Percursos pela Arquitetura do Porto

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iPoint Campanhã (jun-out)
Estação de Campanhã
Largo da Estação
4300 Porto
GPS: Lat 41.148793 Lon -8.585853
iPoint Serralves
Rua de D. João de Castro, 210
4150-417 Porto
GPS: Lat 41.159697 Lon -8.660039
PERCURSOS
PELA
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SÉ - CASA DA CÂMARA
Terreiro da Sé
4050-573 Porto
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CENTRO
Rua Clube dos Fenianos, 25
4000-172 Porto
T +351 223 393 472
[email protected]
GPS: Lat 41.150175 Lon -8.611200
POSTOS DE TURISMO
DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE TURISMO DA CÂMARA MUNICIPAL DO PORTO
ARQUITETURA
PORTO
DO
PORTO
DOS ALIADOS À TRINDADE
DOS ALIADOS À TRINDADE
Neste primeiro percurso entre a Avenida dos
Aliados e o Largo da Trindade, torna-se bastante
evidente a amálgama de épocas, estilos e
influências arquitetónicas que coabitam e moldam
as diferentes imagens da cidade. Neste caso,
falamos mais concretamente do Neoclassicismo
e Neopalladianismo de influência britânica, do
Beaux-Artianismo de influência francesa, e do
Modernismo, movimento internacional.
Estes períodos refletem maneiras diferentes de ver
a arquitetura e fases importantes da evolução do
ensino da arquitetura na cidade do Porto, sempre
intimamente ligado ao Desenho e às Belas-Artes.
Períodos/Estilos:
Finais séc. XIX: Neoclássico tardio; Neopalladiano;
Séc. XX: Beaux-Arts; Moderno; Contemporâneo
Arquitetos:
Alberto Pessoa; Alexandre Burmester; Álvaro Siza
Vieira; Amoroso Lopes; António Correia da Silva;
Arménio Losa; ARS Arquitetos (Fortunato Cabral,
Cunha Leão, Morais Soares); Artur Andrade; Baltasar
de Castro; Barry Parker; C. de Almeida; Camilo
Korrodi; Carlos Cruz Amarante; Carlos Ramos;
Cassiano Branco; David Moreira da Silva; Eduardo
Martins; Eduardo Souto de Moura; Ernesto Korrodi;
Fernando Távora; Francisco Oliveira Ferreira; Hélder
Salvado; João Abel Bessa; João Carreira ; João
Queirós; José Carlos Loureiro; José Marques da
Silva; José Teixeira Lopes; Júlio de Brito; Luís Pádua
Ramos; Manoel Passos Júnior; Manuel Marques;
Mário de Abreu; Nicolau Nazoni; Pedro Ramalho;
Porfírio Pardal Monteiro; Rogério de Azevedo; Silva
Sardinha; Ventura Terra; Viana de Lima
Modo de deslocação: a pé | Distância: 2km |
Grau de dificuldade: baixo | Duração: 01h30
Conselhos práticos:
Dada a topografia irregular da cidade, aconselhamos
o uso de calçado confortável.
BEM-VINDO AO PORTO
BEM-VINDO AO PORTO
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Edição
Câmara Municipal do Porto/Departamento de Turismo
Conteúdos
Câmara Muncipal do Porto/Departamento de Turismo
CITAD - Centro de Investigação em Território, Arquitetura e Design das Universidades Lusíada/arquiteto Rui Sousa
Tradução
Câmara Municipal do Porto/Departamento de Turismo
Design
Workstation
Fotografias
Câmara Municipal do Porto
Culturgest
Fernando Mendes Pedro
Hotel Intercontinental
Porto Digital
Depósito Legal
358038/13
Impressão
Tecniforma Print
NESTES PERCURSOS PELA ARQUITETURA DO PORTO VENHA DESCOBRIR CONNOSCO ALGUM DO
PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO MAIS RELEVANTE, NUM TRANQUILO PASSEIO ONDE TERÁ TEMPO
PARA SE DEIXAR SEDUZIR PELOS PORMENORES, CURIOSIDADES, AMBIENTES E VIVÊNCIAS.
Este percurso começa no Posto de Turismo do
Centro que ocupa parte do edifício do Clube dos
Fenianos foto 1, de 1920, projeto de Francisco
Oliveira Ferreira (1884-1957). O Clube, fundado
em 1904, é conhecido por outrora organizar o
melhor corso carnavalesco da cidade mantendose até hoje como uma importante referência
cultural.
Saindo do Posto de Turismo atravesse a rua.
Encontra-se, neste momento, na Praça General
Humberto Delgado, assim chamada em
homenagem ao opositor ao regime salazarista
assassinado em 1965 pela polícia política.
No sentido descendente, entre a Praça General
Humberto Delgado e a Praça da Liberdade,
estende-se a Avenida dos Aliados foto 2.
A sua planificação foi encomendada ao
arquiteto britânico Barry Parker (1867-1947)
em 1915, com o objetivo de criar uma ampla
avenida, dignificante e representativa do novo
espírito nascido com a implantação da República
em 1910, e da primeira vereação republicana da
cidade do Porto, eleita por sufrágio universal em
1914. O plano deveria também contemplar um
novo edifício dos Paços do Concelho, fazendo o
contraponto com a Igreja da Trindade, ao cimo,
e com o Convento dos Loios existente na antiga
Praça D. Pedro, depois Praça da Liberdade, ao
fundo, vincando a separação de poder entre o
Clero e o Estado. Foi pedido a Barry Parker que
criasse nessa área um centro cívico e comercial,
moderno e cosmopolita, que refletisse a
dinâmica comercial e financeira que desde há
muito se vinha a concentrar aí, atraída pelas
novas acessibilidades, nomeadamente pela
ponte Luís I, de Téophile Seyrig, inaugurada em
1886, que unia Porto e Gaia a duas cotas, pela
abertura da rua Mousinho da Silveira em 1872,
e pela Estação de S. Bento, de Marques da Silva,
construída entre 1903 e 1916, estruturas de que
falaremos mais adiante.
