ANÁLISE GENÉTICA PRELIMINAR DE SETE POPULAÇÕES DE Astyanax altiparanae COLETADAS NA BACIA DO RIO DAS CINZAS-PR, UTILIZANDO PCR-RAPD. 1** Joana Espricigo Conte; 1*Gabriela Bueno Franco;1Isabella Maria Dias payão Ortiz; 2Sandremir de Carvalho. 1 Alunos da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Curso de Ciências Biológicas, Caixa Postal 261, CEP 86360000, Bandeirantes, PR, Brasil,** Bolsista Fundação Araucária, * Bolsista CNPq ;2Docentes da Universidade Estadual Norte do Paraná. **Autor para correspondência: [email protected] INTRODUÇÃO Astyanax altiparanae pertence à Família Characidae e é classificada como insetívora, apresentando elevada sobreposição alimentar (CASATTI, 2003). O gênero Astyanax é considerado um importante elemento para a manutenção do equilíbrio ecológico dos ambientes onde se encontra (GODOY, 1959). Segundo Leuzzi (2003) A. Altiparanae é comumente encontrada na bacia do Alto Paraná. Nesta região encontra-se o Rio Laranjinha, que possui uma PCH (pequena central hidrelétrica) e é um importante afluente do Rio das Cinzas. Este por sua vez compõe a Bacia do Rio Paranapanema e é considerado um dos tributários de maior porte do Rio das Cinzas (HOFFMANN, 2003). A hidrografia da região também é caracterizada pela presença de Ribeirões, que segundo Luiz et al. (1988) são considerados como um ecossistema frágil e muito sensível às ações antropogênicas que interferem no ambiente. A fragmentação das populações e a redução do fluxo gênico são alguns dos principais fatores analisados dentro da genética de conservação (FRANKHAM et al., 2008). O conhecimento da diversidade genética em espécies de peixes é importante para a compreensão de como são distribuídas as populações e o seu potencial evolutivo (CARVALHO, 1993). Entre as técnicas moleculares utilizadas nos estudos de estruturas populacionais, o RAPD (Random Amplification of Polymorphic DNA) baseado em PCR (polymerase chain reaction), têm se mostrado eficientes nas avaliações. Como a espécie A. Altiparanae é presente em abundância nas bacias do Paraná e pela constantes fragmentação e interferências antropogênicas nos ecossistemas aquáticos da região, este trabalho propõe realizar a analise preliminar de estruturação gênica de sete populações de A. altiparanae coletadas na Bacia do Rio das Cinzas, utilizando-se marcadores moleculares PCRRAPD. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados em média 22 indivíduos de cada população capturados em sete locais diferentes da bacia do Rio das Cinza: Dois Locais nas proximidades da Cidade de BandeirantesPR, um tanque de criação de peixes abastecido por uma mina interna e um no Ribeirão das Antas, afluente do Rio das Cinzas. Dois pontos na calha do Rio das Cinzas, dois pontos no Rio Laranjinha, montante e jusante da escada de transposição de peixes e indivíduos capturados em diferentes pontos do Ribeirão do Penacho, afluente do Rio Laranjinha, Ribeirão do Pinhal (PR). De cada exemplar capturado foi retirado um pedaço de músculo e conservado em álcool 70% a -20ºC. A extração do DNA foi realizada de acordo com o protocolo de Povh, et. al (2005). A quantificação foi realizada em gel de agarose a 1,0%, 3V/cm, corado com brometo de etídio, e para estimativa do DNA genômico foi utilizado o software 1Kds da Kodak com base no marcador Lambda cortado Hind III na concentração de 100 ɳg/µl. Foi realizada uma seleção com vinte primers para verificar quais apresentam um melhor perfil eletroforético. As reações de amplificação foram realizadas em um mix com volume de 15L contendo 15 ng do DNA genômico, 250M de dNTP, 0,33 M de primer, 3,3 mM de MgCl2, 1U de Taq, tampão de reação 10x (10mM Tris-HCl pH 8,0 50mM KCl) e completado o volume com água estéril. A amplificação do DNA foi programada da seguinte forma: desnaturação inicial de 4 minutos a 92C, 40 ciclo constituído de três fases, sendo elas: 92ºC por 40 segundos, 40ºC por 1 minuto e 72ºC por 2 minutos. E para finalizar uma fase de extensão com temperatura mantida em 72ºC durante 5 minutos. Os géis foram analisados observando-se presença e ausência de bandas e obtida uma matriz binária que foi analisada pelos programas computacionais TFPGA 1.3 e NTSYS-PC. