EDITOR: Alexandre Botão ● SUBEDITORA: Cida Barbosa ● E-MAIL: [email protected] ● TELEFONE: (61) 3214-1176 27 Handebol Seleção Brasileira, de Guilherme Gama (foto), passa sufoco diante do Chile, mas avança para as oitavas de final do Mundial Karim Jaafar/AFP Brasília, sábado, 24 de janeiro de 2015 FUTEBOL Jogadores brasileiros com passagens por clubes de países muçulmanos relatam dificuldades que viveram na adaptação aos costumes locais, ditados pelas tradições religiosas CHOQUE CULTURAL Fernnando Soutello/Agencia O Globo - 28/3/09 empresas e turistas nas principais cidades — Dubai e Doha — levam autoridades a serem mais flexíveis com as normas no caso de estrangeiros. Em dia de jogo do visitante AlHazm contra o Al-Wahda de Meca — onde teria nascido o profeta Maomé —, a rotina de Iranildo mudava mais uma vez. A cidade do Al-Wahda é centro de peregrinação de muçulmanos e proíbe a entrada de pessoas de outras religiões. “Precisávamos dar a volta ao redor da cidade até chegar ao estádio, bem longe do centro. Um trajeto que duraria 15 minutos, demorava uma hora”, conta o brasileiro. Quando recebeu a visita da esposa, outro choque. Mulheres não podem sair em público sem vestir um niqab, roupa que deixa apenas os olhos à mostra “Eu nem a reconhecia, porque parecia um ninja”, brinca o armador. O atacante Josiel, ex-Flamengo, espantou-se com hábitos dos Emirados Árabes Unidos, onde jogou: “Era estranho não poder beber nem suco nas ruas” Chibatadas N o momento em que se ouve o barulho de uma sirene no CT do Al-Hazm, time de futebol da Arábia Saudita, o elenco interrompe o treinamento — sempre à noite, por causa do forte calor do deserto. É hora de rezar. Com exceção de três ou quatro jogadores, todo o grupo adere ao ritual: cada homem estende um tapete, ajoelha-se e ora, voltado para Meca. Estão cansados: não comeram nada durante o dia porque é o mês do Ramadã, período de jejum e oração dos muçulmanos. Quando o ex-meia Iranildo atuava na equipe árabe, entre 2006 e 2007, somente ele e os pouquíssimos estrangeiros que não seguiam o Islã podiam manter a dieta normal de atleta naqueles 28 dias de jejum, mas fora do olhar dos colegas sauditas. Não comer ao lado dos colegas no mês do Ramadã — que ocorrerá entre 18 de junho e 16 de julho neste ano — e ter de parar os treinos para as orações são apenas alguns dos choques culturais que atletas ocidentais experimentam quando atuam em países de maioria muçulmana. Na sequência do assassinato de 12 pessoas na sede do jornal francês Charlie Hebdo, que fazia charges com o profeta Maomé, o mundo discute as diferenças culturais e religiosas entre o Ocidente e as nações islâmicas. Na pauta, questiona-se até que ponto a religião representa uma questão de Estado. Enquanto jogava no futebol saudita, o católico Iranildo não podia ir à igreja para fazer pedidos ou agradecimentos ao Deus cristão. “Fazia minhas orações sozinho, no meu apartamento mesmo”, relata. Lá, só há mesquitas. A Arábia Saudita — a exemplo de outras nações islâmicas, como o Iêmen e o Irã — obedece à Sharia, sistema que aplica os preceitos do Corão, o livro sagrado do Islã, às leis penais e civis. Por isso, mesmo num calor de 50°C, Iranildo tinha de usar calças compridas durante quase todo o dia. Além disso, não podia pensar em abrir uma lata de cerveja, pois o álcool é proibido no país. “Mas não reclamo de nada, estava na casa deles e tinha de respeitar”, pondera o ex-jogador. O temor de não se adaptar às regras religiosas do Islã também foi sentido pelo atacante Josiel, ex-Flamengo, agora no Inter de Santa Maria-RS. Entre 2008 e 2010, ele atuou no Al-Wahda de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos — nação que relaxa as leis da Sharia para não muçulmanos. “Logo vi que havia muito exagero nesse preconceito. Notei diferenças sim, sobretudo na religião, mas era estranho não poder beber nem suco nas ruas”, recorda. Hoje, os Emirados Árabes abrigam 16 jogadores brasileiros no campeonato nacional, cinco a menos que o vizinho Catar, com 21 atletas nascidos no