CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E ESTILO

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CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E ESTILO DE VIDA:
ASSOCIAÇÃO COM O CÂNCER DE MAMA
Daniela do Nascimento1
Gerli Elenise Gehrke Herr2
Adriane Cristina Bernat Kolankiewicz3
RESUMO
Este estudo objetivou comparar características sociodemográficas de mulheres com câncer de
mama e sem câncer de mama e identificar seu comportamento com as variáveis de estilo de
vida (tabagismo, uso de drogas) e relacionar estas características com a doença. Foi um estudo
observacional do tipo caso-controle em que as mulheres com diagnóstico de câncer de mama
foram os casos e as mulheres que não desenvolveram câncer de mama os controles. Este
estudo é um projeto institucional intitulado “Estudo multidimensional de mulheres com
câncer de mama” da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.
Fizeram parte do estudo dois grupos populacionais, um de mulheres com câncer de mama
(casos) e outro com mulheres sem câncer de mama (controles). Para coleta de dados foi
utilizado um questionário estruturado que abordou as características sócio-demográficas e de
estilo de vida. A coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro a maio de 2013, sendo
sua amostragem estabelecida por conveniência. A digitação e análise dos dados foram
realizadas no Softwer Statistical Program for Social Sciences versão 18.0 (SPSS). Houve
predomínio de câncer de mama em mulheres que vivem em vulnerabilidade social, com baixa
escolaridade e renda, cor branca, estado civil casada/com companheiro, faixa etária acima dos
60 anos. Percebe-se que o tabagismo está ausente em 73% das mulheres da população
participante. Em relação ao uso de bebida alcoólica, a maioria das mulheres não faz uso da
mesma, com 77,5% no grupo caso, assim como também predominou a ausência do uso de
drogas, totalizando 98,5%. Dados dessa pesquisa corroboram com dados nacionais e
internacionais quando relacionamos os aspectos sociodemográficos com o câncer de mama,
prevalecendo as mulheres mais afetadas aquelas em que vivem em vulnerabilidade social,
com baixa escolaridade e renda, as quais podem apresentar dificuldades para o acesso aos
serviços de saúde, por terem restrição de conhecimento.
Palavras-chave: Estilo de vida; Mulheres; Câncer de mama.
_______________________________
1
Enfermeira no Hospital Santo Angelo/RS.
Enfermeira no Hospital Unimed Noroeste/RS. Especialista em Enfermagem Hospitalista.
Aluna Especial do Mestrado Atenção Integral à Saúde da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul.
3
Enfermeira. Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP.
Docente do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul.
2
INTRODUÇÃO
O câncer caracteriza-se por um crescimento desordenado e acelerado de células, capazes de
invadir vários órgãos de forma progressiva. Tem sido considerado um problema de saúde
publica, representado na sociedade por inúmeros significados negativos (SOUZA, 2008). O
câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o mais comum entre
as mulheres. A cada ano, cerca de 22% dos casos novos de câncer em mulheres são de câncer
de mama (SILVA; ALBUQUERQUE; LEITE, 2010).
O Instituto Nacional do Câncer - INCA (2012), destaca que o estilo de vida saudável é um
fator essencial para a proteção do câncer. Fatores comportamentais como o tabagismo,
consumo de álcool, dieta pouco saudável e falta de atividade física são fatores associados a
prevalência do câncer.
As causas do câncer estão relacionadas a um conjunto de fatores de natureza intrínseca e
extrínseca. Entre os fatores intrínsecos estão a idade, o sexo, a etnia ou raça, e a herança
genética. Já no grupo de fatores extrínsecos estão incluídos o uso de tabaco e álcool, hábitos
alimentares inadequados, inatividade física, imunossupressão, exposições ocupacionais,
obesidade, uso de drogas, fatores ambientais, reprodutivos ocupacionais e hormonais. Essa
exposição é cumulativa no tempo e, portanto o risco de câncer aumenta com a idade. Mas é a
interação entre os fatores mencionados acima que vão determinar o risco individual do câncer.
A mudança desses hábitos depende do comportamento do indivíduo, requerendo assim
mudanças a nível populacional e comunitário (INCA, 2012).
