ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3452-28790-4-ED.0708201302 Leite CCS, Gonçalves RL, Baptista RS et al. A consulta de enfermagem na prevenção… ARTIGO ORIGINAL A CONSULTA DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DO ÚTERO THE NURSING CONSULTATION IN THE PREVENTION OF CERVICAL CANCER LA CONSULTA DE ENFERMERÍA EN LA PREVENCIÓN DEL CÁNCER CERVICAL Carla Carolina Silva Leite1, Roberta Lima Gonçalves2, Rosilene Santos Baptista3, Inacia Sátiro Xavier França4, Isabella Medeiros de Oliveira Magalhães5, Jamilly Silva Aragão6 RESUMO Objetivo: conhecer o perfil da clientela atendida na consulta de enfermagem da Universidade Estadual da Paraíba quanto às queixas e fatores de risco. Método: estudo retrospectivo documental, descritivo, exploratório, com abordagem quantitativa e delineamento transversal, realizado a partir de dados secundários, com 146 fichas referentes aos atendimentos de janeiro de 2010 a junho de 2011. As informações foram tabuladas no Excel e trabalhadas SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 17.0, para armazenar e codificar os dados. Após processamento das frequências simples, minuciosa verificação da consistência e amplitude dos dados foi aplicado o Test chi-Square. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE n. 0203.0.133.000-11. Resultados: faixa etária entre 21 a 34 anos, com queixas de dor pélvica, corrimento e presença de fatores de risco como contraceptivos orais, multiparidade e tabagismo. Conclusão: existe a vulnerabilidade de algumas mulheres, cabendo aos profissionais da saúde realizar ações educativas. Descritores: Enfermagem; Exame Ginecológico; Fatores de Risco. ABSTRACT Objective: to know the profile of the clientele in nursing consultation from the State University of Paraíba, regarding complaints and risk factors. Method: a retrospective-documental, descriptive, exploratory, crosssectional with quantitative approach study conducted from secondary data, with 146 records related to calls from January 2010 to June 2011. The information was tabulated in Excel and worked in SPSS (Statistical Package for Social Sciences), version 17.0, to store and encode the data. After the processing of simple frequencies, thorough verification of consistency and range of the data was applied Chi-Square Test. The research project was approved by the Ethics in Research Committee, CAAE. 0203.0.133.000-11. Results: age between 21-34 years old with complaints of pelvic pain, secretion, and presence of risk factors such as oral contraceptives, multiparity and smoking. Conclusion: there is a vulnerability of some women, owning to the health professionals conduct educational activities. Descriptors: Nursing; Gynecological Examination; Risk Factors. RESUMEN Objetivo: conocer el perfil de los pacientes en consulta de enfermería de la Universidad del Estado de Paraíba, en respecto a las quejas y los factores de riesgo. Método: estudio documental retrospectivo, enfoque cuantitativo descriptivo, exploratorio, transversal y llevado a cabo a partir de datos secundarios, con 146 expedientes relativos a las llamadas entre enero de 2010 y junio de 2011. La información fue tabulada en Excel y trabajó SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versión 17.0, para almacenar y codificar los datos. Después del procesamiento de frecuencias simples, y de la verificación minuciosa de la consistencia y la variedad de los datos, se aplicó la prueba de chi-cuadrado. El proyecto de investigación fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación, CAAE. 0203.0.133.000-11. Resultados: la edad entre los 21 a 34 años con quejas de dolor pélvico, flujo, y la presencia de factores de riesgo tales como los anticonceptivos orales, la multiparidad y el tabaquismo. Conclusión: existe una vulnerabilidad de algunas mujeres, dejando a los profesionales de salud realizaren actividades educativas. Descriptores: Enfermería; Examen Ginecológico; Factores de Riesgo. 1 Graduanda em Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; Enfermeira, Professora Mestre, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Campina Grande/UFCG. Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 3Enfermeira, Professora Doutora, Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira, Professora Doutora, Departamento/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba/PPGENF/UEPB. Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Graduanda em Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Graduanda em Enfermagem, Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected] 2 Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(8):5076-82, ago., 2013 5076 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3452-28790-4-ED.0708201302 Leite CCS, Gonçalves RL, Baptista RS et al. A consulta de enfermagem na prevenção… INTRODUÇÃO O câncer de colo uterino é considerado importante causa de morbimortalidade em todo o mundo, sendo considerado problema de saúde pública e representando a segunda causa de morte feminina por neoplasia. As mais recentes estimativas mundiais mostratam 529 mil novos casos desse câncer no ano de 2008. Sua incidência dobra em países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento e a mortalidade ocorre em cerca de 85% dos casos.1 No Brasil, os indicadores da incidência do câncer são considerados elevados, desconsiderando os tumores de pele não melanoma, representa à segunda ou a terceira causa de morte feminina dependendo da região. Na região Norte, é a neoplasia mais incidente; nas regiões Centro-Oeste e Nordeste ocupam a segunda posição, na região Sudeste a terceira e na região Sul a quarta. Assim, estimou-se para o ano de 2012 cerca de 17.540 casos novos, com um risco estimado de 17 casos para cada 100 mil mulheres.1 Este quadro epidemiológico brasileiro tem feito com que o CCU seja considerado um importante problema de saúde pública, tanto por sua magnitude como por sua transcendência. Deste modo, esta neoplasia é reconhecida como uma das prioridades desde a década de 80 nas agendas políticas e áreas técnicas em todos os níveis de governo. Diversos programas e estratégias tem sido implementados objetivando controlar a incidência desta neoplasia, já que, o conhecimento atual no meio científico já está bem definido os fatores de risco, estágios da doença e sua evolução.2 Dentre os fatores de risco a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é tida como o principal fator de risco para desenvolvimento da oncogênese cervical. Outros cofatores também estão relacionados ao aparecimento das lesões, os extrínsecos tabagismo, uso de hormônios, os do intrísecos como a idade, resposta imune, predisposição genética e os associados ao vírus como o tipo, a carga viral e a variante.2 No que se refere à evolução desse câncer, a mesma é considerada lenta, podendo levar de 10 a 20 anos para que ocorra o progresso da lesão superficial até um processo invasor, dessa forma, apresenta lesões precursoras denominadas neoplasias intraepiteliais 3 cervicais (NICs). Tais lesões podem ser classificadas em três graus NIC 1, NIC 2 e NIC 3, de acordo com o grau de comprometimento as células afetadas apresentam uma perda gradual das funções celulares.2 Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(8):5076-82, ago., 2013 Essa característica de evolução lenta do câncer cérvico uterino, permite que programas de rastreamento com boa cobertura e direcionado às mulheres expostas na faixa etária de maior risco, com periodicidade adequada e dentro dos padrões de qualidade tenham grande impacto na redução da morbimortalidade por esta neoplasia. A forma preconizada para o rastreamento é o exame Papanicolau, que é um procedimento ofertado gratuitamente nos serviços públicos de saúde, de baixo custo e capaz de detectar lesões pré-malignas.4 O exame preventivo apresenta alta eficácia quando realizado por profissionais capacitados. Contudo, mesmo estando presentes entre as ações de saúde prioritárias os indicadores de morbimortalidade no Brasil, permanecem elevados, por vários fatores que englobam tanto a própria qualidade dos profissionais que assistem as mulheres, quanto à organização dos serviços de saúde.5 Deste modo, é necessário