1,42 MB - Embrapa (Alice)

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Nossa capa
... to e às oscilações da temperatura do solo
quando a parte aérea da cultura é removida e, por conseguinte, favorece a brotação dos tubérculos. A presença de palhada na superfície do solo, além de reduzir a incidência dos raios solares, também evita a alternância de temperatura
do solo; na ausência de palhada, o aumento na flutuação da temperatura é
maior próximo à superfície e decresce em
profundidade.
Assim, surge a hipótese de que a dormência existente nos tubérculos encontrados no solo no plantio direto proveniente de milho para grão pode ser causada
pela presença de tubérculos mais velhos
neste sistema de manejo. Também a idade dos tubérculos pode ser outro fator determinante da dormência dos tubérculos
de tiririca, e a proporção de tubérculos
dormentes dentro da população aumenta com a idade. A sobrevivência dos tubérculos sob baixas densidades no solo
depende da probabilidade de morte destes, a qual é esperada aumentar com a idade, devido à perda gradual da integridade
fisiológica.
Outra hipótese pode ser atribuída à
translocação de subdoses do herbicida
sistêmico, utilizado para eliminar a vegetação remascente da cultura anterior,
até os tubérculos, o qual poderá induzir
a dormência destes, principalmente os
mais distantes na cadeia subterrânea. Em
síntese, no plantio direto, a manutenção
da população de tubérculos se reduz a
nível baixo dentro do limite aceito no
Embrapa Soja
Fig. 01
População de tiririca nas culturas de milho e feijão, nos sistemas de plantios convencional
e direto aos 30 DAP: fotos feitas no segundo ano do manejo. Viçosa-MG, 2001
Especialista mostra as
características mais
importantes de vírus
de insetos como
inseticidas biológicos
Fig. 02
Número de tubérculos de tiririca/m2 considerando três profundidades do solo, nos
sistemas de plantios direto e convencional cultivados com milho para grão e silagem:
avaliações do terceiro ano de manejo. Viçosa-MG, 2001.
UFV
População de tiririca em
feijão no sistema de
plantio direto
16
Cultivar
manejo integrado de plantas daninhas, pois
evita multiplicação de seus propágulos em
razão da ausência de distúrbios no solo.
Aliado a isso, o uso de cultivos sucessivos
e de práticas culturais que permitem o
manejo da luminosidade, como adoção de
cultivares de crescimento inicial rápido e
com altos índices de área foliar, é fator essencial para os resultados obtidos. É importante salientar que a aplicação do herbicida sistêmico (glyphosate ou sulfosate)
deve ser feita quando as plantas de tiririca
apresentam ótimo desenvolvimento vegetativo e alta atividade metabólica, porém
antes do florescimento, para que estes herbicidas sejam translocados com eficiência
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por todas as partes da planta, principalmente para a subterrânea.
Com base nesta pesquisa, conclui-se
que com a adoção do sistema de plantio
direto, utilizando herbicidas sistêmicos
para dessecação, aplicados no momento
correto, aliado ao controle cultural, consegue-se ótimo manejo integrado da tiririca,
transformando esta espécie daninha extremamente problemática em uma espécie
.
comum.
Antônio Alberto da Silva,
A.Jakelaitis e
L.R. Ferreira,
UFV
Junho de 2002
E
Inseto como
inseticida?
xistem atualmente 16 famílias
de vírus patogênicos a artrópodes, principalmente a insetos
(Murphy et al. 1995, Ribeiro et al. 1998).
Três famílias (Baculoviridae, Poxviridae e
Reoviridae) possuem uma importante característica em comum: o fato de as partículas virais estarem inseridas em corpos
protéicos, denominadas de corpos protéicos de inclusão (CPI). Dentre as famílias
associadas a insetos, a Baculoviridae, presentemente dividida em dois gêneros, os
Nucleopolyhedrovirus (vírus de poliedrose
nuclear – VPN) e os Granulovirus (vírus
de granulose – VG), tem sido a mais estudada e desenvolvida como inseticidas microbianos (Moscardi 1999). Esse fato é
Junho de 2002
devido aos atributos dos baculovírus, que
normalmente tornam esses agentes mais
adequados para uso como inseticidas microbianos que os demais vírus associados
a insetos.
