava pronta
para recebê-la, como também percorrer o caminho inverso.
Até aqui utilizou-se a figura da pesquisadora atendendo-se ao compromisso
acadêmico. Agora, sem ferir tal compromisso, até porque a pesquisadora estará
pautada pelo distanciamento reflexivo defendido pela base teórica que adota, será
feita urna compreensão mais “pessoalizada”.
Esta pesquisa atrelada ao enfoque fenomenológico existencial hermenêutico,
apresentou dois momentos distintos, um dentro da tendência dialética, que baseia
suas conclusões na interação com os sujeitos e estes podem confirmar tais
conclusões, e um segundo momento com tendência empírica, em que baseou
suas conclusões na análise dos dados em depoimentos registrados.
Estes dois momentos podem ser associados, o primeiro, tendência dialética, à
prática vivenciada com o grupo de orientação a pais, traduzido pelo envolvimento
existencial; e o segundo, tendência empírica, à análise e discussão dos registros,
traduzido pelo distanciamento reflexico.
Entre o momento da decisão por um tema a ser pesquisado e a sua finalização,
um grande percurso foi percorrido, pontuado por várias dificuldades e barreiras
que deveriam ser transpostas.
Entre as principais dificuldades encontraram-se os momentos do envolvimento
existencial, ou seja, a vivência com o grupo de pais que a princípio trouxe certa
ansiedade pois estaríamos, eu e os estagiários, recebendo os pais pela primeira
vez, e mesmo de posse dos relatórios de triagem, receber um cliente é deparar-se
com o novo e com diversas possibilidades de acontecimentos. Por outro lado,
como supervisora, tinha a tarefa de preparar e acolher os estagiários para seus
primeiros atendimentos, momento este que habitualmente é permeado por tensão.
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Outro momento de dificuldade e expectativa era frente à incerteza da formação e
permanência dos pais que comporiam o grupo.
O grupo de ‘orientação a pais, enfocado nesta pesquisa, mostrou-se como um
facilitador, propiciando ao cliente uma visão mais clara de si mesmo, de sua
problemática e de seu filho. A participação do grupo era ativa (tanto dos pais,
quanto minha, e dos estagiários) este fato possibilitava que aquele encontro fosse
mais significativo que a simples avaliação e devolutiva aos pais do que se
compreendia nos atendimentos com as crianças.
O grupo assumia então, uma atitude compreensiva diante dos relatos dos
participantes, estabelecendo um clima propício para trocas, o que permitia uma
abertura de novas perspectivas e em alguns casos possibilitando mudanças
positivas para o cliente.
Este processo, apesar de grupal, foi marcado por diferenças pessoais, sendo
assim cada participante aproveitou os encontros de acordo com suas condições e
possibilidades.
Para Elisa, na compreensão da equipe de atendimento e de acordo com seu
comentário o processo serviu para ajudá-la a organizar algumas compreensões.
Ilustrando, sua fala: “eu gostei muito desse grupo, porque me ajudou a pensar em
um monte de coisas que estavam atrapalhadas na minha cabeça. Eu não sei se
eu consegui mudar muita coisa, mas agora eu já sei o que não está indo bem.
Agora já tenho por onde começar (14ª sessão).
Já para Ida os atendimentos fàvoreceram o reposicionamento e a re-significação
de antigas atitudes. Registro aqui seu comentário “… quero agradecer porque eu
melhorei bastante, minha neta também, mas ela melhorou porque eu melhorei…”
(14ª sessão).
Esse comentário de Ida vem de encontro com a idéia de que a criança é o
emergente da problemática familiar (Tsu, 1984). Assim, a partir de suas resignificações Ida pôde reposicionar-se acarretando modificações no
comportamento de sua neta.
A equipe de atendimento percebia que Julieta encontrava no grupo um espaço
para desabafar, o que veio confirmar com seu discurso “… quero agradecer
bastante porque aprendi muito… a maneira que eu encontrei para desabafar foi
aqui.” (14ª sessão).
Já para Martina “… foi muito bom, esclareceu um monte de coisas…” (14ª
sessão). Como era percebido pela equipe de atendimento, esta mãe queria uma
definição sobre a capacidade intelectual de seu filho e a conseguiu. Porém, o fato
de não ter se envolvido por
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inteiro no processo, pôde denotar que sua demanda era apenas o diagnóstico da
criança não apresentando possibilidade naquele momento para mais nenhuma
questão. Mas mesmo assim, no podemos dizer que não houve nenhum tipo de
ganho, pois apenas o fato de Martina ter enxergado seu filho como real, ou seja,
percebendo suas dificuldades sem continuar esperando por aquilo que ele não
pode dar, já pode ser considerado como um ganho.