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram utilizados quatro primers, sendo eles: OPP-6, OPP-7, OPP-08, OPP-12 que resultaram em um total de 74 locos. A porcentagem de loci polimórficos (P) e heterozigozidade média (He) variaram respectivamente entre 75,67% e 90,54% e 0,320 e 0,392, sendo os menores valores observados pertencentes à população à montante da barragem do Rio Laranjinha e os maiores para os espécimes coletadas no Ribeirão do Penacho. Menores valores de (P) já haviam sido encontrados para a mesma população coletada à montante da barragem utilizando-se outros primers (CONTE, 2010). A distância genética se apresentou maior (Tabela I) e o Nm (Número de migrantes por geração) mostrou-se menor nas comparações envolvendo a população à montante do Rio Laranjinha (camparações de número 6, 11, 15, 18 e 20 da TabelaI). Ferreira (2009) realizando análise genética em Geophagus brasiliensis coletados no Ribeirão do Penacho e no Rio Laranjinha também encontrou valor de distância genética alta entre as populações analisadas (0,054). Segundo Jager et al. (2001) a fragmentação de rios por barragens altera os padrões de migração entre populações de peixes, pois converte rios de fluxo livre em reservatórios. Buscando diminuir os impactos causados por tal fragmentação, as escadas de transposição de peixes visam interligar as populações sujeitas à barragens. Agostinho et al. (2002) analisando a eficiência das escadas de transposição concluem que em muitos casos é possível que as mesmas possam ter sidos responsáveis por mais impactos aos estoques de peixes. Os valores de Theta não foram significativos nos cruzamentos 1 e 7 indicando ausência de estruturação entre as populações (Tabela I) . Os resultados demonstram que a população a montante da escada de transposição apresenta uma estruturação de moderada a grande quando comparada as demais populações. Isto é indicativo de que a barragem que foi construída na década de 60 vem interferindo no fluxo gênico. Alguns Resultados inesperados foram encontrados na comparação de número 7 entre as populações dos dois ribeirões (tabela I), pois foram as que apresentaram um maior valor de similaridade e maior número de migrantes por geração (Nm) entre as populações. Isto passa a ser intrigante, pois os dois ribeirões não apresentam nenhuma ligação física direta entre si. Desta maneira podemos atribuir a semelhança entre as duas populações à manutenção de determinados alelos para adaptação em ambientes que são fortemente influenciados pela ação antrópica. Também deve- se ressaltar a importância dos pequenos ribeiros na manutenção da variabilidade genética para determinadas espécies. Segundo Esteves & Aranha (1999) não se pode aplicar aos pequenos tributários os conhecimentos adquiridos sobre os rios maiores, pois esses possuem características exclusivas. Rios de pequena ordem exibem naturalmente baixa riqueza específica sendo altamente suscetíveis a perda de espécies e redução da diversidade por mudanças induzidas pela urbanização na qualidade da água, regime hidrológico ou ambos. (CUNICO, 2006). O dendrograma, construído