Por outro lado, o grupo dos baculovírus e outros vírus associados a insetos apresentam diferenças importantes em relação
aos outros grupos de entomopatógenos
(fungos, bactérias, protozoários e nematóides), que tornam as estratégias para seu
uso em programas de manejo integrado de
pragas bastante distintos em vários aspectos. Os baculovírus e os outros vírus de
insetos, diferentemente dos fungos e nematóides, geralmente, não têm a cutícula
do inseto como a rota principal para penewww.cultivar.inf.br
tração e infecção do hospedeiro. Entretanto, os baculovírus agem preferencialmente
por ingestão, a exemplo dos protozoários
(principalmente Microsporídia) e bactérias. Também, os vírus de insetos não produzem toxinas, como a bactéria Bacillus
thuringiensis. Além disso, não possuem a
capacidade de busca do hospedeiro, como
vários nematóides e alguns poucos fungos.
Embora o enfoque deste trabalho seja voltado aos atributos desejáveis de vírus de
insetos, principalmente dos baculovírus,
como inseticidas biológicos, é importante
discutir este aspecto em relação a outras
estratégias disponíveis para o emprego de
vírus no controle de pragas, uma vez que
os atributos de cada grupo de vírus (viruCultivar
...
17
... lência, rapidez para provocar mortalidade,
espectro de hospedeiros, persistência, suscetibilidade a fatores abióticos, modo de
infecção, forma de transmissão e disseminação, distribuição e densidade populacional etc), que combinados com as características da população do inseto hospedeiro, do agroecossistema considerado
(anual, perene etc.), bem como outras práticas de controle utilizadas (cultural, química etc.), devem auxiliar na determinação da estratégia mais adequada para seu
uso.
USO DE VÍRUS DE INSETOS
Não se deve esperar que um determinado entomopatógeno tenha desempenho
excelente como um inseticida microbiano,
se suas características naturais intrínsecas
e extrínsecas não evoluíram para tal. Portanto, as informações referentes a cada
entomopatógeno devem ser obtidas em
detalhe, com relação as suas características e aos fatores que determinam sua prevalência em um determinado inseto hospedeiro e como um determinado entomopatógeno se encaixa em uma ou mais estratégias para seu uso no controle de pragas. Basicamente, há quatro estratégias
para o uso de vírus de insetos e outros entomopatógenos: 1. Introdução e Colonização (controle biológico clássico); 2. Manipulação do Ambiente (visando conservar ou aumentar a ocorrência natural); 3.
Aumento Inoculativo (aplicação visando
multiplicação posterior de um determinado vívus na população do inseto visado); e
4. Aumento Inundativo Inseticida Microbiano (aplicação realizada conforme a necessidade para manter a população da praga abaixo do nível de dano econômico).
Estudos de modelagem indicam que os
entomopatógenos mais adequados para
introdução e colonização devem apresentar virulência moderada ao hospedeiro, boa
transmissão (horizontal e vertical), alta
produção de propágulos infectivos e boa
persistência no ambiente. Encaixam-se
nesse grupo vários baculovírus, os reoviridae e os poxviridae. Por possuírem corpos
de inclusão protéico, que conferem maior
proteção às partículas virais contra fatores
abióticos e bióticos que os vírus de partículas livres, esses vírus tendem a apresentar maior persistência no ambiente, principalmente no solo. Persistência, alta produção de propágulos e boa disseminação
são também importantes para técnicas que
visem a manipulação do ambiente para
manter ou aumentar a ocorrência natural
de vírus ou o aumento através de liberações inoculativas.
