Disciplina: Ecologia das Florestas Tropicais Professora: Denise Torres Assunto: CLIMA DA AMAZÔNIA Apostila 3 A Amazônia situa-se na região equatorial e possui um clima quente e úmido, embora este comportamento não tenha sido uma constância durante os últimos 15.000 anos. Alterações da relação Terra-Sol provocaram mudanças significativas na quantidade de energia solar recebida pelo planeta Terra, modificando a composição dos sistemas atmosféricos predominantes e, consequentemente, o clima. As principais mudanças climáticas e fitográficas ocorridas durante o período quaternário foram resultados de freqüentes alterações interglaciais e glaciais, os quais produziam mudanças bruscas, tais como a troca de vegetação predominante de floresta para savanas, durante períodos de clima mais frio e seco (glacial). TEMPERATURA Medidas realizadas na Amazônia Central (Manaus-AM) indicam que os maiores totais de radiação que chegam na superfície ocorrem nos meses de Setembro/Outubro, sendo que os mínimos são nos meses de Dezembro. Devido aos altos valores de energia que incide na superfície, o comportamento da temperatura do ar mostra uma pequena variação ao longo do ano (isotermia), com exceção da parte mais ao sul (Rondônia e Mato Grosso), que inclusive sofrem a ação de sistemas frontais (denominados localmente por friagens). A temperatura média anual varia pouco na faixa central caracterizada pela Planície Amazônica. Os valores tendem a aumentar à medida que se avança para Oeste. Exs: Belém {temperatura média em novembro, o mês mais quente, é igual a 26,5º C, enquanto que o menor valor ocorre em março que é igual a 25,4º C}. Manaus {temperatura média em setembro, o mês mais quente, é igual a 27,9º C, enquanto que o menor valor ocorre em abril que é igual a 25,8º C}. Iquitos {temperatura média em novembro, o mês mais quente, é igual a 32,0º C, enquanto que o menor valor ocorre em julho que é igual a 30,0º C}. A amplitude térmica sazonal é da ordem de 1-2 ºC, sendo que os valores médios situam-se entre 24 e 26 ºC. PRECIPITAÇÃO - A DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA É IRREGULAR A região Amazônica possui uma precipitação média de aproximadamente 2300 mm.ano-1, embora tenham regiões (na fronteira entre Brasil e Colômbia e Venezuela) em que o total anual atinge 3500 mm. Nestas regiões não existe período de seca. Estes valores de precipitação elevada próximo à Cordilheira dos Andes deve-se à ascenção orográfica da umidade transportada pelos ventos alíseos de leste da Zona de Convergencia Intertropical (ZCIT). Na região costeira (no litoral do Pará ao Amapá), a precipitação também é alta e sem período de seca definido, devido a influência das linhas de instabilidade que se formam ao longo da costa litorânea durante o período da tarde e que são forçadas pela brisa marítima. O máximo da chuva na região central da Amazônia, pode estar associada com a penetração de sistemas frontais da região sul, interagindo e organizando a convecção local. O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região Amazônica é compreendido entre Novembro e Março, sendo que o período de seca (sem grande atividade convectiva) é entre os meses de Maio e Setembro. Os meses de Abril e Outubro são meses de transição entre um regime e outro. A distribuição de chuva no trimestre Dezembro-JaneiroFevereiro (DJF) apresenta uma região de precipitação alta (superior a 900 mm) situada na parte oeste e central da Amazônia, em conexão com a posição geográfica da Alta da Bolívia. Por outro lado, no trimestre Junho-Julho-Agosto (JJA), o centro de máxima precipitação deslocou-se para o norte e situa-se sobre a América Central. As quantidades de chuva não estão, porém repartidas uniformemente, nem no espaço, nem no tempo (decurso de um ano). Uma análise geral indica que essa distribuição é bastante variável, indo de regiões com mais de 3000 mm por ano nas encostas Andinas, até cerca de 1600 mm na interface da Amazônia com o cerrado do Planalto Central Brasileiro. É possível observar que a região do estuário amazônico compreende uma faixa em que a precipitação anual atinge em torno de 2.600 mm. Porém, muito mais chuva cai a noroeste da Amazônia, onde as precipitações anuais alcançam mais de 3.600 mm. Há, ainda, uma faixa mais pobre em chuvas que vai do norte até além do médio e baixo amazonas, na qual as precipitações, em certos anos, ficam abaixo de 2.000 mm. Com relação ao período do ano, na Amazônia notam-se comumente diferenças maiores ou menores entre período chuvoso e estiagem. Por exemplo, na região de Santarém, nas imediações da foz do Tapajós, pode ocorrer em certos anos que, durante cerca de 4 semanas seguidas, de agosto a setembro, não chova nada. Já no noroeste da Amazônia são bem diminutas as diferenças entre épocas mais e menos chuvosas. Na região costeira (no litoral do Pará ao Amapá), a precipitação também é sem período de seca definido, devido a influência