um olhar atento aos profissionais e serviços de saúde vinculados à Atenção Primária da Saúde, como é o caso do serviço da Clínica Escola de Enfermagem da Universidade Estadual da Paraíba. Este serviço é conduzido pelos docentes do Curso de Enfermagem e compõe um cenário de práticas acadêmicas dos componentes curriculares do curso, realizando dentre os atendimentos a Consulta Ginecológica de Enfermagem ao público tanto do município de Campina Grande/PB, como de cidades circunvizinhas. Este tipo de atendimento caracteriza-se pela presença dos discentes do componente curricular Saúde da Mulher e tem como foco uma assistência integral, pois oferta na consulta a realização do exame clínicoginecológico e encaminhamento das mulheres com alterações citológicas. Além disso, a assistência é pautada pelo diálogo, oportunizando informações sobre os fatores de risco para o câncer de colo do útero e/ou dúvidas que nem sempre se relacionavam com o motivo inicial que trazem as mulheres a este serviço. Entretanto, observou-se no cotidiano dos atendimentos uma carência de estudo que avalie questões pertinentes a clientela atendida e ao instrumento utilizado pela Clínica Escola, podendo assim, servir de subsídio para qualificar mais o atendimento e contribuir para elaboração do protocolo de atendimento direcionado à mulher. Nesta perspectiva o objetivo deste estudo conhecer o perfil da clientela atendida na consulta de enfermagem da Universidade Estadual da 5077 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3452-28790-4-ED.0708201302 Leite CCS, Gonçalves RL, Baptista RS et al. A consulta de enfermagem na prevenção… Paraíba/UEPB quanto às queixas e fatores de risco. MÉTODO Estudo retrospectivo documental, descritivo, exploratório, com abordagem quantitativa e delineamento transversal, realizado a partir de dados secundários. O cenário foi a Clínica Escola de Enfermagem, instituição pública vinculada a Universidade Estadual da Paraíba, município de Campina Grande – PB que tem aproximadamente 385 mil habitantes.6 A amostra constou de todos os prontuários (Ficha Clínica) das mulheres atendidas neste serviço, durante o período de janeiro de 2010 a junho de 2011. A coleta ocorreu entre os meses de janeiro e maio de 2012 e englobou 146 fichas clínicas considerando os critérios de seleção, que compreendiam aidade da paciente igual ou superior a 18 anos, vida sexualativa e com o preenchimento dos dados relativos acoleta citológica. O instrumento de pesquisa constituiu de um formulário, desenvolvido a partir da ficha utilizada no serviço, contendo questões abertas e fechadas, dicotômicas e de múltipla escolha. As variáveis de estudo abordaram: o exame físico, ginecológico, os fatores de risco e dados pessoais. Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva (distribuição absoluta e percentual) apresentados nas tabelas. Utilizou-se o software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 17.0 para armazenar e codificar os dados. Após processamento das frequências simples para cada variável, minuciosa verificação da consistência e amplitude dos dados foi aplicado o teste estatístico (Test chi-Square). Conforme os preceitos éticos vigentes estabelecidos na Resolução 196/96, o estudo foi registrado no Sistema Nacional de Informação sobre Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos – SISNEP e aprovado pelo Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(8):5076-82, ago., 2013 Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade estadual da Paraíba, CAAE 0203.0.133.00011.7 RESULTADOS A amostra é caracterizada quanto à ocupação 41,1% são do lar, 6,8% estudantes, 18,5% auxiliar de serviços gerais, 7,5% são domésticas e 26,0% outras profissões. No que se refere à residência verificou-se que 97,9% das mulheres residem na mesma cidade da clínica escola. Quanto aos motivos de procura das mulheres ao serviço, 34,9% refere que é para a realização rotineira da prevenção do CCU, seguido por queixas de dor pélvica e corrimento vaginal com os percentuais de 19,2% e 24,7%, respectivamente. Ressalta-se, entretanto, que na ficha não tem a