Os vírus de poliedrose citoplasmática
(Reoviridae), os entomopoxvírus (Poxviridae) e a maioria dos vírus de partículas livres causam, geralmente, infecções crônicas em insetos e, portanto, não se enquadram para uso como inseticidas microbianos, mas sim em uma das outras estratégias. Por outro lado, vírus destinados a serem aplicados como inseticidas microbianos devem ser altamente virulentos ao
hospedeiro, visando manter sua população
abaixo do nível de dano econômico, sendo
que uma elevada taxa de multiplicação (reciclagem) e transmissão (horizontal e vertical) não tem a mesma importância que
no caso das outras estratégias de uso (Fuxa
1987). Entretanto, se um baculovírus além
de ser eficiente para reduzir a população
do inseto hospedeiro também apresenta
boa capacidade de reciclagem (produção e
disseminação), esse atributo será importante, pois ele deve resultar em um menor
número de aplicações contra o inseto visado, quando comparado com inseticidas
Fotos Embrapa Soja
dução seja baixo, a quantidade produzida
cada ano pode variar bastante em função
do nível populacional do hospedeiro e influência de fatores climáticos e bióticos
(ocorrência de outros inimigos naturais
etc.). Dessa forma, a possibilidade de poder produzir um baculovírus massalmente em laboratório a custo competitivo, através de métodos mais eficientes é uma necessidade, uma vez que a produção comercial desses agentes in vitro, em bioreatores
utilizando-se células de insetos, ainda esbarra em problemas técnicos e econômicos, apesar do avanço que se tem obtido
recentemente nessa área.
CARACTERÍSTICAS
Vírus de insetos podem
ser usados como
inseticidas
químicos (Moscardi 1999).
Os baculovírus têm sido o grupo que
mais se adapta ao uso como inseticidas microbianos, devido a sua alta virulência,
embora a sua alta especificidade e ação relativamente lenta sobre o hospedeiro sejam considerados fatores que têm limitado o uso desses agentes. Por isso, várias
iniciativas de engenharia genética têm sido
realizadas visando desenvolver produtos a
base de baculovírus (principalmente
VPNs), com o objetivo de matar o hospedeiro mais rapidamente (através da ação
de toxinas expressas por vírus modificados
geneticamente), fazendo, também, com
que a capacidade alimentar do inseto seja
reduzida. No entanto, ao se resolver os problemas mencionados através da engenharia genética, certamente o baculovírus resultante será aplicado mais vezes contra o
inseto hospedeiro que o vírus selvagem,
numa determinada safra, pois sua capacidade de reciclagem no ambiente é consideravelmente reduzida (menor número de
poliedros produzido por larva infectada)
(ver revisões de Bonning & Hammock
1996 e Moscardi 1999).
OUTROS ATRIBUTOS
A alta especificidade, um atributo importante dos baculovírus, considerando
seu uso em programas de manejo integrado de pragas, pode ser também um fator
que limita seu uso em culturas com diferentes insetos importantes ocorrendo simultaneamente. A possibilidade de produção econômica, em escala comercial, tem
sido possível apenas in vivo, tanto em insetos criados em dieta artificial em laboratório como em condições de campo (ex.
baculovírus da lagarta-da-soja, Anticarsia
Há diversas estratégias para
o uso de vírus de insetos como
inseticidas
18
Cultivar
www.cultivar.inf.br
Junho de 2002
gemmatalis – VPNAg). No entanto, no primeiro caso a produção de diferentes baculovírus é onerosa, pelo custo de ingredientes de dieta, equipamentos, mão-de-obra
etc. Já em campo, embora o custo de pro-
Os atributos de um determinado vírus
para uso como inseticida microbiano ou
para uso de acordo com as outras estratégias já mencionadas deve ser analisado,
também, no contexto das características do
hospedeiro e do agroecossistema considerado. Insetos com crescimento populacional do tipo r são controlados, geralmente,
por entomopatógenos cuja ação é rápida
(devido ao efeito de toxinas – ex. B. thuringiensis). Alguns baculovírus, embora de
ação menos rápida que B. thuringiensis,
podem ser utilizados contra pragas do tipo
r (crescimento populacional rápido e várias gerações), se o nível de dano econômico
estabelecido para a praga for alto, aliado à
aplicação numa fase inicial do crescimento populacional do inseto, para evitar dano
econômico pelo hospedeiro. Por outro lado,
as estratégias de aumento inoculativo e de
introdução geralmente são mais apropriadas para o controle de pragas do tipo K
(crescimento populacional lento e uma ou
poucadas gerações) e um vírus do tipo K
(lento, de infecção crônica, mas com persistência na população do hospedeiro – boa
transmissão vertical e horizontal etc., como
VPCs, EPVs, etc.). Também, as pragas com
crescimento populacional do tipo intermediário (r baixo), são as mais adequadas para
controle com vírus de ação intermediária
(lenta), incluindo vários baculovírus. Entretanto, um determinado vírus pode ser
utilizado nas quatro estratégias mencionadas, com base em cada caso e nas características da praga e do ecossistema onde o
patógeno será introduzido ou aplicado.
