Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) SESSÃO TÉCNICA: GEOLOGIA PRÁTICAS AMBIENTAIS, SOCIAIS E DE SAÚDE DO PROJETO DE EXTENSÃO, EM ÁREAS DE EXTRAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS NO NOROESTE FLUMINENSE, RJ Rafael Dutra da Cruz1; Thais Cristina Vargas Garrido2; Fabio Luiz Fully Teixeira3; Sebastião Duarte Dias4 e 5; Oswaldo Aparecido4; João Romário Gomes da Silva3. (1Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Instituto de Geografia (IGEOG), Rua São Francisco Xavier, 524, 4o andar – sala 4005 – Bloco B – Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, e-mail: [email protected]; 2UERJ/FGEL/DMPI – Faculdade de Geologia/Departamento de Mineralogia e Petrologia Ígnea; 3Universidade Iguaçu (UNIG) – Faculdade de Medicina e Engenharia, Campus V, BR 356 / Km 02 Itaperuna – RJ; 4Colégio de Pádua – Rua Rui Barbosa, 90, Centro – Santo Antônio de Pádua, RJ; 5 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC), AV. Dão José Gaspar, 500 – Coração Eucarístico – Belo Horizonte – MG). RESUMO “A Extração de Pedras da Região Noroeste Fluminense, RJ” é um Projeto de Extensão iniciado em 2014, desenvolvido por Instituições do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Iguaçu-UNIG, campus V unidade de Itaperuna, Prefeitura de Miracema, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ e o Colégio de Pádua. O objetivo do projeto é a capacitação técnica básica em geologia e a sensibilização ambiental de estudantes, professores das escolas públicas e particulares de Miracema e municípios do entorno, engajando alunos dos cursos de Medicina, Engenharia de Produção, Engenharia do Petróleo e Direito. Visa formar agentes multiplicadores do saber, lhes oferecendo apoio educacional, técnico, social e ambiental, alcançando os profissionais da exploração de pedras do Noroeste Fluminense. A metodologia do trabalho inclui estudos bibliográficos, visitas técnicas, entrevistas, palestras, aulas, relatórios, artigos e exposições. A preservação ambiental e sustentabilidade são apreciadas pelo curso de engenharia de produção e petróleo, os casos clínicos dos trabalhadores estudados pela faculdade de Medicina e os conflitos jurídicos, que envolvem o tema, analisados pela faculdade de Direito. Este artigo relata sobre o desenvolvimento atual do projeto, prevê a concentração dos resultados e a definição de procedimentos, que serão oferecidos à comunidade e a prefeitura de Miracema. Palavras-chave: Geologia, Educação Ambiental, Agentes Multiplicadores, Rochas Ornamentais. INTRODUÇÃO A região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, denominada Noroeste Fluminense, reconhecidamente tem o setor de extração de rochas ornamentais como a sua maior representatividade econômica. Diversas empresas e microempresas atuantes nesse domínio são responsáveis por tornar a exploração de rochas uma atividade extremamente lucrativa e estabelecida na região. As rochas ornamentais são rochas de revestimento, utilizadas na construção civil, segmento que engloba o setor de obras. Considera-se a exploração de rochas ornamentais, uma atividade lucrativa e necessária, portanto, tem ganhado destaque nos últimos anos, sobretudo, por proporcionar a ampliação do mercado de trabalho na região. Silvestre & Silva (2012) ressaltam que, essa atividade empregou mais de seis mil pessoas só na última década. Contudo, vale destacar que muitas microempresas ainda possuem trabalhadores atuando na informalidade, isto é, sem carteira de trabalho assinada. Os processos de extração, beneficiamento de rochas e as diversas atividades de transformação dessa matéria-prima, produzem em todas as fases, grande quantidade de resíduos poluentes. Embora, tenha gerado muitos empregos, é importante avaliar que a questão ambiental não apresentou avanços significativos, para notar isso, basta analisar os tipos de maquinários que são utilizados pelas empresas no processo de explotação que, em 506 Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) sua grande maioria, são tecnologicamente defasados, o que condiciona maiores impactos ao meio ambiente. O grande desafio para as empresas do setor é dominar um tipo de tecnologia, que evite ao máximo a poluição e consiga minimizar as perdas causadas pelo processo de extração das rochas. Diante desse contexto, trabalhos que visem caracterizar e apontar soluções aos problemas, condicionados pela mineração, são cada vez mais necessários, uma vez que se trata de uma das atividades