“Oxidação de ácido fórmico em eletrodos de Pd/C sitentizados pelo método Sol-Gel” Rafael V. Niquirilo (IC)¹, Hugo B. Suffredini (PQ)¹ Centro CCNH, 1Universidade Federal do ABC Av. dos Estados, 5001, Santo André, SP [email protected], [email protected] Estudos com células a combustível vêm ganhando atenção nos últimos anos, destacando-se as do tipo membrana de troca protônica que utilizam ácido fórmico como combustível. Este ácido apresenta toxidez relativa em concentrações moderadas, sendo ainda um líquido não-inflamável, o que torna seu transporte e o armazenamento seguros, além de permear em menor quantidade pela membrana de Nafion®. Neste sentido este projeto de pesquisa propõe a síntese, caracterização e utilização de ânodos avançados, sintetizados pelo método Sol-Gel, baseados em Pd e pó de carbono, com o objetivo de realizar a oxidação do ácido fórmico em dispositivos conhecidos por Células a Combustível de Ácido Fórmico Direto (DFAFC, do inglês “Direct Formic Acid Fuel Cells”). Depois de sintetizados, os materiais passaram por testes eletroquímicos a partir das diferentes técnicas, tais como estudos de Voltametria Cíclica e Cronoamperometria, que mostraram o bom desempenho dos materiais propostos. Palavras-chave: ácido fórmico, Sol-Gel, paládio, eletrocatálise. I. INTRODUÇÃO II. PARTE EXPERIMENTAL As células a combustível, por meio de reações químicas espontâneas (como visto em uma pilha convencional), possibilitam a produção de energia a partir de algumas moléculas oxidáveis. Basicamente, os combustíveis sofrem oxidação no ânodo, fornecendo elétrons que são levados pelo circuito até o cátodo, onde ocorre o processo de redução, geralmente de oxigênio molecular, apesar de existirem outras possibilidades. Os prótons gerados permeiam por um eletrólito (geralmente o Nafion ®) para completar a reação eletroquímica. Células à combustível que operam diretamente com ácido fórmico (DFAFC, do inglês “Direct Formic Acid Fuel Cells”), são dispositivos promissores para a produção de energia elétrica. O ácido fórmico é usado como, por exemplo, aditivo na fabricação de alimentos, Segundo dados da BASF®, a produção de ácido fórmico pode chegar a 230.000 toneladas por ano, o que viabiliza sua utilização [1]. A oxidação do ácido ocorre principalmente por duas vias. Na primeira, ocorre a desidrogenação do ácido fórmico, que é oxidado diretamente a CO2 [2-3]: HCOOH + Pt0 → CO2 + Pt0+ 2H+ + 2e- (1) Na segunda via, forma-se o intermediário monóxido de carbono (CO): HCOOH + Pt0 → CO(ads) + H2O Pt0 + H2O → Pt-OH + H+ + ePt-CO + Pt-OH →2Pt0 + CO2 +H+ + e- (2) O objetivo deste projeto é o de modificar superfícies de eletrodos a partir do método Sol-Gel utilizando materiais baseados em Pd, Pt e Pb, funcionando como ânodos para promoção da oxidação de ácido fórmico em DFAFC. 1) Preparação e síntese do Pó. Preparação da solução de Acetilacetonato de paládio 0,05 mol L-1. A solução foi preparada em balão volumétrico de 25 mL, utilizando como solvente uma solução 3:2 de Álcool Etílico e Ácido Acético. Para sua total homogeneização, a solução foi colocada em banho de ultra-som por aproximadamente 15 minutos. Neste trabalho, para preparação do pó contendo Pd e C, utilizou-se a proporção fixa de metal (100% de Pd) tendo como substrato o pó Vulcan XC72R. O catalisador foi feito a partir de 0,2g do pó de carbono (para 0,2g de pó de Carbono, foi depositado 0,02g de metal) à solução de Acetil Acetonato de Pd, sendo respeitada a proporção requerida e evitando-se desperdício de material. Ocorre, assim, a formação de uma espécie de “lama negra”. Com a ajuda de uma espátula, os pós foram colocados em banho de ultra-som por aproximadamente 15 minutos, sendo depois aquecidos por um período de 1 hora em mufla à temperatura de 400ºC, utilizando-se atmosfera com predominância de nitrogênio. 