A partir desta premissa temos como objetivos deste estudo comparar características
sociodemográficas de mulheres com câncer de mama e sem câncer de mama; identificar seu
comportamento com as variáveis de estilo de vida (tabagismo, uso de drogas) e relacionar
estas características com a doença.
MÉTODO
Estudo observacional do tipo caso-controle. Faz parte do projeto institucional intitulado
“Estudo multidimensional de mulheres com câncer de mama” da Universidade Regional do
Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Coleta de dados realizada na unidade de internação
clínica médica e ambulatório do Centro de Alta Complexidade em Tratamento do Câncer
(CACON) do Hospital de Caridade de Ijuí (HCI), Rio Grande do Sul, Brasil. Destaca-se que
esta instituição é filantrópica, e atende na sua maioria usuários do Sistema Único de Saúde
(SUS).
Participaram desta pesquisa dois grupos populacionais, um de 102 mulheres com câncer de
mama (casos) e outro com 102 mulheres sem câncer de mama (controles). A coleta de dados
ocorreu entre os meses de fevereiro a maio de 2013, sendo sua amostragem estabelecida por
conveniência.
O grupo caso se constituiu por mulheres com diagnóstico de CA de mama assistidas no
ambulatório do CACON. Contatou-se com as mulheres nos dias em que estas tinham
agendamento de consultas médicas, tratamento quimioterápico (QT) ou radioterápico (RxT),
ou em atendimento nos serviços como fisioterapia, nutrição, farmácia e psicologia. Como
critérios de inclusão para o grupo caso foram considerados, ter tido diagnóstico médico de CA
de mama, estar em tratamento QT e/ou RxT ou combinado, ter realizado tratamento cirúrgico
para o câncer de mama, ou estar em acompanhamento ambulatorial. Critérios de exclusão:
menores de 18 anos de idade e que apresentaram um estado de confusão mental ou
incapacidade para responder ao questionário atestado no prontuário.
Para acessar as mulheres do grupo controle utilizou-se como estratégia a unidade de clínica
médica do HCI. Os critérios de inclusão foram não ter CA de mama, residir em Ijuí ou
município da região que faz parte dos 122 municípios que são atendidos no CACON, e como
critérios de exclusão, menores de 18 anos, que apresentaram um estado de confusão mental ou
incapacidade para responder ao questionário.
Para coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado que abordou as características
sociodemográficas e de estilo de vida.
Dentre as variáveis sociodemográficas considerou-se a idade referida, cor da pele (branca,
negra, amarela, parda, outra), situação conjugal (casada, solteira, viúva, concubinato, separada
ou divorciada), nível de escolaridade (sem instrução, Ensino Fundamental Incompleto, Ensino
Fundamental Completo, Ensino Médio Incompleto, Ensino Médio Completo, Ensino
Superior), renda familiar (abaixo de 1 salário mínimo, de 1 a 2 salários mínimos, de 3 a 5
salários mínimos, de 5 a 8 salários mínimos, acima de 8 salários mínimos, não respondeu).
Dentre as variáveis dos hábitos de vida, considerou-se o tabagismo (fumo cigarro), o
consumo de bebida alcoólica (cerveja), drogas (cocaína).
A digitação e análise dos dados foram realizadas no Softwer Statistical Program for Social
Sciences versão 18.0 (SPSS). A análise estatística descritiva dos dados foi efetivada por meio
do cálculo das frequências relativas e absolutas, média e desvio padrão. Para a estatística
analítica foram utilizados os testes Qui-quadrado de Pearson e Exato de Fisher.
Preliminarmente à coleta de dados, o projeto da pesquisa institucional intitulada “Estudo
multidimensional de mulheres com câncer de mama” da Universidade Regional do Noroeste
do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ foi submetido e obteve aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da UNIJUÍ sob parecer consubstanciado número 187.741 de 31 de janeiro de
2013.
RESULTADOS
Participaram do estudo 204 mulheres (102 casos e 102 controles). A idade das
participantes variou entre 18 a 92 anos. A média de idade dos dois grupos foi de 58,42 ± 13,3
anos. A faixa de idade de 60 anos ou mais é a mais frequente com 45,1% das mulheres do
estudo.
