ROCHA, Eliete Medeiros da. - CCHLA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB
ELIETE MEDEIROS DA ROCHA
O PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA EM DUAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA
PARA O PORTUGUÊS
João Pessoa – PB
2014
ELIETE MEDEIROS DA ROCHA
O PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA EM DUAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA
PARA O PORTUGUÊS
Trabalho apresentado ao Curso de Bacharelado em
Tradução para obtenção do título de Bacharel em
Tradução pela Universidade Federal da Paraíba.
Orientadora: Profa. Dra. Luciane Leipnitz
João Pessoa – PB
2014
ELIETE MEDEIROS DA ROCHA
O PRINCÍPIO DE EQUIVALÊNCIA EM DUAS TRADUÇÕES DA BÍBLIA
PARA O PORTUGUÊS
Trabalho apresentado ao Curso de Bacharelado
em Tradução para obtenção do título de
Bacharel em Tradução pela Universidade
Federal da Paraíba, sob apreciação da seguinte
banca examinadora:
Data ____/____/ 2014
Nota _____________
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________
Profª. Drª Luciane Leipnitz (Orientadora)
_________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Carlos de Assis
_________________________________________________
Profª. Drª. Tânia Liparini Campos
Dedico este trabalho ao Senhor Deus, autor e consumador da
minha fé. “Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas;
glória, pois, a Ele eternamente. Amém.” Romanos 11.36
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Senhor Deus pela revelação da Sua palavra e por tê-la
preservado até aos nossos dias para que, desse modo, pudéssemos conhecê-Lo, amá-Lo, serviLo e gozar da maior realização que dá a vida pleno sentido: viver para a Sua glória.
Agradeço também aos meus pais que me ensinaram o que é o amor através do seu
exemplo de dedicação incondicional e me levaram a conhecer e amar o meu Deus.
Agradeço ao meu marido que nunca deixou de ser o príncipe que me encanta há 31
anos. Amigo, companheiro, cúmplice, ancoradouro e sacerdote, tem cuidado de mim em todas
as situações que já vivemos: “na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença...” . Obrigada
Isnadiel, por teu amor, respeito, carinho, abnegação, encorajamento, apoio e tudo o mais que
possibilitou não apenas a conclusão desse curso, mas, acima disso, a realização dos meus
maiores sonhos: ser esposa e mãe.
Agradeço também aos meus filhos Suelen, Rossana, Elias e Zaqueu que sempre
vibraram com as minhas vitórias e ouviram com paciência as longas e repetidas histórias das
minhas descobertas acadêmicas. Vocês são prova de que família é o bem maior e de que valeu
a pena investir, em tempo integral, na vida de cada um de vocês, com o melhor da minha vida,
com o melhor de mim.
Agradeço aos meus genros e noras que assumiram a posição de filhos e filhas,
participando também de todo o processo.
Agradeço aos meus netinhos Jônatas, Mariana e João Marcos ou Ana Lívia – no prelo,
que, embora não tenham ainda consciência disso, serviram de inspiração e deleite quando me
sentia sobrecarregada.
Agradeço aos demais familiares (irmãs e irmãos, cunhadas e cunhados, sobrinhos e
sobrinhas) pela torcida, pelo interesse e por estarem presentes nas mais diversas fases da
minha vida.
Agradeço aos professores que colaboraram com a minha formação acadêmica em
especial a coordenadora do curso de Bacharelado em Tradução, professora Dra Tânia Liparini
Campos, ao professor Dr. Roberto Carlos de Assis que teve um papel decisivo na minha
caminhada e a professora Dra. Luciane Leipnitz que se dispôs a me orientar e o fez com muito
desvelo, dedicação, competência e maestria.
Agradeço a minha amiga, “filha” e irmã em Cristo, Flaviana Oliveira que foi um dos
maiores presentes que o Senhor Deus me deu durante o curso. A você amiga, agradeço o
apoio, as orações e os momentos que compartilhamos as atividades acadêmicas, os desafios
da vida e, principalmente, a mesma fé.
Finalmente, agradeço aos demais colegas, amigos e irmãos em Cristo que, de forma
direta e/ou indireta, tem feito parte da minha vida. Que o Senhor Deus recompense a cada um.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo comparar parte de duas traduções da Bíblia para o
português do Brasil – a edição Revista e Atualizada e a Nova Tradução na Linguagem de
Hoje, sob a perspectiva de dois princípios de tradução postulados por Nida: o princípio de
equivalência formal e o princípio de equivalência dinâmica. Através da comparação dos seis
primeiros capítulos do Evangelho de João, foi possível identificar diferenças entre as duas
traduções envolvendo escolhas diferentes de palavras, diferenças nas classes gramaticais e
tempos verbais, nos termos da oração, utilização de acréscimos e ajustes formais. Na Nova
Tradução na Linguagem de Hoje são identificados e analisados em contraste com o texto da
edição Revista e Atualizada, sugerindo que tais recursos podem ser os responsáveis pela
produção de um texto cuja linguagem simples e popular se aproxima mais daquela adotada
pelo português do Brasil e alcança uma maior parcela da população.
Palavras-chave: Tradução da Bíblia. Equivalência formal. Equivalência dinâmica.
ABSTRACT
This paper aims to compare two translations of the Bible into Portuguese of Brazil – The
Revista e Atualizada (RA) edition and the Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) under the perspective of two translation principles postulated by Nida: formal equivalence
principle and dynamic equivalence principle. After comparing the first six chapters of the
Gospel of John, it was possible to identify differences between the two translations involving
different choices of words, differences in grammatical classes and tenses, changes in the
period terms, additions and formal adjusts. Some features used in the translation of the NTLH
are identified and analyzed in contrast to the RA text, suggesting that those features may be
responsible for the production of a text whose simple and popular language is closer to the
one adopted in Brazil and reaches a larger portion of the population.
Keywords: Bible Translation. Formal Equivalence. Dynamic Equivalence.
Quadro 1 – Palavra por palavra ................................................................................................ 22
Quadro 2 – Palavra por mais de uma unidade lexical .............................................................. 24
Quadro 3 – Sintagma por sintagma .......................................................................................... 25
Quadro 4 – Uso do mais-que-perfeito ...................................................................................... 25
Quadro 5 – Posição do adjetivo em relação ao substantivo; .................................................... 26
Quadro 6 – Uso dos pronomes pessoais ................................................................................... 27
Quadro 7 – Ocorrências do lhe/lhes ......................................................................................... 27
Quadro 8 – Substituições do lhe/lhes ....................................................................................... 27
Quadro 9 – Omissão do lhe/lhes ............................................................................................... 28
Quadro 10 – Alterações na ordem verbo-sujeito ...................................................................... 28
Quadro 11 – Elipse do sujeito .................................................................................................. 29
Quadro 12 – Sujeito oculto na NTLH ...................................................................................... 30
Quadro 13 – Acréscimos .......................................................................................................... 30
Quadro 14 – Ajuste das formas literárias especiais .................................................................. 31
Quadro 15 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo expressões. ................... 31
Quadro 16 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo unidades de medida ...... 33
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 8
1.3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 10
1.3.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 10
1.3.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 10
2. A BÍBLIA E SUAS TRADUÇõES ...................................................................................... 10
2.1 Organização estrutural da Bíblia..................................................................................... 11
2.1.1 O Antigo Testamento e suas traduções .................................................................... 11
2.1.2 O período intertestamentário .................................................................................... 12
2.1.3 O Novo Testamento e suas traduções ...................................................................... 12
2.1.4 A Bíblia completa e suas traduções.......................................................................... 13
2.1.5 As traduções da Bíblia e o desenvolvimento de línguas nacionais .......................... 14
2.1.6 As traduções em português ...................................................................................... 14
3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 15
3.1 AS TEORIAS DA TRADUÇÃO ................................................................................... 16
3.2 A NOÇãO DE EQUIVALÊNCIA .................................................................................. 16
3.3 NIDA E A EQUIVALÊNCIA FORMAL E DINÂMICA.............................................. 17
4. METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................................... 20
4.1 CORPUS DA ANÁLISE ................................................................................................ 20
5. ASPECTOS OBSERVADOS NAS ESCOLHAS TRADUTÓRIAS................................... 21
4.2.1 Alguns recursos utilizados na NTLH ....................................................................... 21
6. APRESENTAÇãO DOS RESULTADOS ........................................................................... 22
7. CONSIDERAÇõES FINAIS ................................................................................................ 34
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 36
ANEXOS .................................................................................................................................. 40
Anexo 1 - CORPUS DE ANÁLISE ...................................................................................... 40
1. INTRODUÇÃO
Após o advento da tipografia, nenhum outro livro teve tanto destaque quanto a Bíblia.
Não apenas por ser o livro mais produzido, mas também pela quantidade de línguas para as
quais foi e continua sendo traduzida. A cada três segundos um novo exemplar da Bíblia é
produzido no planeta. Já se comemora a marca de 100 milhões de exemplares em todo o
mundo1. São mais de 2.527 línguas diferentes que possuem a Bíblia completa ou em porções2.
A influência que a Bíblia e suas traduções exerceram sobre vários povos, conforme
relato abaixo, é inegável. Um bom exemplo disso foi a tradução da Bíblia para o alemão por
Martinho Lutero. “[...] ele também fundou a base da moderna língua alemã e, assim, algumas
características fundamentais do espírito alemão [...] consolidando a língua nacional” (LEITE,
2006 p.15, 57).
Traduções da Bíblia contribuíram para que algumas línguas ganhassem seus
respectivos alfabetos (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.21) e também colaboraram com
a estruturação e o desenvolvimento de outras línguas, influenciando povos e culturas (Idem
p.37). Martinho Lutero foi chamado por Delisle e Woodsworth como “artesão da língua
alemã” por ter traduzido a Bíblia para o vernáculo alemão (Ibidem p.57).
Esses fatos nos levam a concluir que os temas: “Bíblia”, “Línguas” e “Tradução” se
interseccionam em vários momentos da história da humanidade. É justamente nesse ponto de
intersecção que esse trabalho se insere, buscando contribuir com os estudos comparativos
entre as Bíblias traduzidas para o português – utilizadas em seminários, por exemplo – e com
teorias de Tradução, especificamente as que envolvem as clássicas dicotomias entre os
conceitos de fidelidade X infidelidade, domesticação X estrangeirização, tradução literal X
tradução livre, forma X conteúdo.
Escolhemos a Bíblia pelas razões expostas acima, mas também por outras de caráter
pessoal: a intimidade, o amor, o respeito, o desvelo que nutrimos por ela e a convicção de que
ela nos revela Deus e a Sua vontade.
Como nem todos tem familiaridade com o texto sagrado, oferecemos, de forma breve,
na segunda seção “A Bíblia e suas traduções”, um pequeno esboço da organização estrutural
1
http://www.100milhoesdebiblias.org.br/grafica-biblia-numeros.asp
Dados da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Disponível em: http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=40>.
Acesso em: 10 set. 2013.
2
7
da Bíblia e sua caminhada até os nossos dias que, cremos, facilitará o acompanhamento das
ideias desenvolvidas ao longo do trabalho.
Após entendermos como a Bíblia chegou até nós através das traduções,
apresentaremos algumas teorias da tradução, discutiremos de forma breve a polêmica noção
de equivalência e, mais especificamente, os princípios de equivalência formal e equivalência
dinâmica postulados por Nida (1964).
Utilizamos como objeto de pesquisa duas traduções da Bíblia protestante em
português: a Revista e Atualizada (RA), traduzida pelo português João Ferreira de Almeida, e
a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), traduzida por uma comissão de tradutores3.
As duas são traduções do mesmo texto de partida (TP), ou seja, para a tradução do Antigo
Testamento (AT) foi utilizada a Bíblia Stuttgartensia, publicada pela Sociedade Bíblica
Alemã e, para o Novo Testamento (NT): o “The Greek New Testament”4. A tradução RA
segue os princípios de equivalência formal5 e a NTLH os de equivalência dinâmica6 conforme
afirmam seus editores.
Para compor o corpus escolhemos os seis primeiros capítulos do livro de João (o
quarto evangelho do Novo Testamento) divididos em duzentos e oitenta e quatro versículos7.
A partir deles procuramos pontuar algumas diferenças entre as traduções RA e NTLH no que
pese os princípios de equivalência formal X equivalência dinâmica, ou seja, como os
princípios de equivalência formal e dinâmica se materializam nos textos em português.
Ao final do trabalho apresentamos os resultados da análise, pontuando onde ocorreram
as diferenças mais marcantes no texto, identificando-as e classificando-as.
1.2 JUSTIFICATIVA
Como visto nos parágrafos anteriores, a tradução foi responsável pela formação de
culturas, estruturação de línguas e construção de identidades nacionais. Mas não foram
3
Informação contida no site da SBB. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=63>. Acesso
em: 23 jan. 2014.
4
Ambas editadas e distribuídas pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Todas essas informações encontram-se
no site da SBB. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=41>. Acesso em: 15 jan. 2014.
5
Conforme informação contida no site da SBB. Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=60>.
Acesso em: 04 fev. 2014.
6
Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=64>. Acesso em: 04 fev. 2014.
7
Versículos é a subdivisão em ordem numérica dos capítulos da Bíblia.
8
traduções quaisquer ou de textos comuns. Na Alemanha, como na Inglaterra e em outros
países mencionados anteriormente, esse grande feito foi motivado pela tradução da BÍBLIA.
A Bíblia, durante séculos, ocupou parte do cenário literário e linguístico mundial. Suas
traduções tem se multiplicado por todo o mundo. No Brasil já dispomos de grande quantidade
de traduções em língua portuguesa. As traduções variam em estilo, técnicas e formas de
traduzir a fim de atender aos anseios e preferências dos seus leitores e estudiosos.
A Igreja Reformada8 jamais ofereceu obstáculos às traduções, pois ela “não professa a
inspiração das traduções, mas dos textos originais em hebraico e aramaico do AT e grego do
NT” (ANGLADA, 1998, p.105). Ao contrário, estimula as traduções por entender que elas
dão acesso ao texto sagrado, sendo este último, em suas línguas originais, o elucidador de
qualquer questão que envolva dúvidas “acerca do genuíno e pleno sentido de qualquer texto
da Escritura” (Confissão de Fé de Westminster9, Capítulo 1, Seção IX).
Ainda no primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster Seção VIII lemos o
seguinte ensino: “[...] Visto, porém, que essas línguas originais (grego e hebraico – destaque
nosso) não são conhecidas a todo o povo de Deus [...] esses livros, portanto, têm de ser
traduzidos para a língua popular de cada nação [...]” (HODGE, 1999).
Diante da multiplicidade de traduções surgem diversas possibilidades de estudos.
Dentre elas, uma corresponde ao propósito neste trabalho: a de pesquisar em duas traduções
distintas as escolhas tradutórias, mais especificamente os equivalentes tradutórios. Para o
desenvolvimento de nossas análises, utilizaremos as noções de equivalência tradutória
alcunhadas por (1964, apud BARBOSA, 1990) de equivalência formal e equivalência dinâmica.
Esta pesquisa visa auxiliar, com dados concretos, aqueles que entendem ser a Bíblia a
Palavra de Deus e, como tal, inerrante10, infalível11 e suficiente12. Para as Igrejas Reformadas
a Bíblia é sua única regra de fé e de prática (HODGE, 1999). Ela molda e rege a vida dos seus
8
As igrejas chamadas Reformadas são aquelas advindas da reforma protestante do século XVI que abraçam a
doutrina calvinista, a exemplo da Igreja Presbiteriana do Brasil.
9
As confissões são declarações de fé mais ampliadas que os credos (ANGLADA, 1998, p.17). Para mais
informações sobre a Confissão de Fé de Westminster, ler o livro de A. A. Hodges referenciado ao final deste
trabalho.
10
Conteúdo de todo o livro de Norman Geisler: “A inerrância da Bíblia”, referenciado na seção própria.
11
Jaimes Boice (1989, p.11) ao prefaciar o livro O alicerce da autoridade bíblica, devidamente referenciado na
seção própria.
12
Solano Portela (1998, p.7) ao prefaciar o livro Sola Scriptura de Paulo Anglada, referenciado na seção própria.
9
fieis. Por isso é fácil entender a preocupação frente ao surgimento de cada nova tradução das
Sagradas Escrituras.
Seminários, igrejas e fieis fazem uso da Bíblia para diversos fins, seja para exegese,
seja na preparação de sermões e estudos congregacionais, seja para o enlevo pessoal durante a
adoração particular. Dessa maneira, a Bíblia Sagrada ocupa papel decisivo na vida e no
crescimento espiritual tanto dos fieis como dos seminários e das igrejas.
1.3 OBJETIVOS
O objeto principal desse trabalho é o de comparar duas traduções da Bíblia – RA e
NTLH –, tentando identificar evidências de que possam ter sido utilizados os princípios de
equivalência formal e dinâmica na realização dessa tarefa.
1.3.1 Objetivo Geral
Identificar quais as diferenças entre a tradução que seguiu o princípio de equivalência
formal e a tradução que levou em conta o princípio de equivalência dinâmica, por meio da
análise comparativa.
1.3.2 Objetivos Específicos
1) Destacar os principais pontos divergentes e estabelecer sua relação com o princípio
adotado por ocasião da tradução.
2) Identificar quais recursos usados na tradução pelo princípio de equivalência
dinâmica foram capazes de construir um texto cuja linguagem parece ser mais simples e
popular, mais próximo ao português “comum” falado pelo “homem da rua”.
2. A BÍBLIA E SUAS TRADUÇÕES
Como se deram as traduções da Bíblia? Quais seus desdobramentos e influências para
a humanidade?
10
A história das traduções da Bíblia não começou com a Reforma Protestante do século
XVI. Traduções mais antigas como a Septuaginta (LXX)13, por exemplo, que é a tradução
antiga mais conhecida do Antigo Testamento foi “[...] traduzida provavelmente na primeira
metade do século III A.C.” (ANGLADA, 1998 p.109). Antes mesmo da Septuaginta já
existiram os Targuns “[...] paráfrases explicativas das Escrituras, feitas em aramaico, dialeto
mais facilmente entendido pelo povo judeu depois do exílio” (ANGLADA, 1998, p.108).
