UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA CURSO DE HISTÓRIA – CAMPUS SÃO GONÇALO GEA – GRUPO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE III SEMANA DE EGIPTOLOGIA DO MUSEU NACIONAL 30/11/2015 A 04/12/2015 TCC – O reinado do faraó Akhenaton e a reforma amarniana: as divergências com o clero de Amon no Alto e no Baixo Egito Raphael da Silva Simeão Lellis SOBRE O TEMA PROBLEMAS - Mostramos aqui o resultado de um trabalho apresentado em 2010 ao curso de História da UNIVERSO, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em História. Trata das questões inerentes ao reinado do faraó Akhenaton da XVIII dinastia do Novo Reino, bem como a divergência com o clero de Amon, um poderoso clero (ou mesmo o mais poderoso) à época. Sabe-se que Akhenaton arquitetou uma reforma na religião oficial egípcia e, para tal, tomou Aton, o disco solar dos textos das pirâmides (IV dinastia), como deus principal e destituiu o sacerdócio tebano do deus Amon dos plenos poderes que possuíam. A partir do Médio Reino, a esfera dos sacerdotes do deus Amon, no Estado egípcio, ganha notoriedade e torna-se favorecido devido ao processo relacionado a eventos do Primeiro Período Intermediário. Nesta conjuntura, ocorreu uma apostasia por parte da realeza quanto ao culto de Amon. Todo o processo de divergência se delineia nesta situação, eclodindo mais tarde com a reforma de Akhenaton. - A despeito de se pensar a problemática da reforma amarniana como eminentemente monoteísta e herege , se deve antes inquirir se de fato essas categorias podiam ser pensadas no Egito da época ou se, na verdade, a reforma estava ligada ao conflito que Akhenaton vai travar com o clero de Amon e seu poder crescente. OBJETIVOS METODOLOGIA - Contestar a ideia de que Akhenaton fora um faraó monoteísta e herege que promoveu uma total substituição dos deuses egípcios por um deus único, tendo em vista que, stricto sensu, o Egito jamais conheceu um politeísmo apaziguado, mas que, na verdade, vivia em constante conflito. - O trabalho foi apoiado em pesquisas bibliográficas de diferentes autores para coleta de informações sobre a formação da sociedade egípcia, bem como dos conflitos presentes no Estado após a unificação. A partir de uma abordagem estruturalista, e tendo em vista a problemática sobre a formação social egípcia, este trabalho se apresenta dentro do campo da História Social. - Inquirir sobre a gênese dos conflitos religiosos a partir da própria formação do Estado egípcio fundado por meio da conquista. - Demonstrar o crescimento da ameaça ao poder faraônico pelo agravamento do poder contestador dos cleros, os quais surgiram por delegação do faraó, mas com o tempo ganharam relativa autonomia.. JUSTIFICATIVAS - A escolha do tema pode ser justificada pela pouca existência, ainda, de maiores discussões publicadas em língua portuguesa sobre a questão do monoteísmo e da heresia para Akhenaton, discussões essas restritas hoje ao meio acadêmico, felizmente em constante produção, mas ainda sem atingir o mercado editorial brasileiro. Normalmente Akhenaton é tratado como o faraó da ruptura com o politeísmo, mas, na verdade, os ideais político-religiosos dele estavam em consonância com os próprios preceitos do politeísmo egípcio. HIPÓTESES - A reforma amarniana poderia ser entendida como uma tentativa de encerramento de conflitos políticos com o clero amoniano, substituindo o deus do império, Amon de Tebas, por uma outra concepção, com o intuito de trazer de volta o poder às mãos do faraó, poder este que havia escapado com o decorrer da história egípcia devido ao crescimento e aumento de funções delegadas aos sacerdotes. CONCLUSÃO - Ao longo do tempo percebemos que o clero de Amon adquiriu grande notoriedade e no Novo Reino tornou-se um dos mais poderosos cleros do Egito. Não é de se surpreender que tenha havido reação por parte dos faraós anteriores e, ao que interessa a este trabalho, de Akhenaton. Este faraó, bem conhecendo os meandros políticos e religiosos do seu tempo, organizou a extensão do culto de um deus identificado à família real egípcia em todo o Egito, em virtude de sua condição como governante e do favorecimento de um aspecto visível do Sol concernente, em seus aspectos adjacentes, à elevação da pessoa do faraó a uma condição divina, comprovada pelas representações de faraós antecessores a Akhenaton, adorando a si mesmos. - Logo, Akhenaton almejou elevar a personificação do faraó, como também do culto ao Sol, não mais oculto (ou obscuro), mas perfeitamente visível e apresentável em termos de culto e adoração, sendo que o deus Rá, sustentáculo da realeza nos primórdios da organização do Estado faraônico, por trás do disco, ganharia novo ânimo de representação por conta de atribuições solares e designações visíveis. BIBLIOGRAFIA CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. Antiguidade oriental: política e religião. São Paulo: Contexto, 1980. ______. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 1984, 3.ed. ______.Sociedades do Antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, 1988, 2.ed. CLARK, T. Rundle. Símbolos e mitos do antigo Egito. São Paulo: Hemus, s/d. D’ALBUQUERQUE, Marcio Luiz Ramos. Heresia e monoteísmo no reinado de akhenaton: uma leitura historiográfica de Cyril Aldred. 1998. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói. DAUMAS, François. Los dioses de Egipto. Buenos Aires: Lidium, 1986 ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. Lisboa: Edições 70. s/d. FREUD, Sigmund. Moisés e a religião monoteísta. Lisboa: Guimarães Editores, 1990. LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. Lisboa: Edições 70, s/d Figura 1 – Estela proveniente de Amarna, mostrando Akhenaton, Nefertiti e três princesas, encimadas pelo disco solar representando o deus Aton. Acervo do Museu de Berlim Disponível em http://www.egyptian-museum-berlin.com/c52.php QUIRKE, Stephen. Who were the pharaohs? New York: Dover Publications, 1990. SAUNERON, Serge. 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