O estado conjugal mais frequente é de mulheres casadas (63,7%). A cor declarada foi,
predominantemente, a branca em 82,7%. A escolaridade é baixa, 4,4% não tem escolaridade,
e a concentração fica no ensino fundamental incompleto (56,9%). Observamos que 75%
atingiram, no máximo, o ensino fundamental completo. A renda familiar é baixa sendo que
66,7% declaram renda de no máximo de dois (2) salários mínimos. Dados que podem ser
evidenciados na tabela 1.
Tabela 1: Características sociodemográficas de mulheres com e sem câncer de mama e
suas associações com as variáveis independentes, Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil – 2013
Variáveis, n=204
Caso
n(%)
Controle
n(%)
Total
n(%)
P
0,000
**
Idade em anos
De 18 a 35
2(2)
13(12,7)
15(7,4)
Estado Conjugal
De 36 a 40
De 41 a 49
De 50 a 59
60 anos ou mais
Casado ou s/companheiro
4(3,9)
26(25,5)
34(33,3)
36(35,3)
72(70,6)
4(3,9)
8(7,8)
21(20,6)
56(54,9)
58(56,9)
8(3,9)
34(16,7)
55(27)
92(45,1)
130(63,7)
Não Casado ou s/companheiro
Branco
Não Branco
Sem escolaridade
Até 08 anos
Mais de 8 anos
Até 2 salários
30(29,4)
86(86)
14(14)
5(4,9)
66(64,7)
31(30,4)
72(70,6)
44(43,1)
81(79,4)
21(20,6)
4(3,9)
78(76,5)
20(19,6)
64(62,7)
74(36,3)
167(82,7)
35(17,3)
9(4,4)
144(70,6)
51(25)
136(66,7)
Mais de 2 salários
30(29,4)
38(37,3)
68(33,3)
Cor
Escolaridade
Renda
Familiar ***
0,029
*
0,266
0,175
0,298
Fonte: Dados das autoras. * = P<0,05, associação significativa estatisticamente. **=P<0,01,
associação altamente significativa estatisticamente; ***Salário mínimo válido em janeiro de
2013=R$ 678,00.
Na tabela 2, podemos evidenciar o comportamento dessas mulheres quanto aos hábitos
de vida, percebe-se que o tabagismo está ausente em 73% das mulheres da população
participante. O tempo de tabagismo das fumantes e ex-fumantes varia entre menos de 10 anos
(45,5%) a mais de 30 anos (12,7%). Em média o tempo de tabagismo foi de (14,5 ± 11,6)
anos. Verificou-se que em 50% das mulheres que fumam/ou fumaram o tempo máximo é de
11,4 anos. O consumo mais freqüentemente referido é de menos de 20 cigarros (70,9%). O
Hábito de Fumar não apresenta uma associação estatisticamente válida com os grupos,
(P>0,05).
O consumo de bebida alcoólica foi verificado em 37,3% das mulheres. A bebida alcoólica
mais consumida é a cerveja (85,6%) como opção única ou com outros tipos. O consumo mais
frequente é de 1 copo (13,5%). Verificou-se que o consumo de BA é alto (79,7%) das
mulheres que referiram consumir. O consumo de drogas é baixo, apenas 3 mulheres referiram
o uso de drogas: cocaína (1,5%). No grupo Caso o consumo de bebida alcoólica é verificado
menor (22,5%) das mulheres enquanto no Grupo Controle atinge (52%). Quando o
comportamento relaciona-se ao Não Consumo de BA a concentração se inverte observando-se
um comportamento típico (77,5%/48%). É uma associação média (CC=0,307) altamente
significativa estatisticamente (P<0,01).
O consumo de drogas é baixo, apenas 3 mulheres referiram o uso de drogas: cocaína
(1,5%). Com isso não é possível ser verificado um comportamento típico estatisticamente
válido associado aos grupos (P>0,05), porém as três (3) mulheres que referiram o uso de
cocaína são do grupo caso.