O grupo na visão de Arlete ajudou bastante e acrescentou que “… para o meu
marido teria sido muito bom se ele tivesse tido tempo para participar.” (14ª
sessão).
O fato de Arlete acreditar em um aproveitamento por parte do marido caso ele
tivesse comparecido às sessões, me fez pensar que se de algum jeito esta mãe
não estava querendo dizer o quanto ela enfrenta sozinha a situação difidil de seu
filho, recorrendo a atendimentos, diagnósticos e tratamentos médicos e que
gostaria de poder partilhar com seu marido seus sentimentos diante desta
problemática. De fato, Arlete demonstrava ser uma pessoa muito sozinha.
Esses depoimentos, através de suas essências, permitem dizer que os ganhos ao
final do processo, já estão vinculados com o pedido ou com a demanda referida.
Neste sentido, posso pensar que as pessoas já trazem em si, talvez não de forma
clara, as possibilidades que tem naquele momento e além disso precisam “estar
disponíveis para a possibilidade de irrupção do.desconhecido e a vivência da
angústia do rompimento da trama do cotidiano, da irrupção de algo desconhecido
a ser renomeado.” (Yehia, 1994, p.145).
Este tipo de prática (GE/Pd), desde seu início já difere de outros tipos de
atendimentos, pois os participantes chegam à clínica comprometidos com uma
busca primária, ou seja, buscam um acompanhamento para seus filhos e
terminam por participarem de um processo grupal.
Este fato faz com que os pais apresentem-se, de início, mais estruturados, dado
que as dificuldades pessoais estão encobertas pela problemática do filho.
Com o decorrer dos atendimentos, as verbalizações que, até então, eram mais
voltadas aos filhos, passam a ser mais relacionais, focalizando não apenas a
relação pais e filhos, mas também suas relações consigo próprios e com o mundo.
Apesar do grupo ser de orientação a pais, é importante destacar que muitas vezes
a equipe de atendimento dá orientações, a partir das percepções e compreensões
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desenvolvidas durante o processo. Embora, esta prática, no seu decorrer,
apresente momentos terapêuticos, não se presta a fazer terapia com os pais, ou
seja, utiliza recursos terapêuticos comuns à psicoterapia, urna vez que este
trabalho faz parte da psicologia clínica, porém, assume urna abrangência diferente
da especificidade psicoterapêutica.
Acredito que o que fàvorece o surgimento destes momentos terapêuticos são os
estabelecimentos de conexões entre os sentimentos dos pais e suas ações.
No grupo aqui estudado, outro mor se manifestou como um facilitador de
momentos terapêuticos, que foi os pais receberem os conflitos e as dificuldades
diante das situações que os outros participantes estavam experienciando. Esta é
urna tendência dos seres humanos de crescer e resolver suas dificuldades se
encontrarem um clima de atitudes làcffitadoras (Rogers, 1983).
Momentos de tensão também foram vivenciados pelo grupo na quinta sessão com
o comparecimento de Valter, que poderia ter se apresentado ao grupo como um
elemento desagregador e pertubador para os demais participantes, visto que estes
já o conheciam pelo olhar de Julieta. Entretanto a equipe de atendimento assim
como os outros pais, apesar de apreensivos, acolheram este novo integrante no
grupo.
Destaco que na sexta sessão houve uma modificação da dinâmica grupal, onde os
pais pareciam mais integrados e caminhando em direção às modificações. Esta
afirmação, é corroborada pela idéia de Yehia (1994) ao referir-se que o “...
movimento dos pais culmina em torno da quinta sessão...” (p. 145).
Neste sentido, acredito que alguns indicadores prognósticos possam ser
levantados:
• as queixas já estavam bem circunscritas, ou seja todas as grandes variáveis
mobilizadoras já estavam de posse do grupo (pais e equipe de atendimentos);
• a aliança terapêutica bem estabelecida, criando um clima favorável e de
acolhimento;
• a relação entre os participantes apresentava-se mais descontraída;
• instalação de um campo 1cffitador, propiciando reflexões e re-significações de
antigos padrões de conduta;
• a qualidade dos relacionamentos foi potencializada, havendo maior troca de
experiências entre eles.
