Ler Crónica - Chico Amaral

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E STA D O D E M I N A S
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Q U A R T A - F E I R A ,
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M A R Ç O
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CULTURA
MÚSICA
ETC.
CHICO AMARAL
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SHOW
O violonista gaúcho Yamandú Costa se apresenta com
seu trio instrumental, com repertório do segundo disco
Depoimento
sonoro
TASSO MARCELO/AE
O disco de violão solo de Juarez Moreira é
possivelmente a melhor introdução à sua
música. Juarez é compositor também, mas
como Baden Powell, gosta de visitar outros
compositores. O amplo repertório – de Egberto Gismonti, Laurindo de Almeida, Luis
Eça, canções americanas, Ernesto Nazareth
e outros – belamente realizado, acaba sendo
um depoimento sonoro, cheio de implícitas
reflexões sobre as correntes musicais de
nosso tempo. Uma execução límpida coloca em evidência a composição, mas de modo natural a gente vai prestando atenção
numa outra coisa: o trabalho irrefutável do
violão. Juarez Moreira pontua, curiosamente, uma reflexão sobre parâmetros musicais, expondo na contracapa um comentário de Egberto sobre a solidão da melodia
em Apanhei-te Cavaquinho, que agradou intensamente ao músico carioca. “Poucas vezes – diz Egberto – ele permitiu que a melodia vivesse tão solitária, tão importante e
tão cantabile”. O público certamente achará
o mesmo em Travessia, em Sabiá, em várias
outras. O jeito pausado, calmo, paciente,
que Juarez desenvolve nas execuções busca
equacionar precisamente isto: o equilíbrio
entre sua harmonização raríssima e a sensação coletiva, popular, da melodia .
Loucos, loucos
Música na cidade: boas programações na
Agência Status e no Café com Letras, entre
outros lugares (Utópica, Conservatório, Café
Tina, Café do Sol, Cozinha de Minas, Bar do
Romeu, Paladino, Pop Rock Café etc.). Rubinho, dono da Status, vem arquitetando um
projeto inusitado: música ao vivo todos os
dias, o tempo todo. Faz lembrar uma certa
época em Nova York quando, contam-nos,
Charlie Parker fazia a
madrugada e, de 9h
ao meio-dia, continuava a tocar no
Minton’s. A diferença, fora a figura incomparável de Parker, é que a música
terminava num lugar
e continuava no outro. Em BH, a coisa
aconteceria num só
espaço. Rubinho é
louco, os músicos são
loucos. Quero saber
quem vai ser mais
louco ainda pra entrar e ouvir música às 6h. Não acredito que
ele vá conseguir, mas uma coisa já fez: a casa
tem música ao vivo todos os dias, com atrações se substituindo, das três da tarde até
meia-noite, nos dias de semana; aos sábados,
das 10h à meia-noite; domingo, de 8h à meianoite.!!! Nunca vi isso em lugar nenhum. Agora uma crítica aos músicos: muitas vezes o
som está alto. Para o som poder ser alto, a situação tem que ser outra. Nenhuma dessas
casas comporta isso (com exceção do Pop Rock Café). A música pode esquentar e envolver,
sem precisar de volume.
A música
pode
esquentar e
envolver,
sem
precisar de
volume
Gêmeos na arte
Assisti ao DVD do show Pet Sounds, com
Brian Wilson e banda, em Londres, 2002. Brian
Wilson e Paul McCartney já foram chamados
de irmãos gêmeos separados por um oceano.
Seus dons para melodias, o apuro musical, até
o som e a levada do baixo, muita coisa neles
é idêntica. No DVD, Brian Wilson lembra que
God only knows é a canção favorita de Paul.
Realmente linda, com harmonia inacreditável, que é a marca de Brian. Pet Sounds, o disco dos Beach Boys de 1966, é cheio disso. Nascido sob o impacto de Rubber Soul (Beatles,
65), seu próprio impacto influenciou o Sgt.
Peppers, “nosso Pet Sounds”, como McCartney
costumava dizer durante as gravações. Quem
leva a copa no final são os Beatles, mais luminosos, mais sintéticos na questão da sofisticação/apelo popular, mais convincentes no
próprio campo do experimentalismo. No entanto, Brian Wilson, com sua musicalidade
superior, nunca deixará de nos comover. O
DVD prova isso, até melhor que o disco.
Skank clássico
Semana que vem o Skank apresenta seu
Cosmotron em São Paulo. O show será gravado e lançado em DVD pelo canal Multishow.
O Skank está num grande momento, com
um show realmente sensacional. A substituição de um sopro por outra guitarra, deu uma
tremenda sonoridade rock’n roll à banda,
adequada ao novo repertório. Fora outras cositas (primeiro lugar nas rádios, com Vou deixar). O principal é o seguinte: Cosmotron é
um dos melhores discos dos últimos tempos,
e Dois Rios (Samuel, Lô e Nando Reis) já é
uma canção clássica.
Considerado uma das maiores revelações da música brasileira, o gaúcho Yamandú Costa se apresenta em Belo Horizonte e Juiz de Fora
Clássicos para
as seis cordas
AILTON MAGIOLI
Longe de querer adotar um
discurso raivoso contra as gravadoras, Yamandú Costa está feliz
da vida com a experiência independente do ano passado, quando gravou o segundo disco solo e
primeiro ao vivo de carreira. “Vivemos outra época, o global chama para o regional”, justifica o
comportamento o violonista, admitindo que até pelas facilidades
tecnológicas hoje as empresas já
não investem tão alto em artistas. De volta a Minas Gerais para
shows de lançamento de Yamandú Ao Vivo, o violonista gaúcho
se apresenta hoje e amanhã à
noite, no Teatro Sesiminas, da capital, seguindo para o interior,
onde fará o primeiro show em
Juiz de Fora, na Zona da Mata, na
sexta-feira, no Teatro Pró-Música.