Outros fatores importantes relacionados ao
hospedeiro que devem ser considerados vis
a vis com os atributos de cada vírus são: a)
Composição populacional; b) Densidade e
...
... lência, rapidez para provocar mortalidade,
espectro de hospedeiros, persistência, suscetibilidade a fatores abióticos, modo de
infecção, forma de transmissão e disseminação, distribuição e densidade populacional etc), que combinados com as características da população do inseto hospedeiro, do agroecossistema considerado
(anual, perene etc.), bem como outras práticas de controle utilizadas (cultural, química etc.), devem auxiliar na determinação da estratégia mais adequada para seu
uso.
USO DE VÍRUS DE INSETOS
Não se deve esperar que um determinado entomopatógeno tenha desempenho
excelente como um inseticida microbiano,
se suas características naturais intrínsecas
e extrínsecas não evoluíram para tal. Portanto, as informações referentes a cada
entomopatógeno devem ser obtidas em
detalhe, com relação as suas características e aos fatores que determinam sua prevalência em um determinado inseto hospedeiro e como um determinado entomopatógeno se encaixa em uma ou mais estratégias para seu uso no controle de pragas. Basicamente, há quatro estratégias
para o uso de vírus de insetos e outros entomopatógenos: 1. Introdução e Colonização (controle biológico clássico); 2. Manipulação do Ambiente (visando conservar ou aumentar a ocorrência natural); 3.
Aumento Inoculativo (aplicação visando
multiplicação posterior de um determinado vívus na população do inseto visado); e
4. Aumento Inundativo Inseticida Microbiano (aplicação realizada conforme a necessidade para manter a população da praga abaixo do nível de dano econômico).
Estudos de modelagem indicam que os
entomopatógenos mais adequados para
introdução e colonização devem apresentar virulência moderada ao hospedeiro, boa
transmissão (horizontal e vertical), alta
produção de propágulos infectivos e boa
persistência no ambiente. Encaixam-se
nesse grupo vários baculovírus, os reoviridae e os poxviridae. Por possuírem corpos
de inclusão protéico, que conferem maior
proteção às partículas virais contra fatores
abióticos e bióticos que os vírus de partículas livres, esses vírus tendem a apresentar maior persistência no ambiente, principalmente no solo. Persistência, alta produção de propágulos e boa disseminação
são também importantes para técnicas que
visem a manipulação do ambiente para
manter ou aumentar a ocorrência natural
de vírus ou o aumento através de liberações inoculativas.
Os vírus de poliedrose citoplasmática
(Reoviridae), os entomopoxvírus (Poxviridae) e a maioria dos vírus de partículas livres causam, geralmente, infecções crônicas em insetos e, portanto, não se enquadram para uso como inseticidas microbianos, mas sim em uma das outras estratégias. Por outro lado, vírus destinados a serem aplicados como inseticidas microbianos devem ser altamente virulentos ao
hospedeiro, visando manter sua população
abaixo do nível de dano econômico, sendo
que uma elevada taxa de multiplicação (reciclagem) e transmissão (horizontal e vertical) não tem a mesma importância que
no caso das outras estratégias de uso (Fuxa
1987). Entretanto, se um baculovírus além
de ser eficiente para reduzir a população
do inseto hospedeiro também apresenta
boa capacidade de reciclagem (produção e
disseminação), esse atributo será importante, pois ele deve resultar em um menor
número de aplicações contra o inseto visado, quando comparado com inseticidas
Fotos Embrapa Soja
dução seja baixo, a quantidade produzida
cada ano pode variar bastante em função
do nível populacional do hospedeiro e influência de fatores climáticos e bióticos
(ocorrência de outros inimigos naturais
etc.). Dessa forma, a possibilidade de poder produzir um baculovírus massalmente em laboratório a custo competitivo, através de métodos mais eficientes é uma necessidade, uma vez que a produção comercial desses agentes in vitro, em bioreatores
utilizando-se células de insetos, ainda esbarra em problemas técnicos e econômicos, apesar do avanço que se tem obtido
recentemente nessa área.