2) Fixação do pó no Eletrodo. Para fixação do pó contendo Pd/C no eletrodo de trabalho, utilizou-se 200μl de uma solução de 0,5% Náfion® (SigmaAldrich, solução a 5 % em alcoóis alifáticos) com 0,008g do pó modificado, juntamente com 1000μL de água proveniente do sistema Millipore®. O sistema foi acondicionado em um béquer e submetido a banho de ultra-som para homogeneização. Com o auxílio de uma micropipeta, transferiu-se cerca de 5μL da dispersão e adicionou-se esta quantidade sobre a superfície do eletrodo de Carbono Vítreo (suporte). Após isso, colocou-se o eletrodo em estufa a 80ºC por 1 hora para evaporação dos solventes. 3) Aparatos. Para todos os experimentos, utilizou-se uma célula eletroquímica de um compartimento com entrada e saída de gases e suporte para três eletrodos, sendo constituídas de um contra-eletrodo (eletrodo de platina), um eletrodo de referência (eletrodo de Ag/AgCl e Hidrogênio) e finalmente o eletrodo de trabalho (tipo bota) com o pó catalítico fixado. Para os estudos eletroquímicos utilizou-se o Potenciostato Autolab PGSTAT 100. indício que a oxidação do ácido fórmico ocorre pela via direta, segundo a equação 1. B. Cronoamperometria para o eletrodo contendo Pd/C. Experimentos de Cronoamperometria foram realizados para comprovar o desempenho do eletrodo com carga catalisadora de 10% em 1 mol L-1 de Ácido Fórmico (HCOOH) + 0,5mol/L de H2SO4. Utilizou-se potencial fixo de 80 mV por 1800s, como mostra a figura a seguir: III. RESULTADOS E DISCUSSÕES A. Voltametria Cíclica para o eletrodo contendo Pd/C em ácido fórmico. Estudos de Voltametria Cíclica foram realizados para o eletrodo contendo 10% de carga catalítica em solução contendo 1 mol L-1 de Ácido Fórmico (HCOOH) + 0,5 mol L-1 de H2SO4. Os testes foram realizados para velocidade de varredura de 20 mV/s, adotada devido à cinética lenta de reação, conforme pode ser observado na figura abaixo: Figura 2 – Cronoamperometria para o eletrodo de Pd/C e Pt/C com carga catalisadora de 10% em solução de 1 mol L-1 de HCOOH + 0,5 mol L-1 de H2SO4. E = 80 mV, t = 1800s. Figura 1 – Voltametria Cíclica para o eletrodo de Pd/C e Pt/C em solução 1mol L-1 de HCOOH + 0,5 mol/L de H2SO4. Vel. varredura = 20 mV/s. Pode-se observar que a oxidação do ácido fórmico para o eletrodo contendo Pd/C, se inicia em potencial menor, cerca de 200mV de potencial menos positivo do que o observado para o eletrodo contendo apenas platina. Observando-se a figura, pode-se notar que o eletrodo contendo Pt/C tem uma pequena corrente de oxidação, devido principalmente a forte absorção de CO, envenenando o eletrodo. Alguns autores citam que, para o eletrodo de Pt/C, a oxidação do ácido fórmico ocorre pela via indireta (Equações 2, 3, 4 e 5), o que mostra a inviabilidade de se utilizar este tipo de eletrodo em sistemas reais. O eletrodo contendo Pd/C em seu processo de retorno não apresenta correntes importantes de oxidação, sendo um forte Este experimento é de