Barry Parker inspirou-se no estilo neoclássico
do plano de João de Almada e Melo (1703-1786),
Governador da Justiça e Relação do Porto,
desenvolvido na segunda metade do século
XVIII, período de grandes transformações graças
aos fundos obtidos através do imposto sobre
o comércio do vinho, permitindo que a Junta
de Obras Públicas pudesse desenvolver novos
conceitos urbanísticos. A influência da colónia
inglesa, através do cônsul John Whitehead,
despertou a apetência por espaços amplos,
iluminados, funcionais e propícios ao lazer,
introduzindo na cidade o neopalladianismo,
estilo que viria a influenciar a arquitetura de
muitas das construções civis e religiosas.
Das ruas rasgadas durante o período almadino,
merece destaque a Rua do Almada foto 3,
paralela à Avenida dos Aliados, projetada por
Francisco Xavier do Rego (1692-1786) e aberta
entre 1761 e 1786. Vale a pena observar as
suas fachadas, muitas cobertas de azulejos
provenientes das várias fábricas de cerâmica
que na altura existiam no Porto e arredores, e
o pormenor das suas varandas em ferro forjado.
Tradicionalmente uma rua de ferrageiros, ainda
é possível, após dois séculos, encontrar aí uma
significativa concentração de lojas de ferragens,
1
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3
umas modernizadas, outras conservando ainda
muito do antigo mobiliário. Aí se encontra
também uma fábrica artesanal de chocolates, a
famosa Arcádia, fundada em 1933.
Na última década tem vindo a instalar-se nesta
rua um novo tipo de comércio e uma nova
geração de “comerciantes”, que aposta em
atividades diferentes, diversificando a oferta e
rejuvenescendo o centro urbano.
Regressando à Avenida dos Aliados, pode-se
dizer que à sobriedade do plano de Barry Parker
se sobrepôs o espírito Beaux-Arts que fervilhava
nos arquitetos e artistas deste período, entre os
quais se destaca José Marques da Silva (18691947), transformando a Avenida num pequeno
mas monumental “Boulevard”.
Formado em Arquitetura pela Escola Nacional
de Belas Artes de Paris em 1896, Marques da
Silva frequentou o atelier de Victor Laloux. No
Porto foi diretor da Escola de Belas Artes entre
1913 e 1939 e autor de projetos emblemáticos
na cidade, do mais clássico ao mais modernista
como o atesta a Casa de Serralves, hoje parte
integrante da Fundação com o mesmo nome.
A nova avenida recebeu a designação de Avenida
das Nações Aliadas, num tributo à vitória aliada
na 1ª Guerra Mundial. A sua uniformidade
estética é fruto das regras ditadas pelo Prémio de
Arquitetura Municipal “Cidade do Porto”, criado
especificamente para a zona, que impunha,
entre outras normas, o recurso a determinados
materiais de construção nos quais deveria
predominar o granito, uma tipologia funcional
que privilegiasse os serviços com comércio à
face da rua, com ângulos rotativos e pátios,
que todos os edifícios em gaveto rematassem
as duas fachadas com torreões cúpula ou
zimbórios destacando-se da volumetria das
restantes fachadas, e que todos os edifícios
se harmonizassem como um todo com uma
imagem que se queria “internacional”.
No topo norte encontra-se o edifício dos Paços
do Concelho foto 4, sede administrativa do
Município do Porto. Da autoria do arquiteto
municipal António Correia da Silva, começou a
ser construído em 1920 e apenas foi concluído
em 1957, após diversas alterações ao projeto
inicial introduzidas pelo arquiteto Carlos Ramos,
que viria a ser o grande mentor da chamada
Escola do Porto.
O edifício é constituído por seis pisos, uma cave
e dois pátios interiores. A torre central tem 70
metros de altura sendo o acesso feito através
de uma escadaria com 180 degraus. No interior,
ricamente decorado em mármore e granito,
destacam-se alguns salões aonde são realizadas
as cerimónias mais solenes, as Assembleias
Municipais e as Reuniões de Executivo - Salão
Nobre, Sala D. Maria, Sala das Sessões.
No exterior poderá admirar as 12 cariátides dos
escultores Sousa Caldas e Henrique Moreira.
O edifício pode ser visitado no primeiro domingo
do mês mediante Inscrição prévia no Gabinete do
Munícipe ([email protected]).
Em frente aos Paços do Concelho encontrase a estátua que presta homenagem ao poeta,
escritor e político portuense Almeida Garrett
(1800 – 1854), da autoria do escultor Barata Feyo,
inaugurada em 1954 foto 5.
4
5
Desça agora a Avenida pela plataforma central
para poder ter uma perspetiva mais abrangente
que lhe permitirá ver os edifícios de ambos
os lados, podendo aproximar-se para ver em
detalhe os que mais captarem o seu olhar.
Do lado esquerdo dos Paços do Concelho, um
edifício de linhas modernas marca uma rutura
na unidade estética da avenida. Esse edifício, o
Palácio dos Correios foto 6, datado de 1952, é um
projeto de Carlos Ramos (1897-1969), que viria
a exercer uma grande influência no ensino da
Arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto,
enquanto professor e diretor da escola, cargo
que ocupou de 1952 a 1967, tendo convidado para
assistentes jovens arquitetos modernistas.
Logo a seguir, na esquina da Rua Rodrigues
Sampaio, destaca-se o modernista edifício de
gaveto foto 7, datado de 1954, da autoria de
Viana de Lima (1913-1991), outro grande nome
da Arquitetura do Porto, o grande impulsionador
da candidatura do Porto a Património Mundial da
Unesco, classificação atribuída à cidade em 1996.
Também da sua autoria é o edifício da Faculdade
de Economia da Universidade do Porto, projeto
de 1961, no Polo Universitário da Asprela,
considerada uma das obras fundamentais
para a compreensão da Arquitetura Moderna
Portuguesa. Prosseguindo pelo corredor central
da Avenida poderá ver, à esquerda, o Edifício da
Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe foto 8,
de Júlio de Brito (1896-1965), de 1948, com o seu
original torreão.
Do lado direito, no nº 285-295, pode ver o Edifício
Capitólio foto 9, de 1946, projeto de Eduardo
Martins e Manoel Passos Júnior.
Mais abaixo, na esquina com a Rua Ramalho
Ortigão, sobressai o torreão do Edifício Garantia
foto 10, de 1955, da autoria de Júlio de Brito.
