Trecho do texto “Geografia de Dona Benta”, de Monteiro Lobato

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Trecho do texto “Geografia de Dona Benta”, de Monteiro Lobato.
“(...) Dona Benta retomou o fio da lição.
- Para lá do Estado do Rio – disse ela – fica o de Minas Gerais, que é um dos
maiores em território e em população. Minas Gerais é um Estado que també m
se dedica à criação, como o Rio Grande do Sul. Mas não tem pampas. Só
terras montanhosas, onde cresce o catingueiro – um capim de que o gado
gosta muito.
Cria bois e vacas e porcos e cavalos, faz manteiga, queijo e prepara carnes,
sobretudo de porco. Os lombos de porco de Minas Gerais são excelentes. Há
lá inúmeras cidades, todas pequenas. A maior é Belo Horizonte, a capital. A
segunda é Juiz de Fora, onde existem várias fábricas de tecidos e outras
coisas.
A maior riqueza do Estado de Minas Gerais são as suas montanhas de ferro.
Infelizmente, por falta de carvão-de-pedra, essas jazidas, que são das maiores
do mundo, ainda não foram intensamente aproveitadas. Hão de o ser um dia e
nesse dia Minas Gerais falará grosso, porque quem produz ferro é dono do
rebenque.
- Lá está Belo Horizonte! – exclamou a menina. – Bonito nome.
- Essa cidade tem uma característica preciosa: foi construída desde o começo
de acordo com um plano. Isso é raro, porque na imensa maioria as cidades
nascem ao acaso, como as árvores, e vão crescendo sem plano nenhum. Seu
clima é excelente, sobretudo para os que sofrem dos pulmões. Quando Belo
Horizonte começou, pouca gente esperava que se desenvolvesse tão depressa
e com tanta beleza harmônica. Deve ter hoje uns cinqüenta anos, o que é
nada, e já está a coisa mais linda que há no Brasil em matéria de cidade. Um
verdadeiro encanto.
- Mas como é que na primeira edição deste livro a senhora disse que era um
“sossego sem fim”, um “deserto de gente”, etc.? – interpelou Narizinho.
- Disse porque eu tinha na cabeça a Belo Horizonte dos começos. Errei. Não
levei em conta os progressos feitos nos últimos vinte anos. Mas depois disso
estive lá e abri a boca. Que encanto achei naquilo! Que desafogo passear
naquelas ruas tão largas! Gostei tanto, que prometi levar vocês lá para um
passeio – para que vejam e compreendam o que é uma “ cidade certa”.
- As outras então são “incertas”?
- São erradas, minha filha. Nascem ao acaso, sem plano, e ficam toda a vida
tortas e incômodas, como São Paulo. Que maravilhosa capital teriam hoje os
paulistas, se houvessem feito como os mineiros; isto é, se houvessem
planejado e construído uma cidade nova para ser a capital do Estado!
Infelizmente não foi assim. Só os mineiros e goianos tiveram essa grande
previsão e por isso os mineiros e goianos vão ter em seus territórios as duas
mais belas, cômodas e agradáveis cidades do Brasil. Isso de “cidades certas” é
a coisa mais rara que há no mundo. Só sei de cinco: Washington, capital dos
Estados Unidos, La Plata, na Argentina, Camberra, na Austrália e aqui no
Brasil, Belo Horizonte, Goiânia.
(A obra “Geografia de Dona Benta” foi produzida por Monteiro Lobato na década de 30,
portanto, algumas informações geográficas contidas do texto encontram-se desatualizadas.)
Referência:
- LOBATO, Monteiro. Geografia de Dona Benta. Edição integral. São Paulo:
Círculo do Livro, 1984. 258 pág.
Exercício:
Questão 1: Identifique no texto palavras e/ou frases que remetem a Geografia.
Questão 2: Pense e registre suas idéias sobre a seguinte questão: Como a
Geografia está presente em nosso cotidiano?
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