grande importância, juntamente com a Voltametria Cíclica, pois é possível observar a corrente gerada em função do tempo de duração da estabilidade de corrente. Podemos observar claramente que o eletrodo contendo Pd/C possui corrente mais elevada se comparada com Pt/C. As baixas correntes observadas para o eletrodo de Pt/C podem ser atribuídas ao fato de um possível envenenamento do eletrodo por CO. Para o eletrodo contendo Pd/C o decaimento de corrente pode estar associado, possivelmente, pela perda de massa do material catalítico, em função do tempo de estudo. C. Voltametria Cíclica para o eletrodo contendo Pd-PtPbOx/C em ácido fórmico. Estudos de Voltametria Cíclica foram realizados para este eletrodo em solução contendo 1 mol L-1 de Ácido Fórmico (HCOOH) em 0,5 mol/L de H2SO4. Os testes foram realizados para velocidade de varredura de 20 mV/s, conforme apresentado na Figura 3: Pode-se observar neste experimento que o eletrodo contendo Pd, Pt e Pb em sua composição frente a oxidação do ácido fórmico apresentou correntes elevadas se comparado ao eletrodo contendo Pt/C, mostrando o efeito sinérgico. Ainda observa-se que o material possui maior estabilidade de corrente durante o tempo. IV. CONCLUSÕES Figura 3 – Voltametria Cíclica para o eletrodo de Pd-Pt-PbOx/C em solução 1mol L-1de HCOOH + 0,5 mol L-1 de H2SO4. Vel. de varredura = 20 mV/s. Pode-se observar para este eletrodo que o processo de oxidação do ácido fórmico inicia-se em um potencial baixo, (200 mV), se comparado ao eletrodo contendo Pt/C, gerando grande valor de corrente. Durante o processo de retorno, é possível observar a existência de um valor de corrente de reativação relativamente alto, que indica o envenenamento do eletrodo por intermediários de reação. Em estudos anteriores, observou-se que a utilização de Pt e Pb frente a oxidação de ácido fórmico, apresenta grande desempenho, com incrementos no potencial de oxidação e correntes significativas para os processos de oxidação. Pode-se concluir que o eletrodo que contém Pd em sua composição apresenta um bom desempenho frente à oxidação de ácido fórmico, apresentando menor envenenamento quando comparado diretamente com o eletrodo contendo somente Pt. Por meio dos estudos eletroquímicos, pôde-se observar que a reação de oxidação de ácido fórmico para o eletrodo de Pd/C provavelmente ocorre pelo mecanismo de oxidação direta. A adição de Pb e Pt ao eletrodo contendo Pd mostrou ser uma alternativa interessante frente a oxidação de ácido fórmico, sendo necessários testes futuros para avaliar a viabilidade deste sistema. AGRADECIMENTOS Ao PIC/PIBIC pela bolsa de iniciação científica e ao mestre Guilherme S. Buzzo, da Universidade Federal do ABC. D. Cronoamperometria para o eletrodo contendo Pd-PtPbOx/C. REFERÊNCIAS [1] Experimentos de Cronoamperometria foram realizados para comprovar o desempenho do eletrodo com carga catalisadora de 10% em 1 mol L-1 de Ácido Fórmico (HCOOH) + 0,5 mol L-1 de H2SO4. Figura 4 – Cronoamperometria para o eletrodo de Pd-Pt-PbO x/C com carga catalisadora de 10% em solução de 1 mol L-1 HCOOH + 0,5 mol L-1 de H2SO4. E = 80 mV, t = 1800s. [2] [3] http://www2.basf.de/en/intermed/news/topstory/archiv/ameisensaeure.ht m?id=V00--2Qo3BmMrbw21pF C. Rice, S. Ha, R.I Masel, A. Wieckowski, J. Power Sources, 115 (2003) 229-235. L.J. Zhang, Z.Y. Wang, D.G. Xia, J. Alloys and Comp., 426 (2006) 268271.