PERFIL NUTRICIONAL DE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA ATENDIDAS EM UMA CLÍNICA PARTICULAR DE TERESINA-PI Maria do Perpétuo Socorro de Sousa Coêlho Nutricionista Oncoclínica e Hospital de Urgências de Teresina-PI Especialista em Distúrbios Metabólicos em Nutrição-UFPI Email: [email protected] Luciano Gomes de Castro Oliveira Lagoa do São Francisco Email: [email protected] Enfermeiro do Programa da família do município de Lagoa do São Francisco Cíntia Pereira da Silva Especialista em Controle de Qualidade de Alimentos - IFPI Email: [email protected] RESUMO INTRODUÇÃO: Elevação da incidência do câncer de mama é marcante no quadro de saúde pública mundial. No Brasil ocupa primeira causa de câncer feminino OBJETIVO: Avaliar estado nutricional e o consumo alimentar de mulheres com câncer de mama em uma Clínica de Teresina-Piauí. MÉTODO: Estudo transversal, amostra mulheres com câncer de mama (n=29), entre 20 e 59 anos de idade, atendidas em uma Clínica de Teresina. Coleta de dados com registro alimentar de três dia ,foram aferidos: peso, altura, prega cutânea tricipital (PCT), circunferência do braço (CB) e calculados o índice de massa corpórea (IMC) e circunferência muscular do braço (CMB). RESULTADOS: IMC médio 26,1 kg/m² (+4,5 kg/m²), com 52% das mulheres acima do índice de normalidade, em relação ao CB, 55,2% da amostra eutróficas, quanto ao CMB, 74,4% apresentaram de desnutrição, segundo a avaliação do PCT 82,8% com obesidade. Quanto à energia, o consumo médio 1387,5 kcal/dia (+381,2 kcal/dia), 82,8% apresentaram consumo energético deficiente, em relação à distribuição dos macronutrientes prevaleceram dietas hipoglicídicas, hipolipídicas e normoproteícas. CONCLUSÃO: Amostra apresenta predominância de sobrepeso e obesidade, o que reforça como já descrito na literatura, a associação entre o excesso de gordura corpórea e o câncer de mama. No entanto, o déficit de consumo energético não repercutiu no estado nutricional das mulheres avaliadas. Porém, mais estudos são necessários para dados mais conclusivos. Palavras-chave: câncer de mama; estado nutricional; obesidade. 1 –INTRODUÇÃO A terminologia câncer se refere a uma diversidade de complexas doenças caracterizadas por alterações celulares de diferentes origens (GREAVES, 2002). Atualmente, mais da metade dos casos novos de cânceres reportados anualmente ocorrem em países subdesenvolvidos. O aumento no número de casos de neoplasia pode ser atribuído à urbanização, ao incremento na expectativa de vida e aos melhores diagnósticos (ROSENFELD et al., 2001). Nos últimos anos a taxa de mortalidade por câncer vem aumentando de maneira alarmante em função do crescimento populacional, processo de industrialização e mudanças nos hábitos de vida. De todos os tipos de neoplasias, o câncer de mama representa mundialmente a segunda forma mais comum de câncer e no Brasil, é a principal causa de morte entre as mulheres constituindo um temor devido a sua alta freqüência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos que afetam, principalmente, a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal. (ABREU et al.,2002) De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de mama é mais incidente na região Sudeste do Brasil, sendo que no ano de 2008 a estimativa era de 68 casos novos por 100 mil habitantes enquanto que na região nordeste, 28 casos novos por 100 mil. No Estado do Piauí, a previsão da incidência neste mesmo ano era de 330 casos novos para cada 100 mil, enquanto que na capital (Teresina) esta estimativa representava quase que a metade dos casos (150 por 100 mil) (BRASIL, 2008). A etiologia do câncer de mama é multifatorial e envolve um desequilíbrio entre fatores genéticos, dietéticos, hormonais e reprodutivos. Embora não se conheça exatamente o mecanismo causal da doença, não há dúvidas de que os principais fatores de risco para o desencadeamento deste tipo de neoplasia sejam história familiar, idade, menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade, exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35 anos, dentre outros (BRASIL,2008). A elevação da incidência do câncer de mama no Brasil é um fato marcante no quadro de saúde pública de sua população, em que esta neoplasia já