De lá para cá as traduções se sucederam em grande escala. Apresentamos um breve
relato sobre como a Bíblia chegou até aos nossos dias através das suas várias traduções.
2.1 ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DA BÍBLIA
Para situar o leitor que não está familiarizado com a Bíblia Sagrada e,
consequentemente,
com
sua estrutura,
fazem-se necessárias
algumas
informações
preliminares. Em primeiro lugar, o que hoje identificamos como um único livro – a Bíblia, na
verdade, corresponde a um conjunto de sessenta e seis livros14, escritos durante um período de
mil e quinhentos anos e por mais de quarenta autores (EASTMAN, 1995, p.20-21).
Esse conjunto de livros está dividido em Antigo e Novo Testamento15. “A palavra
‘testamento’, quando usada no título das duas divisões da Bíblia Sagrada, quer dizer acordo
ou pacto” (Novo Testamento, 1988, p.v). No caso do Novo Testamento, de onde foi extraído
o corpus do presente trabalho, a palavra “testamento” refere-se ao “[...] novo acordo que
Deus, por meio de Jesus Cristo, fez com o seu povo [...] oferecendo [...] a vida eterna a todos
os que creem em Jesus Cristo como Salvador e Senhor” (Novo Testamento, 1988, p.v).
2.1.1 O Antigo Testamento e suas traduções
O Antigo Testamento é composto por trinta e nove livros distribuídos em quatro
grupos: Pentateuco (5), Livros Históricos (12), Livros Poéticos (5), Profetas Maiores e
13
Para mais detalhes sobre a Septuaginta ler o capítulo 3 do livro Sola Scriptura de Paulo Anglada (1998, p.38),
devidamente referenciado ao final deste trabalho.
14
Este trabalho toma como base a Bíblia utilizada pela igreja evangélica protestante. A Bíblia utilizada pela
igreja católica conta com um volume maior de livros.
15
Essas informações se encontram em todos os exemplares da Bíblia Sagrada.
11
Menores (17). A maioria dos textos foi escrita em hebraico, embora haja algumas porções
escritas em aramaico (ARNOLD e BEYER, 2001, p.5, 27).
Como mencionado anteriormente, as primeiras traduções do Antigo Testamento foram
os Targuns. Para Arnold e Beyer (2001) esses escritos, que datam do início da Era Cristã, não
são considerados confiáveis, uma vez que acrescentam comentários e histórias (ARNOLD e
BEYER, 2001, p.28). Em seguida surgiu a Septuaginta (LXX), outra tradução do Antigo
Testamento para o grego datada de 200 a 300 a.C. Uma equipe de setenta e dois estudiosos
foram os responsáveis por essa tradução realizada na cidade de Alexandria (ARNOLD e
BEYER, 2001, p.28). A Septuaginta tornou-se a tradução mais conhecida do Antigo
Testamento. A partir desta tradução, o texto em grego passa a ser largamente utilizado pelos
judeus helenizados, inclusive sendo citado em várias passagens do Novo Testamento
(ANGLADA, 1988, p.109).
2.1.2 O período intertestamentário
Entre o Antigo e o Novo Testamentos houve o Período Intertestamentário que durou
mais de quatrocentos anos. Durante esse período, o povo judeu testemunhou a queda do
império persa e a ascensão do império grego. A Grécia influenciou grandemente o povo judeu
também pelo fato de a língua grega ter assumido o cenário naquele momento histórico (Bíblia
de Estudos de Genebra, 1999, p.1094). Essa dominação grega foi determinante para que o
Novo Testamento fosse escrito em grego e não nas antigas línguas dos judeus: hebraico e
aramaico.
2.1.3 O Novo Testamento e suas traduções
O Novo Testamento é formado por vinte e sete livros divididos em cinco grupos que
são: Evangelhos (4), Livro Histórico (1), Cartas Paulinas (13), Cartas Gerais (8) e Revelação
(1) (Novo Testamento, 1988, p.v). Durante todo o período em que o Novo Testamento foi
escrito a língua grega era usada largamente, sendo considerada a “língua franca” da época.
Sendo assim, o Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, mais especificamente
utilizando o dialeto koinê, que continuava a ser “preponderante no império romano”
(ANGLADA, 1988, p.109).
12
Algumas traduções do Novo Testamento se destacaram ao longo dos anos. A Vulgata,
traduzida para o latim por Jerônimo no final do século IV, se constituiu em uma das mais
famosas traduções. Além das traduções latinas, as siríacas, cópticas, góticas, armênias,
geórgica, etíope e arábicas também tiveram o seu destaque (ANGLADA, 1998, p.109).
2.1.4 A Bíblia completa e suas traduções
Algumas traduções completas da Bíblia, ou seja, do Antigo e do Novo Testamentos,
ganharam destaque no cenário mundial.
Na Europa, mais precisamente na Alemanha, o reformador Martinho Lutero, o
“artesão da língua alemã” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.57) não se utilizou da
Vulgata para traduzir a Bíblia. Traduziu a Bíblia completa diretamente do grego e do
hebraico. Essa foi a primeira tradução direta das línguas originais para uma língua moderna.
Sua linguagem coloquial era a linguagem “[...] da mãe dentro de casa, das crianças na rua, do
homem comum no mercado” (RENER, 1989, p.131, apud DELISLE e WOODSWORTH,
1998, p.183). Sobre a obra de Lutero afirmam Delisle e Woodsworth (1998, p.183):
O que torna sua Bíblia uma realização linguística tão importante é o
fato de ela ter fixado um padrão comum para a língua alemã. [...] a
Bíblia de Lutero é também muito respeitada como obra literária, um
texto fundamental para a língua literária nascente. Os fatores
históricos, culturais e religiosos especiais que influenciaram essa
tradução contribuíram todos para o surgimento e a aceitação do
alemão moderno, e a realização de Lutero inspirou traduções
similares: para o sueco (1541), o dinamarquês (1550), o islandês
(1584) e o esloveno (1584).
Na Inglaterra, John Wycliffe e seus discípulos traduziram a primeira versão completa
da Bíblia para o inglês, baseada na Vulgata latina. Sua contribuição para aquele vernáculo
constituiu-se na introdução de aproximadamente mil novas palavras de origem latina que
agora fazem parte do léxico inglês (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.44). No entanto,
foi William Tyndale16, em 1525, quem recebeu o título de “patriarca da língua e da literatura
inglesas” pela tradução que fizera da Bíblia para a língua inglesa (idem p.45).
16
Wiliam Tyndale (1494-1536) foi estrangulado e queimado na fogueira em consequência de sua determinação
em verter as Escrituras para o idioma do seu país (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.45, ANGLADA,
1998, p.110).
13
Tyndale foi o primeiro inglês a traduzir a Bíblia diretamente das línguas originais. Seu
propósito ao traduzir a Bíblia era o de “[...] que (a Bíblia) fosse acessível e inteligível por
todas as pessoas, até mesmo ‘pelo rapaz que trabalha com o arado’” (ibidem p.184).
A influência das traduções de Tyndale na Inglaterra continuava a ser percebida em
anos posteriores. Na célebre Versão Autorizada de 1611, que recebeu o nome de King James
Version, cerca de 80% do Novo Testamento da Versão Autorizada corresponde à tradução de
Tyndale (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.185).
2.1.5 As traduções da Bíblia e o desenvolvimento de línguas nacionais
Para possibilitar a tradução da Bíblia, foi necessário que algumas línguas ganhassem
seu próprio alfabeto. É o caso da língua gótica, que só existia na oralidade. O Bispo gótico
Ulfila, fugindo da perseguição que se abatera sobre os cristãos no ano de 348, refugiou-se em
território romano e empenhou-se em criar um alfabeto para a língua gótica para a qual
pudesse traduzir as Escrituras. “Ulfila decidiu traduzir a Bíblia: uma tarefa monumental que o
ocupou durante os quarenta anos em que foi bispo” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998,
p.21). Mesrop Mashtots foi outro tradutor que “[...] deu essa contribuição valiosa à cultura
armênia, criando o alfabeto armênio, entre 392 e 406” (idem p. 23).
“Na Suécia, o surgimento de um vernáculo escrito coincidiu com a cristianização do
país” (DELISLE e WOODSWORTH, 1998, p.37). Na Alemanha, Martinho Lutero colaborou
com a construção da língua alemã e foi “[...] a força promotora da criação de uma língua
literária na Alemanha através da tradução da Bíblia. Além desses, missionários cristãos
colaboraram com a construção da língua gbaia na República dos Camarões” (DELISLE e
WOODSWORTH, 1998, p.38).
2.1.6 As traduções em português
A primeira tradução para o português continha apenas o Novo Testamento. Seu
tradutor foi o pastor reformado português João Ferreira de Almeida, que concluiu a que seria
a décima terceira tradução do Novo Testamento em língua moderna, no ano de 1670
(ANGLADA, 1998, p.110).
14
A Bíblia completa foi traduzida para o português em 1753, composta por três volumes.
Finalmente em 1819, ela foi impressa em volume único na cidade de Londres com a tradução
de João Ferreira de Almeida direto das línguas originais.
Em 1864 foi publicada no Brasil a primeira tradução completa da Bíblia para o
português. Outra tradução, a chamada “Versão Brasileira”, produzida em 1917, contou com a
colaboração de nomes ilustres como Rui Barbosa, José Veríssimo e Heráclito Graça em sua
tradução a partir dos originais17.
Em 1959 surgia a Edição Revista e Atualizada (RA) de João Ferreira de Almeida,
elaborada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) que se tornou “a Bíblia mais usada e
apreciada pelos protestantes brasileiros”. “[...] a tradução de Almeida é a preferida de mais de
60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País18”. Uma nova edição foi lançada em
1993, ensejada por algumas revisões de pontuação, concordância, harmonização de subtítulos,
substituição de palavras em desuso ou que “adquiriram sentido inadequado ou pejorativo”
(BÍBLIA SAGRADA, Revista e Atualizada, 2009).
Além da RA outras traduções foram editadas tanto pela SBB como por outras editoras.
É o caso da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) que, junto com a RA, compõe o
corpus do presente trabalho.
A NTLH foi editada em 2000 e goza de uma linguagem “clara, exata e natural”. A
SBB afirma que ela “adota uma estrutura gramatical e linguagem mais próximas da utilizada
pelo brasileiro” (BÍBLIA SAGRADA, Revista e Atualizada, 2009). A NTLH surgiu como
uma “revisão da Bíblia na Linguagem de Hoje”, no entanto, “recebeu uma revisão tão
profunda que pode ser considerada, realmente, como uma nova tradução das Escrituras
Sagradas”19.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Apesar de a tradução ser uma das atividades mais antigas da humanidade, só a partir
de meados do século XX é que ela começou a ocupar espaço entre os diversos campos da
17
Informação obtida a partir do site da Sociedade Bíblica do Brasil.
<http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=50>. Acesso em: 14 jan. 2014.
18
Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=59>. Acesso em: 14 jan. 2014.
19
Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=63>. Acesso em: 14 jan. 2014.
Disponível
em
15
ciência. A atividade tradutória começa a ser vista como uma disciplina acadêmica e, como tal,
merecedora de estudos envolvendo a teoria e a prática (TORO, 2007). Mais precisamente na
década de 1980 é que os estudos na área de tradução “se consolidam como disciplina
independente, sob a denominação de Estudos da Tradução (Translation Studies)” (AZEREDO
e DANTAS, 2009).
3.1 AS TEORIAS DA TRADUÇÃO
Nesse contexto, a tradução se revela portadora de um caráter polimórfico (TORO,
2007), ou seja, ela, em si, é uma área extensa com várias possibilidades de estudo, não mais
“apenas” a serviço de outras disciplinas.
Como disciplina independente, a Tradução começa a suscitar pesquisas, resultando em
várias teorias no campo dos Estudos da Tradução. Toro (2007) cita algumas como: teorias de
equivalência, teorias funcionalistas, abordagens discursivas, teoria do polissistema, entre
outras.
Dentre estas, daremos destaque às teorias de equivalência por estarem diretamente
ligadas ao propósito do nosso estudo.
3.2 A NOÇÃO DE EQUIVALÊNCIA
Qual o significado do termo “equivalência” no campo da tradução? Bem, a resposta
não é tão simples como parece ou, pelo menos, como gostaríamos. Esse termo “permanece
bastante vago, ainda carecendo de critérios mais claros e definições mais precisas”
(FUJIHARA, 2010, p.17). Teóricos da tradução entendem o termo “equivalência” a partir de
diferentes perspectivas, utilizando-o em suas abordagens de maneira distinta.
Os primeiros a utilizar o termo “equivalência tradutória” foram Vinay e Darbelnet,
Nida e Jakobson (ALBIR, 2007). Para Vinay e Darbelnet, a equivalência é apenas mais um
processo de tradução entre outros. “Nida (1959) utiliza o termo equivalência para definir o
princípio básico da tradução: conseguir o equivalente natural mais próximo em uma
determinada situação” (ALBIR, 2007, p.203 – tradução e grifo nossos). E Jakobson enfatiza
que “a equivalência na diferença é o problema principal da linguagem e a principal
preocupação da linguística” (RODRIGUES, 2000, p.91). Outros tipos de equivalência são
16
defendidos por autores diversos (BASSNETT, 2003, p.57-61). Concentraremo-nos na
proposta de Nida, procurando compreender como suas ideias se refletem no corpus deste
trabalho.
3.3 NIDA E A EQUIVALÊNCIA FORMAL E DINÂMICA
Nida foi pastor batista e tradutor. Formou-se em grego, obteve o título de mestre em
Novo Testamento e Ph.D. em Linguística (BORDINHÃO, 2010). Dedicou-se à tradução da
Bíblia e, nessa atividade, constatou a existência de uma tensão no que diz respeito aos textos
religiosos: se entendesse que cada palavra na Bíblia era sagrada, então teria que traduzir a
Bíblia palavra-por-palavra (WILLIAMS e CHESTERMAN, 2007). Isso comprometeria seu
objetivo, que era o de tornar o texto bíblico acessível ao maior número de pessoas, já que cada
cultura possui sua própria estrutura linguística. “Nida queria colocar a linguística a serviço da
Palavra de Deus; queria produzir uma teoria que estimulasse a transmissão da Boa Nova
enfrentando todos os tipos de barreiras culturais e linguísticas” (BORDINHÃO, 2010, p.77).
Fujihara (2010) diz que Nida “distingue entre dois tipos fundamentais de equivalência
em tradução: a equivalência formal e a equivalência dinâmica, que, segundo o autor, são as
duas orientações básicas que podem ser seguidas por um tradutor” (FUJIHARA, 2010, p.18).
Diz Nida: “A equivalência formal centraliza a atenção na mensagem em si mesma,
tanto na forma quanto no conteúdo” (NIDA, 1964, p.159 – nossa tradução)20. Nida chama a
esse tipo de tradução focada na “mensagem em si”, de “tradução glossária”. Ele afirma que
esse tipo de tradução visa “permitir que o leitor perceba o máximo possível do contexto da
língua fonte” (BASSNETT, 2003, p.55). Ou seja:
Em uma tal tradução está-se interessado em correspondências como
poesia-poesia, sentença-sentença e conceito-conceito. Vista dessa
orientação formal, a preocupação é que a mensagem na língua
receptora deva coincidir tanto quanto possível com os diferentes
elementos na língua fonte. (NIDA, 1964, p. 159 apud FUJIHARA,
2010, p.18).
20
No original: “Formal equivalence focuses attention on the message itself, both form and content.”
17
Na prática, ao adotar o princípio da equivalência formal, um tradutor manteM as
unidades gramaticais (substantivos por substantivos, verbos por verbos), as divisões de
parágrafos, a pontuação e a estrutura das frases sem agrupá-las ou dividi-las. Isso pode
produzir um texto pouco inteligível e provocar muitas inserções do tradutor em notas
explicativas (idem p.19).
Em contraposição a essa ideia, Nida sugere outra prática tradutória: a da equivalência
dinâmica. Essa prática baseia-se no princípio do “efeito equivalente” que busca provocar no
leitor do texto traduzido, “o mesmo efeito que teve o TO (texto original) sobre seu leitor”
(BARBOSA, 1990 p.35), ou seja, “a relação entre o receptor e a mensagem deve ser
substancialmente a mesma que existiu entre os receptores originais e a mensagem”21. (NIDA,
1963, p.159). Para Nida não é necessário sacrificar o sentido da mensagem em prol do seu
conteúdo e da sua forma para se conseguir o “efeito equivalente”. Ele defende que o conteúdo
é preservado através da mudança da forma (NIDA, 1964, apud ALBIR, 2007 p.216).
Os princípios de equivalência formal acompanham as traduções mais antigas e
priorizam a manutenção da forma do texto de partida; já a equivalência dinâmica, presente em
algumas traduções mais modernas, procura manter o sentido do TP ao mesmo tempo em que
prioriza o texto de chegada (TC) (ANGLADA, 1998, P.113). Neste trabalho, veremos como a
forma foi utilizada para mostrar a diferença no resultado, embora a ênfase esteja sobre o
sentido. Trataremos mais sobre o assunto oportunamente.
É de se esperar que seja necessário lidar com “sérios problemas” quando as línguas
envolvidas estão cultural e linguisticamente distantes (NIDA, 1964, p.160), como é o caso da
tradução da Bíblia para o português, que envolve culturas distanciadas cronológica e
geograficamente. Produzir uma tradução “fácil e natural” certamente se constitui em um
desafio ainda maior para o tradutor (NIDA, 1964, p.163).
A partir dessa constatação é que Nida postula a necessidade do principio de tradução
por equivalência dinâmica, embora não seja possível estabelecer com clareza os limites entre
a equivalência formal e a equivalência dinâmica, pois “existem vários graus na tradução por
equivalência dinâmica” (NIDA, 1964, p.159 – nossa tradução).
22
Isso implica dizer que “é
21
No original: “that relationship between receptor and message should be substantially the same as that which
existed between the original receptors and the message”.
22
No original: “[…] there are varying degrees of such dynamic-equivalence translation”.
