FUNDAMENTOS DA ECONOMIA ___________________________________________ Bibliografia SOUZA, N. J. Curso de economia. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2003 Aula 1 1.1 QUESTÕES BÁSICAS DA ECONOMIA 1.1.1 Definição, divisões e natureza da Economia O termo economia origina-se das palavras gregas oikos (casa) e nomos (normas). Na Grécia antiga, Economia significava a arte de bem administrar o lar, levando-se em conta a renda familiar e os gastos efetuados, durante um período. Em seu tratado Ho Oikonomikos, Xenofonte (43 1-355 a. C.) ensinou as regras básicas para a administração de uma casa, para a caça, pesca, agricultura e o manejo dos escravos. Posteriormente, as normas relativas à administração do lar e das terras de um senhor em particular foram estendidas à polis (cidade-estado). Modernamente, define-se Economia como a ciência que estuda o emprego de recursos escassos, entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados, seja na produção de bens, ou na prestação de serviços. Os recursos escassos são os bens e serviços empregados na produção, mediante uma tecnologia conhecida, para a produção de outros bens e serviços de maior valor total e destinados a atender a demanda. Os usos são alternativos, porque os fatores e as matérias-primas podem ser utilizados para produzir mais estradas ou mais escolas, mais canhões ou mais tratores. A produção de todos os bens não pode ser aumentada ao mesmo tempo, no curto prazo, porque os recursos são limitados. Os bens produzidos, como alimentos, vestuário, estradas, máquinas e os serviços prestados à população, como os ligados à saúde, educação e lazer, atendem as necessidades do indivíduo que, por definição, são ilimitadas, ao passo que a oferta dos bens e serviços que compõem sua cesta de consumo é escassa. Além disso, o consumidor só pode comprar todos os bens que deseja até o limite de sua renda. Portanto, a Economia estuda as atividades econômicas cujas operações envolvem o emprego de moeda e a troca entre indivíduos, empresas e órgãos públicos. Ela enfoca, de um lado, o comportamento das empresas, que procuram produzir de modo mais eficiente, reduzindo custos, sem perder qualidade, a fim de obter os melhores resultados, ou lucro. De outro lado, ela avalia o comportamento dos consumidores, tendo em vista os preços, a renda de que dispõem e a oferta de bens e serviços no mercado. A expressão Economia Política era utilizada pelos economistas clássicos preferencialmente ao termo Economia. Com a análise marxista, a Economia Política passou a ter maior amplitude, com ênfase no estudo das relações sociais de produção, no sentido de luta de classes entre capitalistas e trabalhadores. Com a consolidação da análise neoclássica, a partir de 1870, a expressão Economia Política passou a ser usada de preferência no contexto da análise marxista. Com a análise neoclássica, permaneceu o termo Economia. Nesta última abordagem, em seu aspecto Prof. Drd. Marcos Rambalducci 1 FUNDAMENTOS DA ECONOMIA ___________________________________________ teórico e positivo, predomina uma visão mais técnica do sistema econômico. As implicações sociais e políticas da Economia ficam reservadas para sua subdivisão política econômica. A Economia moderna, portanto, pode ser dividida em Economia Descritiva, Teoria Econômica e Economia Aplicada. A Economia Descritiva estuda fatos particularizados, sem lançar mão de análise teórica, como estudos sobre a indústria petroquímica brasileira, a agricultura dos cerrados ou a economia informal da cidade de Salvador. Ela utiliza, basicamente, dados empíricos e análise comparativa. A Teoria Econômica analisa, de forma simplificada, o funcionamento de um sistema econômico, utilizando um conjunto de suposições e hipóteses acerca do mundo real, procurando obter as leis que o regulam. Ela divide-se em dois grandes grupos: a) Microeconomia, que trata do comportamento das firmas e dos indivíduos ou famílias, preocupando-se com a formação dos preços e o funcionamento do mercado de cada produto individual; b) Macroeconomia, que diz respeito aos grandes agregados nacionais, estuda o funcionamento do conjunto da economia de um país, envolvendo o nível geral dos preços, formação da renda nacional, mudanças na taxa de desemprego, taxa de câmbio, balanço de pagamentos etc. Por meio do estudo do comportamento dessas variáveis macroeconômicas, as autoridades econômicas estabelecem políticas monetárias, fiscais, cambiais, taxa de juro etc., visando influenciar o nível da atividade econômica, para que se mantenha em uma situação de equilíbrio, ou em direção às