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Desta forma, acredito também, que estes sejam alguns dos fatores que
favoreceram o desenvolvimento deste grupo ao longo do processo de orientação a
pais.
Outro fator que penso ter sido de igual importância foi o fato dos estagiários
estarem presentes. A equipe de atendimento compunha-se de nove estagiários e
uma coordenadora, o que evidenciava a desproporção entre atendentes e
atendidos. No grupo em estudo, esta desproporção parece ter tido um caráter de
valorização, sinalizando outra forma de acolhimento, pois os pais tinham à sua
escuta dez pessoas para atendê-los.
Para exemplificar esta situação, na segunda sessão quando só compareceram
dois pais para o atendimento, ao ir buscá-los na recepção ofereci a possibilidade
de serem atendidos individualmente, cada um por uma dupla de estagiários, os
dois participantes optaram pelo atendimento grupal.
Outro ponto que merece ser destacado é em relação a motivação, ou seja, ao
serem solicitados para participar do grupo de orientação, os pais sentem-se
valorizados e motivados, pois normalmente quando levam seu filho ao médico,
para realizar algum exame ou atendimento os pais na maioria das vezes recebem
a devolutiva da avaliação do profissional de forma distante, concisa. Este fato
remete a uma conduta mais médica ou a uma visão clássica do psicodiagnóstico
que “... recomenda uma atitude de neutralidade, o que leva a certo distanciamento
do profissional, para facilitar as manifestações inconscientes...” (Ancona-Lopez,
S., 1995, p.31).
Desta forma, a fenomenologia-existencial por mim adotada tem se revelado de
grande valia, icffitando a coordenação de meus grupos, ao propor caminhos para
a compreensão, que visam respeitar a complexidade do real, como também
encontrar o sentido dentro do próprio fenômeno. Além disto, a atualização mútua
do homem e do mundo é expressa pela recíproca construção de sistemas de
significações, “... mediante a qual cada indivíduo recebe as demais chaves para a
compreensão do mundo, e pode então devolver a sua própria elaboração...”
(Augras, 1978, p.21).
Além disto, pelo seu traço acolhedor, esta abordagem presta-se a absorver a
diacronia entre a busca inicial (psicodiagnóstico da criança) e a oferta (grupo de
orientação a pais), ou seja, os pais ao buscarem o atendimento crêem que a
problemática reside somente nos filhos e deparam-se com um tipo de trabalho em
que eles também irão se implicar nesta
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problemática. Frente a isto, a fenomenologia apresenta-se como um caminho mais
natural para viabilizar esse percurso.
A questão dó tempo e do objetivo limitado dentro desta prática também merecem
atenção, pois sempre fica presente a dúvida sobre os ganhos do cliente em
relação a ela. Segundo Scbmidt (1987) devemos confiar que o cliente saberá
como melhor aproveitar o tempo desde que este seja estabelecido no início do
processo e evidenciado sempre que necessário. Esta possibffidade é respaldada
pelo princípio humanista que pressupõe um cliente capaz de autodeterminação e
regulação.
Ainda sob esta perspectiva, Coelho Filho (1995) destaca que bons resultados
ainda que limitados, sempre serão possíveis em tratamentos breves, até porque a
cura não é a intenção do tratamento.
Mas para saber se houve ou não cristalização dos ganhos adquiridos pelos
participantes do grupo em estudo, precisaria ter sido realizado um
acompanhamento do tipo follow-up com estes pais. Tal sugestão já teve a sua
validade pesquisada por Yehia (1994), que se utilizou deste expediente em seu
trabalho, tendo a oportunidade de além de verificar a cristalização dos ganhos,
reforça-los durante os encontros de follow-up.
Para concretização e conclusão desta pesquisa, ao debruçar-me sobre o material
obtido durante o percurso do grupo de orientação a pais, aqui estudado, foi de
grande valia a adoção dos instrumentos de controle que disciplinaram a condução
da prática e permitiram-me desvelar o sentido do trabalho que realizo (GE/Pd).
Ao se recortar o cotidiano e renomeá-lo parece que são aguçadas a sensibilidade
e percepção, podendo alcançar uma maior sistematização da prática adotada.
Sinto que a partir deste recorte, o que era uma ação mais intuitiva passou a
reforçar a conexão com a teoria.