ocupa a primeira causa de câncer em mulheres no país com um todo (BRASIL, 2000). A incidência deste tipo de câncer tem aumentado nas últimas décadas não apenas pelo implemento dos programas de rastreamento mamográfico, mas também por uma elevação real (SOUZA, 1998) em conseqüência de mudanças demográficas e acessibilidade aos serviços de saúde (BRASIL, 2003). Neste período, segundo a taxa de mortalidade de câncer de mama no Brasil apresentou aumentou de 68%, passando de 5,77 em 1979 para 9,70 mortes por mil mulheres em 1998. Com relação a fatores ambientais, dietas ricas em açúcares e gorduras de origem animal, pobres em frutas e hortaliças vêm causando impactos notáveis na sociedade como aumento do sobrepeso e obesidade. Estes, por sua vez, elevam os níveis de hormônios pro-cancerígenos que elevam os risco de promover ou iniciar o processo de formação do tumor (FERREIRA, 2005). Devido ser grande a associação do sobrepeso e obesidade com o câncer de mama, torna-se relevante conhecer o Perfil Nutricional de Pacientes diagnosticadas com esta patologia e caracterizar sua composição corporal. Este trabalho teve como objetivo avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de mulheres com câncer de mama em uma Clínica Particular de Teresina-Piauí 2-METODOLOGIA TIPO E LOCAL DE ESTUDO Foi realizado um estudo descritivo, transversal, no Centro de Tratamento Privado Oncoclínica – Oncologistas Associados, em Teresina-Piauí. AMOSTRA A amostra foi constituída por 30 mulheres diagnosticadas com câncer de mama na faixa etária entre 20 a 59, alfabetizadas, que faziam parte da demanda espontânea da clínica. Foram excluídas da pesquisa aquelas que apresentaram outras doenças como: doenças psiquiátricas graves, lesões do miocárdio ou dependência de álcool ou drogas. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Para a avaliação do Estado Nutricional foi utilizado o índice de Massa Corpórea (IMC), recomendado pelo Ministério da Saúde, para a medida da obesidade em nível populacional e na prática clinica (CUPPARI, 2002). De forma complementar, foram utilizados os seguintes métodos de avaliação nutricional: a adequação das medidas da Prega Cutânea Triciptal (PCT), circunferência do Braço (CB) e Circunferência Muscular do Braço (CMB), em percentual com as medidas padrão de referência (percentil 50 relativa à idade do paciente) ( FRISANCHO, 1991). A aferição do peso foi realizada com balança antropométrica Welmy E a altura foi aferida com estadiômetro – SECA. Para a obtenção das medidas das pregas e circunferências (PCT, CB e CMB) foram utilizados uma fita métrica e um adipômetro (plicômetro) científico modelo Cescorf. Foram realizadas três medições e ao final foi calculada a média aritmética dos resultados obtidos. CONSUMO ALIMENTAR Para verificar o consumo alimentar das participantes deste estudo foi feito um Registro Alimentar de todos os alimentos consumidos no período de 02 (dois) dias na semana e 01(um) dia no final de semana (sábado ou domingo). No momento da entrega dos formulários as participantes da pesquisa foram orientadas quanto à forma correta de anotar os alimentos, assim como também a discriminação dos tipos de refeições, preparações, porcionamentos, medidas caseira, quantidades e horários que as mesmas foram consumidas. Cada paciente recebeu formulários individuais para o preenchimento do consumo alimentar. ANÁLISE DOS DADOS Para análise dos resultados foi montado um banco de dados no programa Microsoft Excel, versão 9.0. ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO A pesquisa foi submetida à avaliação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade NOVAFAPI e Diretoria da Clínica. Todas as participantes deste estudo, antes do início dos testes, foram esclarecidas sobre os objetivos e metodologia da pesquisa e assinaram um Termo de Consentimento livre e Esclarecido, segundo as diretrizes e normas para pesquisa com seres humanos, seguindo a Resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (n° 196/96). 