Tabela 2: Hábitos Sociais de mulheres com e sem câncer de mama e suas associações
com as variáveis independentes, Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil – 2013
Variáveis, n=204, ni=102
Fuma
Uso bebida
alcoólica
Sim
Não
Ex
tabagista
Sim
Não
Uso Drogas
Sim
Não
Caso
Controle
Total
Nº %
Nº %
Nº
%
9
8,8%
11 10,8%
20 9,8%
74
72,5% 75 73,5% 149
73,0
%
19
18,6% 16 15,7%
35
17,2
%
23
22,5% 53 52,0%
76
37,3
%
79
77,5% 49 48,0% 128
62,7
%
3
2,9%
0
0,0%
3 1,5%
99
97,1% 102 100,0% 201
98,5
%
P/CC
(1)0,793 (n.s.)
(2)0,000**/0,30
7
(2)0,246 (n.s.)
Fonte: Dados das autoras Nota: P=Significância pelo teste de Associação –(1) Quiquadrado de Pearson ou (2) Exato de Fisher, **=P<0,01, associação altamente significativa
estatisticamente; *=P<0,05, associação significativa estatisticamente; n.s.=P>0,05,
associação não significativa estatisticamente. CC=Coeficiente de Contingência para
associações válidas.
DISCUSSÃO
Na contemporaneidade, o câncer (CA) de mama tem sido um aspecto preocupante,
para os profissionais de saúde, têm em vista as suas dimensões, bem como a necessidade
emergente de atividades de natureza preventiva realizadas de forma interdisciplinar. Dados
dessa pesquisa corroboram com dados nacionais e internacionais quando relacionamos os
aspectos sociodemográficos com o CA de mama, prevalecendo as mulheres mais afetadas
aquelas em que vivem em vulnerabilidade social, com baixa escolaridade e renda, as quais
podem apresentar dificuldades para o acesso aos serviços de saúde, por terem restrição de
conhecimento.
Entre os aspectos sociodemográficos, o fator idade é um fator que chama a atenção,
pois conforme aumenta a idade aumenta o risco, dado estatisticamente associado ao CA de
mama, somado os efeitos cumulativos no decorrer da doença. Segundo INCA, o fator idade
continua sendo um dos mais importantes, sendo que a incidência do CA de mama é rara antes
dos 35 anos de idade, após ele apresenta uma incidência progressiva até 50 anos e após esta
faixa etária seu aumento ocorre de forma lenta (INCA, 2012).
O fato das mulheres não serem casadas ou não possuírem companheiros, pode estar
relacionado a não realização de exames, pois em certa medida, o parceiro influencia para uma
maior adesão e procura por serviços de saúde (BRITO, et al, 2010). Na população pesquisada
prevaleceram às mulheres casadas ou que convivem com companheiro, com maior ocorrência
desta situação entre as mulheres do grupo caso.
Entretanto, este fato pode estar relacionado à diversidade de papéis assumidos pelas
mulheres na contemporaneidade, com jornadas duplas ou triplas o que pode desencadear
stress emocional, considerando que sua inserção no campo de trabalho não a libera das
responsabilidades com as atividades domésticas e educação dos filhos, o que resulta em um
acúmulo de atribuições o que pode contribuir para o desequilíbrio orgânico (PAFARO;
MARTINO, 2004).
A cor branca foi predominante em 82,7% das mulheres participantes da pesquisa.
Conforme Sabbi citado por Borghesan; Pelloso; Carvalho (2008), o CA de mama acontece
mais nas populações de mulheres brancas dos países industrializados e mais urbanizados,
onde predomina um padrão socioeconômico mais elevado. Destaca-se ainda que na região
onde as entrevistas foram feitas, prevalece a população de cor branca.
A escolaridade das entrevistadas é considerada baixa. A escolaridade tem influência
no acesso aos serviços de saúde e interfere na capacidade de entendimento, na compreensão
do tratamento prescrito, na realização do autocuidado e na relação terapêutica entre
profissional de saúde e usuário. Dessa forma, a escolaridade deveria ser considerada como
uma das diferentes ações vinculadas às estratégias de prevenção do câncer e promoção da
saúde (ZILLMER, et al, 2013). Apesar de vários anos de estudo sobre fatores de risco, o
conhecimento é maior a medida que o nível de escolaridade aumenta, ressaltando-se assim a
necessidade de projetos informativos e educativos singulares, respeitando as necessidades e
limitações dos usuários (BATISTON et al, 2011).