Assim, uma nova base de sustentação para os pensamentos, para as ações como
pesquisadora foi estabelecida. Agora, posso também trabalhar com o equilíbrio da
relação pesquisador-pesquisado. Não uma simples interação, mas o equilíbrio
com o sentido pleno de um sistema, onde a alteração de uma variável pressupõe
uma nova acomodação das partes, um novo todo.
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Tendo completado o percurso proposto para este trabalho, sinto oportuno
emprestar de Amatuzzi (1989) a autenticidade de suas palavras: “Existe um
momento que sentimos que terminou. Mesmo que esse término seja de um ciclo,
etapa ou momento, embora não do processo como um todo. É preciso também
decidir terminar, pois bá sempre algo que poderia ainda ser dito. E não decidir
aqui (mas, pelo contrário, continuar fidando) seria estagnar a vida, pois é com
essa decisão que se muda de nível, é essa decisão, apoiada sem dúvida no
sentimento de completude de uma presença, que transporta o sujeito.” (p.195).
Comentários e Sugestões
O material resultante desta pesquisa possibilitaria, além do percurso adotado,
diversas e diferentes leituras, já que se compõe de irto registro do processo. Não
que o caminho percorrido tenha esgotado todas as possibilidades que se
apresentaram, pelo contrário, esta é uma pequena contribuição que requer
continuidade e ampliação.
Os resultados desta pesquisa, ao mesmo tempo que sanaram alguns dos
questionamentos iniciais da pesquisadora outras questões foram se fazendo
presentes.
Com isto alguns estudos podem ser sugeridos, como por exemplo, a importância e
o significado, sob o ponto de vista dos pais, da visita domiciliar que é realizada
durante o processo dos GE/Pd.
Para um melhor acompanhamento do grupo de orientação a pais, penso que uma
sistematização de follow-up, que compreenda dois momentos, um ao final de seis
meses após o término do processo e outro após doze meses, podendo ser
individualizado, o que tomaria essa etapa mais viável. Isto se prestaria tanto para
confirmação da cristalização dos ganhos, como também para a reativação do
processo de re-significação.
Encontra-se na literatura disponível uma gama variada sobre supervisão de
estágio, porém em relação à atuação do estagiário, a bibliografia é rala, quase
inexistente.
Desta forma, um estudo de grande valia, seria o enfoque deste tipo de prática,
privilegiando a atuação dos estagiários, ou ainda, o sentido desta prática aos
olhos deles, utilizando como instrumento as versões de sentido ao término de
cada sessão e ao final do processo de atendimento uma versão das versões de
sentido.
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Em relação a este estudo, ainda, cabe destacar que a pesquisadora se municiou
da maior variedade de formas de registro possível, objetivando melhor
compreensão do fenômeno. Além da transcrição das fitas em áudio, utilizaram-se
também os prontuários de cada cliente, as versões de sentido e o diário de
campo. Todos esses materiais foram de grande valia, porém o diário de campo
mostrou-se dispensável frente a diversidade de formas de registro. Já as versões
de sentido, prontuários, registros em fitas K-7 e os prontuários fizeram parte de um
arsenal de grande utilidade.
Resumo das Conclusões
Muito embora dentro da fenomenologia não se adote um resumo de conclusões,
uma vez que o texto todo é a presentificação do fenômeno, que não pode ser
substituído por um resumo, tentarei destacar alguns dos principais pontos que
fizeram parte da compreensão desta vivência.
Frente aos resultados obtidos durante a vivência do grupo de orientação a pais e
através da discussão realizada, pôde-se demonstrar que os GE/Pd (Grupo de
Espera e Psicodiagnóstico), apresentam-se como um modelo útil de atendhnento
psicológico.
Os pais chegam à clínica em busca de atendimento para seus filhos e acabam
participando de um grupo de orientação.
Este estudo permitiu verificar que ao longo do processo além de terem um melhor
entendimento da problemática do filho (o que habitualmente é esperado pelos
GE/Pd), obtiveram uma melhor compreensão de si mesmos possibilitando resignificações e reposicionamentos frente a antigas concepções e antigos padrões
de conduta.
Referiram-se a mudanças de suas concepções e atitudes e acarretava mudanças
em seus filhos.
O grupo de orientação mostrou-se como um elemento facilitador, propiciando aos
pais, um espaço para mudanças e re-significações.
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