Apresentação oral O impacto desorganizador do diagnóstico de câncer de mama e o potencial integrador dos vínculos estabelecidos no grupo de suporte Hila Martins Campos Faria¹, Isabella Cristina Barral Faria Lima² & Maria Stella Tavares Filgueiras³. ¹ Psicóloga do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz Fora (Centro Viva Vida); graduada em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, especialista em Políticas e Pesquisa em Saúde Coletiva pela UFJF, mestre em Psicologia pela UFJF; ² Residente em Psicologia Hospitalar e da Saúde no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora. Psicóloga pela Universidade Federal de Minas Gerais; ³ Ex-Professora Colaboradora do Programa de PósGraduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Palavras- chave: Grupo de suporte; neoplasia mamária; trauma psíquico; fatores psicossociais. O diagnóstico de qualquer tipo de neoplasia geralmente acarreta impacto emocional para quem o recebe, seja pelo temor das alterações corporais e desconfortos que os tratamentos podem provocar, pelo medo da morte ou pelas múltiplas perdas nas esferas emocional, social e material que frequentemente ocorrem. Não obstante os avanços da medicina e a ampliação de informações divulgadas pela mídia, o câncer é ainda compreendido como uma “sentença de morte”, frequentemente associado à dor e ao sofrimento (Silva, 2008; Tavares & Trad, 2005, p. 431). Devido à relevância da doença, não apenas como causa de morte, mas também por sua morbidade e comprometimento da qualidade de vida (Brasil, 2011) faz-se necessária uma intervenção junto às pacientes, que não se restrinja à seleção de condutas clínicas, mas que inclua todo um conjunto de cuidados que lhes permita situar-se em sua nova condição, adaptando-se física, psicológica e socialmente a esta. O trabalho de grupo, que se sustenta, predominantemente, nos processos de identificação envolvidos no encontro de pessoas com a mesma enfermidade, é uma modalidade de assistência, considerada muito eficaz no suporte emocional às mulheres afetadas pela doença (Dunley, 2000; Campos, 2000; Faria, 2014). Ancorado na psicanálise, este trabalho, se propõe a explorar a questão do impacto traumático relativo ao diagnóstico de câncer de mama e seu efeito desorganizador do psiquismo, compreendendo o grupo de suporte como facilitador da elaboração psíquica dos excessos decorrentes do trauma. O grupo em questão, denominado GAI (Grupo de Acompanhamento Integrado), é desenvolvido pelo Projeto de Pesquisa e Extensão “De Peito Aberto: Programa de Prevenção e Acompanhamento Integrado no Câncer de Mama”, no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, que visa assistir às usuárias do Ambulatório de Mastologia deste Hospital através de um atendimento contínuo, integral e humanizado. O GAI é um Grupo de Suporte oferecido às mulheres com diagnóstico de câncer de mama, realizado com o propósito de promover o suporte emocional através da troca de experiências entre as participantes, do acolhimento e da elaboração de medos e fantasias relacionados à doença, de maneira a fortalecer as defesas egóicas das participantes no sentido de que alcancem melhor equilíbrio psicossomático e qualidade de vida. No GAI busca-se abordar o câncer de mama sob a perspectiva da experiência subjetiva da enfermidade, considerando a maneira singular de cada mulher lidar com o câncer de mama, com os tratamentos e com as consequências advindas dos mesmos. Como material de análise, utilizou-se a pesquisa documental que abrange os registros do GAI, e os conteúdos suscitados em um dos encontros do Grupo. Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, sob o número 356/2008 (Protocolo CEP/UFJF: 1553.243.2008, FR: 215504, CAAE: 0204.0.180.000-08). Os resultados apontam que o suporte psicossocial oferecido no Grupo contribui para o fortalecimento das defesas somáticas das mulheres, através da melhora na organização psíquica das mesmas. Ao serem abordados no GAI temas como autoestima, sexualidade, autocuidado, qualidade de vida, climatério, estigma, preconceito e trabalho, acredita-se que as mulheres possam dar novos significados às suas doenças e a outras experiências marcantes que viveram. O GAI pode ser considerado um espaço promotor de holding (Winnicott, 1988a; Winnicott, 1988b; Campos, 2007), uma vez que representa um “ambiente familiar”, propiciador de suporte social, de compartilhamento de sentimentos, de fortalecimento psíquico, possibilitando o enfrentamento do sofrimento decorrente do adoecimento por câncer de mama. Referências Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e Vigilância. (2011). Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Inca. Campos, E. P. (2000). Grupos de suporte. In J. Mello Filho, Grupo e Corpo: Psicoterapia de Grupo com Pacientes Somáticos (pp. 117-130). 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