informação da data da última prevenção do CCU. Em relação aos fatores de risco observou-se ausência de dados em relação à idade, onde esta informação esteve ignorada em 0,7% das fichas. Porém, dentre as preenchidas este percentual variou de 14 a 82 anos, sendo a idade média 31,2 anos. Considerando-se as faixas etárias, observou-se que 7,5% eram menores de 20 anos, 41,1% tinham entre 21-34 anos, 33,6% tinham 35-49 anos e 17,1% eram maiores de 49 anos. Quanto aos meios contraceptivos, verificou-se que apenas 13,7% referem o uso do preservativo e 15,1% do anticoncepcional hormonal. A maioria (71,2%) utiliza outros métodos não especificados. Em relação ao número de filhos 39,7% tiveram três ou mais e este mesmo percentual da amostra iniciou a atividade sexual com menos de 18 anos, sendo que, quanto a esta informação 12,3% tem essa informação omitida nas fichas. O tabagismo apresenta-se em percentual discreto na amostra com apenas 13%, no entanto, a ficha não contempla o número de cigarros fumados por dia. 5078 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3452-28790-4-ED.0708201302 Leite CCS, Gonçalves RL, Baptista RS et al. A consulta de enfermagem na prevenção… Tabela 1. Fatores de risco associados ao câncer de colo de útero (Método contraceptivo, multiparidade, tabagismo, número de parceiros e idade do primeiro coito). Campina Grande-PB. 2012. Método Contraceptivo Contraceptivo oral Preservativo Outros/indeterminado N° de partos Nuliparidade De 1 a 2 filhos 3 ou mais filhos Número de parceiros Até 03 parceiros Acima de 3 parceiros Ignorado Idade 1º Coito < 18 anos > 18 anos Ignorado Tabagismo Sim Não Ignorado X² calculado=4,61 A tabela 2 apresenta os resultados da prevenção do CCU que em 66,4% da amostra tem essa informação ausente, mas quando n=146 22 20 104 % 15,1 13,7 71,2 32 56 58 21,9 38,4 39,7 108 18 20 74 12,3 13,7 58 70 18 39,7 47,9 12,3 19 119 8 13 81,5 5,5 presentes, 26,7% apresentaram resultados negativos para neoplasia com evidência de processo inflamatório. Tabela 2. Queixa principal e resultados dos exames citológicos. Campina Grande-PB. 2012 Queixa Dor pélvica Corrimento Planejamento familiar Infecção Urinária Prurido Outras queixas Ignorado Exame citológico Aguarda resultado Resultado negativo para neoplasia sem inflamação Resultado negativo apresentando inflamação X² calculado=0,36 (p < 0,02) DISCUSSÃO n=146 28 36 3 4 6 18 51 % 19,2 24,7 2,1 2,7 4,1 12,3 34,9 97 10 39 66,4 6,8 26,7 em laboratório particular. Isso pode justificar a carência de resultados nas fichas. A ocupação embora não constitua fator de risco, oferece a imagem da renda da mulher, onde mais da metade da amostra exerce atividades não remuneradas (do lar e estudantes) ou com remuneração baixa (domésticas e auxiliar de serviços gerais). A baixa condição socioeconômica por outro lado, tem associação com o CCU,8 pois, pode impactar negativamente nas condições de vida e dificultar diagnóstico e tratamento precoce, diminuindo assim a chance de sobrevida.9 Deste modo, tão importante quanto à adesão da mulher em realizar a prevenção de CCU é que a rede de serviços esteja integrada a fim de ofertar além do acesso, resultado rápido e com qualidade para intervir quando necessário.10 Neste estudo observou-se que, por não ter a garantia de resolutividade, as mulheres acessam apenas parcialmente o serviço de saúde público, recorrendo ao serviço privado para responder de maneira satisfatória suas necessidades. As fichas analisadas evidencia a busca pelo serviço de mulheres residentes no mesmo município da Clínica de Enfermagem e uma quantidade menor das cidades vizinhas. As duas procedências são relevantes, já que a prevenção do CCU é ofertada na atenção básica gratuitamente nos municípios. Segundo relatos das mulheres no momento das consultas realizadas por uma das autoras desta pesquisa, por várias vezes em função do atraso na entrega deste exame pelo serviço público, as mulheres realizavam apenas a coleta, levando o material para análise clínica Esse distanciamento das mulheres com a Clínica de Enfermagem após a coleta da prevenção do CCU resulta em uma