HISTÓRIA MEDIEVAL Aula IV Objetivo: Os povos Bárbaros (parte 2

Propaganda
HISTÓRIA MEDIEVAL
Aula IV
Objetivo: Os povos Bárbaros (parte 2)
A) A crise do século V.
A estabilidade construída nas primeiras décadas do século IV, após a vitória dos
romanos e a assimilação, gradativa, dos vencidos, seria abalada, na segunda metade do
século, pela aparição de um no grupo bárbaro, os hunos. De origem mongol, os hunos
penetraram na Europa a partir da planície russa, atingindo em um primeiro momento os
reinos dos ostrogodos e visigodos.
Os hunos eram diferentes dos germânicos. Eram nômades que viviam do pastoreio
de pequenos animais e da pilhagem. Lutavam sempre através da cavalaria, e utilizavam,
principalmente, arcos como arma de combate. A visão que foi construída na época os
colocava um povo selvagem e violento. Alguns cronistas romanos do período os
colocavam como próximos dos animais selvagens, representando a antítese da
civilização.
Os primeiros a sofrerem com a invasão foram os ostrogodos que viram seu reino
desaparecer, em 375. Uma parte do povo migrou e foi assimilada pelos Visigodos,
enquanto a outra se submeteu a dominação dos hunos. Logo depois, no ano de 376, os
invasores hunos se voltaram contra os visigodos que, após derrota, se refugiaram nas
terras do Império Romano do Oriente, com a autorização do imperador Valente. Os
romanos submeteram os visigodos a uma forte exploração, o que levou-os a uma
rebelião, que resultou na derrota do império e na morte do imperador, na batalha de
Adrianópolis, em 378. Contudo, não interessava aos visigodos a conquista do império,
mas sim um refúgio contra os hunos.
Na parte ocidental do império o quando se repetia. Contudo, sob a liderança de
Teodósio (378 a 395), general de origem espanhola, depois alçado a imperador, e que
unificou novamente o império, houve uma relativa estabilidade. Através dos foedus,
Teodósio, conseguiu construir uma linha de defesa, permitindo que os visigodos se
instalassem no império, mantendo a sua estrutura sociocultural e seu poder militar. A
situação, no entanto, era frágil, pois a lealdade dos visigodos estava vinculada a
Teodósio, em função da sua origem não itálica. Após a morte de Teodósio, a situação
voltou a se desestabilizar.
Uma das características desse período final do império do ocidente era a presença
de um general de origem bárbara no comando do exército imperial. Durante o reinado de
Honório (395 a 423) esse papel coube a Estilicão, general de origem vândala. Neste
período ressurgem as ameaças das invasões, pois vários povos pressionados pelos
hunos, começam a reunirem-se sob novas lideranças, e alianças, para pressionarem o
império. Dentre estes se destacou Alarico, rei dos visigodoss. As tentativas de negociação
fracassaram, pois elas demonstravam a fragilidade do império que não mais conseguia
defender-se militarmente. Para proteger a Itália, Estilicão, convoca as tropas de províncias
mais distantes. A estratégia funcionou, temporariamente, mas abriu espaço para a
dominação destas áreas, como a Bretanha, a Gália e a Hispania, pelos germânicos.
No oriente a reação antigermânica se tornou constante, chegando mesmo a haver
vários assassinatos de godos que ocupavam cargos na administração imperial. O
rompimento dos acordos levou Alarico às portas de Constantinopla. O governo oriental
pagou grande quantia em dinheiro ao líder visigodo para evitar a ameaça. Após isso
houve o expurgo dos godos das tropas orientais.
Fortalecido, Alarico volta suas atenções para a Itália. Com o exercito romano
enfraquecido, após a execução de Estilicão, que havia se oposto ao imperador e a sua
intenção de intervir na sucessão do império oriental, Não houve como resistir as forças do
exército visigodo. Alarico exige, e consegue, o pagamento de vários resgates, contudo em
24 de agosto de 410, após a recusa do pagamento de mais um resgate o líder visigodo
invade a cidade. Apenas as basílicas de São Pedro e São Paulo foram poupadas, pois
Alarico, cristão ariano, declarou-as como asilo.
O saque das riquezas de Roma, além das perdas materiais trouxe um grande abalo
na autoestima do império. O abalo se fez sentir, mesmo fora da cidade. Um dos pontos foi
o fortalecimento do paganismo, pois enquanto Roma havia se mantido pagã, nunca fora
invadida, afirmavam os pagãos (Teodósio havia transformado o cristianismo em religião
oficial do Império em 380). Em Hipona, Santo Agostinho, colocou-se na defesa do
cristianismo, colocando o acontecimento de acordo com a providência divina, e criticando
o argumento dos pagãos, em seu livro A cidade de Deus.
Ao dirigir-se ao sul da Itália, Alarico, que segundo alguns historiadores pretendia se
dirigir ao Norte da África, o grande celeiro da Europa, falece. Coube ao seu sucessor
Ataulfo, a continuação da expansão visigoda. Este, no entanto, mais conciliador acabou
por entrar em acordo com Honório, passando a atuar como força militar de Roma em
troca de terras e privilégio no acesso aos recursos (terras, animais, colonos e escravos).
Ataulfo buscou sintetizar as culturas romana e germânicas, contudo houve
resistência dos dois lados, e este foi assassinado em 415. O novo rei visigodo, Walia,
manteve a aliança com Roma e comandou a recuperação dos territórios da Gália e da
Hispania. Com receio de que os visigodos usassem a Hispania como base para alcançar
o Norte da África, Honório os movimenta para próximo da Península Itálica, na Gália.
