UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB ELIETE MEDEIROS DA ROCHA O PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA EM DUAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA PARA O PORTUGUÊS João Pessoa – PB 2014 ELIETE MEDEIROS DA ROCHA O PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA EM DUAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA PARA O PORTUGUÊS Trabalho apresentado ao Curso de Bacharelado em Tradução para obtenção do título de Bacharel em Tradução pela Universidade Federal da Paraíba. Orientadora: Profa. Dra. Luciane Leipnitz João Pessoa – PB 2014 ELIETE MEDEIROS DA ROCHA O PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA EM DUAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA PARA O PORTUGUÊS Trabalho apresentado ao Curso de Bacharelado em Tradução para obtenção do título de Bacharel em Tradução pela Universidade Federal da Paraíba, sob apreciação da seguinte banca examinadora: Data ____/____/ 2014 Nota _____________ BANCA EXAMINADORA: _________________________________________________ Profª. Drª Luciane Leipnitz (Orientadora) _________________________________________________ Prof. Dr. Roberto Carlos de Assis _________________________________________________ Profª. Drª. Tânia Liparini Campos Dedico este trabalho ao Senhor Deus, autor e consumador da minha fé. “Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.” Romanos 11.36 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao Senhor Deus pela revelação da Sua palavra e por tê-la preservado até aos nossos dias para que, desse modo, pudéssemos conhecê-Lo, amá-Lo, serviLo e gozar da maior realização que dá a vida pleno sentido: viver para a Sua glória. Agradeço também aos meus pais que me ensinaram o que é o amor através do seu exemplo de dedicação incondicional e me levaram a conhecer e amar o meu Deus. Agradeço ao meu marido que nunca deixou de ser o príncipe que me encanta há 31 anos. Amigo, companheiro, cúmplice, ancoradouro e sacerdote, tem cuidado de mim em todas as situações que já vivemos: “na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença...” . Obrigada Isnadiel, por teu amor, respeito, carinho, abnegação, encorajamento, apoio e tudo o mais que possibilitou não apenas a conclusão desse curso, mas, acima disso, a realização dos meus maiores sonhos: ser esposa e mãe. Agradeço também aos meus filhos Suelen, Rossana, Elias e Zaqueu que sempre vibraram com as minhas vitórias e ouviram com paciência as longas e repetidas histórias das minhas descobertas acadêmicas. Vocês são prova de que família é o bem maior e de que valeu a pena investir, em tempo integral, na vida de cada um de vocês, com o melhor da minha vida, com o melhor de mim. Agradeço aos meus genros e noras que assumiram a posição de filhos e filhas, participando também de todo o processo. Agradeço aos meus netinhos Jônatas, Mariana e João Marcos ou Ana Lívia – no prelo, que, embora não tenham ainda consciência disso, serviram de inspiração e deleite quando me sentia sobrecarregada. Agradeço aos demais familiares (irmãs e irmãos, cunhadas e cunhados, sobrinhos e sobrinhas) pela torcida, pelo interesse e por estarem presentes nas mais diversas fases da minha vida. Agradeço aos professores que colaboraram com a minha formação acadêmica em especial a coordenadora do curso de Bacharelado em Tradução, professora Dra Tânia Liparini Campos, ao professor Dr. Roberto Carlos de Assis que teve um papel decisivo na minha caminhada e a professora Dra. Luciane Leipnitz que se dispôs a me orientar e o fez com muito desvelo, dedicação, competência e maestria. Agradeço a minha amiga, “filha” e irmã em Cristo, Flaviana Oliveira que foi um dos maiores presentes que o Senhor Deus me deu durante o curso. A você amiga, agradeço o apoio, as orações e os momentos que compartilhamos as atividades acadêmicas, os desafios da vida e, principalmente, a mesma fé. Finalmente, agradeço aos demais colegas, amigos e irmãos em Cristo que, de forma direta e/ou indireta, tem feito parte da minha vida. Que o Senhor Deus recompense a cada um. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo comparar parte de duas traduções da Bíblia para o português do Brasil – a edição Revista e Atualizada e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, sob a perspectiva de dois princípios de tradução postulados por Nida: o princípio de equivalência formal e o princípio de equivalência dinâmica. Através da comparação dos seis primeiros capítulos do Evangelho de João, foi possível identificar diferenças entre as duas traduções envolvendo escolhas diferentes de palavras, diferenças nas classes gramaticais e tempos verbais, nos termos da oração, utilização de acréscimos e ajustes formais. Na Nova Tradução na Linguagem de Hoje são identificados e analisados em contraste com o texto da edição Revista e Atualizada, sugerindo que tais recursos podem ser os responsáveis pela produção de um texto cuja linguagem simples e popular se aproxima mais daquela adotada pelo português do Brasil e alcança uma maior parcela da população. Palavras-chave: Tradução da Bíblia. Equivalência formal. Equivalência dinâmica. ABSTRACT This paper aims to compare two translations of the Bible into Portuguese of Brazil – The Revista e Atualizada (RA) edition and the Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) under the perspective of two translation principles postulated by Nida: formal equivalence principle and dynamic equivalence principle. After comparing the first six chapters of the Gospel of John, it was possible to identify differences between the two translations involving different choices of words, differences in grammatical classes and tenses, changes in the period terms, additions and formal adjusts. Some features used in the translation of the NTLH are identified and analyzed in contrast to the RA text, suggesting that those features may be responsible for the production of a text whose simple and popular language is closer to the one adopted in Brazil and reaches a larger portion of the population. Keywords: Bible Translation. Formal Equivalence. Dynamic Equivalence. Quadro 1 – Palavra por palavra ................................................................................................ 22 Quadro 2 – Palavra por mais de uma unidade lexical .............................................................. 24 Quadro 3 – Sintagma por sintagma .......................................................................................... 25 Quadro 4 – Uso do mais-que-perfeito ...................................................................................... 25 Quadro 5 – Posição do adjetivo em relação ao substantivo; .................................................... 26 Quadro 6 – Uso dos pronomes pessoais ................................................................................... 27 Quadro 7 – Ocorrências do lhe/lhes ......................................................................................... 27 Quadro 8 – Substituições do lhe/lhes ....................................................................................... 27 Quadro 9 – Omissão do lhe/lhes ............................................................................................... 28 Quadro 10 – Alterações na ordem verbo-sujeito ...................................................................... 28 Quadro 11 – Elipse do sujeito .................................................................................................. 29 Quadro 12 – Sujeito oculto na NTLH ...................................................................................... 30 Quadro 13 – Acréscimos .......................................................................................................... 30 Quadro 14 – Ajuste das formas literárias especiais .................................................................. 31 Quadro 15 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo expressões. ................... 31 Quadro 16 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo unidades de medida ...... 33 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 8 1.3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 10 1.3.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 10 1.3.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 10 2. A BÍBLIA E SUAS TRADUÇõES ...................................................................................... 10 2.1 Organização estrutural da Bíblia..................................................................................... 11 2.1.1 O Antigo Testamento e suas traduções .................................................................... 11 2.1.2 O período intertestamentário .................................................................................... 12 2.1.3 O Novo Testamento e suas traduções ...................................................................... 12 2.1.4 A Bíblia completa e suas traduções.......................................................................... 13 2.1.5 As traduções da Bíblia e o desenvolvimento de línguas nacionais .......................... 14 2.1.6 As traduções em português ...................................................................................... 14 3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 15 3.1 AS TEORIAS DA TRADUÇÃO ................................................................................... 16 3.2 A NOÇãO DE EQUIVALÊNCIA .................................................................................. 16 3.3 NIDA E A EQUIVALÊNCIA FORMAL E DINÂMICA.............................................. 17 4. METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................................... 20 4.1 CORPUS DA ANÁLISE ................................................................................................ 20 5. ASPECTOS OBSERVADOS NAS ESCOLHAS TRADUTÓRIAS................................... 21 4.2.1 Alguns recursos utilizados na NTLH ....................................................................... 21 6. APRESENTAÇãO DOS RESULTADOS ........................................................................... 22 7. CONSIDERAÇõES FINAIS ................................................................................................ 34 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 36 ANEXOS .................................................................................................................................. 40 Anexo 1 - CORPUS DE ANÁLISE ...................................................................................... 40 1. INTRODUÇÃO Após o advento da tipografia, nenhum outro livro teve tanto destaque quanto a Bíblia. Não apenas por ser o livro mais produzido, mas também pela quantidade de línguas para as quais foi e continua sendo traduzida. A cada três segundos um novo exemplar da Bíblia é produzido no planeta. Já se comemora a marca de 100 milhões de exemplares em todo o mundo1. São mais de 2.527 línguas diferentes que possuem a Bíblia completa ou em porções2. A influência que a Bíblia e suas traduções exerceram sobre vários povos, conforme relato abaixo, é inegável. Um bom exemplo disso foi a tradução da Bíblia para o alemão por Martinho Lutero. “[...] ele também fundou a base da moderna língua alemã e, assim, algumas características fundamentais do espírito alemão [...] consolidando a língua nacional” (LEITE, 2006 p.15, 57). Traduções da Bíblia contribuíram para que algumas línguas ganhassem seus respectivos alfabetos (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.21) e também colaboraram com a estruturação e o desenvolvimento de outras línguas, influenciando povos e culturas (Idem p.37). Martinho Lutero foi chamado por Delisle e Woodsworth como “artesão da língua alemã” por ter traduzido a Bíblia para o vernáculo alemão (Ibidem p.57). Esses fatos nos levam a concluir que os temas: “Bíblia”, “Línguas” e “Tradução” se interseccionam em vários momentos da história da humanidade. É justamente nesse ponto de intersecção que esse trabalho se insere, buscando contribuir com os estudos comparativos entre as Bíblias traduzidas para o português – utilizadas em seminários, por exemplo – e com teorias de Tradução, especificamente as que envolvem as clássicas dicotomias entre os conceitos de fidelidade X infidelidade, domesticação X estrangeirização, tradução literal X tradução livre, forma X conteúdo. Escolhemos a Bíblia pelas razões expostas acima, mas também por outras de caráter pessoal: a intimidade, o amor, o respeito, o desvelo que nutrimos por ela e a convicção de que ela nos revela Deus e a Sua vontade. Como nem todos tem familiaridade com o texto sagrado, oferecemos, de forma breve, na segunda seção “A Bíblia e suas traduções”, um pequeno esboço da organização estrutural 1 http://www.100milhoesdebiblias.org.br/grafica-biblia-numeros.asp Dados da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Disponível em: http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=40>. Acesso em: 10 set. 2013. 2 7 da Bíblia e sua caminhada até os nossos dias que, cremos, facilitará o acompanhamento das ideias desenvolvidas ao longo do trabalho. Após entendermos como a Bíblia chegou até nós através das traduções, apresentaremos algumas teorias da tradução, discutiremos de forma breve a polêmica noção de equivalência e, mais especificamente, os princípios de equivalência formal e equivalência dinâmica postulados por Nida (1964). Utilizamos como objeto de pesquisa duas traduções da Bíblia protestante em português: a Revista e Atualizada (RA), traduzida pelo português João Ferreira de Almeida, e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), traduzida por uma comissão de tradutores3. As duas são traduções do mesmo texto de partida (TP), ou seja, para a tradução do Antigo Testamento (AT) foi utilizada a Bíblia Stuttgartensia, publicada pela Sociedade Bíblica Alemã e, para o Novo Testamento (NT): o “The Greek New Testament”4. A tradução RA segue os princípios de equivalência formal5 e a NTLH os de equivalência dinâmica6 conforme afirmam seus editores. Para compor o corpus escolhemos os seis primeiros capítulos do livro de João (o quarto evangelho do Novo Testamento) divididos em duzentos e oitenta e quatro versículos7. A partir deles procuramos pontuar algumas diferenças entre as traduções RA e NTLH no que pese os princípios de equivalência formal X equivalência dinâmica, ou seja, como os princípios de equivalência formal e dinâmica se materializam nos textos em português. Ao final do trabalho apresentamos os resultados da análise, pontuando onde ocorreram as diferenças mais marcantes no texto, identificando-as e classificando-as. 1.2 JUSTIFICATIVA Como visto nos parágrafos anteriores, a tradução foi responsável pela formação de culturas, estruturação de línguas e construção de identidades nacionais. Mas não foram 3 Informação contida no site da SBB. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=63>. Acesso em: 23 jan. 2014. 4 Ambas editadas e distribuídas pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Todas essas informações encontram-se no site da SBB. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=41>. Acesso em: 15 jan. 2014. 5 Conforme informação contida no site da SBB. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=60>. Acesso em: 04 fev. 2014. 6 Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=64>. Acesso em: 04 fev. 2014. 7 Versículos é a subdivisão em ordem numérica dos capítulos da Bíblia. 8 traduções quaisquer ou de textos comuns. Na Alemanha, como na Inglaterra e em outros países mencionados anteriormente, esse grande feito foi motivado pela tradução da BÍBLIA. A Bíblia, durante séculos, ocupou parte do cenário literário e linguístico mundial. Suas traduções tem se multiplicado por todo o mundo. No Brasil já dispomos de grande quantidade de traduções em língua portuguesa. As traduções variam em estilo, técnicas e formas de traduzir a fim de atender aos anseios e preferências dos seus leitores e estudiosos. A Igreja Reformada8 jamais ofereceu obstáculos às traduções, pois ela “não professa a inspiração das traduções, mas dos textos originais em hebraico e aramaico do AT e grego do NT” (ANGLADA, 1998, p.105). Ao contrário, estimula as traduções por entender que elas dão acesso ao texto sagrado, sendo este último, em suas línguas originais, o elucidador de qualquer questão que envolva dúvidas “acerca do genuíno e pleno sentido de qualquer texto da Escritura” (Confissão de Fé de Westminster9, Capítulo 1, Seção IX). Ainda no primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster Seção VIII lemos o seguinte ensino: “[...] Visto, porém, que essas línguas originais (grego e hebraico – destaque nosso) não são conhecidas a todo o povo de Deus [...] esses livros, portanto, têm de ser traduzidos para a língua popular de cada nação [...]” (HODGE, 1999). Diante da multiplicidade de traduções surgem diversas possibilidades de estudos. Dentre elas, uma corresponde ao propósito neste trabalho: a de pesquisar em duas traduções distintas as escolhas tradutórias, mais especificamente os equivalentes tradutórios. Para o desenvolvimento de nossas análises, utilizaremos as noções de equivalência tradutória alcunhadas por (1964, apud BARBOSA, 1990) de equivalência formal e equivalência dinâmica. Esta pesquisa visa auxiliar, com dados concretos, aqueles que entendem ser a Bíblia a Palavra de Deus e, como tal, inerrante10, infalível11 e suficiente12. Para as Igrejas Reformadas a Bíblia é sua única regra de fé e de prática (HODGE, 1999). Ela molda e rege a vida dos seus 8 As igrejas chamadas Reformadas são aquelas advindas da reforma protestante do século XVI que abraçam a doutrina calvinista, a exemplo da Igreja Presbiteriana do Brasil. 