De novo do lado esquerdo, no nº 184, ergue-se
a fachada da antiga Casa de Saúde da Avenida
foto 11, de 1930, projeto de Francisco de Oliveira
Ferreira, discípulo de Marques da Silva.
Ainda do lado esquerdo, chamamos a atenção
para o edifício com o nº 138-168. Este edifício
foi projetado em 1925 por José Marques da
Silva, para albergar a sede do Jornal de Notícias
foto 12. A Avenida dos Aliados afirmava-se assim
não só como centro de negócios e comércio, mas
também como o centro nevrálgico das notícias
da região.
Paredes meias com o Jornal de Notícias foi
construído o monumental edifício do Banco
Caixa Geral de Depósitos foto 13, da autoria de
Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957), arquitetochefe daquela instituição, datado de 1930.
Aqui não deixe de visitar a Galeria Culturgest, no
rés-do-chão, onde, para além de pormenores
interessantes do edifício, poderá usufruir de
boas exposições.
Olhando para o lado direito, observe com atenção
o edifício do Banco do Funchal (BANIF), antiga
sede do Jornal do Comércio do Porto, no nº 107109 foto 14, de 1932, e a fachada virada para a
Rua Elísio de Melo e com entrada pela Rua do
Almada, nº 128, da Garagem do Comércio do
Porto foto 15, de 1930. Este exemplo flagrante
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de justaposição de linguagens estéticas distintas
pelo mesmo autor, é de Rogério de Azevedo
(1898-1984), aluno de Marques da Silva na Escola
de Belas Artes do Porto, mais tarde professor na
mesma escola de 1940 a 1968, que projetou o
edifício voltado para a Avenida segundo as regras
do Prémio de Arquitetura Municipal “Cidade do
Porto”, e que no projeto da garagem voltada para
a rua Elísio de Melo e Rua do Almada, deu largas
ao seu talento de arquiteto Moderno.
Vá até à esquina da Rua do Almada e observe
o edifício da Garagem do Comércio do Porto,
considerado o paradigma do Modernismo no
Porto. Na época considerado um manifesto da
modernidade tecnológica e formal aplicado a um
novo programa – uma garagem -, aquilo que o
tornou profundamente moderno foi a recusa da
exuberância decorativa do ecletismo dominante,
traduzida num edifício sem ornamentação, onde
a expressividade é dada pelo betão armado.
Modernas eram também as preocupações aqui
expressas com as condições de segurança
e higiene, ventilação, e luz em abundância,
bem como o novo sentido de espaço e o uso
moderno dos materiais. Destinado a garagem
e escritórios, estas funções podem ser lidas a
partir do exterior.
No nº 89, na esquina com a Avenida dos Aliados,
surge o Café Guarany foto 16, inaugurado em
1933, também de Rogério de Azevedo, com
decoração do escultor Henrique Moreira. Em
2003 o Guarany foi totalmente restaurado,
podendo ver-se numa das paredes pinturas de
Graça Morais.
Os dois edifícios de esquina seguintes,
merecedores de um olhar mais demorado, são
ambos da autoria de José Marques da Silva: do
lado esquerdo, no nº 2, o edifício construído para
o Banco Joaquim Emílio Pinto Leite foto 17, de
1922, e, do lado direito da rua, no nº 1, o edifício
construído para a antiga seguradora A Nacional
foto 18, de 1919. Os dois edifícios estabelecem
entre si uma agradável harmonia nos volumes e
na forma.
Aproxime-se do edifício do lado direito, nº 1,
para poder apreciar em pormenor a perfeita
ornamentação escultórica que realça os dotes
não só do arquiteto mas também do artista
plástico que era Marques da Silva, filho de
mestre canteiro.
Entre os dois edifícios, na plataforma central,
encontra-se a alegoria à “Juventude” foto 19, da
autoria do escultor Henrique Moreira, datada
de 1929 e que na altura foi fonte de animadas
conversas na sociedade conservadora daquele
tempo, passando a ser carinhosamente
denominada por “A Menina da Avenida”. Mais
acima, pode ver “Os meninos” escultura em
bronze dourado do mesmo autor, de 1932.
Atravesse agora para a Praça da Liberdade.
Nesta Praça sobressai, ao centro, a estátua
equestre de D. Pedro IV foto 20, da autoria do
escultor Célestin Anatole Calmels, inaugurada
em 1866. Na base o monumento ilustra dois
momentos importantes na história da cidade:
o desembarque no Mindelo das tropas de D.
Pedro durante as lutas liberais (1832-1833), que
opunham os “liberais” partidários de D. Pedro
aos “Miguelistas” fiéis a D. Miguel, na luta pelo
trono que opunha estes dois irmãos, e a entrega
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do coração de D. Pedro aos representantes da
cidade como demonstração de gratidão pela sua
lealdade.
O pedestal representa D. Pedro a oferecer a carta
constitucional à Cidade.
O coração de D. Pedro encontra-se religiosamente conservado numa urna na Igreja da Lapa.
O edifício do Banco de Portugal foto 21, impõe-se no lado direito da Praça. O anteprojeto de
1918, dos arquitetos Ventura Terra (1866-1919) e
José Teixeira Lopes (1872-1919), foi, por morte
destes dois arquitetos, concluído em 1922 pelo
Engenheiro José Abecassis, tendo o banco sido
inaugurado apenas em 1934. No frontão que
encima a entrada poderá ver esculturas de
Sousa Caldas representando o Fomento, ladeado
pelo Comércio e a Indústria.
Rematando a Avenida a sul está o Palácio
das Cardosas foto 22. A história do edifício
remonta ao século XV, quando o Bispo D. João
de Azevedo decidiu fundar no Porto o Convento
de Santo Elói para os Cónegos Seculares de S.
João Evangelista, mais conhecidos por frades
Loios. Nos finais do séc. XVIII, o estado de
degradação em que se encontrava o convento
levou a que se iniciassem obras em 1798, que
foram interrompidas pelas Lutas Liberais que
ditaram a fuga da Ordem Religiosa, apoiante
dos Miguelistas, abandonando o Convento com
as obras a meio. Após a extinção desta ordem
religiosa o edifício foi vendido em hasta pública,
tendo sido adquirido por um rico proprietário da
burguesia liberal portuense, de seu nome Alberto
Cardoso, que viria a terminar a obra iniciada
pelos religiosos. Após a morte deste passou a ser
propriedade das suas filhas, conhecidas como
as ”Cardosas”, sendo o edifício popularmente
denominado de Palácio das Cardosas.