18
perfeitamente compreensível que existam certas áreas de tensão entre eles” (idem p.171 –
tradução nossa)23.
“Uma tradução que visa a equivalência dinâmica, inevitavelmente, envolve uma série
de ajustes formais”24 (NIDA, 1964, p.170) que dizem respeito a três áreas principais: formas
literárias especiais (special literary forms), expressões semanticamente exocêntricas
(semantically exocentric expressions) e significados
intraorganísmicos (intraorganismic
meanings) (FRANCISCO, 2010)25.
Na categoria de formas literárias especiais está o gênero poesia e as dificuldades na
tradução quanto à rima e a métrica. Por expressões semanticamente exocêntricas entende-se
aquelas expressões que perdem o sentido se forem traduzidas literalmente, ou seja, aquelas
que necessitarão de ajustes para que o receptor possa entendê-las, como é o caso dos
provérbios, fraseologismos e expressões idiomáticas.
Significados intraorganísmicos são
“itens cuja compreensão depende do contexto cultural no qual estão inseridos”
(FRANCISCO, 2010, p.61).
Como o foco deste trabalho está mais diretamente ligado ao princípio de equivalência
dinâmica, tomaremos a tradução feita através do principio de equivalência formal – a Bíblia
RA – apenas como elemento de comparação para que a tradução da Bíblia NTLH – traduzida
pelo principio de equivalência dinâmica – se torne mais evidente26. Assim, o texto da RA não
assume, em nenhum momento, o status de texto original, apenas ocupa a posição de texto
tomado como referência para a comparação entre os dois princípios de tradução.
Muito embora Nida tenha destacado a produção do “efeito equivalente”, ele prioriza,
de fato, a linguagem acessível. Procuraremos identificar como esse princípio postulado por
Nida, em especial, foi reproduzido na tradução da Bíblia NTLH e se, de fato, alcançou o
objetivo de “falar ao homem da rua” (FRANCISCO, 2010, p.170)27.
23
No original: “[…] it is quite understandable that there are certain areas of tension between them”. Sobre esse
assunto, Nida dedica uma subseção do seu livro Towards a Science of Translating (1964, p.171).
24
A equivalência dinâmica ajusta/altera a forma para que haja a manutenção do sentido e, assim, seja possível
produzir um efeito equivalente. A forma é importante, mas não prioridade.
25
Tradução proposta por Francisco (2010 p.61)
26
Embora Nida tenha reformulado, posteriormente, seus postulados sobre equivalências, mantemos a primeira
proposta (de equivalência formal X equivalência dinâmica) por serem estes os princípios que a SBB assumiu
adotar nas duas traduções analisadas no presente trabalho.
27
Nida argumenta que o Novo Testamento foi escrito no grego koinê que era, segundo ele “the language of the
man in the street” embora entenda que não tenha sido escrito primeiramente para esse público e sim para a
congregação (NIDA, 1964, p.170).
19
.
4. METODOLOGIA DA PESQUISA
4.1 CORPUS DA ANÁLISE
O corpus da pesquisa é composto pelos seis primeiros capítulos do evangelho de João
apresentados na seção de anexos. Todos os 284 versículos foram dispostos paralelamente em
duas colunas – uma com os versículos na tradução Revista e Atualizada (RA) e a outra com os
versículos na tradução Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Os versículos foram
devidamente alinhados para facilitar a comparação. O corpus completo encontra-se na seção
de anexos deste trabalho e disponível no site da SBB.
Cada versículo foi examinado individualmente na expectativa de identificar elementos
cuja presença fosse determinante para a constatação de características peculiares ao texto
traduzido. Ou seja, características que se repetem ao longo dos textos, como o uso dos
pronomes de tratamento, por exemplo.
Alguns dos elementos analisados já são objeto de estudos das áreas de Letras e
Linguística. Cabe-nos, como alunas de Tradução, focar em aspectos relacionados a esse
campo específico. Portanto, não nos deteremos, por exemplo, em aspectos morfológicos e
sintáticos. No máximo, daremos alguma indicação de leitura para que o leitor interessado
possa obter mais informação sobre o assunto.
Foi utilizada como ferramenta para análise quantitativa de alguns dados o programa
“Corpus do Português. Esse programa, que está disponível no site oferecido na seção de
referências, é auto explicativo, de fácil manuseio e oferece variáveis que podem atender a
diversos interesses do pesquisados. Para o nosso estudo, pesquisamos por palavras utilizadas
pela RA e pela NTLH – como mostra o Quadro 1 – e pudemos perceber a frequência no uso
de cada uma delas no século XX .
Essa ferramenta possibilitou comparar a ocorrência de algumas palavras e verificar
que no século XX, já havia diminuído seu uso.
20
5. ASPECTOS OBSERVADOS NAS ESCOLHAS TRADUTÓRIAS
Ao concluir a digitalização do corpus, já foi possível perceber uma diferença
relacionada à quantidade de palavras utilizadas pela NTLH em relação a quantidade utilizada
pela RA. Essa diferença será comentada na conclusão do trabalho.
Embora tenhamos consciência de não termos explorado, nem de perto, todas as
possibilidades de estudo oferecidas pelos textos aqui observados, consideramos serem
suficientes os elementos28 que elencamos a seguir.
4.2.1 Alguns recursos utilizados na NTLH
Dentre os recursos utilizados pela NTLH para aproximar o texto bíblico “ao
vocabulário de domínio do brasileiro de cultura média”29, estão os seguintes:
1) Uso de palavras mais recorrentes no português brasileiro (PB) contemporâneo;
2) Mudanças nas classes gramaticais e tempos verbais (verbo, adjetivo, pronome):
a) Ausência do pretérito mais-que-perfeito;
b) Posição do adjetivo em relação ao substantivo;
c) Uso dos pronomes pessoais tu/vós por você/vocês, respectivamente;
d) Uso do pronome oblíquo “lhe”;
3) Diferenças nos termos da oração
a) Posição do sujeito na oração;
b) Elipse do sujeito;
4) Acréscimos
a) Inserção de acréscimos na forma de comentários e de explicações30.
5) Ajustes formais
28
As categorias apresentadas neste trabalho são de nossa autoria.
29
Informação presente no site da SBB no tópico “Princípios de tradução”. Disponível em:
<http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=64>. Acesso em: 24 jan. 2014.
30
Utilizamos as expressões “comentários e explicações” exclusivamente dentro dos limites estabelecidos pelos
conceitos que lhes atribuímos neste trabalho. Essas expressões são de nossa autoria e não seguiram pressupostos
de nenhum teórico da tradução.
21
c) Ajuste nas formas literárias
d) Ajuste dos significados intraorganísmicos
6. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Apresentaremos neste item os resultados de nossas observações, explicitando agora
nossas categorias, apresentadas no item anterior. Tentaremos mostrar as escolhas feitas pela
NTLH ao proceder aos ajustes formais, também já mencionados neste trabalho juntamente
com os acréscimos mencionados no subitem anterior.
1) Uso de palavras mais recorrentes no português brasileiro contemporâneo;
Foi possível perceber que há palavras usadas pela RA que não são mais tão presentes
no vocabulário do brasileiro a partir do século XX. A comprovação veio através de uma
rápida pesquisa utilizando o programa “Corpus do Português”31.
É importante ressaltar que só lançamos mão desse recurso para a verificação de
algumas palavras do Quadro 1. Para essa pesquisa, selecionamos uma amostra contendo
apenas alguns verbos e alguns substantivos. Consideramos o verbo no infinitivo e os
substantivos no singular e no plural.
As palavras analisadas estão em itálico. Algumas delas se fazem acompanhar de um
fragmento maior do texto para facilitar sua compreensão.
No Quadro 1, apresentamos exemplos de diferentes escolhas lexicais que ocorreram na
proporção 1:1, ou seja, uma (1) palavra/termo substituída por apenas uma (1) outra
palavra/termo; duas (2) palavras/termo por outras duas (2) palavras/termos, e assim por
diante.
Referência32
1.10
1.14
1.16
1.38
2.11
Quadro 1 – Palavra por palavra
RA
Qtd
NTLH
O Verbo estava no mundo...
A Palavra estava no mundo...
... graça...
... amor...
... graça...
... bênçãos...
... onde assistes?
... onde o senhor mora?
... manifestou...
209 ... revelou...
Qtd
400
31
Autoria de Mark Davies e Michael Ferreira. Disponível em <http://www.corpusdoportugues.org/x.asp>.
Acesso em: 07 fev. 2014.
32
Na coluna “Referência” encontra-se o número do capítulo seguido pelo número do versículo, conforme
registrado nas Bíblias utilizadas nesta pesquisa.
22
2.15
2.19
3.20
3.21
3.24
4.10
4.28
4.31
4.35
4.40
4.52
5.15
5.35
6.2
6.3
6.8
6.19
6.27
6.61
... azorrague...
... santuário,
... aborrece...
... obras...
... encarcerado
Replicou...
... cântaro
... rogavam,
... ceifa
... permanecesse com eles...
... indagou...
... retirou-se...
... alumiava..
... enfermos.
... assentou-se...
... informou...
... possuídos de temor...
... que subsiste...
... interpelou...
3
274
37
62
18
3
36
98
432
103
85
18
117
126
285
2.366
17
... chicote...
... Templo,
... odeiam...
... ações...
... preso.
... disse:
... pote,
... pediam
... colheita
... ficasse com eles...
... perguntou...
... saiu dali...
... brilhava...
... doentes.
... sentou-se...
... disse:
...com muito medo...
... que dura...
... perguntou:
196
812
55
2.255
10.132
122
1.554
401
4.150
699
2.781
111
1.939
240
10.132
6.872
1.297
Observamos que algumas palavras repetidas na RA não foram substituídas na NTLH
da mesma maneira. A palavra graça no Quadro 1, por exemplo, foi substituída por amor
(1.14) e, depois, por bênçãos (1.16). Além de novo significado, variou quanto ao número, ou
seja, foi para o plural.
Palavras como Verbo (1.10), graça (1.14, 1.16) e obras, nos parecem assumir um
significado especial dentro do ambiente religioso. Se não forem termos, talvez fossem bons
candidatos a termo, uma vez que estão revestidos de significado especial, pelo menos no
âmbito da religiosidade cristã. Entendemos assim pelo fato de que ao aplicarmos essas
palavras ao programa “Corpus do Português”, tivemos como resultado ocorrências que não se
relacionavam ao sentido presente no texto bíblico. Isto é, ao pesquisar “Verbo” nas 200
primeiras ocorrências não encontramos nenhuma que se referisse ao “Verbo” como sendo
Jesus, ou a Palavra. Todas as ocorrências apresentavam “verbo” como classe gramatical. Com
as palavras “graça” e “obras” aconteceu de forma semelhante. Não encontramos “graça”
como “favor imerecido”33, mas sim como nome próprio, ou em expressões como “ficar sem
graça”, “não foi de graça” ou “ela é uma graça”. Quanto à palavra “obras” as 200 primeiras
ocorrências dizem respeito à construção civil ou às artes, isto é, nenhuma delas se refere a
“obras” como “ações” (caráter valorativo: boas obras X obras más).
Não disponibilizamos o número de ocorrências de todas as palavras, pelo fato de, no
corpus, constarem significados bem distintos daqueles pelos quais foram substituídos na
33
Conceito presente nos comentários da Bíblia de Genebra. (Bíblia de Estudos de Genebra, 1999, p.19)
23
NTLH. É o caso de assistes/mora (1.38) em que “assistir” pode ser “morar”, mas também
“estar presente”, “socorrer”; e “mora”, que pode ser uma flexão do verbo morar, mas também
pode estar relacionado a prazo de pagamento; subsiste/dura (6.27) em que “dura” pode
assumir a posição de adjetivo.
Comparando as duas traduções percebemos que nem sempre as escolhas da NTLH
correspondem a proporção em quantidade de itens lexicais aquelas escolhidas pela RA.
Vejamos alguns exemplos:34
Referência
1.5
1.14
1.16
1.47
2.7
2.8
2.11
2.14
2.19
3.33
3.4
3.10
3.12
4.4
4.53
5.3
5.18
5.41
6.15
6.17
6.18
6.27
6.41
6.71
TOTAL
Quadro 2 – Palavra por mais de uma unidade lexical
RA
NTLH
... não prevaleceram contra ela.
... não conseguiu apagá-la.
... Unigênito...
... Filho único...
... primazia...
... mais importante...
... plenitude...
... riquezas do seu amor...
... em quem não há dolo!
... um homem realmente sincero.
... totalmente.
... até a boca.
... mestre-sala.
... dirigente da festa.
... glória,
... natureza divina,
... os cambistas...
... os que trocavam dinheiro para o povo.
... reconstruirei.
... construirei de novo.
... certifica...
... dá prova de...
... ventre materno...
... barriga da sua mãe...
... mestre...
... professor do povo de Israel...
... coisas terrenas,
... coisas deste mundo,
... atravessar...
... passar pela...
... precisamente a hora...
... naquela mesma hora...
... jazia...
... estavam deitados...
... não vos maravilheis...
... não fiquem admirados...
... glória...
... ser elogiado...
... arrebatá-lo...
... levá-lo a força...
... rumo...
... na direção...
... empolar-se...
... levantar as ondas...
... perece...
... se estraga...
Murmuravam,
... começaram a criticar...
Referia-se...
... estava falando de...
28
70
Nesse caso, pudemos observar um aumento de 42 itens lexicais apenas nos exemplos
contidos no Quadro 2. A palavra glória no Quadro 2 aparece na NTLH como natureza divina
(1.14) e depois por ser elogiado (5.41, 44). Temos aqui um exemplo que também contribuiu
para que o texto da NTLH resultasse mais extenso.
34
A contabilização dos itens lexicais não levou em consideração, por exemplo, os verbos reflexivos que
envolvem, naturalmente, em sua estrutura mais de um item ou quaisquer classe gramatical das palavras
envolvidas. O critério para quantificar os itens foi o oferecido pelo programa Word na versão Windows 2007
através da seleção dos elementos escolhidos.
24
Essas escolhas representam um aumento de 250% no número de palavras na NTLH.
Queremos deixar claro que os Quadros 1, 2 e 3 não contem todas as ocorrências, apenas parte
das observações da pesquisa. A diferença no total de itens lexicais será comentada na
conclusão deste trabalho.
Em outros momentos a NTLH se utilizou de sintagmas e não mais entre palavras
isoladas. As escolhas feitas pela NTLH, em sua maioria, envolveram um maior número de
itens lexicais, como exemplificam os versículos 4.33 e 6.16. O Quadro 3 registra o total de 70
itens lexicais usados na RA e de 96 na NTLH, significando um aumento de palavras na NTLH
de aproximadamente 37%, considerando apenas essa amostra apresentada.
Referência
2.17
3.20
3.21
3.25
3.26
3.28
4.6
4.7
4.33
4.34
4.44
4.46
4.47
5.10
5.11
5.14
6.6
6.16
6.27
TOTAL
Quadro 3 – Sintagma por sintagma
RA
NTLH
O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima
O zelo da tua casa me consumirá.
dentro de mim como fogo.
... a fim de não serem arguidas...
... para que ninguém veja...
... sejam manifestas...
... possa ser visto claramente...
... suscitou-se uma contenda...
... tiveram uma discussão...
... estava contigo além do...
... estava com o senhor do outro lado...
... lhe saem ao encontro.
... estão indo atrás dele.
... enviado como seu precursor.
... enviado adiante dele.
... por volta...
Era mais ou menos...
Dá-me de beber.
... me dê um pouco de água.
... ter-lhe-ia trazido...
... já trouxe...
... e realizar a sua obra.
... e terminar o trabalho que ele deu para fazer.
... um profeta não tem honras...
... um profeta não é respeitado...
... oficial do rei...
... alto funcionário público...
... lhe rogou...
... foi pedir a ele...
... e não te é lícito...
... e a nossa lei não permite que você...
... toma o teu leito...
... pegue a sua cama...
... não te suceda...
... não aconteça com você...
... para o experimentar;
... para ver qual seria a resposta de Felipe.
Ao descambar o dia...
De tardinha...
... o confirmou com o seu selo.
... deu provas de que ele tem autoridade.
70
96
2) Mudanças nas classes gramaticais (verbo, adjetivo, pronome):
a) Ausência do pretérito mais-que-perfeito;
Referência
4.6
4.10
4.39
4.45
4.46
4.47
Quadro 4 – Uso do mais-que-perfeito
RA
NTLH
... assentara-se...
... sentou-se...
... conheceras...
... soubesse...
... anunciara:
... tinha dito:
... fizera...
... havia feito...
... fizera...
... havia transformado...
... viera...
... tinha vindo...
25
4.52
4.53
5.10
5.13
6.14
6.17
6.22
6.41
... sentira melhor...
... dissera:
... ao que fora curado:
Mas o que fora curado...
... vendo, pois, os homens o
sinal que Jesus fizera,
... viera...
... ficara...
...embarcara...
... dissera:
... havia começado a melhorar...
... tinha dito:
... a ele:
Mas ele...
... os que viram esse milagre de
Jesus...
... tinha vindo...
... estava...
... tinha embarcado...
... tinha dito:
Os verbos no pretérito mais-que-perfeito do indicativo só são encontrados na RA. Não
existe nenhuma ocorrência na NTLH. Das 15 (quinze) ocorrências deste tempo verbal na RA,
9 (nove) se apresentam na NTLH como mais-que-perfeito composto, fazendo uso dos verbos
auxiliares “ter” (4.39, 4.47, 4.53, 6.17, 6.22, 6.41) e “haver” (4.45, 4.46, 4.53) no pretérito
imperfeito, seguido pelo verbo principal no particípio passado, e 6 (seis) assumiram outras
formas (Quadro 4). Embora saibamos que tempos verbais diferentes podem carregar sentidos
diferentes, quando determinam mais ou menos distancia cronológica dos fatos, não
dedicaremos espaço para este assunto no momento.
b) Posição do adjetivo em relação ao substantivo;
Ainda quanto à ordem dos constituintes, destacamos a posição do adjetivo em relação
ao substantivo, adotada pela NTLH. Nos três casos registrados no Quadro 5, percebemos que
os adjetivos precedem os substantivos no texto da RA, enquanto que na NTLH o adjetivo se
posiciona após o substantivo, ou seja, a RA utiliza mais a anteposição do adjetivo e a NTLH
utiliza mais a posposição do adjetivo em relação ao substantivo.