Brasil. Apesar de ambos os países adotarem a lei islâmica, o fluxo intenso de A fé como lei Países majoritariamente islâmicos podem ou não incluir nos códigos de leis preceitos do Corão, o livro sagrado. Em algumas nações, esse sistema, conhecido como Sharia, é aplicado tanto nas áreas civis — como nas legislações sobre casamentos e divórcios — quanto na Justiça Penal. Nesse caso, regras religiosas servem como base para tipificar crimes e definir penas. CANDANGÃO 2015 Diferentemente dos vizinhos Emirados Árabes e Catar, menos rigorosos com a Sharia em relação aos estrangeiros, a Arábia Saudita tem leis muito severas e uma política mais fechada com outras nações. Turismo, ali, praticamente apenas para muçulmanos visitantes de cidades religiosas. Se algum atleta brasileiro desavisado entrar com bebida alcoólica naquele país, corre o sério risco de ser condenado a levar chibatadas. Caso seja homossexual e mantenha relações com outros homens, pior: há risco de sentença de morte. A exemplo da Arábia Saudita, o Irã tem leis civis e penais completamente adaptadas ao Corão. Na liga iraniana, 13 atletas brasileiros precisam respeitar as normas islâmicas para evitar dores de cabeça. Até maio do ano passado, o meia-atacante Leandro Chaves, aposta do Brasiliense para 2015, vivia essa realidade. “No mês do Ramadã, fui comprar uma água durante o dia. Quando abri a garrafa, o vendedor esbravejou que eu não poderia bebê-la ali, só escondido”, conta. O jogador atuava pelo Foolad, campeão iraniano na última temporada. As rígidas regras de hierarquia do Islã influenciavam também dentro de campo, explica Leandro. Líderes jamais poderiam ser questionados. Protocolos inimagináveis no futebol brasileiro faziam parte da rotina do atleta no Irã. “Todos tratavam o capitão da equipe como um superior. Na hora do almoço, só poderíamos nos sentar e nos levantar quando ele autorizasse”, completa. Daniel Ferreira/CB/D.A Press Torneio perde patrocínio A crise financeira no Governo do Distrito Federal pode desfalcar o Campeonato Brasiliense de futebol. Principal patrocinador da disputa, o Banco de Brasília (BRB) suspendeu a verba destinada ao torneio, de aproximadamente R$ 950 mil. O anúncio ocorreu a menos de uma semana do início da competição, programado para amanhã: os 11 times alegam que teriam sido comunicados apenas nesta semana. “Recebemos o ofício do banco ontem (quinta-feira) e reunimos os representantes dos clubes para informá-los da suspensão”, diz o presidente da Federação Brasiliense de Futebol (FBF), Jozafá Dantas. “O prazo para desistir de participar do torneio já passou, então, vamos jogar aos trancos e barrancos, teremos de empurrar com a barriga”, lamenta o presidente do Cruzeiro-DF, Ivani Oliveira. No caso do time, que é estreante no torneio, a perda do patrocínio equivale a dois meses de salário do elenco em uma competição que dura três meses e meio. “Vamos entrar em campo no fim de semana e conversar com os atletas na segunda-feira para vermos como resolveremos tudo”, avisa o mandatário. Enquanto isso, a diretoria do atual campeão, Luziânia, não sabe o que fazer dos uniformes e das placas de publicidade confeccionadas com a logomarca do banco. “Gastamos R$ 44 mil com toda essa propaganda, além de 300 camisas para venda. Não posso simplesmente jogar tudo fora”, explica o presidente do time goiano, Daniel dos Santos. Sem a verba, outra equipe do estado de Goiás, o Formosa, terá de reutilizar a vestimenta do Candangão do ano passado. O impasse ocorreu porque há dois meses, durante o conselho arbitral — reunião entre federação e clubes para definir os detalhes do campeonato —, os times foram informados que o repasse do BRB seria efetuado nos mesmos moldes da edição anterior, em que cada equipe poderia receber R$ 8 mil por jogo, o que renderia R$ 80 mil para cada um ao fim da fase classificatória. O Correio tentou contato com o BRB, mas, até o fechamento da edição, a direção do banco não se pronunciou. Atual campeão, o Luziânia já tinha feito uniformes com a logomarca do BRB