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Handebol
Seleção Brasileira, de Guilherme Gama
(foto), passa sufoco diante do Chile, mas
avança para as oitavas de final do Mundial
Karim Jaafar/AFP
Brasília, sábado, 24 de janeiro de 2015
FUTEBOL
Jogadores brasileiros com passagens por clubes de países muçulmanos relatam
dificuldades que viveram na adaptação aos costumes locais, ditados pelas tradições religiosas
CHOQUE CULTURAL
Fernnando Soutello/Agencia O Globo - 28/3/09
empresas e turistas nas principais cidades — Dubai e Doha — levam autoridades a serem mais flexíveis com as
normas no caso de estrangeiros.
Em dia de jogo do visitante AlHazm contra o Al-Wahda de Meca —
onde teria nascido o profeta Maomé
—, a rotina de Iranildo mudava mais
uma vez. A cidade do Al-Wahda é centro de peregrinação de muçulmanos e
proíbe a entrada de pessoas de outras
religiões. “Precisávamos dar a volta ao
redor da cidade até chegar ao estádio,
bem longe do centro. Um trajeto que
duraria 15 minutos, demorava uma
hora”, conta o brasileiro. Quando recebeu a visita da esposa, outro choque.
Mulheres não podem sair em público
sem vestir um niqab, roupa que deixa
apenas os olhos à mostra “Eu nem a
reconhecia, porque parecia um ninja”,
brinca o armador.
O atacante Josiel,
ex-Flamengo,
espantou-se com hábitos
dos Emirados Árabes
Unidos, onde jogou:
“Era estranho não poder
beber nem suco nas ruas”
Chibatadas
N
o momento em que se ouve o
barulho de uma sirene no CT
do Al-Hazm, time de futebol
da Arábia Saudita, o elenco interrompe o treinamento — sempre à
noite, por causa do forte calor do deserto. É hora de rezar. Com exceção de
três ou quatro jogadores, todo o grupo
adere ao ritual: cada homem estende
um tapete, ajoelha-se e ora, voltado para Meca. Estão cansados: não comeram
nada durante o dia porque é o mês do
Ramadã, período de jejum e oração dos
muçulmanos. Quando o ex-meia Iranildo atuava na equipe árabe, entre
2006 e 2007, somente ele e os pouquíssimos estrangeiros que não seguiam o
Islã podiam manter a dieta normal de
atleta naqueles 28 dias de jejum, mas
fora do olhar dos colegas sauditas.
Não comer ao lado dos colegas no
mês do Ramadã — que ocorrerá entre
18 de junho e 16 de julho neste ano —
e ter de parar os treinos para as orações são apenas alguns dos choques
culturais que atletas ocidentais experimentam quando atuam em países de
maioria muçulmana. Na sequência do
assassinato de 12 pessoas na sede do
jornal francês Charlie Hebdo, que fazia
charges com o profeta Maomé, o mundo discute as diferenças culturais e religiosas entre o Ocidente e as nações
islâmicas. Na pauta, questiona-se até
que ponto a religião representa uma
questão de Estado.
Enquanto jogava no futebol saudita,
o católico Iranildo não podia ir à igreja
para fazer pedidos ou agradecimentos
ao Deus cristão. “Fazia minhas orações
sozinho, no meu apartamento mesmo”,
relata. Lá, só há mesquitas. A Arábia
Saudita — a exemplo de outras nações
islâmicas, como o Iêmen e o Irã — obedece à Sharia, sistema que aplica os preceitos do Corão, o livro sagrado do Islã,
às leis penais e civis. Por isso, mesmo
num calor de 50°C, Iranildo tinha de
usar calças compridas durante quase
todo o dia. Além disso, não podia pensar
em abrir uma lata de cerveja, pois o álcool é proibido no país. “Mas não reclamo de nada, estava na casa deles e tinha
de respeitar”, pondera o ex-jogador.
O temor de não se adaptar às regras
religiosas do Islã também foi sentido
pelo atacante Josiel, ex-Flamengo, agora no Inter de Santa Maria-RS. Entre
2008 e 2010, ele atuou no Al-Wahda de
Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes
Unidos — nação que relaxa as leis da
Sharia para não muçulmanos. “Logo vi
que havia muito exagero nesse preconceito. Notei diferenças sim, sobretudo
na religião, mas era estranho não poder
beber nem suco nas ruas”, recorda.
