Quedas de tensão: Qual é a condutividade do cobre? Quando se considera a reactância? Porquê? Aplicar a fórmula para a queda de tensão de uma linha concreta é algo normalmente muito simples mas é extraordinariamente usual encontrar cálculos da queda de tensão considerando valores da condutividade (γ) a 20 ºC. Suposição que nos pode levar facilmente a erros até 28 %. Igualmente a reactância é esse “estranho convidado” que pode aparecer nos cálculos em determinadas situações. A influência da condutividade do condutor É muito fácil ver que tomar γ = 56 mm/ (Ω·mm²) para o cobre e 35 para o alumínio (valores a 20 ºC) é um erro dado que na maioria dos casos já se parte de uma temperatura ambiente standard de 20 ºC para instalações enterradas e de 30 ºC para instalações ao ar, facto ao qual temos que adicionar o correspondente efeito Joule (aquecimento do condutor pela sua resistência eléctrica) para encontrarmos que o nosso cabo apresenta uma condutividade significativamente distinta. Assim nos cabos termo estáveis (como Afumex 1000 V, Retenax Flex…) podemos alcançar 90 ºC em regime permanente e em cabos termoplásticos (como Afumex Plus, Wirepol Flex…) podemos chegar a 70 ºC. Esclarecemos com um exemplo: Suponhamos uma instalação que responde aos seguintes dados: Sistema de instalação: cabo Afumex 1000 V (máximo 90 ºC em condutor) multipolar fixado directamente á parede Monofásica com U = 230 V Intensidade de corrente: I = 70 A cosφ = 0,9 Comprimento da linha: 48 m Máxima queda de tensão admitida: 5 % Condições standard de instalação: 30 ºC de temperatura sem influência térmica de outros circuitos em redor. Afumex 1000 V (AS) A condutividade (γ) do cobre é 56 m/(Ω·mm²) a 20 ºC mas se a temperatura do condutor aumenta a condutividade reduz-se. Para um cabo termo estável pode chegar a ser de 44 m/(Ω·mm²). Quer dizer se calculamos a secção pelo critério da queda de tensão na linha do enunciado com a hipótese de γ = 56 m/(Ω·mm²) obteremos o seguinte resultado. S 2 L I cos 2 x 48 x70 x0,9 9,39mm 2 10 mm² U 56 x11,5 Se não calculamos a temperatura do condutor, deveríamos aplicar a hipótese mais desfavorável, que é considerar o condutor à sua máxima temperatura (90 ºC) e a condutividade passa a ser 44 m/(Ω·mm²) e a secção por queda de tensão é: S 2 x 48 x70 x0,9 11,95mm 2 16 mm² 44 x11,5 Quer dizer, o resultado é uma secção superior. Comprovemos agora o valor real à temperatura a que está o condutor. Para isso previamente devemos obter a secção pelo critério da intensidade admissível. Como se trata de cabo fixado directamente à parede em instalação monofásica (QUADRO 52-C2, dos condutores de 90 ºC carregados, páginas 98 e 99 das Regras Técnicas das Instalações Eléctricas de Baixa Tensão) em condições standard. Na tabela de intensidades admissíveis podemos obter a secção pelo critério da intensidade admissível obteremos que a secção é de 10 mm² (primeira secção que supera os 70 A do enunciado) e a intensidade máxima que pode suportar o condutor é de 80 A. Recordando a fórmula da temperatura do condutor: θ = θ0 + (θmáx - θ0) · (I / Imáx)2 - θ: temperatura real estimada no condutor θ0: temperatura ambiente (do condutor sem carga) 30 ºC θmáx: temperatura máxima admissível para o condutor segundo o seu isolamento como o cabo Afumex 1000 V Iris Tech (AS) é termo estável 90 ºC - I: intensidade prevista para o condutor 70 A Imáx: intensidade máxima admissível para o condutor de 10 mm² conforme o tipo de instalação 80 A (este valor é o que pode apresentar maiores duvidas na hora de ser obtido. É o valor da intensidade máxima admissível nas condições de instalação que temos, como temos condições standard, vale o valor directo da tabela, se assim não fosse seria necessário afecta-lo dos coeficientes de correcção correspondentes) Substituindo: θ = 30 + (90 – 30) · (70/80)² = 75,94 ºC Como a resistividade à temperatura θ responde à seguinte expressão… ρθ = ρ20 · [1 + α · (θ – 20)] ρ75,94 = 1/56 x [1 + 0,00392 x (75,94 – 20)] = 0,0218 Ω mm²/m γ75,94 = 1/0,0218 = 45,87 m / Ω mm² Que substituído na fórmula resulta: S 2 L I cos 2 x 48 x70 x0,9 11,46mm 2 16 mm² U 45,87 x11,5 Como a secção obtida é maior que a suposta inicialmente (10 mm²) devemos iterar com o valor de 16 mm² introduzindo na fórmula inicial o valor de Imáx que corresponde à secção de 16 segundo a tabela (107 A). Se com este valor obtemos 16 mm² de secção por queda de tensão quererá dizer que é o valor solução ao coincidir a suposição inicial e o resultado. Repetimos para 16 mm²: θ = 30 + (90 – 30) · (70/107)² = 55,68 ºC ρ55,68 = 1/56 x [1 + 0,00392 x (55,68 – 20)] = 0,02035 Ω mm²/m γ55,68 = 1/0,02035 = 49,14 m/Ω mm² Que substituído na fórmula resulta: S 2 L I cos 2 x 48 x70 x0,9 10,70mm 2 16 mm² U 49,14 x11,5 Como coincide com a suposição inicial (Imáx tomada para 16 mm² e secção obtida 16 mm²) a solução correcta é 16 mm², a temperatura real do condutor será de 55,68 ºC e em consequência a condutividade real γ = 49,14 m/Ω mm². Com isto se demonstra que considerar a condutividade de 56 m/Ω mm² teria sido um erro uma vez que nos levava a uma solução de 10 mm² e a queda de tensão neste caso seria: U 2 L I cos 2 x 48 x70 x0,9 13,18V S 45,87 x10 Percentualmente: ΔU (%) = 13,18/230 x 100 = 5,73 % (supera o limite estabelecido inicialmente de 5%). A queda de tensão real com o condutor de 16 mm² é: U 2 L I cos 2 x 48 x70 x0,9 7,69V 49,14 x16 S ΔU (%) = 7,69/230 x 100 = 3,34 % Resumindo: T do condutor (ºC) 20 90 55,68 Condutividade m/(Ω·mm²) 56 (teórica) 44 (teórica) 49,14 (real) Secção (mm²) 10 16 16 queda de tensão 5,73 % (real) 13,18 V (real) 3,73 % (teórico) 8,59 V (teórico) 3,34 % (real) 7,69 V (real) A influência da reactância da linha Algo similar ao que sucede com o valor da condutividade acontece com a reactância das linhas. Quando a secção solução pelo critério da queda de tensão é igual ou maior que 120 mm² é necessário considerar a reactância da linha, que pode simplificar-se em geral independentemente da secção do condutor e da natureza do mesmo no valor de 0,08 Ω/km. Isto é fácil de ver se tivermos em conta o delineamento geral para os cálculos de queda de tensão nas linhas: Diagrama vectorial que representa a diferença de potencial U2 na carga frente a U1 na geração Da figura, tendo em conta que os valores de φ em geral não são muito elevados e que θ é muito pequeno se depreende: ΔU = U1 – U2 ≈ AB – BC = R I cosφ + X I senφ No caso de linhas trifásicas a queda de tensão entre fases vem afectada da raiz quadrada de 3: ΔU||| = √3 (R I cosφ + X I senφ) Destas expressões se depreende que se a secção do condutor não é muito elevada, a parcela influída pela resistência (R I cosφ) é notavelmente superior ao da reactância (X I senφ) e este último pode-se desprezar. No entanto se a secção aumenta, tendo em conta que a reactância és praticamente constante (≈ 0,08 Ω/km), a queda de tensão fica muito enfluênciada por X e já não devemos subestimar o seu valor. Para S = 120 mm² de cobre R ≈ 0,207 Ω/km y X ≈ 0,08 Ω/km. Com base na fórmula geral de queda de tensão e extraindo a secção do condutor S, dado que R = L/(γ·S) obtemos: Monofásica S 2 L I cos (U 2 10 3 x L I sen ) Trifásica S 3 L I cos (U 1,732 10 3 x L I sen ) Onde: - S = secção do condutor em mm² cos φ = coseno do ângulo φ entre a tensão e a intensidade L = comprimento da linha em m I = intensidade de corrente em A γ = condutividade do condutor em m/(Ω·mm²) ΔU = queda de tensão máxima admissível em V x = reactância da linha em Ω/km É fácil ver que o denominador das expressões anteriores pode ser negativo. Acontece quando se combinam uma intensidade muito alta e um comprimento elevado. Nesse caso o que nos diz o cálculo é que não se pode ter uma secção (por maior que seja) para respeitar a máxima queda de tensão que queremos. E por isso devemos pensar em realizar a instalação em média tensão. Nesse caso para transmitir a potência prevista eleva-se a tensão reduzindo a intensidade com o que se produz uma baixíssima queda de tensão percentual. Se tivéssemos que transmitir 700 A a uma distância de 350 m com uma linha trifásica de cabo termo estável a 400 V de tensão entre fases e cosφ = 0,8 a secção necessária de cabo de cobre para uma queda de tensão máxima admissível de 5% (20 V) calcular-se-ia: S 3 L I cos 3 x350 x700 x0,8 20965mm 2 3 3 (U 1,732 10 x L I sen ) 44 x(20 1,732 x10 x0,08 x350 x700 x0,6) Também podemos pensar no caso em que o denominador será positivo mas próximo a zero. Igualmente nos diz que devemos pensar em media tensão já que ao ser muito pequeno o denominador da secção resultado nos induz a instalar muitos cabos por fase inviabilizando económica e tecnicamente a instalação. Baixemos agora a intensidade do problema anterior a 600 A: S 3 L I cos 3 x350 x600 x0,8 2602mm 2 3 (U 1,732 10 x L I sen ) 44 x(20 1,732 x10 3 x0,08 x350 x600 x0,6) 11 cabos de 240 mm² de cobre por fase. E se formos subindo ligeiramente a intensidade veremos como dispara muito mais o número de cabos por fase. Estes dois possíveis resultados indicam-nos que a linha está “mantendo” muita potência em forma de campos magnéticos pela reactância indutiva dos condutores.