9 As confissões são declarações de fé mais ampliadas que os credos (ANGLADA, 1998, p.17). Para mais informações sobre a Confissão de Fé de Westminster, ler o livro de A. A. Hodges referenciado ao final deste trabalho. 10 Conteúdo de todo o livro de Norman Geisler: “A inerrância da Bíblia”, referenciado na seção própria. 11 Jaimes Boice (1989, p.11) ao prefaciar o livro O alicerce da autoridade bíblica, devidamente referenciado na seção própria. 12 Solano Portela (1998, p.7) ao prefaciar o livro Sola Scriptura de Paulo Anglada, referenciado na seção própria. 9 fieis. Por isso é fácil entender a preocupação frente ao surgimento de cada nova tradução das Sagradas Escrituras. Seminários, igrejas e fieis fazem uso da Bíblia para diversos fins, seja para exegese, seja na preparação de sermões e estudos congregacionais, seja para o enlevo pessoal durante a adoração particular. Dessa maneira, a Bíblia Sagrada ocupa papel decisivo na vida e no crescimento espiritual tanto dos fieis como dos seminários e das igrejas. 1.3 OBJETIVOS O objeto principal desse trabalho é o de comparar duas traduções da Bíblia – RA e NTLH –, tentando identificar evidências de que possam ter sido utilizados os princípios de equivalência formal e dinâmica na realização dessa tarefa. 1.3.1 Objetivo Geral Identificar quais as diferenças entre a tradução que seguiu o princípio de equivalência formal e a tradução que levou em conta o princípio de equivalência dinâmica, por meio da análise comparativa. 1.3.2 Objetivos Específicos 1) Destacar os principais pontos divergentes e estabelecer sua relação com o princípio adotado por ocasião da tradução. 2) Identificar quais recursos usados na tradução pelo princípio de equivalência dinâmica foram capazes de construir um texto cuja linguagem parece ser mais simples e popular, mais próximo ao português “comum” falado pelo “homem da rua”. 2. A BÍBLIA E SUAS TRADUÇÕES Como se deram as traduções da Bíblia? Quais seus desdobramentos e influências para a humanidade? 10 A história das traduções da Bíblia não começou com a Reforma Protestante do século XVI. Traduções mais antigas como a Septuaginta (LXX)13, por exemplo, que é a tradução antiga mais conhecida do Antigo Testamento foi “[...] traduzida provavelmente na primeira metade do século III A.C.” (ANGLADA, 1998 p.109). Antes mesmo da Septuaginta já existiram os Targuns “[...] paráfrases explicativas das Escrituras, feitas em aramaico, dialeto mais facilmente entendido pelo povo judeu depois do exílio” (ANGLADA, 1998, p.108). De lá para cá as traduções se sucederam em grande escala. Apresentamos um breve relato sobre como a Bíblia chegou até aos nossos dias através das suas várias traduções. 2.1 ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DA BÍBLIA Para situar o leitor que não está familiarizado com a Bíblia Sagrada e, consequentemente, com sua estrutura, fazem-se necessárias algumas informações preliminares. Em primeiro lugar, o que hoje identificamos como um único livro – a Bíblia, na verdade, corresponde a um conjunto de sessenta e seis livros14, escritos durante um período de mil e quinhentos anos e por mais de quarenta autores (EASTMAN, 1995, p.20-21). Esse conjunto de livros está dividido em Antigo e Novo Testamento15. “A palavra ‘testamento’, quando usada no título das duas divisões da Bíblia Sagrada, quer dizer acordo ou pacto” (Novo Testamento, 1988, p.v). No caso do Novo Testamento, de onde foi extraído o corpus do presente trabalho, a palavra “testamento” refere-se ao “[...] novo acordo que Deus, por meio de Jesus Cristo, fez com o seu povo [...] oferecendo [...] a vida eterna a todos os que creem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor” (Novo Testamento, 1988, p.v). 2.1.1 O Antigo Testamento e suas traduções O Antigo Testamento é composto por trinta e nove livros distribuídos em quatro grupos: Pentateuco (5), Livros Históricos (12), Livros Poéticos (5), Profetas Maiores e 13 Para mais detalhes sobre a Septuaginta ler o capítulo 3 do livro Sola Scriptura de Paulo Anglada (1998, p.38), devidamente referenciado ao final deste trabalho. 14 Este trabalho toma como base a Bíblia utilizada pela igreja evangélica protestante. A Bíblia utilizada pela igreja católica conta com um volume maior de livros. 15 Essas informações se encontram em todos os exemplares da Bíblia Sagrada. 11 Menores (17). A maioria dos textos foi escrita em hebraico, embora haja algumas porções escritas em aramaico (ARNOLD e BEYER, 2001, p.5, 27). Como mencionado anteriormente, as primeiras traduções do Antigo Testamento foram os Targuns. Para Arnold e Beyer (2001) esses escritos, que datam do início da Era Cristã, não são considerados confiáveis, uma vez que acrescentam comentários e histórias (ARNOLD e BEYER, 2001, p.28). Em seguida surgiu a Septuaginta (LXX), outra tradução do Antigo Testamento para o grego datada de 200 a 300 a.C. Uma equipe de setenta e dois estudiosos foram os responsáveis por essa tradução realizada na cidade de Alexandria (ARNOLD e BEYER, 2001, p.28). A Septuaginta tornou-se a tradução mais conhecida do Antigo Testamento. A partir desta tradução, o texto em grego passa a ser largamente utilizado pelos judeus helenizados, inclusive sendo citado em várias passagens do Novo Testamento (ANGLADA, 1988, p.109). 2.1.2 O período intertestamentário Entre o Antigo e o Novo Testamentos houve o Período Intertestamentário que durou mais de quatrocentos anos. Durante esse período, o povo judeu testemunhou a queda do império persa e a ascensão do império grego. A Grécia influenciou grandemente o povo judeu também pelo fato de a língua grega ter assumido o cenário naquele momento histórico (Bíblia de Estudos de Genebra, 1999, p.1094). Essa dominação grega foi determinante para que o Novo Testamento fosse escrito em grego e não nas antigas línguas dos judeus: hebraico e aramaico. 2.1.3 O Novo Testamento e suas traduções O Novo Testamento é formado por vinte e sete livros divididos em cinco grupos que são: Evangelhos (4), Livro Histórico (1), Cartas Paulinas (13), Cartas Gerais (8) e Revelação (1) (Novo Testamento, 1988, p.v). Durante todo o período em que o Novo Testamento foi escrito a língua grega era usada largamente, sendo considerada a “língua franca” da época. Sendo assim, o Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, mais especificamente utilizando o dialeto koinê, que continuava a ser “preponderante no império romano” (ANGLADA, 1988, p.109). 12 Algumas traduções do Novo Testamento se destacaram ao longo dos anos. A Vulgata, traduzida para o latim por Jerônimo no final do século IV, se constituiu em uma das mais famosas traduções. Além das traduções latinas, as siríacas, cópticas, góticas, armênias, geórgica, etíope e arábicas também tiveram o seu destaque (ANGLADA, 1998, p.109). 2.1.4 A Bíblia completa e suas traduções Algumas traduções completas da Bíblia, ou seja, do Antigo e do Novo Testamentos, ganharam destaque no cenário mundial. Na Europa, mais precisamente na Alemanha, o reformador Martinho Lutero, o “artesão da língua alemã” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.57) não se utilizou da Vulgata para traduzir a Bíblia. Traduziu a Bíblia completa diretamente do grego e do hebraico. Essa foi a primeira tradução direta das línguas originais para uma língua moderna. Sua linguagem coloquial era a linguagem “[...] da mãe dentro de casa, das crianças na rua, do homem comum no mercado” (RENER, 1989, p.131, apud DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.183). Sobre a obra de Lutero afirmam Delisle e Woodsworth (1998, p.183): O que torna sua Bíblia uma realização linguística tão importante é o fato de ela ter fixado um padrão comum para a língua alemã. [...] a Bíblia de Lutero é também muito respeitada como obra literária, um texto fundamental para a língua literária nascente. Os fatores históricos, culturais e religiosos especiais que influenciaram essa tradução contribuíram todos para o surgimento e a aceitação do alemão moderno, e a realização de Lutero inspirou traduções similares: para o sueco (1541), o dinamarquês (1550), o islandês (1584) e o esloveno (1584). Na Inglaterra, John Wycliffe e seus discípulos traduziram a primeira versão completa da Bíblia para o inglês, baseada na Vulgata latina. Sua contribuição para aquele vernáculo constituiu-se na introdução de aproximadamente mil novas palavras de origem latina que agora fazem parte do léxico inglês (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.44). No entanto, foi William Tyndale16, em 1525, quem recebeu o título de “patriarca da língua e da literatura inglesas” pela tradução que fizera da Bíblia para a língua inglesa (idem p.45). 16 Wiliam Tyndale (1494-1536) foi estrangulado e queimado na fogueira em consequência de sua determinação em verter as Escrituras para o idioma do seu país (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.45, ANGLADA, 1998, p.110). 13 Tyndale foi o primeiro inglês a traduzir a Bíblia diretamente das línguas originais. Seu propósito ao traduzir a Bíblia era o de “[...] que (a Bíblia) fosse acessível e inteligível por todas as pessoas, até mesmo ‘pelo rapaz que trabalha com o arado’” (ibidem p.184). A influência das traduções de Tyndale na Inglaterra continuava a ser percebida em anos posteriores. Na célebre Versão Autorizada de 1611, que recebeu o nome de King James Version, cerca de 80% do Novo Testamento da Versão Autorizada corresponde à tradução de Tyndale (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.185). 2.1.5 As traduções da Bíblia e o desenvolvimento de línguas nacionais Para possibilitar a tradução da Bíblia, foi necessário que algumas línguas ganhassem seu próprio alfabeto. É o caso da língua gótica, que só existia na oralidade. O Bispo gótico Ulfila, fugindo da perseguição que se abatera sobre os cristãos no ano de 348, refugiou-se em território romano e empenhou-se em criar um alfabeto para a língua gótica para a qual pudesse traduzir as Escrituras. “Ulfila decidiu traduzir a Bíblia: uma tarefa monumental que o ocupou durante os quarenta anos em que foi bispo” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.21). Mesrop Mashtots foi outro tradutor que “[...] deu essa contribuição valiosa à cultura armênia, criando o alfabeto armênio, entre 392 e 406” (idem p. 23). “Na Suécia, o surgimento de um vernáculo escrito coincidiu com a cristianização do país” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.37). Na Alemanha, Martinho Lutero colaborou com a construção da língua alemã e foi “[...] a força promotora da criação de uma língua literária na Alemanha através da tradução da Bíblia. Além desses, missionários cristãos colaboraram com a construção da língua gbaia na República dos Camarões” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.38). 2.1.6 As traduções em português A primeira tradução para o português continha apenas o Novo Testamento. Seu tradutor foi o pastor reformado português João Ferreira de Almeida, que concluiu a que seria a décima terceira tradução do Novo Testamento em língua moderna, no ano de 1670 (ANGLADA, 1998, p.110). 14 A Bíblia completa foi traduzida para o português em 1753, composta por três volumes. Finalmente em 1819, ela foi impressa em volume único na cidade de Londres com a tradução de João Ferreira de Almeida direto das línguas originais. Em 1864 foi publicada no Brasil a primeira tradução completa da Bíblia para o português. Outra tradução, a chamada “Versão Brasileira”, produzida em 1917, contou com a colaboração de nomes ilustres como Rui Barbosa, José Veríssimo e Heráclito Graça em sua tradução a partir dos originais17. Em 1959 surgia a Edição Revista e Atualizada (RA) de João Ferreira de Almeida, elaborada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) que se tornou “a Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros”. “[...] a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País18”. Uma nova edição foi lançada em 1993, ensejada por algumas revisões de pontuação, concordância, harmonização de subtítulos, substituição de palavras em desuso ou que “adquiriram sentido inadequado ou pejorativo” (BÍBLIA SAGRADA, Revista e Atualizada, 2009). Além da RA outras traduções foram editadas tanto pela SBB como por outras editoras. É o caso da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) que, junto com a RA, compõe o corpus do presente trabalho. A NTLH foi editada em 2000 e goza de uma linguagem “clara, exata e natural”. A SBB afirma que ela “adota uma estrutura gramatical e linguagem mais próximas da utilizada pelo brasileiro” (BÍBLIA SAGRADA, Revista e Atualizada, 2009). A NTLH surgiu como uma “revisão da Bíblia na Linguagem de Hoje”, no entanto, “recebeu uma revisão tão profunda que pode ser considerada, realmente, como uma nova tradução das Escrituras Sagradas”19. 3. REFERENCIAL TEÓRICO Apesar de a tradução ser uma das atividades mais antigas da humanidade, só a partir de meados do século XX é que ela começou a ocupar espaço entre os diversos campos da 17 Informação obtida a partir do site da Sociedade Bíblica do Brasil. <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=50>. Acesso em: 14 jan. 2014. 18 Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=59>. Acesso em: 14 jan. 2014. 19 Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=63>. Acesso em: 14 jan. 2014. Disponível em 15 ciência. A atividade tradutória começa a ser vista como uma disciplina acadêmica e, como tal, merecedora de estudos envolvendo a teoria e a prática (TORO, 2007). Mais precisamente na década de 1980 é que os estudos na área de tradução “se consolidam como disciplina independente, sob a denominação de Estudos da Tradução (Translation Studies)” (AZEREDO e DANTAS, 2009). 3.1 AS TEORIAS DA TRADUÇÃO Nesse contexto, a tradução se revela portadora de um caráter polimórfico (TORO, 2007), ou seja, ela, em si, é uma área extensa com várias possibilidades de estudo, não mais “apenas” a serviço de outras disciplinas. Como disciplina independente, a Tradução começa a suscitar pesquisas, resultando em várias teorias no campo dos Estudos da Tradução. Toro (2007) cita algumas como: teorias de equivalência, teorias funcionalistas, abordagens discursivas, teoria do polissistema, entre outras. Dentre estas, daremos destaque às teorias de equivalência por estarem diretamente ligadas ao propósito do nosso estudo. 3.2 A NOÇÃO DE EQUIVALÊNCIA Qual o significado do termo “equivalência” no campo da tradução? Bem, a resposta não é tão simples como parece ou, pelo menos, como gostaríamos. Esse termo “permanece bastante vago, ainda carecendo de critérios mais claros e definições mais precisas” (FUJIHARA, 2010, p.17). Teóricos da tradução entendem o termo “equivalência” a partir de diferentes perspectivas, utilizando-o em suas abordagens de maneira distinta. Os primeiros a utilizar o termo “equivalência tradutória” foram Vinay e Darbelnet, Nida e Jakobson (ALBIR, 2007). Para Vinay e Darbelnet, a equivalência é apenas mais um processo de tradução entre outros. “Nida (1959) utiliza o termo equivalência para definir o princípio básico da tradução: conseguir o equivalente natural mais próximo em uma determinada situação” (ALBIR, 2007, p.203 – tradução e grifo nossos). E Jakobson enfatiza que “a equivalência na diferença é o problema principal da linguagem e a principal preocupação da linguística” (RODRIGUES, 2000, p.91). Outros tipos de equivalência são 16 defendidos por autores diversos (BASSNETT, 2003, p.57-61). Concentraremo-nos na proposta de Nida, procurando compreender como suas ideias se refletem no corpus deste trabalho. 