Referência
1.9
6.22
6.55
Quadro 5 – Posição do adjetivo em relação ao substantivo;
RA
NTLH
... a verdadeira luz,
... a luz verdadeira...
... ali não havia senão um pequeno barco... ... ali só havia um barco pequeno.
Pois a minha carne é verdadeira comida,
Pois a minha carne é a comida verdadeira,
c) Uso dos pronomes pessoais tu/vós por você/vocês, respectivamente;
Os pronomes pessoais “tu” e “vós” (mesmo como sujeito oculto) e as conjugações dos
verbos na 2ª pessoa do singular e do plural, presentes na RA, não aparecem na NTLH. Os
pronomes de tratamento aqui utilizados são “você” e “vocês” e suas conjugações,
26
respectivamente. No versículo 1.21 e no versículo 5.44 visualizamos as diferentes escolhas
adotadas pelas duas traduções. Como a estrutura se repete em todo o corpus citaremos apenas
dois versículos que exemplificam bem essas escolhas.
Referência
1.21
5.44
Quadro 6 – Uso dos pronomes pessoais
RA
NTLH
Quem (?) és, pois? És tu Elias?
— Então, quem é você? Você é Elias?
Como podeis crer, vós os que aceitais
Como é que vocês podem crer, se aceitam
glória uns dos outros e, contudo, não
ser elogiados pelos outros e não tentam
procurais a glória que vem do Deus
conseguir os elogios que somente o único
único?
Deus pode dar?
d) Uso do pronome oblíquo “lhe/lhes”;
Também observamos a escassez do uso do pronome “lhe/lhes” em todo o texto da
NTLH. O pronome aparece apenas 5 vezes enquanto na RA são registradas 82 ocorrências.
Ou seja, “lhe/lhes” está presente em cerca de 28% dos versículos da RA. Mais curioso ainda é
que dessas 82 ocorrências, 44 são ênclises e não há nenhuma ênclise envolvendo esse
pronome na NTLH, como mostra o Quadro abaixo.
Quadro 7 – Ocorrências do lhe/lhes
Ocorrências
RA
NTLH
Total
82
5
Ênclises
44
0
Do total de 82 ocorrências 54 não foram substituídas e 28 foram substituídas por 14
formas lexicais diferentes, como mostra o Quadro 8.
Quadro 8 – Substituições do lhe/lhes
Lhe/Lhes
Substituição
54
(-)
7 ... a ele/s
5 ... lhe
4 ... a João
2 ... ele
1 ... a estes
1 ... dele
1 ... Jesus
1 ... empregados
1 ... com ele
1 ... a mulher
1 ... ao funcionário
1 ... ao Filho
1 ... cada pessoa
1 ... para eles
Total
82
27
Nas 54 ocorrências de não substituições foi utilizado o recurso da omissão:
Referência
1.26
1.50
4.10
Quadro 9 – Omissão do lhe/lhes
RA
NTLH
Respondeu-lhes João:
João respondeu:
Ao que Jesus lhe respondeu:
Jesus respondeu:
Replicou-lhe Jesus:
Então Jesus disse:
3) Diferenças nos termos da oração
a) Posição do sujeito na oração;
A posição ocupada pelos elementos “sujeito” e “verbo” foi visivelmente modificada
na NTLH. Passou da ordem Verbo-Sujeito-Objeto (VSO) na RA para a ordem Sujeito-VerboObjeto (SVO) em praticamente todo o texto da NTLH. Essa constatação vem a corroborar
com a afirmação de Pezatti e Camacho (1997) ao considerarem que “parece inquestionável
que VSO é, de uma perspectiva diacrônica, a ordem primitiva, da qual SVO se derivou [...]”35.
De fato, é possível perceber que a ordem SVO é mais comum no uso do português falado.
A diferença de ocorrências da ordem VSO entre a RA e a NTLH é notória. Enquanto a
RA faz uso dessa estrutura 77 vezes, a NTLH usa apenas 8 vezes. Dessas 8 ocorrências, 7 são
incisos36, posicionados logo após o travessão. Portanto, há somente 1 ocorrência da ordem
VSO no texto da NTLH como uma estrutura natural. No Quadro 10 apresentaremos um
exemplo de mudança da VSO para a SVO, um exemplo de inciso e a única ocorrência da
ordem VSO na NTLH, respectivamente.
Referência
1.29
4.17
4.27
Quadro 10 – Alterações na ordem verbo-sujeito
RA
NTLH
No dia seguinte, viu João a Jesus, No dia seguinte, João viu Jesus
V S
O
S
V O
ao que lhe respondeu a mulher:
— Eu não tenho marido! —
Não tenho marido.
respondeu a mulher.
Naquele momento chegaram os
Neste ponto, chegaram os seus
seus discípulos e ficaram
discípulos e se admiraram...
admirados,
Tipo de ocorrência
VSO/SVO
Inciso
Única ocorrência
de VS
35
“Argumentaremos, ainda, que, de uma perspectiva diacrônica, o PB (Português do Brasil – destaque nosso) se
enquadra primitivamente num tipo VSO, como atesta a perenidade da construção VS, [...] apresentando, no
entanto, uma forte tendência evolutiva para SVO (PEZATTI e CAMACHO, 1997).
36
Inciso e discurso formam as duas partes do diálogo. De acordo com Kohan (2011), o discurso “são as palavras
diretas do personagem” e o inciso é a intervenção do narrador, ou seja, “são esclarecimentos feitos pelo
narrador”.
28
b) Elipse do sujeito;
Quanto ao sujeito, percebemos que, embora pareça contraditório, há uma larga
utilização do sujeito oculto na RA, ou seja, o sujeito oculto “aparece” várias vezes naquele
texto em oposição ao texto da NTLH, que adota esse recurso esporadicamente.
Nesses casos de omissão do sujeito, fica a cargo do verbo flexionado a tarefa de
identificá-lo.
A RA traz 106 ocorrências de sujeitos ocultos a mais que a NTLH, na qual os sujeitos
são indicados apenas pela flexão verbal. No texto da NTLH, essas 106 ocorrências trazem
seus sujeitos explícitos, precedendo ao verbo, o que parece favorecer seu reconhecimento
imediato, principalmente quando não há apenas um único sujeito na frase, na oração ou no
parágrafo.
Vejamos no Quadro 11, os versículos 4.17 e 4.27 em que os sujeitos ocultos estão
representados por (?) na coluna referente a RA e aparecem em itálico na coluna referente a
NTLH.
Referência
4.17
4.27
Quadro 11 – Elipse do sujeito
RA
NTLH
ao que lhe respondeu a
— Eu não tenho marido! —
mulher: (?) Não tenho
respondeu a mulher. Então Jesus
marido. Replicou-lhe Jesus:
disse: — Você está certa ao dizer que
(?) Bem disseste, não tenho
não tem marido,
marido;
Neste ponto, chegaram os
Naquele momento chegaram os seus
seus discípulos e se
discípulos e ficaram admirados, pois
admiraram de que (?)
ele estava conversando com uma
estivesse falando com uma
mulher. Mas nenhum deles perguntou
mulher; todavia, nenhum lhe
à mulher o que ela queria. E também
disse: Que (?) perguntas?
não perguntaram a Jesus por que
Ou: Por que (?) falas com
motivo ele estava falando com ela.
ela?
No versículo 4.17 a omissão do sujeito não representa maiores dificuldades pelo fato
do sujeito poder ser resgatado através da flexão do verbo.
Já no versículo 4.27, surge um pequeno problema. O narrador na RA não deixa claro a
quem os discípulos se dirigiram na primeira pergunta. Na tradução da NTLH, porém, fica
evidente que a primeira pergunta foi à mulher e a segunda a Jesus.
29
A NTLH, embora em menor número, também traz versículos que, se lidos
isoladamente, não deixam claro quem é o sujeito. No exemplo abaixo vemos que
precisaríamos expandir o texto para resgatar o sujeito.
Referência
1.36
Quadro 12 – Sujeito oculto na NTLH
RA
NTLH
e, vendo Jesus passar, disse: Quando viu Jesus passar, disse: — Aí
Eis o Cordeiro de Deus!
está o Cordeiro de Deus!
O versículo 1.36 nas duas traduções não deixa claro quem “viu e disse”. É necessário
voltar ao versículo 1.35 para identificar o sujeito de quem o narrador está falando (João).
4) Acréscimos
a) Inserção de acréscimos na forma de comentários e de explicações.
Chamamos de acréscimos os dados adicionais ausentes no texto da RA. Ao citar
algumas localidades onde a RA apresenta apenas o nome do lugar, a NTLH acrescenta
informações identificando tratar-se de cidade, região, povoado, etc. como registrado no
versículo 1.28, por exemplo (ver Quadro 13). Outro exemplo de acréscimo pode ser
visualizado no versículo 2.6 (cf. Quadro 13), que fala da transformação da água em vinho. A
RA registra apenas que: “Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as
purificações, [...]”; já a NTLH acrescenta algumas informações: “[...] Os judeus usavam a
água que guardavam nesses potes nas suas cerimônias de purificação (grifo nosso).” Tanto “a
água que guardavam nesses potes” como “cerimônias” se enquadram no que chamamos de
acréscimos.
Os acréscimos são facilmente encontrados por todo o texto da NTLH. Escolhemos
alguns para apresentar no Quadro 13 que, entendemos, exemplificam como a NTLH utilizou
as informações adicionais para alcançar o seu objetivo de facilitar a compreensão do leitor
brasileiro. Os acréscimos estão em itálico no Quadro 13.
Quadro 13 – Acréscimos
Referência
1.21
1.28
1.42
2.6
RA
És tu o profeta?
Estas coisas se passaram em
Betânia, do outro lado do Jordão,
... tu serás chamado Cefas (que quer
dizer Pedro).
Estavam ali seis talhas de pedra,
que os judeus usavam para as
purificações,...
NTLH
Você é o Profeta que estamos esperando?
Isso aconteceu no povoado de Betânia, no
lado leste do rio Jordão,
... o seu nome será Cefas. (“Cefas” é o
mesmo que “Pedro” e quer dizer “pedra”.)
Ali perto estavam seis potes de pedra; [...]
Os judeus usavam a água que guardavam
nesses potes nas suas cerimônias de
purificação.
30
3.14
E do modo por que Moisés
levantou a serpente no deserto,
5.30
Eu nada posso fazer de mim
mesmo;
... sei, entretanto, que não tendes em
vós o amor de Deus.
Trabalhai, não pela comida que
perece, mas pela que subsiste para a
vida eterna, a qual o Filho do
Homem vos dará;
O espírito é o que vivifica;
5.42
6.27
6.63
— Assim como Moisés, no deserto, levantou
a cobra de bronze numa estaca,
Jesus continuou a falar a eles. Ele disse: —
Eu não posso fazer nada por minha própria
conta,
Quanto a vocês, eu os conheço e sei que não
amam a Deus com sinceridade.
Não trabalhem a fim de conseguir a comida
que se estraga, mas a fim de conseguir a
comida que dura para a vida eterna. O Filho
do Homem dará essa comida a vocês...
O Espírito de Deus é quem dá a vida,
5) Ajustes formais
a) Ajuste nas formas literárias especiais
Foi possível perceber também que houve pelo menos um (1) ajuste na forma literária
presente na NTLH: a inserção dos diálogos, de acordo com os moldes do português brasileiro,
com o uso do travessão e do inciso, durante todo o texto, de modo a aproximar o texto de seu
leitor. Como defendido por Nida, para que seja possível produzir o “efeito equivalente” é
necessário fazer alguns ajustes na forma, os chamados “ajustes formais”. Um deles, o “ajuste
nas formas literárias especiais”, pode ser visualizado em um exemplo no Quadro 14 abaixo:
Referência
1.21
Quadro 14 – Ajuste das formas literárias especiais
RA
NTLH
Então, lhe perguntaram:
Eles tornaram a perguntar:
Quem és, pois? És tu Elias?
— Então, quem é você? Você é Elias?
Ele disse: Não sou. És tu o
— Não, eu não sou! — respondeu João.
profeta? Respondeu: Não.
— Você é o Profeta que estamos esperando?
— Não! — respondeu ele.
b) Ajuste dos significados intraorganísmicos
Outro
tipo
de “ajustes
formais” são
os
que envolvem
os
significados
intraorganísmicos. Esses ajustes que se explicam dentro de um determinado contexto cultural
necessitam de adaptações para produzir o “efeito equivalente”. Identificamos algumas dessas
adaptações feitas com base na diferença cultural.
Percebemos que nos aspectos ligados ao contexto cultural, os ajustes aconteceram,
especialmente, de duas formas: como uso de expressões mais usuais e através da adequação
das unidades de medida utilizadas naquele momento histórico-geográfico.
No Quadro 15 estão dispostos alguns dos ajustes adotados pela NTLH.
Quadro 15 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo expressões.
31
Referência
1.14
3.6
RA
E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do
unigênito do Pai.
O que é nascido da carne é
carne; e o que é nascido do
Espírito é espírito.
NTLH
A Palavra se tornou um ser humano e morou
entre nós, cheia de amor e de verdade. E nós
vimos a revelação da sua natureza divina,
natureza que ele recebeu como Filho único do
Pai.
Quem nasce de pais humanos é um ser de
natureza humana; quem nasce do Espírito é um
ser de natureza espiritual.
Como poderíamos entender “E o Verbo se fez carne” (1.14)? Em primeiro lugar,
precisamos compreender que “Verbo” aqui, não significa uma classe gramatical. É uma
escolha tradutória para a palavra grega logos (λόγος) que pode significar também “Palavra”.
No momento em que João escreveu seu evangelho, havia uma grande influência da filosofia
grega (como mencionamos no subitem 2.1.2). O comentário desse versículo na Bíblia de
Genebra afirma que “Na filosofia grega, o Logos era a ‘razão’ ou a ‘lógica’ como força
abstrata que trazia ordem e harmonia ao universo” e que João une essas qualidades na “Pessoa
de Cristo”. “Para alguns contemporâneos de João, o espírito e o divino eram totalmente
opostos à matéria e à carne” (BÍBLIA DE ESTUDOS DE GENEBRA, 1999, p.1228).
Portanto, esses conceitos faziam parte do cotidiano de João e dos seus leitores. A
NTLH traz essa ideia ajustada ao leitor brasileiro, usando palavras que lhes são mais
familiares (verbo=palavra, carne=ser humano, habitou=morou, unigênito=Filho único) sem,
contudo, deixar de manter essa relação dual entre o divino e o humano do texto da RA.
A NTLH também apresenta “Palavra” como substantivo próprio, da mesma forma que
a RA apresenta “Verbo”. Entretanto, de forma semelhante, o versículo 3.6 parece ter sofrido
mais ajustes para alcançar o mesmo objetivo. A palavra “carne” da RA é apresentada na
NTLH por “pais humanos” e “natureza humana”, facilitando a compreensão do leitor
brasileiro.
As unidades de medida também foram apresentadas de forma diferente. O Quadro 16
apresenta as ocorrências no corpus em que tais ajustes aconteceram. Foram adaptadas hora
(da judaica para a brasileira), capacidade de medida (de metreta para litro) e unidade
monetária (de denários para moedas de prata – talvez por não terem valor monetário
correspondente em moeda brasileira). Essas escolhas, novamente, mostram a tentativa da
NTLH de aproximação ao leitor brasileiro ao adaptar tais unidades de medida ao sistema de
medidas brasileiro.
32
Quadro 16 – Ajuste dos significados intraorganísmicos envolvendo unidades de medida
Referência
RA
NTLH
1.39
... Mais ou menos a hora décima.
... mais ou menos as quatro horas da tarde.
2.6
... duas ou três metretas.
... oitenta e cento e vinte litros...
4.6
... hora sexta.
... meio-dia...
4.52
... hora sétima...
... a uma da tarde...
6.7
... duzentos denários...
... duzentas moedas de prata.
33
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos cientes de que, certamente, esta pesquisa não esgota as possibilidades de
análise dos elementos presentes no corpus. Há ainda muitas outras possibilidades que
poderiam ser examinadas de acordo com a proposta inicial deste trabalho. No entanto, diante
do amplo leque de possibilidades de análise, as quais sempre podem ser ainda mais
aprofundadas e da limitação de tempo que nos restringe, acreditamos que os exemplos aqui
apresentados já permitem apontar para as diferentes escolhas tradutórias que buscamos
evidenciar.
Durante o processo de análise dos textos da RA e da NTLH foi prazeroso verificar, na
prática, a utilização de vários pressupostos teóricos ensinados durante o curso de Bacharelado
em Tradução. As disciplinas de Teorias da Tradução forneceram informações sobre diversos
princípios que envolvem a atividade tradutória, capazes de nortear os caminhos pelos quais o
tradutor seguirá. Um deles, o princípio da equivalência dinâmica de Nida (1964) analisado
neste trabalho, se nos revelou bastante atrativo. Foram-nos apresentadas dicotomias clássicas
que tem acompanhado a história da tradução. Entre elas estavam os conceitos de fidelidade X
infidelidade, domesticação X estrangeirização, tradução literal X tradução livre, forma X
conteúdo, etc.
De fato, sempre que nos deparávamos com a prática de tradução como atividade
acadêmica ou como trabalho extraclasse, esses conceitos ressurgiam requerendo
posicionamento da nossa parte.
De certa forma, os princípios de equivalência formal e de equivalência dinâmica como
postulados por Nida reúnem esses conceitos, entre outros, nos levando a refletir sobre nossas
escolhas. Se o foco é o leitor e não a mensagem em si, a quem/ao que devemos ser fieis? Se
queremos facilitar para nosso leitor, devemos aproximá-lo da cultura do TP ou aproximar o
TP a sua cultura? A tradução deve ser palavra por palavra ou temos a liberdade de fazer
ajustes à cultura de chegada? Conservamos o conteúdo através da manutenção da forma do
TP ou abrimos mão da forma para produzirmos no nosso leitor um “efeito equivalente” ao
produzido no leitor do TP?