Acompanhado de Thiago do
Espírito Santo (baixo) e Eduardo
Ribeiro (bateria), Yamandú Costa
(violão) apresenta aos mineiros o
repertório do segundo disco,
além de algumas prováveis sur-
presas. Afinal, adverte o violonista, “os próprios músicos costumam dizer que eles nunca sabem o que vai acontecer quando
tocam comigo”, diverte-se Yamandú, que gosta de comparar a
sua energizada peformance cênica a um filme de Alfred Hitchcock. Exageros à parte, o violonista
admite que tem sempre algumas
pérolas na cartola, para surpreender músicos e público. Do disco
novo do artista os mineiros terão
a chance de conferir Valsa Nº 1 e
Vou deitar e rolar, de Baden Powell, Brasiliana Nº 1, de Radamés
Gnatalli, Conversa de Botequim,
de Noel Rosa e Vadico, Disparada,
de Théo de Barros e Geraldo Vandré, e Sampa, de Caetano Veloso,
entre outras, além de composições do próprio Yamandú.
Segundo o violonista, a opção pela gravação de um disco
de trio, ao vivo, foi uma decorrência natural depois de Yamandú, de 2001, que ele havia
gravado pela Eldorado, como
vencedor do Prêmio Visa de
MPB, na categoria instrumental
daquele ano. “O primeiro foi
um disco mais rebuscado e camerístico, com arranjos de
quarteto”, recorda. “Como muitos sentiram falta do ao vivo,
que é forte no meu caso, decidimos fazer o segundo para suprir a falta que o público sentia”, acrescenta, lembrando que
fazer um disco ao vivo não é fácil, mas que ele teria conseguido captar o clima ao lado dos
amigos-instrumentistas. Depois de vender 70 mil cópias do
primeiro, o violonista gaúcho
diz que já está providenciando
uma segunda tiragem de 10 mil
unidades do segundo, salientando que os números são muito bons em se tratando de música instrumental brasileira.
■ CLÁSSICOS
LATINO-AMERICANOS
Para provar que não cultiva
rancores da indústria fonográfica ele conta que está sempre
atento a projetos como os da
gravadora carioca Biscoito Fi-
no, na qual acabou de gravar,
ao lado do saxofonista e clarinetista Paulo Moura, o disco El
Negro nel Blanco, no qual revisitam clássicos latino-americanos de Violeta Parra e Atahualpha Yupanky, além de composições próprias como a música
título, assinada por Yamandú.
Anteriormente, o violonista
havia participado da coletânea
3º Compasso – Samba & Choro,
da mesma gravadora. Enquanto organiza as composições
inéditas para atender a um
convite de parceria com o poeta Paulo César Pinheiro, Yamandú Costa prepara mais
uma vez as malas para viajar à
Europa, onde faz seis shows no
mês que vem, pela primeira
vez na Alemanha.
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YAMANDÚ COSTA TRIO
Hoje e amanhã, 21h, no Teatro Sesiminas, rua padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31) 3241-7181. R$ 20 + um quilo
de alimento não-perecível. Na sextafeira, 21h, Teatro Pró Música, av. Rio
Branco, 2329-A, Centro, Juiz de Fora. R$
15 (antecipado) e R$ 20 (no dia da
apresentação).
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ROCK
Telescopes em CD especial para o Brasil
ARTHUR G. COUTO DUARTE
Ao lado de Jesus & Mary
Chain, Loop, Spacemen 3 e My
Bloody Valentine, The Telescopes foi um dos principais expoentes das noisy guitar bands
que tomaram de assalto a Inglaterra, ao final da década de 80.
Praticando uma deslavada sangria contra os tímpanos daqueles que ousassem encarar sua
sonoridade, esse quinteto vindo
da pequena Burton-upon-Trent
sempre fez questão de demonstrar total desrespeito para com
as sutilezas estruturais das canções convencionais. Um ícone
do iconoclasmo rocker que fi-
nalmente chega ao Brasil através da sensacional compilação
Premonitions 1989-91.
Em edição especialmente
monitorada pelos próprios músicos do Telescopes, que depois
de quase dez anos de silêncio resolveram retomar suas atividades, a referida coletânea é exclusiva para nosso País. A proeza
deve ser debitada ao valoroso
selo independente Midsummer
Madness, de propriedade do carioca Rodrigo Lariu – um veterano da cena dos fanzines e incentivador do indie-rock, tanto no
nível local (vide os lançamentos
dos grupos Fellini, Pelvs, The Cigarettes e Second Come, entre
outros) quanto internacional.
Entre outras preciosidades,
Premonitions 1989-91 traz faixas extraídas de compactos
hoje fora de catálogo na Europa, como as mega-distorcidas
S.H. Burn e You can not be sure;
ambas lançadas originalmente
através do raro single The perfect needle. Comparecem ainda
material do álbum Taste (editado pela What Goes On, em
89) e de extended plays como
Flying e Everso – esse último,
aberto para aclimatações francamente aciduladas.
Boicotado pelos programas
musicais ingleses de sua época,
já que os produtores temiam
que os vídeos do grupo e seus
mirabolantes efeitos sensoriais
pudessem induzir crises de epilepsia nos telespectadores (!),
The Telescopes se manteve fiel
ao terrorismo cultural, sempre
pronto para – conforme um arguto crítico observou na ocasião – “brincar com a psique da
audiência, examinando a norma e a realimentando através
de um liquidificador psicodélico”. Mesmo à margem da fama,
seu legado de microfonias, ondas fuzz, trucagens eletrônica e
decibéis em profusão haveria
de fazer história, rompendo a
barreira do tempo e as portas
da percepção.
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