O imponente edifício do “Palácio das Cardosas”,
que ocupa quase todo o quarteirão, já foi alvo de
várias ocupações e funcionalidades.
Desde julho de 2011 é agora um Hotel da Cadeia
Intercontinental. O projeto de arquitetura é do
Arquiteto Hélder Salvado, e o design de interiores
de Alex Kravetz.
À direita, na fachada do rés-do-chão encontrase a Farmácia Vitália foto 23, obra de 1932, dos
arquitetos Amoroso Lopes (1913-1995) e Manuel
Marques (1890-1956), com linhas geométricas
modernistas onde se destaca uma cruz que
parece estar suspensa e a partir da qual se
compõe toda a fachada.
Também no piso térreo e com acesso direto da
rua, renasceu o Café Astória foto 24, no mesmo
local em que tinha surgido nas primeiras
décadas do século XX. Encerrado nos anos 70 do
mesmo século, o café e todo o edifício foi então
ocupado por um banco.
Fazemos aqui um parêntesis para referir a
importância que os “cafés” do Porto tiveram
e têm para a história da cidade, tendo sido
desde sempre pontos de reunião e tertúlia
e, por consequência, alavanca de muitos dos
movimentos mais progressistas, aos níveis
artístico, político e filosófico. Na segunda metade
do século XIX, em redor daquela que se chamou
sucessivamente Praça Nova, Praça D. Pedro e
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depois Praça da Liberdade, eram numerosos
os cafés: o Guichard, Lusitano (depois Suíço),
Portuense, Camacho, Lisbonense, Central,
caracterizavam-se pela sua elegância e por
acolherem as mais ilustres figuras do Porto.
Foram desaparecendo ao longo do tempo,
sendo os seus espaços ocupados por serviços
terciários, sobretudo bancários.
Exemplo de um novo tipo de ocupação, fruto da
globalização de novos hábitos de consumo, é o
Café Imperial foto 25. Inaugurado em 1935, foi
projetado por Ernesto Korrodi (1889-1944) e
seu filho Camilo Korrodi (1905-1985), ao estilo
Art Deco, com frescos do escultor Henrique
Moreira e um vitral de Ricardo Leone. Em finais
do mesmo século o café encerrou e reabriu já
como McDonald’s, com projeto de adaptação
do arquiteto Alexandre Burmester que tentou
preservar ao máximo o seu interior.
Mesmo ao lado encontra-se o edifício do antigo
Banco Nacional Ultramarino foto 26, também de
Ernesto Korrodi, de 1920.
Na Praça da Liberdade resiste ainda à voragem
do tempo a Confeitaria Ateneia, projeto do
arquiteto Júlio de Brito, onde ainda é possível
tomar um café sem pressas enquanto se passa
os olhos pelo jornal, ou pôr a conversa em dia,
sendo ponto de encontro de sucessivas gerações.
O enquadramento urbanístico e paisagístico
da Avenida dos Aliados nem sempre foi como
agora. O inicial arranjo, que recorria ao uso
da tradicional “calçada à portuguesa”, em
calcário e basalto, nos passeios laterais e no
corredor central, e os jardins existentes no
corredor central, foi alterado em 2005 por força
da abertura da linha de Metro D, que iria fazer
a tão esperada ligação a Gaia, atravessando o
tabuleiro superior da ponte Luís I.
O projeto de intervenção, entregue aos arquitetos
Álvaro Siza Vieira (1933) e Eduardo Souto de
Moura (1952), este último arquiteto-chefe
dos projetistas do Metro do Porto, teve de dar
resolução a algumas condicionantes técnicas,
nomeadamente à localização das bocas de
acesso da estação dos Aliados, da autoria do
próprio arquiteto Souto de Moura, que implicou
o alargamento do passeio reduzindo a placa
central fazendo desaparecer os canteiros ai
existentes, sendo essa perda compensada
pela consolidação da massa arbórea, por um
espelho de água e novo mobiliário urbano. Dada
a impossibilidade de se preservar integralmente
a “calçada à portuguesa”, os arquitetos optaram
por uma calçada em cubos de granito, colocados
manualmente segundo um padrão geométrico
em “cauda de pavão”, conferindo unificação e
amplitude ao espaço público.
As intervenções de reabilitação urbanística
na emblemática Avenida dos Aliados irão
prosseguir nos próximos anos já que a Avenida
e área circundante foram classificadas pela
Porto Vivo, SRU - Sociedade de Reabilitação da
Baixa Portuense SA, como Área de Intervenção
Prioritária, tendo sido dividida em vários
quarteirões.
A Porto Vivo, SRU tem como missão a promoção,
reabilitação e reconversão urbanas da Baixa
25
26
Portuense, a elaboração de estratégias de
intervenção, e atuar como mediador entre
proprietários, investidores e arrendatários,
tomando a seu cargo, se necessário e dentro dos
seus limites legais, a operação de reabilitação.
O quarteirão do Palácio das Cardosas foi
classificado por esta entidade como Zona
de Intervenção Prioritária e está já em fase
adiantada de intervenção. Pretende-se devolver
a este quarteirão a importância de outros
tempos, reordenando-o no seu interior e
requalificando-o nos domínios da segurança e
salubridade, dotando-o de infraestruturas de
que não dispõe, recuperando imóveis para fins
residenciais contrariando assim a tendência
para o despovoamento do centro da cidade e
atraindo comércio diversificado de qualidade.
Poderá ver painéis explicativos da história desta
zona na Praça das Cardosas foto 27, área privada
de acesso público, situada nas traseiras do Hotel
Intercontinental.
Agora que chegou ao fim da Avenida, vire-se de
costas para o Palácio das Cardosas e usufrua da
perspetiva.
