EDUCAÇÃO ESTÉTICA, NO ÚLTIMO FOUCAULT, COMO NOVA

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Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 7, Edição 14, Ano 2012.
EDUCAÇÃO ESTÉTICA, NO ÚLTIMO FOUCAULT,
COMO NOVA SUJEIÇÃO
AESTHETIC EDUCATION IN LAST FOUCAULT, AS
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FERREIRA, Simone Villas1
RESUMO
Na obra de Michel Foucault há três fases. O estudo dos modos de objetivação conduz a duas:
a fase de estágios arqueológicos e genealógicos investigados, respectivamente, as relações das
relações de conhecimento e poder constituem o assunto. A terceira etapa, chamada de "ética",
está preocupada com os modos subjetividade. Se concentra em como as relações de
conhecimento e poder têm produzido condições de possibilidade de uma estética da
existência. Assim, nesta fase final de sua obra, Foucault se pergunta por aquilo que torna
possível a formação dos sujeitos, a partir de seus estudos sobre as relações do discurso e
poder. Reflito sobre estes processos de modos de objetivação que produzem subjetividades.
Modos de objetivação, tratados basicamente, dizem respeito ao campo do conhecimento, isto
é, discurso e práticas de linguagem. Mais as relações de poder com o qual ele se articula.
Neste contexto, a pedra angular desta investigação é a relação entre ética e estética em jogo no
processo de formação do sujeito. Com essa estratégia, é projetada uma breve turnê de um
vocabulário que permite analisar a relação entre formas de conhecimento, formas de poder e
formas de sujeição.
Palavras-chave: Sujeito e Subjetivação; Último Foucaut; Educação Estética.
ABSTRACT
In the work of Michel Foucault's three phases. The study of modes of objectification leads to
two: the phase of archaeological and genealogical investigation stages, respectively, the
relations of relations of knowledge and power are the subject. The third step, called "ethics" is
concerned with the ways subjectivity. Focuses on how the relations of knowledge and power
have produced conditions of possibility of an aesthetics of existence. Thus, this final phase of
his work, Foucault asks for what makes possible the formation of subjects, from his studies on
the relations of discourse and power. I reflect on these processes in ways that produce
subjectivities objectification. Modes of objectification, treated primarily relate to the field of
knowledge, that is, speech and language practices. More power relations with which it
articulates. In this context, the cornerstone of this research is the relationship between ethics
and aesthetics at stake in the process of subject formation. With this strategy, is designed to a
brief tour of a vocabulary that allows us to analyze the relationship between forms of
knowledge, forms of power and forms of bondage.
Keywords: Subject and Subjectivity; Last Foucaut; Aesthetic Education.
1
Mestra em Filosofia pela UFRJ. Professora de Filosofia e Educação na Faculdade Machado Sobrinho (FMS) – Juiz de Fora
– MG. Pertence à equipe Editorial da RFC, desde 2006. Editora-Chefe da Revista Eletrônica Machado Sobrinho (REMS). Email: [email protected].
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Introdução
Segundo alguns estudiosos é o sujeito
o alicerce da filosofia de Michel Foucault,
que ocorre em três fases. A primeira trata
da arqueologia do saber, a segunda da
genealogia do poder e por fim a estética da
existência. Na arqueologia do saber
Foucault pensa o homem como condição de
possibilidade do surgimento das Ciências
Humanas, abordada nas obras: “As
Palavras e as Coisas”, “Arqueologia do
Saber” e “Nascimento da Clínica”. Na
genealogia do poder é analisado como o
sujeito é constituído a partir das relações de
poder e de saber como formas de controle,
tal temática foi intensamente tratada nas
obras: “História da Loucura”, “Vigiar e
Punir” e “Microfísica do Poder”. Já a
estética da existência deve ser considerada
a partir da constituição da individualidade
do sujeito, que significa sua subjetivação
com relação às práticas e normas de
determinada conduta que regulam sua vida,
encontrada principalmente no volume
número três da obra: “História da
Sexualidade”, dividida em três volumes.
Com isso, segue-se um estudo
relatando alguns pensamentos de Foucault.
Vale esclarecer que tal análise se deterá no
seu último período, a respeito da questão do
cuidado de si, com o intuito de
compreender o conceito de cuidado na
ontologia de nós mesmos como noção
básica da constituição da individualidade.
Entretanto,
o
pensamento
foucaultiano supramencionado nada tem de
inédito: sua raiz teórica já é encontrada no
conceito de “caminho estético”, de
Friedrich Schiller, em cuja obra “Cartas
sobre a educação estética da humanidade”
apresenta,
didaticamente,
os
meios
conceituais para se chegar ao Bem e à
Verdade através da Arte.
