Como pôr fim à relação entre terrorismo e Islamismo

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Prática Pedagógica; Nova Escola Explica
Como pôr fim à relação
entre terrorismo e
Islamismo
Os dez anos do atentado às Torres Gêmeas vão colocar
em evidência a relação equivocada que se faz entre a
religião e o terrorismo na atualidade. Estudando o
Islamismo, é possível entender as origens da crença
criada por Maomé e desfazer esse mito
Rita Trevisan
NOVA ESCOLA
Fernanda Kalena
Em 11 de setembro de 2001, ataques
terroristas atingiram os Estados Unidos. A Al
Qaeda, organização fundamentalista islâmica,
assumiu a responsabilidade pelas ações. O
episódio fomentou o preconceito contra essa
religião e seus adeptos, o que motivou a
vinculação entre muçulmanos e terrorismo.
Em setembro, quando os 10 anos do atentado
serão relembrados, o assunto voltará à ordem
do dia. Essa é uma ótima oportunidade para
ensinar à turma a formação do mundo
Expansão islâmica | Veja onde o
islâmico (um conteúdo previsto no currículo de
Islamismo nasceu e como ele se expandiu
pelo mundo | Clique para ampliar
6º e 7º anos) e desmitificar a comum (e
errônea) associação entre o Islã e o terror, que
se tornou mais forte no mundo ocidental na
última década, depois dos atentados às Torres Gêmeas.
Nesse resgate histórico, é imprescindível analisar a trajetória do fundador do
Islamismo, o profeta Maomé (570-632), a partir do século 7, e a rápida
expansão dessa religião pelo mundo, no século seguinte. Pela Arábia, na
época do nascimento de Maomé, passavam muitas caravanas comerciais,
que iam da Índia para o Ocidente. Nesse caminho, foram se formando
grandes cidades - Meca, onde nasceu Maomé, era uma delas. O politeísmo
dominava essas áreas, mas o profeta, influenciado por fundamentos do
Judaísmo e do Cristianismo, passou a defender a crença num único deus.
"Quando situamos a questão historicamente, mostramos que as religiões
monoteístas têm a mesma origem e apresentam pontos em comum. Essa
visão permite que o aluno questione o discurso ideológico que vincula o Islã
ao radicalismo e à violência", diz o professor Mamede Mustafa Jarouche, do
Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP).
O Islamismo nasceu por volta de 613, quando Maomé passou a difundir suas
ideias religiosas. Em pouco tempo, ele começou a ser perseguido por
combater o politeísmo e mudou-se para a atual cidade de Medina. Esse
episódio, chamado Hégira, marca o início do calendário muçulmano. Depois
da morte de seu fundador, o Islamismo continuou a avançar até 661, por
territórios como Pérsia, Armênia, Mesopotâmia, Jerusalém, Egito e Líbia. Até
750, o Magreb, a penísula Arábica, o vale do Indo e parte da China faziam
parte do império islâmico. A religião chegou à península Ibérica no século 8,
influenciando várias áreas do conhecimento, como a medicina e a ciência
(veja o mapa acima) . "Cristãos e muçulmanos conviveram durante quase um
milênio na região, o que proporcionou uma rica troca de ideias. Esse dado
coloca em xeque a suposta rivalidade insuperável entre as duas religiões",
explica Jarouche. Esse enfoque também descontrói a noção de que o
Islamismo é uma religião exclusiva de povos que vivem no Oriente Médio e
de que todo árabe é islâmico e vice-versa. "O Islã está presente no mundo
todo e apenas 20% de seus seguidores concentram-se nessa região", explica
Éber Ferreira Silveira Lima, professor da Universidade Nove de Julho
(Uninove).
Fontes de pesquisa variadas geram debates mais ricos
Para promover uma discussão que ajude os jovens a ampliar sua visão sobre
o tema, o ideal é oferecer um grande número de fontes de informação (leia a
sequência didática). "Vale consultar jornais e revistas, entre outros materiais,
para que se possa abordar a questão sob os mais diferentes pontos de vista",
diz a professora Maria Aparecida de Aquino, do Centro de Estudos Árabes da
USP.
Na aula do professor Wallace Andrioli, na EM Presidente Tancredo Neves, em
Juiz de Fora, a 275 quilômetros de Belo Horizonte, reportagens são usadas
num trabalho que foca a atualidade para ensinar a expansão do islamismo
para turmas de 6º e 7º anos. "Notícias atuais permitem iniciar o debate", diz
ele.
A leitura de textos sagrados, como o Corão, também pode ser um bom
recurso. "É fundamental que o professor conduza os alunos a uma reflexão
que desfaça a ideia de que essas obras incitam à violência. É preciso chamar
a atenção para o fato de que elas estão abertas às mais diversas
interpretações", explica o professor Miguel Attie Filho, também do Centro de
Estudos Árabes. Assim, será possível concluir que o Islamismo possui diversas
características do Cristianismo e do Judaísmo. Em sua sala de 7º ano, a
professora de História Flávia Amaral, do Espaço Aberto Escola, em Niterói, na
região metropolitana do Rio de Janeiro, usou essa abordagem. "Lemos e
interpretamos alguns trechos de livros sagrados islâmicos. Percebemos,
então, que havia uma variedade de leituras possíveis e que elas não se
relacionam à violência."
Pergunta do aluno
Jihad é sinômino de Guerra Santa?
Não. Nos últimos anos, a expressão foi popularizada com o sentido de guerra
física. Numa leitura dos textos sagrados, elatem outra conotação: a de uma
batalha pessoal e espiritual. Há uma passagem que narra a volta de Maomé a
Meca depois de ganhar uma batalha. Ele diz, então, que a grande guerra santa é
aquela que todo homem deve travar dentro da própria alma.
Quer saber mais?
CONTATOS
EM Presidente Tancredo Neves, tel. (32) 3690-7687
Espaço Aberto Escola, tel. (21) 2625-8275
Éber Ferreira Silveira Lima
Mamede Mustafa Jarouche
Miguel Attie Filho
Wallace Andrioli
BIBLIOGRAFIA
O Que É Islamismo, Jamil Almansur Haddad, 100 págs., Ed. Brasiliense, tel. (11) 3087-0000, 19,90 reais
Oriente Médio e a Questão Palestina, Beatriz Canepa e Nélson Bacic Olic, 122 págs., Ed. Moderna, tel. 0800172002, 33,90 reais
Uma História dos Povos Árabes, Albert Hourani, 528 págs. Ed. Cia. das Letras, tel. (11) 3707-3500, 76 reais
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2113/como-por-fim-a-relacao-entre-terrorismo-eislamismo
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Publicado em NOVA ESCOLA Edição 244, 01 de Agosto de 2011
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