Mantendo-se na mesma posição, à esquerda
verá a Rua dos Clérigos rematada pelo ex-libris
da cidade – o conjunto da Igreja e Torre dos
Clérigos foto 28, da autoria do arquiteto italiano
Nicolau Nazoni (1691-1773), construída na
primeira metade do século XVIII.
À sua direita situa-se a Praça Almeida Garrett,
importante interface dos transportes urbanos do
Porto.
Nesta Praça coexistem duas infraestruturas
arquitetonicamente representativas de duas
épocas e Escolas distintas: a Estação de Comboio
de S. Bento foto 29 e a Estação de Metro de S.
Bento foto 30. A primeira da autoria do arquiteto
José Marques da Silva e a segunda da autoria
do arquiteto Álvaro Siza Vieira, duas referências
obrigatórias da Arquitetura do Porto, duas épocas
distintas, duas obras que se complementam
em funcionalidade, num encontro de arquitetos
que se repete também em Serralves (Casa de
Serralves de Marques da Silva e Museu de Arte
Contemporânea de Siza Vieira).
O edifício da Estação de S. Bento, de José
Marques da Silva, construído entre 1896 e 1916,
deve o seu nome ao facto de ter sido edificado
no preciso local onde existiu o Convento de S.
Bento de Ave-Maria. Ainda em Paris, Marques
da Silva começou a trabalhar no projeto para
a construção desta estação. A sua proposta
inicial era claramente mais arrojada. A fachada
do edifício traduziria a mesma linguagem das
plataformas, através do recurso ao ferro fundido
e ao vidro. Ao ser recusada, a opção passou
pelo desenho de um edifício mais clássico, com
uma fachada dominada por dois torreões e
interiormente revestida de painéis de azulejos
revivalistas da autoria de Jorge Colaço. A sua
monumentalidade simboliza bem a importância
atribuída à acessibilidade e mobilidade como
fatores de progresso fundamentais para uma
nova e dinâmica centralidade da cidade.
27
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29
30
De um lado e doutro da Praça Almeida Garrett
encontram-se os acessos subterrâneos à linha
D do metro do Porto, que une Porto e Gaia pelo
tabuleiro superior da ponte Luís I, o que levou
a que, antes, tivesse de ser construída a ponte
do Infante, inaugurada em 2003, de forma a
dar escoamento ao tráfego rodoviário que por
aí afluía à cidade. Esta linha é a que tem maior
extensão de túnel subterrâneo, cerca de 7 km,
atravessando todo o centro da cidade.
A estação de Metro de S. Bento do arquiteto
Álvaro Siza Vieira é uma estação escavada a
partir da superfície, em cinco níveis: o Nível
de Superfície, com acessos na Praça Almeida
Garrett e na Avenida D. Afonso Henriques, este
último obrigando ao alargamento dos passeios;
o nível do Mezanino Alto que faz a ligação com a
cota alta da cidade facilitando o acesso às zonas
da Sé e da Batalha; o Nível do Mezanino Baixo, a
partir do qual se faz a ligação entre os elevadores
que comunicam com a superfície e com os cais
1 e 2; o Nível do Cais e o Nível do Sub-Cais. A
configuração e amplitude do Mezanino Baixo
são por vezes aproveitadas para a realização de
eventos culturais, desde exposições a concertos.
O revestimento é feito com azulejo artesanal
da fábrica Viúva Lamego, numa mescla de
oito tonalidades de vidrado, aonde se podem
ver aparecer aqui e ali, discretamente, fluidos
desenhos do arquiteto Álvaro Siza.
Se estendermos o olhar pela Avenida D. Afonso
Henriques, a mesma que dá acesso ao tabuleiro
superior da Ponte Luís I, veremos no cimo à
direita, no Morro da Sé, a silhueta austera da Sé
do Porto foto 31, em estilo românico, construída
no século XII mas alvo de muitas intervenções e
acrescentos que se estenderam até aos anos 40
do século XX.
À sua frente, desafiando-a, ergue-se o edifíciotorre da Casa da Câmara foto 32. Originalmente
construída no século XV para local de reunião
camarária, era constituída por grossas paredes
de granito rematadas com ameias, media
100 palmos de altura e era dividida em dois
sobrados. No piso superior ficava a sala do
Senado, no segundo piso a sala de audiências
e no piso térreo um armazém. Em finais do
século XVIII o edifício estava em ruina eminente
obrigando a Câmara a mudar-se para outros
espaços arrendados até à compra de um edifício
próprio. Em 1875 o edifício seria destruído por
um incêndio, permanecendo em ruinas até
2000, ano em que seria transformado, segundo
projeto de Fernando Távora (1923-2005), em
“memorial recordatório de longos anos de vida
e de história da cidade do Porto”. Concluída em
2001, a construção atual respeita a sobriedade
da construção primitiva e os 100 palmos de
altura, devidamente assinalados no exterior.
Digna de referência é a parede em vidro, oposta à
da entrada principal, através da qual se pode ter
uma perspetiva panorâmica da cidade, e ainda o
teto dourado do primeiro sobrado.
Na “Casa da Câmara” funciona desde 2005, um
Posto de Turismo Municipal.
Fernando Távora, nome fundamental na
Arquitetura portuense, foi um dos fundadores da
ODAM – Organização dos Arquitetos Modernos,
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em 1947, e é um dos grandes mentores da
chamada “Escola do Porto”, tendo sido mestre
e professor de muitos e consagrados arquitetos,
entre os quais Álvaro Siza.
Ao deixar a Estação de S. Bento pode ver outro
belo exemplo da arte azulejar portuguesa na
fachada da Igreja dos Congregados.
É a partir daqui que irá começar o percurso
pela Rua Sá da Bandeira, uma das que melhor
documenta a evolução da arquitetura Moderna
da cidade.
A toponímia presta homenagem a Bernardo
de Sá Nogueira de Figueiredo, nobre e político
português do tempo da monarquia constitucional.
A rua começou a ser aberta em 1836, engolindo
vielas, hortas e quintais e expropriando
algumas fábricas pelo caminho, tendo o seu
prolongamento conhecido sucessivas fases até
1939, dando lugar a uma grande artéria da cidade,
fundamental para o descongestionamento e
distribuição do trânsito crescente.
Dos inúmeros edifícios dignos de interesse que
se podem encontrar nesta rua, apenas iremos
mencionar alguns dos mais representativos.