Pretendo, pois, contrapor e avaliar os
conceitos “caminho estético” e “estética da
existência”, de Schiller e de Foucault,
respectivamente, e, a partir dessa
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contraposição, fazer surgir noções novas
acerca de “verdade”, “conhecimento”,
“sujeito” e “pedagogia das afeições”. E,
finalmente, defender o conceito de
“educação estética” como inaugurador de
outro modelo aplicável de formação.
Educação estética não é um conceito
inédito no ambiente filosófico; sua origem
conceitual é trabalhada pelo romântico
Schiller, nas suas Cartas (conforme as
Referências), cujo fundamento, ao criticar o
“juízo estético” de Kant, na sua obra “A
Crítica do Juízo”, afirma que a educação
estética é um meio não apenas teórico, mas
prático de se alcançar o Bem e a Verdade.
Ao fazer tal afirmação, Schiller tira da
Razão a tarefa de se [saber] chegar à Ética;
tal tarefa, agora, é destinada ao
desenvolvimento da sensibilidade, das
formas de ver o mundo, pelo viés da Arte e
as incontáveis possibilidades de texto que
dela emergem.
Porém, mesmo não se tratando de um
conceito inédito, no ambiente filosófico, a
educação estética é uma proposta teórica
que carece de pesquisa, justamente por
aquilo que ela faz inaugurar como
transgressão aos processos subjetivadores,
como recolocação do sujeito no ambiente
da formação e como promovedora de
autonomia.
Na obra de Michel Foucault há três
fases. O estudo dos modos de objetivação
conduz a duas: a fase de estágios
arqueológicos e genealógicos investigados,
respectivamente, as relações das relações de
conhecimento e poder constituem o
assunto. A terceira etapa, chamada de
"ética", está preocupada com os modos
subjetividade. Se concentra em como as
relações de conhecimento e poder têm
produzido condições de possibilidade de
uma estética da existência. Assim, nesta
fase final de sua obra, Foucault se pergunta
por aquilo que torna possível a formação
dos sujeitos, a partir de seus estudos sobre
as relações do discurso e poder. Reflito
sobre estes processos de modos objetivação
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que produzem subjetividades. Modos de
objetivação, tratados basicamente, dizem
respeito ao campo do conhecimento, isto é,
discurso e práticas de linguagem. Mais as
relações de poder com o qual ele se articula.
Neste contexto, a pedra angular desta
investigação é a relação entre ética e
estética em jogo no processo de formação
do sujeito. Com essa estratégia, é projetada
uma breve turnê de um vocabulário que
permite analisar a relação entre formas de
conhecimento, formas de poder e formas de
sujeição.
Formação do sujeito
As primeiras palavras do vocabulário
sobre a relação entre o conhecimento é o
pensar. Pensar, ao contrário, é uma
atividade que ocorre após a transgressão
dos limites do pensamento e da
problematização dos campos. A alegação
de conhecimento que articula entre
diferentes campos do conhecimento, da
transgressão de limites, tem a ver com seu
próprio quadro conceitual e metodológico
que sustenta este texto e o anteprojeto de
tese. A ênfase dada a esta questão é
considerar a produção de modos de ver e
contar a experiência da realidade como
experimentação com as próprias formas de
conhecimento. No pensamento de Foucault,
essa noção se refere a uma experiência de
aprendizagem e conhecimento do assunto,
que problematiza a regulação dos modos de
ver e produzir da linguagem através
experiência.
Assim, a questão da formação do
sujeito emerge como uma prática de
maneiras de ver e nomear (definir) as
formas de experiência nesse assunto
configurado. Em Foucault, formação do
sujeito é entendida como uma prática de
autoconhecimento produzido, e produção
de significado é entendida como a
constituição de uma narrativa sobre o que
acontece com o assunto, e que resulta de
uma prática de conhecimento. As formas
dessa narrativa através da qual o sujeito
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produz sentido são cruciais para sua
experiência, a narrativa é o que produz a
própria experiência, ou seja, é a constatação
de que através da linguagem é que o sujeito
dá sentido à sua existência.