CARACTERÍSTICAS
Vírus de insetos podem
ser usados como
inseticidas
químicos (Moscardi 1999).
Os baculovírus têm sido o grupo que
mais se adapta ao uso como inseticidas microbianos, devido a sua alta virulência,
embora a sua alta especificidade e ação relativamente lenta sobre o hospedeiro sejam considerados fatores que têm limitado o uso desses agentes. Por isso, várias
iniciativas de engenharia genética têm sido
realizadas visando desenvolver produtos a
base de baculovírus (principalmente
VPNs), com o objetivo de matar o hospedeiro mais rapidamente (através da ação
de toxinas expressas por vírus modificados
geneticamente), fazendo, também, com
que a capacidade alimentar do inseto seja
reduzida. No entanto, ao se resolver os problemas mencionados através da engenharia genética, certamente o baculovírus resultante será aplicado mais vezes contra o
inseto hospedeiro que o vírus selvagem,
numa determinada safra, pois sua capacidade de reciclagem no ambiente é consideravelmente reduzida (menor número de
poliedros produzido por larva infectada)
(ver revisões de Bonning & Hammock
1996 e Moscardi 1999).
OUTROS ATRIBUTOS
A alta especificidade, um atributo importante dos baculovírus, considerando
seu uso em programas de manejo integrado de pragas, pode ser também um fator
que limita seu uso em culturas com diferentes insetos importantes ocorrendo simultaneamente. A possibilidade de produção econômica, em escala comercial, tem
sido possível apenas in vivo, tanto em insetos criados em dieta artificial em laboratório como em condições de campo (ex.
baculovírus da lagarta-da-soja, Anticarsia
Há diversas estratégias para
o uso de vírus de insetos como
inseticidas
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Cultivar
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Junho de 2002
gemmatalis – VPNAg). No entanto, no primeiro caso a produção de diferentes baculovírus é onerosa, pelo custo de ingredientes de dieta, equipamentos, mão-de-obra
etc. Já em campo, embora o custo de pro-
Os atributos de um determinado vírus
para uso como inseticida microbiano ou
para uso de acordo com as outras estratégias já mencionadas deve ser analisado,
também, no contexto das características do
hospedeiro e do agroecossistema considerado. Insetos com crescimento populacional do tipo r são controlados, geralmente,
por entomopatógenos cuja ação é rápida
(devido ao efeito de toxinas – ex. B. thuringiensis). Alguns baculovírus, embora de
ação menos rápida que B. thuringiensis,
podem ser utilizados contra pragas do tipo
r (crescimento populacional rápido e várias gerações), se o nível de dano econômico
estabelecido para a praga for alto, aliado à
aplicação numa fase inicial do crescimento populacional do inseto, para evitar dano
econômico pelo hospedeiro. Por outro lado,
as estratégias de aumento inoculativo e de
introdução geralmente são mais apropriadas para o controle de pragas do tipo K
(crescimento populacional lento e uma ou
poucadas gerações) e um vírus do tipo K
(lento, de infecção crônica, mas com persistência na população do hospedeiro – boa
transmissão vertical e horizontal etc., como
VPCs, EPVs, etc.). Também, as pragas com
crescimento populacional do tipo intermediário (r baixo), são as mais adequadas para
controle com vírus de ação intermediária
(lenta), incluindo vários baculovírus. Entretanto, um determinado vírus pode ser
utilizado nas quatro estratégias mencionadas, com base em cada caso e nas características da praga e do ecossistema onde o
patógeno será introduzido ou aplicado.
Outros fatores importantes relacionados ao
hospedeiro que devem ser considerados vis
a vis com os atributos de cada vírus são: a)
Composição populacional; b) Densidade e
...
Cana-de-açúcar
...distribuição; e c) Comportamento (caniba-
lismo, hábito gregário ou não, alimentação
em locais protegidos etc.) (Fuxa 1987).