através do coeficiente de Jaccard e método UPGMA, mostrou a tendência em agrupar os indivíduos das mesmas populações, principalmente da montante e jusante do Rio Laranjinha e indivíduos do Rio das Cinzas. Tabela I: Resultados encontrados nas comparações entre pares das populações analisadas. No quadro encontra-se os resultados do quiquadrado( 2), número de migrantes por geração (Nm) distância e identidade de Nei´s (1978).e estruturação das populações ( θ). Cruzamento 1 2 Populações 2* Nm Nº TanquexCórrego 3,2472 6,53 Tanque de CriaçãoxPenacho 3 Tanque de CriaçãoxCinzas 1 4 Tanque de CriaçãoxCinzas 2 5 Tanque de CriaçãoxLaranjinha Jus 6 Tanque de CriaçãoxLaranjinha Mon 4,3472 11,035 10,393 9,8212 16,456 4,81 1,74 1,87 1,94 1,09 44 Distância 0,0246 Identidade 0,9757 Theta 0,0369 44 0,0342 0,9664 0,0494 44 0,0884 0,9154 0,1254 44 0,08 0,9231 0,1181 43 0,0813 0,9219 0,1142 44 0,1336 0,8749 0,187 0,9855 0,0223 7 CórregoxPenacho 1,9624 10,96 44 0,0146 8 CórregoxCinzas 1 9,416 2,09 44 0,0718 0,9307 0,107 44 0,0551 0,9464 0,087 43 0,0675 0,9347 0,0989 44 0,1242 0,8832 0,1801 44 0,0543 0,9472 0,0822 44 0,0305 0,9699 0,0504 43 0,0399 0,9609 0,0608 0,8813 0,1785 9 CórregoxCinzas 2 10 11 CórregoxLaranjinha Jus CórregoxLaranjinha Mon 12 PenachoxCinzas 1 13 PenachoxCinzas 2 14 PenachoxLaranjinha Jus 7,656 8,5054 15,849 7,2336 4,4352 5,2288 2,62 2,28 1,14 2,79 4,71 3,86 15 PenachoxLaranjinha Mon 15,708 1,15 44 0,1263 16 Cinzas 1xCinzas 2 7,8584 2,55 44 0,0535 0,9479 0,0893 43 0,0648 0,9373 0,1011 44 0,14 0,8693 0,2054 43 0,0306 0,9698 0,0527 44 0,1327 0,8757 0,2013 0,107 0,8985 17 18 Cinzas 1xLaranjinha Jus Cinzas 1xLaranjinha Mon 19 20 Cinzas 2xLaranjinha Jus Cinzas 2xLaranjinha Mon 21 8,6946 18,075 4,5322 17,714 2,22 0,97 4,49 0,99 Laranj. JusantexLaranj. Mon 14,147 1,27 43 0,1645 * diferença significativa ao nível de 5%; 2 = 3,84; valores de : entre 0,05 a 0,15 (diferenciação moderada); : entre 0,15 - 0,25 (grande diferenciação) e entre : 0,25 – 1,0 (muito grande) segundo Wright (1978). CONCLUSÃO Os resultados encontrados demonstram uma estruturação moderada a grande entre as populações analisadas. Entre o tanque e o córrego não houve diferenças na estruturação genética, já que provavelmente a população do tanque seja proveniente de peixes do ribeirão das Antas que migram para o tanque nos períodos de enchentes. Também podemos aferir que a barragem construída no Rio Laranjinha interferiu no fluxo gênico, sendo que a população a montante foi a que apresentou menor variabilidade genética e menor número de He, o que poderia ser explicado por um aumento na endogamia nesta população. Um resultado surpreendente foi a alta variabilidade e He encontrada nos dois ribeirões, ambos com forte influência antrópica, demonstrando que esta espécie apresenta uma adaptação em ambientes distintos, o que também aponta a necessidade de preservar estas fontes de pequena ordem devido a manutenção de grande variabilidade para algumas espécies. Os valores encontrados apontam para a necessidade de futuras ações de manejo envolvendo principalmente indivíduos pertencentes à montante da Barragem do Rio Laranjinha, já que esta se apresentou como a população mais distante e com menor Nm em relação às demais, demonstrando aparentemente um isolamento que pode ser causado devido à barragem presente no Rio. AGRADECIMENTO À Fundação Araucária e à CNPq pelas bolsas de iniciação científica. REFERENCIAS AGOSTINHO, A. A. et al. Efficiency of fish ladders for Neotropical Ichthyofauna. River Research and Applications, United Kingdom: John Wiley & Sons, v. 18, n. 3, p. 299 – 306, 2002. 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