lacuna do acompanhamento. Observa-se que as mulheres frequentadoras deste serviço, não compreendem a necessidade de seguir rastreamento organizado para o CCU, no qual engloba a realização deste exame e pelos resultados determinar a periodicidade de realização e a faixa etária prioritária.10 Esta postura de abandono do serviço das mulheres pode ser uma explicação para as altas taxas apresentadas nos países em desenvolvimento, Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(8):5076-82, ago., 2013 5079 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3452-28790-4-ED.0708201302 Leite CCS, Gonçalves RL, Baptista RS et al. A consulta de enfermagem na prevenção… tendo em vista que esse tumor com exceção do câncer de pele não melanoma é o que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente.1,3 Dentre as queixas evidenciadas nas fichas, as principais foram o corrimento e a dor pélvica. As estatísticas abordam que a presença de fluxo vaginal anormal se configura como uma das queixas mais frequentes em ambulatórios de ginecologia da atenção primária.11 A dor pélvica apresenta inúmeras etiologias, desde psicológicas até causas não ginecológicas devendo ser investigada sua origem. Desta forma o profissional pode oportunizar o momento da coleta para a prevenção do CCU para realizar uma avaliação completa contemplando na consulta também a anamnese, exame físico e cultura de secreção vaginal.2 Com relação à idade o estudo apresentou a faixa etária de maior percentual dentro do que prioriza o Ministério da Saúde (25 e 59 anos), resultado semelhante a estudos realizados em Pelotas, Proto Alegre e ao Rio de Janeiro11, no entanto é importante deixar claro que o exame preventivo deve ser realizado em todas as mulheres sexualmente ativas.2,5 A incidência do câncer do colo do útero manifesta-se a partir da faixa etária de 20 a 29 anos, onde as infecções pelo papiloma vírus humano (HPV) regridem em sua maioria espontaneamente, aumentando seu risco rapidamente até atingir o pico etário entre 50 e 60 anos.1 Resultados semelhantes também foram observados em pesquisa avaliando a faixa etária de rastreamento em mulheres atendidas nas unidades de saúde de São Paulo, no qual, identificou que 24,3% dos casos de lesão intraepitelial escamosa de alto grau, diagnosticados em 2006, ocorreram em mulheres com idade inferior ou igual há 25 anos, com destaque para as adolescentes, sugerindo a necessidade de avaliação das alterações cervicais entre mulheres mais jovens, com ações educativas e preventivas voltadas para esse grupo populacional.12 Em se tratando do contraceptivo oral observa-se que 15,1% fazem uso. Os critérios médicos de elegibilidade para o uso de métodos anticoncepcionais classificam o seu uso como uma condição em que as vantagens de utilizar o método geralmente superam os riscos teóricos e comprovados dos seus malefícios.13 Entretanto quando associado a infecções persistentes do HPV, o uso pode aumentar o risco de carcinoma in situ e carcinoma invasivo.14 Teste realizado com inspeção com o ácido acético (IVA) obteve associação estatisticamente relevante, pois quando analisado o tempo de uso observou-se Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(8):5076-82, ago., 2013 que a grande maioria das mulheres (83,0%) com resultados positivos fizeram o uso de contraceptivos por pelo menos 2 anos.15 A multiparidade evidenciada no estudo (39,7%), também pode ser considerada um importante co-fator para o CCU, pois favorece a imunossupressão e a expansão fisiológica do epitélio glandular cervical durante a gestação, a medida que estes processos se multiplicam, podem ocorrer alterações neoplásicas. Considera-se ainda, que a imunocompetência celular evidenciada neste período, aumentam as chances de transformação celulares do colo que é recoberto externamente por epitélio colunar, frágil a estímulos nocivos.16 Há minoria, porém representativo percentual (12,3%) da amostra apresentou mais de três parceiros sexuais ao longo da vida. Sabe-se que o aumento no número de parceiros é proporcional ao aumento do risco de desenvolver alterações cervicais, pois