3.3 NIDA E A EQUIVALÊNCIA FORMAL E DINÂMICA Nida foi pastor batista e tradutor. Formou-se em grego, obteve o título de mestre em Novo Testamento e Ph.D. em Linguística (BORDINHÃO, 2010). Dedicou-se à tradução da Bíblia e, nessa atividade, constatou a existência de uma tensão no que diz respeito aos textos religiosos: se entendesse que cada palavra na Bíblia era sagrada, então teria que traduzir a Bíblia palavra-por-palavra (WILLIAMS e CHESTERMAN, 2007). Isso comprometeria seu objetivo, que era o de tornar o texto bíblico acessível ao maior número de pessoas, já que cada cultura possui sua própria estrutura linguística. “Nida queria colocar a linguística a serviço da Palavra de Deus; queria produzir uma teoria que estimulasse a transmissão da Boa Nova enfrentando todos os tipos de barreiras culturais e linguísticas” (BORDINHÃO, 2010, p.77). Fujihara (2010) diz que Nida “distingue entre dois tipos fundamentais de equivalência em tradução: a equivalência formal e a equivalência dinâmica, que, segundo o autor, são as duas orientações básicas que podem ser seguidas por um tradutor” (FUJIHARA, 2010, p.18). Diz Nida: “A equivalência formal centraliza a atenção na mensagem em si mesma, tanto na forma quanto no conteúdo” (NIDA, 1964, p.159 – nossa tradução)20. Nida chama a esse tipo de tradução focada na “mensagem em si”, de “tradução glossária”. Ele afirma que esse tipo de tradução visa “permitir que o leitor perceba o máximo possível do contexto da língua fonte” (BASSNETT, 2003, p.55). Ou seja: Em uma tal tradução está-se interessado em correspondências como poesia-poesia, sentença-sentença e conceito-conceito. Vista dessa orientação formal, a preocupação é que a mensagem na língua receptora deva coincidir tanto quanto possível com os diferentes elementos na língua fonte. (NIDA, 1964, p. 159 apud FUJIHARA, 2010, p.18). 20 No original: “Formal equivalence focuses attention on the message itself, both form and content.” 17 Na prática, ao adotar o princípio da equivalência formal, um tradutor manteM as unidades gramaticais (substantivos por substantivos, verbos por verbos), as divisões de parágrafos, a pontuação e a estrutura das frases sem agrupá-las ou dividi-las. Isso pode produzir um texto pouco inteligível e provocar muitas inserções do tradutor em notas explicativas (idem p.19). Em contraposição a essa ideia, Nida sugere outra prática tradutória: a da equivalência dinâmica. Essa prática baseia-se no princípio do “efeito equivalente” que busca provocar no leitor do texto traduzido, “o mesmo efeito que teve o TO (texto original) sobre seu leitor” (BARBOSA, 1990 p.35), ou seja, “a relação entre o receptor e a mensagem deve ser substancialmente a mesma que existiu entre os receptores originais e a mensagem”21. (NIDA, 1963, p.159). Para Nida não é necessário sacrificar o sentido da mensagem em prol do seu conteúdo e da sua forma para se conseguir o “efeito equivalente”. Ele defende que o conteúdo é preservado através da mudança da forma (NIDA, 1964, apud ALBIR, 2007 p.216). Os princípios de equivalência formal acompanham as traduções mais antigas e priorizam a manutenção da forma do texto de partida; já a equivalência dinâmica, presente em algumas traduções mais modernas, procura manter o sentido do TP ao mesmo tempo em que prioriza o texto de chegada (TC) (ANGLADA, 1998, P.113). Neste trabalho, veremos como a forma foi utilizada para mostrar a diferença no resultado, embora a ênfase esteja sobre o sentido. Trataremos mais sobre o assunto oportunamente. É de se esperar que seja necessário lidar com “sérios problemas” quando as línguas envolvidas estão cultural e linguisticamente distantes (NIDA, 1964, p.160), como é o caso da tradução da Bíblia para o português, que envolve culturas distanciadas cronológica e geograficamente. Produzir uma tradução “fácil e natural” certamente se constitui em um desafio ainda maior para o tradutor (NIDA, 1964, p.163). A partir dessa constatação é que Nida postula a necessidade do principio de tradução por equivalência dinâmica, embora não seja possível estabelecer com clareza os limites entre a equivalência formal e a equivalência dinâmica, pois “existem vários graus na tradução por equivalência dinâmica” (NIDA, 1964, p.159 – nossa tradução). 22 Isso implica dizer que “é 21 No original: “that relationship between receptor and message should be substantially the same as that which existed between the original receptors and the message”. 22 No original: “[…] there are varying degrees of such dynamic-equivalence translation”. 18 perfeitamente compreensível que existam certas áreas de tensão entre eles” (idem p.171 – tradução nossa)23. “Uma tradução que visa a equivalência dinâmica, inevitavelmente, envolve uma série de ajustes formais”24 (NIDA, 1964, p.170) que dizem respeito a três áreas principais: formas literárias especiais (special literary forms), expressões semanticamente exocêntricas (semantically exocentric expressions) e significados intraorganísmicos (intraorganismic meanings) (FRANCISCO, 2010)25. Na categoria de formas literárias especiais está o gênero poesia e as dificuldades na tradução quanto à rima e a métrica. Por expressões semanticamente exocêntricas entende-se aquelas expressões que perdem o sentido se forem traduzidas literalmente, ou seja, aquelas que necessitarão de ajustes para que o receptor possa entendê-las, como é o caso dos provérbios, fraseologismos e expressões idiomáticas. Significados intraorganísmicos são “itens cuja compreensão depende do contexto cultural no qual estão inseridos” (FRANCISCO, 2010, p.61). Como o foco deste trabalho está mais diretamente ligado ao princípio de equivalência dinâmica, tomaremos a tradução feita através do principio de equivalência formal – a Bíblia RA – apenas como elemento de comparação para que a tradução da Bíblia NTLH – traduzida pelo principio de equivalência dinâmica – se torne mais evidente26. Assim, o texto da RA não assume, em nenhum momento, o status de texto original, apenas ocupa a posição de texto tomado como referência para a comparação entre os dois princípios de tradução. Muito embora Nida tenha destacado a produção do “efeito equivalente”, ele prioriza, de fato, a linguagem acessível. Procuraremos identificar como esse princípio postulado por Nida, em especial, foi reproduzido na tradução da Bíblia NTLH e se, de fato, alcançou o objetivo de “falar ao homem da rua” (FRANCISCO, 2010, p.170)27. 23 No original: “[…] it is quite understandable that there are certain areas of tension between them”. Sobre esse assunto, Nida dedica uma subseção do seu livro Towards a Science of Translating (1964, p.171). 24 A equivalência dinâmica ajusta/altera a forma para que haja a manutenção do sentido e, assim, seja possível produzir um efeito equivalente. A forma é importante, mas não prioridade. 25 Tradução proposta por Francisco (2010 p.61) 26 Embora Nida tenha reformulado, posteriormente, seus postulados sobre equivalências, mantemos a primeira proposta (de equivalência formal X equivalência dinâmica) por serem estes os princípios que a SBB assumiu adotar nas duas traduções analisadas no presente trabalho. 27 Nida argumenta que o Novo Testamento foi escrito no grego koinê que era, segundo ele “the language of the man in the street” embora entenda que não tenha sido escrito primeiramente para esse público e sim para a congregação (NIDA, 1964, p.170). 19 . 4. METODOLOGIA DA PESQUISA 4.1 CORPUS DA ANÁLISE O corpus da pesquisa é composto pelos seis primeiros capítulos do evangelho de João apresentados na seção de anexos. Todos os 284 versículos foram dispostos paralelamente em duas colunas – uma com os versículos na tradução Revista e Atualizada (RA) e a outra com os versículos na tradução Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Os versículos foram devidamente alinhados para facilitar a comparação. O corpus completo encontra-se na seção de anexos deste trabalho e disponível no site da SBB. Cada versículo foi examinado individualmente na expectativa de identificar elementos cuja presença fosse determinante para a constatação de características peculiares ao texto traduzido. Ou seja, características que se repetem ao longo dos textos, como o uso dos pronomes de tratamento, por exemplo. Alguns dos elementos analisados já são objeto de estudos das áreas de Letras e Linguística. Cabe-nos, como alunas de Tradução, focar em aspectos relacionados a esse campo específico. Portanto, não nos deteremos, por exemplo, em aspectos morfológicos e sintáticos. No máximo, daremos alguma indicação de leitura para que o leitor interessado possa obter mais informação sobre o assunto. Foi utilizada como ferramenta para análise quantitativa de alguns dados o programa “Corpus do Português. Esse programa, que está disponível no site oferecido na seção de referências, é auto explicativo, de fácil manuseio e oferece variáveis que podem atender a diversos interesses do pesquisados. Para o nosso estudo, pesquisamos por palavras utilizadas pela RA e pela NTLH – como mostra o Quadro 1 – e pudemos perceber a frequência no uso de cada uma delas no século XX . Essa ferramenta possibilitou comparar a ocorrência de algumas palavras e verificar que no século XX, já havia diminuído seu uso. 20 5. ASPECTOS OBSERVADOS NAS ESCOLHAS TRADUTÓRIAS Ao concluir a digitalização do corpus, já foi possível perceber uma diferença relacionada à quantidade de palavras utilizadas pela NTLH em relação a quantidade utilizada pela RA. Essa diferença será comentada na conclusão do trabalho. Embora tenhamos consciência de não termos explorado, nem de perto, todas as possibilidades de estudo oferecidas pelos textos aqui observados, consideramos serem suficientes os elementos28 que elencamos a seguir. 4.2.1 Alguns recursos utilizados na NTLH Dentre os recursos utilizados pela NTLH para aproximar o texto bíblico “ao vocabulário de domínio do brasileiro de cultura média”29, estão os seguintes: 1) Uso de palavras mais recorrentes no português brasileiro (PB) contemporâneo; 2) Mudanças nas classes gramaticais e tempos verbais (verbo, adjetivo, pronome): a) Ausência do pretérito mais-que-perfeito; b) Posição do adjetivo em relação ao substantivo; c) Uso dos pronomes pessoais tu/vós por você/vocês, respectivamente; d) Uso do pronome oblíquo “lhe”; 3) Diferenças nos termos da oração a) Posição do sujeito na oração; b) Elipse do sujeito; 4) Acréscimos a) Inserção de acréscimos na forma de comentários e de explicações30. 5) Ajustes formais 28 As categorias apresentadas neste trabalho são de nossa autoria. 29 Informação presente no site da SBB no tópico “Princípios de tradução”. Disponível em: <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=64>. Acesso em: 24 jan. 2014. 30 Utilizamos as expressões “comentários e explicações” exclusivamente dentro dos limites estabelecidos pelos conceitos que lhes atribuímos neste trabalho. Essas expressões são de nossa autoria e não seguiram pressupostos de nenhum teórico da tradução. 21 c) Ajuste nas formas literárias d) Ajuste dos significados intraorganísmicos 6. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Apresentaremos neste item os resultados de nossas observações, explicitando agora nossas categorias, apresentadas no item anterior. Tentaremos mostrar as escolhas feitas pela NTLH ao proceder aos ajustes formais, também já mencionados neste trabalho juntamente com os acréscimos mencionados no subitem anterior. 1) Uso de palavras mais recorrentes no português brasileiro contemporâneo; Foi possível perceber que há palavras usadas pela RA que não são mais tão presentes no vocabulário do brasileiro a partir do século XX. A comprovação veio através de uma rápida pesquisa utilizando o programa “Corpus do Português”31. É importante ressaltar que só lançamos mão desse recurso para a verificação de algumas palavras do Quadro 1. Para essa pesquisa, selecionamos uma amostra contendo apenas alguns verbos e alguns substantivos. Consideramos o verbo no infinitivo e os substantivos no singular e no plural. As palavras analisadas estão em itálico. Algumas delas se fazem acompanhar de um fragmento maior do texto para facilitar sua compreensão. No Quadro 1, apresentamos exemplos de diferentes escolhas lexicais que ocorreram na proporção 1:1, ou seja, uma (1) palavra/termo substituída por apenas uma (1) outra palavra/termo; duas (2) palavras/termo por outras duas (2) palavras/termos, e assim por diante. Referência32 1.10 1.14 1.16 1.38 2.11 Quadro 1 – Palavra por palavra RA Qtd NTLH O Verbo estava no mundo... A Palavra estava no mundo... ... graça... ... amor... ... graça... ... bênçãos... ... onde assistes? ... onde o senhor mora? ... manifestou... 209 ... revelou... Qtd 400 31 Autoria de Mark Davies e Michael Ferreira. Disponível em <http://www.corpusdoportugues.org/x.asp>. Acesso em: 07 fev. 2014. 32 Na coluna “Referência” encontra-se o número do capítulo seguido pelo número do versículo, conforme registrado nas Bíblias utilizadas nesta pesquisa. 22 2.15 2.19 3.20 3.21 3.24 4.10 4.28 4.31 4.35 4.40 4.52 5.15 5.35 6.2 6.3 6.8 6.19 6.27 6.61 ... azorrague... ... santuário, ... aborrece... ... obras... ... encarcerado Replicou... ... cântaro ... rogavam, ... ceifa ... permanecesse com eles... ... indagou... ... retirou-se... ... alumiava.. ... enfermos. ... assentou-se... ... informou... ... possuídos de temor... ... que subsiste... ... interpelou... 3 274 37 62 18 3 36 98 432 103 85 18 117 126 285 2.366 17 ... chicote... ... Templo, ... odeiam... ... ações... ... preso. ... disse: ... pote, ... pediam ... colheita ... ficasse com eles... ... perguntou... ... saiu dali... ... brilhava... ... doentes. ... sentou-se... ... disse: ...com muito medo... ... que dura... ... perguntou: 196 812 55 2.255 10.132 122 1.554 401 4.150 699 2.781 111 1.939 240 10.132 6.872 1.297 Observamos que algumas palavras repetidas na RA não foram substituídas na NTLH da mesma maneira. A palavra graça no Quadro 1, por exemplo, foi substituída por amor (1.14) e, depois, por bênçãos (1.16). Além de novo significado, variou quanto ao número, ou seja, foi para o plural. Palavras como Verbo (1.10), graça (1.14, 1.16) e obras, nos parecem assumir um significado especial dentro do ambiente religioso. Se não forem termos, talvez fossem bons candidatos a termo, uma vez que estão revestidos de significado especial, pelo menos no âmbito da religiosidade cristã. Entendemos assim pelo fato de que ao aplicarmos essas palavras ao programa “Corpus do Português”, tivemos como resultado ocorrências que não se relacionavam ao sentido presente no texto bíblico. Isto é, ao pesquisar “Verbo” nas 200 primeiras ocorrências não encontramos nenhuma que se referisse ao “Verbo” como sendo Jesus, ou a Palavra. Todas as ocorrências apresentavam “verbo” como classe gramatical. Com as palavras “graça” e “obras” aconteceu de forma semelhante. Não encontramos “graça” como “favor imerecido”33, mas sim como nome próprio, ou em expressões como “ficar sem graça”, “não foi de graça” ou “ela é uma graça”. Quanto à palavra “obras” as 200 primeiras ocorrências dizem respeito à construção civil ou às artes, isto é, nenhuma delas se refere a “obras” como “ações” (caráter valorativo: boas obras X obras más). Não disponibilizamos o número de ocorrências de todas as palavras, pelo fato de, no corpus, constarem significados bem distintos daqueles pelos quais foram substituídos na 33 Conceito presente nos comentários da Bíblia de Genebra. (Bíblia de Estudos de Genebra, 1999, p.19) 23 NTLH. É o caso de assistes/mora (1.38) em que “assistir” pode ser “morar”, mas também “estar presente”, “socorrer”; e “mora”, que pode ser uma flexão do verbo morar, mas também pode estar relacionado a prazo de pagamento; subsiste/dura (6.27) em que “dura” pode assumir a posição de adjetivo. Comparando as duas traduções percebemos que nem sempre as escolhas da NTLH correspondem a proporção em quantidade de itens lexicais aquelas escolhidas pela RA. Vejamos alguns exemplos:34 Referência 1.5 1.14 1.16 1.47 2.7 2.8 2.11 2.14 2.19 3.33 3.4 3.10 3.12 4.4 4.53 5.3 5.18 5.41 6.15 6.17 6.18 6.27 6.41 6.71 TOTAL Quadro 2 – Palavra por mais de uma unidade lexical RA NTLH ... não prevaleceram contra ela. ... não conseguiu apagá-la. ... Unigênito... ... Filho único... ... primazia... ... mais importante... ... plenitude... ... riquezas do seu amor... ... em quem não há dolo! ... um homem realmente sincero. ... totalmente. ... até a boca. ... mestre-sala. ... dirigente da festa. ... glória, ... natureza divina, ... os cambistas... ... os que trocavam dinheiro para o povo. ... reconstruirei. ... construirei de novo. ... certifica... ... dá prova de... ... ventre materno... ... barriga da sua mãe... ... mestre... ... professor do povo de Israel... ... coisas terrenas, ... coisas deste mundo, ... atravessar... ... passar pela... ... precisamente a hora... ... naquela mesma hora... ... jazia... ... estavam deitados... ... não vos maravilheis... ... não fiquem admirados... ... glória... ... ser elogiado... ... arrebatá-lo... ... levá-lo a força... ... rumo... ... na direção... ... empolar-se... ... levantar as ondas... ... perece... ... se estraga... Murmuravam, ... começaram a criticar... Referia-se... ... estava falando de... 28 70 Nesse caso, pudemos observar um aumento de 42 itens lexicais apenas nos exemplos contidos no Quadro 2. A palavra glória no Quadro 2 aparece na NTLH como natureza divina (1.14) e depois por ser elogiado (5.41, 44). Temos aqui um exemplo que também contribuiu para que o texto da NTLH resultasse mais extenso. 