Wünsch Filho et al (2008), ressaltam que as classes sociais são economicamente
desfavorecidas, são menos assistidas no que diz respeito ao controle do câncer. Deste modo,
essas pessoas são mais expostas aos fatores de risco e comorbidades, além de se depararem
com a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, repercutindo no retardo do diagnóstico,
podendo muitas vezes levar a um prognóstico ruim, e consequentemente a intervenções
mutiladoras.
A renda familiar das participantes também foi baixa. De acordo com Zillmer et al
(2013), a situação socioeconômica desempenha papel fundamental na determinação da saúde
de indivíduos e populações. Assim, segundo autor citado acima, indivíduos com baixa renda
apresentam uma pior condição de saúde e menor procura por serviços médicos e acesso aos
cuidados de saúde. Ademais, as doenças crônicas não transmissíveis podem reduzir a
capacidade para o trabalho das pessoas e resultar em maiores gastos com o tratamento,
podendo aumentar as dificuldades financeiras.
O nível socioeconômico, em muitos estudos, tem sido relacionado ao surgimento do
câncer, pois pessoas com menor grau de escolaridade e renda têm maior dificuldade para
entendimento e realização do processo de prevenção (MELO et al, 2013).
Estes dados são importantes para os profissionais da equipe interdisciplinar de todos
os níveis de complexidade, aos quais compete realizar o trabalho focando no conjunto de
informações de diferentes naturezas, como sociais, econômicas, enfim, da multiplicidade de
fatores que interferem no processo saúde-doença-cuidado em oncologia (MELO et al, 2013).
Como a avaliação do paciente de forma integrada é uma prática qualificadora da
atenção ofertada aos usuários, faz-se necessário direcionar e otimizar o atendimento
ambulatorial, considerando a realidade brasileira de elevada demanda nos centros de
referência em Oncologia. Inicialmente, conhecer as condições sociodemográficas, bem como
os hábitos de vida destes, pode favorecer o planejamento assistencial e direcionar esforços
para condições de vulnerabilidade.
Quanto aos hábitos de vida, observou-se que o tabagismo parcela importante dos dois
grupos foi fumante ou é fumante atual. O tabagismo constitui a principal causa de morte
evitável no mundo e é um dos importantes fatores de risco para doenças crônicas. A partir
disso, os órgãos públicos vêm desenvolvendo estratégias de prevenção e de controle quanto
ao seu uso, sendo exemplo o crescente número de campanhas veiculadas pela mídia sobre a
proibição do uso do tabaco em locais públicos (HALLAL, et al, 2009).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) assinala que, se medidas urgentes não forem
tomadas, até 2030, o índice de doenças cardiovasculares no mundo deve aumentar
significativamente e subirá para mais de 8 milhões o número de pessoas que morrerão em
todo o mundo por causa do consumo do tabaco. Sendo, porém, que um dos grandes
obstáculos para o controle do tabagismo é o fato de que seu consumo é aceito pela sociedade
como parte de um estilo de vida (BRASIL, 2013).
Em relação ao uso de bebida alcoólica, a maioria das mulheres não faz uso da mesma,
com 77,5 no grupo caso, assim como também predominou a ausência do uso de drogas,
totalizando 98,5%.De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (2011), o consumo de
álcool está associado ao aumento de vários cânceres como os de cabeça e pescoço, incluindo
o câncer de mama. Um dos mecanismos de ação do álcool seria a alteração do metabolismo,
do estrogênio no fígado. E que o peso também é um fator que pode ser modificado e o
aumento deste está associado a um maior risco de câncer de mama, sobretudo em pacientes
após menopausa, pois os ovários param de produzir o hormônio estrogênio.
O consumo de drogas das entrevistadas é baixo, apenas 3 mulheres referiram o uso de
drogas: cocaína (1,5%). A cocaína é uma das drogas mais consumidas no mundo. Age no
sistema nervoso central, modificando o pensamento e as ações das pessoas. Sintetizada em
laboratório, a cocaína tem como matéria prima a folha de um arbusto denominado erytroxylon
coca (FRANCISQUINHO; FREITAS, 2008).
Seu consumo conforme Francisquinho e Freitas (2008) traz como efeito a euforia,
excitação, sensação de onipotência, falta de apetite, insônia e aumento ilusório de energia.