humanas mais impactantes à natureza. Realizações acadêmicas voltadas à conscientização ambiental da população, dos empregadores e dos trabalhadores tem se mostrado como uma boa alternativa para minimizar os efeitos nocivos da explotação. Este projeto atua no município de Itaperuna, porém também em cidades próximas. Oferece o conhecimento científico, práticas geológicas e de saúde induzindo a reflexão sobre a dinâmica adotada na extração de rochas. Assim, o objetivo desse estudo é avaliar como é feita a extração de pedras e as suas consequências para a população e a natureza. Nessa etapa do projeto, divulgamos os trabalhos realizados, em áreas do entorno da cidade de Santo Antônio de Pádua, situada a 260 km da cidade do Rio de Janeiro, RJ, próxima ao Estado de Minas Gerais. O município de Santo Antônio de Pádua conta com uma população com cerca de 50.000 habitantes. É limitado pelos municípios de Miracema ao norte, Cantagalo ao sul, Aperibé e Itaocara a leste e Pirapetinga e Palma à oeste (ambas pertencentes ao Estado de Minas Gerais), a figura 1 ilustra a região e os seus municípios. As rochas locais incluem tipos de gnaisses, rochas metamórficas, conhecidas no mercado como pedra madeira escura, madeira rosa, amarela e verde, pedra Miracema clara, sendo esta no comércio denominada granito cinza de Pádua. A Resolução 001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA - de 1986, sob perspectiva do decreto no 88.351, de 1o de junho de 1983 estabelece que, impacto ambiental, não é apenas o efeito de degradação da natureza, há também uma perspectiva educacional e social em sua definição, segundo a resolução, trata-se de (...) qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, diretamente ou indiretamente, afetam: I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II) as atividades sociais e econômicas; III) a biota; IV) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e V) a qualidade dos recursos ambientais. (Resolução CONAMA, 1986, p. 636) Figura 1. Região Noroeste Fluminense. O Globo, disponível em < www.globo.com.br >, visualização em 2016. 507 Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) Portanto, evidencia-se que o tema relacionado aos problemas de saúde dos trabalhadores envolvidos com a extração de rochas ornamentais deve ser considerado como sendo impacto ambiental. Propor alternativas para soluções dos danos relacionados a isso é um dos nossos objetivos. A Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Iguaçu (UNIG), vem buscando identificar quais são os problemas de saúde mais comuns dos trabalhadores. A pesquisa encontra-se em andamento e os resultados ainda não foram definidos em sua totalidade. Entretanto, já se sabe que os problemas respiratórios são os mais habituais, uma vez que há quase ausência de aparatos que visem à segurança do trabalho do profissional, vale destacar como exemplo, a não utilização de máscaras respiratórias por parte dos empregados, o que amplia a possibilidade de ocorrência de problemas pulmonares. MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente, o trabalho consistiu em pesquisa bibliográfica especializada sobre a temática envolvendo o assunto de rochas ornamentais, em seguida foram aplicadas atividades didáticas das matérias de geociências para ampliar o conhecimento dos alunos do Ensino Fundamental e da segunda série do Ensino Médio do Colégio de Pádua. Foi também realizado visitas aos laboratórios de geologia da UERJ, o Laboratório de Petrografia (LPETRO) e o Laboratório de Mineralogia (LMIN). Nessas visitas, os alunos puderam ter maior contato com os materiais pétreos e aprender mais sobre a geologia do Rio de Janeiro. Realizou-se ainda visitação à UNIG, onde os alunos conheceram a instituição e o corpo docente e discente que desenvolvem pesquisas no âmbito das ciências da saúde, mapeando as possibilidades de doenças condicionadas pela extração mineral em Santo Antônio Pádua. Além disso, oito alunos e dois professores do segundo ano do Ensino Médio do referido colégio realizaram visita técnica a uma frente de extração das pedras localizado em Santo Antônio de Pádua (figura 2). Esta microempresa faz a extração e o preparo da rocha, para o aproveitamento econômico. A extração consiste na remoção de material útil ou economicamente aproveitável dos maciços rochosos ou de matacões (grandes blocos naturais de pedra que desprendem do afloramento de rocha). Nas serrarias as pedras passam por cortes, lavagens, lixação e