Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 CONVERSAS SOBRE SAÚDE, DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS E VACINAS Maryah Bravo Gonçalves (Departamento de Ciências, Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Bolsista PIBID) Valéria Ignacio de Miranda (DCIEN, FFP, UERJ – Bolsista PIBID) Viviane de Mendonça Soares (CIEP 410 Patrícia Rendler Galvão Pagu – Supervisora/Bolsista PIBID) Tatiana Galieta (DCIEN, FFP, UERJ – Coordenadora/Bolsista PIBID) RESUMO Esse trabalho traz um relato de uma atividade desenvolvida com alunos de um colégio estadual, localizado no município de São Gonçalo, RJ, no âmbito do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID). Nosso objetivo foi informar os alunos sobre o vírus do Papilomavírus Humano (HPV) e sensibilizá-los através de uma palestra que teve como recurso a utilização de projetor para exibição de vídeos e slides. Foram levantadas as principais dúvidas em relação à transmissão da doença pelo HPV, a vacina que o Ministério da Saúde brasileiro está disponibilizando para adolescentes entre 9 e 13 anos e formas de prevenção que foram esclarecidas no decorrer da palestra. A avaliação da atividade levou-nos a considerar que este assunto precisa receber mais atenção nas salas de aula de ciências. Palavras-chave: Saúde, DST, Vacinas, HPV, Ensino de Ciências. Introdução Atualmente a educação em saúde tenta sensibilizar os alunos para que melhorem sua qualidade de vida além da questão biológica. Dentro da educação em saúde podemos inserir a Educação Sexual que tem o objetivo de levar aos alunos esclarecimentos sobre sexo, gravidez, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis (DST). No tema das doenças sexualmente transmissíveis está inserido o Papiloma Vírus Humano que é perigoso e pode se tornar um câncer de colo de útero em mulheres, por exemplo. As alunas devem ficar atentas para o prazo da vacina que está sendo aplicado contra o HPV em meninas de 9 a 13 anos. A atividade realizada no CIEP 410 – Patrícia Rendler Galvão Pagu consistiu em uma palestra sobre o papiloma vírus humana (HPV) com os discentes do segundo ciclo do Ensino Fundamental até o terceiro ano do Ensino Médio. Aconteceu também uma oficina de 5766 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 reciclagem e alimentação saudável neste mesmo sábado letivo que não serão relatadas no presente trabalho. Saúde e a Educação em Saúde A educação em saúde dentro do ensino de ciências tem por função, entre outras, sensibilizar os alunos na fase de adolescência sobre os riscos de várias doenças, assim como a transmissão do Papilomavírus humano (HPV) para que eles tenham uma melhoria na sua qualidade de vida e não cheguem a se infectarem. Podem ser utilizados recursos como palestras, jogos didáticos e depoimentos de pacientes que passaram por tratamentos, de profissionais da área de saúde para que os jovens conheçam os aspectos biológicos e sociais dentre outros desta problemática. Ao serem utilizadas essas metodologias podemos esclarecer aos jovens sobre os riscos de uma vida sexual precoce e sem prevenção. Desde 1998 os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tratam a Orientação Sexual e a Saúde como temas transversais, ou seja, devem ser abordados de forma interdisciplinar em todos os ciclos de escolarização (BRASIL, 1998). Segundo a Organização Mundial da Saúde, descreve saúde com uma noção mais ampla: “saúde é o estado de mais completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade”. Avanços na conceituação de saúde foram feitos durante a I Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários de Saúde em 1978 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em colaboração com o Fundo das Nações Unidas para a infância (Unicef). Avanços na conceituação da saúde passam a relacionar aspectos psicológicos, ambientais e sociais, que então não eram considerados como condicionantes de saúde (CARVALHO, 2006). Melo (1998, p. 29-31) descreve alguns condicionantes de saúde como: • Condicionantes biológicos: conjunto de fatores relacionados diretamente ao próprio homem e que dizem respeito às suas características constitucionais, inerentes à anatomia e à fisiologia do organismo, bem como à herança