Aparentemente a paz havia sido recuperada e a ameaça das invasões diminuído,
porem, o poderio militar do império estava nas mãos dos bárbaros germânicos, que
cobravam caro o seu apoio.
A morte de Honório instalou um breve período de guerra civil que terminou com a
ascensão ao trono de Valentiniano III. Sob o seu reinado surgiu a figura de Flávio Aécio, o
último dos grandes generais romanos. Criado como refém na corte de Alarico, e depois
sob a guarda do Khan Rua, dos hunos, conhecia bem as culturas bárbaras. Utilizou-se
desse conhecimento e mercenários hunos para estabelecer o domínio romano através da
inclusão dos domínios bárbaros como federados no Império. Assim foi com os visigodos,
burgúndios e francos, conquistando também importantes vitórias que ajudaram a manter a
frágil estabilidade do Império.
Essa fragilidade resultou na perda do norte da África para os vândalos, sob a
liderança de Genserico. Em 428, após atravessar a Hispania, os vândalos chegam ao
continente africano pelo estreito de Gibraltar, estabelecendo um domínio sobre o
Mediterrâneo ocidental que alcançou a Sicília, e possibilitou o saque de Roma em 455. A
perda do norte da África e da Sicília foram essenciais para o enfraquecimento final de
Roma, pois eram suas fontes principais de abastecimento. Além disso, a pirataria dos
vândalos trouxe grandes prejuízos ao comércio marítimo pelo Mediterrâneo.
Da violência do vândalos na conquista do norte da África, onde a resistência foi
comandada Bispos de Hipona (Santo Agostinho) e Cartago (Quodvultdeus), surgiu o
sentido atual da expressão vandalismo. Arianos, os vândalos trataram com grande
violência os católicos.
No leste europeu os hunos, sob o reinado de Átila, a partir de 435, submeteram o
Império Romano do Oriente. O Império Huno havia se constituído na maior estação
territorial do período, se estendendo da Ásia à Europa. Após uma sequência de derrotas
militares O império oriental se viu obrigado a pesados pagamentos de resgates aos hunos
e a perdas territoriais significativas.
Em 450 Átila volta sua atenção ao ocidente. Utilizando como pretexto um pedido de
ajuda de Honória, irmã do Imperador Valentiniano, que embutia, na interpretação de atila,
uma proposta de casamento, este invade o império ocidental, exigindo como dote metade
das terras romanas. Em sua expansão sobre o ocidente os hunos causaram a destruição
de várias cidades, o que fez aumentar o medo em relação a Átila que ficou conhecido
como o Flagelo de Deus.
A demora na conquista da cidade de Orleans, permitiu que os romanos, sob a
liderança de Flávio Aécio reunissem um poderoso exército de bárbaros romanizados, que
se aliaram a Roma não por lealdade ao Império,, apenas uma ficção neste momento, mas
pela sua própria sobrevivência. Na batalha de Campus Mauricius o exército romano
derrotou o exército huno, evitando a conquista da Europa pelos Asiáticos.
O historiador Pierre Riché vê nessa batalha o início do antagonismo ente Ásia e
Europa, que se estenderá por vários séculos depois. Contudo, não havia um sentimento
de unidade europeia. Havia bárbaros germânicos nos dois lados do campo de batalha.
Mais apropriado é entender o processo como o choque de dois modos de vida
contrastantes. O nomadismo e as pilhagens, dos hunos e germânicos não romanizados,
contra o sedentarismo e a economia agrícola dos romanos e bárbaros romanizados.
Em 452, Átila fez uma nova investida no ocidente, desta vez mirando
exclusivamente a Península Itálica e a conquista de Roma. Sem o apoio dos bárbaros
romanizados, o império não conseguiu fazer frente a expansão huna. Sob pânico
generalizado, e como último recurso, último recurso, o senado romano pediu a
intervenção do Papa Leao I. Este negociou com Átila o pagamento de um tributo anual e
conseguiu a retirada dos hunos. Colaborou na negociação o estímulo a superstição dos
hunos, convencendo Átila que o acontecido com Alarico, poderia suceder-se com ele.
Além disso, o enfraquecimento com a derrota de Campus Mauricius fez com que
houvesse uma reação no Império Romano do Oriente, que soba liderança do imperador
Marciano, atacava o quartel general de Átila.
Flávio Aécio e Átila, os dois protagonistas dos acontecimentos dessa fase,
morreriam pouco depois. Ambos assassinados. A desagregação do Império Huno, após a
morte de Átila livrou o ocidente da ameaça externa, mas não salvou o Império. Em 476
um general bárbaro, Odoacro, rei dos hérulos, se fez coroar rei de Roma, destronando o
imperador Rômulo Augusto e pondo fim ao Império Romano do Ocidente.
Graças ao papel desempenhado na salvação da cidade a Igreja Romana passou a
gozar de grande prestígio político, aumentando a autoridade do Papa sobre os poderes
civis na cidade.
No Oriente o império se recuperou e em vão tentou nos séculos seguintes intervir
na parte Ocidental. Não havia mais identidade entre o mundo urbano e helenístico do
Império Bizantino, e o mundo ruralizado da cultura germano-romana dos reinos bárbaros.
Nem mesmo a religião os aproximava. Enquanto no Ocidente o catolicismo romano
gradativamente se impôs sob o arianismo, no Oriente a multiplicidade do debate
teológico,
levou
ao
aparecimento
de
várias
doutrinas
consideradas
heréticas
(nestorianismo, monofisismo, dentre outras) e a divisão da igreja oriental. A sobrevivência
do poder imperial não foi suficiente para impor uma única doutrina.
Download