aumenta o risco de exposição ao vírus do HPV.12 No entanto, embora não contenha nas fichas a informação sobre o estado civil, podese considerar através da análise dos resultados, que mesmo o quantitativo maior de 74% de a amostra ter tido até três parceiros sexuais, não as exime do risco, caso seus parceiros tenham tido múltiplas parceiras. Somando-se ainda aos fatores de risco associados à história sexual, 39,7% das participantes iniciaram a atividade sexual antes dos 18 anos. Este início precoce da vida sexual expõe a um maior número de parceiros sexuais, ficando mais vulneráveis as infecções por HPV, isto ocorre devido a imaturidade dos tecidos do colo uterino.16 Outro aspecto considerável em relação à sexarca precoce, é que esta conduz a primeira gravidez, também em idade precoce, evento este que desencadeia suscetíveis transformações neoplásicas na adolescência pelas transformações celulares uterinas que acompanham a gestação. Estudo realizado em Fortaleza CE, com mulheres que iniciaram sua vida sexual entre os 8 e 15 anos apresentaram os maiores percentuais (51,0%) de exames com alterações cervicais.15 Considerado um fator de risco para o desenvolvimento do câncer do colo do útero o tabagismo torna a mulher mais vulnerável a esta neoplasia quanto maior o número de cigarros fumados durante o dia. Do mesmo modo, esse risco eleva-se sobretudo, quando o ato de fumar é iniciado em idade precoce.1 Este hábito além de está associado a vários tipos de neoplasia, estudos recentes mostram que a associação do câncer do colo do útero com o tabagismo é consistente. No Rio de 5080 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3452-28790-4-ED.0708201302 Leite CCS, Gonçalves RL, Baptista RS et al. A consulta de enfermagem na prevenção… Janeiro um estudo realizado com 40 mulheres tabagistas ou com histórico de tabagismo que apresentaram alterações cervicais, apontou que em 35 das mesmas houve a relação de associação entre o vício e as evidências encontradas.17 O maior objetivo é rastrear lesões precursoras do CCU causadas pelo HPV. Estudos apontam que a infecção pelo HPV é considerada o principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões intraepiteliais de alto grau e do câncer de colo de útero.1-2,4-5 Entretanto essa infecção parece ser insuficiente para o surgimento dessa neoplasia, podendo outras condições estar relacionadas, como, o tipo da carga viral, infecções múltiplas, genética, comportamento sexual, imunidade e infecções precursoras.34,18 Assim, é fundamental o investimento dos profissionais da saúde em atividades educativas e de sensibilização quanto aos fatores de risco.18 CONCLUSÃO Os resultados possibilitaram conhecer o perfil das mulheres atendidas e evidenciar que algumas estão expostas a fatores de risco, o que reafirma a necessidade de ações de saúde direcionadas para esse público, de acordo com o que tem sido preconizado pelo Ministério da Saúde, aonde qualquer contato que a mulher venha a ter com o serviço de saúde seja oportunizado para promover orientações sobre prevenção do câncer de colo do útero. Do mesmo modo, o achado mesmo que de uma minoria das fichas coloca-nos uma reflexão quanto à carência de informações tanto pela ausência de preenchimento, como também, pelo fato do instrumento utilizado ser muito resumido e não contemplar a mulher na sua integralidade, instigando e motivando a elaboração de um protocolo mais adequado a esta finalidade.Acredita-se que com isso, o serviço poderá cumprir de maneira mais eficaz com o acompanhamento das mulheres atendidas, podendo impactar assim nos indicadores de saúde relacionados a essa neoplasia. REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer - INCA. Estimativa 2012: Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2011. 2. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer – INCA. Ações de Enfermagem para o controle do câncer: Uma proposta de integração ensino-serviço. 3rd edição. Rio de Janeiro: ESDEVA; 2008. Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(8):5076-82, ago., 2013 3. 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