genética; • Condicionantes psicossociais: conjunto de fatores que confirma a força da indivisível relação existente entre o corpo (estrutura biológica) e a mente (aspectos psíquicos). Por exemplo, a agressividade, a raiva, o comportamento depressivo ou a tendência ao isolamento são alguns fatores relacionados ao psiquismo humano que podem, eventualmente, determinar a ocorrência de algumas doenças, entre elas as psicossomáticas e as mentais; 5767 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 • V Enebio e II Erebio Regional 1 Condicionantes culturais: grupo de fatores relacionados ao estilo e as condições de vida, como crenças, educação, hábitos, etc. Destacam-se em especial os hábitos relacionados à alimentação inadequada, ao consumo de bebidas alcoólicas, ao uso do fumo ou outras drogas e, ainda, ao sedentarismo; • Condicionantes socioeconômicos: determinam o perfil, o modo de viver e até mesmo a forma de consumir das pessoas. Leva em conta as condições de habitação, lazer, alimentação, transporte e da própria saúde; • Condicionantes ambientais: as condições e as características ambientais estão estritamente associadas não só a ocorrência de diversos tipos de doenças, como também o agravamento ou ao aparecimento de muitas enfermidades infectocontagiosas. Considerando todos os condicionantes supracitados e buscando colaborar para a inserção de práticas de Educação em Saúde na escola, optamos por abordar, dentre os vários problemas identificados na saúde da população, a infecção pelo HPV. O Papiloma Vírus Humano (HPV) A infecção genital causada pelo HPV é a Doença Sexualmente Transmissível (DST) de maior incidência e que tem sido considerado um problema de saúde pública (WRIGHT, 2009). Existem mais de 100 tipos de HPV que estão em uma grande família de vírus chamada Papovaviridae. A família Papovaviridae agrupa vírus de tamanhos pequenos, aproximadamente 55nm de diâmetro (CASTRO et al., 2006). É importante saber que não existe somente um tipo de HPV para que mesmo vacinado (a) o indivíduo não deixe de se proteger com camisinha por exemplo. A contaminação com o HPV no trato genital, preferencialmente, ocorre pelo contato sexual. Em 99,7% das neoplasias invasoras do colo uterino apresentam o DNA do HPV. O HPV também pode causar o câncer de ânus, pênis, vagina e vulva (NARISAWA-SAITO; KIYONO, 2007; WRIGHT, 2009). Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA): Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que tem em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Sabe-se que 12 tipos de HPV causam câncer (tipos 16 e 18 são mais comum) e 15 tipos causam verrugas genitais (tipos 6 e 11 são os mais comuns, responsáveis por quase 90% dos casos). 5768 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Para reforçar como o câncer de colo de útero causado pelo HPV é o causador das maiores mortes femininas (ENCINA e ALVES,2013): Sabe-se que o HPV é o grande precursor da mortalidade feminina, por ser apontado como o principal fator do desenvolvimento do câncer do colo uterino, além de ser também o responsável por outras doenças como o condiloma acuminado, papilomas laríngeos, câncer anal, vulvar e peniano. Consequências de condições para a infecção pelo HPV são aspectos sociais como a escolaridade, o nível socioeconômico e o início precoce da vida sexual (CAMPOS, 2002; CODO, 1999; GOMES, 2005). Diante da necessidade de mais conhecimento sobre o HPV organizamos uma palestra para falar sobre a transmissão desse vírus, a forma de prevenção, o tratamento e a vacina que está disponível. Tratar o papiloma vírus humano (HPV) com os adolescentes e crianças para alertá-los sobre os problemas que essa doença sexualmente transmissível (DST) pode causar como, por exemplo, o câncer de colo de útero, câncer de pênis, câncer de anus. Para ajudar os alunos a obterem informações sobre o tema foi proposta uma palestra para explicar sobre o assunto e sobre a vacina que o Ministério Público está fornecendo no Brasil. Relacionar o estudo de ciências de hoje em dia com os avanços feitos durante todas as décadas em que, se mostrou a biologia, uma ciência que evoluiu conforme a história. Trazer para os alunos experiências de sua rotina, fatos que a ciência explica, pois