Essas e outras questões amplamente discutidas em sala de aula fomentaram nosso
interesse e curiosidade sobre os efeitos dessas escolhas, sobre os resultados perceptíveis no
texto traduzido e sobre o importante papel social do tradutor.
34
Não bastassem as informações de cunho teórico, as disciplinas de prática de tradução
nos possibilitaram conhecer recursos tecnológicos diversos. Entre eles, o recurso dos corpora
eletrônicos que utilizamos neste trabalho, dos dicionários online e dos sites de busca onde
pudemos realizar as tão necessárias pesquisas que envolvem qualquer atividade tradutória.
Destacamos o uso de corpora eletrônicos que nos possibilitou a visualização do uso real da
língua em diferentes momentos históricos, sendo de grande utilidade para este trabalho.
Para a realização desta pesquisa lançamos mão de todo arcabouço teórico-prático de
que tivemos acesso durante o curso e entendemos que sem tal conhecimento não nos seria
possível realizar esta tarefa. Fazer um estudo comparado entre duas traduções, analisando
como se materializaram as escolhas tradutórias a partir dos princípios de tradução que
adotaram foi, sem dúvida, uma aventura que contou com a participação indireta de teóricos,
de professores através das disciplinas que ministraram e de colegas, no compartilhar das
descobertas e das experiências dentro e fora da sala de aula.
O estudo comparado entre duas traduções da Bíblia para o português do Brasil que
utilizaram princípios tradutórios distintos foi, inegavelmente, resultado do acúmulo de
conhecimento teórico-prático construído ao longo do curso.
Como vimos, o objeto do nosso estudo foi uma vertente tradutória baseada no
princípio da equivalência dinâmica de Nida identificada no texto da tradução da NTLH. É
interessante notar que o princípio defendido por Nida se aplicava a tradução da Bíblia de onde
retiramos o corpus da nossa pesquisa.
Entendemos que uma pesquisa em que o corpus fosse composto por toda a Bíblia,
seria uma pesquisa mais precisa. No entanto, embora o corpus utilizado neste trabalho
represente apenas aproximadamente 3,5% do total de versículos do Novo Testamento37, é
possível antecipar que os recursos aqui elencados e analisados deverão estar presentes em
toda a Bíblia. Esses recursos foram capazes de conferir ao texto da NTLH um estilo mais
moderno e um “tom” mais usual. Parece-nos, portanto, que o objetivo principal da comissão
de tradução da NTLH, de empregar uma “linguagem simples”, foi alcançado.
A escolha dos pronomes “você/vocês” e não mais “tu/vós”, respectivamente, o não uso
do pretérito mais que perfeito simples, a ordem SVO dos constituintes da frase, os acréscimos
37
Segundo o site da SBB, o Novo Testamento nas duas traduções pesquisadas aqui, contem 7957 versículos.
Disponível em <http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=69>. Acesso em: 24 jan. 2014.
35
e outros elementos, foram capazes de contribuir na elaboração do texto da NTLH. Alem disso,
é possível perceber com clareza a necessidade dos “ajustes formais” postulados por Nida que
ajudou a conferir um caráter mais dinâmico ao texto da NTLH.
Percebemos, também, que o texto da NTLH utilizou um volume maior de palavras,
resultando em um texto mais extenso. Se considerarmos apenas o corpus aqui pesquisado é
possível verificar um acréscimo de aproximadamente 12% de palavras em relação ao texto da
RA, ou seja, na RA registramos um volume de 5.241 palavras e na NTLH 5.858, sendo o
acréscimo de 617 palavras.
Percebemos que a evolução da língua pode ser evidenciada através de mudanças no
nível da sintaxe, como também em um nível mais amplo, que envolve estruturas
semanticamente mais complexas. Na verdade, percebemos uma combinação de todos esses
fatores que, juntos, apresentam um texto que pode ser lido e compreendido com um grau
menor de dificuldade.
Entendemos que os recursos utilizados na tradução da NTLH parecem seguir o
princípio da equivalência dinâmica identificados neste trabalho e que é possível lançar mão
deles para alcançar o mesmo objetivo da comissão de tradução da NTLH: tornar o texto
acessível a um maior número de pessoas.
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36
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Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. Tradução de Vivina de Campos Figueiredo.
BÍBLIA DE ESTUDOS DE GENEBRA. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 1728p.
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Ferreira de Almeida. 2. ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. 1664p.
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38
WILLIAMS, Jenny: CHESTERMAN, Andrew. The map: a beginner’s guide to doing
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39
ANEXOS
ANEXO 1 - Corpus de Análise
Evangelho de João – Capítulos 1 ao 6
1
1.1
2
1.2
3
1.3
4
1.4
5
1.5
6
1.6
7
1.7
8
1.8
9
1.9
10
1.10
11
1.11
12
1.12
13
1.13
RA
No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus.
NTLH
No começo aquele que é a Palavra já
existia. Ele estava com Deus e era
Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Desde o princípio, a Palavra estava
com Deus.
Todas as coisas foram feitas por
Por meio da Palavra, Deus fez todas as
intermédio dele, e, sem ele, nada do
coisas, e nada do que existe foi feito
que foi feito se fez.
sem ela.
A vida estava nele e a vida era a luz
A Palavra era a fonte da vida, e essa
vida trouxe a luz para todas as
dos homens.
pessoas.
A luz resplandece nas trevas, e as
A luz brilha na escuridão, e a
trevas não prevaleceram contra ela.
escuridão não conseguiu apagá-la.
Houve um homem enviado por Deus
Houve um homem chamado João, que
cujo nome era João.
foi enviado por Deus
Este veio como testemunha para que
para falar a respeito da luz. Ele veio
testificasse a respeito da luz, a fim de
para que por meio dele todos
pudessem ouvir a mensagem e crer
todos virem a crer por intermédio dele.
nela.
Ele não era a luz, mas veio para que
João não era a luz, mas veio para falar
testificasse da luz,
a respeito da luz,
a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao a luz verdadeira que veio ao mundo e
mundo, ilumina a todo homem.
ilumina todas as pessoas.
O Verbo estava no mundo, o mundo
A Palavra estava no mundo, e por
foi feito por intermédio dele, mas o
meio dela Deus fez o mundo, mas o
mundo não o conheceu.
mundo não a conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não
Aquele que é a Palavra veio para o
seu próprio país, mas o seu povo não o
o receberam.
recebeu.
Mas, a todos quantos o receberam,
Porém alguns creram nele e o
deu-lhes o poder de serem feitos filhos receberam, e a estes ele deu o direito
de Deus, a saber, aos que crêem no seu
de se tornarem filhos de Deus.
nome;
os quais não nasceram do sangue, nem
Eles não se tornaram filhos de Deus
da vontade da carne, nem da vontade
pelos meios naturais, isto é, não
nasceram como nascem os filhos de
do homem, mas de Deus.
40
14
1.14
E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade, e
vimos a sua glória, glória como do
unigênito do Pai.
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1.15
16
1.16
João testemunha a respeito dele e
exclama: Este é o de quem eu disse: o
que vem depois de mim tem, contudo,
a primazia, porquanto já existia antes
de mim.
Porque todos nós temos recebido da
sua plenitude e graça sobre graça.
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1.22
Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem
és, para que demos resposta àqueles
que nos enviaram; que dizes a respeito
de ti mesmo?
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1.24
25
1.25
Então, ele respondeu: Eu sou a voz do
que clama no deserto: Endireitai o
caminho do Senhor, como disse o
profeta Isaías.
Ora, os que haviam sido enviados
eram de entre os fariseus.
E perguntaram-lhe: Então, por que
Porque a lei foi dada por intermédio de
Moisés; a graça e a verdade vieram
por meio de Jesus Cristo.
Ninguém jamais viu a Deus; o Deus
unigênito, que está no seio do Pai, é
quem o revelou.
Este foi o testemunho de João, quando
os judeus lhe enviaram de Jerusalém
sacerdotes e levitas para lhe
perguntarem: Quem és tu?
Ele confessou e não negou; confessou:
Eu não sou o Cristo.
Então, lhe perguntaram: Quem és,
pois? És tu Elias? Ele disse: Não sou.
És tu o profeta? Respondeu: Não.
um pai humano; o próprio Deus é
quem foi o Pai deles.
A Palavra se tornou um ser humano e
morou entre nós, cheia de amor e de
verdade. E nós vimos a revelação da
sua natureza divina, natureza que ele
recebeu como Filho único do Pai.
João disse o seguinte a respeito de
Jesus: — Este é aquele de quem eu
disse: “Ele vem depois de mim, mas é
mais importante do que eu, pois antes
de eu nascer ele já existia.”
Porque todos nós temos sido
abençoados com as riquezas do seu
amor, com bênçãos e mais bênçãos.
A lei foi dada por meio de Moisés,
mas o amor e a verdade vieram por
meio de Jesus Cristo.
Ninguém nunca viu Deus. Somente o
Filho único, que é Deus e está ao lado
do Pai, foi quem nos mostrou quem é
Deus.
Os líderes judeus enviaram de
Jerusalém alguns sacerdotes e levitas
para perguntarem a João quem ele era.
João afirmou claramente: — Eu não
sou o Messias.
Eles tornaram a perguntar: — Então,
quem é você? Você é Elias? — Não,
eu não sou! — respondeu João. —
Você é o Profeta que estamos
esperando? — Não! — respondeu ele.
Aí eles disseram a João: — Diga quem
é você para podermos levar uma
resposta aos que nos enviaram. O que
é que você diz a respeito de você
mesmo?
João respondeu, citando o profeta
Isaías: — “Eu sou aquele que grita
assim no deserto: preparem o caminho
para o Senhor passar.”
Os que foram enviados eram do grupo
dos fariseus;
eles perguntaram a João: — Se você
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batizas, se não és o Cristo, nem Elias,
nem o profeta?
26
1.26
Respondeu-lhes João: Eu batizo com
água; mas, no meio de vós, está quem
vós não conheceis,
o qual vem após mim, do qual não sou
digno de desatar-lhe as correias das
sandálias.
Estas coisas se passaram em Betânia,
do outro lado do Jordão, onde João
estava batizando.
No dia seguinte, viu João a Jesus, que
vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo!
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1.27
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1.30
É este a favor de quem eu disse: após
mim vem um varão que tem a
primazia, porque já existia antes de
mim.
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1.38
Eu mesmo não o conhecia, mas, a fim
de que ele fosse manifestado a Israel,
vim, por isso, batizando com água.
E João testemunhou, dizendo: Vi o
Espírito descer do céu como pomba e
pousar sobre ele.
Eu não o conhecia; aquele, porém, que
me enviou a batizar com água me
disse: Aquele sobre quem vires descer
e pousar o Espírito, esse é o que batiza
com o Espírito Santo.
Pois eu, de fato, vi e tenho testificado
que ele é o Filho de Deus.
No dia seguinte, estava João outra vez
na companhia de dois dos seus
discípulos
e, vendo Jesus passar, disse: Eis o
Cordeiro de Deus!
Os dois discípulos, ouvindo-o dizer
isto, seguiram Jesus.
E Jesus, voltando-se e vendo que o
seguiam, disse-lhes: Que buscais?
Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer
Mestre), onde assistes?
não é o Messias, nem Elias, nem o
Profeta que estamos esperando, por
que é que você batiza?
João respondeu: — Eu batizo com
água, mas no meio de vocês está
alguém que vocês não conhecem.
Ele vem depois de mim, mas eu não
mereço a honra de desamarrar as
correias das sandálias dele.
Isso aconteceu no povoado de Betânia,
no lado leste do rio Jordão, onde João
estava batizando.
No dia seguinte, João viu Jesus vindo
na direção dele e disse: — Aí está o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo!
Eu estava falando a respeito dele
quando disse: “Depois de mim vem
um homem que é mais importante do
que eu, pois antes de eu nascer ele já
existia.”
Eu mesmo não sabia quem ele era,
mas vim, batizando com água para que
o povo de Israel saiba quem ele é.
João continuou: — Eu vi o Espírito
descer do céu como uma pomba e
parar sobre ele.
Eu não sabia quem ele era, mas Deus,
que me mandou batizar com água, me
disse: “Você vai ver o Espírito descer
e parar sobre um homem. Esse é quem
batiza com o Espírito Santo.”
E eu vi isso e por esse motivo tenho
declarado que ele é o Filho de Deus.
No dia seguinte, João estava outra vez
ali com dois dos seus discípulos.
Quando viu Jesus passar, disse: — Aí
está o Cordeiro de Deus!
Quando os dois discípulos de João
ouviram isso, saíram seguindo Jesus.
Então Jesus olhou para trás, viu que
eles o seguiam e perguntou: — O que
é que vocês estão procurando? Eles
perguntaram: — Rabi, onde é que o
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senhor mora? (“Rabi” quer dizer
“mestre”.)
Respondeu-lhes: Vinde e vede. Foram, — Venham ver! — disse Jesus. Então
pois, e viram onde Jesus estava
eles foram, viram onde Jesus estava
morando; e ficaram com ele aquele
morando e ficaram com ele o resto
dia, sendo mais ou menos a hora
daquele dia. Isso aconteceu mais ou
décima.
menos às quatro horas da tarde.
Era André, o irmão de Simão Pedro,
André, irmão de Simão Pedro, era um
um dos dois que tinham ouvido o
dos dois homens que tinham ouvido
João falar a respeito de Jesus e por
testemunho de João e seguido Jesus.
isso o haviam seguido.
Ele achou primeiro o seu próprio
A primeira coisa que André fez foi
irmão, Simão, a quem disse: Achamos
procurar o seu irmão Simão e dizer a
ele: — Achamos o Messias.
o Messias (que quer dizer Cristo),
(“Messias” quer dizer “Cristo”.)
e o levou a Jesus. Olhando Jesus para
Então André levou o seu irmão a
ele, disse: Tu és Simão, o filho de
Jesus. Jesus olhou para Simão e disse:
João; tu serás chamado Cefas (que
— Você é Simão, filho de João, mas
de agora em diante o seu nome será
quer dizer Pedro).
Cefas. (“Cefas” é o mesmo que
“Pedro” e quer dizer “pedra”.)
No dia imediato, resolveu Jesus partir No dia seguinte, Jesus resolveu ir para
para a Galiléia e encontrou a Filipe, a
a região da Galiléia. Antes de ir, foi
procurar Filipe e disse: — Venha
quem disse: Segue-me.
comigo!
Ora, Filipe era de Betsaida, cidade de
Filipe era de Betsaida, de onde eram
André e de Pedro.
também André e Pedro.
Filipe encontrou a Natanael e disseFilipe foi procurar Natanael e disse: —
lhe: Achamos aquele de quem Moisés
Achamos aquele a respeito de quem
escreveu na lei, e a quem se referiram
Moisés escreveu no Livro da Lei e
os profetas: Jesus, o Nazareno, filho
sobre quem os profetas também
escreveram. É Jesus, filho de José, da
de José.
cidade de Nazaré.
Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré
Natanael perguntou: — E será que
pode sair alguma coisa boa?
pode sair alguma coisa boa de Nazaré?
Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê.
— Venha ver! — respondeu Filipe.
Jesus viu Natanael aproximar-se e
Quando Jesus viu Natanael chegando,
disse a seu respeito: Eis um verdadeiro
disse a respeito dele: — Aí está um
verdadeiro israelita, um homem
israelita, em quem não há dolo!
realmente sincero.
Perguntou-lhe Natanael: Donde me
Então Natanael perguntou a Jesus: —
conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes De onde o senhor me conhece? Jesus
de Filipe te chamar, eu te vi, quando
respondeu: — Antes que Filipe
chamasse você, eu já tinha visto você
estavas debaixo da figueira.
sentado debaixo daquela figueira.
Então, exclamou Natanael: Mestre, tu Então Natanael exclamou: — Mestre,
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és o Filho de Deus, tu és o Rei de
o senhor é o Filho de Deus! O senhor é
Israel!
o Rei de Israel!
1.50 Ao que Jesus lhe respondeu: Porque te Jesus respondeu: — Você crê em mim
disse que te vi debaixo da figueira,
só porque eu disse que tinha visto você
crês? Pois maiores coisas do que estas
debaixo da figueira? Pois você verá
verás.
coisas maiores do que esta.
1.51
E acrescentou: Em verdade, em
Eu afirmo a vocês que isto é verdade:
verdade vos digo que vereis o céu
vocês verão o céu aberto e os anjos de
aberto e os anjos de Deus subindo e
Deus subindo e descendo sobre o
descendo sobre o Filho do Homem.
Filho do Homem.
2.1 Três dias depois, houve um casamento Dois dias depois, houve um casamento
em Caná da Galiléia, achando-se ali a
no povoado de Caná, na região da
mãe de Jesus.
Galiléia, e a mãe de Jesus estava ali.
2.2 Jesus também foi convidado, com os
Jesus e os seus discípulos também
tinham sido convidados para o
seus discípulos, para o casamento.
casamento.
2.3
Tendo acabado o vinho, a mãe de
Quando acabou o vinho, a mãe de
Jesus lhe disse: Eles não têm mais
Jesus lhe disse: — O vinho acabou.
vinho.
2.4
Mas Jesus lhe disse: Mulher, que
Jesus respondeu: — Não é preciso que
tenho eu contigo? Ainda não é
a senhora diga o que eu devo fazer.
chegada a minha hora.
Ainda não chegou a minha hora.
2.5 Então, ela falou aos serventes: Fazei
Então ela disse aos empregados: —
tudo o que ele vos disser.
Façam o que ele mandar.
2.6 Estavam ali seis talhas de pedra, que
Ali perto estavam seis potes de pedra;
os judeus usavam para as purificações,
em cada um cabiam entre oitenta e
e cada uma levava duas ou três
cento e vinte litros de água. Os judeus
usavam a água que guardavam nesses
metretas.
potes nas suas cerimônias de
purificação.
2.7
Jesus lhes disse: Enchei de água as
Jesus disse aos empregados: —
talhas. E eles as encheram totalmente. Encham de água estes potes. E eles os
encheram até a boca.