O cuidado de si
O "cuidado de si" é o que constitui a
ética do sujeito em Foucault, que constitui
um exercício de percepção reflexiva, e as
palavras que produzem conhecimento a
partir dessa percepção. Na verdade, trata-se
de cuidado de si como uma espécie de
condição de possibilidade do sujeito ético,
pois é através desta prática como o assunto
toma conta dos princípios éticos que
orientam a sua formação. É a partir destes
cuidados que o sujeito coloca em prática o
princípio de atividade, com critérios de
fundamentação estéticos e éticos. Assim,
afirma que, com o cuidado, o que acontece
no sujeito é uma condição de possibilidade
da vida como uma obra de arte. Ele também
afirma que maneiras de fazer as coisas, de
perceber e a elas se referir, são uma estética
da existência do sujeito.
A vida, como uma obra de arte e
estética da existência, também está no
vocabulário foucaultiano que tento articular
aqui. A importância da "vida como uma
obra de arte" para o processo de formação
do sujeito tem a ver com o tratamento da
existência como um processo de
composição, que improvisa modos de ser, a
arte de vida gera um conhecimento da vida,
um conhecimento que é legítimo no espaço
cotidiano das relações geradora de poder,
como o próprio Foucault analisa:
Dizendo poder, não quero significar 'o
poder', como um conjunto de instituições e
aparelhos garantidores da sujeição dos
cidadãos em um estado determinado.
Também não entendo poder como um
modo de sujeição que, por oposição à
violência, tenha a forma de regra. Enfim,
não o entendo como um sistema geral de
dominação exercida por um elemento ou
grupo sobre o outro e cujos efeitos, por
derivações sucessivas, atravessem o corpo
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social inteiro. A análise em termos de poder
não deve postular, como dados iniciais, a
soberania do Estado, a forma da lei ou a
unidade global de uma dominação; estas
são apenas e, antes de mais nada, suas
formas terminais. Parece-me que se deve
compreender o poder, primeiro, como a
multiplicidade de correlações de forças
imanentes ao domínio onde se exercem e
constitutivas de sua organização; o jogo
que, através de lutas e afrontamentos
incessantes as transforma, reforça, inverte;
os apoios que tais correlações de força
encontram umas nas outras, formando
cadeias ou sistemas ou ao contrário, as
defasagens e contradições que as isolam
entre si; enfim, as estratégias em que se
originam e cujo esboço geral ou
cristalização institucional toma corpo nos
aparelhos estatais, na formulação da lei, nas
hegemonias sociais.2
Problematizar as formas de controle e
regulação do conhecimento traz evidências
de ação do conhecimento sobre as formas
de experiência, que são as formas da vida.
Ou seja, explicar o termo “vida”, em
Foucault, é tentativa de destacar as relações
entre produção de conhecimento e a
produção de formas de vida em processos
formação do sujeito.
A relação entre a produção
conhecimento e estética da existência é
articulada a partir da perspectiva da
formação, isto é, uma produção de
conhecimento conceitual ocorre após a
experiência como um processo de formação
e transformação de modos de ver essa
experiência; o efeito dessa prática e os
cuidados para a produção de um “si por
experiência própria” permitem sugerir,
nesta base, uma pedagogia das condições.
Este texto exercita um olhar sobre este
problema. E aborda-o através de um estudo
sobre as relações entre arte, conhecimento e
subjetividade. Tento resumir aqui algumas
questões sobre essa relação, sob a
perspectiva da formação do sujeito
contemporâneo, enfocando a estética dessa
formação. Trato de estabelecer conexões
entre algumas práticas estéticas atuais e os
2
FOUCAULT, 1996, p. 88-89.
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processos de formação do sujeito, entre as
imagens e discursos que dão forma a sua
experiência estética, e o sentido que produz
a partir deles. Começarei traçando uma
imagem do que chamamos conhecimentos
úteis, realçando as formas como o expõe às
imagens e ideias que temos de nós mesmos.
A partir dessa imagem, iremos perguntarnos sobre as complexas relações entre
experiência estética e pedagogia nos
processos atuais de formação do sujeito.
Isso nos conduzirá a uma ideia mais
imprecisa e porosa, a que chamei
pedagogia das afeições, na qual se trata de
aproximar as práticas pedagógicas das
práticas estéticas.
Pedagogia das Afeições
Este artigo tem como fundamento
uma reflexão sobre a experiência estética
atual e sobre a formação acerca de seus
modos de funcionamento no campo da arte.
O foco principal, a partir do que a arte pode
provocar o que pensar sobre as
transformações sofridas pelo corpo.
Vejamos alguns aspectos: como objeto de
remodelação científica, tecnológica e
discursiva; como corpo para a produção de
imagem, ou como a própria imagem.
Não
obstante,
em
nossa
contemporaneidade, estas transformações
afetam diretamente a experiência do sujeito.