Em relação às características do ecossistema (culturas anuais e perenes, florestas), que mais afetam o sucesso do uso de
um determinado vírus, considerando o
patógeno e o hospedeiro, estas estão relacionadas com: a) Fatores ambientais, como
os abióticos (temperatura, umidade, precipitação, radiação solar, tipo de solo, pH
do substrato, substâncias antimicrobianas
etc.), e os bióticos (população do hospedeiro, planta atacada pelo inseto alvo, predadores e parasitóides, pássaros, outros
microrganismos etc.). Os primeiros afetam,
principalmente, a suscetibilidade do hospedeiro, persistência do vírus, transmissão,
disseminação e produção de propágulos e,
os segundos, afetam o ciclo, disseminação,
transmissão e persistência do patógeno.
Esses fatores podem ser manipulados para
favorecer uma maior eficiência do patógeno
to (Moscardi 1999); c) Complexos de pragas e
inimigos naturais. Como já discutido, embora
a alta especificidade de baculovírus seja um
fator importante em programas de MIP, essa
característica se torna desfavorável em uma
cultura onde haja um complexo de pragas importantes ocorrendo simultaneamente.
Nesse caso, deve-se procurar utilizar a estratégia de introdução e colonização, para que
o vírus introduzido possa contribuir com
mortalidade adicional àquela já proporcionada por outros inimigos naturais no sistema;
d) Tipos de ecossistemas. Em florestas e pastagens, consideradas mais estáveis, as estratégias de introdução, colonização e a de aumento
inoculativo são consideradas as mais adequadas, sendo que, em alguns casos, as de aumento inundativo (inseticida microbiano) e
de manipulação ambiental podem também ser
utilizadas nesses sistemas. Já em sistemas instáveis, como é o caso de culturas anuais, geralmente apenas os vírus de ação mais rápida,
como alguns baculovírus utilizados como in-
2. Esse vírus apresenta boa transmissão
horizontal na população do hospedeiro por
fatores abióticos (ex. precipitação) e bióticos
(parasitóides e predadores);
3. Sua persistência no solo de uma safra
para outra é muito boa, principalmente em
sistemas de plantio direto de soja;
4. A lagarta-da-soja, como desfolhador, é
exposta continuamente após a aplicação do
VPNAg, ingerindo rapidamente uma dose letal do patógeno, contrariamente a insetos de
hábitos cripticos (minadores, brocas, etc.) mais
difíceis de controlar por produtos virais, os
quais devem ser ingeridos para provocar mortalidade;
5. A lagarta-da-soja, na maioria das regiões de cultivo de soja no Brasil, é o principal
inseto desfolhador de soja, não havendo outras pragas de ocorrência simultânea que demandem controle. Neste caso, um produto
tão específico como o VPNAg pode ser empregado durante a sua ocorrência na cultura,
pois, na maioria das regiões, é a praga que de-
IAC
Roberto Arevalo
defende que é preciso
haver uma visão
holística do manejo,
sustentável de
matospécies em cana
Invasoras
na cana
Embrapa Trigo
N
Mariposa que
se transformará em
lagarta-da-soja
ou para aumentá-lo no meio ambiente (ex.
protetores em formulações contra a desativação por raios UV, aplicação ao entardecer, uso
de substâncias que potencializam a atividade
viral etc.); b) Disponilidade de níveis de ação
para a praga visada na cultura hospedeira. Os
níveis de ação (com base em níveis populacionais e de dano do inseto, em relação à redução potencial da produtividade da planta hospedeira) para a aplicação de inseticidas não se
aplicam, geralmente, para patógenos de ação
relativamente lenta, como é o caso dos baculovírus, utilizados como inseticidas microbianos. Um exemplo é o programa de uso do
VPN da lagarta da soja no Brasil, que recomenda um nível de ação para sua aplicação
diferente daquele utilizado para o uso de inseticidas químicos, para o controle desse inse20
Cultivar
seticidas microbianos, podem competir com
os inseticidas químicos.