À direita e à esquerda, logo no início da rua,
encontram-se dois belos edifícios ainda
marcadamente de influência beaux-arts foto 33.
Adiante, do lado esquerdo, no nº15, existe uma
barbearia que resiste à passagem do tempo.
Projeto de Manuel Marques, de 1929, a antiga
Barbearia Tinoco foto 34, mantém ainda muito
do mobiliário original.
Do mesmo lado, no nº 21, sobressai a fachada do
edifício do Hotel Peninsular foto 35. Quase em
frente, do lado direito, no nº 56, poderá reparar
no pormenor invulgar das vieiras de Santiago a
adornar o telhado de um edifício foto 36.
Mais à frente, à direita, no nº 84, o Hotel
Teatro inaugurado em 2010, projeto de Nini de
Andrade e Silva e de Miguel Brito Nogueira,
surge no mesmo local do antigo Teatro Baquet.
Inaugurado em 1859, foi palco de variadíssimas
peças e operetas, género em voga muito
apreciado pelo público da época, até que na noite
de 20 de Março de 1888, no decorrer de uma
ópera cómica que lotou por completo o teatro,
deflagrou um violento incêndio que vitimou
mais de cem pessoas e o destruiu por completo.
Posteriormente, o seu espaço foi ocupado
primeiro por uns grandes armazéns comerciais,
os “Hermínios” e depois por uma dependência
da Companhia União Fabril.
Em frente ao antigo teatro, encontra-se o
edifício do café A Brasileira foto 37, projetado
por Francisco de Oliveira Ferreira em 1915. “A
Brasileira” destaca-se pela sua fachada, em que
sobressai um para-sol de ferro e vidro de 1916,
e, em tempos, gaças ao seu interior requintado
onde predominavam os cristais, mármores e
mobiliário de couro gravado, era um dos cafés de
eleição da cidade.
A loja de café a “A Brasileira” abriu em 1903,
sendo propriedade de Adriano Teles, emigrante
retornado de Minas Gerais, no Brasil, onde se
havia dedicado ao negócio do café. Desejando
difundir a sua marca e fomentar o hábito de tomar
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café, desenvolveu uma interessante operação
de marketing, oferecendo uma chávena de café
a quem comprasse café em grão. Igualmente
interessante era a publicidade com a célebre
frase “O melhor café é o d’ A Brasileira”, composta
em azulejos colocados em locais estratégicos de
passagem e impressa em chávenas que muitas
das nossas avós ainda possuirão e que são
hoje cobiçadas por colecionadores. O sucesso
das vendas levou à ampliação das instalações
adquirindo os edifícios contíguos e abrindo o
café “A Brasileira” que ficava assim separado
da loja. Depois do Porto, Adriano Teles abriu “A
Brasileira” de Lisboa, no Chiado, em 1905, e “A
Brasileira” de Braga, em 1907.
Aqui siga à esquerda pela Rua do Bonjardim.
Para além do restaurante Regaleira, berço
da afamada “francesinha”, veja no n.º 105 o
Cardoso Cabeleireiros, foto 38, casa que produz
e comercializa cabeleiras postiças desde 1906.
Logo a seguir chegará à Praça D. João I,
onde pontuam vários importantes edifícios da
Arquitetura Moderna do Porto.
À esquerda, o Teatro Rivoli foto 39, com projeto
de Júlio de Brito e frisos do escultor Henrique
Moreira, datado de 1932 e posteriormente
remodelado em 1997 por Pedro Ramalho (1937).
Em frente, o Palácio Atlântico foto 40, de
1950, projeto da ARS Arquitetos (arquitetos
Fortunato Cabral, Cunha Leão e Morais Soares)
decorado com painéis artísticos em mosaicos
policromados de Jorge Barradas, construído
para ser a sede do antigo Banco Português do
Atlântico de António Cupertino de Miranda.
À direita, aquele que foi em 1945, o prédio mais
alto de Portugal, de Rogério de Azevedo (18981984) e de Baltasar de Castro (1891-1967), o
famoso Rialto foto 41.
São notáveis as vigorosas esculturas que
ladeiam a Praça, os “Corcéis”, da autoria do
escultor João Fragoso, de 1954.
Saindo da Praça D. João I em direção à Rua Sá da
Bandeira, atravesse para a Rua Passos Manuel
e suba-a pelo lado esquerdo para melhor poder
apreciar os edifícios que se seguem.
No nº 44, encontra-se a sede do Clube Ateneu
Comercial do Porto foto 42, fundado em 1869.
Ocupando estas instalações desde 1885, possui
uma biblioteca com um espólio superior a
40.000 títulos e 80.000 volumes, destacando-se a
primeira edição fac-símile dos Lusíadas, de Luís
de Camões, de 1572.
Acima, na esquina com a Rua de Santa Catarina, estão os antigos Armazéns Nascimento
foto 43, da autoria de Marques da Silva, de
1914. Posteriormente, o edifício seria convertido
em Café, o famoso Palladium, frequentado
por comerciantes abastados. As sucessivas
ocupações de que o edifício tem vindo a ser
alvo desde a sua construção, têm alterado
substancialmente o seu interior.
Em frente, na esquina da Rua Santa Catarina
com a Rua Passos Manuel, ergue-se o edifício da
antiga Casa Inglesa foto 44, projeto de Francisco
de Oliveira Ferreira, de 1923.
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Faça agora uma pequena incursão à direita, em
direção à Rua 31 de Janeiro.
Na esquina da Rua de Santa Catarina com a
Rua 31 de Janeiro poderá ver do seu lado direito
a fachada da antiga Ourivesaria Reis & Filhos
foto 45, agora uma loja de moda. Repare na
fachada e no pormenor do teto pintado. Foi
autor do projeto de arquitetura o arquiteto José
Teixeira Lopes (1872-1919) com a colaboração de
seu irmão, o escultor António Teixeira Lopes.
Em frente, uma das mais antigas livrarias
da cidade, a Latina foto 46, recentemente
remodelada.
Ao cimo da Rua 31 de Janeiro, à esquerda, erguese a Igreja de Santo Ildefonso foto 47, construída
entre 1730 e 1737. No interior poderá admirar
a obra de talha com risco de Nicolau Nazoni,
também ele um arquiteto de grande importância
na cidade. Os azulejos da fachada são da autoria
de Jorge Colaço.