Isso implica um estudo sobre os processos
de formação da experiência do sujeito, de
seus modos de ser e entendê-los como
saber.
Por isso, será possível dar abertura a
este estudo das formas mediante as quais o
sujeito experimenta sua condição e se refere
a esta experiência, o modo como percebe e
entende o que lhe passa. E, para fazê-lo,
repensa-se a noção de formação como
produção de modos de ser e saber do sujeito
a partir da perspectiva de Foucault (1974),
como produção de uma “forma-sujeito”,
fisicamente, corporalmente.
Contudo, a formação da experiência é
tratada aqui como problema, é repensada
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através do corpo e a partir de algumas
aberturas propostas tanto pelos discursos
filosóficos, como pelas práticas estéticas
das últimas décadas (Farina, 1999). A
atenção e o “cuidado” dos processos de
formação do sujeito sugerem, neste estudo,
uma atenção e um cuidado dos modos de
produção do sensível, nas formas atuais da
existência. Isso concerne à produção de um
saber sobre sua própria experiência: sobre
as formas de relação mediante as quais o
sujeito pratica, entende e excede sua própria
experiência.
Este artigo traz reflexões sobre a
experiência estética do sujeito, passando
por alguns vínculos entre o campo da arte e
dos discursos filosóficos atuais, para
repensar a ideia de “formação”. Estas
reflexões buscam dar visibilidade a algumas
relações entre a arte e as formas de vida, a
percepção e o saber, a experiência estética e
a experiência de formação. A formação do
sujeito dá-se mediante conjuntos de
dispositivos e na forma de fazer as coisas e
de pensar sobre tais coisas que lhe dão
forma.
Estas representações configuram uma
pedagogia, pondo em jogo as maneiras de
dar forma à subjetividade, às coisas e aos
discursos que a sustentam (Farina, 2005). A
arte atual se compõe de muitas práticas
estéticas que se propõem a acolher e
favorecer o que faz variar as formas da
percepção e de ser do sujeito, que se
propõem a atuar com seus atuais estados de
oscilação.
Desse modo, proponho aqui uma
reflexão sobre a produção de uma
experiência de formação que pudesse
acolher e problematizar, como o fazem as
práticas estéticas atuais, os estados de
oscilação da percepção do sujeito na
contemporaneidade.
E, conectada a esta questão, está
também a de como, a partir desta acolhida,
se poderiam favorecer práticas pedagógicas
capazes de lidar de maneira coerente com a
atitude das práticas estéticas atuais, que
questionam radicalmente tanto as formas da
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percepção do sujeito como o saber que
constituem (FARINA, 1999).
Há uma articulação entre a noção
deleuziana de afeto e a ideia de afeição
como aquela “impressão que faz algo sobre
outra coisa, causando nela alteração ou
mudança”, para tratar de cartografar esta
pedagogia potencial sob o nome de uma
pedagogia das afeições. Esta proposta de
uma pedagogia das afeições que tenta lidar
com a atual precariedade da forma-sujeito
da qual trata Foucault, tenta lidar também
com a oscilação ou variação constante desta
forma, não só para aceitá-la como condição
dada, mas para problematizar suas
condições
de
possibilidade,
para
problematizar os modos como os impactos
sobre esta forma são utilizados ou não para
a produção de formas heterogêneas de ser e
entender o sujeito. Uma pedagogia das
afeições que questiona os modos como a
experiência de formação do sujeito atual,
atuando com seus estados de oscilação,
parece favorecer mais o reforço de suas
próprias formas que a experimentação a
partir delas.
A ideia da pedagogia das afeições
buscaria
favorecer
práticas
de
problematização
e
resistência
à
homogeneização dos modos de vida,
capazes de fazer ver e conduzir o paradoxal,
o irregular e o heterogêneo que compõem a
realidade do sujeito (FARINA, 1999).
A análise de alguns dispositivos
pedagógicos mediante os quais se forma a
experiência do sujeito permitiu por em jogo
um espaço de reflexão para pensar a ideia
de uma pedagogia das afeições. Esta ideia
constituiu-se tanto através da análise de
algumas práticas estéticas e filosóficas,
como da observação e reflexão de situações
concretas de formação em instituições de
arte.