Após este efeito inicial, vem uma forte depressão que leva o usuário a consumir nova dose,
voltando àqueles efeitos seguidos novamente por depressão, entrando num ciclo em que vai
aumentando a dose que pode levá-lo até a morte em alguns casos.
A principal forma de consumo da cocaína é aspirando-a, pois normalmente se
apresenta sob a forma de um pó, mas também alguns usuários a diluem e injetam diretamente
na corrente sanguínea, o que eleva o risco de uma parada cardíaca fulminante, que é a
chamada “overdose” (FRANCISQUINHO; FREITAS, 2008).
De acordo com Francisquinho e Freitas,
o uso contínuo da cocaína traz como consequência sérios danos ao
organismo do usuário. Os problemas começam nas vias de entrada da
droga, como a necrose (morte dos tecidos) da mucosa nasal ou das
veias, dependendo da forma como é consumida. A quinina, uma
substância que pode estar misturada à cocaína, pode levar à cegueira
irreversível. Infecção sanguínea, pulmonar e coronária também são
consequências do seu uso (2008, p.15).
Um dos grandes problemas da cocaína é a adulteração pela qual o produto puro passa.
Como é comercializada por peso, diversas substâncias são acrescidas ao produto inicial, como
soda cáustica, solução de bateria, água sanitária, cimento, pó de vidro, talco, etc.
A cocaína inalada aumenta o risco dos tumores de cabeça e pescoço com destaque
para as lesões de nasofaringe. Além disso, afeta a traqueia e os pulmões já que o pó e,
principalmente, as impurezas que vêm com ele, se acumulam nos alvéolos e geram
inflamação local. O mesmo se observa com o crack, mas que, por ser fumado, costuma gerar
mais lesões de orofaringe. A maconha tem influência no desenvolvimento de tumores das vias
aéreas, muito semelhante ao cigarro (FRANCISQUINHO e FREITAS, 2008).
Através da citação dos autores citados acima, o consumo de drogas possui uma
associação significativa a vários tipos de câncer, pelos malefícios que causam ao organismo, e
é um dos hábitos de vida que pode ser modificado. E é de suma importância incentivar e
ensinar as mulheres a mudar esse comportamento, através de informações transmitidas pelos
profissionais de saúde.
CONCLUSÃO
Por meio deste estudo, foi possível refletir o quanto os aspectos sociodemográficos
são importantes para o desenvolvimento do CA de mama, bem como são importantes na
oferta do cuidado integral. O fator idade é um fator que chama a atenção, pois conforme
aumenta a idade aumenta o risco. Estudo evidenciou mulheres que vivem em vulnerabilidade
social adoecem mais.
Assim, indivíduos com baixa renda apresentam uma pior condição de saúde e menor
procura por serviços médicos e acesso aos cuidados de saúde. Ademais, as doenças crônicas
não transmissíveis podem reduzir a capacidade para o trabalho das pessoas e resultar em
maiores gastos com o tratamento, podendo aumentar as dificuldades financeiras.
Os resultados obtidos permitem concluir que conhecer as condições
sociodemográficas, bem como os hábitos de vida destes, pode favorecer o planejamento
assistencial e direcionar esforços para condições de vulnerabilidade.
Dados dessa pesquisa corroboram com dados nacionais e internacionais quando
relacionamos os aspectos sociodemográficos com o câncer de mama, prevalecendo as
mulheres mais afetadas aquelas em que vivem em vulnerabilidade social, com baixa
escolaridade e renda, as quais podem apresentar dificuldades para o acesso aos serviços de
saúde, por terem restrição de conhecimento.
Através desse estudo, por adquirir muito conhecimento, há também contribuições que
poderão ser adotadas pelos profissionais que terão a oportunidade de ler esse trabalho, em
adquirir atitudes diferenciadas perante a assistência as mulheres com câncer de mama,
olhando as mesmas holisticamente e não somente as características clínicas e sim além destas,
investigando suas vidas, assim como suas características sociodemográficas e seus
comportamentos quanto aos hábitos sociais, para então, poder orientá-las adequadamente e
assim ajudá-las a enfrentar o câncer com tranquilidade e positividade.
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