fazemos parte dela. O desenvolvimento de práticas que chamam a atenção para o seu cotidiano e deixa o aluno mais interessado. O trabalho a seguir tem como objetivo relatar a experiência da atividade que está sendo trabalhada no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) com alunos da Educação Básica. Realizar uma palestra com o intuito de esclarecer as dúvidas desses alunos foi a atividade que escolhemos para os adolescentes da escola. Planejamento da atividade e relato da experiência A palestra sobre HPV foi desenvolvida no CIEP 410 – Patrícia Rendler Galvão Pagu pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A escola fica localizada no bairro de Santa Izabel (São Gonçalo, Rio de Janeiro). O PIBID está sendo uma oportunidade muito boa para que seja valorizado o magistério e que os alunos da licenciatura possam ter contato com a educação básica antes mesmo de se formarem ou fazerem estágios. 5769 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 As turmas que participaram foram do segundo ciclo do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Durante duas semanas foram planejadas as atividades que aconteceriam nesse sábado letivo do CIEP. Escolhemos uma palestra para os alunos sobre HPV, oficinas de reciclagem e alimentação saudável para trabalhar com os alunos da educação básica do CIEP 410. A grande maioria dos alunos ficaram animados com as atividades que seriam diferentes e não dentro da sala de aula como de costume. A escolha do público-alvo se deu por conta da idade, que seria entre 11 e 18 anos. Todos os alunos com essa idade assistiram à palestra, tanto meninos como meninas. Alguns professores da escola também optaram por assistir para ficarem informados sobre o HPV. Houve o levantamento de conhecimento prévio com os alunos para analisar se sabiam ou tinham alguma ideia do que seria o HPV. Grande parte já tinha ouvido falar mas não sabiam ao certo o que seria o HPV. A palestra foi realizada com apresentação de dois vídeos para os alunos no inicio. O primeiro vídeo foi uma música da campanha de vacinação do Ministério da Saúde (MS). O segundo vídeo do MD SAUDE foi apresentado com a intenção de informar mais sobre o HPV e alertar aos ouvintes com algumas animações sobre os problemas, tratamento, transmissão da doença, etc. O vídeo trouxe questões para os alunos como “Por que a vacina é aplicada em crianças de 9 a 13 anos?”. Tudo foi esclarecido ao decorrer da palestra. Também foi apresentado tópicos em slides sobre o que seria falado e algumas imagens da doença. Grande parte dos alunos ficou assustada quando viram as imagens, como a doença era perigosa e como eram essas verrugas nas genitais. Não tinham conhecimento prévio do que seria a doença e como era transmitida o que mostra uma carência de conhecimento quando o assunto é o HPV. Os alunos que assistiram à palestra não sabiam informações básicas como: meninas entre nove e treze anos poderiam estar tomando a vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que o sexo oral também é uma forma de transmissão da doença. Algumas dúvidas foram levantadas quando foi falado sobre a questão da vacina. Alguns tiveram dúvidas se meninos também poderiam tomar a vacina ou se meninas que já passaram dos treze anos também poderiam tomar a vacina. Foi esclarecido que sim, mas segundo o MS somente as meninas de nove a treze anos podem tomar a vacina pelo SUS, meninas após essa idade devem procurar clínicas particulares. Em 40 minutos conseguimos transmitir o conteúdo para os alunos e esclarecer dúvidas sobre o HPV. 5770 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Após a apresentação da palestra os alunos tiraram algumas dúvidas e foi observado que o interesse foi grande pelo assunto do HPV por se tratar de uma DST perigosa e silenciosa na grande maioria dos casos. O sexo deve ser feito de forma consciente e segura em qualquer idade e pudemos passar isso aos adolescentes da educação básica do CIEP 410. Figura 1: Momento da palestra para os alunos. A ciência deve ser tratada a partir da realidade do educando e a escola pode realizar projetos interdisciplinares, ou seja, onde todas as ciências estão interligadas, e auxiliem no entendimento do funcionamento da vida e das