Assim, uma pedagogia das afeições
teria menos a ver com a ordem do ensino
que com uma prática produtora de espaços
de experimentação do cotidiano, e dos
âmbitos do estético e do discursivo que o
constituem. Teria a ver com uma prática
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produtora de espaços de experimentação
tanto para o papel desempenhado por
agentes do processo de formação, como
para a configuração deste mesmo espaço
(Farina, 1999). Esta prática se interessaria
por fomentar atitudes éticas, políticas e
epistemológicas, através da produção de
dispositivos pedagógicos, para atuar em
cada contexto e momento específicos.
A formação é entendida aqui através
dos discursos que abriram a ideia de sujeito,
mas destacando que o que esta abertura
também deu a ver é que a forma desse
sujeito produz-se na percepção, produz-se
no corpo. Esses discursos fizeram visíveis
que a percepção e o corpo se formam
mediante uma política das formas, mediante
uma
ordem
estética
que
produz
subjetividade (RANCIÈRE, 2002).
Permitiram ver também que as
mudanças na percepção do corpo mudam o
próprio corpo, pois a percepção se produz
nele e se exerce sobre ele. E uma política da
percepção põe em jogo as formas de ver e
saber que produzem as formas de ser do
sujeito, cotidianamente (FOUCAULT,
1974).
Nesse contexto, a relação entre saber,
corpo e formação se propõe a partir deste
problema: como produzir um conhecimento
capaz de acolher e cuidar o descontínuo, o
heterogêneo e o paradoxal na formação da
experiência do sujeito? Como pensar uma
formação que passe por uma noção de
sujeito desvanecida e por um corpo
mutável?
O fazer artístico, como intervenção
sobre o corpo e a subjetividade, ocorre por
meio da produção de um saber sobre as
formas de vida. É possível entender que
este saber produz múltiplas estratégias de
ação sobre o cotidiano, que se nutrem de
sua potência, que atuam como “parasitas”
dessa potência e incrementam sua força,
afetando sua configuração (Farina, 1999).
Este saber cria artefatos e dispositivos de
ação que oferece acolhida, corrompem e
contagiam as formas do corpo e suas
percepções: afetam-nas, alterando seu curso
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regular. Esta ideia da ação, traçada a partir
do corpo e sobre ele, permite-nos retomar a
noção de afeição que víamos como aquela
“impressão que faz algo em outra coisa,
causando nela alteração ou mudança”, para
lê-la também em relação ao seu passo pelo
corpo segundo outra de suas acepções.
Assim, uma afeição é também sinônimo de
doença, algo que irrompe no curso regular
de um corpo sadio e que perturba sua
ordem de funcionamento. Deste modo, uma
prática que pusesse em cena uma pedagogia
das afeições buscaria produzir um saber que
atuasse com e sobre a percepção e os
corpos, fisicamente, tratando de mover-se,
de maneira coerente, junto ao saber que
produzem as práticas estéticas atuais com
as que lidam. Farina (2005) identifica como
uma prática pedagógica que se configura
em relação a um marco de ação e reflexão
sobre um corpo contingente, como uma
pedagogia do que afeta e é afetado. Assim,
praticaria estratégias de intervenção nas
formas de vida para a produção do múltiplo
na realidade. Praticaria com as formas de
arte, do corpo e da subjetividade para a
produção, mediante exercícios de atenção e
intervenção, para a experimentação da
realidade de forma crítica, daí a defesa da
aplicabilidade viável.
Por fim, uma pedagogia das afeições
sugere partir de um exercício do
pedagógico para a produção de um espaço
político que lide com o que inquieta e faz
variar as formas de vida: a isso, chamo de
educação estética. É fundamental pensar
que estas reflexões estão dirigidas tanto a
formadores como a não formadores, do
mesmo modo que a experiência estética não
está limitada a artistas e especialistas em
arte, ou que o corpo, a percepção e o
sensível não são assunto apenas de
cientistas ou filósofos, mas que concernem
às formas de vida de todos e cada um de
nós, individual e coletivamente. Gostaria de
pensar que a utilidade e o valor acadêmico
deste texto e do estudo do qual ele parte, se
pudesse inferir a partir daqui: da capacidade
de estimular a produção de espaços de
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experimentação para as relações, de sua
capacidade de oferecer suporte conceitual
para favorecer a produção de estratégias de
deslizamento sobre o institucional, para
favorecer práticas pedagógicas ocupadas de
um saber a partir das formas de vida.
Gostaria que este estudo tivesse a
capacidade de transportar os gestos mais
cotidianos de nosso corpo (conhecimento) e
experiência a outro marco conceitual, que
tivesse a capacidade de flexioná-los, estirálos, saturá-los, para a erotização da
percepção e a intensificação da consciência.
Vol. 7, Edição 14, Ano 2012.
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