polimento. As pedreiras ou lavras são frentes de extração a céu aberto no maciço rochoso, onde se pratica o desmonte através de bancadas em secções aplainadas. Quando necessária, é feita a remoção do solo residual ou da vegetação que cobre a rocha, no corte da pedra utiliza-se fio diamantado no entorno da lâmina de aço. Na visita técnica os alunos conheceram o trabalho de produção das rochas ornamentais, que na região são tipos de gnaisses (figura 3). Além disso, os mesmos tiveram a oportunidade de entrevistar o empresário que administra um dos empreendimentos em Santo Antônio Pádua. Foi feito também registros fotográficos das pedreiras e foi realizado entrevista com os trabalhadores. Visando a continuidade do projeto está prevista para o final do mês de abril a visita técnica dos alunos de Medicina da UNIG às frentes de extração. Nessa visita, os mesmos realizarão palestras e atividades educacionais visando alcançar uma conscientização acerca dos assuntos referentes à segurança do trabalho e aos efeitos danosos a saúde acometida pela atividade mineradora. Além disso, está prognosticado também uma visita de oito alunos do curso de Engenharia do Petróleo e de Produção da mesma instituição a duas pedreiras localizadas na zona rural de Itaperuna, localidade no qual os afloramentos rochosos são mais expressivos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Embora, sendo reconhecida como polo de explotação de rochas, no município de Santo Antônio de Pádua os empreendimentos ainda possuem técnicas que são consideradas atrasadas, o que pode vir a acentuar os problemas ambientais, por provocarem grande 508 Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) quantidade de rejeito. As máquinas que fazem o processo de beneficiamento das rochas na serraria visitada pela equipe do Colégio de Pádua são consideradas antigas e foi possível notar problemas com o destino do material que sobra no processo de beneficiamento, como a água que é lançada em um córrego a céu aberto (figura 4). A lâmina do equipamento que realiza o procedimento de cortagem das rochas é trocada semanalmente, pois o fio diamantado que cobre a lâmina vai sendo gasto com o corte. As figuras 5 e 6 mostram a lâmina e a máquina de corte em funcionamento, observe que o equipamento lança no ar partículas, essa poeira fica em suspensão e como a maioria dos trabalhadores não utiliza máscaras, a saúde destes pode estar sendo impactada. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), vem atuando no setor (figura 7) visando atualizar os maquinários das pedreiras, e diminuir os indícios de impacto na natureza. Logo, ratifica-se que há uma preocupação dos órgãos ambientais, acerca dos malefícios que a atividade gera no meio ambiente. Figura 2. Visita dos alunos do Colégio de Pádua à serraria; Figura 3. Pedra Miracema extraída na região; Figura 4. Escoamento de resíduo lamoso a céu aberto, um problema ambiental; Figura 5. Disco diamantado de corte da rocha; Figura 6. Máquina de corte e lançamento de poeira no ar; Figura 7. Licença de operação concedida pelo INEA à serraria visitada pela equipe do Colégio de Pádua. Ao longo da visitação a serraria, averiguou-se o destino do material que sobra do processo de ornamentação. Os materiais mais finos são coletados e vendidos para a empresa Argamil, empresa essa que produz argamassa e possui contrato com diversas serrarias da região. Contudo, os materiais residuais com maiores dimensões, os chamados grãos grosseiros, não podem ser destinados para esse fim. Sendo assim, foi analisado que muitos destes rejeitos são lançados em locais inapropriados, como rios, canais e beiras de estradas. A litologia da área mostra ampla ocorrência de gnaisse e suas variedades, o que demonstra, portanto, registros de uma história geológica deformacional. Essa característica aponta nas rochas texturas diferentes e diversas tonalidades de cores, o que indica diferenças mineralógicas expressivas. Essas feições respondem por propriedades tectônicas diversificadas, como resistência e absorção de água, o que proporciona ao comércio o trabalho com maior número de variedades de materiais pétreos. Na extração das rochas ornamentais, o uso de explosivos deve ser criteriosamente planejado, por envolver cuidados relacionados à segurança, ao ambiente, à saúde e a atenção aos custos financeiros do explosivo. É importante a escolha do método de lavra da rocha, com uso de equipamentos adequados de menores custos, melhor deslocamento, isto é, o transporte do material explorado e o aproveitamento econômico do mesmo. A água residual e os rejeitos pétreos provenientes das atividades de extração, deve ter a devida atenção dos empreendedores e conduzidos de forma mais adequada, para não contaminar o ambiente. 