Hoje, os Emirados Árabes abrigam
16 jogadores brasileiros no campeonato nacional, cinco a menos que o vizinho Catar, com 21 atletas nascidos no
Brasil. Apesar de ambos os países adotarem a lei islâmica, o fluxo intenso de
A fé como lei
Países majoritariamente islâmicos podem ou não incluir nos códigos de leis preceitos do Corão, o
livro sagrado. Em algumas nações, esse sistema, conhecido como Sharia, é aplicado tanto nas
áreas civis — como nas legislações sobre casamentos e divórcios — quanto na Justiça Penal. Nesse
caso, regras religiosas servem como base para tipificar crimes e definir penas.
CANDANGÃO 2015
Diferentemente dos vizinhos Emirados Árabes e Catar, menos rigorosos
com a Sharia em relação aos estrangeiros, a Arábia Saudita tem leis muito severas e uma política mais fechada com
outras nações. Turismo, ali, praticamente apenas para muçulmanos visitantes
de cidades religiosas. Se algum atleta
brasileiro desavisado entrar com bebida
alcoólica naquele país, corre o sério risco de ser condenado a levar chibatadas.
Caso seja homossexual e mantenha relações com outros homens, pior: há risco de sentença de morte.
A exemplo da Arábia Saudita, o Irã
tem leis civis e penais completamente
adaptadas ao Corão. Na liga iraniana,
13 atletas brasileiros precisam respeitar as normas islâmicas para evitar dores de cabeça. Até maio do ano passado, o meia-atacante Leandro Chaves,
aposta do Brasiliense para 2015, vivia
essa realidade. “No mês do Ramadã, fui
comprar uma água durante o dia.
Quando abri a garrafa, o vendedor esbravejou que eu não poderia bebê-la
ali, só escondido”, conta. O jogador
atuava pelo Foolad, campeão iraniano
na última temporada.
As rígidas regras de hierarquia do Islã influenciavam também dentro de
campo, explica Leandro. Líderes jamais
poderiam ser questionados. Protocolos
inimagináveis no futebol brasileiro faziam parte da rotina do atleta no Irã.
“Todos tratavam o capitão da equipe
como um superior. Na hora do almoço,
só poderíamos nos sentar e nos levantar quando ele autorizasse”, completa.
Daniel Ferreira/CB/D.A Press
Torneio perde patrocínio
A crise financeira no Governo do Distrito Federal pode desfalcar o Campeonato Brasiliense de futebol. Principal
patrocinador da disputa, o Banco de
Brasília (BRB) suspendeu a verba destinada ao torneio, de aproximadamente
R$ 950 mil. O anúncio ocorreu a menos
de uma semana do início da competição, programado para amanhã: os 11 times alegam que teriam sido comunicados apenas nesta semana. “Recebemos
o ofício do banco ontem (quinta-feira) e
reunimos os representantes dos clubes
para informá-los da suspensão”, diz o
presidente da Federação Brasiliense de
Futebol (FBF), Jozafá Dantas.
“O prazo para desistir de participar
do torneio já passou, então, vamos
jogar aos trancos e barrancos, teremos
de empurrar com a barriga”, lamenta o
presidente do Cruzeiro-DF, Ivani Oliveira. No caso do time, que é estreante no
torneio, a perda do patrocínio equivale
a dois meses de salário do elenco em
uma competição que dura três meses e
meio. “Vamos entrar em campo no fim
de semana e conversar com os atletas
na segunda-feira para vermos como resolveremos tudo”, avisa o mandatário.
Enquanto isso, a diretoria do atual
campeão, Luziânia, não sabe o que fazer
dos uniformes e das placas de publicidade confeccionadas com a logomarca do
banco. “Gastamos R$ 44 mil com toda
essa propaganda, além de 300 camisas
para venda. Não posso simplesmente
jogar tudo fora”, explica o presidente do
time goiano, Daniel dos Santos. Sem a
verba, outra equipe do estado de Goiás,
o Formosa, terá de reutilizar a vestimenta do Candangão do ano passado.
O impasse ocorreu porque há dois
meses, durante o conselho arbitral —
reunião entre federação e clubes para
definir os detalhes do campeonato —,
os times foram informados que o repasse do BRB seria efetuado nos mesmos moldes da edição anterior, em que
cada equipe poderia receber R$ 8 mil
por jogo, o que renderia R$ 80 mil para
cada um ao fim da fase classificatória.
O Correio tentou contato com o
BRB, mas, até o fechamento da edição,
a direção do banco não se pronunciou.
Atual campeão, o Luziânia já tinha feito uniformes com a logomarca do BRB
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