Prolongando o olhar em frente veremos as
fachadas de dois emblemáticos edifícios da
cidade: o antigo Café e Cinema Águia D’Ouro
foto 48 e o Cinema Batalha foto 49.
O primeiro data de 1839, tendo sido remodelado
em 1931. Em 1989 o cinema fecharia portas e
ficaria votado ao abandono, tendo sido alvo de
intervenção recente que, preservando a fachada,
deu origem ao hotel B&B.
Mesmo ao lado, aguardando recuperação,
encontra-se o Cinema Batalha, projeto de Artur
Andrade, de 1946.
O arquiteto (1913-2005) foi membro fundador da
ODAM (Organização dos Arquitetos Modernos)
e esta obra é um sinal importante de uma nova
geração moderna. Nos anos 40 os cinemas
eram vistos como símbolos de modernidade
e prestígio, espaços de referência na cidade
e por isso, a utilização de uma linguagem
formal moderna, era vista quase como uma
consequência natural. O edifício organiza-se em
torno de uma sala, à volta da qual funcionam
todos os restantes espaços, nomeadamente
amplos “foyers”, iluminados pelos janelões
da fachada. Na época dois artistas plásticos
colaboraram com Artur Andrade – Júlio Pomar
com frescos neorrealistas e A. Braga com um
baixo-relevo colocado na fachada. No caso de
Pomar a censura dará ordem de destruição e no
caso de A. Braga de alteração da representação
(foi retirada uma foice e um martelo).
Mais à frente, na Praça da Batalha, pode ver
a fachada amarelo ocre do Teatro Nacional de
São João foto 50. O Real Teatro de São João
foi construído segundo projeto do arquiteto
e cenógrafo italiano Vincenzo Mazzoneschi e
inaugurado oficialmente no dia 13 de Maio de 1798.
Destruído por um incêndio em 1908, coube a José
Marques da Silva a sua reconstrução, feita já com
recurso ao betão na estrutura, mas mantendo
no estilo decorativo a inspiração francesa, tão
característica da época. Inaugurado em 1920, o
edifício foi-se degradando até ser adquirido pelo
Estado em 1992, tendo sido atribuído em 1993,
o processo de restauro, remodelação e reequipamento, ao arquiteto João Carreira. Em 2012 foi
reclassificado como Monumento Nacional.
O Teatro Nacional São João pode ser visitado
todos os sábados, às 12:00, mediante reserva
prévia até às 18:00 de sexta-feira para [email protected].
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Voltando atrás em direção à Rua Passos Manuel,
no cruzamento, vire à direita.
Aí, frente a frente, estão dois ícones do
Modernismo no Porto: o Coliseu do Porto e a
Garagem Passos Manuel.
No nº 178, encontra-se a Garagem Passos
Manuel foto 51, de Mário de Abreu, de 1930. Os
pisos inferiores destinam-se a parqueamento
automóvel; por cima, um piso de escritórios
organizado em volta de pátios, e por último um
piso para habitação. Integrava ainda espaços
comerciais destinados a Stand de vendas,
barbearia, cafetaria e engraxadoria. De realçar o
recurso ao néon enquanto elemento decorativo
inovador, neste caso configurando o mapa de
Portugal, assente sobre superfície de vidro.
Atualmente, no quarto piso, existe um espaço
polivalente de cultura e lazer.
Mesmo em frente, no nº 137, outro ícone do
Modernismo, o Coliseu do Porto foto 52 projeto
de Cassiano Branco (1897-1970), Júlio de Brito
(1896-1965) e Mário de Abreu, datado de 1941.
Obra do arquiteto Cassiano Branco, mas com
intervenção de outros arquitetos, principalmente
de Mário Abreu, o Coliseu é considerado uma
obra emblemática do modernismo português da
primeira geração. Conhecido fundamentalmente
como sala de espetáculos, o Coliseu foi usado
também como sala de cinema e outros eventos
culturais, a par de espaços para escritórios.
O interior da sala e o alçado, onde sobressai
uma torre de 42 metros, dão à obra uma forma
expressionista que enfatiza o sentido espetacular
da arquitetura, não fosse este, um edifício
destinado ao espetáculo.
A utilização de materiais ricos e luxuosos
como mármores, estuque, cobre e ferro forjado
denunciam influências Art Déco em Cassiano
Branco e dão espetacularidade aos ambientes.
Infelizmente, o projeto integral não seria levado
até ao fim por afastamento do arquiteto devido a
problemas com o empreiteiro.
O Coliseu do Porto alberga ainda o espaço do
Cinema Passos Manuel, agora com funções
polivalentes.
Descendo a Rua Passos Manuel até ao cruzamento
com a Rua Santa Catarina, encontraremos logo à
direita, o famoso Café Majestic foto 53, projeto
de João Queirós. Inaugurado em 1921 como Café
Elite, viria a tomar o nome que ainda mantém
em 1922. Era frequentado pela elite da cidade
e local de reunião de comerciantes, artistas,
homens de letras e senhoras da sociedade. Dos
anos 60 aos anos 80 o café foi-se degradando,
até ser decretado imóvel de interesse público
e património cultural em 1983, ano em que foi
adquirido pelo atual proprietário que procedeu
ao seu rigoroso restauro devolvendo-lhe o
encanto de outros tempos.
Mesmo ao lado do café está a Casa Alvão, uma
das mais antigas casas de fotografia da cidade a
funcionar no mesmo local desde 1901.
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Prosseguindo pela Rua Santa Catarina, no nº
200, levante o olhar para reparar no pormenor
dos azulejos fazendo publicidade ao antigo
Grande Bazar do Porto foto 54.
Em frente, no nº 197, encontra-se um dos mais
antigos hotéis da Cidade, o Grande Hotel do
Porto foto 55, da autoria de Silva Sardinha (18451906), datado de 1880, de inspiração Vitoriana,
ornado por um pequeno e bonito para-sol em
vidro e ferro. O hotel tem vindo a ser renovado
desde 2008 pelo atelier Cremascoli, Okumura,
Rodrigues, Arquitetos, com design de interiores
de Fernando Marques de Oliveira.