509 Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) Parte do maquinário utilizada no desenho das formas da pedra mostra corrosão, a presença de resíduos e a acidez da água no processo de beneficiamento pode ser a causa. A realização desse estudo permitiu identificar também os principais problemas ambientais condicionados pela extração de rochas ornamentais, a degradação da paisagem, o desmatamento, a poluição das águas, processos geomorfológicos como o voçorocamento e a poluição da natureza por resíduos das rochas, foram os impactos de maiores ocorrências verificados ao longo do trabalho. As atividades de visita técnica aos estabelecimentos de extração das pedras mostram-se como uma ótima ferramenta de diagnóstico da situação ambiental local e proporcionou um olhar mais crítico, acerca da exploração de rochas, aos microempreendedores do ramo e, até mesmo, aos trabalhadores, que na maioria das vezes desconhecem ou não se importam com os malefícios que a atividade mineradora provoca. CONCLUSÃO Conclui-se que Santo Antônio de Pádua e sua população tem se beneficiado, por conta da atividade da exploração de rochas e seu elevado índice de empregabilidade observado nas últimas décadas, o que deve ser considerado um impacto positivo na estrutura social do município. Embora, existam trabalhadores que atuem na informalidade, os benefícios de se ter uma renda mensal superam as demais condições. Verifica-se também que os impactos no meio ambiente em sua grande maioria podem ser sanados, minimizados ou até mesmo evitados, desde que os empreendedores atuem com mais consciência ambiental. Seguir as normas da legislação vigente é uma das formas de atenuar os impactos dessa atividade, uma vez que as leis que regem sobre o tema são amplamente preocupadas com a qualidade e a preservação da natureza. A modernização dos maquinários é outra forma de mitigar os problemas na confecção dos materiais pétreos e nos efeitos danosos causados ao meio ambiente. Embora alguns empreendimentos adotem medidas mitigadoras que suavizam os problemas ambientais, como a umectação e o reflorestamento, por exemplo, a grande realidade do município é outra, uma vez que a preocupação com a qualidade da natureza não parece fazer parte do pensamento da maioria dos microempreendedores. Diante desse contexto, a educação ambiental se mostra como um grande aliada para modificar essa realidade presente no município. Logo, trabalhos que visem conscientizar os empregadores e empregados é vista cada vez mais como necessária e efetiva. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Sub-Reitoria de Extensão e Cultura (SR-3) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ao Departamento de Extensão, pela oportunidade de desenvolvimento do projeto (DEPEXT-3052), e pela concessão de bolsa de estudo. Agradecemos ainda ao Sr. Waldelei Pereira de Andrade, e seus funcionários da Serraria Casa Grande, pelo acesso a empresa e pelos esclarecimentos dados a equipe visitante. REFERÊNCIAS Baptista Filho, J. & Tanaka, M.D. 2002. “Considerações Geológicas Sobre o Parque Produtor de Rochas Ornamentais no Município de Santo Antônio de Pádua, RJ”. Instituto de Geociências. In: Anuário do Instituto de Geociências, UFRJ, Rio de Janeiro. Vol. 25. Pp. 175-180. Brasil. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. 1986. Resolução 001 de 1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_1986_001.pdf>. Acesso em 26 de abril de 2016. Galdo, R. 2014. Noroeste Fluminense enfrenta esvaziamento econômico e dificuldade de geração de renda, Editoria de Arte, O Globo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/noroeste-fluminense-enfrenta-esvaziamento-economico-dificuldades-nageracão-de-renda-13934848>. Acesso em 25 de abril de 2016. Peiter, C.; Campos, A.; Carvalho, E.A.; & Gameiro, M.M. DE. 2003. “Arranjos Produtivos Locais do Setor de Rochas Ornamentais e a Experiência do Pólo de Santo Antônio de Pádua – RJ”. In: IBEROEKA em Mármores e Granitos. Salvador: Vol.1. Pp. 201-218. Silvestre, C. P. & Silva, A. L.C. 2012. Problemas ambientais decorrentes da exploração de rochas ornamentais no município de Santo Antônio de Pádua – RJ. Revista GEONORTE (Edição Especial) Vol. 3. Pp. 281-289. 510