questões sociais inerentes à mesma. Foram 30 minutos de atividade com os alunos. Eles puderam tirar suas dúvidas e ver os dois vídeos para complementar o conhecimento sobre o HPV. Discussão É necessário que os pais dos estudantes fiquem atentos quanto às questões de saúde pública, pois isso inclui oportunidades de proteção para seus filhos contra a referida doença. Os professores devem abordar o assunto em temas de Educação Sexual, como o uso de preservativo, e assuntos sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis. Não é só ter um nível socioeconômico baixo que quer dizer que o indivíduo é mais arriscado a ser infectado pelo vírus do HPV, mas sim a desinformação. Segundo Passos (2001), a desinformação sobre sexualidade, a baixa condição socioeconômica e cultural, o despreparo dos profissionais da educação e saúde e as péssimas atuações dos serviços públicos são fatores destacados para aumentar cada vez mais os índices de DST. Dentre esses fatores, a desinformação influencia decisivamente, pois é constatado pela frequência de casos de DST em indivíduos jovens de níveis socioeconômicos elevados. 5771 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 A desinformação por conta de professores também é um problema que deve ser solucionado, pois se o educador não tem total conhecimento sobre a doença então não poderá exercer práticas de ensino nas quais os educandos sejam informados e conscientizados de modo que essa doença possa ser prevenida. Nesse sentido, uma pesquisa publicada em 2007, feita no Mato Grosso do Sul (MS) teve o objetivo de investigar o que os professores sabiam sobre o HPV. Foram avaliados 157 professores do sexo feminino pertencentes a 10 escolas da rede pública, sendo cinco estaduais e cinco municipais. Nos resultados foi observado que 112 (70,1%) dos professores não tinham conhecimento sobre o HPV. Numa outra pergunta, 135 (86,1%) professores afirmaram não saberem nada sobre o HPV. Isso é algo que deve ser mudado urgente para que se diminuam os casos de DST no Brasil. O trabalho que tem que ser feito com os alunos é de forma multidisciplinar. Além dos professores e pais orientarem os alunos e filhos, o Estado tem que estruturar a rede de saúde a fim de atender essa demanda criada pela divulgação da DST. Para comprovar que o Estado tem que garantir que todos tenham acesso a saúde, a Constituição Federal de 1988, Artigo 196 diz: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação.” Temos que exigir que isso seja cumprido verdadeiramente senão cada vez mais teremos casos de jovens e adultos com infecção por HPV ou qualquer outro tipo de DST. Conclusão A questão do início de uma vida sexual precoce e uso de métodos contraceptivos sem um esclarecimento é um problema comum entre adolescentes. Uma educação esclarecedora por parte da escola pode ser adotada com uso de debates, jogos didáticos e palestras. Pedir que os pais sejam colaboradores nessa tarefa também é algo que deve ser abordado em reuniões de pais. Podemos ver também que o problema com o HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis não é só biológico, mas também é algo social que pode ter uma boa melhora com os educadores e profissionais da saúde trazerem para esses jovens uma palestra, um debate durante a aula, um dia para a conscientização sobre o uso de preservativo por exemplo. Não é só na conscientização desses jovens que devemos trabalhar, mas também o 5772 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 esclarecimento de suas dúvidas e novas informações sobre vírus, vacinas e métodos contraceptivos que são importantes para esses jovens. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. 140p. BRASIL. Ministério da Saúde. Vídeo “Governo do Brasil - Vacinação HPV”. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=IP_VHEzsn-g. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Brasília; 1998. CAMPOS, M. M. M. Consulta sobre Qualidade da Educação na Escola. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 2002. CARVALHO, G. S.; CARVALHO, A. A. S. Educação para a saúde: Conceitos, práticas e necessidades de formação. Um estudo sobre as práticas de educação para a saúde, dos enfermeiros. 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