Virando à esquerda para a Rua Formosa
repare nos azulejos que decoram a fachada da
mercearia Pérola do Bolhão foto 56, fundada em
1917 e um dos estabelecimentos de comércio
tradicional que encontrará nesta zona em torno
do Mercado do Bolhão.
Atravesse agora para o outro lado da rua e entre
na Rua Alexandre Braga.
Aproveite para reparar, no cimo do prédio
da esquina com a Rua Formosa, no bonito
miradouro em ferro forjado foto 57.
Acima, à direita, no nº 94, poderá ver mais
um projeto da autoria de Marques da Silva, de
1928. Destaca-se o pormenor da assinatura do
arquiteto foto 58 na fachada do prédio.
Mais acima, à esquerda, encontrará a entrada
para a Estação de Metro do Bolhão foto 59,
projetada por Eduardo Souto de Moura, onde
poderá ver o painel de azulejos de Júlio Resende
(1917-2011) (sugerimos-lhe vivamente que visite
o Lugar do Desenho dedicado à obra do Mestre,
em Gondomar), inspirado na vivência do Mercado
e das suas vendedoras.
A seguir ao nº 93 está uma das entradas para o
Mercado do Bolhão foto 60, que deve o seu nome
ao facto de assentar numa nascente de água e de
ter, em tempos, nas suas imediações, uma bica
designada de “Fonte do Bolhão”.
Projeto de Correia da Silva, edificado entre 1914 e
1917, ocupa todo o quarteirão, desenvolvendo-se
em torno de um chafariz com quatro bicas, com
dois pisos interligados por várias escadarias,
em torno de um pátio central subdividido em
dois espaços exteriores através de uma galeria
coberta, dos anos quarenta. Exteriormente, o
edifício aloja vários estabelecimentos voltados
para as quatro ruas que o delimitam: Fernandes
Tomás, a norte, Alexandre Braga, a este,
Formosa, a sul, e Sá da Bandeira a oeste. Os
torreões que rematam as esquinas denotam
uma influência Beaux-Arts, e o frontão virado
para a Rua Formosa é decorado com esculturas
representando o Comércio e a Agricultura.
Classificado como imóvel de interesse público
em 2006, aguarda obras de recuperação.
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À saída poderá observar na Rua Sá da Bandeira,
os detalhes interessantes de azulejos e ferro
forjado em portas e varandas, alguns revelando
influência Arte Nova, para além de poder tomar
contacto com estabelecimentos de comércio
tradicional.
Suba a Rua Sá da Bandeira.
Ao chegar ao cruzamento com a Rua Fernandes
Tomás, verá do lado esquerdo o edifício
denominado Palácio do Comércio foto 61, que
ocupa todo o quarteirão, projeto de 1941, de David
Moreira da Silva, genro de Marques da Silva.
Edifício de grande imponência, nele sobressaem,
entre muitos outros detalhes, os vidros curvos
importados de propósito da Bélgica, assentes
em caixilharia de bronze, e o torreão que remata
a esquina da Rua Sá da Bandeira com a Rua
Fernandes Tomás.
Sobressai igualmente o conjunto escultórico que
ornamenta a fachada voltada para a Rua Sá da
Bandeira.
Continuando a subir a Rua Sá da Bandeira, do
lado esquerdo, no n.º 633/673, encontrará o
Edifício DKW foto 62, de Arménio Losa (19081988) e Cassiano Barbosa (1897-1970), de
1951, destinado a garagem, estabelecimentos
comerciais, escritórios e habitação. A garagem
ocupa toda a área do terreno em dois pavimentos
sobrepostos e os estabelecimentos comerciais
ocupam o pavimento ao nível das ruas. Os
compartimentos/escritórios, podem agrupar-se
e desagrupar-se criando espaços de diferentes
dimensões consoante as necessidades, revelando uma forma moderna de conceção dos
espaços adaptada a novos estilos de vida. Para
além da interessante distribuição de volumes, a
pala na entrada e a escada helicoidal no interior
são também traços a observar.
Vire agora à esquerda na Rua Guedes de Azevedo.
Aqui é confrontado, à direita, com a singular
imagem da pequena Capela de Fradelos, do
século XIX, tendo como pano de fundo a grande
estrutura helicoidal em betão armado aparente
que constitui o Silo-Auto foto 63, um projeto de
1964, dos arquitetos Alberto Pessoa (1919-1985)
e João Abel Bessa, destinado a resolver os
problemas de estacionamento que se verificavam
na época.
Em frente, do lado esquerdo, ergue-se a torre do
Hotel D. Henrique foto 64.
Projetada pelos arquitetos C. de Almeida, José
Carlos Loureiro (1925) e Luís Pádua Ramos
(1931-2005) na década de 60 do século XX,
primeiramente para escritórios, foi, já em fase
de construção, adaptada a hotel.
Completa o projeto uma galeria comercial com
acessos diretos pelas Ruas do Bolhão e do
Bonjardim, com jardins interiores. O Hotel dispõe
de um restaurante panorâmico no 17º andar,
diferenciado no exterior pela existência de um
brise-soleil.
Prosseguindo pela Rua Guedes de Azevedo vire
à esquerda para a Rua do Bonjardim, antiga
estrada de Guimarães.
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Na primeira rua à direita verá, também à direita,
a Estação de Metro da Trindade foto 65, projetada
pelo arquiteto Souto de Moura.
Nesta estação, cruzam-se todas as linhas de
metro, sendo o acesso à linha D, que une Porto e
Gaia, feito pelo cais do subsolo.
Atravesse a Rua da Trindade.
Poderá aproveitar para visitar a Igreja da Trindade
foto 66, de estilo neoclássico, construída durante
o séc. XIX segundo projeto de Carlos Cruz
Amarante.
Em frente à igreja surge a parte traseira do
edifício dos Paços do Concelho, mais sóbria e
despojada.
De volta ao ponto de partida, termina assim este
percurso que, esperamos, lhe tenha despertado
a vontade de calcorrear outras ruas, outras
zonas, partindo à descoberta da história e das
histórias que a cidade encerra, aguardando
apenas um olhar seu para as revelar.
Notas:
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