2.8 Então, lhes determinou: Tirai agora e
Em seguida Jesus mandou: — Agora
tirem um pouco da água destes potes e
levai ao mestre-sala. Eles o fizeram.
levem ao dirigente da festa. E eles
levaram.
2.9 Tendo o mestre-sala provado a água
Então o dirigente da festa provou a
transformada em vinho (não sabendo
água, e a água tinha virado vinho. Ele
donde viera, se bem que o sabiam os
não sabia de onde tinha vindo aquele
serventes que haviam tirado a água), vinho, mas os empregados sabiam. Por
chamou o noivo
isso ele chamou o noivo
2.10
e lhe disse: Todos costumam pôr
e disse: — Todos costumam servir
primeiro o bom vinho e, quando já
primeiro o vinho bom e, depois que os
beberam fartamente, servem o inferior; convidados já beberam muito, servem
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tu, porém, guardaste o bom vinho até o vinho comum. Mas você guardou até
agora.
agora o melhor vinho.
2.11 Com este, deu Jesus princípio a seus
Jesus fez esse seu primeiro milagre
sinais em Caná da Galiléia; manifestou
em Caná da Galiléia. Assim ele
a sua glória, e os seus discípulos
revelou a sua natureza divina, e os
creram nele.
seus discípulos creram nele.
2.12
Depois disto, desceu ele para
Depois disso, Jesus, a sua mãe, os seus
Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos irmãos e os seus discípulos foram para
e seus discípulos; e ficaram ali não
a cidade de Cafarnaum e ficaram
muitos dias.
alguns dias ali.
2.13 Estando próxima a Páscoa dos judeus,
Alguns dias antes da Páscoa dos
judeus, Jesus foi até a cidade de
subiu Jesus para Jerusalém.
Jerusalém.
2.14
E encontrou no templo os que
No pátio do Templo encontrou pessoas
vendiam bois, ovelhas e pombas e
vendendo bois, ovelhas e pombas; e
viu também os que, sentados às suas
também os cambistas assentados;
mesas, trocavam dinheiro para o povo.
2.15 tendo feito um azorrague de cordas,
Então ele fez um chicote de cordas e
expulsou todos do templo, bem como
expulsou toda aquela gente dali e
as ovelhas e os bois, derramou pelo
também as ovelhas e os bois. Virou as
chão o dinheiro dos cambistas, virou
mesas dos que trocavam dinheiro, e as
as mesas
moedas se espalharam pelo chão.
2.16 e disse aos que vendiam as pombas:
E disse aos que vendiam pombas: —
Tirai daqui estas coisas; não façais da Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer
casa de meu Pai casa de negócio.
da casa do meu Pai um mercado!
2.17 Lembraram-se os seus discípulos de
Então os discípulos dele lembraram
que está escrito: O zelo da tua casa me
das palavras das Escrituras Sagradas
que dizem: “O meu amor pela tua
consumirá.
casa, ó Deus, queima dentro de mim
como fogo.”
2.18 Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que
Aí os líderes judeus perguntaram: —
sinal nos mostras, para fazeres estas
Que milagre você pode fazer para nos
provar que tem autoridade para fazer
coisas?
isso?
2.19
Jesus lhes respondeu: Destruí este
Jesus respondeu: — Derrubem este
santuário, e em três dias o
Templo, e eu o construirei de novo em
reconstruirei.
três dias!
2.20 Replicaram os judeus: Em quarenta e
Eles disseram: — A construção deste
seis anos foi edificado este santuário, e Templo levou quarenta e seis anos, e
você diz que vai construí-lo de novo
tu, em três dias, o levantarás?
em três dias?
2.21 Ele, porém, se referia ao santuário do
Porém o templo do qual Jesus estava
seu corpo.
falando era o seu próprio corpo.
2.22 Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre Quando Jesus foi ressuscitado, os seus
os mortos, lembraram-se os seus
discípulos lembraram que ele tinha
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discípulos de que ele dissera isto; e
dito isso e então creram nas Escrituras
creram na Escritura e na palavra de
Sagradas e nas palavras dele.
Jesus.
Estando ele em Jerusalém, durante a
Quando Jesus estava em Jerusalém,
Festa da Páscoa, muitos, vendo os
durante a Festa da Páscoa, muitos
sinais que ele fazia, creram no seu
creram nele porque viram os milagres
nome;
que ele fazia.
mas o próprio Jesus não se confiava a Mas Jesus não confiava neles, pois os
eles, porque os conhecia a todos.
conhecia muito bem.
E não precisava de que alguém lhe
E ninguém precisava falar com ele
desse testemunho a respeito do
sobre qualquer pessoa, pois ele sabia o
homem, porque ele mesmo sabia o que
que cada pessoa pensava.
era a natureza humana.
Havia, entre os fariseus, um homem
Havia um fariseu chamado
chamado Nicodemos, um dos
Nicodemos, que era líder dos judeus.
principais dos judeus.
Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe Uma noite ele foi visitar Jesus e disse:
disse: Rabi, sabemos que és Mestre
— Rabi, nós sabemos que o senhor é
vindo da parte de Deus; porque
um mestre que Deus enviou, pois
ninguém pode fazer estes sinais que tu ninguém pode fazer esses milagres se
fazes, se Deus não estiver com ele.
Deus não estiver com ele.
A isto, respondeu Jesus: Em verdade,
Jesus respondeu: — Eu afirmo ao
em verdade te digo que, se alguém não
senhor que isto é verdade: ninguém
nascer de novo, não pode ver o reino
pode ver o Reino de Deus se não
de Deus.
nascer de novo.
Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode Nicodemos perguntou: — Como é que
um homem nascer, sendo velho? Pode,
um homem velho pode nascer de
porventura, voltar ao ventre materno e novo? Será que ele pode voltar para a
nascer segunda vez?
barriga da sua mãe e nascer outra vez?
Respondeu Jesus: Em verdade, em
Jesus disse: — Eu afirmo ao senhor
verdade te digo: quem não nascer da
que isto é verdade: ninguém pode
água e do Espírito não pode entrar no entrar no Reino de Deus se não nascer
reino de Deus.
da água e do Espírito.
O que é nascido da carne é carne; e o Quem nasce de pais humanos é um ser
de natureza humana; quem nasce do
que é nascido do Espírito é espírito.
Espírito é um ser de natureza
espiritual.
Não te admires de eu te dizer: importa- Por isso não fique admirado porque eu
disse que todos vocês precisam nascer
vos nascer de novo.
de novo.
O vento sopra onde quer, ouves a sua
O vento sopra onde quer, e ouve-se o
voz, mas não sabes donde vem, nem
barulho que ele faz, mas não se sabe
para onde vai; assim é todo o que é
de onde ele vem, nem para onde vai. A
mesma coisa acontece com todos os
nascido do Espírito.
que nascem do Espírito.
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90
Então, lhe perguntou Nicodemos:
Como pode suceder isto? Acudiu
Jesus:
Tu és mestre em Israel e não
compreendes estas coisas?
Em verdade, em verdade te digo que
nós dizemos o que sabemos e
testificamos o que temos visto;
contudo, não aceitais o nosso
testemunho.
3.12 Se, tratando de coisas terrenas, não me
credes, como crereis, se vos falar das
celestiais?
3.13
Ora, ninguém subiu ao céu, senão
aquele que de lá desceu, a saber, o
Filho do Homem [que está no céu].
3.14 E do modo por que Moisés levantou a
serpente no deserto, assim importa que
o Filho do Homem seja levantado,
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3.21
— Como pode ser isso? — perguntou
Nicodemos.
Jesus respondeu: — O senhor é
professor do povo de Israel e não
entende isso?
Pois eu afirmo ao senhor que isto é
verdade: nós falamos daquilo que
sabemos e contamos o que temos
visto, mas vocês não querem aceitar a
nossa mensagem.
Se vocês não crêem quando falo das
coisas deste mundo, como vão crer se
eu falar das coisas do céu?
Ninguém subiu ao céu, a não ser o
Filho do Homem, que desceu do céu.
— Assim como Moisés, no deserto,
levantou a cobra de bronze numa
estaca, assim também o Filho do
Homem tem de ser levantado,
para que todo o que nele crê tenha a
para que todos os que crerem nele
vida eterna.
tenham a vida eterna.
Porque Deus amou ao mundo de tal
Porque Deus amou o mundo tanto, que
maneira que deu o seu Filho unigênito, deu o seu único Filho, para que todo
para que todo o que nele crê não
aquele que nele crer não morra, mas
pereça, mas tenha a vida eterna.
tenha a vida eterna.
Porquanto Deus enviou o seu Filho ao
Pois Deus mandou o seu Filho para
mundo, não para que julgasse o
salvar o mundo e não para julgá-lo.
mundo, mas para que o mundo fosse
salvo por ele.
Quem nele crê não é julgado; o que
— Aquele que crê no Filho não é
não crê já está julgado, porquanto não
julgado; mas quem não crê já está
crê no nome do unigênito Filho de
julgado porque não crê no Filho único
Deus.
de Deus.
O julgamento é este: que a luz veio ao
E é assim que o julgamento é feito:
mundo, e os homens amaram mais as
Deus mandou a luz ao mundo, mas as
trevas do que a luz; porque as suas
pessoas preferiram a escuridão porque
obras eram más.
fazem o que é mau.
Pois todo aquele que pratica o mal
Pois todos os que fazem o mal odeiam
aborrece a luz e não se chega para a
a luz e fogem dela, para que ninguém
luz, a fim de não serem argüidas as
veja as coisas más que eles fazem.
suas obras.
Quem pratica a verdade aproxima-se
Mas os que vivem de acordo com a
da luz, a fim de que as suas obras
verdade procuram a luz, a fim de que
47
sejam manifestas, porque feitas em
Deus.
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Depois disto, foi Jesus com seus
discípulos para a terra da Judéia; ali
permaneceu com eles e batizava.
possa ser visto claramente que as suas
ações são feitas de acordo com a
vontade de Deus.
Depois disso, Jesus e os seus
discípulos foram para a região da
Judéia. Ele ficou algum tempo com
eles ali e batizava as pessoas.
João também estava batizando em
Enom, perto de Salim, porque lá havia
muita água.
Ora, João estava também batizando
em Enom, perto de Salim, porque
havia ali muitas águas, e para lá
concorria o povo e era batizado.
3.24
Pois João ainda não tinha sido
(João ainda não tinha sido preso.)
encarcerado.
3.25 Ora, entre os discípulos de João e um
Alguns discípulos de João tiveram
judeu suscitou-se uma contenda com
uma discussão com um judeu sobre a
respeito à purificação.
cerimônia de purificação.
3.26 E foram ter com João e lhe disseram:
Eles foram dizer a João: — Mestre,
Mestre, aquele que estava contigo
aquele homem que estava com o
além do Jordão, do qual tens dado
senhor no outro lado do rio Jordão está
testemunho, está batizando, e todos lhe batizando as pessoas. O senhor falou
sobre ele, lembra? E todos estão indo
saem ao encontro.
atrás dele.
3.27 Respondeu João: O homem não pode João respondeu: — Ninguém pode ter
receber coisa alguma se do céu não lhe alguma coisa se ela não for dada por
for dada.
Deus.
3.28 Vós mesmos sois testemunhas de que
Vocês são testemunhas de que eu
vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui disse: “Eu não sou o Messias, mas fui
enviado como seu precursor.
enviado adiante dele.”
3.29 O que tem a noiva é o noivo; o amigo
Num casamento, o noivo é aquele a
do noivo que está presente e o ouve
quem a noiva pertence. O amigo do
muito se regozija por causa da voz do
noivo está ali, e o escuta, e se alegra
noivo. Pois esta alegria já se cumpriu
quando ouve a voz dele. Assim
também o que está acontecendo com
em mim.
Jesus me faz ficar completamente
alegre.
3.30
Convém que ele cresça e que eu
Ele tem de ficar cada vez mais
diminua.
importante, e eu, menos importante.
3.31 Quem vem das alturas certamente está
Aquele que vem de cima é o mais
acima de todos; quem vem da terra é
importante de todos, e quem vem da
terreno e fala da terra; quem veio do
terra é da terra e fala das coisas
terrenas. Quem vem do céu é o mais
céu está acima de todos
importante de todos.
3.32 e testifica o que tem visto e ouvido;
Ele fala daquilo que viu e ouviu, mas
contudo, ninguém aceita o seu
ninguém aceita a sua mensagem.
testemunho.
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Quem, todavia, lhe aceita o
testemunho, por sua vez, certifica que
Deus é verdadeiro.
Pois o enviado de Deus fala as
palavras dele, porque Deus não dá o
Espírito por medida.
O Pai ama ao Filho, e todas as coisas
tem confiado às suas mãos.
Por isso, quem crê no Filho tem a vida
eterna; o que, todavia, se mantém
rebelde contra o Filho não verá a vida,
mas sobre ele permanece a ira de
Deus.
Quando, pois, o Senhor veio a saber
que os fariseus tinham ouvido dizer
que ele, Jesus, fazia e batizava mais
discípulos que João
(se bem que Jesus mesmo não
batizava, e sim os seus discípulos),
deixou a Judéia, retirando-se outra vez
para a Galiléia.
E era-lhe necessário atravessar a
província de Samaria.
Chegou, pois, a uma cidade
samaritana, chamada Sicar, perto das
terras que Jacó dera a seu filho José.
Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da
viagem, assentara-se Jesus junto à
fonte, por volta da hora sexta.
Nisto, veio uma mulher samaritana
tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de
beber.
4.8
Pois seus discípulos tinham ido à
cidade para comprar alimentos.
4.9 Então, lhe disse a mulher samaritana:
Como, sendo tu judeu, pedes de beber
a mim, que sou mulher samaritana
(porque os judeus não se dão com os
samaritanos)?
4.10 Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o
dom de Deus e quem é o que te pede:
dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele
te daria água viva.
Quem aceita a sua mensagem dá prova
de que o que Deus diz é verdade.
Aquele que Deus enviou diz as
palavras de Deus porque Deus dá do
seu Espírito sem medida.
O Pai ama o Filho e pôs tudo nas mãos
dele.
Por isso quem crê no Filho tem a vida
eterna; porém quem desobedece ao
Filho nunca terá a vida eterna, mas
sofrerá para sempre o castigo de Deus.
Os fariseus ouviram dizer que Jesus
estava ganhando mais discípulos e
batizava mais pessoas do que João.
(De fato, não era Jesus quem batizava,
e sim os seus discípulos.)
Quando Jesus ficou sabendo disso,
saiu da Judéia e voltou para a Galiléia.
No caminho, ele tinha de passar pela
região da Samaria.
Ele chegou a uma cidade da Samaria,
chamada Sicar, que ficava perto das
terras que Jacó tinha dado ao seu filho
José.
Ali ficava o poço de Jacó. Era mais ou
menos meio-dia quando Jesus,
cansado da viagem, sentou-se perto do
poço.
Uma mulher samaritana veio tirar
água, e Jesus lhe disse: — Por favor,
me dê um pouco de água.
(Os discípulos de Jesus tinham ido até
a cidade comprar comida.)
A mulher respondeu: — O senhor é
judeu, e eu sou samaritana. Então
como é que o senhor me pede água?
(Ela disse isso porque os judeus não se
dão com os samaritanos.)
Então Jesus disse: — Se você
soubesse o que Deus pode dar e quem
é que está lhe pedindo água, você
pediria, e ele lhe daria a água da vida.
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4.11 Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens Ela respondeu: — O senhor não tem
com que a tirar, e o poço é fundo;
balde para tirar água, e o poço é fundo.
Como é que vai conseguir essa água
onde, pois, tens a água viva?
da vida?
4.12 És tu, porventura, maior do que Jacó,
Nosso antepassado Jacó nos deu este
o nosso pai, que nos deu o poço, do
poço. Ele, os seus filhos e os seus
qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, animais beberam água daqui. Será que
o senhor é mais importante do que
seus filhos, e seu gado?
Jacó?
4.13 Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta
Então Jesus disse: — Quem beber
água tornará a ter sede;
desta água terá sede de novo,
4.14 aquele, porém, que beber da água que mas a pessoa que beber da água que eu
eu lhe der nunca mais terá sede; pelo
lhe der nunca mais terá sede. Porque a
contrário, a água que eu lhe der será
água que eu lhe der se tornará nela
nele uma fonte a jorrar para a vida
uma fonte de água que dará vida
eterna.
eterna.
4.15
Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me
Então a mulher pediu: — Por favor,
dessa água para que eu não mais tenha
me dê dessa água! Assim eu nunca
mais terei sede e não precisarei mais
sede, nem precise vir aqui buscá-la.
vir aqui buscar água.
4.16
Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu
— Vá chamar o seu marido e volte
marido e vem cá;
aqui! — ordenou Jesus.
4.17 ao que lhe respondeu a mulher: Não
— Eu não tenho marido! — respondeu
tenho marido. Replicou-lhe Jesus:
a mulher. Então Jesus disse: — Você
está certa ao dizer que não tem
Bem disseste, não tenho marido;
marido,
4.18 porque cinco maridos já tiveste, e esse pois já teve cinco, e este que você tem
que agora tens não é teu marido; isto
agora não é, de fato, seu marido. Sim,
disseste com verdade.
você falou a verdade.
4.19 Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu A mulher respondeu: — Agora eu sei
és profeta.
que o senhor é um profeta!
4.20 Nossos pais adoravam neste monte;
Os nossos antepassados adoravam a
vós, entretanto, dizeis que em
Deus neste monte, mas vocês, judeus,
Jerusalém é o lugar onde se deve
dizem que Jerusalém é o lugar onde
adorar.
devemos adorá-lo.
4.21 Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crerJesus disse: — Mulher, creia no que
me que a hora vem, quando nem neste
eu digo: chegará o tempo em que
monte, nem em Jerusalém adorareis o ninguém vai adorar a Deus nem neste
Pai.
monte nem em Jerusalém.
4.22 Vós adorais o que não conheceis; nós
Vocês, samaritanos, não sabem o que
adoramos o que conhecemos, porque a
adoram, mas nós sabemos o que
adoramos porque a salvação vem dos
salvação vem dos judeus.
judeus.