das linhas de instabilidade que se formam ao longo da costa litorânea durante o período da tarde e que são forçadas pela brisa marítima. Outra característica das chuvas Amazônicas: As chuvas não caem habitualmente sob a forma de chuviscos persistentes, mas são quase sempre aguaceiros torrenciais com trovoadas que podem durar de meia a duas horas. Através do balanço de vapor d'água em toda a região Amazônica, Salati et al. (1979) determinaram que a precipitação na região é uma composição da quantidade de água evaporada localmente (evapotranspiração) adicionada de uma contribuição de água advinda do Oceano Atlântico através dos ventos alíseos. Desta maneira, pode-se estimar que 50 % do vapor d'água que precipita pelas chuvas é gerado localmente (pela evapotranspiração), sendo o 50 % restante importado para a região pela fluxo atmosférico proveniente do Oceano Atlântico. MUDANÇAS CLIMÁTICAS COM O DESMATAMENTO DA FLORESTA TROPICAL Na última década, a Amazônia tem sido foco de atenção mundial devido à sua riqueza mineral, à sua grande biodiversidade de espécies florestais e também pelos efeitos que o desmatamento em grande escala pode provocar no clima regional e global. Algumas previsões de alterações a serem causadas pela substituição ou simples destruição da cobertura vegetal da Amazônia: (Salati et al, 1983) 1. De maneira geral, o desmatamento modificará o tempo de permanência da água na bacia, por diminuir a permeabilidade do solo e, consequentemente, o seu armazenamento em reservatórios subterrâneos. A redução do período de trânsito das águas determinará inundações mais intensas durante os períodos chuvosos, enquanto que a diminuição dos reservatórios subterrâneos reduzirá a vazão dos rios nos períodos secos. 2. Conforme comentado anteriormente, 50% da precipitação da Região Amazônica é proveniente da evapotranspiração da floresta. Através deste processo, a floresta aumenta o tempo de permanência da água no sistema, devolvendo para a atmosfera na forma de vapor parte da água presente no solo. Uma outra cobertura , cuja evapotranspiração não substitua a inicial da região, determinará uma menor disponibilidade de vapor na atmosfera e em conseqüência uma redução na precipitação, especialmente nos períodos mais secos, ou seja, um período seco prolongado melhor definido, com um déficit de água do solo e maiores oscilações das temperaturas. 3. Haverá modificações sucessivas na flora e na fauna até ser atingido um novo equilíbrio ecológico (salienta-se que uma redução na precipitação de 10 a 20% já será suficiente para induzir profundas modificações no atual ecossistema). 4. A Região Amazônica é também uma fonte de vapor dágua para as regiões circunvizinhas. Existem evidências de que há um fluxo de vapor de água do norte para o sul durante o ano todo, e é provável que uma parte do vapor dágua que origina as chuvas da região central da América do Sul seja proveniente da bacia Amazônica. Espera-se, pois, que hajam modificações no ciclo dágua ou no total da água disponível na bacia Platina e mesmo no Planalto Central Brasileiro. 5. A energia solar que incide na região é em média 420 calorias por centímetro quadrado por dia e é em grande parte utilizada no trabalho de evaporação da água através da transpiração das plantas. No caso de deflorestamento em grande escala, o balanço de energia será completamente alterado. Uma grande parte de energia que hoje é utilizada pelas plantas para transpirar será utilizada no processo de aquecimento do ar. Com relação à associação floresta-clima, o desenvolvimento da informática facilitou a utilização de modelos numéricos de Circulação Geral da Atmosfera (MCGAs) para se estudar o efeito das trocas de energia entre a superfície e a atmosfera. Como ferramenta de análise da problemática do desmatamento, vários estudos de simulação numérica do clima em situações de floresta e desmatamento (troca de superfícies vegetadas de floresta po pastagens) já foram realizados (por exemplo Dickinson e Henderson-Sellers, 1988; Lean e Warrilow, 1989, Nobre et al., 1991; Henderson-Sellers et al., 1993; Lean e Rowtree, 1993; Manzi, 1993, Lean et al., 1996). De modo geral, os resultados obtidos convergem em que ocorrerá um aumento de temperatura do ar próximo à superfície (variando de 0,6 à 2,0 C), uma redução nos totais de precipitação e evaporação (de 20 a 30% do valor de floresta) e uma estação seca mais prolongada. Estas modificações certamente acarretarão implicações ecológicas gravíssimas. Em um estudo preliminar, Nobre et al. (1989) estudaram os impactos climáticos devido ao desmatamento e obtiveram um aumento da temperatura do ar de 1,3 C. Este aquecimento relativo da superfície de terra desmatada e do ar imediatamente acima é consistente com reduções na evapotranspiração e no fluxo de calor latente, uma vez que uma maior fração de energia radiativa está disponível para aquecer a superfície terrestre e o ar acima.