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO No contexto relativo ao Estado Nutricional (EN), a obesidade tem sido apontada como a desordem nutricional de maior ascensão entre a população. Tal epidemia devese a tendências de transição nutricional decorrentes da urbanização e industrialização ocorridas neste século (MARIATH et al., 2007), que estariam fortemente ligadas as mudanças nos padrões de consumo de alimentos, e também a mudanças de ordem demográfica e social (BRASIL, 2006). No trabalho realizado, o IMC médio foi de 26,1 kg/m² (+4,5 kg/m²), acima do considerado “eutrófico” pela Organização Mundial de Saúde, que seria na faixa de 18,5 a 24,9. Dentre as pacientes estudadas, 52% apresentaram sobrepeso e obesidade, fator preocupante visto que isto às predispõem ao um maior risco de complicações metabólicas. Na avaliação do PCT foi identificado que 82,8% das mulheres eram obesas. Quanto ao CB, 55,2% da amostra estavam eutróficas, porém, em relação ao CMB, 74,4% apresentaram algum grau de desnutrição, sendo que a desnutrição leve foi % a mais prevalente. (FIGURA 1) 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 82,8 PCT CB 55,2 CMB 34,5 6,9 3,4 6,9 6,9 3,4 3,4 20,7 13,8 17,2 10,3 20,7 6,9 6,9 Figura 1. Estado nutricional de acordo com a PCT, CB e CMB de mulheres com câncer de mama. Teresina - Piauí, 2009. Estes dados estão em concordância com os estudos de PEDROSO ARAUJO e STEVANANTO(2005), nos quais também é demonstrado um grau de sobrepeso acima de 25%, indicando que o excesso de gordura corporal está fortemente ligado ao surgimento de câncer de mama. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer e PEDROSO ARAUJO e STEVANATO (2005), a obesidade contribui para o risco de desenvolvimento de câncer de mama e endométrio em mulheres pós-menopausa devido à elevada concentração de gordura e de insulina em virtude do maior tempo de exposição ao estrógeno produzido pelos estoques de gordura. Quanto ao consumo de energia pelas pacientes, foi verificado um consumo médio de 1387,5 kcal/dia (+381,2 kcal/dia), sendo que 82,8% apresentaram consumo energético deficiente em relação às recomendações da Organização Mundial de Saúde que seria de 2000 Kcal. Com relação à distribuição dos macronutrientes: carboidratos e lipídios e proteínas classificou-se as dietas consumidas como hipoglicídicas, hipolipídicas e normoproteícas. Figura 2. Consumo alimentar de mulheres com câncer de mama relativos aos % carboidratos, proteínas, lipídios e energia. Teresina - Piauí, 2009 120 100 80 60 40 20 0 Deficiente 96,6 89,7 82,8 Adequado Excessivo 41,4 27,6 31,0 17,2 3,4 10,3 O padrão alimentar ficou mais direcionado para uma dieta mais ocidentalizada, ou seja, aumento da densidade energética, maior consumo de carnes, leite e derivados, alimentos ricos em gordura e alimentos com alto teor de açúcares e redução no consumo de frutas, cereais, verduras e legumes, que aliada à diminuição progressiva da atividade física foi determinante para a elevação de obesidade como epidemia (FERREIRA, 2005). Os dados de consumo de macronutrientes e energia encontrados no estudo foram discordantes dos estudos de FERREIRA , et al. 2005 pois estes relatam que na atualidade existe um alto consumo de energia, proteínas e alimentos ricos em açúcares pela população. 5- CONCLUSÃO A amostra apresentou estado nutricional com predominância de sobrepeso e obesidade, o que reforça a associação entre o excesso de gordura corpórea e o câncer de mama. No entanto, o déficit de consumo energético não influenciou no estado nutricional das mulheres avaliadas, talvez pelo início da patologia ter sido marcado pelo excesso de peso, assim o déficit energético encontrado não teria ainda alterado o estado nutricional de modo significativo. Porém, mais estudos são necessários para se obterem dados mais conclusivos. 6- REFERÊNCIAS ABREU, E; KOIFMAN, S. Fatores prognósticos no câncer de mama feminina. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de Janeiro, 48(1): 113-31.2002. p.711,26-29. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional do Câncer-INCA. Coordenação de Prevenção e VigilânciaCOOPREV. Falando sobre câncer de mama. Rio de Janeiro.2002.p.7-11,2629. __________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à atenção Saúde. Departamento de Atenção Básica. Obesidade. Brasília . Ministério da Saúde, 2006. ___________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 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