34 A contabilização dos itens lexicais não levou em consideração, por exemplo, os verbos reflexivos que envolvem, naturalmente, em sua estrutura mais de um item ou quaisquer classe gramatical das palavras envolvidas. O critério para quantificar os itens foi o oferecido pelo programa Word na versão Windows 2007 através da seleção dos elementos escolhidos. 24 Essas escolhas representam um aumento de 250% no número de palavras na NTLH. Queremos deixar claro que os Quadros 1, 2 e 3 não contem todas as ocorrências, apenas parte das observações da pesquisa. A diferença no total de itens lexicais será comentada na conclusão deste trabalho. Em outros momentos a NTLH se utilizou de sintagmas e não mais entre palavras isoladas. As escolhas feitas pela NTLH, em sua maioria, envolveram um maior número de itens lexicais, como exemplificam os versículos 4.33 e 6.16. O Quadro 3 registra o total de 70 itens lexicais usados na RA e de 96 na NTLH, significando um aumento de palavras na NTLH de aproximadamente 37%, considerando apenas essa amostra apresentada. Referência 2.17 3.20 3.21 3.25 3.26 3.28 4.6 4.7 4.33 4.34 4.44 4.46 4.47 5.10 5.11 5.14 6.6 6.16 6.27 TOTAL Quadro 3 – Sintagma por sintagma RA NTLH O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima O zelo da tua casa me consumirá. dentro de mim como fogo. ... a fim de não serem arguidas... ... para que ninguém veja... ... sejam manifestas... ... possa ser visto claramente... ... suscitou-se uma contenda... ... tiveram uma discussão... ... estava contigo além do... ... estava com o senhor do outro lado... ... lhe saem ao encontro. ... estão indo atrás dele. ... enviado como seu precursor. ... enviado adiante dele. ... por volta... Era mais ou menos... Dá-me de beber. ... me dê um pouco de água. ... ter-lhe-ia trazido... ... já trouxe... ... e realizar a sua obra. ... e terminar o trabalho que ele deu para fazer. ... um profeta não tem honras... ... um profeta não é respeitado... ... oficial do rei... ... alto funcionário público... ... lhe rogou... ... foi pedir a ele... ... e não te é lícito... ... e a nossa lei não permite que você... ... toma o teu leito... ... pegue a sua cama... ... não te suceda... ... não aconteça com você... ... para o experimentar; ... para ver qual seria a resposta de Felipe. Ao descambar o dia... De tardinha... ... o confirmou com o seu selo. ... deu provas de que ele tem autoridade. 70 96 2) Mudanças nas classes gramaticais (verbo, adjetivo, pronome): a) Ausência do pretérito mais-que-perfeito; Referência 4.6 4.10 4.39 4.45 4.46 4.47 Quadro 4 – Uso do mais-que-perfeito RA NTLH ... assentara-se... ... sentou-se... ... conheceras... ... soubesse... ... anunciara: ... tinha dito: ... fizera... ... havia feito... ... fizera... ... havia transformado... ... viera... ... tinha vindo... 25 4.52 4.53 5.10 5.13 6.14 6.17 6.22 6.41 ... sentira melhor... ... dissera: ... ao que fora curado: Mas o que fora curado... ... vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, ... viera... ... ficara... ...embarcara... ... dissera: ... havia começado a melhorar... ... tinha dito: ... a ele: Mas ele... ... os que viram esse milagre de Jesus... ... tinha vindo... ... estava... ... tinha embarcado... ... tinha dito: Os verbos no pretérito mais-que-perfeito do indicativo só são encontrados na RA. Não existe nenhuma ocorrência na NTLH. Das 15 (quinze) ocorrências deste tempo verbal na RA, 9 (nove) se apresentam na NTLH como mais-que-perfeito composto, fazendo uso dos verbos auxiliares “ter” (4.39, 4.47, 4.53, 6.17, 6.22, 6.41) e “haver” (4.45, 4.46, 4.53) no pretérito imperfeito, seguido pelo verbo principal no particípio passado, e 6 (seis) assumiram outras formas (Quadro 4). Embora saibamos que tempos verbais diferentes podem carregar sentidos diferentes, quando determinam mais ou menos distancia cronológica dos fatos, não dedicaremos espaço para este assunto no momento. b) Posição do adjetivo em relação ao substantivo; Ainda quanto à ordem dos constituintes, destacamos a posição do adjetivo em relação ao substantivo, adotada pela NTLH. Nos três casos registrados no Quadro 5, percebemos que os adjetivos precedem os substantivos no texto da RA, enquanto que na NTLH o adjetivo se posiciona após o substantivo, ou seja, a RA utiliza mais a anteposição do adjetivo e a NTLH utiliza mais a posposição do adjetivo em relação ao substantivo. Referência 1.9 6.22 6.55 Quadro 5 – Posição do adjetivo em relação ao substantivo; RA NTLH ... a verdadeira luz, ... a luz verdadeira... ... ali não havia senão um pequeno barco... ... ali só havia um barco pequeno. Pois a minha carne é verdadeira comida, Pois a minha carne é a comida verdadeira, c) Uso dos pronomes pessoais tu/vós por você/vocês, respectivamente; Os pronomes pessoais “tu” e “vós” (mesmo como sujeito oculto) e as conjugações dos verbos na 2ª pessoa do singular e do plural, presentes na RA, não aparecem na NTLH. Os pronomes de tratamento aqui utilizados são “você” e “vocês” e suas conjugações, 26 respectivamente. No versículo 1.21 e no versículo 5.44 visualizamos as diferentes escolhas adotadas pelas duas traduções. Como a estrutura se repete em todo o corpus citaremos apenas dois versículos que exemplificam bem essas escolhas. Referência 1.21 5.44 Quadro 6 – Uso dos pronomes pessoais RA NTLH Quem (?) és, pois? És tu Elias? — Então, quem é você? Você é Elias? Como podeis crer, vós os que aceitais Como é que vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros e, contudo, não ser elogiados pelos outros e não tentam procurais a glória que vem do Deus conseguir os elogios que somente o único único? Deus pode dar? d) Uso do pronome oblíquo “lhe/lhes”; Também observamos a escassez do uso do pronome “lhe/lhes” em todo o texto da NTLH. O pronome aparece apenas 5 vezes enquanto na RA são registradas 82 ocorrências. Ou seja, “lhe/lhes” está presente em cerca de 28% dos versículos da RA. Mais curioso ainda é que dessas 82 ocorrências, 44 são ênclises e não há nenhuma ênclise envolvendo esse pronome na NTLH, como mostra o Quadro abaixo. Quadro 7 – Ocorrências do lhe/lhes Ocorrências RA NTLH Total 82 5 Ênclises 44 0 Do total de 82 ocorrências 54 não foram substituídas e 28 foram substituídas por 14 formas lexicais diferentes, como mostra o Quadro 8. Quadro 8 – Substituições do lhe/lhes Lhe/Lhes Substituição 54 (-) 7 ... a ele/s 5 ... lhe 4 ... a João 2 ... ele 1 ... a estes 1 ... dele 1 ... Jesus 1 ... empregados 1 ... com ele 1 ... a mulher 1 ... ao funcionário 1 ... ao Filho 1 ... cada pessoa 1 ... para eles Total 82 27 Nas 54 ocorrências de não substituições foi utilizado o recurso da omissão: Referência 1.26 1.50 4.10 Quadro 9 – Omissão do lhe/lhes RA NTLH Respondeu-lhes João: João respondeu: Ao que Jesus lhe respondeu: Jesus respondeu: Replicou-lhe Jesus: Então Jesus disse: 3) Diferenças nos termos da oração a) Posição do sujeito na oração; A posição ocupada pelos elementos “sujeito” e “verbo” foi visivelmente modificada na NTLH. Passou da ordem Verbo-Sujeito-Objeto (VSO) na RA para a ordem Sujeito-VerboObjeto (SVO) em praticamente todo o texto da NTLH. Essa constatação vem a corroborar com a afirmação de Pezatti e Camacho (1997) ao considerarem que “parece inquestionável que VSO é, de uma perspectiva diacrônica, a ordem primitiva, da qual SVO se derivou [...]”35. De fato, é possível perceber que a ordem SVO é mais comum no uso do português falado. A diferença de ocorrências da ordem VSO entre a RA e a NTLH é notória. Enquanto a RA faz uso dessa estrutura 77 vezes, a NTLH usa apenas 8 vezes. Dessas 8 ocorrências, 7 são incisos36, posicionados logo após o travessão. Portanto, há somente 1 ocorrência da ordem VSO no texto da NTLH como uma estrutura natural. No Quadro 10 apresentaremos um exemplo de mudança da VSO para a SVO, um exemplo de inciso e a única ocorrência da ordem VSO na NTLH, respectivamente. Referência 1.29 4.17 4.27 Quadro 10 – Alterações na ordem verbo-sujeito RA NTLH No dia seguinte, viu João a Jesus, No dia seguinte, João viu Jesus V S O S V O ao que lhe respondeu a mulher: — Eu não tenho marido! — Não tenho marido. respondeu a mulher. Naquele momento chegaram os Neste ponto, chegaram os seus seus discípulos e ficaram discípulos e se admiraram... admirados, Tipo de ocorrência VSO/SVO Inciso Única ocorrência de VS 35 “Argumentaremos, ainda, que, de uma perspectiva diacrônica, o PB (Português do Brasil – destaque nosso) se enquadra primitivamente num tipo VSO, como atesta a perenidade da construção VS, [...] apresentando, no entanto, uma forte tendência evolutiva para SVO (PEZATTI e CAMACHO, 1997). 36 Inciso e discurso formam as duas partes do diálogo. De acordo com Kohan (2011), o discurso “são as palavras diretas do personagem” e o inciso é a intervenção do narrador, ou seja, “são esclarecimentos feitos pelo narrador”. 28 b) Elipse do sujeito; Quanto ao sujeito, percebemos que, embora pareça contraditório, há uma larga utilização do sujeito oculto na RA, ou seja, o sujeito oculto “aparece” várias vezes naquele texto em oposição ao texto da NTLH, que adota esse recurso esporadicamente. Nesses casos de omissão do sujeito, fica a cargo do verbo flexionado a tarefa de identificá-lo. A RA traz 106 ocorrências de sujeitos ocultos a mais que a NTLH, na qual os sujeitos são indicados apenas pela flexão verbal. No texto da NTLH, essas 106 ocorrências trazem seus sujeitos explícitos, precedendo ao verbo, o que parece favorecer seu reconhecimento imediato, principalmente quando não há apenas um único sujeito na frase, na oração ou no parágrafo. Vejamos no Quadro 11, os versículos 4.17 e 4.27 em que os sujeitos ocultos estão representados por (?) na coluna referente a RA e aparecem em itálico na coluna referente a NTLH. Referência 4.17 4.27 Quadro 11 – Elipse do sujeito RA NTLH ao que lhe respondeu a — Eu não tenho marido! — mulher: (?) Não tenho respondeu a mulher. Então Jesus marido. Replicou-lhe Jesus: disse: — Você está certa ao dizer que (?) Bem disseste, não tenho não tem marido, marido; Neste ponto, chegaram os Naquele momento chegaram os seus seus discípulos e se discípulos e ficaram admirados, pois admiraram de que (?) ele estava conversando com uma estivesse falando com uma mulher. Mas nenhum deles perguntou mulher; todavia, nenhum lhe à mulher o que ela queria. E também disse: Que (?) perguntas? não perguntaram a Jesus por que Ou: Por que (?) falas com motivo ele estava falando com ela. ela? No versículo 4.17 a omissão do sujeito não representa maiores dificuldades pelo fato do sujeito poder ser resgatado através da flexão do verbo. Já no versículo 4.27, surge um pequeno problema. O narrador na RA não deixa claro a quem os discípulos se dirigiram na primeira pergunta. Na tradução da NTLH, porém, fica evidente que a primeira pergunta foi à mulher e a segunda a Jesus. 29 A NTLH, embora em menor número, também traz versículos que, se lidos isoladamente, não deixam claro quem é o sujeito. No exemplo abaixo vemos que precisaríamos expandir o texto para resgatar o sujeito. Referência 1.36 Quadro 12 – Sujeito oculto na NTLH RA NTLH e, vendo Jesus passar, disse: Quando viu Jesus passar, disse: — Aí Eis o Cordeiro de Deus! está o Cordeiro de Deus! O versículo 1.36 nas duas traduções não deixa claro quem “viu e disse”. É necessário voltar ao versículo 1.35 para identificar o sujeito de quem o narrador está falando (João). 4) Acréscimos a) Inserção de acréscimos na forma de comentários e de explicações. Chamamos de acréscimos os dados adicionais ausentes no texto da RA. Ao citar algumas localidades onde a RA apresenta apenas o nome do lugar, a NTLH acrescenta informações identificando tratar-se de cidade, região, povoado, etc. como registrado no versículo 1.28, por exemplo (ver Quadro 13). Outro exemplo de acréscimo pode ser visualizado no versículo 2.6 (cf. Quadro 13), que fala da transformação da água em vinho. A RA registra apenas que: “Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, [...]”; já a NTLH acrescenta algumas informações: “[...] Os judeus usavam a água que guardavam nesses potes nas suas cerimônias de purificação (grifo nosso).” Tanto “a água que guardavam nesses potes” como “cerimônias” se enquadram no que chamamos de acréscimos. Os acréscimos são facilmente encontrados por todo o texto da NTLH. Escolhemos alguns para apresentar no Quadro 13 que, entendemos, exemplificam como a NTLH utilizou as informações adicionais para alcançar o seu objetivo de facilitar a compreensão do leitor brasileiro. Os acréscimos estão em itálico no Quadro 13. Quadro 13 – Acréscimos Referência 1.21 1.28 1.42 2.6 RA És tu o profeta? Estas coisas se passaram em Betânia, do outro lado do Jordão, ... tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações,... NTLH Você é o Profeta que estamos esperando? Isso aconteceu no povoado de Betânia, no lado leste do rio Jordão, ... o seu nome será Cefas. (“Cefas” é o mesmo que “Pedro” e quer dizer “pedra”.) Ali perto estavam seis potes de pedra; [...] Os judeus usavam a água que guardavam nesses potes nas suas cerimônias de purificação. 30 3.14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, 5.30 Eu nada posso fazer de mim mesmo; ... sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; O espírito é o que vivifica; 5.42 6.27 6.63 — Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, Jesus continuou a falar a eles. Ele disse: — Eu não posso fazer nada por minha própria conta, Quanto a vocês, eu os conheço e sei que não amam a Deus com sinceridade. Não trabalhem a fim de conseguir a comida que se estraga, mas a fim de conseguir a comida que dura para a vida eterna. O Filho do Homem dará essa comida a vocês... O Espírito de Deus é quem dá a vida, 5) Ajustes formais a) Ajuste nas formas literárias especiais Foi possível perceber também que houve pelo menos um (1) ajuste na forma literária presente na NTLH: a inserção dos diálogos, de acordo com os moldes do português brasileiro, com o uso do travessão e do inciso, durante todo o texto, de modo a aproximar o texto de seu leitor. Como defendido por Nida, para que seja possível produzir o “efeito equivalente” é necessário fazer alguns ajustes na forma, os chamados “ajustes formais”. Um deles, o “ajuste nas formas literárias especiais”, pode ser visualizado em um exemplo no Quadro 14 abaixo: Referência 1.21 Quadro 14 – Ajuste das formas literárias especiais RA NTLH Então, lhe perguntaram: Eles tornaram a perguntar: Quem és, pois? És tu Elias? — Então, quem é você? Você é Elias? Ele disse: Não sou. És tu o — Não, eu não sou! — respondeu João. profeta? Respondeu: Não. — Você é o Profeta que estamos esperando? — Não! — respondeu ele. b) Ajuste dos significados intraorganísmicos Outro tipo de “ajustes formais” são os que envolvem os significados intraorganísmicos. Esses ajustes que se explicam dentro de um determinado contexto cultural necessitam de adaptações para produzir o “efeito equivalente”. Identificamos algumas dessas adaptações feitas com base na diferença cultural. Percebemos que nos aspectos ligados ao contexto cultural, os ajustes aconteceram, especialmente, de duas formas: como uso de expressões mais usuais e através da adequação das unidades de medida utilizadas naquele momento histórico-geográfico. No Quadro 15 estão dispostos alguns dos ajustes adotados pela NTLH. Quadro 15 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo expressões. 31 Referência 1.14 3.6 RA E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. NTLH A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade. E nós vimos a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai. Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do Espírito é um ser de natureza espiritual. Como poderíamos entender “E o Verbo se fez carne” (1.14)? Em primeiro lugar, precisamos compreender que “Verbo” aqui, não significa uma classe gramatical. É uma escolha tradutória para a palavra grega logos (λόγος) que pode significar também “Palavra”. No momento em que João escreveu seu evangelho, havia uma grande influência da filosofia grega (como mencionamos no subitem 2.1.2). O comentário desse versículo na Bíblia de Genebra afirma que “Na filosofia grega, o Logos era a ‘razão’ ou a ‘lógica’ como força abstrata que trazia ordem e harmonia ao universo” e que João une essas qualidades na “Pessoa de Cristo”. “Para alguns contemporâneos de João, o espírito e o divino eram totalmente opostos à matéria e à carne” (BÍBLIA DE ESTUDOS DE GENEBRA, 1999, p.1228). Portanto, esses conceitos faziam parte do cotidiano de João e dos seus leitores. A NTLH traz essa ideia ajustada ao leitor brasileiro, usando palavras que lhes são mais familiares (verbo=palavra, carne=ser humano, habitou=morou, unigênito=Filho único) sem, contudo, deixar de manter essa relação dual entre o divino e o humano do texto da RA. A NTLH também apresenta “Palavra” como substantivo próprio, da mesma forma que a RA apresenta “Verbo”. Entretanto, de forma semelhante, o versículo 3.6 parece ter sofrido mais ajustes para alcançar o mesmo objetivo. A palavra “carne” da RA é apresentada na NTLH por “pais humanos” e “natureza humana”, facilitando a compreensão do leitor brasileiro. As unidades de medida também foram apresentadas de forma diferente. O Quadro 16 apresenta as ocorrências no corpus em que tais ajustes aconteceram. Foram adaptadas hora (da judaica para a brasileira), capacidade de medida (de metreta para litro) e unidade monetária (de denários para moedas de prata – talvez por não terem valor monetário correspondente em moeda brasileira). Essas escolhas, novamente, mostram a tentativa da NTLH de aproximação ao leitor brasileiro ao adaptar tais unidades de medida ao sistema de medidas brasileiro. 32 Quadro 16 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo unidades de medida Referência RA NTLH 1.39 ... Mais ou menos a hora décima. ... mais ou menos as quatro horas da tarde. 2.6 ... duas ou três metretas. ... oitenta e cento e vinte litros... 4.6 ... hora sexta. ... meio-dia... 4.52 ... hora sétima... ... a uma da tarde... 6.7 ... duzentos denários... ... duzentas moedas de prata. 33 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos cientes de que, certamente, esta pesquisa não esgota as possibilidades de análise dos elementos presentes no corpus. Há ainda muitas outras possibilidades que poderiam ser examinadas de acordo com a proposta inicial deste trabalho. No entanto, diante do amplo leque de possibilidades de análise, as quais sempre podem ser ainda mais aprofundadas e da limitação de tempo que nos restringe, acreditamos que os exemplos aqui apresentados já permitem apontar para as diferentes escolhas tradutórias que buscamos evidenciar. Durante o processo de análise dos textos da RA e da NTLH foi prazeroso verificar, na prática, a utilização de vários pressupostos teóricos ensinados durante o curso de Bacharelado em Tradução. As disciplinas de Teorias da Tradução forneceram informações sobre diversos princípios que envolvem a atividade tradutória, capazes de nortear os caminhos pelos quais o tradutor seguirá. Um deles, o princípio da equivalência dinâmica de Nida (1964) analisado neste trabalho, se nos revelou bastante atrativo. Foram-nos apresentadas dicotomias clássicas que tem acompanhado a história da tradução. Entre elas estavam os conceitos de fidelidade X infidelidade, domesticação X estrangeirização, tradução literal X tradução livre, forma X conteúdo, etc. De fato, sempre que nos deparávamos com a prática de tradução como atividade acadêmica ou como trabalho extraclasse, esses conceitos ressurgiam requerendo posicionamento da nossa parte. De certa forma, os princípios de equivalência formal e de equivalência dinâmica como postulados por Nida reúnem esses conceitos, entre outros, nos levando a refletir sobre nossas escolhas. Se o foco é o leitor e não a mensagem em si, a quem/ao que devemos ser fieis? Se queremos facilitar para nosso leitor, devemos aproximá-lo da cultura do TP ou aproximar o TP a sua cultura? A tradução deve ser palavra por palavra ou temos a liberdade de fazer ajustes à cultura de chegada? Conservamos o conteúdo através da manutenção da forma do TP ou abrimos mão da forma para produzirmos no nosso leitor um “efeito equivalente” ao produzido no leitor do TP? Essas e outras questões amplamente discutidas em sala de aula fomentaram nosso interesse e curiosidade sobre os efeitos dessas escolhas, sobre os resultados perceptíveis no texto traduzido e sobre o importante papel social do tradutor. 34 Não bastassem as informações de cunho teórico, as disciplinas de prática de tradução nos possibilitaram conhecer recursos tecnológicos diversos. Entre eles, o recurso dos corpora eletrônicos que utilizamos neste trabalho, dos dicionários online e dos sites de busca onde pudemos realizar as tão necessárias pesquisas que envolvem qualquer atividade tradutória. Destacamos o uso de corpora eletrônicos que nos possibilitou a visualização do uso real da língua em diferentes momentos históricos, sendo de grande utilidade para este trabalho. Para a realização desta pesquisa lançamos mão de todo arcabouço teórico-prático de que tivemos acesso durante o curso e entendemos que sem tal conhecimento não nos seria possível realizar esta tarefa. Fazer um estudo comparado entre duas traduções, analisando como se materializaram as escolhas tradutórias a partir dos princípios de tradução que adotaram foi, sem dúvida, uma aventura que contou com a participação indireta de teóricos, de professores através das disciplinas que ministraram e de colegas, no compartilhar das descobertas e das experiências dentro e fora da sala de aula. O estudo comparado entre duas traduções da Bíblia para o português do Brasil que utilizaram princípios tradutórios distintos foi, inegavelmente, resultado do acúmulo de conhecimento teórico-prático construído ao longo do curso. Como vimos, o objeto do nosso estudo foi uma vertente tradutória baseada no princípio da equivalência dinâmica de Nida identificada no texto da tradução da NTLH. É interessante notar que o princípio defendido por Nida se aplicava a tradução da Bíblia de onde retiramos o corpus da nossa pesquisa. Entendemos que uma pesquisa em que o corpus fosse composto por toda a Bíblia, seria uma pesquisa mais precisa. No entanto, embora o corpus utilizado neste trabalho represente apenas aproximadamente 3,5% do total de versículos do Novo Testamento37, é possível antecipar que os recursos aqui elencados e analisados deverão estar presentes em toda a Bíblia. Esses recursos foram capazes de conferir ao texto da NTLH um estilo mais moderno e um “tom” mais usual. Parece-nos, portanto, que o objetivo principal da comissão de tradução da NTLH, de empregar uma “linguagem simples”, foi alcançado. A escolha dos pronomes “você/vocês” e não mais “tu/vós”, respectivamente, o não uso do pretérito mais que perfeito simples, a ordem SVO dos constituintes da frase, os acréscimos 37 Segundo o site da SBB, o Novo Testamento nas duas traduções pesquisadas aqui, contem 7957 versículos. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=69>. Acesso em: 24 jan. 2014. 35 e outros elementos, foram capazes de contribuir na elaboração do texto da NTLH. Alem disso, é possível perceber com clareza a necessidade dos “ajustes formais” postulados por Nida que ajudou a conferir um caráter mais dinâmico ao texto da NTLH. Percebemos, também, que o texto da NTLH utilizou um volume maior de palavras, resultando em um texto mais extenso. Se considerarmos apenas o corpus aqui pesquisado é possível verificar um acréscimo de aproximadamente 12% de palavras em relação ao texto da RA, ou seja, na RA registramos um volume de 5.241 palavras e na NTLH 5.858, sendo o acréscimo de 617 palavras. Percebemos que a evolução da língua pode ser evidenciada através de mudanças no nível da sintaxe, como também em um nível mais amplo, que envolve estruturas semanticamente mais complexas. Na verdade, percebemos uma combinação de todos esses fatores que, juntos, apresentam um texto que pode ser lido e compreendido com um grau menor de dificuldade. Entendemos que os recursos utilizados na tradução da NTLH parecem seguir o princípio da equivalência dinâmica identificados neste trabalho e que é possível lançar mão deles para alcançar o mesmo objetivo da comissão de tradução da NTLH: tornar o texto acessível a um maior número de pessoas. REFERÊNCIAS ALBIR, Amparo Hurtado. Traducción y Traductología. 3.ed. Madri: Ediciones Cátedra, 2007. ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. São Paulo: Os Puritanos, 1998. 205p. ARNOLD, Bill T.; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento – uma perspectiva cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001. Tradução de Suzana Klassen. 526p. AZEREDO, Genilda; DANTAS, Marta Pragana. Graphos – Revista de Pós-Graduação em Letras. v.11, n.2, p.8. João Pessoa: Ideia/Editora Universitária, 2009. 36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta. Campinas: Pontes, 1990. BASSNETT, Susan. Estudos de tradução. Fundamentos de uma disciplina. 4.ed. 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Tradução de Júlio Paulo Tavares Zabatiero. FRANCISCO, Reginaldo. Reis caolhos e cajadadas em coelhos: a provérbios e expressões idiomáticas. Dissertação (Mestrado em Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp149756.pdf>. 2014. questão da tradução de Estudos da Tradução). 2010. Disponível em Acesso em: 23 jan. FUJIHARA, Álvaro Kasuaki. Equivalência tradutória e significação. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR: 2010. Disponível em <http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/25348/FUJIHARA,%20A.%20K.% 20Equivalencia%20Tradutoria%20e%20Significacao.pdf?sequence=1>. Acesso em: 16 jan. 2014. 37 GEISLER, Norman. A inerrância da Bíblia. São Paulo: Vida, 2007. Tradução de Antivan Mendes. HODGE, A. A. Confissão de fé Westminster comentada. 2.ed. São Paulo: Os Puritanos, 1999. Tradução de Valter Graciano Martins. KOHAN, Silvia Adela. Como escrever diálogos. 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Manchester, UK & Kinderhook, NY: St Jerome, 2007. 149p. 39 ANEXOS ANEXO 1 - Corpus de Análise Evangelho de João – Capítulos 1 ao 6 1 1.1 2 1.2 3 1.3 4 1.4 5 1.5 6 1.6 7 1.7 8 1.8 9 1.9 10 1.10 11 1.11 12 1.12 13 1.13 RA No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. NTLH No começo aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Desde o princípio, a Palavra estava com Deus. Todas as coisas foram feitas por Por meio da Palavra, Deus fez todas as intermédio dele, e, sem ele, nada do coisas, e nada do que existe foi feito que foi feito se fez. sem ela. A vida estava nele e a vida era a luz A Palavra era a fonte da vida, e essa vida trouxe a luz para todas as dos homens. pessoas. A luz resplandece nas trevas, e as A luz brilha na escuridão, e a trevas não prevaleceram contra ela. escuridão não conseguiu apagá-la. Houve um homem enviado por Deus Houve um homem chamado João, que cujo nome era João. foi enviado por Deus Este veio como testemunha para que para falar a respeito da luz. Ele veio testificasse a respeito da luz, a fim de para que por meio dele todos pudessem ouvir a mensagem e crer todos virem a crer por intermédio dele. nela. Ele não era a luz, mas veio para que João não era a luz, mas veio para falar testificasse da luz, a respeito da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao a luz verdadeira que veio ao mundo e mundo, ilumina a todo homem. ilumina todas as pessoas. O Verbo estava no mundo, o mundo A Palavra estava no mundo, e por foi feito por intermédio dele, mas o meio dela Deus fez o mundo, mas o mundo não o conheceu. mundo não a conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não Aquele que é a Palavra veio para o seu próprio país, mas o seu povo não o o receberam. recebeu. Mas, a todos quantos o receberam, Porém alguns creram nele e o deu-lhes o poder de serem feitos filhos receberam, e a estes ele deu o direito de Deus, a saber, aos que crêem no seu de se tornarem filhos de Deus. nome; os quais não nasceram do sangue, nem Eles não se tornaram filhos de Deus da vontade da carne, nem da vontade pelos meios naturais, isto é, não nasceram como nascem os filhos de do homem, mas de Deus. 40 14 1.14 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. 15 1.15 16 1.16 João testemunha a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: o que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim. Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. 17 1.17 18 1.18 19 1.19 20 1.20 21 1.21 22 1.22 Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo? 23 1.23 24 1.24 25 1.25 Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. Ora, os que haviam sido enviados eram de entre os fariseus. E perguntaram-lhe: Então, por que Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: Quem és tu? Ele confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. Então, lhe perguntaram: Quem és, pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou. És tu o profeta? Respondeu: Não. um pai humano; o próprio Deus é quem foi o Pai deles. A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade. E nós vimos a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai. João disse o seguinte a respeito de Jesus: — Este é aquele de quem eu disse: “Ele vem depois de mim, mas é mais importante do que eu, pois antes de eu nascer ele já existia.” Porque todos nós temos sido abençoados com as riquezas do seu amor, com bênçãos e mais bênçãos. A lei foi dada por meio de Moisés, mas o amor e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém nunca viu Deus. Somente o Filho único, que é Deus e está ao lado do Pai, foi quem nos mostrou quem é Deus. Os líderes judeus enviaram de Jerusalém alguns sacerdotes e levitas para perguntarem a João quem ele era. João afirmou claramente: — Eu não sou o Messias. Eles tornaram a perguntar: — Então, quem é você? Você é Elias? — Não, eu não sou! — respondeu João. — Você é o Profeta que estamos esperando? — Não! — respondeu ele. Aí eles disseram a João: — Diga quem é você para podermos levar uma resposta aos que nos enviaram. O que é que você diz a respeito de você mesmo? João respondeu, citando o profeta Isaías: — “Eu sou aquele que grita assim no deserto: preparem o caminho para o Senhor passar.” Os que foram enviados eram do grupo dos fariseus; eles perguntaram a João: — Se você 41 batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26 1.26 Respondeu-lhes João: Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis, o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias. Estas coisas se passaram em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando. No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! 27 1.27 28 1.28 29 1.29 30 1.30 É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim. 31 1.31 32 1.32 33 1.33 34 1.34 35 1.35 36 1.36 37 1.37 38 1.38 Eu mesmo não o conhecia, mas, a fim de que ele fosse manifestado a Israel, vim, por isso, batizando com água. E João testemunhou, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus. No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus. E Jesus, voltando-se e vendo que o seguiam, disse-lhes: Que buscais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde assistes? não é o Messias, nem Elias, nem o Profeta que estamos esperando, por que é que você batiza? João respondeu: — Eu batizo com água, mas no meio de vocês está alguém que vocês não conhecem. Ele vem depois de mim, mas eu não mereço a honra de desamarrar as correias das sandálias dele. Isso aconteceu no povoado de Betânia, no lado leste do rio Jordão, onde João estava batizando. No dia seguinte, João viu Jesus vindo na direção dele e disse: — Aí está o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! Eu estava falando a respeito dele quando disse: “Depois de mim vem um homem que é mais importante do que eu, pois antes de eu nascer ele já existia.” Eu mesmo não sabia quem ele era, mas vim, batizando com água para que o povo de Israel saiba quem ele é. João continuou: — Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e parar sobre ele. Eu não sabia quem ele era, mas Deus, que me mandou batizar com água, me disse: “Você vai ver o Espírito descer e parar sobre um homem. Esse é quem batiza com o Espírito Santo.” E eu vi isso e por esse motivo tenho declarado que ele é o Filho de Deus. No dia seguinte, João estava outra vez ali com dois dos seus discípulos. Quando viu Jesus passar, disse: — Aí está o Cordeiro de Deus! Quando os dois discípulos de João ouviram isso, saíram seguindo Jesus. Então Jesus olhou para trás, viu que eles o seguiam e perguntou: — O que é que vocês estão procurando? Eles perguntaram: — Rabi, onde é que o 42 39 1.39 40 1.40 41 1.41 42 1.42 43 1.43 44 1.44 45 1.45 46 1.46 47 1.47 48 1.48 49 1.49 senhor mora? (“Rabi” quer dizer “mestre”.) Respondeu-lhes: Vinde e vede. Foram, — Venham ver! — disse Jesus. Então pois, e viram onde Jesus estava eles foram, viram onde Jesus estava morando; e ficaram com ele aquele morando e ficaram com ele o resto dia, sendo mais ou menos a hora daquele dia. Isso aconteceu mais ou décima. menos às quatro horas da tarde. Era André, o irmão de Simão Pedro, André, irmão de Simão Pedro, era um um dos dois que tinham ouvido o dos dois homens que tinham ouvido João falar a respeito de Jesus e por testemunho de João e seguido Jesus. isso o haviam seguido. Ele achou primeiro o seu próprio A primeira coisa que André fez foi irmão, Simão, a quem disse: Achamos procurar o seu irmão Simão e dizer a ele: — Achamos o Messias. o Messias (que quer dizer Cristo), (“Messias” quer dizer “Cristo”.) e o levou a Jesus. Olhando Jesus para Então André levou o seu irmão a ele, disse: Tu és Simão, o filho de Jesus. Jesus olhou para Simão e disse: João; tu serás chamado Cefas (que — Você é Simão, filho de João, mas de agora em diante o seu nome será quer dizer Pedro). Cefas. (“Cefas” é o mesmo que “Pedro” e quer dizer “pedra”.) No dia imediato, resolveu Jesus partir No dia seguinte, Jesus resolveu ir para para a Galiléia e encontrou a Filipe, a a região da Galiléia. Antes de ir, foi procurar Filipe e disse: — Venha quem disse: Segue-me. comigo! Ora, Filipe era de Betsaida, cidade de Filipe era de Betsaida, de onde eram André e de Pedro. também André e Pedro. Filipe encontrou a Natanael e disseFilipe foi procurar Natanael e disse: — lhe: Achamos aquele de quem Moisés Achamos aquele a respeito de quem escreveu na lei, e a quem se referiram Moisés escreveu no Livro da Lei e os profetas: Jesus, o Nazareno, filho sobre quem os profetas também escreveram. É Jesus, filho de José, da de José. cidade de Nazaré. Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré Natanael perguntou: — E será que pode sair alguma coisa boa? pode sair alguma coisa boa de Nazaré? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê. — Venha ver! — respondeu Filipe. Jesus viu Natanael aproximar-se e Quando Jesus viu Natanael chegando, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro disse a respeito dele: — Aí está um verdadeiro israelita, um homem israelita, em quem não há dolo! realmente sincero. Perguntou-lhe Natanael: Donde me Então Natanael perguntou a Jesus: — conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes De onde o senhor me conhece? Jesus de Filipe te chamar, eu te vi, quando respondeu: — Antes que Filipe chamasse você, eu já tinha visto você estavas debaixo da figueira. sentado debaixo daquela figueira. Então, exclamou Natanael: Mestre, tu Então Natanael exclamou: — Mestre, 43 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 és o Filho de Deus, tu és o Rei de o senhor é o Filho de Deus! O senhor é Israel! o Rei de Israel! 1.50 Ao que Jesus lhe respondeu: Porque te Jesus respondeu: — Você crê em mim disse que te vi debaixo da figueira, só porque eu disse que tinha visto você crês? Pois maiores coisas do que estas debaixo da figueira? Pois você verá verás. coisas maiores do que esta. 1.51 E acrescentou: Em verdade, em Eu afirmo a vocês que isto é verdade: verdade vos digo que vereis o céu vocês verão o céu aberto e os anjos de aberto e os anjos de Deus subindo e Deus subindo e descendo sobre o descendo sobre o Filho do Homem. Filho do Homem. 2.1 Três dias depois, houve um casamento Dois dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a no povoado de Caná, na região da mãe de Jesus. Galiléia, e a mãe de Jesus estava ali. 2.2 Jesus também foi convidado, com os Jesus e os seus discípulos também tinham sido convidados para o seus discípulos, para o casamento. casamento. 2.3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Quando acabou o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais Jesus lhe disse: — O vinho acabou. vinho. 2.4 Mas Jesus lhe disse: Mulher, que Jesus respondeu: — Não é preciso que tenho eu contigo? Ainda não é a senhora diga o que eu devo fazer. chegada a minha hora. Ainda não chegou a minha hora. 2.5 Então, ela falou aos serventes: Fazei Então ela disse aos empregados: — tudo o que ele vos disser. Façam o que ele mandar. 2.6 Estavam ali seis talhas de pedra, que Ali perto estavam seis potes de pedra; os judeus usavam para as purificações, em cada um cabiam entre oitenta e e cada uma levava duas ou três cento e vinte litros de água. Os judeus usavam a água que guardavam nesses metretas. potes nas suas cerimônias de purificação. 2.7 Jesus lhes disse: Enchei de água as Jesus disse aos empregados: — talhas. E eles as encheram totalmente. Encham de água estes potes. E eles os encheram até a boca. 2.8 Então, lhes determinou: Tirai agora e Em seguida Jesus mandou: — Agora tirem um pouco da água destes potes e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram. levem ao dirigente da festa. E eles levaram. 2.9 Tendo o mestre-sala provado a água Então o dirigente da festa provou a transformada em vinho (não sabendo água, e a água tinha virado vinho. Ele donde viera, se bem que o sabiam os não sabia de onde tinha vindo aquele serventes que haviam tirado a água), vinho, mas os empregados sabiam. Por chamou o noivo isso ele chamou o noivo 2.10 e lhe disse: Todos costumam pôr e disse: — Todos costumam servir primeiro o bom vinho e, quando já primeiro o vinho bom e, depois que os beberam fartamente, servem o inferior; convidados já beberam muito, servem 44 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 tu, porém, guardaste o bom vinho até o vinho comum. Mas você guardou até agora. agora o melhor vinho. 2.11 Com este, deu Jesus princípio a seus Jesus fez esse seu primeiro milagre sinais em Caná da Galiléia; manifestou em Caná da Galiléia. Assim ele a sua glória, e os seus discípulos revelou a sua natureza divina, e os creram nele. seus discípulos creram nele. 2.12 Depois disto, desceu ele para Depois disso, Jesus, a sua mãe, os seus Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos irmãos e os seus discípulos foram para e seus discípulos; e ficaram ali não a cidade de Cafarnaum e ficaram muitos dias. alguns dias ali. 2.13 Estando próxima a Páscoa dos judeus, Alguns dias antes da Páscoa dos judeus, Jesus foi até a cidade de subiu Jesus para Jerusalém. Jerusalém. 2.14 E encontrou no templo os que No pátio do Templo encontrou pessoas vendiam bois, ovelhas e pombas e vendendo bois, ovelhas e pombas; e viu também os que, sentados às suas também os cambistas assentados; mesas, trocavam dinheiro para o povo. 2.15 tendo feito um azorrague de cordas, Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como expulsou toda aquela gente dali e as ovelhas e os bois, derramou pelo também as ovelhas e os bois. Virou as chão o dinheiro dos cambistas, virou mesas dos que trocavam dinheiro, e as as mesas moedas se espalharam pelo chão. 2.16 e disse aos que vendiam as pombas: E disse aos que vendiam pombas: — Tirai daqui estas coisas; não façais da Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer casa de meu Pai casa de negócio. da casa do meu Pai um mercado! 2.17 Lembraram-se os seus discípulos de Então os discípulos dele lembraram que está escrito: O zelo da tua casa me das palavras das Escrituras Sagradas que dizem: “O meu amor pela tua consumirá. casa, ó Deus, queima dentro de mim como fogo.” 2.18 Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que Aí os líderes judeus perguntaram: — sinal nos mostras, para fazeres estas Que milagre você pode fazer para nos provar que tem autoridade para fazer coisas? isso? 2.19 Jesus lhes respondeu: Destruí este Jesus respondeu: — Derrubem este santuário, e em três dias o Templo, e eu o construirei de novo em reconstruirei. três dias! 2.20 Replicaram os judeus: Em quarenta e Eles disseram: — A construção deste seis anos foi edificado este santuário, e Templo levou quarenta e seis anos, e você diz que vai construí-lo de novo tu, em três dias, o levantarás? em três dias? 2.21 Ele, porém, se referia ao santuário do Porém o templo do qual Jesus estava seu corpo. falando era o seu próprio corpo. 2.22 Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre Quando Jesus foi ressuscitado, os seus os mortos, lembraram-se os seus discípulos lembraram que ele tinha 45 74 2.23 75 2.24 76 2.25 77 3.1 78 3.2 79 3.3 80 3.4 81 3.5 82 3.6 83 3.7 84 3.8 discípulos de que ele dissera isto; e dito isso e então creram nas Escrituras creram na Escritura e na palavra de Sagradas e nas palavras dele. Jesus. Estando ele em Jerusalém, durante a Quando Jesus estava em Jerusalém, Festa da Páscoa, muitos, vendo os durante a Festa da Páscoa, muitos sinais que ele fazia, creram no seu creram nele porque viram os milagres nome; que ele fazia. mas o próprio Jesus não se confiava a Mas Jesus não confiava neles, pois os eles, porque os conhecia a todos. conhecia muito bem. E não precisava de que alguém lhe E ninguém precisava falar com ele desse testemunho a respeito do sobre qualquer pessoa, pois ele sabia o homem, porque ele mesmo sabia o que que cada pessoa pensava. era a natureza humana. Havia, entre os fariseus, um homem Havia um fariseu chamado chamado Nicodemos, um dos Nicodemos, que era líder dos judeus. principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe Uma noite ele foi visitar Jesus e disse: disse: Rabi, sabemos que és Mestre — Rabi, nós sabemos que o senhor é vindo da parte de Deus; porque um mestre que Deus enviou, pois ninguém pode fazer estes sinais que tu ninguém pode fazer esses milagres se fazes, se Deus não estiver com ele. Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, Jesus respondeu: — Eu afirmo ao em verdade te digo que, se alguém não senhor que isto é verdade: ninguém nascer de novo, não pode ver o reino pode ver o Reino de Deus se não de Deus. nascer de novo. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode Nicodemos perguntou: — Como é que um homem nascer, sendo velho? Pode, um homem velho pode nascer de porventura, voltar ao ventre materno e novo? Será que ele pode voltar para a nascer segunda vez? barriga da sua mãe e nascer outra vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em Jesus disse: — Eu afirmo ao senhor verdade te digo: quem não nascer da que isto é verdade: ninguém pode água e do Espírito não pode entrar no entrar no Reino de Deus se não nascer reino de Deus. da água e do Espírito. O que é nascido da carne é carne; e o Quem nasce de pais humanos é um ser de natureza humana; quem nasce do que é nascido do Espírito é espírito. Espírito é um ser de natureza espiritual. Não te admires de eu te dizer: importa- Por isso não fique admirado porque eu disse que todos vocês precisam nascer vos nascer de novo. de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua O vento sopra onde quer, e ouve-se o voz, mas não sabes donde vem, nem barulho que ele faz, mas não se sabe para onde vai; assim é todo o que é de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os nascido do Espírito. que nascem do Espírito. 46 85 3.9 86 3.10 87 3.11 88 89 90 Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho. 3.12 Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? 3.13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem [que está no céu]. 3.14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, 91 3.15 92 3.16 93 3.17 94 3.18 95 3.19 96 3.20 97 3.21 — Como pode ser isso? — perguntou Nicodemos. Jesus respondeu: — O senhor é professor do povo de Israel e não entende isso? Pois eu afirmo ao senhor que isto é verdade: nós falamos daquilo que sabemos e contamos o que temos visto, mas vocês não querem aceitar a nossa mensagem. Se vocês não crêem quando falo das coisas deste mundo, como vão crer se eu falar das coisas do céu? Ninguém subiu ao céu, a não ser o Filho do Homem, que desceu do céu. — Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todo o que nele crê tenha a para que todos os que crerem nele vida eterna. tenham a vida eterna. Porque Deus amou ao mundo de tal Porque Deus amou o mundo tanto, que maneira que deu o seu Filho unigênito, deu o seu único Filho, para que todo para que todo o que nele crê não aquele que nele crer não morra, mas pereça, mas tenha a vida eterna. tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao Pois Deus mandou o seu Filho para mundo, não para que julgasse o salvar o mundo e não para julgá-lo. mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que — Aquele que crê no Filho não é não crê já está julgado, porquanto não julgado; mas quem não crê já está crê no nome do unigênito Filho de julgado porque não crê no Filho único Deus. de Deus. O julgamento é este: que a luz veio ao E é assim que o julgamento é feito: mundo, e os homens amaram mais as Deus mandou a luz ao mundo, mas as trevas do que a luz; porque as suas pessoas preferiram a escuridão porque obras eram más. fazem o que é mau. Pois todo aquele que pratica o mal Pois todos os que fazem o mal odeiam aborrece a luz e não se chega para a a luz e fogem dela, para que ninguém luz, a fim de não serem argüidas as veja as coisas más que eles fazem. suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se Mas os que vivem de acordo com a da luz, a fim de que as suas obras verdade procuram a luz, a fim de que 47 sejam manifestas, porque feitas em Deus. 98 3.22 99 3.23 100 101 102 103 104 105 106 107 108 Depois disto, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia; ali permaneceu com eles e batizava. possa ser visto claramente que as suas ações são feitas de acordo com a vontade de Deus. Depois disso, Jesus e os seus discípulos foram para a região da Judéia. Ele ficou algum tempo com eles ali e batizava as pessoas. João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque lá havia muita água. Ora, João estava também batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era batizado. 3.24 Pois João ainda não tinha sido (João ainda não tinha sido preso.) encarcerado. 3.25 Ora, entre os discípulos de João e um Alguns discípulos de João tiveram judeu suscitou-se uma contenda com uma discussão com um judeu sobre a respeito à purificação. cerimônia de purificação. 3.26 E foram ter com João e lhe disseram: Eles foram dizer a João: — Mestre, Mestre, aquele que estava contigo aquele homem que estava com o além do Jordão, do qual tens dado senhor no outro lado do rio Jordão está testemunho, está batizando, e todos lhe batizando as pessoas. O senhor falou sobre ele, lembra? E todos estão indo saem ao encontro. atrás dele. 3.27 Respondeu João: O homem não pode João respondeu: — Ninguém pode ter receber coisa alguma se do céu não lhe alguma coisa se ela não for dada por for dada. Deus. 3.28 Vós mesmos sois testemunhas de que Vocês são testemunhas de que eu vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui disse: “Eu não sou o Messias, mas fui enviado como seu precursor. enviado adiante dele.” 3.29 O que tem a noiva é o noivo; o amigo Num casamento, o noivo é aquele a do noivo que está presente e o ouve quem a noiva pertence. O amigo do muito se regozija por causa da voz do noivo está ali, e o escuta, e se alegra noivo. Pois esta alegria já se cumpriu quando ouve a voz dele. Assim também o que está acontecendo com em mim. Jesus me faz ficar completamente alegre. 3.30 Convém que ele cresça e que eu Ele tem de ficar cada vez mais diminua. importante, e eu, menos importante. 3.31 Quem vem das alturas certamente está Aquele que vem de cima é o mais acima de todos; quem vem da terra é importante de todos, e quem vem da terreno e fala da terra; quem veio do terra é da terra e fala das coisas terrenas. Quem vem do céu é o mais céu está acima de todos importante de todos. 3.32 e testifica o que tem visto e ouvido; Ele fala daquilo que viu e ouviu, mas contudo, ninguém aceita o seu ninguém aceita a sua mensagem. testemunho. 48 109 3.33 110 3.34 111 3.35 112 3.36 113 4.1 114 4.2 115 4.3 116 4.4 117 4.5 118 4.6 119 4.7 120 121 122 Quem, todavia, lhe aceita o testemunho, por sua vez, certifica que Deus é verdadeiro. Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida. O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos. Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus. Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João (se bem que Jesus mesmo não batizava, e sim os seus discípulos), deixou a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia. E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José. Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. 4.8 Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. 4.9 Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)? 4.10 Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Quem aceita a sua mensagem dá prova de que o que Deus diz é verdade. Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus porque Deus dá do seu Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e pôs tudo nas mãos dele. Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; porém quem desobedece ao Filho nunca terá a vida eterna, mas sofrerá para sempre o castigo de Deus. Os fariseus ouviram dizer que Jesus estava ganhando mais discípulos e batizava mais pessoas do que João. (De fato, não era Jesus quem batizava, e sim os seus discípulos.) Quando Jesus ficou sabendo disso, saiu da Judéia e voltou para a Galiléia. No caminho, ele tinha de passar pela região da Samaria. Ele chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, que ficava perto das terras que Jacó tinha dado ao seu filho José. Ali ficava o poço de Jacó. Era mais ou menos meio-dia quando Jesus, cansado da viagem, sentou-se perto do poço. Uma mulher samaritana veio tirar água, e Jesus lhe disse: — Por favor, me dê um pouco de água. (Os discípulos de Jesus tinham ido até a cidade comprar comida.) A mulher respondeu: — O senhor é judeu, e eu sou samaritana. Então como é que o senhor me pede água? (Ela disse isso porque os judeus não se dão com os samaritanos.) Então Jesus disse: — Se você soubesse o que Deus pode dar e quem é que está lhe pedindo água, você pediria, e ele lhe daria a água da vida. 49 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 4.11 Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens Ela respondeu: — O senhor não tem com que a tirar, e o poço é fundo; balde para tirar água, e o poço é fundo. Como é que vai conseguir essa água onde, pois, tens a água viva? da vida? 4.12 És tu, porventura, maior do que Jacó, Nosso antepassado Jacó nos deu este o nosso pai, que nos deu o poço, do poço. Ele, os seus filhos e os seus qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, animais beberam água daqui. Será que o senhor é mais importante do que seus filhos, e seu gado? Jacó? 4.13 Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta Então Jesus disse: — Quem beber água tornará a ter sede; desta água terá sede de novo, 4.14 aquele, porém, que beber da água que mas a pessoa que beber da água que eu eu lhe der nunca mais terá sede; pelo lhe der nunca mais terá sede. Porque a contrário, a água que eu lhe der será água que eu lhe der se tornará nela nele uma fonte a jorrar para a vida uma fonte de água que dará vida eterna. eterna. 4.15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me Então a mulher pediu: — Por favor, dessa água para que eu não mais tenha me dê dessa água! Assim eu nunca mais terei sede e não precisarei mais sede, nem precise vir aqui buscá-la. vir aqui buscar água. 4.16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu — Vá chamar o seu marido e volte marido e vem cá; aqui! — ordenou Jesus. 4.17 ao que lhe respondeu a mulher: Não — Eu não tenho marido! — respondeu tenho marido. Replicou-lhe Jesus: a mulher. Então Jesus disse: — Você está certa ao dizer que não tem Bem disseste, não tenho marido; marido, 4.18 porque cinco maridos já tiveste, e esse pois já teve cinco, e este que você tem que agora tens não é teu marido; isto agora não é, de fato, seu marido. Sim, disseste com verdade. você falou a verdade. 4.19 Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu A mulher respondeu: — Agora eu sei és profeta. que o senhor é um profeta! 4.20 Nossos pais adoravam neste monte; Os nossos antepassados adoravam a vós, entretanto, dizeis que em Deus neste monte, mas vocês, judeus, Jerusalém é o lugar onde se deve dizem que Jerusalém é o lugar onde adorar. devemos adorá-lo. 4.21 Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crerJesus disse: — Mulher, creia no que me que a hora vem, quando nem neste eu digo: chegará o tempo em que monte, nem em Jerusalém adorareis o ninguém vai adorar a Deus nem neste Pai. monte nem em Jerusalém. 4.22 Vós adorais o que não conheceis; nós Vocês, samaritanos, não sabem o que adoramos o que conhecemos, porque a adoram, mas nós sabemos o que adoramos porque a salvação vem dos salvação vem dos judeus. judeus. 4.23 Mas vem a hora e já chegou, em que Mas virá o tempo, e, de fato, já os verdadeiros adoradores adorarão o chegou, em que os verdadeiros 50 136 137 Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. 4.24 Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. 4.25 Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas. 138 4.26 Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo. 139 4.27 Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela? 140 4.28 141 4.29 142 4.30 143 4.31 144 4.32 Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele. Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo: Mestre, come! Mas ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. 145 4.33 146 147 Diziam, então, os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer? 4.34 Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. 4.35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa. adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade. Pois são esses que o Pai quer que o adorem. Deus é Espírito, e por isso os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade. A mulher respondeu: — Eu sei que o Messias, chamado Cristo, tem de vir. E, quando ele vier, vai explicar tudo para nós. Então Jesus afirmou: — Pois eu, que estou falando com você, sou o Messias. Naquele momento chegaram os seus discípulos e ficaram admirados, pois ele estava conversando com uma mulher. Mas nenhum deles perguntou à mulher o que ela queria. E também não perguntaram a Jesus por que motivo ele estava falando com ela. Em seguida, a mulher deixou ali o seu pote, voltou até a cidade e disse a todas as pessoas: — Venham ver o homem que disse tudo o que eu tenho feito. Será que ele é o Messias? Muitas pessoas saíram da cidade e foram para o lugar onde Jesus estava. Enquanto isso, os discípulos pediam a Jesus: — Mestre, coma alguma coisa! Jesus respondeu: — Eu tenho para comer uma comida que vocês não conhecem. Então os discípulos começaram a perguntar uns aos outros: — Será que alguém já trouxe comida para ele? — A minha comida — disse Jesus — é fazer a vontade daquele que me enviou e terminar o trabalho que ele me deu para fazer. Vocês costumam dizer: “Daqui a quatro meses teremos a colheita.” Mas olhem e vejam bem os campos: o que foi plantado já está maduro e pronto para a colheita. 51 148 4.36 149 4.37 150 4.38 151 4.39 152 4.40 153 4.41 154 4.42 155 4.43 156 4.44 157 4.45 158 4.46 159 4.47 O ceifeiro recebe desde já a Quem colhe recebe o seu salário, e o recompensa e entesoura o seu fruto resultado do seu trabalho é a vida para a vida eterna; e, dessarte, se eterna para as pessoas. E assim tanto o alegram tanto o semeador como o que semeia como o que colhe se ceifeiro. alegrarão juntos. Pois, no caso, é verdadeiro o ditado: Porque é verdade o que dizem: “Um Um é o semeador, e outro é o ceifeiro. semeia, e outro colhe.” Eu vos enviei para ceifar o que não Eu mandei vocês colherem onde não semeastes; outros trabalharam, e vós trabalharam; outros trabalharam ali, e entrastes no seu trabalho. vocês aproveitaram o trabalho deles. Muitos samaritanos daquela cidade Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho creram em Jesus porque a mulher da mulher, que anunciara: Ele me tinha dito: “Ele me disse tudo o que eu disse tudo quanto tenho feito. tenho feito.” Vindo, pois, os samaritanos ter com Quando os samaritanos chegaram ao Jesus, pediam-lhe que permanecesse lugar onde Jesus estava, pediram a ele que ficasse com eles, e Jesus ficou ali com eles; e ficou ali dois dias. dois dias. Muitos outros creram nele, por causa E muitos outros creram por causa da da sua palavra, mensagem dele. e diziam à mulher: Já agora não é pelo Eles diziam à mulher: — Agora não é que disseste que nós cremos; mas mais por causa do que você disse que porque nós mesmos temos ouvido e nós cremos, mas porque nós mesmos o sabemos que este é verdadeiramente o ouvimos falar. E sabemos que ele é, de Salvador do mundo. fato, o Salvador do mundo. Passados dois dias, partiu dali para a Depois de ficar dois dias ali, Jesus foi Galiléia. para a região da Galiléia. Porque o mesmo Jesus testemunhou Pois, como ele mesmo disse: “Um que um profeta não tem honras na sua profeta não é respeitado na sua própria própria terra. terra.” Assim, quando chegou à Galiléia, os Quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram moradores dali o receberam bem. É todas as coisas que ele fizera em que eles tinham ido à Festa da Páscoa, Jerusalém, por ocasião da festa, à qual em Jerusalém, e tinham visto tudo o eles também tinham comparecido. que Jesus havia feito lá. Dirigiu-se, de novo, a Caná da Jesus voltou a Caná da Galiléia, onde Galiléia, onde da água fizera vinho. havia transformado água em vinho. Ora, havia um oficial do rei, cujo filho Estava ali um alto funcionário público que morava em Cafarnaum. Ele tinha estava doente em Cafarnaum. em casa um filho doente. Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Quando ouviu dizer que Jesus tinha Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e vindo da Judéia para a Galiléia, foi lhe rogou que descesse para curar seu pedir a ele que fosse a Cafarnaum e curasse o seu filho, que estava filho, que estava à morte. morrendo. 52 160 161 162 163 164 165 166 4.48 Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis. 4.49 Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra. 4.50 Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e partiu. 4.51 Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, anunciandolhe que o seu filho vivia. 4.52 Então, indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor. Informaram: Ontem, à hora sétima a febre o deixou. 4.53 Com isto, reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa. 4.54 Foi este o segundo sinal que fez Jesus, depois de vir da Judéia para a Galiléia. 167 5.1 168 5.2 169 5.3 170 5.4 171 5.5 172 5.6 Passadas estas coisas, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu para Jerusalém. Ora, existe ali, junto à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco pavilhões. Nestes, jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos [esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse]. Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? Jesus disse ao funcionário: — Vocês só crêem quando vêem grandes milagres! Ele respondeu: — Senhor, venha depressa, antes que o meu filho morra! — Volte para casa! O seu filho vai viver! — disse Jesus. Ele creu nas palavras de Jesus e foi embora. No caminho encontrou-se com os seus empregados, que disseram: — O seu filho está vivo! Então ele perguntou a que horas o filho havia começado a melhorar. Os empregados responderam: — Ontem, à uma da tarde, a febre passou. Aí o pai lembrou que havia sido naquela mesma hora que Jesus tinha dito: “O seu filho vai viver.” Então ele e toda a família creram em Jesus. Esse foi o segundo milagre que Jesus fez depois de ter ido da Judéia para a Galiléia. Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus foi até Jerusalém. Ali existe um tanque que tem cinco entradas e que fica perto do Portão das Ovelhas. Em hebraico esse tanque se chama “Betezata”. Perto das entradas estavam deitados muitos doentes: cegos, aleijados e paralíticos. [Esperavam o movimento da água, porque de vez em quando um anjo do Senhor descia e agitava a água. O primeiro doente que entrava no tanque depois disso sarava de qualquer doença.] Entre eles havia um homem que era doente fazia trinta e oito anos. Jesus viu o homem deitado e, sabendo que fazia todo esse tempo que ele era doente, perguntou: — Você quer ficar curado? 53 173 174 175 176 177 178 179 180 5.7 Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. 5.8 Então, lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. 5.9 Imediatamente, o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar. E aquele dia era sábado. 5.10 Por isso, disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito. 5.11 Ao que ele lhes respondeu: O mesmo que me curou me disse: Toma o teu leito e anda. 5.12 Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda? 5.13 Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, por haver muita gente naquele lugar. 5.14 Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior. 181 5.15 O homem retirou-se e disse aos judeus que fora Jesus quem o havia curado. 182 5.16 E os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. 183 5.17 Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. 184 5.18 Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus. 185 5.19 Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada Ele respondeu: — Senhor, eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se mexe. Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim. Então Jesus disse: — Levante-se, pegue a sua cama e ande! No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou a cama e começou a andar. Isso aconteceu no sábado. Por isso os líderes judeus disseram a ele: — Hoje é sábado, e a nossa Lei não permite que você carregue a sua cama neste dia. Ele respondeu: — O homem que me curou me disse: “Pegue a sua cama e ande.” Eles perguntaram: — Quem é o homem que mandou você fazer isso? Mas ele não sabia quem tinha sido, pois Jesus havia ido embora por causa da multidão que estava ali. Mais tarde Jesus encontrou o homem no pátio do Templo e disse a ele: — Escute! Você agora está curado. Não peque mais, para que não aconteça com você uma coisa ainda pior. O homem saiu dali e foi dizer aos líderes judeus que quem o havia curado tinha sido Jesus. Então eles começaram a perseguir Jesus porque ele havia feito essa cura no sábado. Então Jesus disse a eles: — O meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho. E, porque ele disse isso, os líderes judeus ficaram ainda com mais vontade de matá-lo. Pois, além de não obedecer à lei do sábado, ele afirmava que Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus. Então Jesus disse a eles: — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o Filho não 54 186 5.20 187 5.21 188 5.22 189 5.23 190 5.24 191 5.25 192 5.26 193 5.27 194 5.28 195 5.29 196 5.30 pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer. E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou. pode fazer nada por sua própria conta, pois ele só faz o que vê o Pai fazer. Tudo o que o Pai faz o Filho faz também, pois o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que está fazendo. E vai mostrar a ele coisas ainda maiores do que essas, e vocês vão ficar admirados. Porque, assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida aos que ele quer. O Pai não julga ninguém, mas deu ao Filho todo o poder para julgar a fim de que todos respeitem o Filho, assim como respeitam o Pai. Quem não respeita o Filho também não respeita o Pai, que o enviou. — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem ouve as minhas palavras e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não será julgado, mas já passou da morte para a vida. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vem a hora, e ela já chegou, em que os mortos vão ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Assim como o Pai é a fonte da vida, assim também fez o Filho ser a fonte da vida. E ele deu ao Filho autoridade para julgar, pois ele é o Filho do Homem. — Não fiquem admirados por causa disso, pois está chegando a hora em que todos os mortos ouvirão a voz do Filho do Homem e sairão das suas sepulturas. Aqueles que fizeram o bem vão ressuscitar e viver, e aqueles que fizeram o mal vão ressuscitar e ser condenados. Jesus continuou a falar a eles. Ele disse: — Eu não posso fazer nada por minha própria conta, mas julgo de acordo com o que o Pai me diz. O meu julgamento é justo porque não procuro fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 55 197 198 199 5.31 Se eu testifico a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. 5.32 Outro é o que testifica a meu respeito, e sei que é verdadeiro o testemunho que ele dá de mim. 5.33 Mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. 