RAZÕES DO SUCESSO DO USO DO VPN
Em função do que foi exposto acima sobre os atributos desejáveis de vírus de insetos,
considerando as características do inseto hospedeiro e do ecossistema em questão, é importante mencionar a conjunção favorável
desses fatores para que o uso do VPN de
Anticarsia gemmatalis (VPNAg) da lagarta-dasoja no Brasil se constitua, há vários anos, no
maior programa mundial de uso de um vírus
de inseto e também de uso de um entomopatógeno para o controle de uma espécie de praga em uma única cultura (Moscardi 1999):
1. O VPNAg é altamente virulento a larvas de A. gemmatalis;
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manda medidas de controle;
6. A soja tolera altos níveis de lagartas e de
desfolha (30 a 40%) alto nível de ação, sem
perda de rendimento de grãos (kg/ha), o que
favorece o uso de um produto biológico como
o VPNAg. O mesmo não ocorre quando uma
baixa população de insetos em uma determinada cultura causa dano econômico (baixo nível de ação), desfavorecendo o uso de inseticidas virais como inseticidas microbianos;
7. Outros fatores relativos ao sucesso do
uso do VPNAg no Brasil, não inerentes às
características do vírus, do hospedeiro e do
agroecossistema, são discutidos por Moscardi
(1999).
Flávio Moscardi,
Embrapa Soja
Junho de 2002
o mundo, a cana-de-açúcar é
cultivada em 19.904.000 ha
(FAO, 1998). Isto representa
uma enorme monocultura, onde não existe
biodiversidade, por isso ocorre uma grande
instabilidade ambiental, que exige constante
intervenção humana com mecanização, fertilizantes defensivos e fogo, para manter a produtividade (AREVALO & BERTONCINI,
1999). A monocultura extingue a biodiversidade, desertizando a vida e concretizando o
silêncio da alvorada da primavera de CARSON (1962). Como conseqüência, aumentam os rendimentos, embora se contamine o
ambiente com resíduos de defensivos, fertilizantes, resíduos industriais e com gases, que
contribuem para o E.E.- Efeito Estufa, e destruição da Camada de Ozônio, com alteração
do clima da Terra.
Por outra parte, se soma a poluição ambiental gerada pelas emissões de gases para a
atmosfera, resultantes das queimadas de flora, material vegetativo de plantas cultivadas e
outro organismos associados.
A agricultura mundial é uma imensa área
Junho de 2002
de mais de 1.500 milhões de ha, onde se cultivam apenas umas 70 espécies de plantas. Isto
representa um verdadeiro desastre ecológico.
Ao redor de 65% da área cultivada com
cana-de-açúcar é mundialmente queimada. A
queima de material orgânico, praticamente
contribui com todos os gases que provocam
E.E., com aquecimento global da atmosfera
da Terra. Isto derruba o argumento de que o
CO2 emitido nas queimadas da cana é imediatamente absorvido pela cultura e, pelo tanto, não prejudica a atmosfera. E os outros gases emitidos nas queimadas, para onde vão?
É importante mencionar aqui, que o CO2
é responsável por 50% dos gases que provocam E.E. As queimadas da cana, suma-se as
queimadas de combustíveis fósseis pelos motores de explosão dos veículos, maquinarias e
industrias, que contribuem com 5 dos 6 gases
que causam E.E. Também a combustão do
álcool contribui com CO2 atmosférico. Embora, o álcool é 5 vezes menos poluente que
os combustíveis fósseis. Além de ser energia
solar acumulada e renovável na fotossíntese.
As matospecies são as únicas pragas conswww.cultivar.inf.br
tantes da agricultura. Na América Latina costumam erradamente denominar pragas somente quando se trata de insetos, que atacam
as culturas. Quando o termo praga, é clássico
puro, do Latim, “plaga”. Praga é tudo o que
prejudica os interesses do homem. Isto criou
nas universidades e institutos de pesquisas a
disciplina de departamento de doenças e pragas, como se fossem coisas diferentes. É um
erro intolerável, especialmente quando se trata da elite do conhecimento.
A matoconvivência com a lavoura ocasiona perdas no rendimento potencial da cultura da cana superior às outras pragas juntas
(insetos, nematoides, organismos fitopagênicos, roedores, etc). As perdas no rendimento
potencial da cultura são de aproximadamente
10% nos países desenvolvidos e mais de 30%
em países de economia emergente.
Assim, para solucionar o problema da
matoinfestação, tem sido recomendado o uso
de herbicidas, que foram intensificados de
sobre maneiras, durante a chamada Revolução Verde dos anos 70 e 80. Quando houve
aumento exagerado no uso do matocontrole
Cultivar
...
21
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