4.23 Mas vem a hora e já chegou, em que
Mas virá o tempo, e, de fato, já
os verdadeiros adoradores adorarão o
chegou, em que os verdadeiros
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137
Pai em espírito e em verdade; porque
são estes que o Pai procura para seus
adoradores.
4.24 Deus é espírito; e importa que os seus
adoradores o adorem em espírito e em
verdade.
4.25 Eu sei, respondeu a mulher, que há de
vir o Messias, chamado Cristo; quando
ele vier, nos anunciará todas as coisas.
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4.26 Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo
contigo.
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4.27
Neste ponto, chegaram os seus
discípulos e se admiraram de que
estivesse falando com uma mulher;
todavia, nenhum lhe disse: Que
perguntas? Ou: Por que falas com ela?
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4.32
Quanto à mulher, deixou o seu
cântaro, foi à cidade e disse àqueles
homens:
Vinde comigo e vede um homem que
me disse tudo quanto tenho feito. Será
este, porventura, o Cristo?!
Saíram, pois, da cidade e vieram ter
com ele.
Nesse ínterim, os discípulos lhe
rogavam, dizendo: Mestre, come!
Mas ele lhes disse: Uma comida tenho
para comer, que vós não conheceis.
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4.33
146
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Diziam, então, os discípulos uns aos
outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém
trazido o que comer?
4.34
Disse-lhes Jesus: A minha comida
consiste em fazer a vontade daquele
que me enviou e realizar a sua obra.
4.35
Não dizeis vós que ainda há quatro
meses até à ceifa? Eu, porém, vos
digo: erguei os olhos e vede os
campos, pois já branquejam para a
ceifa.
adoradores vão adorar o Pai em
espírito e em verdade. Pois são esses
que o Pai quer que o adorem.
Deus é Espírito, e por isso os que o
adoram devem adorá-lo em espírito e
em verdade.
A mulher respondeu: — Eu sei que o
Messias, chamado Cristo, tem de vir.
E, quando ele vier, vai explicar tudo
para nós.
Então Jesus afirmou: — Pois eu, que
estou falando com você, sou o
Messias.
Naquele momento chegaram os seus
discípulos e ficaram admirados, pois
ele estava conversando com uma
mulher. Mas nenhum deles perguntou
à mulher o que ela queria. E também
não perguntaram a Jesus por que
motivo ele estava falando com ela.
Em seguida, a mulher deixou ali o seu
pote, voltou até a cidade e disse a
todas as pessoas:
— Venham ver o homem que disse
tudo o que eu tenho feito. Será que ele
é o Messias?
Muitas pessoas saíram da cidade e
foram para o lugar onde Jesus estava.
Enquanto isso, os discípulos pediam a
Jesus: — Mestre, coma alguma coisa!
Jesus respondeu: — Eu tenho para
comer uma comida que vocês não
conhecem.
Então os discípulos começaram a
perguntar uns aos outros: — Será que
alguém já trouxe comida para ele?
— A minha comida — disse Jesus —
é fazer a vontade daquele que me
enviou e terminar o trabalho que ele
me deu para fazer.
Vocês costumam dizer: “Daqui a
quatro meses teremos a colheita.” Mas
olhem e vejam bem os campos: o que
foi plantado já está maduro e pronto
para a colheita.
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4.47
O ceifeiro recebe desde já a
Quem colhe recebe o seu salário, e o
recompensa e entesoura o seu fruto
resultado do seu trabalho é a vida
para a vida eterna; e, dessarte, se
eterna para as pessoas. E assim tanto o
alegram tanto o semeador como o
que semeia como o que colhe se
ceifeiro.
alegrarão juntos.
Pois, no caso, é verdadeiro o ditado:
Porque é verdade o que dizem: “Um
Um é o semeador, e outro é o ceifeiro.
semeia, e outro colhe.”
Eu vos enviei para ceifar o que não
Eu mandei vocês colherem onde não
semeastes; outros trabalharam, e vós
trabalharam; outros trabalharam ali, e
entrastes no seu trabalho.
vocês aproveitaram o trabalho deles.
Muitos samaritanos daquela cidade
Muitos samaritanos daquela cidade
creram nele, em virtude do testemunho
creram em Jesus porque a mulher
da mulher, que anunciara: Ele me
tinha dito: “Ele me disse tudo o que eu
disse tudo quanto tenho feito.
tenho feito.”
Vindo, pois, os samaritanos ter com
Quando os samaritanos chegaram ao
Jesus, pediam-lhe que permanecesse
lugar onde Jesus estava, pediram a ele
que ficasse com eles, e Jesus ficou ali
com eles; e ficou ali dois dias.
dois dias.
Muitos outros creram nele, por causa
E muitos outros creram por causa da
da sua palavra,
mensagem dele.
e diziam à mulher: Já agora não é pelo Eles diziam à mulher: — Agora não é
que disseste que nós cremos; mas
mais por causa do que você disse que
porque nós mesmos temos ouvido e
nós cremos, mas porque nós mesmos o
sabemos que este é verdadeiramente o ouvimos falar. E sabemos que ele é, de
Salvador do mundo.
fato, o Salvador do mundo.
Passados dois dias, partiu dali para a
Depois de ficar dois dias ali, Jesus foi
Galiléia.
para a região da Galiléia.
Porque o mesmo Jesus testemunhou
Pois, como ele mesmo disse: “Um
que um profeta não tem honras na sua profeta não é respeitado na sua própria
própria terra.
terra.”
Assim, quando chegou à Galiléia, os
Quando chegou à Galiléia, os
galileus o receberam, porque viram
moradores dali o receberam bem. É
todas as coisas que ele fizera em
que eles tinham ido à Festa da Páscoa,
Jerusalém, por ocasião da festa, à qual
em Jerusalém, e tinham visto tudo o
eles também tinham comparecido.
que Jesus havia feito lá.
Dirigiu-se, de novo, a Caná da
Jesus voltou a Caná da Galiléia, onde
Galiléia, onde da água fizera vinho.
havia transformado água em vinho.
Ora, havia um oficial do rei, cujo filho Estava ali um alto funcionário público
que morava em Cafarnaum. Ele tinha
estava doente em Cafarnaum.
em casa um filho doente.
Tendo ouvido dizer que Jesus viera da
Quando ouviu dizer que Jesus tinha
Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e
vindo da Judéia para a Galiléia, foi
lhe rogou que descesse para curar seu
pedir a ele que fosse a Cafarnaum e
curasse o seu filho, que estava
filho, que estava à morte.
morrendo.
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4.48 Então, Jesus lhe disse: Se, porventura,
não virdes sinais e prodígios, de modo
nenhum crereis.
4.49 Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce,
antes que meu filho morra.
4.50 Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O
homem creu na palavra de Jesus e
partiu.
4.51 Já ele descia, quando os seus servos
lhe vieram ao encontro, anunciandolhe que o seu filho vivia.
4.52 Então, indagou deles a que hora o seu
filho se sentira melhor. Informaram:
Ontem, à hora sétima a febre o deixou.
4.53 Com isto, reconheceu o pai ser aquela
precisamente a hora em que Jesus lhe
dissera: Teu filho vive; e creu ele e
toda a sua casa.
4.54 Foi este o segundo sinal que fez Jesus,
depois de vir da Judéia para a Galiléia.
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5.6
Passadas estas coisas, havia uma festa
dos judeus, e Jesus subiu para
Jerusalém.
Ora, existe ali, junto à Porta das
Ovelhas, um tanque, chamado em
hebraico Betesda, o qual tem cinco
pavilhões.
Nestes, jazia uma multidão de
enfermos, cegos, coxos, paralíticos
[esperando que se movesse a água.
Porquanto um anjo descia em certo
tempo, agitando-a; e o primeiro que
entrava no tanque, uma vez agitada a
água, sarava de qualquer doença que
tivesse].
Estava ali um homem enfermo havia
trinta e oito anos.
Jesus, vendo-o deitado e sabendo que
estava assim há muito tempo,
perguntou-lhe: Queres ser curado?
Jesus disse ao funcionário: — Vocês
só crêem quando vêem grandes
milagres!
Ele respondeu: — Senhor, venha
depressa, antes que o meu filho morra!
— Volte para casa! O seu filho vai
viver! — disse Jesus. Ele creu nas
palavras de Jesus e foi embora.
No caminho encontrou-se com os seus
empregados, que disseram: — O seu
filho está vivo!
Então ele perguntou a que horas o
filho havia começado a melhorar. Os
empregados responderam: — Ontem,
à uma da tarde, a febre passou.
Aí o pai lembrou que havia sido
naquela mesma hora que Jesus tinha
dito: “O seu filho vai viver.” Então ele
e toda a família creram em Jesus.
Esse foi o segundo milagre que Jesus
fez depois de ter ido da Judéia para a
Galiléia.
Depois disso, houve uma festa dos
judeus, e Jesus foi até Jerusalém.
Ali existe um tanque que tem cinco
entradas e que fica perto do Portão das
Ovelhas. Em hebraico esse tanque se
chama “Betezata”.
Perto das entradas estavam deitados
muitos doentes: cegos, aleijados e
paralíticos. [Esperavam o movimento
da água,
porque de vez em quando um anjo do
Senhor descia e agitava a água. O
primeiro doente que entrava no tanque
depois disso sarava de qualquer
doença.]
Entre eles havia um homem que era
doente fazia trinta e oito anos.
Jesus viu o homem deitado e, sabendo
que fazia todo esse tempo que ele era
doente, perguntou: — Você quer ficar
curado?
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5.7 Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não
tenho ninguém que me ponha no
tanque, quando a água é agitada; pois,
enquanto eu vou, desce outro antes de
mim.
5.8
Então, lhe disse Jesus: Levanta-te,
toma o teu leito e anda.
5.9
Imediatamente, o homem se viu
curado e, tomando o leito, pôs-se a
andar. E aquele dia era sábado.
5.10 Por isso, disseram os judeus ao que
fora curado: Hoje é sábado, e não te é
lícito carregar o leito.
5.11 Ao que ele lhes respondeu: O mesmo
que me curou me disse: Toma o teu
leito e anda.
5.12
Perguntaram-lhe eles: Quem é o
homem que te disse: Toma o teu leito
e anda?
5.13 Mas o que fora curado não sabia quem
era; porque Jesus se havia retirado, por
haver muita gente naquele lugar.
5.14
Mais tarde, Jesus o encontrou no
templo e lhe disse: Olha que já estás
curado; não peques mais, para que não
te suceda coisa pior.
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5.15 O homem retirou-se e disse aos judeus
que fora Jesus quem o havia curado.
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5.16 E os judeus perseguiam Jesus, porque
fazia estas coisas no sábado.
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5.17
Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha
até agora, e eu trabalho também.
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5.18
Por isso, pois, os judeus ainda mais
procuravam matá-lo, porque não
somente violava o sábado, mas
também dizia que Deus era seu
próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
185
5.19
Então, lhes falou Jesus: Em verdade,
em verdade vos digo que o Filho nada
Ele respondeu: — Senhor, eu não
tenho ninguém para me pôr no tanque
quando a água se mexe. Cada vez que
eu tento entrar, outro doente entra
antes de mim.
Então Jesus disse: — Levante-se,
pegue a sua cama e ande!
No mesmo instante, o homem ficou
curado, pegou a cama e começou a
andar. Isso aconteceu no sábado.
Por isso os líderes judeus disseram a
ele: — Hoje é sábado, e a nossa Lei
não permite que você carregue a sua
cama neste dia.
Ele respondeu: — O homem que me
curou me disse: “Pegue a sua cama e
ande.”
Eles perguntaram: — Quem é o
homem que mandou você fazer isso?
Mas ele não sabia quem tinha sido,
pois Jesus havia ido embora por causa
da multidão que estava ali.
Mais tarde Jesus encontrou o homem
no pátio do Templo e disse a ele: —
Escute! Você agora está curado. Não
peque mais, para que não aconteça
com você uma coisa ainda pior.
O homem saiu dali e foi dizer aos
líderes judeus que quem o havia
curado tinha sido Jesus.
Então eles começaram a perseguir
Jesus porque ele havia feito essa cura
no sábado.
Então Jesus disse a eles: — O meu Pai
trabalha até agora, e eu também
trabalho.
E, porque ele disse isso, os líderes
judeus ficaram ainda com mais
vontade de matá-lo. Pois, além de não
obedecer à lei do sábado, ele afirmava
que Deus era o seu próprio Pai,
fazendo-se assim igual a Deus.
Então Jesus disse a eles: — Eu afirmo
a vocês que isto é verdade: o Filho não
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5.30
pode fazer de si mesmo, senão
somente aquilo que vir fazer o Pai;
porque tudo o que este fizer, o Filho
também semelhantemente o faz.
Porque o Pai ama ao Filho, e lhe
mostra tudo o que faz, e maiores obras
do que estas lhe mostrará, para que
vos maravilheis.
Pois assim como o Pai ressuscita e
vivifica os mortos, assim também o
Filho vivifica aqueles a quem quer.
E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho
confiou todo julgamento,
a fim de que todos honrem o Filho do
modo por que honram o Pai. Quem
não honra o Filho não honra o Pai que
o enviou.
Em verdade, em verdade vos digo:
quem ouve a minha palavra e crê
naquele que me enviou tem a vida
eterna, não entra em juízo, mas passou
da morte para a vida.
Em verdade, em verdade vos digo que
vem a hora e já chegou, em que os
mortos ouvirão a voz do Filho de
Deus; e os que a ouvirem viverão.
Porque assim como o Pai tem vida em
si mesmo, também concedeu ao Filho
ter vida em si mesmo.
E lhe deu autoridade para julgar,
porque é o Filho do Homem.
Não vos maravilheis disto, porque
vem a hora em que todos os que se
acham nos túmulos ouvirão a sua voz
e sairão:
os que tiverem feito o bem, para a
ressurreição da vida; e os que tiverem
praticado o mal, para a ressurreição do
juízo.
Eu nada posso fazer de mim mesmo;
na forma por que ouço, julgo. O meu
juízo é justo, porque não procuro a
minha própria vontade, e sim a
daquele que me enviou.
pode fazer nada por sua própria conta,
pois ele só faz o que vê o Pai fazer.
Tudo o que o Pai faz o Filho faz
também,
pois o Pai ama o Filho e lhe mostra
tudo o que está fazendo. E vai mostrar
a ele coisas ainda maiores do que
essas, e vocês vão ficar admirados.
Porque, assim como o Pai ressuscita os
mortos e lhes dá vida, assim também o
Filho dá vida aos que ele quer.
O Pai não julga ninguém, mas deu ao
Filho todo o poder para julgar
a fim de que todos respeitem o Filho,
assim como respeitam o Pai. Quem
não respeita o Filho também não
respeita o Pai, que o enviou.
— Eu afirmo a vocês que isto é
verdade: quem ouve as minhas
palavras e crê naquele que me enviou
tem a vida eterna e não será julgado,
mas já passou da morte para a vida.
Eu afirmo a vocês que isto é verdade:
vem a hora, e ela já chegou, em que os
mortos vão ouvir a voz do Filho de
Deus, e os que a ouvirem viverão.
Assim como o Pai é a fonte da vida,
assim também fez o Filho ser a fonte
da vida.
E ele deu ao Filho autoridade para
julgar, pois ele é o Filho do Homem.
— Não fiquem admirados por causa
disso, pois está chegando a hora em
que todos os mortos ouvirão a voz do
Filho do Homem
e sairão das suas sepulturas. Aqueles
que fizeram o bem vão ressuscitar e
viver, e aqueles que fizeram o mal vão
ressuscitar e ser condenados.
Jesus continuou a falar a eles. Ele
disse: — Eu não posso fazer nada por
minha própria conta, mas julgo de
acordo com o que o Pai me diz. O meu
julgamento é justo porque não procuro
fazer a minha própria vontade, mas a
vontade daquele que me enviou.
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5.31
Se eu testifico a respeito de mim
mesmo, o meu testemunho não é
verdadeiro.
5.32 Outro é o que testifica a meu respeito,
e sei que é verdadeiro o testemunho
que ele dá de mim.
5.33 Mandastes mensageiros a João, e ele
deu testemunho da verdade.
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5.43
— Se eu dou testemunho a favor de
mim mesmo, então o que digo não tem
valor.
Mas existe outro que testemunha a
meu favor, e eu sei que o que ele diz a
respeito de mim é verdade.
Vocês mandaram fazer perguntas a
João, e o testemunho que ele deu é
verdadeiro.
Eu, porém, não aceito humano
Eu não preciso que ninguém dê
testemunho; digo-vos, entretanto, estas
testemunho a meu favor, mas digo
essas coisas para que vocês sejam
coisas para que sejais salvos.
salvos.
Ele era a lâmpada que ardia e
— João era como uma lamparina que
alumiava, e vós quisestes, por algum
estava acesa e brilhava, e por algum
tempo vocês se alegraram com a luz
tempo, alegrar-vos com a sua luz.
dele.
Mas eu tenho maior testemunho do
Mas eu tenho um testemunho a meu
que o de João; porque as obras que o
favor ainda mais forte do que o que
Pai me confiou para que eu as
João deu: são as coisas que eu faço, as
realizasse, essas que eu faço
quais o meu Pai me mandou fazer.
testemunham a meu respeito de que o Elas dão testemunho a favor de mim e
Pai me enviou.
provam que o Pai me enviou.
O Pai, que me enviou, esse mesmo é
Também o Pai, que me enviou,
que tem dado testemunho de mim.
testemunha a meu favor. Vocês nunca
Jamais tendes ouvido a sua voz, nem
ouviram a voz dele, nem viram o seu
visto a sua forma.
rosto.
Também não tendes a sua palavra
As palavras dele não estão no coração
permanente em vós, porque não credes
de vocês porque vocês não crêem
naquele a quem ele enviou.
naquele que ele enviou.
Examinais as Escrituras, porque
Vocês estudam as Escrituras Sagradas
julgais ter nelas a vida eterna, e são
porque pensam que vão encontrar
nelas a vida eterna. E são elas mesmas
elas mesmas que testificam de mim.
que dão testemunho a meu favor.