200 5.34 201 5.35 202 5.36 203 5.37 204 5.38 205 5.39 206 5.40 207 5.41 208 5.42 209 5.43 — Se eu dou testemunho a favor de mim mesmo, então o que digo não tem valor. Mas existe outro que testemunha a meu favor, e eu sei que o que ele diz a respeito de mim é verdade. Vocês mandaram fazer perguntas a João, e o testemunho que ele deu é verdadeiro. Eu, porém, não aceito humano Eu não preciso que ninguém dê testemunho; digo-vos, entretanto, estas testemunho a meu favor, mas digo essas coisas para que vocês sejam coisas para que sejais salvos. salvos. Ele era a lâmpada que ardia e — João era como uma lamparina que alumiava, e vós quisestes, por algum estava acesa e brilhava, e por algum tempo vocês se alegraram com a luz tempo, alegrar-vos com a sua luz. dele. Mas eu tenho maior testemunho do Mas eu tenho um testemunho a meu que o de João; porque as obras que o favor ainda mais forte do que o que Pai me confiou para que eu as João deu: são as coisas que eu faço, as realizasse, essas que eu faço quais o meu Pai me mandou fazer. testemunham a meu respeito de que o Elas dão testemunho a favor de mim e Pai me enviou. provam que o Pai me enviou. O Pai, que me enviou, esse mesmo é Também o Pai, que me enviou, que tem dado testemunho de mim. testemunha a meu favor. Vocês nunca Jamais tendes ouvido a sua voz, nem ouviram a voz dele, nem viram o seu visto a sua forma. rosto. Também não tendes a sua palavra As palavras dele não estão no coração permanente em vós, porque não credes de vocês porque vocês não crêem naquele a quem ele enviou. naquele que ele enviou. Examinais as Escrituras, porque Vocês estudam as Escrituras Sagradas julgais ter nelas a vida eterna, e são porque pensam que vão encontrar nelas a vida eterna. E são elas mesmas elas mesmas que testificam de mim. que dão testemunho a meu favor. Contudo, não quereis vir a mim para Mas vocês não querem vir para mim a terdes vida. fim de ter vida. Eu não aceito glória que vem dos — Eu não procuro ser elogiado pelas homens; pessoas. sei, entretanto, que não tendes em vós Quanto a vocês, eu os conheço e sei que não amam a Deus com o amor de Deus. sinceridade. Eu vim em nome de meu Pai, e não Eu vim com a autoridade do meu Pai, me recebeis; se outro vier em seu e vocês não me recebem. Quando próprio nome, certamente, o alguém vem com a sua própria recebereis. autoridade, esse vocês recebem. 56 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 5.44 Como podeis crer, vós os que aceitais Como é que vocês podem crer, se glória uns dos outros e, contudo, não aceitam ser elogiados pelos outros e procurais a glória que vem do Deus não tentam conseguir os elogios que único? somente o único Deus pode dar? 5.45 Não penseis que eu vos acusarei Não pensem que sou eu que vou perante o Pai; quem vos acusa é acusá-los diante do Pai; quem vai Moisés, em quem tendes firmado a acusá-los é Moisés, que é aquele em vossa confiança. quem vocês confiam. 5.46 Porque, se, de fato, crêsseis em Se vocês acreditassem em Moisés, Moisés, também creríeis em mim; acreditariam também em mim, pois ele porquanto ele escreveu a meu respeito. escreveu a meu respeito. 5.47 Se, porém, não credes nos seus Mas, se vocês não acreditam no que escritos, como crereis nas minhas ele escreveu, como vão acreditar no palavras? que eu digo? 6.1 Depois destas coisas, atravessou Jesus Depois disso, Jesus atravessou o lago o mar da Galiléia, que é o de da Galiléia, que também é chamado de Tiberíades. Tiberíades. 6.2 Seguia-o numerosa multidão, porque Uma grande multidão o seguia porque tinham visto os sinais que ele fazia na eles tinham visto os milagres que cura dos enfermos. Jesus tinha feito, curando os doentes. 6.3 Então, subiu Jesus ao monte e Ele subiu um monte e sentou-se ali assentou-se ali com os seus discípulos. com os seus discípulos. 6.4 Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava A Páscoa, a festa principal dos judeus, próxima. estava perto. 6.5 Então, Jesus, erguendo os olhos e Jesus olhou em volta de si e viu que vendo que grande multidão vinha ter uma grande multidão estava chegando com ele, disse a Filipe: Onde perto dele. Então disse a Filipe: — compraremos pães para lhes dar a Onde vamos comprar comida para comer? toda esta gente? 6.6 Mas dizia isto para o experimentar; Ele sabia muito bem o que ia fazer, porque ele bem sabia o que estava para mas disse isso para ver qual seria a fazer. resposta de Filipe. 6.7 Respondeu-lhe Filipe: Não lhes Filipe respondeu assim: — Para cada bastariam duzentos denários de pão, pessoa poder receber um pouco de pão, nós precisaríamos gastar mais de para receber cada um o seu pedaço. duzentas moedas de prata. 6.8 Um de seus discípulos, chamado Então um dos discípulos, André, irmão André, irmão de Simão Pedro, de Simão Pedro, disse: informou a Jesus: 6.9 Está aí um rapaz que tem cinco pães — Está aqui um menino que tem cinco de cevada e dois peixinhos; mas isto pães de cevada e dois peixinhos. Mas que é para tanta gente? o que é isso para tanta gente? 6.10 Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se; Jesus disse: — Digam a todos que se pois havia naquele lugar muita relva. sentem no chão. Então todos se Assentaram-se, pois, os homens em sentaram. (Havia muita grama naquele 57 número de quase cinco mil. 224 6.11 225 6.12 226 6.13 227 6.14 228 6.15 229 6.16 230 6.17 231 6.18 232 6.19 233 6.20 234 6.21 235 6.22 Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam. E, quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. Assim, pois, o fizeram e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que haviam comido. Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte. Ao descambar o dia, os seus discípulos desceram para o mar. E, tomando um barco, passaram para o outro lado, rumo a Cafarnaum. Já se fazia escuro, e Jesus ainda não viera ter com eles. E o mar começava a empolar-se, agitado por vento rijo que soprava. Tendo navegado uns vinte e cinco a trinta estádios, eis que viram Jesus andando por sobre o mar, aproximando-se do barco; e ficaram possuídos de temor. Mas Jesus lhes disse: Sou eu. Não temais! Então, eles, de bom grado, o receberam, e logo o barco chegou ao seu destino. No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do mar notou que ali não havia senão um pequeno barco e que Jesus não embarcara nele com seus lugar.) Estavam ali quase cinco mil homens. Em seguida Jesus pegou os pães, deu graças a Deus e os repartiu com todos; e fez o mesmo com os peixes. E todos comeram à vontade. Quando já estavam satisfeitos, ele disse aos discípulos: — Recolham os pedaços que sobraram a fim de que não se perca nada. Eles ajuntaram os pedaços e encheram doze cestos com o que sobrou dos cinco pães. Os que viram esse milagre de Jesus disseram: — De fato, este é o Profeta que devia vir ao mundo! Jesus ficou sabendo que queriam leválo à força para o fazerem rei; então voltou sozinho para o monte. De tardinha, os discípulos de Jesus desceram até o lago. Subiram num barco e começaram a atravessar o lago na direção da cidade de Cafarnaum. Quando já estava escuro, Jesus ainda não tinha vindo se encontrar com eles. De repente, um vento forte começou a soprar e a levantar as ondas. Os discípulos já tinham remado uns cinco ou seis quilômetros, quando viram Jesus andando em cima da água e chegando perto do barco. E ficaram com muito medo. Mas Jesus disse: — Não tenham medo, sou eu! Então eles o receberam com prazer no barco e logo chegaram ao lugar para onde estavam indo. No dia seguinte a multidão que estava no lado leste do lago viu que ali só havia um barco pequeno. Sabiam que Jesus não tinha embarcado com os 58 discípulos, tendo estes partido sós. 236 6.23 Entretanto, outros barquinhos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde comeram o pão, tendo o Senhor dado graças. 237 6.24 238 6.25 Quando, pois, viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, tomaram os barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro lado do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? 239 6.26 240 6.27 241 6.28 242 6.29 243 6.30 244 6.31 Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. 245 6.32 Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo. Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado. Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? discípulos, pois estes haviam saído sozinhos. Enquanto isso, outros barcos chegaram da cidade de Tiberíades e encostaram perto do lugar onde a multidão tinha comido pão depois de o Senhor Jesus ter dado graças. Quando viram que Jesus e os seus discípulos não estavam ali, subiram nos barcos e saíram para Cafarnaum a fim de procurá-lo. A multidão encontrou Jesus no lado oeste do lago, e perguntaram a ele: — Mestre, quando foi que o senhor chegou aqui? Jesus respondeu: — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vocês estão me procurando porque comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres. Não trabalhem a fim de conseguir a comida que se estraga, mas a fim de conseguir a comida que dura para a vida eterna. O Filho do Homem dará essa comida a vocês porque Deus, o Pai, deu provas de que ele tem autoridade. — O que é que Deus quer que a gente faça? — perguntaram eles. — Ele quer que vocês creiam naquele que ele enviou! — respondeu Jesus. Eles disseram: — Que milagre o senhor vai fazer para a gente ver e crer no senhor? O que é que o senhor pode fazer? Os nossos antepassados comeram o maná no deserto, como dizem as Escrituras Sagradas: “Do céu ele deu pão para eles comerem.” Jesus disse: — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: não foi Moisés quem deu a vocês o pão do céu, pois quem dá o verdadeiro pão do céu é o meu 59 246 6.33 247 6.34 248 6.35 249 6.36 250 6.37 251 6.38 252 6.39 253 6.40 254 6.41 255 6.42 256 6.43 257 6.44 258 6.45 259 6.46 vos dá. Pai. Porque o pão de Deus é o que desce do Porque o pão que Deus dá é aquele céu e dá vida ao mundo. que desce do céu e dá vida ao mundo. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos — Queremos que o senhor nos dê sempre desse pão. sempre desse pão! — pediram eles. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o Jesus respondeu: — Eu sou o pão da pão da vida; o que vem a mim jamais vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome; e o que crê em mim jamais terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede. mais terá sede. Porém eu já vos disse que, embora me Mas eu já disse que vocês não crêem tenhais visto, não credes. em mim, embora estejam me vendo. Todo aquele que o Pai me dá, esse virá Todos aqueles que o Pai me dá virão a a mim; e o que vem a mim, de modo mim; e de modo nenhum jogarei fora nenhum o lançarei fora. aqueles que vierem a mim. Porque eu desci do céu, não para fazer Pois eu desci do céu para fazer a a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou e não vontade daquele que me enviou. para fazer a minha própria vontade. E a vontade de quem me enviou é esta: E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que que nenhum daqueles que o Pai me me deu; pelo contrário, eu o deu se perca, mas que eu ressuscite ressuscitarei no último dia. todos no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que Pois a vontade do meu Pai é que todos todo homem que vir o Filho e nele crer os que vêem o Filho e crêem nele tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei tenham a vida eterna; e no último dia no último dia. eu os ressuscitarei. Murmuravam, pois, dele os judeus, Eles começaram a criticar Jesus porque dissera: Eu sou o pão que porque ele tinha dito: “Eu sou o pão desceu do céu. que desceu do céu.” E diziam: Não é este Jesus, o filho de E diziam: — Este não é Jesus, filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o José? Por acaso nós não conhecemos o pai e a mãe? Como, pois, agora diz: pai e a mãe dele? Como é que agora Desci do céu? ele diz que desceu do céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis Jesus respondeu: — Parem de entre vós. resmungar contra mim. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que Só poderão vir a mim aqueles que me enviou, não o trouxer; e eu o forem trazidos pelo Pai, que me enviou, e eu os ressuscitarei no último ressuscitarei no último dia. dia. Está escrito nos profetas: E serão Nos Profetas está escrito: “Todos todos ensinados por Deus. Portanto, serão ensinados por Deus.” E todos os todo aquele que da parte do Pai tem que ouvem o Pai e aprendem com ele ouvido e aprendido, esse vem a mim. vêm a mim. Não que alguém tenha visto o Pai, Isso não quer dizer que alguém já salvo aquele que vem de Deus; este o tenha visto o Pai, a não ser aquele que tem visto. vem de Deus; ele já viu o Pai. 60 260 6.47 261 262 6.48 6.49 263 6.50 264 6.51 265 6.52 266 6.53 267 6.54 268 6.55 269 6.56 270 6.57 271 6.58 272 6.59 273 6.60 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. — Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os antepassados de vocês comeram o maná no deserto, mas morreram. Aqui está o pão que desce do céu; e quem comer desse pão nunca morrerá. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer desse pão, viverá para sempre. E o pão que eu darei para que o mundo tenha vida é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, Aí eles começaram a discutir entre si. dizendo: Como pode este dar-nos a E perguntavam: — Como é que este homem pode dar a sua própria carne comer a sua própria carne? para a gente comer? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, Então Jesus disse: — Eu afirmo a em verdade vos digo: se não comerdes vocês que isto é verdade: se vocês não a carne do Filho do Homem e não comerem a carne do Filho do Homem beberdes o seu sangue, não tendes vida e não beberem o seu sangue, vocês em vós mesmos. não terão vida. Quem comer a minha carne e beber o Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira Pois a minha carne é a comida comida, e o meu sangue é verdadeira verdadeira, e o meu sangue é a bebida bebida. verdadeira. Quem comer a minha carne e beber o Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, meu sangue vive em mim, e eu vivo nele. nele. Assim como o Pai, que vive, me O Pai, que tem a vida, foi quem me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, enviou, e por causa dele eu tenho a também quem de mim se alimenta por vida. Assim, também, quem se alimenta de mim terá vida por minha mim viverá. causa. Este é o pão que desceu do céu, em Este é o pão que desceu do céu. Não é nada semelhante àquele que os vossos como o pão que os antepassados de pais comeram e, contudo, morreram; vocês comeram e mesmo assim quem comer este pão viverá morreram. Quem come deste pão eternamente. viverá para sempre. Estas coisas disse Jesus, quando Jesus disse isso quando estava ensinava na sinagoga de Cafarnaum. ensinando na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos, tendo Muitos seguidores de Jesus ouviram ouvido tais palavras, disseram: Duro é isso e reclamaram: — O que ele ensina é muito difícil! Quem pode aceitar este discurso; quem o pode ouvir? 61 274 6.61 275 6.62 276 6.63 277 6.64 278 6.65 279 6.66 280 6.67 281 6.68 282 6.69 283 6.70 284 6.71 esses ensinamentos? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que Não disseram nada a Jesus, mas ele eles murmuravam a respeito de suas sabia que eles estavam resmungando palavras, interpelou-os: Isto vos contra ele. Por isso perguntou: — Vocês querem me abandonar por escandaliza? causa disso? Que será, pois, se virdes o Filho do E o que aconteceria se vocês vissem o Homem subir para o lugar onde Filho do Homem subir para onde primeiro estava? estava antes? O espírito é o que vivifica; a carne O Espírito de Deus é quem dá a vida, para nada aproveita; as palavras que mas o ser humano não pode fazer isso. eu vos tenho dito são espírito e são As palavras que eu lhes disse são vida. espírito e vida, Contudo, há descrentes entre vós. Pois mas mesmo assim alguns de vocês não Jesus sabia, desde o princípio, quais crêem. Jesus disse isso porque já sabia eram os que não criam e quem o havia desde o começo quem eram os que não iam crer nele e sabia também quem ia de trair. traí-lo. E prosseguiu: Por causa disto, é que Jesus continuou: — Foi por esse vos tenho dito: ninguém poderá vir a motivo que eu disse a vocês que só mim, se, pelo Pai, não lhe for pode vir a mim a pessoa que for concedido. trazida pelo Pai. À vista disso, muitos dos seus Por causa disso muitos seguidores de discípulos o abandonaram e já não Jesus o abandonaram e não o andavam com ele. acompanhavam mais. Então, perguntou Jesus aos doze: Então ele perguntou aos doze Porventura, quereis também vós outros discípulos: — Será que vocês também retirar-vos? querem ir embora? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, Simão Pedro respondeu: — Quem é para quem iremos? Tu tens as palavras que nós vamos seguir? O senhor tem da vida eterna; as palavras que dão vida eterna! e nós temos crido e conhecido que tu E nós cremos e sabemos que o senhor és o Santo de Deus. é o Santo que Deus enviou. Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi Jesus disse: — Fui eu que escolhi eu em número de doze? Contudo, um todos vocês, os doze. No entanto um de vós é diabo. de vocês é um diabo! Referia-se ele a Judas, filho de Simão Ele estava falando de Judas, filho de Iscariotes; porque era quem estava Simão Iscariotes. Pois Judas, embora fosse um dos doze discípulos, ia trair para traí-lo, sendo um dos doze. Jesus. 62 63