metas estabelecidas. As decisões do nível macroeconômico têm suas repercussões no equilíbrio microeconômico do mercado. Da mesma forma, o comportamento dos consumidores e das firmas reflete-se no nível agregado, influenciando variáveis macroeconômicas. A Economia Aplicada, por sua vez, utiliza “a estrutura geral de análise fornecida pela Teoria Econômica, para explicar as causas e o sentido das ocorrências relatadas pela Economia Descritiva” (Stonier & Hague, 1967, p. 1). Como exemplo de Economia Aplicada, tem-se as disciplinas de Economia do Meio Ambiente, Economia do Setor Público, Desenvolvimento Econômico etc. Em síntese, a Economia estuda a utilização dos recursos escassos, escolhendo entre usos alternativos, com o fim de produzir bens e serviços úteis para a satisfação das necessidades dos consumidores. 1.1.2 Os problemas econômicos fundamentais O problema econômico fundamental consiste, em primeiro lugar, em decidir o que produzir e em quais quantidades. Sendo os recursos produtivos limitados, como mão-deobra especializada (engenheiros, técnicos de nível médio, ferramenteiros, torneiros etc.), matérias-primas, capital fixo (máquinas, equipamentos, prédios, estradas, portos), capital financeiro para pagar os trabalhadores e adquirir matérias-primas, terras férteis para a agricultura e empresários dispostos a arriscar seus recursos no setor produtivo, e as Prof. Drd. Marcos Rambalducci 2 FUNDAMENTOS DA ECONOMIA ___________________________________________ necessidades humanas ilimitadas, a sociedade precisa decidir qual será a composição dos bens e serviços que naquele período será produzido e em quais quantidades. Além da expectativa de obter lucro, a escolha de um empreendedor em produzir prédios ou produzir alimentos, armas ou medicamentos depende do conhecimento que ele tem do mercado, de seu acesso à tecnologia e da tradição familiar. Do ponto de vista da sociedade, a escolha do que produzir está relacionada com as opções de política econômica dos dirigentes. A sociedade pode desejar mais usinas hidrelétricas e mais estradas, ou maior produção de grãos e habitações populares. Em segundo lugar, vem a questão de como produzir, que diz respeito à tecnologia. O conhecimento tecnológico pode ser comprado de outros países, mediante o pagamento de direitos (royalties). Para descobrir novos produtos e processos de produção novos ou aperfeiçoados, as empresas investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Geralmente, os países menos desenvolvidos investem menos em P&D, por insuficiência de recursos técnicos e financeiros, preferindo importar técnicas conhecidas em outros países. A decisão de como produzir implica a escolha das técnicas, o que, mais uma vez, envolve a questão dos preços dos recursos. Se a mão-de-obra for barata e o custo do capital elevado, as empresas tenderão a utilizar mais trabalho (L, de labor) e menos capital (K), isto é, o processo de produção será mais manual e menos mecanizado. Nesse caso, diz-se que as técnicas são de trabalho intensivo. Inversamente, nos países desenvolvidos, em que os salários são elevados e os direitos sociais dos trabalhadores mais amplos, as empresas tendem a mecanizar em massa o setor produtivo. Outra tendência dessas empresas é produzir alguns tipos de bens nos países em desenvolvimento, com mão-de-obra barata. Elas continuam produzindo, em seus países, os produtos que exigem alta dose de capital; diz-se que elas empregam alta relação K/L (capital intensivo), implicando o emprego de máquinas sofisticadas e robôs. A robotização está sendo empregada também em países em desenvolvimento, como o Brasil, principalmente na indústria automobilística. A explicação é a de que, com a globalização da produção em nível mundial, as empresas precisam reduzir custos, para poder competir. Entretanto, a robotização também é empregada em operações perigosas, como é o caso da Petrobrás, na prospecção de petróleo em águas profundas. Em terceiro lugar, a decisão para quem produzir é tomada pelas empresas, em função da expectativa de realizar lucro. Com esse objetivo, elas escolhem os consumidores que desejam abastecer com bens e serviços, conforme as diferentes classes de renda a que pertencem. Por exemplo, uma empresa do ramo da construção civil pode escolher entre construir prédios de luxo para a classe A, ou prédios mais modestos para a classe média, ou, ainda, uma combinação desses dois tipos de obra. Do ponto de vista privado, a escolha envolve sempre a expectativa de maximizar lucros e a disponibilidade de recursos e de tecnologia. Prof. Drd. Marcos Rambalducci 3