Contudo, não quereis vir a mim para
Mas vocês não querem vir para mim a
terdes vida.
fim de ter vida.
Eu não aceito glória que vem dos
— Eu não procuro ser elogiado pelas
homens;
pessoas.
sei, entretanto, que não tendes em vós
Quanto a vocês, eu os conheço e sei
que não amam a Deus com
o amor de Deus.
sinceridade.
Eu vim em nome de meu Pai, e não
Eu vim com a autoridade do meu Pai,
me recebeis; se outro vier em seu
e vocês não me recebem. Quando
próprio nome, certamente, o
alguém vem com a sua própria
recebereis.
autoridade, esse vocês recebem.
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5.44 Como podeis crer, vós os que aceitais
Como é que vocês podem crer, se
glória uns dos outros e, contudo, não
aceitam ser elogiados pelos outros e
procurais a glória que vem do Deus
não tentam conseguir os elogios que
único?
somente o único Deus pode dar?
5.45
Não penseis que eu vos acusarei
Não pensem que sou eu que vou
perante o Pai; quem vos acusa é
acusá-los diante do Pai; quem vai
Moisés, em quem tendes firmado a
acusá-los é Moisés, que é aquele em
vossa confiança.
quem vocês confiam.
5.46
Porque, se, de fato, crêsseis em
Se vocês acreditassem em Moisés,
Moisés, também creríeis em mim;
acreditariam também em mim, pois ele
porquanto ele escreveu a meu respeito.
escreveu a meu respeito.
5.47
Se, porém, não credes nos seus
Mas, se vocês não acreditam no que
escritos, como crereis nas minhas
ele escreveu, como vão acreditar no
palavras?
que eu digo?
6.1
Depois destas coisas, atravessou Jesus Depois disso, Jesus atravessou o lago
o mar da Galiléia, que é o de
da Galiléia, que também é chamado de
Tiberíades.
Tiberíades.
6.2
Seguia-o numerosa multidão, porque
Uma grande multidão o seguia porque
tinham visto os sinais que ele fazia na
eles tinham visto os milagres que
cura dos enfermos.
Jesus tinha feito, curando os doentes.
6.3
Então, subiu Jesus ao monte e
Ele subiu um monte e sentou-se ali
assentou-se ali com os seus discípulos.
com os seus discípulos.
6.4
Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava A Páscoa, a festa principal dos judeus,
próxima.
estava perto.
6.5
Então, Jesus, erguendo os olhos e
Jesus olhou em volta de si e viu que
vendo que grande multidão vinha ter
uma grande multidão estava chegando
com ele, disse a Filipe: Onde
perto dele. Então disse a Filipe: —
compraremos pães para lhes dar a
Onde vamos comprar comida para
comer?
toda esta gente?
6.6
Mas dizia isto para o experimentar;
Ele sabia muito bem o que ia fazer,
porque ele bem sabia o que estava para
mas disse isso para ver qual seria a
fazer.
resposta de Filipe.
6.7
Respondeu-lhe Filipe: Não lhes
Filipe respondeu assim: — Para cada
bastariam duzentos denários de pão,
pessoa poder receber um pouco de
pão, nós precisaríamos gastar mais de
para receber cada um o seu pedaço.
duzentas moedas de prata.
6.8
Um de seus discípulos, chamado
Então um dos discípulos, André, irmão
André, irmão de Simão Pedro,
de Simão Pedro, disse:
informou a Jesus:
6.9
Está aí um rapaz que tem cinco pães
— Está aqui um menino que tem cinco
de cevada e dois peixinhos; mas isto
pães de cevada e dois peixinhos. Mas
que é para tanta gente?
o que é isso para tanta gente?
6.10 Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se;
Jesus disse: — Digam a todos que se
pois havia naquele lugar muita relva.
sentem no chão. Então todos se
Assentaram-se, pois, os homens em
sentaram. (Havia muita grama naquele
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número de quase cinco mil.
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6.22
Então, Jesus tomou os pães e, tendo
dado graças, distribuiu-os entre eles; e
também igualmente os peixes, quanto
queriam.
E, quando já estavam fartos, disse
Jesus aos seus discípulos: Recolhei os
pedaços que sobraram, para que nada
se perca.
Assim, pois, o fizeram e encheram
doze cestos de pedaços dos cinco pães
de cevada, que sobraram aos que
haviam comido.
Vendo, pois, os homens o sinal que
Jesus fizera, disseram: Este é,
verdadeiramente, o profeta que devia
vir ao mundo.
Sabendo, pois, Jesus que estavam para
vir com o intuito de arrebatá-lo para o
proclamarem rei, retirou-se
novamente, sozinho, para o monte.
Ao descambar o dia, os seus discípulos
desceram para o mar.
E, tomando um barco, passaram para o
outro lado, rumo a Cafarnaum. Já se
fazia escuro, e Jesus ainda não viera
ter com eles.
E o mar começava a empolar-se,
agitado por vento rijo que soprava.
Tendo navegado uns vinte e cinco a
trinta estádios, eis que viram Jesus
andando por sobre o mar,
aproximando-se do barco; e ficaram
possuídos de temor.
Mas Jesus lhes disse: Sou eu. Não
temais!
Então, eles, de bom grado, o
receberam, e logo o barco chegou ao
seu destino.
No dia seguinte, a multidão que ficara
do outro lado do mar notou que ali não
havia senão um pequeno barco e que
Jesus não embarcara nele com seus
lugar.) Estavam ali quase cinco mil
homens.
Em seguida Jesus pegou os pães, deu
graças a Deus e os repartiu com todos;
e fez o mesmo com os peixes. E todos
comeram à vontade.
Quando já estavam satisfeitos, ele
disse aos discípulos: — Recolham os
pedaços que sobraram a fim de que
não se perca nada.
Eles ajuntaram os pedaços e encheram
doze cestos com o que sobrou dos
cinco pães.
Os que viram esse milagre de Jesus
disseram: — De fato, este é o Profeta
que devia vir ao mundo!
Jesus ficou sabendo que queriam leválo à força para o fazerem rei; então
voltou sozinho para o monte.
De tardinha, os discípulos de Jesus
desceram até o lago.
Subiram num barco e começaram a
atravessar o lago na direção da cidade
de Cafarnaum. Quando já estava
escuro, Jesus ainda não tinha vindo se
encontrar com eles.
De repente, um vento forte começou a
soprar e a levantar as ondas.
Os discípulos já tinham remado uns
cinco ou seis quilômetros, quando
viram Jesus andando em cima da água
e chegando perto do barco. E ficaram
com muito medo.
Mas Jesus disse: — Não tenham
medo, sou eu!
Então eles o receberam com prazer no
barco e logo chegaram ao lugar para
onde estavam indo.
No dia seguinte a multidão que estava
no lado leste do lago viu que ali só
havia um barco pequeno. Sabiam que
Jesus não tinha embarcado com os
58
discípulos, tendo estes partido sós.
236
6.23
Entretanto, outros barquinhos
chegaram de Tiberíades, perto do
lugar onde comeram o pão, tendo o
Senhor dado graças.
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6.24
238
6.25
Quando, pois, viu a multidão que
Jesus não estava ali nem os seus
discípulos, tomaram os barcos e
partiram para Cafarnaum à sua
procura.
E, tendo-o encontrado no outro lado
do mar, lhe perguntaram: Mestre,
quando chegaste aqui?
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6.31
Nossos pais comeram o maná no
deserto, como está escrito: Deu-lhes a
comer pão do céu.
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6.32
Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo: não foi Moisés
quem vos deu o pão do céu; o
verdadeiro pão do céu é meu Pai quem
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade,
em verdade vos digo: vós me
procurais, não porque vistes sinais,
mas porque comestes dos pães e vos
fartastes.
Trabalhai, não pela comida que
perece, mas pela que subsiste para a
vida eterna, a qual o Filho do Homem
vos dará; porque Deus, o Pai, o
confirmou com o seu selo.
Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando:
Que faremos para realizar as obras de
Deus?
Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus
é esta: que creiais naquele que por ele
foi enviado.
Então, lhe disseram eles: Que sinal
fazes para que o vejamos e creiamos
em ti? Quais são os teus feitos?
discípulos, pois estes haviam saído
sozinhos.
Enquanto isso, outros barcos chegaram
da cidade de Tiberíades e encostaram
perto do lugar onde a multidão tinha
comido pão depois de o Senhor Jesus
ter dado graças.
Quando viram que Jesus e os seus
discípulos não estavam ali, subiram
nos barcos e saíram para Cafarnaum a
fim de procurá-lo.
A multidão encontrou Jesus no lado
oeste do lago, e perguntaram a ele: —
Mestre, quando foi que o senhor
chegou aqui?
Jesus respondeu: — Eu afirmo a vocês
que isto é verdade: vocês estão me
procurando porque comeram os pães e
ficaram satisfeitos e não porque
entenderam os meus milagres.
Não trabalhem a fim de conseguir a
comida que se estraga, mas a fim de
conseguir a comida que dura para a
vida eterna. O Filho do Homem dará
essa comida a vocês porque Deus, o
Pai, deu provas de que ele tem
autoridade.
— O que é que Deus quer que a gente
faça? — perguntaram eles.
— Ele quer que vocês creiam naquele
que ele enviou! — respondeu Jesus.
Eles disseram: — Que milagre o
senhor vai fazer para a gente ver e crer
no senhor? O que é que o senhor pode
fazer?
Os nossos antepassados comeram o
maná no deserto, como dizem as
Escrituras Sagradas: “Do céu ele deu
pão para eles comerem.”
Jesus disse: — Eu afirmo a vocês que
isto é verdade: não foi Moisés quem
deu a vocês o pão do céu, pois quem
dá o verdadeiro pão do céu é o meu
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vos dá.
Pai.
Porque o pão de Deus é o que desce do
Porque o pão que Deus dá é aquele
céu e dá vida ao mundo.
que desce do céu e dá vida ao mundo.
Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos
— Queremos que o senhor nos dê
sempre desse pão.
sempre desse pão! — pediram eles.
Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o
Jesus respondeu: — Eu sou o pão da
pão da vida; o que vem a mim jamais
vida. Quem vem a mim nunca mais
terá fome; e o que crê em mim jamais
terá fome, e quem crê em mim nunca
terá sede.
mais terá sede.
Porém eu já vos disse que, embora me
Mas eu já disse que vocês não crêem
tenhais visto, não credes.
em mim, embora estejam me vendo.
Todo aquele que o Pai me dá, esse virá Todos aqueles que o Pai me dá virão a
a mim; e o que vem a mim, de modo
mim; e de modo nenhum jogarei fora
nenhum o lançarei fora.
aqueles que vierem a mim.
Porque eu desci do céu, não para fazer
Pois eu desci do céu para fazer a
a minha própria vontade, e sim a
vontade daquele que me enviou e não
vontade daquele que me enviou.
para fazer a minha própria vontade.
E a vontade de quem me enviou é esta: E a vontade de quem me enviou é esta:
que nenhum eu perca de todos os que
que nenhum daqueles que o Pai me
me deu; pelo contrário, eu o
deu se perca, mas que eu ressuscite
ressuscitarei no último dia.
todos no último dia.
De fato, a vontade de meu Pai é que
Pois a vontade do meu Pai é que todos
todo homem que vir o Filho e nele crer
os que vêem o Filho e crêem nele
tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei tenham a vida eterna; e no último dia
no último dia.
eu os ressuscitarei.
Murmuravam, pois, dele os judeus,
Eles começaram a criticar Jesus
porque dissera: Eu sou o pão que
porque ele tinha dito: “Eu sou o pão
desceu do céu.
que desceu do céu.”
E diziam: Não é este Jesus, o filho de E diziam: — Este não é Jesus, filho de
José? Acaso, não lhe conhecemos o
José? Por acaso nós não conhecemos o
pai e a mãe? Como, pois, agora diz:
pai e a mãe dele? Como é que agora
Desci do céu?
ele diz que desceu do céu?
Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis
Jesus respondeu: — Parem de
entre vós.
resmungar contra mim.
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que
Só poderão vir a mim aqueles que
me enviou, não o trouxer; e eu o
forem trazidos pelo Pai, que me
enviou, e eu os ressuscitarei no último
ressuscitarei no último dia.
dia.
Está escrito nos profetas: E serão
Nos Profetas está escrito: “Todos
todos ensinados por Deus. Portanto,
serão ensinados por Deus.” E todos os
todo aquele que da parte do Pai tem
que ouvem o Pai e aprendem com ele
ouvido e aprendido, esse vem a mim.
vêm a mim.
Não que alguém tenha visto o Pai,
Isso não quer dizer que alguém já
salvo aquele que vem de Deus; este o tenha visto o Pai, a não ser aquele que
tem visto.
vem de Deus; ele já viu o Pai.
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6.60
Em verdade, em verdade vos digo:
quem crê em mim tem a vida eterna.
Eu sou o pão da vida.
Vossos pais comeram o maná no
deserto e morreram.
Este é o pão que desce do céu, para
que todo o que dele comer não pereça.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu;
se alguém dele comer, viverá
eternamente; e o pão que eu darei pela
vida do mundo é a minha carne.
— Eu afirmo a vocês que isto é
verdade: quem crê tem a vida eterna.
Eu sou o pão da vida.
Os antepassados de vocês comeram o
maná no deserto, mas morreram.
Aqui está o pão que desce do céu; e
quem comer desse pão nunca morrerá.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu.
Se alguém comer desse pão, viverá
para sempre. E o pão que eu darei para
que o mundo tenha vida é a minha
carne.
Disputavam, pois, os judeus entre si,
Aí eles começaram a discutir entre si.
dizendo: Como pode este dar-nos a
E perguntavam: — Como é que este
homem pode dar a sua própria carne
comer a sua própria carne?
para a gente comer?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade,
Então Jesus disse: — Eu afirmo a
em verdade vos digo: se não comerdes vocês que isto é verdade: se vocês não
a carne do Filho do Homem e não
comerem a carne do Filho do Homem
beberdes o seu sangue, não tendes vida
e não beberem o seu sangue, vocês
em vós mesmos.
não terão vida.
Quem comer a minha carne e beber o
Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna, e eu o
meu sangue tem a vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia.
ressuscitarei no último dia.
Pois a minha carne é verdadeira
Pois a minha carne é a comida
comida, e o meu sangue é verdadeira
verdadeira, e o meu sangue é a bebida
bebida.
verdadeira.
Quem comer a minha carne e beber o
Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue permanece em mim, e eu,
meu sangue vive em mim, e eu vivo
nele.
nele.
Assim como o Pai, que vive, me
O Pai, que tem a vida, foi quem me
enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai,
enviou, e por causa dele eu tenho a
também quem de mim se alimenta por
vida. Assim, também, quem se
alimenta de mim terá vida por minha
mim viverá.
causa.
Este é o pão que desceu do céu, em
Este é o pão que desceu do céu. Não é
nada semelhante àquele que os vossos
como o pão que os antepassados de
pais comeram e, contudo, morreram;
vocês comeram e mesmo assim
quem comer este pão viverá
morreram. Quem come deste pão
eternamente.
viverá para sempre.
Estas coisas disse Jesus, quando
Jesus disse isso quando estava
ensinava na sinagoga de Cafarnaum.
ensinando na sinagoga de Cafarnaum.
Muitos dos seus discípulos, tendo
Muitos seguidores de Jesus ouviram
ouvido tais palavras, disseram: Duro é isso e reclamaram: — O que ele ensina
é muito difícil! Quem pode aceitar
este discurso; quem o pode ouvir?
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esses ensinamentos?
Mas Jesus, sabendo por si mesmo que
Não disseram nada a Jesus, mas ele
eles murmuravam a respeito de suas
sabia que eles estavam resmungando
palavras, interpelou-os: Isto vos
contra ele. Por isso perguntou: —
Vocês querem me abandonar por
escandaliza?
causa disso?
Que será, pois, se virdes o Filho do
E o que aconteceria se vocês vissem o
Homem subir para o lugar onde
Filho do Homem subir para onde
primeiro estava?
estava antes?
O espírito é o que vivifica; a carne
O Espírito de Deus é quem dá a vida,
para nada aproveita; as palavras que
mas o ser humano não pode fazer isso.
eu vos tenho dito são espírito e são
As palavras que eu lhes disse são
vida.
espírito e vida,
Contudo, há descrentes entre vós. Pois mas mesmo assim alguns de vocês não
Jesus sabia, desde o princípio, quais
crêem. Jesus disse isso porque já sabia
eram os que não criam e quem o havia desde o começo quem eram os que não
iam crer nele e sabia também quem ia
de trair.
traí-lo.
E prosseguiu: Por causa disto, é que
Jesus continuou: — Foi por esse
vos tenho dito: ninguém poderá vir a
motivo que eu disse a vocês que só
mim, se, pelo Pai, não lhe for
pode vir a mim a pessoa que for
concedido.
trazida pelo Pai.
À vista disso, muitos dos seus
Por causa disso muitos seguidores de
discípulos o abandonaram e já não
Jesus o abandonaram e não o
andavam com ele.
acompanhavam mais.
Então, perguntou Jesus aos doze:
Então ele perguntou aos doze
Porventura, quereis também vós outros discípulos: — Será que vocês também
retirar-vos?
querem ir embora?
Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor,
Simão Pedro respondeu: — Quem é
para quem iremos? Tu tens as palavras que nós vamos seguir? O senhor tem
da vida eterna;
as palavras que dão vida eterna!
e nós temos crido e conhecido que tu
E nós cremos e sabemos que o senhor
és o Santo de Deus.
é o Santo que Deus enviou.
Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi
Jesus disse: — Fui eu que escolhi
eu em número de doze? Contudo, um
todos vocês, os doze. No entanto um
de vós é diabo.
de vocês é um diabo!
Referia-se ele a Judas, filho de Simão
Ele estava falando de Judas, filho de
Iscariotes; porque era quem estava
Simão Iscariotes. Pois Judas, embora
fosse um dos doze discípulos, ia trair
para traí-lo, sendo um dos doze.
Jesus.
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